segunda-feira, fevereiro 15, 2010

Cinzas quentes com brasas...

Porque estou já nas cinzas como se fosse quarta feira,
porque o frio corta como antigamente,
e isso pode ser um bom presságio,
porque não me apetece repetir o que muitos repetem à exaustão,
porque sempre assim foi, embora não me conforme,
Mas deixem-me dormir em paz,
sim,
conheço o poema de Maiakovski,
sim, sei que foi assassinado pelos esbirros de Lenine,
sei que nos começam por dizer que aquele está melhor que o outro,
depois tiram ao que está pior,
depois vão tirando aos mais miseráveis,
até que cheguem a ti ou a mim,
mas decididamente hoje não estou para isso,
não decidiram?
Pois limpem-se na porcaria que criaram, no monstro que criaram.
Odeio cada vez mais os políticos e a política e sobre isso hoje estamos conversados.


Vou continuar a sonhar o meu sonho como se os olhos apenas vissem a minha alma,
como tentasse saber o que te vai na tua,
sei que a vida é feita de decisões e de indecisões,
feita de dor e de pouca felicidade,
sei que o tempo de ser feliz dura muito mais que o outro,
sei o que se arrasta, o que custa puxar uma coisa muito pesada,
mas sei também que vale a pena plantar muitas árvores com as minhas mãos,
sei que elas vão dar frutos porque os degustei, com deleite,
como queria degustar o que me aparece no horizonte,
como sei que as coisas são o que são,
não me deixo vencer pelas coisas impossíveis, faz parte do meu dia a dia,
gosto do vinho em conta e com corpo, aroma e alma,
os que sabem do que falo não podem desmentir,
gosto de repetir palavras,
como gosto da imagem do cavalo puro sangue árabe,
feito pelo Deus Alá do pó e do vento,
para que voasse em vez de cavalgar,porque sei e porque o vi,
e porque gosto das palavras de Jesus e dos seus suaves milagres.
Gosto do teu doce olhar que me ficou na memória gravado na alma,
mesmo que seja impossível o que julgamos ser,
gosto do cristalino sorriso que me contagia o ar taciturno,
gosto que me faças feliz, nem que seja um segundo,
porque o tempo é elástico,e nós é que o moldamos,
o fazemos parar,
porque as equações dadas como certas estão erradas,
porque as equações são feitas por doidos e são efémeras,
nós também somos, mas somos verdadeiros,
e porque partimos de premissas certas,
porque o espírito vale mais que os números ,
e porque as letras fora do nosso a, b ou c e não o y, beta, delta ou gama, são de outros.
Assim, ficamos pelas nossas conhecidas palavras,
pelas palavras que nunca teria a coragem de dizer,
mas que vou dizendo,
como o cavalo que voa no silêncio do deserto,
no silêncio do mar de vento,
asssim,
vou quebrando o silêncio das palavras que vão ficando por dizer,
mesmo que nunca sejam ditas...

Tudo, são originais do autor que aqui publica.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Chove lá fora!
E o vento agitando as folhas da acácia
Na fraca chuva que na ilha se espalha
E lava as vidraças e lentamente se escoa...

Chove lá fora!
E o vento agitando as horas de espera
No frágil coração do ser inerte que palpita
E leva o sangue que rapidamente nos inunda...

AjAraújo

terça-feira, fevereiro 16, 2010  
Anonymous Lena said...

Chove. Há silêncio, porque a mesma chuva
Não faz ruído senão com sossego.
Chove. O céu dorme. Quando a alma é viúva
Do que não sabe, o sentimento é cego.
Chove. Meu ser (quem sou) renego...

Tão calma é a chuva que se solta no ar
(Nem parece de nuvens) que parece
Que não é chuva, mas um sussurrar
Que de si mesmo, ao sussurrar, se esquece.
Chove. Nada apetece...

Não paira vento, não há céu que eu sinta.
Chove longínqua e indistintamente,
Como uma coisa certa que nos minta,
Como um grande desejo que nos mente.
Chove. Nada em mim sente...

Fernando Pessoa

terça-feira, fevereiro 16, 2010  
Anonymous Atento said...

O autor está de parabéns.

terça-feira, fevereiro 16, 2010  

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