segunda-feira, maio 31, 2010

O salva-vidas do PS

"O PS vive um drama típico de Shakespeare: não é ser ou não ser, é ser sem parecer. E isso é visível, quer no Governo quer na posição sobre as presidenciais. No executivo, o PS é o responsável pelas medidas que vão tornar mais pobres todos os portugueses, mas tenta não o parecer. Nas presidenciais, sem candidato próprio, apoia Manuel Alegre sem querer. Isto é: sob a direcção de José Sócrates, o PS deixou de ser um partido com identidade própria e com ideias fortes. Vive sempre do que pensa que é desejável para o País e o que pensa que os eleitores aceitarão. E entre as tradições socialistas que pensa ter de defender e as muitas que atirou para o caixote do lixo como inúteis. Sob a liderança de Sócrates, o PS tem uma única ideologia: a gestão do poder. É por isso que o apoio a Alegre é tão complicado. Não é que este tenha ideias muito definidas sobre coisa alguma: o seu pensamento é uma nuvem poética. Mas, dentro do PS, a recusa de Alegre é feita em termos emocionais. Todos os que ainda veneram o legado de Mário Soares desprezam Alegre. E assim o seu coração bate ao mesmo ritmo do de Fernando Nobre. E este já o percebeu. Por isso irá abrir à direita, para conquistar os descontentes com Cavaco, enquanto cimentará o apoio dos que dentro do PS não votarão Alegre. As eleições presidenciais marcarão um novo ciclo da vida portuguesa. Disso ninguém duvida. E é aí que o PS mostra a sua fragilidade: dividido entre dois candidatos por razões emocionais não tem uma única ideia concreta sobre o que ainda quer propor ao País. Ou seja, nada. É por isso que paradoxalmente Alegre é o seu salva-vidas."

Fernando Sobral

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