segunda-feira, maio 31, 2010

A impunidade parlamentar

"Desde tempos imemoriais que corre por aí a ideia de que a justiça portuguesa só condenaria certas criaturas se estas fossem apanhadas em flagrante e, a título de brinde, confessassem o crime por iniciativa própria e simpatia. Era boato. O caso do deputado Ricardo Rodrigues e dos gravadores da revista Sábado mostra que nem assim.

Recapitulemos. O entretanto célebre sr. Rodrigues foi filmado a meter literalmente ao bolso os ditos gravadores e a fugir com eles. Não satisfeito, afirmou orgulhosamente à imprensa que, de facto, "tomara posse" dos aparelhos. De então para cá, tudo o que lhe aconteceu resume-se às palmas dos seus colegas da bancada socialista e a única sentença que ouviu saiu da extraordinária boca do líder da bancada Francisco Assis: "Ninguém o pode julgar."

Poder, teoricamente, até há quem possa. Mas, apesar da queixa da Sábado, a mera audição do sr. Rodrigues no DIAP depende pelos vistos do levantamento da imunidade parlamentar. E no Parlamento, aliás o local do roubo, o julgamento político nem chegou a existir, por recusa de PS, PCP e Bloco. Quase um mês depois, os gravadores continuam desaparecidos, pelo menos dos legítimos proprietários, e o sr. Rodrigues continua à solta em São Bento, onde apenas o CDS tentou arrancar-lhe, em vão, um pedido de desculpas.

Como o sr. Rodrigues, o episódio é pequenino. Já a lição que ambos encerram não é. Infelizmente, não adianta aprendê-la: o nojo adequado a uma classe política que tolera ou até abençoa a prepotência e o puro roubo enquadra-se, parece, na categoria do "populismo", um delito que se não dá cadeia também não dá direito a aplausos entusiasmados dos representantes da nação. Pobre nação
."

Alberto Gonçalves

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