quarta-feira, fevereiro 18, 2009

OS MONÓLOGOS SOCRÁTICOS

"Por motivos que nem forças ocultas saberão explicar, vi um pedaço do debate quinzenal no parlamento. Quer dizer, vi o eng. Sócrates habitualmente exaltado, a fazer voz grossa e a acusar os adversários das piores vilanias. Em democracias aborrecidas, os debates do género servem, grosso modo, para discutir as políticas e propostas do Governo. Os nossos particulares debates servem para mostrar que qualquer contestação à actuação do Governo representa uma vergonhosa afronta ao regime e, suponho, à humanidade em peso.

O que sucede na Assembleia da República só não é um solilóquio do primeiro-ministro porque a oposição às vezes arrisca uma dúvida e ensaia duas banalidades discordantes. No fundo, porém, trata-se apenas de deixas para o eng. Sócrates disparar o vasto (bem, não demasiado vasto) léxico da vitimização. Fundamentalmente, tudo o que belisque a honestidade e o brilhantismo inatos do homem constitui um ataque pessoal, um insulto cobarde e, na definição que já é um clássico de 2009, uma campanha negra.

Em princípio, não seria difícil desmontar a soberba inerente à metralhadora de queixumes. Mas seria correcto? Por mim, hesito. Aos poucos, coloco a possibilidade de o eng. Sócrates ter razão. Pensem comigo: e se tem? E se é a má-fé que nos leva a questionar a nobreza do seu carácter e a justiça das suas acções? E se ele deseja de facto o progresso do país, não há a hipótese de os que dele divergem desejarem o atraso ou no mínimo uma coisa assim-assim? E se a "campanha negra" é real e movida pela inveja que a grandeza normalmente desperta? E se, como a sua retórica insinua, o eng. Sócrates pairar merecidamente acima das críticas, no fundo uma expressão masoquista contra quem quer o nosso bem e faz do nosso bem o seu desígnio? E se, afinal, o eng. Sócrates for melhor que todos nós?

Por inércia ou cansaço, começo a acreditar nisso e, o que é mais esquisito, parece-me que o eng. Sócrates também
."

Alberto Gonçalves

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