Cavaco, a alternativa.
"Cavaco Silva foi ao Parlamento fingir um discurso à esquerda. Assim mesmo: fingir. José Sócrates agradeceu e o país que votou em Alegre e Soares gostou. Mas Cavaco precaveu-se. No caminho para esse Portugal socialmente mais justo deixou pistas que lhe permitem forçar uma mudança de direcção política. Parece coisa pouca, mas é coisa grande.
Primeiro: a ideia de Cavaco não é virar à direita. É bem mais complexa: consiste em exigir que o Estado passe a concentrar as suas energias nos verdadeiramente desfavorecidos - desafiando assim o paradigma da universalidade - ao mesmo tempo que transfere uma fatia do seu anterior poder directamente para os cidadãos.
Segundo: isto implicou (ao longo do discurso) a defesa de dois conceitos que são estranhos à esquerda tradicional. A recuperação da família como veículo primário de um Estado Social (e de responsabilização individual) e a defesa de uma transferência de poder para as instituições privadas de solidariedade social. Elas serão, segundo Cavaco, a forma de chegar a um Portugal mais justo - ou seja, não é exclusivamente do Estado que depende a justiça social.
Terceiro: levando as ideias de Cavaco Silva ao limite poder-se-ia dizer que elas introduzem em Portugal conceitos neoconservadores - essa doutrina que ficou conhecida por ser a principal influência de George W. Bush. É lá que se encontra a recuperação da família como centro nevrálgico de uma reforma social. Mas há mais referências: o desafio aos conceitos de universalidade - tão estranho à esquerda portuguesa - parece recuperar as ideias reformistas do primeiro-ministro britânico Blair quando este pediu soluções ao ministro Frank Field - e este criou um sistema em que a universalidade era privilégio apenas dos mais desfavorecidos (para todos os outros existia o “welfare to work”, ou seja, recebiam os que estavam dispostos a trabalhar).
Quarto: Se Cavaco quiser de facto seguir os caminhos que ontem anunciou, eles sugerem que a sua batalha em torno da justiça social é apenas um caminho para chegar onde o seu “economês” já o levaria. Isto é, a um Estado magro que concentra as suas energias a responder às necessidades dos verdadeiramente necessitados. O resto faz o mercado, ou seja os indivíduos - organizados em torno daquilo a que Cavaco chamou o Compromisso Cívico. Dito de outra forma, o Estado a cuidar dos mais fracos, a família (e as instituições privadas de solidariedade) a olhar pelos remediados e, finalmente, cada um a olhar por todos.
Quinto: Sócrates festejou antes do tempo. Cavaco, se desejar mesmo o que ontem sugeriu querer, está a tentar dizer que tem um caminho alternativo ao que a esquerda propõe. Ou melhor: o PSD. "
Martim Avillez Figueiredo
Primeiro: a ideia de Cavaco não é virar à direita. É bem mais complexa: consiste em exigir que o Estado passe a concentrar as suas energias nos verdadeiramente desfavorecidos - desafiando assim o paradigma da universalidade - ao mesmo tempo que transfere uma fatia do seu anterior poder directamente para os cidadãos.
Segundo: isto implicou (ao longo do discurso) a defesa de dois conceitos que são estranhos à esquerda tradicional. A recuperação da família como veículo primário de um Estado Social (e de responsabilização individual) e a defesa de uma transferência de poder para as instituições privadas de solidariedade social. Elas serão, segundo Cavaco, a forma de chegar a um Portugal mais justo - ou seja, não é exclusivamente do Estado que depende a justiça social.
Terceiro: levando as ideias de Cavaco Silva ao limite poder-se-ia dizer que elas introduzem em Portugal conceitos neoconservadores - essa doutrina que ficou conhecida por ser a principal influência de George W. Bush. É lá que se encontra a recuperação da família como centro nevrálgico de uma reforma social. Mas há mais referências: o desafio aos conceitos de universalidade - tão estranho à esquerda portuguesa - parece recuperar as ideias reformistas do primeiro-ministro britânico Blair quando este pediu soluções ao ministro Frank Field - e este criou um sistema em que a universalidade era privilégio apenas dos mais desfavorecidos (para todos os outros existia o “welfare to work”, ou seja, recebiam os que estavam dispostos a trabalhar).
Quarto: Se Cavaco quiser de facto seguir os caminhos que ontem anunciou, eles sugerem que a sua batalha em torno da justiça social é apenas um caminho para chegar onde o seu “economês” já o levaria. Isto é, a um Estado magro que concentra as suas energias a responder às necessidades dos verdadeiramente necessitados. O resto faz o mercado, ou seja os indivíduos - organizados em torno daquilo a que Cavaco chamou o Compromisso Cívico. Dito de outra forma, o Estado a cuidar dos mais fracos, a família (e as instituições privadas de solidariedade) a olhar pelos remediados e, finalmente, cada um a olhar por todos.
Quinto: Sócrates festejou antes do tempo. Cavaco, se desejar mesmo o que ontem sugeriu querer, está a tentar dizer que tem um caminho alternativo ao que a esquerda propõe. Ou melhor: o PSD. "
Martim Avillez Figueiredo
15 Comments:
O facto do PCP e do BE não aplaudirem o discurso do PR só quer dizer uma coisa: que não aceitam o escrutinio e a escolha do povo Português, o que, por sua vez, mostra que não são partidos democráticos. São partidozinhos constituidos por gente ressabiada que se refugia na suposta "defesa do interesse dos trabalhadores" para alcançar votos que lhes permita manter o poleiro. Tudo o resto são cantigas. Esta gente, além de mal educada, também não é respeitadora e isso vê-se nos seus inflamados discursos radicalistas, que assentam em pressupostos totalmente desfasados da realidade. E é esta gentinha ressabiada de esquerda que engoliu um sapo quando Cavaco Silva foi eleito PR, que levanta a questão da ausência do cravo na lapela. Eu também não uso, nem nunca usei o cravo na lapela e não é por isso que gosto menos de Portugal ou que sou contra o 25 de Abril. Enfim...quando já não se sabe mais o que dizer, abre-se a boca e saem asneiras.
Quanto ao cravo é um símbolo que pelos vistos não diz nada a Cavaco Silva, já todos sabíamos isso e ele, que eu considero um homem sério, não quis fazer passar gato por lebre, fez bem. É pena não ter feito o mesmo quando entoou "Grândola Vila Morena" na campanha. O problema de muita esquerda e de muita direita, que votou em Cavaco por esclusão de partes, é uma questão cultural e em relação à direita é também um prconceito de classe. Por isso nunca o aceitarão como seu presidente, apenas tolerá-lo-ão. Não seria tão peremptório em relação às entidades que fazem inclusão social, pelo menos as IPSS têm compartcipação do Estado. Concedo porém que sejam mais eficientes do que o Estado. Quanto ao discurso, é natural que Ricardo Costa dirigente de uma televisão tão empenhada na eleição de Cavaco, considere que foi um discurso "muito bom". São gostos! Eu, como diria o outro, acho que foi "razoável".
É muito interessante ver o poder dos rótulos e da gregaridade no ser humano. Um rótulo, uma classificação será sempre redutora, mas sem ela não nos conseguiríamos relacional, dada a complexidade de cada indivíduo. Para superar a complexidade classificamos, trabalhando por aproximação. É também forte a necessidade de nos agruparmos com quem partilha um conjunto de afinidades e interesses (clube, partido, profissão). Isso não justifica o uso perverso que é feito dos mesmos rótulos: sob o nome do partido SOCIALista têm sido cometidas as mais diversas reduções das prestações SOCIAIS... mas a opinião pública(da) está inerte. Será por partilharem maioritariamente a mesma côr política? Um presidente a quem continuam a tentar colocar na caixa dos da DIREITA vem alertar para os problemas de exclusão social e redistribuição de riqueza, que a ESQUERDA reclama como sua coutada exclusiva. Aí levantam-se as vozes: não pode ser! Inadmissível! Que comportamente é esse, fora do rótulo que lhe andamos a tentar colar? E que bom que seria para esses que o PR tivesse colado a si um rótulo que nunca foi seu (cravo), para o acusarem de oportunismo... curiosamente os mesmos que lhe tentam colar o outro rótulo (de direita) e se calam quando os socialistas des-socializam!
Cravos e ....ESPINHOS!Esta é a grande dicotomia da abrilada.Se não fosse o 25 de Novembro estariamos hoje bem mais tramados que antes da abrilada.UM CRAVO não passa de uma bonita flor mas o cravo à lapela de muitos revolucionários.....cheirava muito mal.Na bancada dos ilustres convidados notou-se a presença de um senhor de certa idade e de sua dignissima esposa,com um cravo cada um,bem distanciados de tudo e de todos e que,quando não dormitavam,apresentavam um ar enfadonho tal como os cravos da abrilada que murcharam.
Seguramente que foi útil oportuno e inteligente o discurso do Presidente.Nâo que produza efeitos a curto prazo até por tal nâo estar nas mâos Cavaco.Mas porque trouxe para a agenda política um tema da maior importância.Numa conjuntura em que toda agente-analistas,jornalistas e outros fazedores de opiniâo-andavam atarefados e argutos a discutir apenas opas , habilidades da alta finança e as tropelias dos .arbitos ,é evidente que o discurso nâo foi coisa pouca.
Que os cravos floresçam, finalmente, é esse o nosso desejo. Mas não nas lapelas, mas nos lares de todos os portugueses. Mas cuidado, não é despejando dinheiro sobre os pobres que a questão se resolve. Depois do enorme "êxito" do rendimento mínimo garantido e dos milhões gastos a prova está feita! Não se trata de lutar contra a pobreza e acabar com os pobres trata-se de produzir mais riqueza, de haver mais ricos. Lembram-se da máxima revolucionária "vamos acabar com os ricos"? Será que a maioria dos portugueses já percebeu, depois de 30 anos de revolução socialista de "cravo na lapela", que a questão não era esta?
Opinião Conversa de político ou discurso em público versa sempre sobre como resolver os problemas sociais principalmente dos excluídos. Prometem e mostram até os esforços que fazem para resolver.mas pouco do que prometem, é realizado . Pode ser porque a oposição dificulta ou então é a conveniência das partes que atrapalha, se houver algo que melhore a vida particular. Jamais haverá possibilidade de resolver o problema dos excluídos sem tirar uma parte do patrimônio dos ricos. A distribuição justa da renda através do salário desemprego pode colocar os excluídos na classe de consumidores. Quando todos os excluídos e desempregados poderem estar na classe de consumidores terá acabado a exclusão social. Como fazer> Primeiro: Transferir a contribuição das empresas e empregados para as vendas e serviços para que todos; honestos e desonestos, ricos e pobres contribuam conforme o poder aquisitivo porque todos são consumidores. Este processo tira dos ricos o excesso retido que causou a exclusão social . A contribuição através das compras dispensa comprovantes para usar a assistência social e pedir a aposentadoria por tempo de serviço ou incapacidade. Segundo: De inicio devem receber o salário desemprego todos os que não tem renda própria suficiente. Todos têm direito, mas os excluídos devem ter a preferência por uma questão de senso humanitário. Terceiro: Aposentadoria ou reforma deve ser de valor igual para ricos e pobres porque, a alta contribuição, tem que ser considerado como devolução do excesso retido que gerou a pobreza e exclusão social. Isentar os empregadores e empregadores do pagamento da contribuição social certamente diminuirá o desemprego porque facilita a admissão até agora dificultada pelo medo das altas indenizações,
Um simples discurso do Presidente da Republica fez levantar uma tempestade num copo de água. Faz-me lembrar o velho ditado " em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. O mal já está feito, não vale apena chorar pelo leite derramado. Agora é necessário limpar esse leite e não voltar a derramar o mesmo. Esqueçam os ismos, eles já não significam nada. Enterrem os machados de guerra e vamos ao trabalho, que é a unica maneira de levantar Portugal. Os Senhores politicos deixem de promover a incompetência, utilizando as nomeações politicas e tomem medidas de fundo por forma a promver a verdadeira inciativa privada.
Cavaco e o discurso... Somos 10 milhões com 2 milhões de pobres. Creio nada ser mais humilhante para a esquerda e o “seu” 25 de Abril de 1974, do que esta constatação salientada em dia de festa por Cavaco.
Volto a dizer que se querem ter um país totalmente motivado para a criação da riqueza , deve saber cuidar honestamente dos seus dependentes . E cuidar bem não é dar a um dependente de saúde ou idade, um apoio ou cuidados de saúde que não lhe permite sobreviver decentemente segundo as regras da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Dar a um reformado uma pensão de sobrevivência de 250 euros, dar a um deficiente ou a um doente com doenças mortais pensões de 230 euros, obrigar velhos a percorrer quilómetros a pé para se deslocarem a centros de saúde porque necessitam de tomar uma injecção diária quando há enfermeiras que facilmente se poderiam deslocar, a pedido, ás suas residências é uma vergonha para todos nós ! Estes são alguns exemplos pois como sabemos eles são inúmeros ! POR tudo isto apoio tudo o que disse Cavaco Silva e também as conclusões que MAF com inteligência retirou do seu discurso! OU esta organização está efectivamente ao nosso serviço ou não há país para ninguém e aí preparem-se porque tempos piores virão!
é com alguma tristeza que constato que andámos 32 anos a falar de liberdade, de tolerância e de outras coisas mais... considero vergonhoso que a CDU e o Bloco de esquerda não tenham aplaudido o Presidente da Républica. Já imaginaram se estas duas forças politicas estivessem no governo? o comportamento destes, mostra que "quem não por mim é contra mim"... para mim Bloco nunca mais... já votei várias neles e não votei cavaco. nenhuma destas duas questões esta em causa, o que esta em causa é o respeito pelo mais alto magistrado da nação.
O Martim escreve sobre o discurso do Cavaco, pessoa que de degrau em degrau, chegou a Presidente, sempre sobre equívocos, continuando neste primeiro discurso na mesma onda. Deixando o Cavaco brincar com os netos, era assim que ele respondia quando lhe perguntavam alguma coisa sobre politica, e onde devia estar na minha opinião, vamos olhar o seu artigo e perguntar? Quem são os seus "verdadeiros desfavorecidos"? Não os descreveu, presumo que sejam iguais aos do discurso que ninguém sabe quem são ou onde estão, ou estarei eu enganado e, são o segredo do Sr. Sócrates! E as IPSS, não estão sempre a mamar na teta do Estado, ou continuo enganado. A família no centro da reforma social, só para rir. A maioria dos pais deste país, cria os filhos como "brinquedos caros"que necessitam de muita manutenção, (diga-se Euros) mas eles nem as revisões mais simples realizam. Isto para dizer que se não ligam nenhuma ao que os filhos fazem ou gastam, como podem ter hábitos de família para cuidar dos mais idosos. Termino, dizendo que antes de se falar em desfavorecidos, devíamos começar com os mais favorecidos, e perguntar como é possível acumular reformas milionárias do sector público, ou publico mais privado, como sucede com muitos, sem descontos suficientes para tal e, sem igualar estes dois sectores e, fixando para ambos, tetos máximos que não pudessem ultrapassar o vencimento do Presidente. Acresce o facto das reformas não terem qualquer justificação, num país pobre como o nosso, a 14 meses por ano, os reformados não são trabalhadores no activo, já o foram. Aplicando as medidas anteriores, muitos milhões seriam imediatamente disponibilizados para os outros necessitados. Se alguém me puder informar, quais os verdadeiros desfavorecidos, ficava agradecido.
Um pequeno reparo só á sua crónica, meu caro senhor: o senhor, a determinada altura da sua crónica fala em esquerda.Mas...a que forças políticas é que o senhor chama de esquerda?. Ou ainda não reparou que na Europa da União já não há esquerdas nem direitas? È a política dos mafiosos, corruptos, traficantes disto e daquilo é que vinga, senhor.Abram os olhos e deixem-se de ideologias porque isso ja acabou ha muito.O sistema está podre.
Sócrates festejou porque é também essa a política do PS com os valores muito baixos de rendimento mínimo garantido (de inserção como lhe chamou Bagão Félix), ordenado mesmo mínimo, reformas ultra-mínimas e desejo de ver os utentes do SNS que não têm atestado de pobreza pagarem mais pelos seus serviços. Uma grande parte dos reformados viu já as suas reformas reduzidas. Só os que recebem menos de 8 mil euros por ano (571 x 14) é que não sofreram o aumento do IRS. Mas, a maior parte dos que recebem mais são os que não enganaram o Estado e têm as carreiras contributivas máximas. O que está errado em Cavaco é pensar que as associações civícas vão resolver alguma coisa. As esmolas nunca acabaram com a pobreza.
Martim,desculpe mas também não concordo consigo.Para não repetir e porque Francisco Godinho pôs exatactamente o "dedo na ferida",o Martim já esqueceu os 10 anos de governo Cavaquista? Pois eu não e lembro só as promoções automáticas para a função pública que permeia tanto os que trabalham como os que passam o dia no faz de conta,pois sabem que está sempre certo.Mas onde ficaram as medidas para os mais desfavorecidos e apoio aos idosos que são abandonados nos hospitais,pelas familias com doenças incuráveis..Por muito que goste de si, Martim tenha santa paciência e voltando a referir Francisco Godinho,deixe o governo andar para a frente e faça o favor de o apoiar para bem do nosso querido Portugal.Quanto ao PSD,anda tão desnorteado que hoje na entrevista que fizeram a Marques Mendes,ele refere que existem funcionários públicos a mais e que é preciso arranjar maneira de os diminuir!.É espantoso para quem esteve no governo e nada fez nesse sentido,ou melhor colocou lá os seus boys também e não foram poucos..Haja paciência...E quanto ao nosso P.R.está igual ao que esperávamos.
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