quinta-feira, abril 28, 2011

Futuro por Decreto

"É sempre interessante observar 35 anos de democracia reunidos no palco das celebrações do 25 de Abril. Os Presidentes representam a continuidade da República e a persistência das instituições democráticas.

O modelo foge à comemoração burocrática no Parlamento transformado em Câmara Corporativa do regime democrático. Se na forma o formato é um sucesso, no conteúdo a função redunda em desilusão. Em pleno 25 de Abril, os Presidentes esforçaram-se em palavras de esperança, criticaram o pessimismo, elogiaram o optimismo, exibiram perante o País as profundezas de um estado de alma. A ideia política essencial passa pelo diagnóstico da crise e pela solução da unidade nacional. Perfeito, mas vamos aos detalhes. Um efeito não intencional resultou no exercício da autocrítica em directo para um País em descrença e desilusão. No drama das palavras presidenciais faltou a visão para o futuro, um futuro que nenhum dos Presidentes soube acautelar pela acção da magistratura de influência.


Na intenção de promover a unidade nacional, as celebrações de Abril serviram para responsabilizar três gerações de políticos e de políticas pelo estado de anemia nacional. Em Portugal, os políticos pensam como génios, escrevem distintos discursos, mas falam do futuro com um medo e uma ignorância quase infantis. A proposta dos Presidentes confunde a unidade nacional com a unicidade política. Só que o País não precisa de um monolitismo obsoleto, mas precisa sim da pluralidade política orientada pelo interesse nacional em convergência estratégica. Veja-se o caso do BE e do PCP - eis uma opção clara e distinta de uma esquerda inútil que deixa a democracia portuguesa amputada em nome de uma visão monolítica da realidade e que implica a saída de Portugal da Europa. E Portugal tem futuro fora da Europa?

Na campanha eleitoral a unidade nacional é certamente a primeira vítima. Se Cavaco Silva não exercer o seu poder moderador até ao limite constitucional, não existe unidade que resista ao ódio que fraternalmente liga Sócrates, Passos e a democracia portuguesa. A campanha eleitoral promete ser um debate destrutivo e as eleições um plebiscito sobre a responsabilidade na crise política. Ao discurso partidário junta-se nas eleições a multiplicação dos Manifestos, uma versão intelectualizada e pós-moderna dos velhos hábitos liberais e decadentes com os resultados bem visíveis na História e na política nacional. Há esperança nos "Vencidos da vida"?

Com duas "troikas" a tratar do futuro de Portugal, o País será com certeza salvo. A "troika" presidencial garante a continuidade da identidade nacional; a "troika" da Europa assegura a sobrevivência da contabilidade pública. Não sendo possível salvar Portugal dos portugueses, o verdadeiro destino do País depende da identidade ou da contabilidade? Eis uma pergunta que se projecta com uma sombra de séculos
."

Carlos Marques de Almeida

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