segunda-feira, outubro 19, 2009

A opinião dos estudos

"Nunca tive ambições comerciais, mas começo a pensar seriamente em abrir uma empresa de sondagens. Em épocas de crise ou de prosperidade, parece-me de longe o investimento mais rentável e garantido. Os outros são um risco tramado: restaurante em que os pezinhos de coentrada se assemelhem a um caldo verde não dura muito. E o mesmo vale para um concessionário que represente carros sérvios ou para uma livraria especializada em autobiografias de wrestlers.

Já as sondagens, e falo das sondagens políticas, são um descanso. Em teoria, as empresas do ramo sobretudo estimam, com a certeza possível, o sentido de voto num dado momento para uma dada eleição. Na prática, não só em Portugal, é frequente não darem uma para a caixa. Às vezes acertam? Claro que sim, mas poucos voltam a um restaurante que acerta na coentrada "às vezes". Nos caprichos das sondagens, porém, não existem consequências: todos se entregam jovialmente aos peritos que, quinze dias antes, falharam o resultado de um sufrágio por quinze pontos.

Os peritos defendem-se com pormenores técnicos que eu, vagamente recordado das minhas aventuras académicas no meio, até faço por perceber. O que não percebo é o prestígio, e o interesse, que as sondagens continuam a suscitar. Excepto, como disse, o interesse comercial: uma actividade que paira sem consequências acima das regras do mercado é um seguro de vida para quem a realiza. É verdade que também há críticos a sugerir sanções ou até proibições. Felizmente, qualquer estudo de opinião provaria que ninguém liga ao despeito de gente em queda nas sondagens e sem queda para o negócio
."

Alberto Gonçalves

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