sábado, janeiro 30, 2010

Endividamento

"A cada mês que passa, os indicadores do Banco de Portugal relativamente ao endividamento das famílias e ao incumprimento contratual daí resultante, são cada vez mais gravosos. É assim há cerca de dois anos e irá continuar.

Independentemente da crise internacional que em finais de 2008 veio alavancar toda uma panóplia de desgraças já conhecidas, a situação do incumprimento contratual das famílias endividadas iria continuar.

O endividamento é bom, porque permite aceder a um conjunto de bens e serviços, que de outra forma nunca se poderia ter. São exemplos emblemáticos, a compra de habitação e de automóvel. Agora o que compagina e configura as preocupações de todos aqueles que se dedicam ao estudo e acompanhamento deste fenómeno, é a utilização do crédito de forma totalmente inconsciente e de forma desregrada, mas parece que ninguém com responsabilidades nesta matéria tem estado atento.

Dirão alguns, que a primeira responsabilidade é desde logo do mutuário. Que lhe compete a ele em primeira-mão fazer um avaliação dos seus rendimentos e depois perceber se tem ou não condições para avançar para o financiamento pretendido. Até sou capaz de estar de acordo. No entanto, não devemos perder de vista, que muitos portugueses não têm a capacidade para fazer contas e fazê-las bem ou então, uma significativa parte, acaba por se deixar levar pelo aparente facilitismo de recurso ao crédito. E é justamente aqui, que a meu ver, o Estado tem que chamar a si uma quota-parte de responsabilidade e ajudar os seus cidadãos a não avançarem no caminho da irresponsabilidade que os levará mais tarde ao abismo. Vê-se, nesta matéria, um Instituto do Consumidor perfeitamente amorfo, inactivo, estrategicamente apagado e sem ideias. Se queremos controlar esta catadupa pandémica, só com uma forte atitude profiláctica lançada a nível do Estado, se poderá estancar esta situação.

E é tão simples a forma de o fazer!

Tenho a grande vantagem de ter estado nos dois campos - do lado de quem empresta e do lado académico de quem estuda e aprofunda seriamente este tema. E é com o ‘mix' destas duas experiências fortemente aprofundadas que me custa ver cada dia mais portugueses entrarem no mercado do crédito (sobretudo aquele que releva do consumo imediato) sem terem alguém que os ajude a fazer contas e que inevitavelmente irão entrar em incumprimento, com as graves consequências anteriormente referidas.

Todos nos podemos endividar, mas também todos temos limites diferentes para esse nível de endividamento e é aqui que muitos portugueses necessitam de uma ajuda que teimosamente tarda em chegar
. "

António Gaspar

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