O pior amigo do cão
"Finalmente gostei tanto de uma declaração de Morrissey quanto gosto de alguns dos seus discos. O cantor inglês, hoje menos conhecido pelas canções do que pelas atoardas, afirmou que o tratamento que os chineses dedicam aos cães faz deles, os chineses, não os cães, uma subespécie. Num instante, associações anti-racismo acharam a frase uma generalização ofensiva. No máximo, acho-a uma restrição ofensiva.
Se a nação com mais habitantes atinge picos de crueldade no modo como lida com os cachorros (alguma culinária local exige que se esfole os bichos vivos), a tendência infelizmente não lhe é exclusiva. É preciso não esquecer que a religião com mais aderentes associa os cachorros a Satanás (e por isso é vulgar cortarem-lhes pedaços por diversão) e que, mesmo na civilização, são frequentes atitudes pouco civilizadas: tortura, desleixo, abandono, etc.
O que não é frequente, por exemplo em Portugal, é ver na cadeia os responsáveis por esses mimos, uma miragem que não se alcança com manifestações, protestos, petições ou vigílias. Sobra a acção individual, sem influência na lei mas decisiva na consciência. Recentemente, soube que os rafeiros desaparecidos de um meu familiar eram, afinal, vítimas do dono, que os abatia a tiro quando já não serviam para a caça. E, sem proclamações nem pompa, decidi deixar de lhe falar.
Se não afastam a escumalha do nosso convívio, compete-nos afastarmo-nos da escumalha. Em matéria de cães, que como um pensador ilustre sabia, nos dão a única amizade absolutamente pura, e no resto."
Alberto Gonçalves
Se a nação com mais habitantes atinge picos de crueldade no modo como lida com os cachorros (alguma culinária local exige que se esfole os bichos vivos), a tendência infelizmente não lhe é exclusiva. É preciso não esquecer que a religião com mais aderentes associa os cachorros a Satanás (e por isso é vulgar cortarem-lhes pedaços por diversão) e que, mesmo na civilização, são frequentes atitudes pouco civilizadas: tortura, desleixo, abandono, etc.
O que não é frequente, por exemplo em Portugal, é ver na cadeia os responsáveis por esses mimos, uma miragem que não se alcança com manifestações, protestos, petições ou vigílias. Sobra a acção individual, sem influência na lei mas decisiva na consciência. Recentemente, soube que os rafeiros desaparecidos de um meu familiar eram, afinal, vítimas do dono, que os abatia a tiro quando já não serviam para a caça. E, sem proclamações nem pompa, decidi deixar de lhe falar.
Se não afastam a escumalha do nosso convívio, compete-nos afastarmo-nos da escumalha. Em matéria de cães, que como um pensador ilustre sabia, nos dão a única amizade absolutamente pura, e no resto."
Alberto Gonçalves
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