O Eremita
Oliveira do Hospital.
Há cinco anos sozinho e sem conforto
Vive há cinco anos entre dois rochedos cobertos com plásticos
Manuel Maria Dias, 80 anos, é talvez o último dos homens primitivos a viver em Portugal.
Tem milhares de euros a receber da reforma mas habita uma caverna escavada entre duas pedras em Seixo da Beira, concelho de Oliveira do Hospital.
Não há luz, nem água canalizada.
A higiene, da casa e a pessoal, é feita ao lado dos cobertores estendidos no chão enlameado.
A barba e as unhas demonstram o isolamento a que se votou.
Ao lado das penedias em que habita, está o início de um barracão que a junta de freguesia iniciou. De nada valeu.
Manuel Maria Dias é um homem livre.
Nem a reforma quer.
"Tem algum jeito nunca ter dado nada ao Estado e agora querem dar-me a mim?", pergunta-se."O dinheiro é sangue, custa a ganhar", aponta o octogenário que mora entre duas rochas num terra que o pai comprou "antes de ir para o Brasil. Somos três, as minhas irmãs moram lá para baixo e eu vivo aqui. Sozinho!", dispara com lucidez acutilante.
A casa, assim lhe chama há cerca de cinco anos, são duas pedras cobertas com plástico e pinheiros.
Lá dentro uma protuberância das rochas guarda a água que serve para cozinhar e limpar. Ao lado está a cama e ao fundo, numa reentrância dos penedos fica a dispensa.
De que vive? "Trabalho nas florestas e vendo uns cabos para enxadas nas feiras."
O magro sustento permite "comprar umas cabras ou galinhas".
Os 30 quilómetros que separam Seixo da Beira de Nelas ou de Oliveira do Hospital são percorridos sempre a pé.
"Demoro três horas", conta o eremita.
Manuel já não tem animais. "O que compro enterro na terra e a gente perde a vontade de trabalhar, não se tira lucro nenhum. Arrendei o pasto."
As compras "são feitas uma vez por mês" quando vai à feira. Os dias são passados na lavoura. É da terra que vem o sustento.
"Semeio centeio e faço pão." A carne que come é comprada "de vez em quando", explica.
Os dias "são passados a trabalhar, à noite como e cama". E o frio? "Agacho-me aqui e faço uma fogueira."
A fogueira, feita no mesmo buraco onde dorme, é alimentada com troncos que vai puxando à medida que ardem.Apesar de tudo, é aqui que Manuel é feliz, rejeita mudar de vida.
"Sou feliz aqui. É a vida de um pobre homem só. Triste mas uma vida", exclama.
DN
O Pelicano
1 Comments:
A honestidade de espírito e a limpidez do mesmo são coisas raras no mundo de hoje onde todos pensam que o estado deve fazer tudo.
O estado tem todas as obrigações, segundo pensam os iluminados.
O estado tem de zelar pela segurança, pelos filhos e pelos velhos pais e avós, o estado tem de ser a sombra se o sol for inclemente e a barragem se as águas transbordam.
O novo Leviatã será a sua salvaguarda.
Mas num mundo que vive de ideias que afinal se revelaram fraudes, como a democracia imposta a todo o custo, em qualquer lugar do mundo, incluso em locais onde ontem de vivia na idade da pedra, levam a repensar quem de facto são as forças que fazem e desfazem países e regimes.
Hoje quando se fal de crise muitos, direi alguns se perguntam para onde foi o dinheiro e porque tão rapidamente a crise financeira passou para a economia real, aquela de facto que nos alimenta, que nos veste, que nos acompanha na saúde e na morte, aquela que pensamos que irá ser o futuro através da ciência que afinal não trouxe nada de novo, apenas nos deu com uma mão e a outros treucidou com o sopro da morte e da destruição sem sentido aparente.
Afinal a idade das trevas existe nunca acabou, o Iluminismo foi uma invenção para destruir credos e hábitos, a grande maioria deles bons, muito poucos preversos.
Estes defensores do iluminismo, hoje bem organizados, aliás sempre bem organizados, são a praga que escraviza a espécie humana apesar de alguns bem intencionados terem abolido a escravatura, mas sem nunca abolir a escravidão.
Creio que a chamada crise tem nomes e tem autores, são pessoas que têm inscrito no seu código genético o espírito maléfico dos antigos mercadores que subjugavam reis e atavam os poderes dos estados.
Hoje não é diferente, apenas a velocidade da informação é maior, mas as escravidões continuam, as inquisições continuam sob novas formas, as missas negras e as heresias continuam a ter castigos mil vezes piores que as dos tempos da Inquisição, sempre em nome do novo homem, da liberdade e da ciência ao serviço do bem estar da humanidade.
Tudo mentiras do politicamente correcto dos novos evangelistas usando novos púlpitos, desta vez em nome do sacrossanto secularismo e dos agnosticismos,com as plateias miseráveis da multidão imensa dos rebanhos que são a humanidade globalizada e já de má memória.
Dizem já alguns :
Voltemos ao nacionalismo, radicalizemos as nações arrancadas e destruidas, em nome do internacionalismo ou seja da globalização.
Mais uma experiência que não sabemos como vai terminar sabemos como começou e sabemos também quem a aproveita e suspeito saber que os que lucraram vão sair novamente vitoriosos, como dizia um conhecido barão:
"Compra propriedades quando o sangue corre nas ruas" .
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