Setúbal a arder

"O ataque que as forças policiais têm sofrido em Setúbal provocou um manifesto incómodo aos partidos, exceptuando o PP. Paulo Portas tem sabido colocar a questão nos seus termos exactos: uma esquadra de polícia não é atacável em democracia. O PCP foi para o confortável terreno das causas sociais, o BE está em silêncio e o PSD nada disse de audível.

Ora, para quem vê nestes dias de brasa em Setúbal uma explosão de raiva social determinada pela miséria e pobreza está bastante enganado. O que se está ali a passar é um fenómeno de pura delinquência. A sua origem directa está no clima de verdadeira guerra que existe entre um forte grupo de assaltantes a caixas multibanco e estabelecimentos comerciais, agora dividido em dois. Gente que dispara com enorme facilidade seja contra quem for, que desafia a polícia e tem um elevado grau de organização, conhecendo inclusivamente as rotinas e técnicas policiais.

As causas sociais existirão, obviamente, mas há mais de vinte anos a Bela Vista era habitada por comerciantes, pescadores, polícias e nada disto acontecia. Só com políticas de realojamento absurdas e o abandono do bairro ao tráfico de droga os problemas surgiram, transformando-o num barril de pólvora à mercê de gangs e não de gente que sonha com um outro mundo e uma outra organização social."

Eduardo Dâmaso