A lição da Suécia
"A Suécia aplicou um pacote de medidas de salvação dos seus bancos bem pensado e sob a forma de injecções directas de capital.
Os acontecimentos dramáticos da semana passada permitem à América e à Europa retirar ilações importantes face ao que está a actualmente a acontecer. A primeira lição vem da Suécia, país que passou por uma grave crise financeira no início dos anos 90, país que aplicou um pacote de medidas de salvação dos seus bancos bem pensado e sob a forma de injecções directas de capital.
Tal como nos EUA, a crise financeira sueca foi precedida também por uma bolha no imobiliário, bolha esta que rebentou no seguimento do forte aumento das taxas de juro. Seguiu-se depois um período conturbado no sistema financeiro e na economia do país, o que levaria o produto interno bruto sueco a cair, em termos reais, a uma taxa acumulada de 5% em 1991, 92 e 93.
A resposta do governo sueco foi a criação de uma agência com o objectivo de recapitalizar o sector financeiro. Mas os accionistas dos bancos não foram compensados e o governo sueco não estendeu o pacote de ajuda a todos os bancos, mas sim a um pequeno grupo apenas. Para tal usou um modelo microeconómico para determinar quais os bancos que tinham possibilidades de sobreviver e os que não tinham hipótese alguma. Todos os depositantes receberam a promessa explícita do governo de que seriam devidamente compensados. O objectivo era minimizar os custos para o contribuinte; o governo conseguiu cumpri-lo. Este caso ficaria para a história como um dos melhores pacotes de salvação de bancos.
Mas existem grandes diferenças entre o que aconteceu na Suécia e o que está a ocorrer nos EUA. A mais importante é que as bolhas recentes ultrapassam tudo que vimos até aqui. Actualmente, estamos perante uma bolha imobiliária em vias de rebentar e vivemos uma situação marcada por uma alavancagem feita com recurso ao mercado de crédito.
Os EUA debatem-se com um problema muito maior do que a Suécia na altura. Tal como este país escandinavo, os EUA terão que reduzir a dimensão do seu sector financeiro antes de poderem salvá-lo, tendo que reduzir muito mas dispostos a reduzir muito pouco. Daniel Gros e Stefano Micosi fizeram algumas observações astutas sobre esta questão nas páginas do Financial Times na semana passada: alguns bancos europeus cresceram e assumiram uma dimensão tal que se torna agora impossível aos governos salvá-los. Os bancos vistos antes como demasiado grandes para irem à falência são agora considerados demasiado grandes para salvar. Ao contrário do governo alemão, a administração norte-americana está em condições de salvar o seu maior banco, mas não conseguirá salvar todo o seu sistema financeiro.
O problema não se prende apenas com a ausência de injecções directas de capital, mas também com a tendência para comprar dívida a preços acima do mercado e para definir indiscriminadamente pacotes de salvação para cada banco. A recapitalização do sector financeiro, tal como está a ser concebida pode ser injusta e fútil. Um novo pacote, a ser finalmente implementado, também não resolveria este dilema.
Sem uma contracção do sistema financeiro, a administração norte-americana corre o risco de uma verdadeira explosão de dívida e de assistir a uma debandada de investidores estrangeiros. Esta é outra das grandes catástrofes que se pode desenhar no horizonte. E a incapacidade de salvar o sistema bancário pode provocar uma depressão. Mas o mesmo pode acontecer se este pacote de salvação gerar instabilidade macroeconómica.
Que ilações pode a Europa retirar do caso americano? Uma delas é que para aplicar um pacote de salvação é preciso uma resposta rápida. Olhando para a zona euro, ficamos sem saber de onde pode vir essa resposta.
Quando os ministros europeus viajarem para uma reunião em Bruxelas, ou quando tiverem chegado ou implementado uma decisão já os mercados terão derretido há muito tempo.
Peer Steinbrück, ministro das Finanças alemão, disse no parlamento alemão que os EUA tinham os dias contados como superpotência económica e que deveriam mostrar um pouco mais de humildade. Teve a sorte de a crise da semana passada não ter acontecido em Berlim, Paris ou Roma, caso contrário, ele e os seus congéneres não estariam preparados de todo. O sistema bancário da zona euro pode não ser tão sólido como se pensava e durante o fim-de-semana, as autoridades financeiras mantiveram conversações quanto ao futuro do grupo financeiro belgo-holandês.
O Fortis é apenas um de muitos grandes bancos transfronteiriços europeus regulados por supervisores nacionais. E não se chegou a acordo quanto a quem assumirá esse pacote de salvação se qualquer um destes bancos europeus cair.
Se a América precisa de um melhor pacote de salvação, então a Europa precisa de muito mais: um sistema que permita avançar com um plano de salvação."
Wolfgang Munchau
Os acontecimentos dramáticos da semana passada permitem à América e à Europa retirar ilações importantes face ao que está a actualmente a acontecer. A primeira lição vem da Suécia, país que passou por uma grave crise financeira no início dos anos 90, país que aplicou um pacote de medidas de salvação dos seus bancos bem pensado e sob a forma de injecções directas de capital.
Tal como nos EUA, a crise financeira sueca foi precedida também por uma bolha no imobiliário, bolha esta que rebentou no seguimento do forte aumento das taxas de juro. Seguiu-se depois um período conturbado no sistema financeiro e na economia do país, o que levaria o produto interno bruto sueco a cair, em termos reais, a uma taxa acumulada de 5% em 1991, 92 e 93.
A resposta do governo sueco foi a criação de uma agência com o objectivo de recapitalizar o sector financeiro. Mas os accionistas dos bancos não foram compensados e o governo sueco não estendeu o pacote de ajuda a todos os bancos, mas sim a um pequeno grupo apenas. Para tal usou um modelo microeconómico para determinar quais os bancos que tinham possibilidades de sobreviver e os que não tinham hipótese alguma. Todos os depositantes receberam a promessa explícita do governo de que seriam devidamente compensados. O objectivo era minimizar os custos para o contribuinte; o governo conseguiu cumpri-lo. Este caso ficaria para a história como um dos melhores pacotes de salvação de bancos.
Mas existem grandes diferenças entre o que aconteceu na Suécia e o que está a ocorrer nos EUA. A mais importante é que as bolhas recentes ultrapassam tudo que vimos até aqui. Actualmente, estamos perante uma bolha imobiliária em vias de rebentar e vivemos uma situação marcada por uma alavancagem feita com recurso ao mercado de crédito.
Os EUA debatem-se com um problema muito maior do que a Suécia na altura. Tal como este país escandinavo, os EUA terão que reduzir a dimensão do seu sector financeiro antes de poderem salvá-lo, tendo que reduzir muito mas dispostos a reduzir muito pouco. Daniel Gros e Stefano Micosi fizeram algumas observações astutas sobre esta questão nas páginas do Financial Times na semana passada: alguns bancos europeus cresceram e assumiram uma dimensão tal que se torna agora impossível aos governos salvá-los. Os bancos vistos antes como demasiado grandes para irem à falência são agora considerados demasiado grandes para salvar. Ao contrário do governo alemão, a administração norte-americana está em condições de salvar o seu maior banco, mas não conseguirá salvar todo o seu sistema financeiro.
O problema não se prende apenas com a ausência de injecções directas de capital, mas também com a tendência para comprar dívida a preços acima do mercado e para definir indiscriminadamente pacotes de salvação para cada banco. A recapitalização do sector financeiro, tal como está a ser concebida pode ser injusta e fútil. Um novo pacote, a ser finalmente implementado, também não resolveria este dilema.
Sem uma contracção do sistema financeiro, a administração norte-americana corre o risco de uma verdadeira explosão de dívida e de assistir a uma debandada de investidores estrangeiros. Esta é outra das grandes catástrofes que se pode desenhar no horizonte. E a incapacidade de salvar o sistema bancário pode provocar uma depressão. Mas o mesmo pode acontecer se este pacote de salvação gerar instabilidade macroeconómica.
Que ilações pode a Europa retirar do caso americano? Uma delas é que para aplicar um pacote de salvação é preciso uma resposta rápida. Olhando para a zona euro, ficamos sem saber de onde pode vir essa resposta.
Quando os ministros europeus viajarem para uma reunião em Bruxelas, ou quando tiverem chegado ou implementado uma decisão já os mercados terão derretido há muito tempo.
Peer Steinbrück, ministro das Finanças alemão, disse no parlamento alemão que os EUA tinham os dias contados como superpotência económica e que deveriam mostrar um pouco mais de humildade. Teve a sorte de a crise da semana passada não ter acontecido em Berlim, Paris ou Roma, caso contrário, ele e os seus congéneres não estariam preparados de todo. O sistema bancário da zona euro pode não ser tão sólido como se pensava e durante o fim-de-semana, as autoridades financeiras mantiveram conversações quanto ao futuro do grupo financeiro belgo-holandês.
O Fortis é apenas um de muitos grandes bancos transfronteiriços europeus regulados por supervisores nacionais. E não se chegou a acordo quanto a quem assumirá esse pacote de salvação se qualquer um destes bancos europeus cair.
Se a América precisa de um melhor pacote de salvação, então a Europa precisa de muito mais: um sistema que permita avançar com um plano de salvação."
Wolfgang Munchau
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home