quarta-feira, junho 13, 2012

Mais um analgésico para o moribundo

"De solução em solução até ao colapso final? Esta é a interrogação que se deve fazer perante o já longo historial da crise na Zona Euro, ameaçada por uma doença grave e que está a ser combatida com doses sucessivas de aspirinas. Suavizam a dor-de-cabeça, permitem ganhar tempo enquanto se perde tempo, mas não retiram o moribundo do leito em que agoniza.
A ajuda que foi anunciada a Espanha, explicada pela necessidade de apoiar a recapitalização do sistema financeiro do país vizinho, é só o mais recente remédio. Prometia aliviar a dor, mas os escassos efeitos que produziu dissiparam-se com uma velocidade que não estaria nos planos de quem a pediu, de quem a exigiu, de quem a negociou e de quem a anunciou.
Cem mil milhões de euros parece muito dinheiro. Mais do que suficiente para recolocar as instituições financeiras espanholas numa rota saudável, caso venha a confirmar-se a avaliação do FMI que colocou em 40 mil milhões as necessidades de capital dos bancos mais afectados pelo estouro da bolha imobiliária. De sobra, também, para que se lhe possa chamar "operação de resgate", ainda que o orgulho ferido ou as conveniências políticas, em Madrid ou noutra capital qualquer, lhe queiram colar outro epíteto.
O entusiasmo do fim-de-semana sobre a solidez da saída encontrada para colocar uma rede de segurança sob as instituições financeiras mais fragilizadas do mercado espanhol durou pouco. Por razões compreensíveis. A banca espanhola precisa de dinheiro fresco. E o que se sabe sobre o modelo definido para ajuda é que o empréstimo que vai sair do mecanismo europeu para cumprir aquele desígnio não terá impactos no défice público. Se a história terminasse aqui, tudo estaria menos mal.
Acontece que as taxas de juro da dívida pública subiram ontem nos mercados. No prazo de dez anos, ficaram a menos de meio ponto percentual do limiar dos 7% que separam um país aflito de um país intervencionado. Os cem mil milhões de euros que Espanha vai receber representam, de uma penada, um aumento de dez pontos percentuais no peso da dívida pública do país em relação ao valor da sua produção anual. E as notícias pouco tranquilizadoras para os credores não terminam aqui.
A economia espanhola está em recessão e não sairá dela antes de 2014. Gerará menos rendimentos e, em simultâneo, terá que suportar encargos financeiros mais elevados, porque a dívida está em crescimento e o preço para continuar a alimentá-la seguirá o mesmo caminho. Podem culpar-se os especuladores e, até, a meteorologia. Com ingredientes desta natureza, aquilo a que se assiste é à rápida deterioração do risco de crédito de Espanha e ao agravamento das condições em que terá de financiar-se. Se uma crise na banca tira o sono, a fotografia completa tira a vontade de dormir.
O anúncio dos cem mil milhões de euros que serão injectados nos bancos espanhóis visou ganhar tempo e estabilidade antes do teste que as eleições na Grécia farão às capacidades de sobrevivência do euro. Os primeiros sinais indicam que não se conseguiu uma coisa, nem outra. Entre as hesitações políticas e a administração de analgésicos em final de prazo de validade, a Zona Euro mantém-se à beira do abismo. "
João Cândido da Silva

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