O futuro da Alemanha
"A Alemanha vai a votos amanhã, domingo, mas poucos estão verdadeiramente interessados no escrutínio.
O desinteresse justifica-se por três motivos. Primeiro, a campanha foi aborrecida. Segundo, é praticamente certo que Angela Merkel vai ser o novo chanceler, quaisquer que sejam os resultados. Terceiro, ninguém espera mudanças políticas concretas.
O primeiro motivo evocado está correcto, o segundo também, embora possa induzir em erro, enquanto que o terceiro está errado. É provável que Merkel seja reeleita, no entanto, o seu poder e longevidade políticos dependerão muito da coligação que emergir depois das eleições. Uma das duas prováveis alianças é uma pequena coligação de centro-direita liderada pelo partido de Merkel, a União Democrata-Cristã (CDU), pelos seus aliados da Bavária e pelos Democratas Livres, o partido liberal alemão (FDP). A alternativa é reeditar a Grande Aliança com o Partido Social-Democrata (SPD).
Estas eleições podem vir a ser uma caixinha de surpresas. Por quatro razões. Primeiro, e por se tratar de um sistema parlamentar composto por cinco partidos, é de prever que o voto táctico entre os parceiros da coligação sofra algumas mudanças à última hora. Segundo, Merkel é politicamente brilhante, mas falta-lhe à-vontade para as campanhas eleitorais. Em 2005, assustou os eleitores com um plano de reformas fiscais radicais. Em 2009, optou por jogar pelo seguro e raramente desfere ataques aos seus opositores na corrida. Terceiro, a aritmética de um parlamento composto por cinco partidos nunca é favorável a uma coligação entre dois partidos, salvo uma Grande Coligação. Basta fazer as contas. As sondagens mostram que há dois partidos grandes que reúnem 25% e 35% do apoio do eleitorado, e três pequenos partidos com 15% cada. Quarto, o centro-direita tem perdido terreno político desde finais da década de 90 devido a uma mudança geracional. Até então, os eleitores mais velhos faziam parte da geração do pós-guerra; hoje, os reformados são a geração de 60, mais virada para a Esquerda. Além disso, também não consegue captar o voto do eleitorado jovem. As forças combinadas da Esquerda sofreram, por isso, uma profunda reestruturação em cada acto eleitoral desde 1998.
Importa lembrar que o SPD tem vindo a mudar e que passou a estar mais aberto a novas coligações, inclusive com o Partido de Esquerda, o Die Linke. Se destas eleições emergir uma Grande Coligação, não podemos pôr de lado a possibilidade de Merkel vir a ser derrotada nos próximos quatro anos por uma coligação SPD/Verdes/Esquerda.
Haverá diferenças nas políticas de uma e outra coligação? Um governo de centro-direita vai tolerar um défice mais elevado no curto prazo e reduzir a carga fiscal sobre o rendimento. Uma Grande Coligação vai, seguramente, seguir o caminho inverso. Ou seja, vai apontar à esquerda ao nível da políticas fiscais, sociais e industriais. E Merkel fará tudo para manter o SPD no mesmo barco, visto ser uma mulher de consensos e com um estilo presidencial.
Não se deixem enganar por uma campanha sensaborona. As diferenças políticas existem e estas eleições são importantes."
Wolfgang Munchau
O desinteresse justifica-se por três motivos. Primeiro, a campanha foi aborrecida. Segundo, é praticamente certo que Angela Merkel vai ser o novo chanceler, quaisquer que sejam os resultados. Terceiro, ninguém espera mudanças políticas concretas.
O primeiro motivo evocado está correcto, o segundo também, embora possa induzir em erro, enquanto que o terceiro está errado. É provável que Merkel seja reeleita, no entanto, o seu poder e longevidade políticos dependerão muito da coligação que emergir depois das eleições. Uma das duas prováveis alianças é uma pequena coligação de centro-direita liderada pelo partido de Merkel, a União Democrata-Cristã (CDU), pelos seus aliados da Bavária e pelos Democratas Livres, o partido liberal alemão (FDP). A alternativa é reeditar a Grande Aliança com o Partido Social-Democrata (SPD).
Estas eleições podem vir a ser uma caixinha de surpresas. Por quatro razões. Primeiro, e por se tratar de um sistema parlamentar composto por cinco partidos, é de prever que o voto táctico entre os parceiros da coligação sofra algumas mudanças à última hora. Segundo, Merkel é politicamente brilhante, mas falta-lhe à-vontade para as campanhas eleitorais. Em 2005, assustou os eleitores com um plano de reformas fiscais radicais. Em 2009, optou por jogar pelo seguro e raramente desfere ataques aos seus opositores na corrida. Terceiro, a aritmética de um parlamento composto por cinco partidos nunca é favorável a uma coligação entre dois partidos, salvo uma Grande Coligação. Basta fazer as contas. As sondagens mostram que há dois partidos grandes que reúnem 25% e 35% do apoio do eleitorado, e três pequenos partidos com 15% cada. Quarto, o centro-direita tem perdido terreno político desde finais da década de 90 devido a uma mudança geracional. Até então, os eleitores mais velhos faziam parte da geração do pós-guerra; hoje, os reformados são a geração de 60, mais virada para a Esquerda. Além disso, também não consegue captar o voto do eleitorado jovem. As forças combinadas da Esquerda sofreram, por isso, uma profunda reestruturação em cada acto eleitoral desde 1998.
Importa lembrar que o SPD tem vindo a mudar e que passou a estar mais aberto a novas coligações, inclusive com o Partido de Esquerda, o Die Linke. Se destas eleições emergir uma Grande Coligação, não podemos pôr de lado a possibilidade de Merkel vir a ser derrotada nos próximos quatro anos por uma coligação SPD/Verdes/Esquerda.
Haverá diferenças nas políticas de uma e outra coligação? Um governo de centro-direita vai tolerar um défice mais elevado no curto prazo e reduzir a carga fiscal sobre o rendimento. Uma Grande Coligação vai, seguramente, seguir o caminho inverso. Ou seja, vai apontar à esquerda ao nível da políticas fiscais, sociais e industriais. E Merkel fará tudo para manter o SPD no mesmo barco, visto ser uma mulher de consensos e com um estilo presidencial.
Não se deixem enganar por uma campanha sensaborona. As diferenças políticas existem e estas eleições são importantes."
Wolfgang Munchau
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