quinta-feira, maio 31, 2012

Corrupção sem julgamento

"Investigar PPP é incendiar enxofre: o ar torna-se náusea. Falemos de novo de Paulo Campos. Mas falemos, antes, de Alberto Pinto Nogueira. E da entrevista do procurador-geral distrital do Porto, hoje, no Negócios. É uma entrevista absolutamente estarrecedora sobre a corrupção e sobre a justiça. Não é, infelizmente, uma entrevista demolidora - este poder alapado não se demole. Comecemos onde isto tudo acaba: na impunidade. É disso que fala Pinto Nogueira. Da falta de meios nos órgãos de polícia criminal. Mas também da falta de preparação - e de empenho. Na sua própria casa, o Ministério Público. E dos magistrados que se intimidam. Onde mora a corrupção? Em todo o lado. "Sobretudo nos grandes negócios do Estado e empresas públicas". É preciso dizer mais? É, é preciso dizer mais. Pinto Nogueira tem uma vida inteira na profissão. Pelas suas mãos passaram-lhe dezenas de processos de corrupção. Vários arguidos foram condenados. Quantos estão presos? Poucos.
Mas há esta resposta lacónica: há ex-autarcas condenados, não há autarcas; há ex-governantes condenados, não há governantes. "Sempre ex", ironiza. "O poder persegue e odeia os homens livres, mas favorece, protege e promove os medíocres e os bajuladores". Num país que elege autarcas condenados, a palavra "ilegal" não incomoda muitas almas. "Escândalo" é infelizmente mais eloquente. Talvez por isso agentes da justiça acabem por gritar reformados o que escreveram durante a sua vida activa. As letras das sentenças foram sendo arquivadas. As palavras nos jornais sempre ecoam. Talvez por isso um procurador distrital, perto de deixar de o ser, assim denuncie a corrupção. Talvez por isso Carlos Moreno, agora jubilado do Tribunal de Contas, diga tantas vezes na praça pública o que ninguém ouvia nas sentenças. Vamos às PPP.
O Tribunal de Contas denunciou anexos a contratos de PPP que aumentam os encargos dos contribuintes, a favor de concessionárias e dos bancos, se determinadas contingências se verificarem no futuro. Ou seja, se o euro acabar, se a Grécia produzir contágio, se a economia for para o galheiro, se os juros dispararem, se estas "contingências" agravarem as condições dos contratos. Paulo Campos deixou um rasto de polémicas quando foi secretário de Estado. A concessão da Estradas de Portugal. As inaugurações milionárias de estradas em que ninguém percebia para onde ia o dinheiro. O aeroporto de Beja. A Fundação para as Comunicações, o Magalhães. E as concessões em si mesmas, demasiadas para o que a economia podia e as finanças permitiam. Isso foi dito e escrito milhões de vezes. Não em 2012, mas em 2007. Mas hoje escrevemos sobre o caso concreto.
Não é política, é justiça. Contextualizemos. Até porque a revelação foi menos revelação do que parece: o Negócios escreveu lençóis sobre a história, que começa simples. As concessões de estradas carecem de visto prévio do Tribunal de Contas, ou não podem ser adjudicadas. Com a crise financeira, os custos de financiamento dispararam. E o Tribunal de Contas começou a recusar esse visto porque, por causa do aumento das taxas de juro, a proposta final das concessões era mais cara do que a proposta inicial, o que violava o caderno de encargos. Criou-se um problema político. O impasse foi resolvido à portuguesa, uma espécie de desorçamentação. Os contratos voltaram aos preços iniciais e fizeram-se adendas para condições contingenciais, que não careciam de visto.
Nem foram sequer vistas. Segundo o regulador das estradas, o InIR, Paulo Campos deu ordem para essa ocultação. O ex-governante nega. Mas já agora: aqui o Negócios, que teve mais desmentidos de Paulo Campos do que nenúfares há no Japão, noticiou na altura a existência desses anexos. O Tribunal de Contas podia ter pedido para vê-los. Pediu? Se não pediu, devia ter pedido. Se pediu, não recebeu. Recebemos nós a conta: mais 705 milhões de euros. Vamos assumir a presunção do costume. Que ninguém andou a meter dinheiro ao bolso com isto. Que toda esta loucura resulta da alucinação visível no último Governo de fazer, construir, adjudicar, inaugurar, concretizar, de fazer tudo, a qualquer custo, a qualquer preço, para agradar aos autarcas, aos eleitores, aos utilizadores, até aos ministros das Finanças que queriam mais receitas na Estradas de Portugal para tirá-la do perímetro do Orçamento do Estado.
Nesse caso, as concessões foram apenas negociadas com precipitação e prejuízo futuro. Mas também a introdução de portagens nas SCUT, que obrigaram um Estado em má situação negocial dar contrapartidas a privados. Renegociando equilíbrios financeiros por exemplo na concessão do Norte Litoral. Ou, no afã de introduzir portagens na Costa da Prata e no Grande Porto, de ceder à Mota-Engil uma renda fixa do Estado. Esta presunção tem de ser mais do que o costume. Tem de ser validada. O Tribunal de Contas não é uma comissão de acompanhamento, é um tribunal. Repito: um tribunal. Como o Ministério Público, que está a investigar as PPP, é um órgão de justiça. E os crimes que está a investigar não são leves, são medonhos: corrupção, tráfico de influências, administração danosa, e participação económica em negócios. Como a Comissão de Inquérito às PPP, que está a decorrer.
A corda que está ao pescoço do PS é mais grossa do que a que faz um colar ao PSD, mas esta Comissão tem a obrigação de, se encontrar indícios, acusar alguém formalmente junto do Ministério Público. Em democracia, as políticas erradas são julgadas nas urnas, mas as políticas danosas têm outro tribunal. Paulo Campos pode considerar-se inocente. Mas não pode ignorar que está a ser julgado. Ou sai disto culpado ou sai disto inocente. Se não, o suspeito é outro: o Estado que não investiga nem pune. Aquele de que fala Alberto Pinto Nogueira: "A criminalidade aperfeiçoa-se, o Estado minimiza-se"."
Pedro Santos Guerreiro

quarta-feira, maio 30, 2012

Em 2008 escrevia o meu amigo PVC este artigo, voltarei com alguns mais...

Catorze antigos altos responsáveis europeus, incluindo ex-primeiros-ministros ou ministros da Economia, criticam a presente “loucura financeira”, apelando à criação de uma comisão europeia que estude soluções para a crise, formas de combate às turbulências financeiras e de contenção dos riscos na UE. Num texto publicado hoje no jornal francês ‘Le Monde’, intitulado “A loucura financeira não nos pode governar”, os antigos dirigentes afirmam que “é tempo de criar uma comissão de crise que agrupe representantes políticos de alto nível, antigos chefes de Estado e de Governo ou ministros das Finanças, assim como economistas de renome e peritos financeiros”. Entre os mais destacados encontram-se ex-presidentes da Comissão Europeia, Jacques Delors e Jacques Santer, o ex-chanceler alemão Helmut Schmidt, antigos primeiros-ministros franceses, Michel Rocard e Lionel Jospin, e o antigo primeiro-ministro dinamarquês Poul Rasmussen. Em sua opinião, o grupo deveria fazer “uma análise pormenorizada da crise financeira, identificar os riscos para a economia real, em particular na Europa e propor uma série de medidas ao Conselho da União Europeia”. A actual crise financeira “mostra o fracasso dos mercados pouco ou mal regulados , mais uma vez, que estes não são capazes de auto-regulação”, sublinham os autores. “Os mercados financeiros são cada vez mais opacos”, acrescentam. Por outro lado, denunciam os “produtos financeiros extremamente complexos, regimes de prémios inadequados, empréstimos hipotecários duvidosos”, considerando ser um “imperativo melhorar o controlo e o quadro regulamentar dos bancos”. De acordo com o texto, a crise evidencia “as preocupantes desigualdades de rendimentos”. “O mundo das finanças acumulou uma fictícia massa gigantesca de capital que não melhora a condição humana nem o meio ambiente”. Enfatizando tratar-se de uma questão ética e moral, os ex-líderes europeus dizem que a proposta visa “repensar as regras da finança internacional e trabalhar para um futuro melhor para todos os europeus.”

PVC 2008

Pois não! É usura apoiada pelo BCE e pela comissão já agora, lágrimas de crocodilo...

Durão Barroso. Ajuda da Alemanha aos países do sul não é acto de caridade
O presidente da Comissão Europeia defendeu hoje que a ajuda que a Alemanha presta aos países do sul da Europa não é feita por caridade, mas sim porque é também do seu próprio interesse, já que os benefícios que retira do mercado único europeu são muitos.
Durão Barroso, que falava numa conferência de imprensa sobre as recomendações económicas hoje divulgadas pela Comissão Europeia, respondia a uma questão sobre a oposição de boa parte da opinião pública alemã e austríaca relativamente à ajuda prestada aos "países do sul".
O presidente do executivo comunitário disse que se deve agradecer à Alemanha o esforço que tem feito, até como principal contribuinte europeu, mas ressalvou que "também é preciso explicar que não se trata de um ato caridade", por muito nobre que seja este valor, pois é também do interesse de Berlim sustentar o mercado interno e a moeda único, já que a Alemanha é igualmente dos países que mais benefícios retira do mercado único europeu.
"Quando pedimos à Alemanha para fazer algum esforço para o bem comum da Europa, é também do interesse da Alemanha (...) É natural que, numa União Europeia, se se quiser receber os benefícios, também se deva dar um contributo", disse.
Durão Barroso comentou ainda que, de acordo com os dados de que o executivo comunitário dispõe, a Áustria, por exemplo, é dos países que mais beneficiou com o alargamento, em termos de comércio.
"Os países do sul não ganharam tanto quanto a Áustria e Alemanha" com o alargamento da União, apontou.

Já agora se a Alemanha saísse do Euro e voltasse ao marco?
Perderia a UE o quê? Ou a zona Euro perderia o quê?
 Beneficiaria, porque sem a Alemanha o comportamento do BCE seria outro, o BCE sempre foi condicionado pelo Banco Central alemão e enquanto foi conveniente os países do sul serviam, depois com a crise subprime que uns engoliram mais que outros, já não servem. Já agora, como foi resolvida a questão dos bancos alemães falidos no auge da cise do subprime, não se comportaram com eles como o FED se comportou com os too big to fall?
Ora senhor ex MRPP, deixe-se de tretas e não verta lágrimas de crocodilo muitos de nós sabemos a quem serve e como não pertence a um orgão eleito a sua opinião vale o que vale, é esta mais um discrepância desta Europa sem rumo e com líderes a soldo.

terça-feira, maio 29, 2012

Um ministro em busca de bóias

"Vive numa das cerca de 70 autarquias que está basicamente falida? Prepare-se. Além dos aumentos nos impostos e nos preços dos serviços públicos que já enfrentou vai agora pagar as taxas máximas de IMI e de derrama, taxas mais altas e preços mais elevados pelos serviços, como água e saneamento. As condições gerais para as autarquias terem acesso a dinheiro do Estado sob a forma de empréstimo foram ontem divulgadas à hora dos telejornais e do jantar pelo ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares. Infelizmente, por aquilo que alguns políticos entendem que é "fazer política", não é irrelevante Miguel Relvas ter anunciado o plano para o Estado emprestar dinheiro às autarquias quando está no centro de vários furacões. Há meses que se esperava por este programa.
As autarquias avisaram o Governo para a necessidade de adoptar um plano de saneamento financeiro para as câmaras desde, pelo menos, Setembro do ano passado. Tal como toda a sociedade portuguesa, as autarquias também se endividaram e, exactamente como todo o País, também há as que assumiram dívidas que foram muito para além da sua capacidade de pagamento. Mas a solução para o problema das autarquias foi sendo adiado. Aquilo a que assistimos até agora em relação às câmaras foi, basicamente, a sucessiva flexibilização dos objectivos definidos pela troika. O Memorando original consagrava, por exemplo, a redução do número de autarquias. A versão mais recente prevê apenas a diminuição do número de freguesias. O processo de reequilibro financeiro das autarquias e a reforma do mapa autárquico está nas mãos do ministro deste Governo que se confunde com o partido. Todos os governos têm tido o seu "homem do partido", aquele que mantém o aparelho satisfeito.
E se há via rápida para satisfazer o aparelho essa é sem sombra de dúvida a das autarquias. As câmaras desempenharam um grande papel - no passado - na modernização do País mas a partir de determinada altura muitas delas transformaram-se em centros de acumulação de dívidas por investimentos irracionais. E cortar no dinheiro que vai para as autarquias ou no número de lugares autárquicos é para qualquer "homem do aparelho" a condenação à (sua) morte. Eis então a explicação possível para tantos atrasos nas medidas de racionalização financeira das autarquias. Foi faltando a Miguel Relvas a coragem para adoptar as medidas que eram necessárias, conseguindo até que algumas não se concretizassem, como a redução do número de municípios.
Pedro Passos Coelho tinha de saber que arriscava o fracasso, ao entregar a pasta das autarquias ao "homem do aparelho" partidário. Recentemente ficou também a saber que o mesmo ministro, que escolheu para ficar com a pasta da comunicação social, protagonizou ameaças (e não são simples pressões, são ameaças) a uma jornalista e a um jornal. E no meio deste furacão, Miguel Relvas apresenta o plano que vai apoiar financeiramente as autarquias em dificuldades ou mesmo falidas, disponibilizando para tal um montante global de mil milhões de euros para programas de ajustamento que podem durar duas décadas. Será que o ministro procura a sua bóia de salvação no programa de apoio às autarquias? Depois daquilo a que temos assistido tudo parece possível. "
Helena Garrido

segunda-feira, maio 28, 2012

A grande "chefe"...

Os servos da gleba

"Antigamente, os médicos, quando encontravam um doente debilitado, optavam pela sangria. Julgavam com isso extirpar o mal. Normalmente, com cada vez menos sangue, o paciente falecia. Não da doença, mas da cura. Os tempos mudaram. A tecnologia trouxe requinte. A troika julga-se um núcleo de cirurgiões que encontrou em Portugal mais um laboratório ideal para as experiências. Na sua nova digressão pelo país deixou novas receitas. Especialmente uma: há pouca flexibilidade salarial. O que, em rigor, quer dizer: os salários devem baixar ainda mais. Presume-se que a troika não tenha a noção da depreciação real dos salários nos últimos anos. Acredita-se que a troika não vá aos supermercados para ver como, com a bênção do euro, comprar um frango ou um repolho é tão caro em Lisboa como em Berlim ou em Amesterdão.

Com a diferença que um alemão ganha três ou quatro vezes mais do que um português. Mas para quem decide com o auxílio de Excels, isso parece ser irrelevante. Para a troika Portugal seria competitivo se tivesse salários ao nível dos praticados no sul da China ou no Camboja. Não duvidamos da genialidade da ideia. Até acreditamos que se os portugueses fossem servos da gleba ou se tornassem escravos a flexibilidade salarial seria um êxito. A comodidade com que a troika diz estes disparates, revela que não entende a revolução industrial que está a acontecer (e que a "Economist" analisava há semanas), e que está a tornar os custos salariais cada vez mais irrelevantes. A diferença está entre quem tem emprego e quem não tem. Mas a troika ainda vive na Idade Média do pensamento. E tem bons alunos portugueses. "

Fernando Sobral

Crawling

domingo, maio 27, 2012

Lagarde a chefe dos agiotas parida de um golpe palaciano


Esta é uma crise que vai durar 10 ou 15 anos, porque o problema fundamental não é a dívida pública, mas sim os bancos europeus. Esqueçam os pequenos bancos portugueses ou gregos. O problema é que os grandes bancos – Deutsche Bank, BNP Paribas, Credit Agricole, Société Generale, Commerzbank, Intesa Sanpaolo, Santander, BBVA – estão à beira do abismo. Isso é muito pouco visível no discurso oficial.
Só se fala da crise soberana, quando o problema é a crise privada dos bancos.
Não é a exposição à dívida soberana, mas sim a derivados tóxicos do subprime [crédito de alto risco].
Está a ocultar-se que todo o conjunto de derivados adquiridos entre 2004 e 2008 continuam nas contas dos bancos, porque são contratos a 5, 10 ou 15 anos. Somente quando o contrato chegar ao fim é que se vai descobrir a amplitude da toxicidade e das perdas, visto que as contas actuais dos bancos mostram esses derivados avaliados, não ao valor de mercado, mas ao valor facial, do contrato. Foram, aliás, esses problemas com os activos tóxicos que geraram os da dívida soberana.
 Em 2008, quando os bancos deixaram de conceder crédito entre si, o investimento mais seguro era comprar títulos da dívida soberana e os mais rentáveis eram da Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália. Então, os bancos compraram muitos títulos para substituir os derivados que tinham. Agora, têm os dois, porque não conseguiram desfazer-se dos primeiros.  É totalmente falso dizer que o problema actual é a dívida soberana. É a soma dos dois.






Os planos da troika vão piorar a situação desses países, isso é absolutamente claro.
A redução maciça das despesas públicas e do poder de compra da maioria da população vai diminuir a procura e as receitas fiscais e provocar ainda mais necessidade de o país se endividar para pagar a dívida.
 Tanto a política da troika na Grécia, Irlanda e Portugal, como a política da Comissão Europeia e dos países do Centro, como a Alemanha e a França, vai provocar mais recessão. A própria Alemanha vai ter problemas, porque precisa de ter quem compre os seus produtos.
 Na história das dívidas, a reestruturação corresponde a uma operação totalmente controlada pelos credores. Quando o devedor quer tomar a iniciativa, tem de suspender os pagamentos da dívida, para obrigar os credores a sentarem-se à mesa e discutir condições. Uma reestruturação é o que a troika vai fazer na Grécia, impondo um corte de 50% na dívida dos bancos privados, em troca de mais austeridade no país. Contudo, sem redução da dívida à troika, que se tornou o maior credor da Grécia e, ainda por cima, privilegiado, este tipo de reestruturação só alivia de maneira conjuntural o pagamento da dívida. Não é uma solução de verdade.



Se um país quiser sair desta crise, tem de romper com a troika.
 Tem de dizer: senhores, as condições que nos impõem são injustas e não nos servem a nível económico.

É complicado decerto e não implica sair do Euro.
A Alemanha beneficia com o euro, pelas suas exportações e inclusive pelos empréstimos a Portugal. Quando vai financiar-se ao mercado, a Alemanha paga 1%, mas empresta a Portugal a 5%. Não é generosidade, é um bom negócio para a Alemanha. O que Portugal precisa é de uma política soberana em que o Estado declarasse não querer sair da zona euro, mas dissesse que as condições impostas pela troika são inaceitáveis para os cidadãos e para o interesse do país. Caso contrário, a troika só fará mais exigências, que não permitirão ao país sair da situação em que se encontra. Se Portugal disser não à troika, esta seria obrigada a sentar-se à mesa e renegociar a dívida e as condições que impõe. E não me parece que a troika queira a saída de um país do euro.
Estamos a lidar com uma  dívida ilegítima, ilegal ou imoral é uma dívida
.
 Pode ser a forma como os cidadãos interpretam, de forma rigorosa, o respeito aos princípios da nação, da construção do país e do direito interno e internacional.
 Uma dívida ilegítima é, por exemplo, uma dívida contraída porque o Estado favoreceu uma pequena minoria, reduzindo impostos sobre as grandes empresas multinacionais ou as famílias mais ricas, que assim diminuíram a sua contribuição para as receitas fiscais, obrigando o Estado a endividar-se. Esta contra-reforma fiscal aconteceu em toda a Europa e também nos EUA, com o anterior presidente, George W. Bush. Os resgates aos bancos são outro exemplo. O custo de ajudar os banqueiros, que foram totalmente aventureiros, desviando os depósitos dos seus clientes para investir no subprime, implicou um aumento da dívida soberana, que é totalmente ilegítimo. Não podiam ter sido resgatados dessa forma, os grandes accionistas não deviam ter sido indemnizados.
Sim. Foi uma dívida contraída para impor um desrespeito aos direitos económicos e sociais da população. Há uma chantagem da troika, que dá crédito para pagar aos credores, que são eles próprios e os bancos dos países do Centro europeu, e, em contrapartida, exige austeridade. Não há dúvida: é uma dívida ilegítima.
Só se pode mudar com mudança de governo, atendendo a que já foi suspensa a Constituição, porque não estender essa suspensão à  queda de um governo e de outros órgãos que apoiam a escravidão de todo um povo? Não nos termos de Ferreira Leite uma pessoa que fez parte de governos que destruíram o tecido produtivo deste país ou de um PR que foi ministro e PM de governos que fizeram o mesmo, ou de uma ministra da justiça que pressiona o Tribunal Constitucional. Se assim é a Constituição de facto já está suspensa, boa ou má, foi espezinhada, assim como estão espezinhados os que já eram espezinhados  e agora á a classe média que desaparece…Os estalinistas não fariam melhor, estes utopistas criaram e tentaram criar sociedades niveladas por baixo onde só as nomenclaturas viviam num clima de corrupção e de fausto, afinal alguns bebem aí os exemplos. Não pode ser um Governo que defende os acordos com a troika a fazer uma auditoria à dívida. O descontentamento das populações pode abrir caminho a isso, mas quando é que uma mudança desse tipo pode ocorrer na Europa?.

sábado, maio 26, 2012

Master Of Puppets

De regresso a casa

"Os responsáveis politicos mundiais congratulam-se regularmente por terem evitado, durante a crise financeira que teve início em 2008, os erros das políticas levadas a cabo nos anos 30. Encabeçados pelo presidente da Reserva Federal norte-americana, Ben Bernanke, um historiador económico da Grande Depressão, recordaram as ideias de John Maynard Keynes e flexibilizaram as polítcas monetária e orçamental para evitarem o pior. Continuamos a lidar com as consequências em matéria orçamental, especialmente na Europa, mas é verdade que o mundo não acabou em 2008.

O endurecimento da política monetária não foi o único grande erro dos anos 30; também o foi o regresso ao proteccionismo, simbolizado pelo aumento das tarifas através da lei Smoot-Hawley no início dessa década. Os historiadores continuam a debater a importância da própria lei Smoot-Hawley, mas a guerra tarifária que se seguiu prejudicou sem dúvida o crescimento comercial e económico, piorando ainda mais a situação.

Os estadistas da actualidade gostam de dizer que evitaram o erro do proteccionismo, mas será que isso é verdade? É certo que não estou à espera que surja uma guerra tarifária no curto prazo, mas existem perigosos indicadores de problemas comerciais à espreita.
As negociações da ronda de Doha sobre o comércio livre global foram abandonadas e a Organização Mundial do Comércio está a empalidecer junto ao lago Leman, em Genebra, sem certezas quanto ao seu futuro. É pouco provável que a ronda de Doha tivesse conseguido grandes feitos, nas actuais circunstâncias, mas a ausência de um diálogo contínuo sobre o comércio mundial – que poderia pelo menos constituir uma válvula de segurança bastante útil – representa um risco adicional. Enquanto as pessoas falam, tendem a agir menos de forma precipitada.
No domínio financeiro, existem muitos sinais de uma revitalização das abordagens nacionalistas no que diz respeito à regulação e às políticas cambiais. A crise desafiou o Consenso de Washington, que partiu do princípio que o mundo estava a caminhar gradualmente para a livre circulação de capitais e de taxas de câmbio determinadas pelo mercado.
Alguns países – como o Brasil, Coreia do Sul e Turquia – já impuseram controlos de capital de várias espécies. Mesmo o Fundo Monetário Internacional, que personifica há muito tempo o Consenso de Washington, reconheceu que "os controlos de capital são, em determinadas circunstâncias, uma peça legítima da caixa de ferramentas de gestão dos fluxos de capital". Os congressistas norte-americanos encaram os chineses como manipuladores cambiais por excelência, mas a Suíça aplicou um tecto para a apreciação do franco.
Estes primeiros sinais de desglobalização dos mercados financeiros têm paralelos na banca comercial, com algumas das maiores instituições mundiais a reduzirem rapidamente as suas despesas. O Citibank e o HSBC foram mais longe do que a maioria dos seus congéneres no desenvolvimento de uma presença global; com efeito, é difícil hoje em dia apanharmos um avião sem que nos recordem que o HSBC é "o banco local mundial". Mas ambos estão a fechar dependências em muitos países.
Da mesma forma, muitos outros bancos europeus estão a reduzir drasticamente as suas actividades no estrangeiro. O impacto é particularmente forte no sector da finança comercial, onde os bancos europeus ocuparam um lugar importante na Ásia. Agora estão a retirar-se rapidamente desse mercado, criando uma preocupante lacuna que os bancos asiáticos estão a tentar colmatar.
E há mais para vir. À medida que se debatem para angariar mais capital, os bancos e seguradoras da Europa poderão ver-se obrigados a venderem os seus activos no estrangeiro.
Se isto fosse simplesmente um sinal de um novo enfoque mais estrito, tendo em vista estratégias de longo prazo viáveis, seria visto como um acontecimento favorável. Mas há indicadores de que o processo está a ser conduzido por alterações regulatórias e, em alguns casos, pelo proteccionismo regulatório.
Os bancos são supervisionados por um regulador "nacional" no país onde estão sedeados e por uma série de reguladores "locais" nas regiões onde operam. Os reguladores "nacionais" e os credores de último recurso estão cada vez mais preocupados com a sua potencial exposição às perdas nas operações no estrangeiro. Como tão bem afirmou Mervyn King, governador do Banco de Inglaterra, "os bancos são globais na vida, mas nacionais na morte". Por outras palavras, são as autoridades nacionais que têm de pagar a conta quando as coisas correm mal.
Os reguladores locais estão cada vez mais nervosos com os bancos que operam nas suas jurisdições através de sucursais da casa-mãe, sem capital local ou um conselho de administração local. Por isso, estão a insistir na criação de filiais. Na perspectiva dos bancos, isso significa ficar com o capital empatado em subsidiárias, não podendo ser usado de forma ideal ao longo de toda a rede. Por isso, os bancos poderão preferir retirar-se.
Uma versão particular deste fenómeno está a ser produzida na União Europeia. No mercado único dos serviços financeiros, os bancos estão autorizados a receber depósitos em qualquer parte, sem aprovação local, se estiverem autorizados a fazê-lo num país europeu. No entanto, quando os bancos islandeses foram ao fundo, as autoridades britânicas e holandesas tiveram de resgatar os depositantes locais. Por isso, agora os reguladores estão a desencorajar esse tipo de actividades fora de fronteiras, o que conduz a um processo com um nome feio: "des-eurização". Só nos resta esperar que isso não vá em frente.
Os reguladores, reconhecendo os riscos de se permitir a aceleração da desglobalização financeira, têm procurado encontrar formas melhores de gerirem o fracasso dos grandes bancos globais. Se os bancos puderem ser dissolvidos facilmente quando as coisas correm mal, e as perdas puderem ser equitativamente repartidas, os reguladores poderão mais facilmente permitir-lhes que continuem a operar de forma global e eficiente. Assim, há grandes esforços em marcha para criar um quadro de resolução transfronteiriço. No entanto, é um trabalho árduo, e Daniel Tarullo, governador da Reserva Federal, reconheceu que "não se vislumbra uma solução clara e integral".
Será que tudo isto representa uma ameaça séria aos benefícios da globalização? Uma resposta prudente seria que é demasiado cedo para o dizer. Talvez estejamos apenas a observar o início de uma grande mudança, em que o Citibank e o HSBC serão substituídos como intervenientes globais pelo ICBC da China, o Itaú Unibanco do Brasil e o Sberbank da Rússia.
Contudo, pode ser que estejamos a assistir ao renascimento de uma doutria keynesiana menos favorável: "as ideias, o conhecimento, a ciência... devem por natureza ser internacionais. Mas permitamos que os bens sejam locais sempre que seja razoável e conveniente e, sobretudo, deixemos que as finanças sejam nacionais"."

Howard Davies

sexta-feira, maio 25, 2012

Cresce e aparece, pá!

"Ainda não chegou e já vai faltando pachorra para o assunto: a adenda para o crescimento económico. Não é para o crescimento, é para a adenda. Todos querem ser o pai político da bebé. Mas a bebé arrisca-se a ser uma Barbie. Bonitinha e sem vida.
Saturada da austeridade, a Europa aprimora-se para uma nova política económica, impulsionada por François Hollande, que se apropriou com sucesso desse discurso político. E está na cara que o Governo, o PS, o Presidente da República e a "troika" se vão juntar para um "acordo histórico" qualquer que promova o crescimento contra a ditadura da austeridade cega.
O que é vagamente irritante neste processo é que a discussão não é de política económica, mas de política partidária. Cavaco Silva fala disso todos os dias, pelo que ficará como "padrinho" da ideia. António José Seguro quer exibir esse acordo como uma vitória sua, o que mesmo sendo importado, é justo. E o Governo imagina soluções para que tal não seja visto como uma cedência, antes uma vitória. Pronto, e enquanto está toda a gente preocupada com a "vitória política" de um "acordo político" a favor "do crescimento e do emprego", ninguém se atreve a dizer que, em Portugal, não há, nem pode haver, mais um planinho e que na Europa tudo o que for feito ficará a milhões de quilómetros de um Plano Marshall.
O Governo de Portugal pode por si só fazer pouco pelo crescimento. Há pequenas opções à mão, como dar mais garantias de crédito à exportação. Soluções como a baixa da TSU, para baixar os custos às empresas, não se mostram disponíveis. Para criar emprego, há o QREN, que está a ser alvo de uma redefinição estratégica: em vez de subsidiar projectos, subsidia empregos.
O problema é a falta de investimento, sem a qual não há criação de postos de trabalho. Há dois dias, o Conselho de Finanças Públicas mostrou as suas preocupações, pedindo cuidado na forma como se está a fazer a consolidação orçamental. A redução de despesa pública está a ser feita menos à custa do corte nos custos de funcionamento da máquina do Estado e muito pelo sacrifício do investimento público. Há praticamente dois anos que, em Portugal, se assiste a uma forte quebra do investimento, o que, como tem sido referido em várias análises (incluindo do novo Conselho de Finanças Públicas) resulta em perda acelerada de capital físico - e de capital humano.
Como disse Jorge Coelho, ontem, no Hora H do Negócios, "quem manda é a troika". Se a troika prolongar as metas de redução do défice e garantir que não haverá mais austeridade mesmo em relação a desvios nas receitas ou nas despesas, já será uma enorme ajuda.
A solução para o crescimento vem da Europa e mesmo na Europa não há cenários de aumento do investimento público - porque a despesa dos Estados (e portanto a sua dívida) não pode aumentar. As "soluções" moram assim em decisões tais como o reforço de capital do Banco Europeu de Investimentos (o maior banco de investimento do mundo) e o seu maior envolvimento em projectos privados. E sobretudo em fazer política que "criasse" um pouco de inflação em países como a Alemanha (para tornar os produtos da periferia mais competitivos) e desse aos seus cidadãos mais poder de compra (para que lhes vendêssemos esses produtos).
Com este nome ou outro, adenda certamente haverá. Crescimento, só incertamente. Quem será o dono do crescimento? Se o houver, tanto faz."

Pedro Santos Guerreiro

quinta-feira, maio 24, 2012

"Os suíços são uns sonsos. Dizem-se neutros mas é só porque é bom para o negócio. Há portugueses que lá desaguam o seu dinheiro, o de angolanos - e o nosso. As contas suíças são o perfeito dormitório onde se lavam as almas. Nas calmas.
A Suíça é apenas um destino. Há outros, asiáticos, onde se fazem ainda menos perguntas e não sequer há respostas. Mas neste caso é a Suíça, a mesma Suíça de sobrinhos taxistas, que serviu de refúgio de capitais que saíram sem declaração de rendimentos, sem reporte nem recorte fiscal, de Luanda e de Lisboa. Na boa.
A operação "Monte Branco" tem uma origem arrepiante, de um caso de assassinato no Brasil de que Duarte Lima é suspeito, no funesto processo da herança Tomé Feteira. E terão sido declarações precisamente de Duarte Lima que levaram à detenção há uma semana de três suspeitos de gerir uma gigantesca operação de fraude fiscal e lavagem de dinheiro para grandes clientes portugueses. O caso, sabe-se agora, estava já a ser investigado pelo Ministério Público, na sequência da Operação Furacão - que se candidata a maior encenação de justiça económica de sempre: dezenas de arguidos cuja inocência é comprada sob a forma de pagamento de impostos. Fizeram uma repartição de Finanças do Tribunal. Tudo normal.
Nas suspeitas da Justiça, Michel Canals é o cabecilha da rede. Canals terá uma lista de clientes cuja existência já pôs meia Lisboa, Cascais inteira e algumas câmaras municipais a tomar calmantes. Até porque há receio justificado de misturar alhos e bugalhos: a gestão de fortunas é uma coisa legal, o planeamento fiscal é outra coisa legal, a fraude e lavagem de dinheiro são crimes. E todas são serviços que podem ser prestados por gente da mesma natureza. Uma beleza.

Ser cliente, ser investigado, estar sob escuta ou conhecer Canals não faz de ninguém suspeito. Ser constituído arguido e acusado sim. E esse processo vai desenvolver-se agora, sob orientação de Carlos Alexandre e Rosário Teixeira, pelos vistos sem grande sigilo. Mas tudo tranquilo.
Atirar nomes para a ventoinha é uma insídia, mas quem procura tão perto não pode perder o que se vê ao longe. Que a operação "Monte Branco" revela que há um submundo no alto dos arranha-céus. Que gente que condena os que "vivem acima das suas possibilidades" tem menos honra, ética e vergonha que um rato. Que enquanto um país inteiro se derrete na incineradora dos impostos, dos salários, das pensões, do desemprego, da austeridade, há dinheiro sacado e expatriado. Que os mesmos que cofiam bigodes por causa dos restaurantes que não pagam IVA e das casas subdeclaradas são os que tiram dinheiro daqui para fora, com um bom génio da finança, advogado ou padrinho. É limpinho.
O que a "Visão" ontem revelou mostra outro entalhe do caso. O de uma espécie de "Angola Connection", uma estrutura de poder que se estende de Luanda até Lisboa, passando pelo BES Angola, um ramo do Grupo Espírito Santo que de Espírito Santo pouco mais tem do que o nome, pois parece ter vida própria e paralela, controlado por accionistas locais. Em Lisboa, essa estrutura angolana está a ganhar um poder grande, que inclui operações imobiliárias, ambições na comunicação social e relações na política, como conta a "Visão". Nem todos os angolanos são iguais, mesmo os ricos. Como nem todos os portugueses são iguais, mesmo os ricos. E se é verdade aquilo de que a Justiça suspeita e os jornais noticiam, esse poder tem de ser questionado. Fazer perguntas não é fazer uma cruzada. "No pasa nada".
E tudo acaba na Suíça. A Suíça não tem culpa, tem desculpa, mas a sua esmagadora monotonia tem este simbolismo adequado aos agentes que transferem dinheiro sem rosto nem rasto. Gente que detesta o alarde porque se encobre no silêncio. Gente que se diz discreta mas é secreta. Gente que se faz de transparente mas é só invisível. Clarice Lispector, quando se aborrecia de morte precisamente na Suíça, escreveu em "A Cidade Sitiada": "Vivo no quase, no nunca e no sempre. Quase, quase - e por um triz escapo." E por um triz escapam..."

Pedro Santos Guerreiro 

quarta-feira, maio 23, 2012

O "coiso" colateral

"A Europa parece-se cada vez mais o Festival da Eurovisão. É um autêntico "freak-show". Também por cá temos ministros que poderiam estar no palco em Baku. Em vez de cantarem num miserável inglês, conseguem transformar "o problema do desemprego" no muito pós-moderno "este coiso".
Sabemos que o ministro Álvaro Santos Pereira não foi criado para conseguir esclarecer claramente o que possa pensar, mas está a deixar um rasto de contaminação no Governo. O desemprego não pode ser tratado como uma canção pimba. É hoje claro que o Governo o encarou como um dano colateral. Mas, como é evidente, até o apocalipse defrauda os seus mais clarividentes profetas. O desemprego deixou de ser um "coiso" colateral: é algo que está a minar a sociedade. E quando a própria estrutura de PMEs está a ser dinamitada à bruta com todos os impostos possíveis, desertificando os pequenos negócios, a bondade governamental para salvar o país vai começando a ser posta em causa.
O que surpreende é como o Governo parece espantado com o crescente aumento do desemprego (cujos números a OCDE ainda torna mais aterradores), como se no Excel que usa isso não fosse possível. O Governo ainda vive no país do Peter Pan e parece que começa a ser altura de alguém lhe dizer, e à troika, que ninguém sobrevive sem empregos, e ninguém compra se estiver sem salários. Reequilibrar as finanças públicas é fundamental. Mas isso será impossível se tornarmos Portugal uma nação de impostos, onde os cidadãos ganham menos do que os gregos. A obsessão do Governo começa a transformar-se numa insensibilidade militante. Por isso acha que desemprego é o "coiso".
Fernando Sobral



terça-feira, maio 22, 2012

A verdade acerca da economia

Solução ideal...

"O Governo português vai ter de adoptar novas medidas de austeridade para cumprir as suas metas orçamentais, prevê a OCDE (mais aqui)"
Aqui está uma boa medida... Especialmente porque Portugal não é a Grécia...

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segunda-feira, maio 21, 2012

While My Guitar Gently Weeps

Afundando...

"A desvalorização interna está a ser mais forte do que o previsto e isso reflecte-se na economia real. O crescimento está dependente das exportações que esbarram na recessão da zona euro, sobretudo a espanhola... A composição do crescimento está a mudar para as exportações líquidas, e não resulta tanto da procura interna", explica. Isto é "positivo para reequilibrar" as contas e para "tornar o crescimento mais sustentável" mas o problema é que "no curto prazo o desemprego continua a deteriorar-se".

A procura interna afunda-se em Portugal mais do que em qualquer outro pais da zona euro e UE: -6,6%. O consumo privado cai 6,1% face a 2011 e o investimento também cai 11,8%, quase o dobro das quebras em Espanha e Grécia. O investimento em equipamento regista mesmo um recuo de 14% face ao ano anterior. É este fosso, mais acentuado do que o previsto, que - segundo Bruxelas - está a provocar um desemprego (15,5% este ano) que é já o terceiro maior do euro... (Mais aqui)"

domingo, maio 20, 2012

O ócio manifesto

"Desde o clássico opúsculo de Marx que a esquerda é pródiga em manifestos. A nossa particular esquerda, então, parece viciada no exercício e é conhecida por lançar cerca de um manifesto por mês. O mais recente chama-se "Para Uma Esquerda Livre" e, como todos os anteriores, merece a nossa atenção.

Os signatários lamentam que perante uma série de calamidades (desregulação dos mercados, desprezo da dimensão estatal, etc.), a esquerda esteja "dividida entre a moleza e a inconsequência". Por sorte, os signatários não são moles nem inconsequentes: prescrevem a resistência à "ofensiva reaccionária" para, logo a seguir, lembrarem que resistir não chega: "É necessário reconstruir uma República Portuguesa digna da palavra República e construir uma União Europeia digna da palavra União." Mas um manifesto digno da palavra ma- nifesto vai mais longe: "É preciso propor aos portugueses, como aos outros europeus, um horizonte mais humano de desenvolvimento, um novo caminho para a economia e um novo pacto de justiça social." Original e pedagógico, sem dúvida. E como se conseguem essas maravilhas?

É fácil. Basta que uma "esquerda corajosa" apresente "alternativas concretas e decisivas para romper com a austeridade e sair da crise, debatidas de forma aberta e em plataformas inovadoras". Em cheio. Até aqui, havia uma esquerda mariquinhas que sugeria alternativas abstractas e vagas, para cúmulo debatidas em surdina e em plataformas caducas. Agora, isso acabou, donde o apelo "a todos aqueles e aquelas [sic] que se cansaram de esperar - que não esperem mais" e construam "uma esquerda mais livre", "um Portugal mais igual" e "uma Europa mais fra- terna".

Embora fique por definir um prazo exacto para o termo da construção, o manifesto espanta. É espantoso que pessoas tecnicamente imputáveis sejam capazes de conceber e assinar coisas assim. É espantoso que sujeitos formalmente alfabetizados escrevam tão mal. É espantoso que criaturas legalmente adultas não possuam nas cabecinhas a sombra de uma ideia. E é espantoso que indivíduos teoricamente integrados se convençam de que influenciam a realidade através da exibição da distância que os separa da realidade."

Alberto Gonçalves

sábado, maio 19, 2012

A Grécia deve abandonar o euro

"Uma saída controlada da Grécia implica um dano económico significativo. Mas muito pior seria ficarmos a ver a queda lenta e caótica da economia e da sociedade gregas.

A tragédia da Grécia no euro está prestes a chegar ao seu acto final: é muito provável que este ano – ou o mais tardar no próximo – a Grécia entre em incumprimento e abandone a Zona Euro.

Adiar a saída para depois das eleições legislativas de Junho, já com um novo governo comprometido com uma variante das mesmas políticas falhadas (austeridade recessiva e reformas estruturais), não vai restaurar o crescimento e a competitividade. A Grécia está presa num ciclo vicioso de insolvência, perda de competitividade, défices externos e depressão cada vez mais profunda. A única forma de travar este ciclo vicioso é iniciar um processo de incumprimento ordeiro e saída, coordenada e financiada pelo Banco Central Europeu (BCE), União Europeia (UE) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que minimize os impactos colaterais para a Grécia e para o resto da Zona Euro.

O recente pacote de ajuda reduziu a dívida do país, mas num montante muito inferior ao necessário. Mas mesmo com uma redução da dívida pública mais significativa a Grécia não conseguiria voltar a crescer sem uma rápida recuperação da competitividade. E sem crescimento, o peso da dívida vai continuar a ser insustentável. Mas todas as opções que permitem repor a competitividade exigem uma depreciação real da moeda.

A primeira opção, uma forte desvalorização do euro, é pouco provável, já que a Alemanha é forte e o BCE não segue uma política agressiva de flexibilização monetária. Igualmente improvável é uma rápida redução dos custos unitários de trabalho, através de reformas estruturais que aumentem o crescimento da produtividade. A Alemanha usou esta opção e demorou 10 anos a repor a sua competitividade. A Grécia não pode permanecer em depressão durante uma década. Da mesma forma, uma rápida deflação dos preços e salários, conhecida como "desvalorização interna", provocaria cinco anos de uma depressão ainda mais profunda.

Se nenhuma destas opções é viável, a única alternativa é abandonar a Zona Euro. O regresso à moeda nacional – seguida de uma forte depreciação – restauraria rapidamente a competitividade e o crescimento.

Como é óbvio, este processo seria traumático – e não apenas para a Grécia. O problema mais significativo seriam as perdas de capital das principais instituições financeiras da Zona Euro. O passivo externo em euros do governo, bancos e empresas gregas iria disparar de um dia para o outro. Mas estes problemas poderiam ser superados. A Argentina conseguiu-o em 2001, depois de converter em pesos a dívida que tinha em dólares. Os Estados Unidos fizeram algo semelhante em 1933, quando depreciaram o dólar cerca de 69% e abandonaram o padrão-ouro. A conversão em dracmas da dívida que a Grécia tem em euros é necessária e inevitável.

Os prejuízos que os bancos da Zona Euro vão sofrer podem ser controlados se os bancos forem, correcta e agressivamente, recapitalizados. No entanto, evitar a implosão do sistema bancário grego pode exigir medidas temporárias, como o encerramento de bancos ou o controlo de capitais de forma que evite uma corrida descontrolada aos depósitos. O Fundo Europeu de Estabilidade Financeira/Mecanismo de Estabilidade Financeira (FEEF/MEE) deve recapitalizar os bancos gregos através de injecções directas de capital. Na prática, os contribuintes europeus estariam a assumir o controlo do sistema bancário grego, mas isso seria uma compensação parcial pelos prejuízos impostos aos credores após o regresso ao dracma.

A Grécia teria também que reestruturar e reduzir, novamente, a sua dívida pública. Não é necessário reduzir o valor nominal da dívida grega detida pela troika, mas a sua maturidade teria de ser prolongada por mais uma década e a taxa de juro reduzida. No caso dos credores privados, seria igualmente necessário realizar um novo perdão de dívida, começando por uma moratória do pagamento de juros.

Há quem argumente que o PIB real da Grécia seria muito menor num cenário de saída do que num cenário de deflação. Mas este argumento é viciado: mesmo com deflação, o poder de compra real iria cair e o valor real das dívidas iria subir à medida que a depreciação real acontecesse. Além disso, e mais importante, a opção de abandonar a Zona Euro restauraria o crescimento imediatamente através da depreciação nominal e real e evitaria uma década de depressão. Os prejuízos comerciais que a Zona Euro pode ter com a depreciação do dracma são limitados, tendo em conta que a Grécia representa apenas 2% do PIB da Zona Euro.

A reintrodução do dracma envolve o risco de uma depreciação cambial superior ao necessário para repor a competitividade, que teria um efeito inflacionista e aumentaria os prejuízos resultantes da conversão da dívida externa em dracmas. Para minimizar este risco, as reservas da troika destinadas ao resgate grego poderiam ser usadas para limitar esta sobredesvalorização (o controlo de capitais também poderia ajudar).

Os que argumentam que a saída da Grécia vai arrastar outros países para a crise recusam-se a ver a realidade. Outros países periféricos têm já os mesmos problemas que a Grécia no que diz respeito à sustentabilidade da dívida e à perda de competitividade. Portugal, por exemplo, pode necessitar de reestruturar a dívida e sair do euro. Economias com problemas de liquidez, mas potencialmente solventes, como Itália e Espanha, vão necessitar do apoio da Europa, independentemente, da saída da Grécia da Zona Euro. De facto, sem uma provisão de liquidez, é possível que os receios de uma saída da dívida de Espanha e Itália se tornem numa profecia autocumprida.

O significativo aumento dos recursos do FMI e do MEE (em conjunto com a liquidez do BCE) – podem ser usados para proteger estes países e os bancos de outros Estados da periferia da Zona Euro. Independentemente do que acontecer à Grécia, os bancos da Zona Euro necessitam de ser rapidamente recapitalizados, o que exige um novo programa de injecção directa de capital que envolva toda a União Europeia.

A experiência da Islândia e de outros mercados emergentes ao longo dos últimos 20 anos mostra que a depreciação nominal, a reestruturação ordeira e a redução da dívida externa podem repor a sustentabilidade da dívida, a competitividade e o crescimento. Os danos colaterais de uma saída da Grécia da Zona Euro serão significativos, mas podem ser limitados.

Tal como um matrimónio condenado ao fracasso, é melhor ter regras para o divórcio inevitável que tornem a separação menos dispendiosa para ambas as partes. Não tenham dúvidas: uma saída controlada da Grécia implica um dano económico significativo. Mas muito pior seria ficarmos a ver a queda lenta e caótica da economia e da sociedade gregas."

Nouriel Roubini

sexta-feira, maio 18, 2012

Trichet e a soberania do poder financeiro

Trichet um dos que nos arrastou para o pântano em consonância com o antigo Presidente da Reserva Federal, afirmou que os países não cumpridores dos défices deveriam perder a soberania económica, como numa federação de estados.
Trata-se de perda soberania e logo a demonstração que as democracias são ditaduras apenas validadas pelos votos, sem mais.
As soberanias há muito são exercidas pelo poder financeiro.
 Esqueçam os mercados, os mercados são gente, são famílias, as famílias mais poderosas do planeta, controlam os políticos, colocam-nos e quando fizeram o serviço sujo, são material "disposable", não reciclável.
Sadham, quando desafiou a América e disse que iria vender o petróleo em Euros, assinou a sua sentença de morte, não teve nada a ver com ser ditador, senão onde estaria o Eduardo dos Santos? É disto que se trata e, é isto a dívida soberana, que foi consequência do subprime, depois da criação dos bancos de investimento no tempo de Clinton e por aí adiante.
Ainda me lembro de ao se chamar a atençao para a bolha imobiliária nos Estados Unidos e para a crise subprime, apelidarem de alarmistas a quem tocava a rebate, há por aí muita gente dessa, que ainda se permite dar aulas de economia e palpites sobre a matéria muito pouco científica, que nem arte é, só se for de circo.
Os Estados soberanos acabaram.

quinta-feira, maio 17, 2012

Até domingo

"É normal que os gregos falem como tresloucados – afinal, estão à beira de uma catástrofe. Não é normal que na União Europeia ajam como se controlassem a situação – afinal, estão à beira de uma catástrofe. Ou talvez pânico e inércia sejam apenas extroversões diferentes do medo.

E nós, portugueses, com isso? Tudo.

Todas as nossas angústias domésticas passam para segundo plano. Os resultados da banca parecem maus mas foram péssimos. Os maus créditos esto a ser varridos para fundos. Quem participou no aumento de capital do BES sente-se já enganado em Bolsa. O FMI e o Banco de Portugal denunciam cedências do Governo aos grupos de pressão. A prometida cicuta contra as rendas da energia revelou-se açúcar para a EDP. O dinheiro do QREN volta atrás quando as empresas já lhe tocavam com os lábios. A revisão das PPP, a fusão das empresas públicas, as novas administrações, atrasado atrasado atrasado. Cada um destes assuntos merecia um editorial, uma indignação, uma acusação, uma denúncia. Mas nada é suficientemente grande para que não seja pequeno "ao pé de". "Ao pé de" uma saída da Grécia do euro, aquelas exclamações são vírgulas.

Em Portugal, estamos aquietados, observando de longe o que determinará o nosso futuro. Olhamos para os mercados como se ouvíssemos num transístor um jogo que tememos perder. A União Europeia simula o domínio dos acontecimentos mas os mercados estão desvairados. E os mercados, sabemo-lo, têm força suficiente para provocar os acontecimentos que começam por perspectivar.

É hora de sair da praia, trocar o martini pelo chá de valeriana. Nos últimos dias, o custo da dívida de países como Espanha e mesmo França disparou. (Portugal foi atrás). Nas bolsas, pior. No mínimo há uma "liquidação total" de acções espanholas e portuguesas. No máximo há um ataque especulativo, "short sellers" que vêem lucros nas nossas falências. Em qualquer dos casos há isto: a leitura de que a Grécia vai sair do euro, que Espanha precisará de intervenção externa (ou, pelo menos, de que os seus bancos precisarão de apoio externo), que por isso Portugal piora a sua posição.

O problema já não é que os mercados são incontroláveis. É os mercados estarem descontrolados. As eleições na Grécia consumaram a impossibilidade política do que já era uma improbabilidade financeira. As eleições em França acrescentaram incerteza. E os dados sobre a banca espanhola revelam crateras depois dos buracos.

Como disse ontem Luís Amado numa conferência no ISCTE, em Lisboa, "isto deixou de ser uma crise de dívida pública de alguns países e passou a ser uma crise existencial do euro". A moeda única vai prevalecer? Há dinheiro para acudir a Espanha? E se Espanha cai, treme a Itália, a França, o edifício inteiro? As "firewalls" que esterilizam a Grécia e evitam o contágio, protegerão Portugal? Pode a Grécia sair do euro e ficar na UE? Essas são as perguntas. De hoje. De sempre.

240 mil milhões de euros depois, a Grécia está a sair do euro, o que provocará o seu degredo (e a perda de milhões de euros pelo FMI e pelo BCE, o que nos levará a perguntar se não teria sido melhor outra forma de "perdão" mais precoce e ordenado). Mas a Europa não está a agir em função de solidariedades, mas com base em incentivos. Não se ouve um lamento pelos pobres dos gregos. O povo grego, tão europeu como nós, está com o revólver apontado às têmporas mas os demais parecem apenas preocupados com o seu emprego, a sua pensão, a sua conta bancária.

Em Portugal, estamos imunes? Em parte sim, porque não estamos nos mercados. Mas há risco de quebra de confiança, de saída de capitais, de fim da coesão política e da estabilidade social; e há risco de agravamento das condições económicas, com menos exportações. Como aqui escreveu ontem Helena Garrido, somos os meninos queridos da Alemanha mas os mal amados pelos mercados. E os mercados têm mais poder que uma chefe alemã sem dimensão para ser líder europeia.

E assim voltamos a ter medo dos domingos, os dias para que estão guardadas as piores notícias."

Pedro Santos Guerreiro

quarta-feira, maio 16, 2012

O tipo do BCE que trabalha para o Goldman

O Banco Central Europeu confirmou hoje que os bancos gregos com capitais próprios reduzidos não poderão aceder aos mecanismos de cedência de liquidez do BCE, tendo de recorrer a financiamento de emergência do banco central da Grécia.
Num esclarecimento enviado à agência Bloomberg, após notícias dando conta que na reunião de hoje do conselho de governadores do BCE, os responsáveis terão ameaçado cortar o financiamento a quatro bancos gregos com grandes lacunas nos seus capitais próprios, o BCE vem agora confirmar que está impedir estes bancos de aceder ao financiamento do Eurosistema.
O BCE ressalva, no entanto, que espera que a recapitalização dos bancos aconteça "em breve", mas que até lá os bancos têm mesmo de recorrer ao mecanismo de financiamento de último recurso do banco central da Grécia.
Na prática, o Banco da Grécia terá de "imprimir" dinheiro para financiar os bancos gregos que não puderem aceder aos fundos do BCE, sendo que neste caso a responsabilidade e eventuais problemas ficam a cargo do Banco da Grécia, e não são partilhados pelos restantes bancos centrais do Eurosistema.
O BCE estará a recusar financiar estes bancos gregos "severamente sub capitalizados" argumentando que não pode ceder liquidez a bancos que não dêem garantias de solvência, sendo que as regras para que os bancos individuais atuem como financiadores de último recurso impõe apenas uma condição, precisamente que o banco possa não ter liquidez mas que seja obrigatoriamente solvente.
Este mecanismo permite aos bancos centrais financiarem de forma discreta e imediata bancos comerciais com problemas graves de liquidez, mesmo criando nova moeda em euros, cuja decisão só pode ser bloqueada pelo BCE, com maioria qualificada e com a razão de que esta criação de nova moeda esteja a colocar em causa a estabilidade de preços.
Esta tarde o Market News International -- um órgão de informação que faz parte do grupo que detém a bolsa alemã - citando um alto responsável grego, afirmou que na reunião de hoje do BCE o conselho de governadores estaria a ameaçar deixar de emprestar dinheiros aos bancos gregos de forma temporária devido ao atraso na recapitalização dos bancos.
"O tema está em cima da mesa desde abril e o BCE está a acompanhar a situação desde então, porque os atrasos na recapitalização estão a colocar problemas no balanço do próprio BCE" diz o responsável.
A mesma fonte diz que os atrasos se devem ao facto do fundo grego de estabilidade financeira - criado pela 'troika' no primeiro programa para a Grécia para financiar os bancos gregos - se estar a recusar a entregar o financiamento a quatro bancos gregos, apesar de uma avaliação do banco central da Grécia, que diz que estes bancos são elegíveis para receber apoio deste fundo.
O fundo tinha inicialmente 10 mil milhões de euros, dinheiro que fazia parte do primeiro empréstimo, mas o valor foi aumentado para 18 mil milhões de euros.
"Apesar do relatório do Banco da Grécia ter concluído que estes quatro bancos são elegíveis, o fundo recusa-se a injetar os 18 mil milhões de euros e isto está a deixar o BCE muito nervoso", afirmou ainda o responsável grego.
O primeiro-ministro grego Lucas Papademos terá mesmo chegado a intervir "várias vezes para tentar acelerar o processo", incluindo através de uma mensagem confidencial para o presidente da Grécia, Karolos Papoulias, e para os líderes políticos que estiveram a tentar negociar uma coligação na sequência das eleições de 06 de maio, a alertar para a gravidade da situação.

São estes F..da P.... que mandam no sistema e infiltraram a eurozona e  a estão a destruir, há 3,5 que a Grécia anda nisto
 A começar pela Comissão e pela grande maioria de PMs na Europa todos trabalham para o sistema que criou o lixo em Wall Street e o exportou para a Europa, o que está a acontecer à Grécia, aconteceráem Portugal,  até ao fim do ano se insistirem na austeridade  e no  aumento de impostos e ao não mexer nos privilégios das PPPs e negociatas do bloco central e Maçonaria, que é um instrumento de mafiosos.

terça-feira, maio 15, 2012

Afastar este Procurador e começar a julgar esta gente


O ex-ministro das Finanças Teixeira dos Santos e o ex-Governador do Banco de Portugal Vítor Constâncio “enganaram” os portugueses quando justificaram a nacionalização do BPN com o risco sistémico, considerou hoje o ex-presidente do banco, Miguel Cadilhe.





“O ministro das Finanças e o Governador enganaram o país a 2 de Novembro de 2008 quando, em conferência de imprensa, argumentaram com o risco sistémico”, disse hoje no parlamento o presidente da BPN/SLN ao tempo da nacionalização.

Para Miguel Cadilhe, estes dois responsáveis não podiam ter invocado o argumento de que o BPN poderia provocar o colapso do sistema financeiro português quando o banco tinha uma quota de mercado de apenas 2%.

“O risco sistémico é uma das partes mais infelizes do argumentário da nacionalização [do BPN]”, sublinhou.

Para Cadilhe, o que as autoridades deveriam ter decidido era a “assistência de liquidez sem limite” de modo a permitir a reestruturação do banco, ao mesmo tempo que se apuravam responsabilidades.

segunda-feira, maio 14, 2012

O país malparado

"Os bancos não têm interesse nenhum em dificultar ainda mais a vida às famílias portuguesas", disse esta semana Ricardo Salgado, presidente do BES. É um daqueles casos em que o discurso contraria a prática.

É verdade que aos bancos não interessa ficar com a casa de quem deixou de conseguir pagar o crédito. É um peso morto no balanço, que obriga a provisionar perdas e deteriora o capital, numa altura em que as instituições financeiras estão fortemente pressionadas a reforçá-lo.

São muitos, no entanto, os casos em que os bancos não estão a facilitar a vida às famílias. Aumentar em média 50% a comissão que é cobrada pelo atraso no pagamento da prestação, no espaço de dois anos, como noticiou ontem o Negócios, não facilita certamente a vida a quem já está numa situação de aperto. O BES foi um deles. Mais notável é ter sido a CGD, o banco público, quem mais encareceu a "multa", mesmo não sendo a que mais cobra.

Aumentar o "spread" a quem ficou desempregado ou se divorciou, só porque precisa de alterar o contrato, é apertar o pescoço a quem já não consegue respirar.

O governo e os partidos acordaram para o problema nas últimas semanas, avançando com propostas que vão de encontro a alguns destes problemas e pretendem impor a mediação e desentupir os tribunais. Os bancos já negoceiam com os clientes. Mas o devedor é como um David a enfrentar o Golias. É fundamental que a legislação, além de proteger quem está numa situação mais vulnerável, equilibre as forças.

Um dos pontos centrais é o da avaliação do imóvel quando da entrega da casa, que é feita por um perito contratado pelo banco. A independência da avaliação é, no mínimo, questionável. Quem comprou casa durante o "boom" do crédito da década passada sabe que os bancos promoveram avaliações acima do valor de mercado, para facilitar o acesso ao financiamento. Agora que o mercado está deprimido, quem garante que as avaliações não estão a ser feitas por baixo, levando a que a entrega da casa não chegue para saldar a dívida? Ter avaliadores verdadeiramente independentes é um imperativo.

Os bancos preferem um código de boas práticas, de adesão voluntária, como em Espanha. O governo parece preferir avançar com legislação específica, o que seria desejável. O tema da dação em pagamento é o mais polémico. Liberalizá-la totalmente, permitindo que a entrega do imóvel salde sempre o crédito, além de pôr em risco o sistema bancário, é uma desresponsabilização de quem contraiu a dívida. Mas permiti-lo a um casal desempregado, que já não consegue pagar a prestação de um imóvel cuja avaliação é agora inferior à dívida, parece defensável."

André  Veríssimo 

domingo, maio 13, 2012

Economia zombie

"Copo meio cheio: as maiores exportações de sempre; a queda há cem dias da euribor; a descida das gasolinas; o investimento da BA Vidro na Polónia; os 500 milhões na compra dos fóruns Almada e Montijo; o indicador avançado da OCDE que sugere o fim da recessão no final do ano. Agora o copo meio vazio: Espanha. Ou como tudo o que fizermos é tão vulnerável ao que outros desfaçam.

As fronteiras da crise financeira estão nos Pirinéus. E com o mal dos outros não podemos nós bem. Nem é preciso dizer porquê: além do contágio financeiro que se mede em taxas de juro, por causa do contágio económico. Portugal depositou todas as esperanças de crescimento nas exportações. Ter o maior cliente em crise profunda é partilhá-la. A melhor notícia que podemos ter é que Espanha não afunde.

Espanha tem um problema gravíssimo alojado na banca, que decorre de uma "bolha" imobiliária que se esvazia enchendo os balanços dos bancos de prejuízos. (Enchendo de prejuízos até a operação espanhola da Caixa Geral de Depósitos).

Comparados com os bancos espanhóis, os bancos portugueses ganham medalhas de mérito. Até porque Espanha consegue fazer tudo mal depois de fazer tudo mal. Depois de ter financiado a "bolha" de imobiliário e de ter germinado nas "cajas" relações empresariais que se revelaram ruinosas, os bancos espanhóis empacotaram os problemas em bancos zombie, adiando o problema até ao fim - e nisso agigantando-o.

Espanha recusou os problemas, juntou problemas das "cajas", criou o Bankia, colocou à sua frente o ex-secretário-geral do FMI, Rodrigo Rato. Escolher um político para resolver uma calamidade bancária é preferir a gestão de influências à digestão dos problemas. O Estado avançou para a nacionalização do banco. Rato foi o primeiro a abandonar o barco. É por estas e por outras que as economias do sul da Europa têm má reputação.

Espanha pode agora testar os novos mecanismos europeus, concretizados no MEF, que poderá auxiliar os bancos sem que seja necessário um programa formal de intervenção externa em Espanha. Na cimeira informal de 23 de Maio, veremos se Mariano Rajoy vai alinhar com François Hollande na pressão para criar medidas de crescimento na Europa. Sem estímulos orçamentais, a Europa crescerá? Dificilmente.

Espanha, como Irlanda, cresceram em cima de "bolhas" que rebentaram nos seus balanços. A digestão destas perdas vai prender o crescimento em Espanha durante muitos anos. Mesmo em Portugal: o crédito malparado das empresas que está por reconhecer nos bancos ainda nos vai surpreender, as falências sucedem-se ao dia. Na construção. No imobiliário. Nos seus fornecedores. E isso acaba na banca.

O problema dos bancos zombie, e das economias zombie, não tem sido enfrentado. Os prejuízos vão sendo transferidos mas só serão exterminados quando forem assumidos. Até lá, vão fazendo dos balanços um bagaço. É por isso que o FMI já fala na criação de mecanismos de insolvência para o endividamento privado, que são absorvidos com a entrada de capital público nos bancos. Pôr o contador a zeros custa milhões de euros. De uma forma ou de outra."

Pedro Santos Guerreiro

sábado, maio 12, 2012

12 de Maio de 1918




Nasce Julius Rosenberg, espião russo.

“O Paraíso é um lugar para onde as pessoas desejam ir. Não um lugar de onde elas queiram sair. No entanto, nesse nosso Paraíso as portas estão fechadas e trancadas. Que merda de socialismo é esse que tem de manter as pessoas acorrentadas? Que espécie de ordem social é essa? Que espécie de Paraíso?”

(Nikita Kruschev, “As Fitas da Glasnost”, página 253, Edições Siciliano, 1991)

Igor Gussenko, funcionário encarregado da criptografia da Inteligência Militar soviética (GRU) na embaixada da URSS no Canadá, com sua deserção, em setembro de 1945, foi o estopim que desencadeou a caça aos espiões atômicos nos EUA e Grã-Bretanha. Durante décadas a inocência do casal Rosenberg foi uma crença generalizada. Sustentando que eles haviam sido vítimas de uma farsa judicial, as esquerdas americanas, como as de todo o mundo, apresentaram os Rosenberg como mártires, sacrificados no altar da intolerância ideológica.

Todavia, a verdade revelou-se outra com a liberação de documentos secretos da ex-União Soviética e dos arquivos Venona (nome da operação que descodificou os códigos soviéticos) guardados a sete chaves durante décadas pelo governo norte-americano, bem como graças às memórias de antigos chefes da Inteligência soviética, recentemente publicadas, que jogaram uma luz definitiva sobre o caso. O caso Rosenberg tem todos os ingredientes de um thriller: espionagem, política e politicagem, perseguição, amor, ideologia, mentiras, traição, maquinações e, finalmente, um final trágico para Julius e Ethel Rosenberg, na cadeira elétrica, em 19 de junho de 1953, uma sexta-feira, no presídio de Sing-Sing, nas cercanias de Nova York. A inocência foi sustentada por ambos até o último instante da vida. Para as esquerdas, Julius e Ethel foram vítimas de uma armação judicial e da histeria anticomunista da época. Foram considerados heróis da causa socialista e colocar em dúvida esse artigo de fé era considerado um anátema.

Escreveu William Douglas, um dos juízes que atuou no caso Rosenberg, em seu livro de memórias “The Court Years” (“Os Anos de Tribunal”), que Emanuel Bloch (Manny Bloch), principal advogado de defesa – também judeu e também membro do Partido Comunista americano – deixou-lhe a impressão de que, conforme o consenso comunista da época entendia ser melhor para a causa, se os Rosenberg pagassem o preço mais alto, preferindo ver seus clientes mortos. Ainda hoje, 50 anos após os fatos, a atuação de Emanuel Bloch – às vezes tímida e sem criatividade, outras vezes vacilante, subserviente a promotores e juízes – é motivo de conjecturas, uma das quais é a de que fosse um instrumento dissimulado do FBI! Uma outra possibilidade é que Bloch temesse uma retaliação do FBI contra o partido, do qual era membro, caso os Rosenberg falassem o que sabiam, poupando o PC do inconveniente de ter detalhes de suas entranhas expostos na imprensa. Não faltam também os que sustentam a hipótese de que Manny Bloch, ainda que inconscientemente, desejasse a condenação de seus clientes, temendo que um eventual acordo com o Estado em troca de confissão - como fizera o ex-sargento do Exército David Greenglass, irmão de Ethel, que trabalhou no Projeto Manhathan e cooperava com a espionagem de Julius - pudesse desencadear uma avalanche de prisões. Os promotores ouviram David Greenglass como testemunha de acusação. Mesmo assim, ele foi condenado a 15 anos de prisão, sentença moderada por ter, segundo o juiz, “se arrependido e trazido à Justiça aqueles que o aliciaram” (Julius e Ethel).

A descoberta dos Rosenberg e de David Greenglass decorreu após os britânicos terem prendido o físico Klaus Fuchs sob a acusação de passar segredos atômicos à URSS. Pressionado, Klaus Fuchs entregou Harry Gold que havia mantido contatos com Greenglass e Julius nos EUA. No dia seguinte à prisão de Harry Gold, Moscou autorizou à rezidentura entregar 10 mil dólares a Julius e David, instruindo-os a que viajassem para o México, onde receberiam novos documentos, e daí para a Suécia. Essa viagem nunca se concretizou. Os Rosenberg escreveram 568 cartas na prisão, as quais foram reunidas no livro “The Rosenberg Letters”, editado por Michael Meeropol, o filho mais velho do casal. Os textos dessas cartas são infectados de retórica ideológica. Eles escreveram como quem discursa, como quem se dirige aos pósteros, à eternidade.

A vasta documentação disponibilizada pela abertura dos arquivos da ex-União Soviética, as mensagens Venona, tornadas públicas pelo governo americano quatro décadas após a sua decodificação, e as revelações feitas pelo espião russo Aleksandr Feklissov em sua recente autobiografia, jogaram uma luz definitiva sobre o caso. Julius Rosenberg, com a conivência passiva de sua esposa, espionou para a URSS, passando à Inteligência soviética, durante anos, material científico e tecnológico da mais alta importância. Somente para se ter uma idéia: o desenvolvimento do fusível de proximidade, um sofisticado dispositivo de detonação da bomba, custou aos americanos cerca de 1 bilhão de dólares. Julius, que nas mensagens para Moscou era citado pelo codinome “Liberal”, entregou um exemplar desse fusível a Aleksandr Feklissov, seu controlador na rezidentura de Nova York. Quem fez a revelação foi o próprio Feklissov no livro “The Man behind the Rosenbergs”, publicado em 2001. Na época, o fusível de proximidade era o segundo maior segredo militar dos EUA. Graças a ele, os soviéticos conseguiram derrubar, em 1960, o avião-espião U2, pilotado pelo americano Gary Powers, o que elevou dramaticamente a temperatura entre EUA e URSS.

O mais bem guardado segredo militar norte-americano – a bomba atômica (Projeto Manhattan) - teve o mesmo destino. Através de Julius Rosenberg os soviéticos obtiveram dados preciosos que lhes permitiram saltar etapas, avançar em suas próprias pesquisas e detonar seu primeiro artefato nuclear já em 1949, apenas 4 anos depois das bombas americanas em Hiroshima e Nagasaki. Nikita Kruschev, que assumiu o poder na URSS após a morte de Stalin, revelou em suas memórias (“As Fitas da Glasnost”, Edições Siciliano, 1991) que os Rosenberg haviam sido espiões de seu país. Até o Papa protestou contra a pena de morte aplicada aos Rosenberg. Todavia, documentos secretos dos arquivos da União Soviética, divulgados em 12 de julho de 1995, comprovam que os Rosenberg eram espiões e que Julius era o chefe de uma grande rede de espionagem. Segundo o livro, o próprio Stalin confirmou a contribuição “muito significativa” de Julius e Ethel ao projeto da bomba atômica soviética.

Ao lhes ser aplicada a sentença da pena de morte, em 1951, Julius tinha 35 anos; Ethel, 37. A última pessoa a ver os Rosenberg antes da execução foi o rabino Irving Koslowe, que lhes levou um recado do Secretário de Justiça, Herbert Brownel Jr: se dessem um único nome de seus parceiros na espionagem, a execução seria suspensa pelo presidente. Julius Rosenberg e Ethel Rosenberg não deram nenhum nome. Às 20:16 horas do dia 19 de junho de 1953 Julius e Ethel Rosenberg foram executados. Pouco antes dos últimos raios de sol darem início ao Sabah judaico.
No final do verão de 1996, Aleksandr Feklissov retornou a Nova York a fim de participar de um documentário sobre os Rosenberg produzido pelo canal Discovery. Depois dirigiu-se ao cemitério Wellwood e, em frente ao túmulo de Julius e Ethel, em posição de sentido, disse, em voz alta: “Julius e Ethel, aqui estou eu diante de suas sepulturas para prestar meus respeitos. Vocês nos ajudaram fielmente, com devoção e bravura, durante a guerra sangrenta contra nosso inimigo, a Alemanha nazista. Seremos eternamente gratos a vocês! Perdoem-nos por não termos sabido salvar suas vidas. Que a glória e a paz estejam com vocês para sempre”.

Harry Gold, condenado a 30 anos, obteve liberdade condicional em 1966, seis anos após David Greenglass ter deixado a prisão. E morreu em 1972, aos 60 anos. David Greenglass ainda está vivo. Usa pseudônimo e esconde-se em algum lugar nas proximidades de Nova York
Klaus Fuchs, em 1959, após cumprir a sentença de 14 anos em uma prisão inglesa, foi viver na Alemanha Oriental. Morreu em 1988, aos 76 anos.

Estamos em período de luto ainda na primeira fase a próxima será a revolta e a aceitação, depois da revolta, não sei se virá...

Gaspar em inglês fala muito mais depressa que em português:

Durante a tomada de posse do Conselho para o Empreendedorismo e a Inovação, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, Pedro Passos Coelho lamentou que “a cultura média” em Portugal seja a “da aversão ao risco” e que os jovens licenciados portugueses prefiram, na sua maioria, “ser trabalhadores por conta de outrem do que empreendedores”.

Numa intervenção de cerca de vinte minutos, o primeiro-ministro defendeu que “essa cultura tem de ser alterada” e substituída por “um maior dinamismo e uma cultura de risco e de maior responsabilidade, seja nos jovens, seja na população em geral”.

Passos fala do que não sabe, sendo um parasita igual a tantos outros que militou nas juventudes partidárias hoje não teria, nem trabalho, nem emprego como muitos portugueses, nem para ajudante de pedreiro, com o devido respeito pelos ditos, no entanto parece dar-se bem com os outros ... pedreiros e, assim, no entanto, é PM deste sítio.
Digo eu, um pobre como as formigas do meu povo, que as coisas que estes regimes a que ainda chamam de democracias fazem, nos levam a ficar como a Grécia e bem podem os alemães nos continuar a querer chular, eles e os seus bancos, o DB vai cair como muitos outros, o GPM, demonstrou que a crise subprime está numa outra fase de maturação e portanto as dívidas soberanas foram feitas em Wall Streeet e pelos tipos do GS, nos USA e na Europa, daí a colocação dos seus homens nos governos europeus, é uma forma de ocupação, depois de bombardear com a aviação, já não precisam de marines ou de tropa de ocupação.

Passos Coelho referiu-se em especial aos portugueses que estão sem emprego: “Estar desempregado não pode ser, para muita gente, como é ainda hoje em Portugal, um sinal negativo. Despedir-se ou ser despedido não tem de ser um estigma, tem de representar também uma oportunidade para mudar de vida, tem de representar uma livre escolha também, uma mobilidade da própria sociedade”.

Segundo Passos Coelho, a Europa e Portugal precisam de apostar em “modelos de desenvolvimento de valor acrescentado, de forte base tecnológica” para ganharem competitividade económica, e não nos preços baixos.

“Essa não é a competitividade que nos interessa. No curto prazo, no meio da crise em que estamos, claro que é preferível ter trabalho, mesmo precário, do que não ter, claro que é preferível trabalhar mais do que não trabalhar, vender mais barato do que não vender”, mas “o modelo para o futuro tem de ser o de acrescentar valor”, reforçou.

O primeiro-ministro terminou o seu discurso considerando que, para isso, “a economia pública tem de investir alguma coisa” na ciência, na tecnologia, na inovação, mas que também deve haver “uma participação crescente do capital privado” nestas áreas.

Vejam se notam alguma contradição nos discursos...


 

sexta-feira, maio 11, 2012

A dívida de Sócrates

"O colapso da alternância entre conservadores e socialistas, base do sistema partidário e do clientelismo de estado desde a queda da Junta Militar em 1974, condenou a Grécia à saída do euro.

Novas eleições não irão alterar o essencial: para a maioria dos gregos a política de austeridade é insuportável e impõe-se a renegociação do acordo com a troika para garantir a permanência no euro.

No quinto ano consecutivo de recessão, dois meses após credores privados terem perdoado mais de 100 mil milhões de euros na maior reestruturação negociada de sempre de dívida pública e da troika ter avançado com um segundo plano de resgate de 130 mil milhões de euros, consumou-se o colapso político.

A ascensão dos extremos

A forte votação da frente de esquerda radical SYRIZA nos grandes centros urbanos, a concentração do eleitorado conservador em pequenas cidades e áreas rurais, a dispersão de 19% dos votos em partidos que não conseguiram atingir os 3% necessários para representação parlamentar são aspectos novos e relevantes.

A quebra abrupta de socialistas e conservadores, congregando apenas 32% dos votos - menos de metade do conseguido pelos dois partidos em todas as eleições desde 1977 -, resultou na ascensão dos extremos, culminando com a entrada dos neo-nazis no parlamento.

Os 7% dos neo-nazis da "Alvorada Dourada" provam a falência da política de imigração grega e da União Europeia, da incapacidade do estado em garantir funções básicas de segurança perante a crescente criminalidade violenta, e demonstram, sobretudo, a persistência de um virulento nacionalismo de laivos racistas e matriz religiosa ortodoxa.

O voto de protesto, que favoreceu essencialmente a esquerda radical, fortemente nacionalista na sua maioria, não será desviado a curto prazo para os partidos tradicionais podendo mesmo vir a favorecer novas formações populistas.

Da Acrópole só se perfilam no horizonte governos instáveis, com escassa legitimidade política e sujeitos a forte contestação social e os parceiros europeus não podem aceitar financiar Atenas ilimitadamente, por tempo indeterminado e sem garantias de pagamento.

A bancarrota sem demora

O FMI, o BCE e a Comissão Europeia pouco terão de esperar para se confrontarem com a bancarrota grega.

Se o executivo em funções não honrar, na próxima semana, o pagamento de 436 milhões de euros em obrigações que ficaram fora do acordo de reestruturação de Março, os credores recorrerão à via judicial.

O incumprimento porá ainda em causa o plano de privatizações, comprometerá financiamentos do FMI e descartará definitivamente o retorno de Atenas aos mercados internacionais em 2015.

Nenhum executivo grego conseguirá, de resto, reunir condições para impor a curto prazo medidas adicionais de austeridade, cifradas em cortes de 11,5 mil milhões de euros até 2014, e tão pouco poderá propor à troika paliativos de recurso como moratórias no pagamento de juros de dívida.

A UE em 2009, quando a crise grega passou a ser impossível de esconder, não conseguiu definir uma política efectiva para estabilizar uma economia que representa menos de 2% do produto bruto comunitário e viu fracassar em Atenas uma estratégia assente essencialmente na austeridade anti-inflacionária para redução acelerada de défice orçamental e dívida pública e privada.

Após a reestruturação de Março, que deixou nas mãos de privados apenas 27% da dívida grega, o BCE e os estados europeus terão de arcar com o grosso do impacto da bancarrota de Atenas e subsequente saída do euro.

As consequências do naufrágio ateniense poderão vir a ser eventualmente contidas, preservando a moeda única, mas as ondas de choque atingirão em cheio países como o Chipre, cuja banca necessitará de ajuda massiva devido à sua exposição à dívida grega, acentuando temores e especulações quanto a Portugal, Irlanda, Espanha e Itália.

A cicuta

Para muitos gregos depois da grande farra é tempo da cicuta.

Foram agonizando com o veneno em pequenas doses, paralisando a pouco e pouco, mas, agora, no transe do abandono do euro, o sufoco será total.

No "Fédon" Platão legou a mais célebre das lendas sobre a morte de Sócrates, prostrado pela cicuta.
As últimas palavras de Sócrates, dirigidas a um dos seus amigos e discípulos, teriam sido: "Critón, devemos um galo a Asclépio. Não te esqueças de saldar essa dívida."

Nestes tempos desalmados é filosofia de rigor dos mercados tomar estas palavras à letra.

João Carlos Barradas

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