terça-feira, fevereiro 17, 2009

DOIS COELHOS E UM POPULISTA

"Eis Francisco Louçã, professor catedrático e director de uma Unidade de Estudos sobre a Complexidade na Economia no ISEG, em discurso directo na convenção do Bloco de Esquerda: "Imaginem que se colocam dois coelhos numa cova. De certeza que vão surgir coelhinhos, se for um casal de coelhos. Mas experimentem pôr duas notas de cem euros juntas uma com a outra numa caixinha. Acham que vão surgir notas de vinte euros nessa caixinha?"

Os delegados à convenção, familiarizados com o jargão da economia complexa, concordaram e aplaudiram. Eu espantei-me com o reaccionarismo social do BE, já aqui referido por Ferreira Fernandes. Desde logo, nada obriga os coelhos a procriar. O coelho pode recorrer a preservativos. A coelha pode recorrer ao aborto. Um deles pode invocar dor de cabeça. E ambos podem constituir um casal homossexual em união de facto, o que inviabiliza os coelhinhos a menos que reclamem a adopção, direito que a lei nega a gays, a roedores e, sobretudo, a gays roedores. De qualquer modo, talvez a fábula do dr. Louçã não pretendesse levantar tantas e prementes questões.

O dr. Louçã desejava apenas ilustrar um curioso axioma: o trabalho produz, o capital não produz. Para um catedrático do ramo, não está mal, embora eu duvide que um doutorado em psiquiatria que lesse as mãos em part-time mantivesse o primeiro emprego por muito tempo. Entenda-se: não quero cometer a injustiça de achar o dr. Louçã ignorante. Ele sabe que, sem capital, provavelmente nem sequer há trabalho. O problema é que o homem tende a subordinar a carreira científica à política, e a proferir inanidades assim sempre que lhe apontam um microfone ou uma plateia. Com dois dígitos nas sondagens, as inanidades aumentam proporcionalmente. Os vestígios de rigor académico que, a espaços (largos), o dr. Louçã ainda exibia desapareceram em prol da excitação das massas. Dito de outra maneira, os vapores do sucesso levam o dr. Louçã a revelar os seus verdadeiros propósitos.

A este respeito, nunca como na convenção o BE foi tão confessional. Pela boca do chefe ou dos discípulos (as diferenças ou não existem ou são caladas), a natureza do BE emergiu com tocante franqueza: um bando "anticapitalista", que odeia a propriedade privada e ambiciona nacionalizar os sectores "estratégicos", restringir a liberdade dos indivíduos e das empresas e, em suma, transformar Portugal na Albânia da lenda ou na actual Venezuela. Não é exclusivo português o receio de que as crises de regime facilitem a ascensão de populistas radicais. Pois bem, o populismo está aí, e o que será particularidade caseira é a surpresa por virem da esquerda, extrema, extremíssima
."

Alberto Gonçalves

Divulgue o seu blog!