Euro mais fraco
"Foi preciso percorrer um longo e tortuoso caminho para ratificar o Tratado de Lisboa, por isso, é certo e seguro que Bruxelas prefere ir para o Inferno a ratificar um novo tratado.
Ora, o facto de a constituição alemã impor restrições de tal forma apertadas faz com que qualquer revisão da cláusula ‘no bail-out' do Tratado de Maastricht ou alteração à meta de estabilidade dos preços do Banco Central Europeu resulte na saída forçada da Alemanha da zona euro.
Perante isto, a pergunta que se coloca é: que mecanismos de ajustamento económico poderão ser usados na actual conjuntura política e constitucional? A única resposta política que podemos considerar como adquirida é a redução dos défices orçamentais para o tecto estipulado no Tratado de Maastricht, 3% do PIB. Esta meta será cumprida se não em 2012 um ou dois anos depois. Entretanto, a Alemanha prescreveu a si própria um tecto de 0,35% do PIB a partir de 2016. Também aqui haverá uma ligeira derrapagem, apesar de a zona euro tudo tentar fazer para consolidar a sua posição orçamental.
A Comissão de Orçamento do Parlamento alemão já entrou em acção. Na última sexta-feira, começou por reduzir o orçamento de 2010 do ministério das Finanças em cerca de 6 mil milhões de euros. Se a consolidação orçamental avançar, como irá a economia da zona euro ajustar-se? É um facto económico que a soma dos défices de sector público e privado deve ser igual ao défice na balança de transacções correntes (BTC). Provocar uma subida nos défices públicos obrigaria a um destes cenários: redução dos défices do sector privado, reequilíbrio da BTC ou uma combinação dos dois.
No primeiro, a BTC da zona euro mantém-se praticamente na mesma e os ajustamentos têm lugar reduzindo os défices do sector privado. Na semana que passou, a Grécia resolveu o seu problema orçamental criando um problema de igual dimensão no sector privado. Quer isto dizer que a zona euro, ao cumprir as regras da política orçamental, corre o risco de desencadear uma crise no sector privado, que afectaria essencialmente os países do Sul. Mais: aumentaria as probabilidades de ruptura.
No segundo cenário, todos os ajustamentos seriam feitos através da BTC, que passaria de ligeiramente negativa para substancialmente positiva. Não vejo como se pode fazer isto sem uma desvalorização acentuada do euro. Nesse caso, o euro passaria a integrar a lista das moedas que resolveram os seus problemas mediante uma depreciação competitiva. Entre outras consequências, agravaria os desequilíbrios globais.
Qualquer dos cenários implica o enfraquecimento do euro. A zona euro até pode aceitar uma maior derrapagem na consolidação orçamental do que aquela que eu sugeri, mas não é isso que vai ajudar o euro. Porquê? Porque os mercados passariam a duvidar da longevidade da união monetária por razões políticas. Ora, sempre soubemos que, no longo prazo, não pode haver uma união monetária sem uma união política. Nos EUA, há investidores que apostam que o longo prazo está, afinal, ao virar da esquina."
Wolfgang Münchau
Ora, o facto de a constituição alemã impor restrições de tal forma apertadas faz com que qualquer revisão da cláusula ‘no bail-out' do Tratado de Maastricht ou alteração à meta de estabilidade dos preços do Banco Central Europeu resulte na saída forçada da Alemanha da zona euro.
Perante isto, a pergunta que se coloca é: que mecanismos de ajustamento económico poderão ser usados na actual conjuntura política e constitucional? A única resposta política que podemos considerar como adquirida é a redução dos défices orçamentais para o tecto estipulado no Tratado de Maastricht, 3% do PIB. Esta meta será cumprida se não em 2012 um ou dois anos depois. Entretanto, a Alemanha prescreveu a si própria um tecto de 0,35% do PIB a partir de 2016. Também aqui haverá uma ligeira derrapagem, apesar de a zona euro tudo tentar fazer para consolidar a sua posição orçamental.
A Comissão de Orçamento do Parlamento alemão já entrou em acção. Na última sexta-feira, começou por reduzir o orçamento de 2010 do ministério das Finanças em cerca de 6 mil milhões de euros. Se a consolidação orçamental avançar, como irá a economia da zona euro ajustar-se? É um facto económico que a soma dos défices de sector público e privado deve ser igual ao défice na balança de transacções correntes (BTC). Provocar uma subida nos défices públicos obrigaria a um destes cenários: redução dos défices do sector privado, reequilíbrio da BTC ou uma combinação dos dois.
No primeiro, a BTC da zona euro mantém-se praticamente na mesma e os ajustamentos têm lugar reduzindo os défices do sector privado. Na semana que passou, a Grécia resolveu o seu problema orçamental criando um problema de igual dimensão no sector privado. Quer isto dizer que a zona euro, ao cumprir as regras da política orçamental, corre o risco de desencadear uma crise no sector privado, que afectaria essencialmente os países do Sul. Mais: aumentaria as probabilidades de ruptura.
No segundo cenário, todos os ajustamentos seriam feitos através da BTC, que passaria de ligeiramente negativa para substancialmente positiva. Não vejo como se pode fazer isto sem uma desvalorização acentuada do euro. Nesse caso, o euro passaria a integrar a lista das moedas que resolveram os seus problemas mediante uma depreciação competitiva. Entre outras consequências, agravaria os desequilíbrios globais.
Qualquer dos cenários implica o enfraquecimento do euro. A zona euro até pode aceitar uma maior derrapagem na consolidação orçamental do que aquela que eu sugeri, mas não é isso que vai ajudar o euro. Porquê? Porque os mercados passariam a duvidar da longevidade da união monetária por razões políticas. Ora, sempre soubemos que, no longo prazo, não pode haver uma união monetária sem uma união política. Nos EUA, há investidores que apostam que o longo prazo está, afinal, ao virar da esquina."
Wolfgang Münchau
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