sexta-feira, outubro 16, 2009

A nova velha vida

"O país retorna à vida habitual. A temporada eleitoral deixou tudo ainda mais confuso e sem vestígio de solução.

Das eleições fica em herança um Governo minoritário, um PSD paralisado, um Parlamento fragmentado e um Presidente da República com o seu prestígio algo abalado. Para o cenário ficar completo, acrescente-se um Bloco de Esquerda maior na sua menoridade e um CDS/PP eufórico depois de uma transfusão de hormonas políticas. Ou seja, as instituições ficam mais fracas e o poder das pequenas forças contestatárias ganha uma importância inesperada. A democracia tem destas coisas, mas Portugal vai entrar numa fase em que a política de bastidores será dominante e as negociações a oração política de todos os dias.

Sócrates prepara todo o clima político para a prazo poder responsabilizar a oposição pela eventual instabilidade. Neste esquema socrático, o responsável maior será certamente o PSD que recusa a coligação formal, informal ou pontual. Quanto ao imediato, Sócrates antecipa um Governo ‘swing', embalado à Esquerda na consciência social e encostado à Direita na política liberal. Cansado do papel de vilão, Sócrates é o filho pródigo que de braços abertos e de mão estendida tenta controlar a disfuncional família que é a política nacional.

Quanto ao PSD, o partido promete entrar numa espécie de guerra fria em que a paz é improvável e a guerra é impossível. A situação do PSD é equivalente ao silêncio dos cemitérios, um partido dominado por um consenso podre em que ninguém entra porque ninguém sai. Politicamente, o PSD não está em condições para ser oposição e o símbolo da alternativa ou de uma qualquer esperança à Direita do PS. Pelas declarações de Ferreira Leite, o PSD será um partido único, politicamente isolado, e que reduz o papel da oposição ao deserto do voto contra. A política do PSD como grande partido da oposição não poderá ficar limitada entre a recusa acertada do bloco central e o orgulhosamente sós de Ferreira Leite. O compasso de espera no PSD é equivalente à castração política de um partido refém de si mesmo.

O coração puro e aberto de Sócrates é um conto de fadas para deleite dos inocentes. O novo primeiro- -ministro veste-se de anjo mas pensa em conduzir a oposição inteira até às portas do inferno. Se o Governo durar dois anos, Sócrates guarda para si o papel de herói-vítima que tudo fez contra a compulsiva irresponsabilidade de uma oposição ressentida. Se o Governo conseguir cumprir os quatro anos da legislatura, Portugal poderá mergulhar num pântano de águas profundas com sérias consequências para a próxima geração. E num cenário de crise e de bloqueio, terá a Presidência da República estômago para a dissolução do Parlamento?
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Carlos Marques de Almeida

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