terça-feira, agosto 23, 2011

A crise como vai ser.

"Os pequenos comerciantes estão a deixar de ter máquinas para pagamentos electrónicos. A produção de automóveis em Julho só encontra paralelo com o que se passou há cinco anos. Duas faces do que será, no melhor dos cenários, a tendência da economia portuguesa nos próximos quase dois anos.

O cancelamento das máquinas de pagamento automático, uma notícia que se pode ler na página 9 da edição do Negócios em papel, deve-se, claro, à queda das vendas e ao Fisco. A pressão fiscal a que todos começam a estar submetidos num ambiente recessivo vai tornar a famosa curva de Laffer uma realidade na sua vertente menos desejável - sobem os impostos, cai a receita mais do que era esperado pela recessão.

A subida das exportações explica o que se passa no sector automóvel e já está a arrastar as indústrias a montante. A HUF, fábrica de origem alemã que, em Tondela, produz peças para automóveis, prepara-se para investir nove milhões de euros em maquinaria. Há pouco mais de um ano, esteve em risco de fechar.

A queda do consumo que reflecte as decisões dos pequenos comerciantes de desistirem das máquinas de pagamento electrónico é uma tendência certa que só podemos esperar que se agrave. Já menos certa é a subida das exportações. Espelho da conjuntura de crescimento do resto do mundo, o aumento das vendas para o exterior pode estar ameaçado com as nuvens que se começam a ver no horizonte financeiro. Uma recessão nos Estados Unidos, um abrandamento na Alemanha e uma aterragem brusca na China significam para Portugal contagiar a crise às empresas que exportam. Mas é isto que os investidores estão, neste Agosto, a profetizar.


O medo financeiro
A bolsa europeia, medida pelas cotações das 600 maiores empresas europeias, caiu 15% neste mês de Agosto, enquanto a sua congénere europeia (S&P 500) desvalorizou 12,5%. A taxa de juro de longo prazo da dívida pública dos Estados Unidos e da Alemanha está em mínimos históricos, revelando que, apesar de todas as instabilidades políticas, os investidores ainda procuram protecção nesses títulos. A mostrar também que os investidores ainda se abrigam no crédito aos Estados vistos como sendo de referência. A corrida ao ouro tem sido a grande marca deste Verão: nos 15 dias úteis que leva Agosto, subiu mais de 250 dólares por onça. Neste momento já se aposta que vai ultrapassar a barreira dos dois mil dólares, como se pode ler nas páginas 18 e 19 da edição impressa do Negócios. Ontem, o outro esteve em torno dos 1.894 dólares por onça.

Os mercados financeiros vivem um Verão de medo, gerado pela falta de confiança que transformará numa realidade a profecia de uma nova recessão. As comparações com o pesadelo que foi o pós-falência da Lehman Brothers em Setembro de 2008 são cada vez mais frequentes. Com uma diferença: nessa altura, os Estados Unidos e a Europa ainda tinham margem de manobra orçamental.

Dramaticamente mais do que naquela altura, evitar o coma da economia está nas mãos dos bancos centrais. O presidente da Reserva Federal, é essa a expectativa, deverá anunciar na sexta-feira uma terceira iniciativa de impressão de dólares - o designado "quantitative easing". Do lado de cá do Atlântico, o BCE regressou à compra, em força, de obrigações, uma iniciativa que não será capaz de evitar que a recessão norte-americana seja exportada para a Europa.

No mundo global em que vivemos hoje, será preciso aumentar a oferta de dólares e euros, ao mesmo tempo, para que os ganhos dos norte-americanos não se transformem em perdas da Europa, por via da valorização da moeda única. E, claro, a China tem de viabilizar a apreciação do yuan. Se assim não for, há todas as razões para ter medo
."

Helena Garrido

Divulgue o seu blog!