segunda-feira, setembro 20, 2010

Os liberais a que temos direito.

"Na mesma semana em que me vejo obrigado a concordar com Fidel Castro (o qual, em entrevista à Atlantic, constatou o falhanço do modelo económico cubano, defendeu o direito de Israel a existir e considerou o Irão nuclear um perigo), também dei por mim a concordar com o PCP no que toca às relações do Governo com o maior partido da oposição, se é que a palavra "oposição" define a atitude do actual PSD.

Embora partilhar as opiniões de comunistas me custe tanto quanto remover as amígdalas sem anestesia, numa coisa os camaradas têm razão: as dissidências entre o PS e o actual PSD, a propósito do Orçamento para 2011, são, como vem sendo habitual, uma encenação relativamente elaborada e obviamente inconsequente. Quando for necessário (para quê e a quem?), e ainda que envolto num embrulho ficcionado de cedências e sacrifícios, o acordo chegará.

Noutra coisa, porém, o PCP está enganado (está enganado em inúmeras, mas enfim): ambos os partidos do chamado arco governativo não se juntaram para elaborar qualquer política de direita. As políticas do PS, que o actual PSD acaba sempre por avalizar, podem ser insensatas, perigosas, daninhas ou apenas idiotas. De direita é que não são.

A menos que agora seja de direita defender, com requintes de fanatismo e ao contrário de todos os países europeus em pré-falência, a manutenção suicida da despesa pública. Ou os insondáveis benefícios do "investimento" de iniciativa governamental. Ou o assalto aos "ricos" (de facto, uma classe média em apuros) mediante imparáveis impostos. Ou a "aposta" inútil e desonesta nas energias "renováveis". Ou a invocação de uma compaixão "social" desacreditada pela realidade. Ou, em suma, o infatigável e bem sucedido esforço para aumentar o peso do Estado, que jamais foi leve, e destroçar de vez a economia.

Não espanta que o PCP contemple o socialismo em vigor e o considere insuficiente. Já espanta um bocadinho que o actual PSD, descontadas as ameaças da praxe, no fundo ache que está bem assim. E espanta muitíssimo que o dr. Passos Coelho passeie por aí, não sei com que fim ou fundamento, o estatuto de "liberal". Liberal em quê?
"

Alberto Gonçalves

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