sábado, março 20, 2010

Passos seguintes

"O novo líder do PSD tem rosto e nome: Pedro Passos Coelho. Faltam-lhe agora armas para saber se tem mãos para confirmar a lei de Durão Barroso: será primeiro-ministro, não se sabe é quando.

Pedro Passos Coelho conquistou o PSD. Não precisou de guiar um Citroen nem de investir longas horas de preparação ideológica. Bastou arrancar no tempo certo - o que em política conta quase tudo - e ter este aspecto bem--posto que Obama celebrizou na política. A guerra vai começar já na próxima semana - e o que importa agora entender é o que pode o país ganhar com uma oposição renovada. Leia-se por etapas.

Primeira: Sócrates não perdeu ainda o país. A convicção de que a crise internacional tem a maior fatia da culpa do que se passa em Portugal, juntamente com a ausência de respostas em todos os processos judiciais que ensombram o primeiro-ministro, criam nos eleitores a convicção de que a culpa não pode ser só dele.

Segunda: ao mesmo tempo, todas estas trapalhadas e sobretudo a falta de dinheiro empurraram a ideologia para bem longe do palco político. O que preocupa os portugueses é o dinheiro com que chegam ao final do mês. O aumento de impostos, vendido como um não-aumento, só vai afectar o bolso das mais de 2 milhões de famílias em 2011. O poder não está em risco amanhã.

Terceira: sucede que o novo PSD tem pressa de chegar ao poder. Pressa e a convicção de que a estratégia de Ferreira Leite é culpada da situação de pré-morte em que se encontra. Isto significa que a velha política de verdade e responsabilidade só pode ser substituída por agressividade mediática. Será preciso atacar Sócrates - até porque uma boa parte do povo está apenas conformadamente do seu lado. Isto é, basta que se acenda o rastilho para que mudem de lado.

Quarta: soma-se a esta passividade popular o facto de Passos Coelho não controlar a bancada parlamentar. Tem lá gente sua, mas não são os seus deputados - não é o princípio de um governo. E por mais disparatadas que sejam algumas discussões no Parlamento, é ali que se faz política.

Quinta: percebe-se aqui a dificuldade - Sócrates não perdeu o país, Passos Coelho não tem ainda armas suficientes para o combater. Claro: toda a estratégia de Passos será orientada para provocar eleições com rapidez. Pode não ser a melhor estratégia, mas é bem provável que ele prefira estar na oposição depois de ir a votos a estar na oposição sem todas as armas para combater publicamente o primeiro-ministro. E o país?

Sexta: a guerra política vai explodir - o PEC será a primeira desculpa para lançar bombas, todas elas concentrando o seu impacto na pressão fiscal a que os portugueses estão obrigados. Logo a seguir chegarão os elefantes brancos, como a RTP, que Passos já prometeu privatizar. E o défice e o desemprego e o emprego e todas as fagulhas incandescentes que surgirão de repente, com o anúncio de novas falências, novos crimes, novos apertos na dívida pública e, claro, hesitações nas eleições presidenciais. O que permite a conclusão: se Passos Coelho está destinado a confirmar a lei de Durão Barroso (será primeiro- -ministro, não se sabe quando), precisa de ser claro no seu discurso. Na verdade, precisa do que falta à política portuguesa: ideologia. Terá?
"

Martim Avillez Figueiredo

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