sexta-feira, abril 29, 2011

Aqueles que nos mostram quem somos

"Numa foto de Tim Hetherington, na Libéria, em Junho 2003, um exausto rebelde debruça-se no jeep, olha a mulher que lhe pousa a mão protectora, como Madona na Pietà. Ele é o combatente mas é por ela que sabemos que a vida há-de continuar. No mês seguinte, outro fotógrafo, Chris Hondros, também na Libéria, mas do outro lado, com as tropas governamentais, apresenta-nos um miliciano que salta e exulta depois de ter mandado um rocket contra os rebeldes - será que a mulher da outra foto acabava de ficar viúva?...

Esta semana, Tim Hetherington e Chris Hondros estavam no mesmo lado, o mesmo bombardeamento matou-os, na Líbia. Em 1971, numa praça de Dacca, capital do Bangladesh que acabava de se separar do Paquistão depois de horrível guerra, havia os vencedores, um punhado de vencidos e fotógrafos. Os vencedores quiseram ser fotografados a esventrar os vencidos com baionetas. A maioria dos fotógrafos recusou-se, suspeitando que as mortes eram mero pretexto para as fotos.

Mas dois, o francês Michel Laurent e o alemão Horst Faas continuaram a clicar - ganharam o Pulitzer. Faas havia sido o autor de uma das mais comoventes fotos da guerra do Vietname (o seu primeiro Pulitzer, 1965): um aldeão tem o filho morto nos braços e pergunta aos soldados o que adivinhamos ser "porquê?". Laurent iria ser, em 1975, o último jornalista morto na guerra do Vietname. Os fotógrafos podem contar-nos o mundo. Eles são o mundo
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Ferreira Fernandes

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