Dando de barato o que caro será

Nós os bichos, em particular as toupeiras temos hábitos que os humanos não encaram de bom agrado, esquecendo que matamos e comemos os vermes que lhes estragam a horta ou o relvado, e escavamos galerias que lhes dão oxigénio aos processos de transformação necessários, para que as plantas cresçam com mais vigor. Pouco nos importa se gostam ou não, porque o fazemos para sobreviver.

No sítio dos humanos ouvi, da boca do avô Toupeira, dizer, que lhe dissera um rato da cidade, de um largo da aldeia grande dos humanos, com o mesmo nome, que davam de barato que o humano com nome de lasca de madeira, ganharia as eleições para chefe dos humanos do sítio e que o velho geronte e outros engoliram anzol com chumbada e tudo, atirada pelo mão partida.

Ao que parece será inevitável, a vitória de Cavaco nas presidenciais.

Para alguns dos humanos que aqui e para aqui escrevem será uma Fénix ( aqui serve nos vários sentidos que se queira dar à ave ), para que o sítio renasça e se transforme em algo mais parecido com um país, coisa que me parece deveras difícil, porque a alquimia era coisa conhecida há muito e perdida na poeira dos tempos. Afinal, será o melhor, entre o que se conseguiu arranjar, depois da escolha…

Um humano que não me é estranho, aprendeu muito, com os chamados escolhedores de cortiça, depois de esta ter sido preparada para a manufactura. Eram homens de conhecimento e filosofia das coisas simples e complexas da Vida, de olho vivo, mãos rudes...

Escolhiam das 1ªs às 7ªs e retiravam bocados que não serviam para pranchas.
Diria que comparando com os candidatos, nem 7ªs são, nem bocados, serão apenas aparas e servirão quem lhes ordenar.

As aparas eram guardadas em sacos de rede e enviadas para triturar…

Na minha pobre e péssima visão de toupeira, porque Deus assim o quis, não auguro nada de bom e decerto os ouvirei lamentar, caros leitores ou escribas, mais tarde ou mais cedo. Mas o que se há-de fazer? É o fado ou serão os fados?

Algumas palavras actuais, embora tenham um século…

…”Não sabem proteger-se da sua má consciência senão fingindo serem os executores de ordens mais antigas e superiores ( dos antepassados, da Constituição, do direito, das leis e até de Deus ), ou então tomando emprestadas, à maneira de pensar do rebanho, máximas de rebanho, como seja o apresentarem-se como «primeiros servidores do seu povo» ou «instrumentos do bem comum». Por outro lado, hoje, o homem de rebanho da Europa apresenta-se como a única espécie de homem autorizada, glorificando as suas qualidades, graças às quais é domesticado, tratável e útil ao rebanho, como sendo as únicas virtudes autenticamente humanas” (…) Nietzsche in “Para além do bem e do mal”