terça-feira, junho 12, 2012

Bola de Berlim

"Em tempos normais, investir significa procurar activos que forneçam rendibilidade ao dinheiro que é aplicado. Há objectivos a cumprir, prazos a observar e opções a fazer sobre a relação entre risco e rendibilidade. Acontece que os tempos presentes podem ser qualificados de muitas formas. Mas normais é que não são.
Os sinais mais expressivos estão a ser enviados pelos investidores através dos movimentos nas taxas de juro das dívidas soberanas no mercado secundário. Reflectem o equilíbrio entre a oferta e a procura, a confiança ou a descrença na capacidade de cada país conseguir honrar os seus compromissos. Se a percepção é a de que o terreno que se pisa é seguro, a cotação das obrigações sobe impulsionada pelo aumento da procura. Se o piso é escorregadio, há mais investidores dispostos a desfazerem-se dos títulos, a cotação desce e a rendibilidade sobe para quem queira correr o risco de entrar quando os outros estão a sair.
A crise da Zona Euro não alterou os mecanismos que levam à formação dos preços nos mercados em que se transaccionam títulos de dívida pública. Mas está a revelar que, por estes dias, a dinâmica de desconfiança desencadeada pela região da moeda única atingiu proporções de tal forma elevadas que muitos investidores já não exigem rendibilidade em troca do dinheiro que investem. Querem apenas encontrar um porto de abrigo, protegido da tempestade. E estão a dispostos a pagar por isso.
Alemanha e Suíça estão entre os refúgios mais procurados. As emissões de dívida dos dois Estados no prazo de dois anos têm registado "yields" de sinal negativo. Os investidores não querem ser pagos pelo dinheiro que colocam nos cofres públicos alemães e helvéticos. E pagam o preço que o mercado lhes pede para preservarem a quase totalidade do capital, como se alugassem um cofre numa instituição financeira para lá depositarem o dinheiro e se sujeitassem ao preço do serviço. Noutros casos, como os dos Estados Unidos, Reino Unido ou Japão, as taxas de juro implícitas para o mesmo prazo têm rondado zero.
Todos estes exemplos revelam que a afirmação de que os tempos do dinheiro barato acabaram é um pouco exagerada. Para os países que mantêm notações de "rating" sólidas e que são vistos como locais imunes à turbulência, o dinheiro está a uma preço atraente. Mas há uma outra face desta realidade. E não é tão auspiciosa.
A divergência entre os países que têm acesso a recursos financeiros baratos e aqueles que têm de o pagar a preços suficientemente altos para compensarem o risco de investimento está a aumentar. A crise na Zona Euro explica esta tendência. E o comportamento dos investidores indica a ausência de convicção na possibilidade de a "eurolândia" vir a superar os problemas dos seus países periféricos. Um aspecto parece revelar que os mercados nem sempre têm razão. O colapso do euro arrastaria a Alemanha para um mau bocado, apanhada numa trágica bola de neve. Pagar para emprestar a Berlim será racional?"
João Cândido da Silva

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