domingo, fevereiro 14, 2010

Silêncios

De todos os seres, mesmo os que pensamos serem inacessíveis,
os anjos são os que mais confusão me fazem.
Sim, fazem confusão, porque os sinto, porque por vezes se fazem ouvir, como a leve brisa no mar, à noite.
Só quem já esteve no mar , longe de tudo e quase só,
pode saber,
porque não é o mesmo que uma charneca,
ou o alto de um monte,
ali, por vezes, podemos ouvir e perceber que não estamos sós,
basta olhar para o céu, deitado mesmo que o frio nos tolha os dedos,
esse frio que nos custa sentir e que se entranha nos ossos.
A mim, faz-me pensar que estou só naqueles pequenos instantes,
lembro-me dos meus fantasmas, dos que já partiram e que choro por vezes,
sem que ninguém veja,
lembro-me dos que cheguei a odiar,
lembro-me dos que adivinhei a morte no momento dela ocorrer,
lembro-me do cheiro da pasta nova da escola primária,
do cheiro do bibe,
dos amigos e dos outros que sempre temos que enfrentar, mais tarde ou mais cedo,
lembro-me da rispidez e da doçura disfarçada da velha professora,
lembro-me das guerreias, dos socos,
dos pontapés nas canelas que dava quando os grandalhões não esperavam, depois do estaladão,
porque sempre tive a ideia que um homem grande , ou pequeno,
pode ter uma sombra do tamanho que o sol lhe desenha.
Daí não ter medo do mar, à noite, no silêncio que só o mar tem,
porque o mar é como o deserto, tem um silêncio igual,
o vento não perturba,
o vento é uma parte do silêncio,
é uma companhia,
como os anjos de que falo e com que falo ao adormecer ao olhar as estrelas,
mesmo com a luz de estai.
Essas sombras perseguem-me, porque as chamo,
porque as desafio para as lembranças antigas, as boas e as más,
e porque as lágrimas fazem bem e sabem a mar,
fazem um homem pensar que está vivo e que vale quando está só,
porque só na solidão a grande multidão sabe que existe,
e que vale o invólucro humano.
Mas só aí, fora isso, a realidade é o sonho.
Dedicado a quem gostar e ainda ao amigo Carvalho Negro afastado destas lides há tempos, espero que o meu amigo esteja bem.

6 Comments:

Anonymous Maria Luiza said...

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

domingo, fevereiro 14, 2010  
Anonymous Anónimo said...

Noite, irmã da Razão e irmã da Morte,
Quantas vezes tenho eu interrogado
Teu verbo, teu oráculo sagrado,
Confidente e intérprete da Sorte!

Aonde são teus sóis, como coorte
De almas inquietas, que conduz o Fado?
E o homem por que vaga desolado
E em vão busca a certeza, que o conforte?

Mas, na pompa de imenso funeral,
Muda, a noite, sinistra e triunfal,
Passa volvendo as horas vagarosas...

É tudo, em torno a mim, dúvida e luto;
E, perdido num sonho imenso, escuto
O suspiro das cousas tenebrosas...

domingo, fevereiro 14, 2010  
Anonymous Adoro este said...

Ser poeta é ser mais alto, é ser maior
Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Áquem e de Além Dor!

É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!

É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!

E é amar-te, assim, perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!

domingo, fevereiro 14, 2010  
Anonymous Joana Galaia said...

Triste mas gosto deste:

"Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mágico luar
E para o som de teus passos conhecer
Pôs-se o silêncio, em volta, a escutar...

Chegaste, enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que não pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar
E as pedras do caminho florescer!

Beijando a areia de oiro dos desertos
Procurara-te em vão! Braços abertos,
Pés nus, olhos a rir, a boca em flor!

E há cem anos que eu era nova e linda!...
E a minha boca morta grita ainda:
Porque chegaste tarde, ó meu Amor?!... "

domingo, fevereiro 14, 2010  
Anonymous Anónimo said...

Meus amigos e amigas a poesia é como um linimento, alivia as dores da alma, da vida que nos consome e das mentiras contras quais apenas podemos saber qu e o são, mas contra as quais nada podemos fazer, daí escrever por vezes (sem ser sobre política) e me sairem com fluidez rápida as palavras, quem me dera que assim fosse sempre.
É verdade, são da minha autoria.

Toupeira

segunda-feira, fevereiro 15, 2010  
Blogger Carvalho Negro said...

Agradeço a sua preocupação.

Apenas me falta tempo e, acima de tudo, vontade.

terça-feira, fevereiro 16, 2010  

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