Brincar com o fogo
"Oscar Wilde dizia, com a sua ironia refinada, que: "A vantagem de brincar com o fogo é que aprendemos a não nos queimarmos". Portugal não aprende: todos os anos, por esta altura, queima-se com o fogo. E, enquanto vai brincando à espera de construir um enorme deserto, queima vidas de homens e animais, de florestas, de existências que dependiam da natureza. Mas não aprende. Desertificou o interior do país e nem sequer se digna limpar as matas.
A estratégia de combate a incêndios parece, muitas vezes, de aprendizes. O Ministério da Agricultura dorme. O da Administração Interna ressona. O da Economia foi embalsamado. Os incêndios de Verão são a face horrível da forma como, com o encolher de ombros, se incendiaram as vidas e a economia dos portugueses. Sem responsáveis. Sem lições que fiquem para o futuro. Sem arrependimento.
O país arde mas, ao mesmo tempo, torra-se a esperança. Há outras forças de queimar o futuro. Olhe-se como responsáveis por empresas como os Metros de Lisboa e Porto atiraram dinheiros públicos para o sorteio dos derivados financeiros. Ao mesmo tempo, enquanto se perderam milhares de milhões de euros, emagrece-se o número de carruagens do Metro em Lisboa (que agora parece sardinha em lata a determinadas horas) e há estações onde já nem as escadas rolantes funcionam. Porque não há dinheiro, segundo se diz. E que aconteceu aos responsáveis por estes investimentos financeiros? Nada. Tomaram decisões com o dinheiro dos contribuintes que vão sendo chamados a tapar os buracos, seja do Metro ou do BPN. E nada aconteceu. Portugal arde de todas formas. E nisso o Estado dá o pior exemplo. "
Fernando Sobral
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