quarta-feira, fevereiro 29, 2012

A hora da verdade chega no Verão

"A terapia vai curar o doente? Esta é a pergunta que neste momento vale (ainda) milhões mas que em breve será respondida. Estamos a entrar na hora da verdade das políticas da troika.

No fim da Primavera, ainda estaremos todos bastante deprimidos com falências, despedimentos e queda da produção. Mas será nessa altura, em meados de Maio, quando ocorrer o quarto exame da troika, que vamos perceber se há luz ao fundo do túnel construído por estas políticas de ajustamento. Quanto à luz propriamente dita, a desejada recuperação, só a vamos ver e sentir efectivamente algures em meados de 2013.

A antecipação que se acabou de fazer descreve a trajectória de sucesso do programa de ajustamento económico e financeiro. Se tudo correr conforme planeado, se as famílias, as empresas e o Estado reagirem conforme se espera, se mais nenhuma tempestade se formar no horizonte europeu, o fim da Primavera anunciará o fim da terapia recessiva. E no Verão poderemos começar a dizer que o pior já passou e poderemos começar a ouvir os economistas a afirmar que estamos a iniciar a recuperação.

O Governo, tal como a troika, considera que estamos neste momento a viver a pior fase da crise, aquela em que a queda da produção é mais significativa. Tal como se pode ver nas últimas previsões da Comissão Europeia - divulgadas na semana passada - e como se percebeu pelas declarações mais ou menos públicas das autoridades portuguesas e dos credores internacionais, a actividade económica continuará a cair ao longo deste ano mas com taxas cada vez mais baixas.

Ninguém tem a certeza de que é assim que vai acontecer. A fase do ajustamento em que estamos não fechou ainda o caminho do pior cenário. Mesmo o ministro das Finanças, que neste momento perscruta os números da economia portuguesa, para encontrar neles aquilo que é menos mau, o máximo que consegue dizer é que espera que a correcção dos desequilíbrios tenha menos custos do que o previsto no programa da troika. Esta mensagem de pura esperança, transmitida por Vítor Gaspar no texto que escreveu na semana passada na revista "Visão", mostra que ainda tudo pode acontecer. E revela, mais uma vez, que até o discurso político, de que depende também a retoma, tem de ser feito a partir da Praça do Comércio.

As previsões - os economistas sabem-no bem - fazem-se da mesma forma que se conduziria um carro a olhar para o vidro de trás. Tudo corre bem se estivermos a conduzir numa recta, o acidente é certo se a estrada tiver uma curva. Como se não bastasse a quantidade e o fechado ângulo das muitas curvas que temos vivido desde que esta crise se iniciou nos Estados Unidos, Portugal está a ser alvo de políticas nunca experimentadas.

Reduzir a dívida e reequilibrar as contas externas, no prazo de dois anos, sem usar a taxa de câmbio e sem poder usar a política orçamental, limitam a terapia à redução do poder de compra e dos custos de produção, a frio, sem o apoio narcotizante da desvalorização que no passado disfarçou mais do que curou as fragilidades da economia portuguesa. Um dia, este tipo de ajustamento teria de ser feito, sem disfarces. Lamentavelmente, está a ser concretizado na pior conjuntura. No Verão saberemos se, finalmente, a economia se regenerou de problemas que se foram acumulando durante mais de três décadas.
"

Helena Garrido

terça-feira, fevereiro 28, 2012

Heart Of Steel

Crise!

"Falta de combustível impede sapadores de Amares de combater fogo no Gerês (mais aqui)"

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A nova Cortina de Ferro

"Antes de ter colocado a cabeça no cadafalso a rainha Maria Antonieta mostrou a sua compreensão pela pobreza dos franceses dizendo: "se não têm pão, que comam brioches". O mundo mudou e os democratas de hoje têm uma receita típica da cozinha de fusão para a Grécia: se não tiverem pão comam o que tiverem à mão. É uma política refinada que não terão pejo de aplicar a Portugal ou à Espanha. A padaria da UE só serve para alimentar a Alemanha, especialmente quando esta precisava de não cumprir as regras aplicadas aos outros países. Agora, como disse o ministro do interior alemão, a Grécia está a ser convidada a pontapé para sair da UE. Mas a austeridade sem fim e os impostos que matam os recursos fiscais (como Portugal está a começar a perceber) é um caminho minado para a desintegração. A UE já decidiu que quer a Grécia fora do euro.

Quer é fazer crer que são os gregos que desejam isso. Há, claro, o "efeito boomerang" de tudo isso: e se a Grécia sair e tiver sucesso, como se sentirão os órfãos da austeridade como Portugal, a Espanha e a Itália? Os países do Norte criaram uma nova Cortina de Ferro: de um lado estão eles, os bons, e do outro os do Sul, os maus. No meio está a França, que tanto pode cair para um lado como para outro. Mas, na sua tentativa de ser um bom aluno, Portugal parece estar a esquecer que, a Sul, se está a criar um novo pólo político onde Mário Monti é claramente o líder. O único capaz de fazer um braço-de-ferro com os países do Norte. Com um trunfo na manga: o proteccionismo económico está a renascer e vai voltar. E desta vez não é como farsa. É como Cortina de Ferro
."

Fernando Sobral

segunda-feira, fevereiro 27, 2012

Night of the Wolf

Um inocente

"Ainda há candura neste mundo. Um Sérgio Monteiro, que é secretário de Estado dos Transportes, informou o povo de que, sob pena de injustiça, será o Estado e não os trabalhadores ou os utentes a pagar as dívidas das empresas públicas do sector.

Só um coração de pedra não se comove com proclamações assim. Para o secretário Monteiro, os assalariados das transportadoras públicas (que aliás irrompem em greve à primeira oportunidade) e os passageiros das transportadoras públicas não integram o Estado. O Estado, nesta fascinante acepção, é uma entidade etérea, financiada etereamente por elfos, duendes, o FMI e outras criaturas míticas. Embora eu, você e toda a gente saibamos que a realidade é diferente, custa perturbar a inocência do sr. Monteiro.

E custará muito mais pagá-la, tarefa que, feitas as contas, vai caber a mim, a você e a toda a gente que, na CP, de carro particular ou a pé, passeia o epíteto de contribuinte num Estado entregue a criaturas de meia-idade tão ternas e irresponsáveis quanto as crianças. Deve ser a famosa ternura dos quarenta. E a irresponsabilidade idem
"

Alberto Gonçalves

E o vencedor é...

"Será talvez irónico que a televisão, responsável pelas maiores atrocidades na história do entretenimento desde a mulher barbuda (correcção: incluindo a mulher barbuda), seja hoje responsável por algumas das produções mais sofisticadas do género. Antigamente o refugo do audiovisual, a televisão desatou a exibir maravilhas como The Wire, Dexter, Arrested Development ou The Office. Em compensação, o cinema já raras vezes ultrapassa o primarismo assumido da banda desenhada ou, o que é pior, o primarismo da banda desenhada com pretensões "artísticas". Os melhores leading men da actualidade, de Hugh Laurie a Michael C. Hall, de Dominic West a Kelsey Grammer, recorrem à televisão para fazer carreira e ao cinema, onde se subjugam aos Pitt e aos Clooney desta vida, para fazer dinheiro. É inegavelmente irónico que o cinema nunca tenha facturado as fortunas actuais, e que a sua celebração anual nunca tenha sido tão épica e mentecapta.

Mesmo em épocas de fartura qualitativa, os Óscares jamais se distinguiram pelo esclarecimento (é escusado lembrar que Hawks, ou Cara Grant não ganharam um único). Em época de escassíssima qualidade, os Óscares distinguem-se pelo ridículo: na falta de filmes, não faltam fitas. Claro que nem sempre o ridículo e as fitas atingem os píncaros de 2003, em que a cerimónia foi reduzida a uma manifestação contra a guerra no Iraque. A imagem de Michael Moore a pedir a Bush que tivesse a vergonha que ele, um charlatão milionário, obviamente não possui simbolizou os abismos de hipocrisia a que a coisa desceu. Mas a coisa desce com regularidade. Não há cerimónia sem um par de vedetas a promover as "causas" a que aderiram na semana anterior (ou, no divertido caso de Sean Penn, vinte minutos antes), de resto a matéria da maioria das misérias a concurso.

No dia seguinte, os media aplaudem a coragem das vedetas. No léxico contemporâneo, "coragem" é o que leva uma pessoa a defender ou criticar o que é defendido ou criticado por quase toda a gente. É lícito louvar o ambiente, o "pacifismo" e "Che" Guevara, ou caricaturar o evangelismo cristão, Margaret Thatcher e o senador McCarthy, um monstro que, embora morto há meio século, as valentes celebridades não cessam de combater. Na verdade, as celebridades só não combatem inimigos reais e realmente perigosos. Os limites do seu activismo definem-se pelas maçadas que o activismo lhes poderá trazer. Grosso modo, os limites são o Islão.

Parece que Sacha Baron-Cohen, criador de Borat, sentiu agora as interdições da famosa "academia", cujo convite para os Óscares estaria dependente da garantia de que o actor inglês não aproveitará o evento a fim de promover O Ditador, paródia de um deposto líder de um país muçulmano. Suspeito que a palavra-chave, aqui, é "muçulmano": com o Profeta e respectivos seguidores não se brinca. À hora em que escrevo, consta que a "academia" deseja afinal integrar a personagem de Baron-Cohen no alinhamento da noite, uma tentativa de controlar danos à qual Baron-Cohen cederá ou não. Inclusive, corre por aí que tudo se resumirá a um truque publicitário combinado por ambas as partes. Pouco importa. O importante é a mera plausibilidade da cautela, uma extravagância num mundo orgulhoso de desafiar interditos excepto o interdito que mata.

Recentemente, transtornados locais promoveram pequenas chacinas a propósito da queima de exemplares do Corão numa base militar americana no Afeganistão. Em geral, as chacinas ou as ameaças não carecem de pretextos tão ofensivos (e dispensáveis). Uma palavra, um rabisco ou uma rábula cómica bastam para suscitar a fúria de quem, na última década, decide o que é admissível no nosso comportamento. Por isso o nosso comportamento se resigna ao medo, uma irrelevância quando restrito ao grotesco circo de Hollywood, um perigo quando alargado ao Ocidente. Logo veremos se o medo voltou a vencer. Ou verão os que seguem pelo televisor a homenagem a este cinema e, até certo ponto, a este Ocidente resignado. A TVI passa os Óscares. Enquanto não vir uma vedeta enxovalhar o fanatismo que conta ou um bom filme premiado, eu também passo.
"

Alberto Gonçalves

domingo, fevereiro 26, 2012

A torneira parlamentar

"Enquanto o País recupera as marmitas utilizadas pelos nossos avós, o Parlamento fervilha de emoção como se vivesse na Disneylândia. Compreende-se que os problemas que afligem os deputados sejam mais requintados e elegantes do que os que ocupam os dias dos cidadãos comuns, como o desemprego ou a saúde e os transportes cada vez mais caros. Assim, na falta de temas mais higiénicos, o Parlamento discute a água.

O Conselho de Administração da AR diz que a introdução de água da torneira nas reuniões parlamentares é 30 vezes mais cara do que a água engarrafada e os jarros custariam 18 meses desta. Alguns deputados acham que a água mineral deveria ser abolida como exemplo contra a produção desnecessária de resíduos, até porque em 2010 se gastaram 78 mil copos de plástico. Por muito menos já se fizeram revoluções. Mas, para haver água da torneira nas reuniões, teria de haver alguém que a fosse buscar à casa de banho o que aumentaria os custos de pessoal. O País não tem água e está a secar. O Parlamento discute se bebe água da torneira ou mineral. Este debate ideológico, numa altura em que o País respira tranquilidade e transborda de riqueza, é estimulante.

Ter ou não ter água da casa de banho é um dilema shakespeariano. Tal como ter ou não um emprego é um problema terreno que não afecta os parlamentares. O Parlamento parece uma prateleira de jarros. À espera de serem quebrados. A questão fulcral da água da torneira que já ocupou dezenas de horas de conversas e resmas de memorandos mostra a utilidade do Parlamento e destes partidos. Quando o Parlamento discute algo de importante devia ser puxado um guizo. Para acordar o País."


Fernando Sobral

sábado, fevereiro 25, 2012

Despedimentos assistidos

"Aqui há umas semanas soube-se que a Soares da Costa obteve um salvo-conduto para dispensar mais de meio milhar de trabalhadores e encaminhá-los directamente para o subsídio de desemprego. Depois disso, todo o sector da construção pôs o braço no ar a reclamar carta branca para negociar rescisões por mútuo acordo com o patrocínio da Segurança Social, sem que cada empresa precise de fundamentar as boas razões porque invoca regimes excepcionais. Em seguida, foi a vez do sector do imobiliário tomar posição na fila reclamando igual tratamento.

É certo que a construção é um dos sectores mais abalados com a travagem a fundo das Obras Públicas e o estrangulamento do crédito bancário, mas as dificuldades estão longe de justificar a transformação de prerrogativas especiais em direitos automáticos. Basta, aliás, ver o caso da Soares da Costa: no ano em que pediu para ultrapassar o limite de rescisões amigáveis encaixou 15 milhões de euros de lucro; em 2011, quando obteve luz verde do Governo para avançar, acumulava 4 milhões de lucros em nove meses. E como por estes dias é difícil perceber porque é que uma sociedade que continua a gerar alguns milhões de lucros precisa do dinheiro da Segurança Social para negociar despedimentos de forma amigável, com certeza que não deixará de aparecer mais um bom punhado de empresas a legitimamente invocar igualdade de tratamento.

Veremos como continuará a responder o Governo à avalanche de pedidos. Mas, para já, parecem confirmar-se os receios de João Proença, da UGT, quando, há umas semanas exigia que estes requerimentos não dependessem unicamente das inclinações do ministro da Economia e que fossem apreciados também pelo da Segurança Social.

Uma dupla tutela sobre a boa utilização de dinheiros públicos daria pelo menos uma oportunidade a Pedro Mota Soares de lembrar a Álvaro Santos Pereira que o principal dever de um Estado é criar condições para o relançamento do emprego, e não constituir-se como assistente em processos de despedimento. Que o subsídio de desemprego foi criado para garantir um rendimento substitutivo do salário a quem cai no desemprego de forma involuntária; não é um mecanismo de apoio do Estado a empresas que querem despedir depressa, barato e com o mínimo de resistência social; nem tão pouco é um fundo que patrões e trabalhadores accionam para compor acordos de conveniência entre as partes, por mais confortáveis que possam ser. E ainda que foi também por causa de desbaratamentos de natureza semelhante a estes no passado que os portugueses já vão ter reformas mais magras, subsídios de desemprego mais curtos e, quem sabe, de futuro, de trabalhar até aos 70 para ter uma reforma condigna.

E se ainda assim não fosse convincente, o ministro da Segurança Social poderia sempre lançar mão do seu derradeiro argumento, que tem invocado amiúde para justificar a amputação de complementos sociais a centenas de pensões de 400 ou 500 euros: "Um euro mal gasto ( ) é um euro que é retirado às pessoas mais frágeis e que mais precisam
". "

Elisabete Miranda

sexta-feira, fevereiro 24, 2012

Canção do Desterro

A deterioração da retoma

"Com tantos riscos em tantas regiões do mundo, não será de estranhar que os investidores acabem por prezar a liquidez nas suas carteiras, fugindo de novo dos activos mais arriscados quando estes riscos de cauda se materializarem.

Desde o ano passado, uma série de desenvolvimentos positivos impulsionou a confiança dos consumidores e levou a uma forte corrida aos activos de risco, a começar pelas acções globais e pelas matérias-primas. Os dados macroeconómicos dos Estados Unidos melhoraram; as empresas "blue-chip" das economias avançadas mantiveram-se altamente rentáveis; a desaceleração na China e nos mercados emergentes foi moderada; e o risco de um incumprimento desordeiro e/ou saída da Zona Euro por parte de alguns membros diminuiu.

Além disso, sob alçada do seu novo presidente, Mario Draghi, o Banco Central Europeu parece estar disposto a fazer o que for necessário para reduzir as tensões no sistema bancário da Zona Euro e nos seus governos, bem como disposto a cortar as taxas de juro. Os bancos centrais das economias avançadas e emergentes providenciaram vastas injecções de liquidez. A volatilidade diminuiu, a confiança aumentou e a aversão ao risco é muito menor – por agora.

No entanto, há pelo menos quatro riscos de deterioração susceptíveis de se materializarem este ano, minando o crescimento global e acabando por afectar de forma negativa a confiança dos investidores e as avaliações que o mercado dá aos activos de risco.

Em primeiro lugar, a Zona Euro está em forte recessão, especialmente na periferia, mas também nas economias centrais, conforme se pode verificar pelos últimos dados, que revelam uma contracção da produção na Alemanha e em França. O aperto do crédito no sistema bancário está a agravar-se, à medida que os bancos se vão desalavancando através da venda de activos e do racionamento da concessão de empréstimos, exacerbando o movimento de contracção.

Enquanto isso, não só a austeridade orçamental está a empurrar a periferia da Zona Euro para uma queda livre da economia, como também a perda de competitividade nessa região irá manter-se, à medida que o alívio perante a menor perspectiva de incumprimentos desordeiros vai fortalecendo o valor do euro. Para restaurar a competitividade e o crescimento nestes países, o euro tem de cair para o valor paritário face ao dólar. E se bem que o risco de um "default" desordeiro da Grécia esteja agora atenuado, irá ressurgir este ano devido à instabilidade política, aos tumultos civis e à maior austeridade orçamental, que transformarão a recessão grega numa depressão.

Em segundo lugar, há provas de uma debilitação do desempenho na China e no resto da Ásia. Na China, o abrandamento económico em curso é inconfundível. O crescimento das exportações está a cair fortemente, passando para negativo face à periferia do euro. O crescimento das importações, sinal de futuras exportações, também registou uma redução.

Da mesma forma, o investimento residencial e a actividade do imobiliário comercial na China estão a diminuir drasticamente, numa altura em que os preços das casas começam a cair. O investimento em infra-estruturas também está a diminuir, com muitos projectos ferroviários de alta velocidade suspensos e com os governos locais e os veículos de titularização a debaterem-se para conseguirem financiamento num contexto de endurecimento das condições da concessão de crédito e de menores receitas provenientes das vendas de terrenos.

No resto da Ásia, a economia de Singapura registou uma contracção pela segunda vez em três trimestres no final de 2011. O governo da Índia prevê um crescimento anual do PIB na ordem dos 6,9% em 2012, o que poderá ser a taxa de crescimento mais baixa desde 2009. A economia de Taiwan entrou em recessão técnica no quarto trimestre de 2011. A economia da Coreia do Sul cresceu apenas 0,4% no mesmo período – o ritmo mais lento de dois anos – ao passo que o PIB do Japão registou uma contracção maior do que o esperado, de 2,3%, com a solidez do iene a penalizar as exportações.

Em terceiro lugar, se bem que os dados dos EUA estejam a ser surpreendentemente encorajadores, a dinâmica de crescimento do país parece que já atingiu o seu auge. O aperto orçamental intensificar-se-á em 2012 e em 2013, contribuindo para um abrandamento, bem como a expiração dos benefícios fiscais que impulsionaram os gastos de capital em 2011. Além disso, atendendo ao contínuo mau-estar nos mercados imobiliário e do crédito, o consumo privado manter-se-á fraco; com efeito, dois pontos percentuais do crescimento de 2,8% do último trimestre de 2011 foram mais um reflexo do aumento dos inventários do que de vendas finais. E no que diz respeito à procura externa, o dólar geralmente forte, de par com a desaceleração global e da Zona Euro, irá enfraquecer as exportações norte-americanas, enquanto os preços do petróleo – que continuam altos – aumentarão a factura da importação de energia, penalizando ainda mais o crescimento.

Por último, os riscos geopolíticos no Médio Oriente estão a crescer, devido à possibilidade de uma resposta militar de Israel às ambições nucleares do Irão. Embora o risco de conflito armado se mantenha baixo, a actual guerra de palavras está a subir de tom, tal como a guerra secreta em que Israel e os EUA estão empenhados em prosseguir com o Irão; e agora o Irão está de volta com ataques terroristas contra diplomatas israelitas. A República Islâmica, que está a ficar cercada pelas sanções de que está a ser alvo, poderá reagir e afundar algumas embarcações para bloquear o Estreito de Ormuz, ou levar ao envolvimento dos seus aliados na região – os xiitas pró-iraninos no Iraque, Bahrein, Koweit e Arábia Saudita, bem como o Hezbollah no Líbano e o Hamas em Gaza.

Por outro lado, há tensões geopolíticas de maior âmbito no Médio Oriente que não vão diminuir – e que poderão mesmo intensificar-se. A Primavera Árabe teve um resultado relativamente favorável na Tunísia, onde começou, mas os desenvolvimentos no Egipto, na Líbia e no Iémen continuam a revelar-se muito incertos, ao passo que a Síria está à beira de uma guerra civil. Além disso, existem grandes receios em torno da estabilidade política no Bahrein e na Província Oriental – rica em petróleo – da Arábia Saudita, bem como no Koweit e na Jordânia – regiões onde há muitos xiitas ou outras populações inquietas.

Além dos países enredados na Primavera Árabe, o intensificar de tensões entre os xiitas, os curdos e os sunitas no Iraque desde a retirada das tropas norte-americanas não anunciam boas perspectivas para um aumento da produção de petróleo. Temos também o conflito entre os israelitas e os palestinianos, bem como as tensões entre Israel e a Turquia.

Por outras palavras, há muitas coisas que poderão correr mal no Médio Oriente e qualquer combinação dessas situações pode trazer medo aos mercados e levar a preços do petróleo muito mais altos. Apesar do fraco crescimento económico nas economias avançadas e da desaceleração em muitos mercados emergentes, o petróleo está já a negociar no patamar dos 100 dólares por barril. Mas o "prémio do medo" poderá elevar ainda mais as cotações, com os previsíveis efeitos negativos que isso terá para a economia global.

Com tantos riscos em tantas regiões do mundo, não será de estranhar que os investidores acabem por prezar a liquidez nas suas carteiras, fugindo de novo dos activos mais arriscados quando estes riscos de cauda se materializarem. Essa é mais uma razão para acreditar que a economia global está longe de alcançar uma retoma equilibrada e sustentável
."

Nouriel Roubini

Não a Keynes e Schumpeter

"No dia em que escrevo esta crónica entramos no quadragésimo segundo mês da era pós Lehman. Após quase três “lustros” de crescimento ininterrupto em Espanha e noutros países, regressámos no final de 2008 à inevitabilidade dos ciclos económicos.

Poucos se lembrarão neste momento, mas na altura prévia à queda do Lehman Brothers falava-se, com a autoridade conferida pelas estatísticas mais imediatas, do final dos ciclos. Eu sim, lembro-me do meu cepticismo perante essa confiança desmedida, suportado no meu pressuposto de que é a condição humana mais primária que nos leva sucessivamente da ganância ao pânico e do pânico à ganância à velocidade da tecnologia disponível em cada momento, o que subjaz realmente nas mudanças associadas aos ciclos económicos.

Mas o regresso a esta inevitabilidade dos ciclos económicos não foi instantâneo. Lembro-me de brincar, num primeiro instante, com a situação da banca e sugerir que, dada a maior cautela que as mulheres demonstram na gestão das economias, se em vez de Lehman Brothers tivesse sido Lehman Sisters ter-se-ia evitado o desastre. Uma vez realizada a gravidade da situação, procuramos receitas macroeconómicas tradicionais, no domínio do pensamento Keynesiano, como antídoto às receitas neoliberais dominantes na década anterior. Percebemos que a situação da banca privada poderia ter sido não um problema de má gestão mas sim de bons aldrabões e, a seguir, apelámos à moralidade e solvência das finanças públicas. Mas, oh surpresa!, as finanças públicas tinham descoberto a engenharia financeira nessa última década e estavam ainda em pior situação que os amorais banqueiros privados.

Descartado Keynes, apelámos ao pensamento Schumepeteriano. O problema passou da banca privada às finanças públicas e daí ao modelo económico.

A solução do problema passava mesmo pela desconstrução criativa dos modelos económicos para recompor as peças e criar um novo paradigma. Pensamento muito próprio dum final de época.

Mas estamos agora a nos capacitar que, para voltar ao crescimento, não podemos reaproveitar as peças do lego para a reconstrução que se deve seguir à tal desconstrução. Precisamos de peças novas: uma força de trabalho com formação diferente, gestores com a coragem que tão frequentemente nos falta, empreendedores com verdadeira vocação de risco, capitalistas com capital e um sistema financeiro que não se limite a bancos insolventes. Sem elas, não há crescimento económico possível e não há criação de meios para recompor as finanças públicas e privadas.

A solução, do meu ponto de vista, está em Darwin. Daqui a uns dias explico o porquê
."

Xavier Rodríguez-Martín

quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Balada de Outono

Emigrem..

1/ "António Nunes Coelho, de 49 anos, ainda esteve vivo “entre 15 minutos e uma hora” depois de ter sido despejado pelo patrão e dois colegas da obra, numa ruela deserta de Bruxelas, onde estava a trabalhar ilegalmente. Depois de ter caído de um andaime, vítima de um ataque cardíaco, em vez de ser socorrido foi transportado de camião e abandonado num local deserto. Segundo declarações de Rik Desmet, sindicalista da Federação Geral de construção FGTB, citado pelo site Lusófonos na Bélgica, o trabalho ilegal no país está a crescer: "Três quartos destas pessoas são originários de países lusófonos (portugueses, brasileiros, cabo-verdianos e angolanos) - (mais aqui).

2/ "Governo volta a aconselhar jovens a emigrar (mais aqui)

3/ "A crise económica e a falta de emprego têm levado milhares de portugueses a emigrar. Só entre 2009 e 2011 foram 65 mil os desempregados que anularam a inscrição nos centros de emprego e que apontaram como razão a emigração (mais aqui)"

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Consumo de combustíveis em Portugal

"O consumo de combustíveis em Portugal continua a diminuir. Em Dezembro verificou-se uma quebra de 6,6%, acentuando assim a evolução que se tem verificado nos últimos meses (mais aqui)"

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“Perigosa corrida ao primeiro lugar”

"Nem os excedentes comerciais são sempre bons, nem os défices orçamentais são sempre maus. É desta forma que Wolfgang Münchau, colunista do Financial Times e jornalista alemão, começa a sua mais recente coluna de opinião na revista alemã Der Spiegel e na qual desanca a posição alemã em relação aos países mais frágeis da zona euro, como Portugal ou Grécia.

O autor, que há dez dias defendeu num artigo no Financial Times que Portugal e Grécia devem falir mas sem abandonarem o euro, argumenta desta vez que “o tema mais importante no debate do euro não é nem a Grécia nem quando é que esta vai deixar o euro. São os desequilíbrios do sector privado. Se o euro se afundar, será por causa deles”.

Num artigo intitulado “Perigosa corrida ao primeiro lugar”, Münchau lamenta que na Alemanha a questão dos desequilíbrios seja tão mal compreendida. “Por cá festejámos quando a Alemanha se tornou campeã mundial das exportações. Isoladamente, a palavra excedente soa-nos como algo bom, ao contrário de défice”, assinala Münchau. “Há um ano, quando se discutiu se a Alemanha deveria reduzir o seu excedente orçamental, economistas alemães compararam isto ao desporto: quando se é primeiro da Bundesliga (principal campeonato de futebol profissional alemão) não se pode melhorar a qualidade da competição passando a perder de propósito. Isso seria ferir a honra atlética do grande exportador mundial”, recorda o autor, que diz depois que “em vez de encontrar metáforas alternativas, gostaria de fazer três perguntas sobre excedentes”: “É moralmente correcto que o objectivo de um país seja o de gerar excedentes? Um excedente é economicamente mais benéfico? Uma união monetária pode viver com permanentes desequilíbrios estruturais?”

Respondendo à primeira questão, Münchau sustenta que “moralmente os excedentes não existem sozinhos”. “Se postularmos que ‘mais cinco’ é moralmente aceitável, então a conclusão lógica é que ‘menos cinco’ também tem de ser aceitável. Nem é preciso um imperativo categórico para aceitar isto. Lógica elementar e alguns conceitos económicos básicos são suficientes”, sublinha, concluindo: “Neste contexto, o desprezo moral pelo défice de alguns países é completamente inadequado.”

O artigo de Münchau foi publicado na quarta-feira e ganha nova actualidade nesta quinta-feira depois de a Comissão Europeia divulgar as suas previsões – que apontam para uma forte degradação das economias de Portugal, Grécia, além de outros seis países que estarão em recessão. Pelo contrário, a Alemanha irá manter-se em terreno positivo.

Estas assimetrias, considera Münchau, “estão profundamente enraizadas na política”. E invocando relatórios recentes da Comissão Europeia, frisa: “Os défices dos Estados do Sul têm sido criticados, ao passo que o excedente da Alemanha não.” Isso ficou bem patente quando, a 14 de Fevereiro, a Alemanha escapou à vigilância reforçada iniciada pela Comissão Europeia a doze países para averiguar se alguns desequilíbrios macroeconómicos emergentes ou já instalados poderão pôr em risco a estabilidade da zona euro. Bruxelas não incluiu o excedente comercial da Alemanha nos alertas, uma eventualidade defendida nalguns países mas que foi firmemente combatida por Berlim.

“O argumento dos ‘assimetristas’ é o de que o problema só pode ser resolvido com melhorias nos países deficitários. Ou seja, estamos de novo no domínio da Bundesliga, num campeonato desportivo: todos querem ser primeiro. O que conduz à segunda questão: os excedentes são do nosso interesse?”

“Um país tem um excedente em conta corrente quando – de forma simplificada – exporta mais do que aquilo que importa. Isso conduz, geralmente, a uma procura interna estruturalmente mais fraca, como sucedeu na Alemanha na década passada. Ora, se todos os países adoptassem o mesmo modelo, isso enfraqueceria os mercados de exportação da Alemanha. O resultado portanto não seria uma melhoria nos países endividados, mas um enfraquecimento geral de todos. No fundo, jogaríamos todos na segunda divisão”, continua o comentador, acrescentando ainda que “um excedente só é uma bênção se os devedores pagarem e se houver estabilidade no sistema financeiro”. “Na Bundesliga, isto funciona de outra maneira. O primeiro lugar é o primeiro lugar.”

Sobre a possibilidade de manter uma união monetária com desequilíbrios internos, Münchau defende a tese de que enquanto a banca funcionar, as assimetrias não têm graves consequências. O problema, afirma o autor, é que “na nossa união, os bancos desconfiam uns dos outros” e os “países do défice não têm qualquer incentivo para abaterem as suas dívidas dado que os bancos centrais financiam imparavelmente o défice do sector privado”, gerando-se assim uma dívida infinita que acabará por explodir algum dia. “É preciso notar que não estou a falar da dívida soberana, mas das dívidas do sector privado. Porque são estas que constituem o grosso dos desequilíbrios em conta corrente na zona euro
”.

quarta-feira, fevereiro 22, 2012

Demónios

"Para os europeus meterem respeito ao mundo será preciso que a União Europeia faça arma comum das energias de cada um sem as deixar retomar a veia fratricida que desta vez nos deitaria, a todos, por terra.

"Quem é o Senhor Schäuble? Quem são estes finlandeses? Quem são estes holandeses? Eu orgulho-me de ter lutado sempre pela democracia grega e pela democracia europeia" assim se indignou há dias o Presidente da República Helénica. Políticos finlandeses e holandeses e o ministro das finanças alemão tinham dado a entender que veriam sem preocupação de maior a saída da Grécia da zona euro, e Schäuble, além disso, recomendara publicamente a Atenas formar governo tecnocrático, sem políticos. Foi a gota d’água que fez transbordar o barril de paciência de Karolos Papoulias, resistente à ocupação alemã da Grécia era ainda rapaz pequeno, anti-estalinista durante a guerra civil que dilacerou a seguir o país, exilado (na Alemanha Federal) durante a ditadura dos coronéis de 1967 a 1974, duas vezes ministro dos estrangeiros e presidente desde 2005.

Em muitas capitais da Europa as suas perguntas caíram bem a quem ouviu nelas a dignidade ofendida de todo um povo. Com efeito, exasperados por anos de aldrabices nas contas e de perdularidade irresponsável dos gregos, alguns chefes políticos e forças vivas do Norte da Europa, perigosamente esquecidos da História (e do papel que os seus bancos desempenharam nas dificuldades financeiras actuais do Sul da Europa) atiraram-se à Grécia num ‘Mata! Esfola!’ populista e moralista, pouco comum em tempo de paz. Ora maniqueísmo assim não tem razão de ser. A Europa pacífica, estruturada e unida de hoje foi fundada e continua a ser construída sobre os escombros de 2.000 anos de massacres recíprocos. Pego apenas nalguns, seguindo o lamiré dado pelas perguntas retóricas do Presidente grego.

Os finlandeses, durante a Guerra Fria, foram neutros não por não quererem entrar para a OTAN (como os suecos) mas por não quererem entrar para o Pacto de Varsóvia; antes disso bateram-se heroicamente contra os russos. Por tudo isso os admiramos mas esquecemos que durante a Segunda Guerra Mundial foram aliados militares eficazes da Alemanha nazi.

Os holandeses (os heróis de Srebrenica em 1995) quando da ocupação alemã de grande parte da Europa durante o regime nazi, foram de todos os países ocupados aquele cujas autoridades mais disponíveis e eficientes se mostraram na caça aos judeus por conta do ocupante que depois os mandava para campos de extermínio. Excepcional, no caso de Anne Frank, foi o talento da rapariga martirizada e a coragem de quem salvou os seus escritos. A denúncia, essa, era moeda corrente.

Quanto aos alemães, Helmut Schmidt, Chanceler de 1974 a 1982, continua a exortar os seus compatriotas, lembrando-lhes que a Alemanha não se redimiu ainda do pecado nazi. Estava quase a chegar lá quando reacções alemãs aos desmandos gregos acordaram demónios.

Por tudo quanto é Europa outros demónios dormitam. Para os europeus meterem respeito ao mundo será preciso que a União Europeia faça arma comum das energias de cada um sem as deixar retomar a veia fratricida que desta vez nos deitaria, a todos, por terra
."

José Cutileiro

Porque é a Índia mais arriscada do que a China

"Crescem os receios de que a China e a Índia estejam prestes a serem as próximas vítimas da actual carnificina económica global. Isto teria consequências enormes. As economias em desenvolvimento e recentemente industrializadas da Ásia cresceram à taxa média anual de 8,5% entre 2010 e 2011 – quase o triplo do crescimento no resto do mundo. Se a China e a Índia são as próximas a cair, a Ásia estaria em risco e seria difícil evitar uma recessão global.

Num sentido, estas preocupações são compreensíveis: ambas as economias dependem fortemente do ambiente económico em geral. A China é sensível aos riscos de quebra da procura externa – mais relevante do que nunca já que a Europa e os Estados Unidos contaram colectivamente para 38% do total das exportações em 2010. Mas a Índia, com o seu grande défice das contas correntes e as necessidades de financiamento externas, está mais exposta às duras condições nos mercados financeiros globais.

No entanto, os receios de um abrandamento brusco são exagerados, em especial no que diz respeito à China. Sim, a China está a pagar o preço dos agressivos estímulos económicos introduzidos durante o pico da crise imobiliária. O sistema bancário financiou o grosso da despesa adicional e, por isso, está exposta a qualquer deterioração na qualidade de crédito que pode ter resultado desses esforços. Existem preocupações acerca da sustentação dos mercados de propriedades e do crescimento da inflação.

Apesar de nenhum destes problemas dever ser minimizado, é improvável que eles desencadeiem qualquer abrandamento brusco. Há muito preocupados com a estabilidade, os responsáveis políticos foram rápidos a tomar medidas preventivas.

Isto é particularmente evidente na campanha dos responsáveis chineses contra a inflação. As medidas administrativas no sector agrícola, com o objectivo de eliminar restrições no fornecimento de carne de porco, óleo de cozinha, vegetais frescos e fertilizante, pressionaram a inflação nos produtos alimentícios. Esta é a principal razão por que a taxa de inflação geral retrocedeu de 6,5% em Julho de 2010 para 4,2% em Novembro.

Entretanto, o banco central da China, que subiu a taxa de juro de referência a um ano cinco vezes nos 12 meses que terminaram em Outubro, para 6,5%, tem agora bastante margem para tomar medidas expansionistas, se as condições económicas se deteriorarem. O mesmo é verdade para as reservas obrigatórias no sector bancário, onde o Governo suprimiu 50 pontos base da taxa de reservas recorde de 21,5%. Défices relativamente pequenos – de cerca de apenas 2% do PIB em 2010 – deixam a China com uma margem adicional de flexibilidade para políticas económicas, se as circunstâncias o exigirem.

Nem tem a China sido passiva no que diz respeito aos crescentes excessos especulativos na propriedade residencial. Em Abril de 2010, implementou regras novas exigentes ao aumentar para 20% a 30% o valor da entrada em dinheiro para a compra de primeira casa com recurso a crédito, para 50% para uma segunda casa e para 100% das compras de três ou mais habitações. Esta estratégia parece estar a funcionar. Em Novembro, os preços das habitações caíram em 49 das 70 cidades que a China acompanha mensalmente.

Além disso, é um sério exagero dizer, como muitos fazem hoje, que a China é uma gigantesca bolha imobiliária. Sim, o total do investimento fixo está a aproximar-se de uns nunca vistos 50% do PIB, mas o imobiliário residencial e não residencial, junto, ascende a apenas 15% a 20% desse investimento – não mais do que 10% da economia no seu todo. Em termos de propriedade horizontal, a construção residencial conta para metade do investimento chinês no imobiliário.

Identificar a quota de imobiliário residencial que vai para os construtores privados em uma dúzia das principais cidades chineses (e que conta para metade do efervescente mercado imobiliário chinês), sugere que menos de 1% do PIB da China estaria em risco num eventual colapso do mercado imobiliário de habitação – o que não é propriamente a receita para um abrandamento brusco.

Quanto aos bancos chineses, o principal problema parece ser a exposição ao crescimento da dívida pública dos governos locais, que, de acordo com o governo, ascendeu a 11,7 biliões de dólares (cerca de 30% do PIB) no final de 2010. Aproximadamente metade dessa dívida já existia antes da crise.

Alguma da nova dívida que resultou dos estímulos pode muito bem acabar por incorporar imparidades, mas a crescente urbanização – cerca de 15 a 20 milhões de pessoas desloca-se para as cidades todos os anos – fornece um enorme suporte à procura de investimentos no desenvolvimento de infra-estruturas e na construção residencial e comercial. Isso limita os riscos para a qualidade de crédito, que em conjunto com os rácios de empréstimos face a depósitos de cerca de 65%, deverão absorver os impactos no sistema bancário.

A Índia é mais problemática. Como é a única economia da Ásia com um défice das contas correntes, os seus problemas de financiamento externo dificilmente podem ser levados com leviandade. Tal como a China, o ritmo de crescimento da Índia está a retroceder. Mas ao contrário da China, a alteração da tendência económica é mais pronunciada – o crescimento do PIB caiu aquém da fasquia dos 7% no terceiro trimestre de 2011 e a produção industrial anual declinou 5,1% em Outubro.

Mas o verdadeiro problema é que, em contraste com a China, as autoridades indianas têm muito menor espaço de manobra na política monetária. Para começar a rupia está quase em queda livre. Isso significa que o Banco de Reservas da Índia – que subiu a taxa de juro de referência 13 vezes desde o início de 2010 para lidar com o ainda sério problema de inflação – mal pode dar-se a luxo de abrandar a política monetária. Além disso, o grande défice orçamental de 9% do PIB limita a discricionariedade da política orçamental indiana.

Enquanto a China está em melhor forma do que a Índia, nenhuma das economias deverá implodir por si própria. Seria necessário outro choque para desencadear uma quebra brusca do crescimento económico asiático.

Uma óbvia possibilidade hoje seria o colapso da União Monetária Europeia. Nesse caso, tanto a China como a Índia, tal como a maioria das economias mundiais, poderia dar por si em sérias dificuldades – com uma contracção brusca das exportações chinesas como no final de 2008 e início de 2009 e pressões agravadas ao financiamento externo da Índia.

Apesar de eu continuar céptico em relação à Zona Euro, acredito que a vontade política avançar com a integração europeia vai prevalecer. Em consequência, atribuo uma baixa probabilidade à desintegração da união monetária. Excluindo a hipótese deste cenário para a Zona Euro, as probabilidades de uma recessão grave tanto na Índia como na China permanecem baixas.

Seduzido pela política económica da falsa prosperidade, o Oeste desperdiçou o seu poder. Conduzido pela estratégia e a estabilidade, a Ásia aproveitou a uma sua nova força. Mas agora precisa de se reinventar. A estagnação ao estilo japonês no mundo desenvolvido está a desafiar a Ásia, dependente do exterior para crescer, a alterar a sua prioridade para a procura interna. As pressões ao crescimento económico que penalizam a China e a Índia sublinham esse desafio. O momento crucial da Ásia pode estar próximo
."

Stephen S. Roach,

segunda-feira, fevereiro 20, 2012

The Final Solution

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Plano Nacional de Leitura

"Para os que se queixam de uma classe política semiletrada, consola saber que um governante gastou uma pequena fortuna em livros. Infelizmente, o governante em causa é o ministro Miguel Relvas, a pequena fortuna é dos contribuintes e os livros são uma edição luxuosa do programa do Governo. Ao que consta, o dr. Relvas aplicou 12 mil euros removidos aos nossos impostos numa encomenda, por oportuno ajuste directo, de cem exemplares da referida obra, impressa a cores em papel couché, encadernada com uma ilustração em alto-relevo e intitulada Compromisso para Uma Nação Forte.

Segundo ouvi, a coisa destina-se unicamente aos membros do Executivo, o que significa que ou estes vaguearam até agora sem uma cópia do próprio programa ou se acham indignos de trabalhar a partir de fotocópias pelintras. Em qualquer dos casos, é algo injusto que milhões de cidadãos tenham de financiar a prenda de uns privilegiados. A injustiça atenua-se um bocadinho quando se conhece o conteúdo daquilo. À semelhança do proverbial Livro, o livrinho é de autoria incerta, provavelmente porque, ao contrário do Livro, o livrinho envergonha quem o escreveu.

Não sendo novidade nos textos do género, e por acaso revelando melhorias face aos predecessores, é sempre deprimente constatar que os indivíduos nomeados para mandar no país não conseguem produzir, ou conseguir quem produza, umas dúzias de páginas em português decente. No momento da respectiva apresentação, enumerei aqui os tiques, os estrangeirismos, os disparates, as parolices e os puros erros que abrilhantam o documento. Em benefício da sanidade universal, não tenciono repetir a proeza.

Desgraçadamente, o Governo repete proezas típicas dos governos anteriores, sobretudo na jovialidade com que dispõe do nosso dinheiro. Claro que os 120 euros de cada Compromisso para Uma Nação Forte não pesam nas contas públicas e valem somente enquanto princípio, mas a soma de tão edificantes princípios costuma redundar num triste fim
."

Alberto Gonçalves

A idade dos porquês

"No final das sessões dos mercados, quem quiser encontrar explicações para as subidas e descidas do dia, basta visitar os sites económicos, ver os repórteres da especialidade nas televisões ou ouvir os analistas na rádio e logo verá a sua curiosidade satisfeita. Mas será que são essas as verdadeiras justificações? Será que aquilo que verdadeiramente move os mercados são esses argumentos que nos vendem?

Também eu, no início do meu interesse pelos mercados financeiros, ficava colado a essas notícias, em busca da explicação para os movimentos do dia. Hoje, 20 anos depois, vejo que a maior parte dessas justificações não correspondem à realidade. À posteriori, é sempre fácil irmos desencantar uma justificação que pareça plausível para aquele comportamento do mercado, mas duvido que na maior parte das vezes corresponda à realidade. No longo prazo, é fácil perceber o que move as acções, mas o seu comportamento no curto prazo é bem mais difícil de associar a algo.

Mas deixemo-nos de explicações teóricas e passemos a exemplos práticos que ilustram bem como funcionam estas justificações. Imaginemos que a Fed decide cortar as taxas de juro, de forma a estimular a economia. Se, no final da sessão, os mercados norte-americanos subirem, rapidamente os comentadores dirão que esse bom desempenho se deveu a este corte de taxas que vai estimular a economia. Mas se, pelo contrário, os índices caírem, rapidamente aparecerá a explicação de que o corte de taxas mostra a fragilidade actual da Economia. Dá para tudo…

Há cerca de 10 anos atrás (ainda eu negociava acções portuguesas), achei interessante a situação técnica da Impresa e decidi comprar bastantes acções. A acção estava calma nessa sessão (como toda a Bolsa portuguesa) e, na última meia hora final fui comprando a quantidade de acções que tinha destinado. A acção não era muito líquida e as minhas compras acabaram por fazer com que a cotação ganhasse mais de 4% sendo o único título de destaque desse dia. Passado alguns minutos, já estava nos sites noticiosos a explicação para a maior subida da Bolsa portuguesa: "A Imprensa destacou-se devido à expectativa de melhoria do mercado publicitário". Fiquei curioso em saber qual teria sido a explicação se eu, em vez de ter decidido comprar, tivesse decidido vender.

Ou seja, neste exemplo, o que levou à maior subida do dia entre as acções portuguesas foi a vontade do comprador mais forte. E como saberiam os jornalistas e analistas qual a minha motivação? Não sabiam, por isso procuraram uma explicação e falharam rotundamente. A razão para a subida foi o facto de, na minha análise técnica, a Impresa estar numa boa posição de entrada.

Não critico os jornalistas. Eles são pagos para produzir este género de explicações. Porque, em boa verdade, o público está ávido por estas explicações. O ser humano precisa de racionalizar tudo, mesmo quando não há razões evidentes. Muitos dos movimentos diários dos mercados não têm qualquer explicação racional. Ou melhor, cada comprador e vendedor tem uma motivação própria, mas achar que conseguimos perceber qual será é julgarmo-nos melhor do que o mercado.

Quando, no final das sessões, alguns leitores me enviam e-mails a perguntar a razão por que aquela acção subiu ou desceu, normalmente respondo que não sei. Porque, na verdade não sei mesmo. Mesmo sabendo que, do lado de lá, essa resposta é frustrante e o leitor continuará na Internet em busca da justificação. E estou certo que encontrará uma justificação. Infelizmente, raramente é a correcta e ainda mais raro é isso ajudá-lo a fazer dinheiro.

Por isso, se alguma vez me quiser perguntar por que é que esta acção subiu ou desceu, não o faça. Os meus amigos já desistiram também
."

Ulisses Pereira

domingo, fevereiro 19, 2012

Chefe, mas pouco

"Avisado pela experiência de José Sócrates, há três anos, e pela própria em Guimarães, há dias, Cavaco Silva cancelou uma visita à escola secundária António Arroio para evitar o enxovalho das vaias. Face ao episódio de 2009, ficamos a saber que os meninos da dita escola continuam com dificuldades de comunicação (não se percebe bem o que protestam), continuam sem distinguir a independência opinativa da chinfrineira mimada (em democracia, um bando a gritar ofensas é sempre sinal de má-criação) e continuam a reproduzir o insulto mais irrelevante entre os insultos irrelevantes (em Portugal, a falta de um refeitório é um acto "fascista"). Suponho que, para uma escola designada "artística", também continuem a não dominar rudimentos de História de Arte e a se afirmar "futuristas" (o braço cultural do fascismo de facto).

Dito isto, um presidente da República que prefere preservar a sua "imagem" a enfrentar tontinhos pode não merecer os impropérios dos tontinhos. Mas começa a não merecer muito melhor
."

Alberto Gonçalves

sábado, fevereiro 18, 2012

Os Marretas e a UE

"Num dos mais fabulosos diálogos de "Os Marretas", Cocas vira-se para Fozzie e pergunta-lhe: "Onde é que aprendeste a conduzir?", e este responde-lhe: "Tirei um curso por correspondência". A UE está agora à mercê de múltiplos Cocas e Fozzies e todos tiraram a licença de governar por correspondência. Aquilo que nasceu para ser um conto de fadas, a UE, tornou-se um "reality show" de vampiros. Onde só interessa o sangue e as pessoas são dispensáveis. Em vez do paraíso serviu-se friamente o inferno aos países mais quentes. Depois da austeridade forçada a Grécia demorará muitos anos a recuperar. Portugal, atado à Grécia mesmo sem querer, poderá ser colocado de quarentena e vigilância no manicómio da UE. Há diferenças entre os dois países, como não se cansam de dizer os políticos portugueses. Há e são visíveis. Para o ministro grego das Finanças há uma fundamental: os portugueses têm mais paciência. Só que esta também é um copo de água e transborda.

Quando, depois de múltiplas sevícias de austeridade, os portugueses continuarem a ver um desemprego galopante, a paciência não servirá nem para comer. Diálogo e paciência costumam ser o Cocas e o Fozzie da democracia. Hoje são formas de engolir a humilhação. A política seguida por sucessivos governantes e o seu clube de amigos está a ter uma capacidade notável para transformar uma agradável sociedade de consumo num beco de rebeliões. Aí se verá se a paciência se transforma em azeite e também é combustível. A austeridade é uma política. Mas não pode ser um fim. É por isso que o Governo tem de perceber que o saque fiscal tem limites
."

Fernando Sobral

sexta-feira, fevereiro 17, 2012

Uprising

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Curiosidades...

"Taxa 'real' de desemprego já supera os 19% (mais aqui)" O secretário de Estado Adjunto da Economia, Almeida Henriques, afirmou hoje que a taxa de desemprego em Portugal "está um bocadinho acima do que era expectável", mas admitiu que ainda se poderá agravar "um pouco mais" nos próximos meses (mais aqui)

"Carris acaba com quatro carreiras e corta trajecto de outras sete (mais aqui)"

"É o nosso dinheiro que está ali a arder??? (mais aqui)"


"Mais de oito mil portugueses concorreram aos empregos da cidade alemã (mais aqui)"

"Consumo de gasóleo teve em Dezembro maior quebra desde 1990 (mais aqui)". Consumo de electricidade com maior quebra em 20 anos (mais aqui)


"O presidente da Alemanha (Christian Wulff um conservador que a chanceler Angela Merkel conseguiu eleger dificilmente para a presidência em Junho de 2010)apresentou a demissão no castelo de Bellevue, em Berlim, na sequência de um requerimento da procuradoria geral de Hannover ao parlamento federal para lhe ser levantada a imunidade, por suspeita inicial de corrupção passiva (mais aqui).

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O mito do crescimento

"Se a China atingisse o patamar de consumo de bens que presentemente caracteriza as economias desenvolvidas, com as actuais tecnologias, colocaria pressão insuportável sobre os recursos naturais, cujo aumento de preço actuaria como restrição activa à expansão da oferta

Actualmente, acredita-se que as pessoas têm de ser jovens, as princesas belas e que as economias têm de crescer incessantemente. Todavia, como a maioria dos fenómenos humanos, as economias obedecem a ciclos caracterizados por fases, mais ou menos longas, de expansão, seguidas de recessão e renovada expansão. O ressurgimento económico chinês é exemplar a esse respeito. Assim, importa perguntar: justificam-se crescimentos mais acelerados nas economias avançadas?

Uma das propostas para aceleração do crescimento das economias desenvolvidas consiste na recomendação de aumento da despesa pública tradicional para promoção da procura interna. Contudo, face ao padrão de consumo/bem-estar alcançado por estas sociedades, impõe-se promover mais? Faltam clamorosamente infra-estruturas e serviços públicos? Quantos telemóveis pode uma pessoa ter? Deficiente procura ou oferta excedentária? Se a China atingisse o patamar de consumo de bens que presentemente caracteriza as economias desenvolvidas, com as actuais tecnologias, colocaria pressão insuportável sobre os recursos naturais, cujo aumento de preço actuaria como restrição activa à expansão da oferta. Por outro lado, o Japão na década de 1990 adoptou praticamente todo o cardápio de receitas destinadas a promover a procura interna (por ex.: construção de infra-estruturas ou soluções heterodoxas como cheques de compras com validade curta para incentivar o consumo), sem resultados sustentáveis.

Nalgumas economias desenvolvidas considera-se que ainda há espaço para políticas tradicionais de estímulo; contudo, a dívida pública média nas economias avançadas em 2012, segundo o FMI, será de 108% do PIB. Na Alemanha, é um pouco menos: 81%. Com crescimento nominal previsto destas economias na ordem dos 3,5% e taxas de juro de 3% a 4%, assegurar trajectórias de dívida sustentável deixa pouca margem de manobra para iniciativas expansionistas. Mais, na Alemanha, que dispõe de folga para executar políticas públicas mais expansionistas, não há garantias de que a população consuma mais. Como no Japão, pode encarar acréscimo de despesa pública como necessidade acrescida de poupança para prover a impostos futuros. Acresce que, na medida em que se está perante uma população envelhecida, a folga presente será erodida progressivamente ao longo do "Inverno demográfico" para suportar crescentes despesas de consumo (saúde, lazer...).

Há, contudo, campos de actuação pública promotores de crescimento. A melhoria de perspectivas económicas nos países nórdicos beneficiou fortemente de políticas de apoio à natalidade adoptadas nos anos 1990. Recorde-se que, embora o PIB real "per capita" japonês tenha crescido o mesmo que o dos EUA entre 2000-2011 (6,5%), globalmente o PIB real americano expandiu-se 18%, que compara com 7% no Japão. A promoção do crescimento em muitos países desenvolvidos entronca em avanços na eficiência energética e diminuição da dependência do petróleo: área onde o Estado tem uma acção decisiva. Finalmente, alguns dos exemplos recentes mais notáveis de crescimento equilibrado, como Alemanha, Canadá ou Israel, beneficiaram de políticas públicas de maior inclusão e participação no mercado de trabalho. A protecção e os benefícios sociais foram reduzidos e alinhados com o envolvimento dos beneficiários, como é o caso do imposto negativo sobre rendimentos do trabalho em Israel (abaixo de uma fasquia recebem reembolso fiscal); mas, o rendimento aumentou e o desemprego diminuiu
."

Cristina Casalinho

quinta-feira, fevereiro 16, 2012

Remember...

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A Grande Regressão

"A propósito da crise tem-se falado muito da Grande Depressão e da Grande Recessão. Mas, em Portugal, o que estamos a assistir é a um ciclo ainda mais assustador. Estamos perante a Grande Regressão, o regresso ao passado dos anos 40, 50 e 60 do século XX, antes do período de crescimento económico que alterou as cidades portugueses e os hábitos, educação e cultura destes.

Estamos, quase sem repararmos, a retornar ao Portugal que foi retratado por Vítor Palla, por Gerard Castello Lopes ou por Orlando Ribeiro, onde, muitas vezes a preto e branco, se vislumbrava um povo entre a miséria, o Fado e o desespero por o destino lhe ter sido confiscado.
A crise actual de Portugal é também a estocada final no regime que surgiu em Portugal em 1974. Onde se sonhou alto, mas onde sucessivas gerações de políticos (e de clientes fixos na área das rendas e das cumplicidades) deixam esta herança: uma sopa dos pobres "take-away" disponível para todos.


Na temível guerra entre a austeridade e o crescimento a que assistimos, as vítimas são os povos, sobretudo os pobres e as outrora imponentes classes médias, saqueadas pelo Estado de forma directa e indirecta. O que estamos a assistir em Portugal é à destruição do "status quo" criado após o 25 de Abril que hoje permite que o Estado tire subsídios de Natal e de férias e aumente os escalões de IRS enquanto os preços dos transportes, da saúde e da educação explodem e, do outro, os concessionários das PPP recolham 1.520 milhões de euros dos contribuintes, mais 30% do que o previsto. Esta foi a equidade legada por esta classe política ao seu povo.

Como os outros países do sul da Europa, Portugal está a sofrer uma mistura de política fiscal saqueadora, aumento exponencial do desemprego, cortes nos salários (de forma directa e indirecta), elevada dívida pública e privada e juros extremamente altos no mercado. Como "cocktail" não é propriamente um doce. Mas poderia servir para Portugal se reformar a sério. Só que a reforma não pode ser apenas no Estado e através do saque fiscal. Terá de atingir quem vive de rendas, como as concessionárias das PPP. É quase inconcebível que o Governo, até hoje, ainda não tenha tentado ver como estancar esta sangria sem fim dos fundos dos contribuintes.

O Governo está a levar Portugal de regresso ao início da década de 60 do século XX. A União Europeia, na sua pretensa superioridade moral, está a mostrar uma arrogância que lhe será fatal. A moeda única não aguentará apenas porque os líderes políticos se comprometem por escrito a cumprir austeridades sem fim. Porque se assinam o que os mercados, a UE e o FMI lhes colocam à frente em troca do cheque, começam a ter pela frente um efeito contrário: o das ruas. A classe política, como se está a ver na Grécia, está a perder a mão sobre os cidadãos e as ruas. E o gás lacrimogéneo não resolverá tudo.

Entre os mercados financeiros e a rua, a classe política não poderá passar os dias a fingir que é polícia bom nuns e mau nos outros. Agora, o Governo de Pedro Passos Coelho tem de entender que esta Grande Regressão tem de ter um fim.

Não faz sentido conduzir uma economia para a recessão que impede as pessoas de trabalhar ao mesmo tempo que se coloca nelas a canga de cada vez mais impostos. O crescimento não começa só com o investimento bancário mas com a procura. Ou com mais dinheiro a circular nas ruas. É preciso controlar as despesas do Estado. Mas em todos os sectores, incluindo os das rendas. Mas a austeridade sem fim não levará este país a lugar nenhum. Poderá, quanto muito, levar-nos a uma sinistra Terra do Nunca.
"

Fernando Sobral

Quem são eles?

"Não aceito os insultos do Senhor Schaüble ao meu país... Não o aceito como grego. Quem é o Senhor Schaüble para ridicularizar a Grécia? Quem pensam que são os holandeses? Quem pensam que são os finlandeses? Temos o orgulho não só de defender a nossa liberdade, não apenas o nosso país, mas a liberdade de toda a Europa (mais aqui)"

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quarta-feira, fevereiro 15, 2012

40:1

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Schadenfreude

"Schadenfreude é uma palavra que só existe na língua alemã, tal como ‘saudade’ só existe para os portugueses e galegos. Os estrangeiros quando tentam traduzir a palavra ‘saudade’ dizem que é uma espécie de nostalgia.

Quando tentam traduzir ‘schadenfreude', não tendo uma palavra com igual acepção, dizem que é uma espécie de sentimento de alegria ou prazer pelo sofrimento ou infelicidade dos outros.

Esta palavra vem a propósito da crise europeia que a Alemanha está há mais de dois anos a tentar resolver, de uma forma quase unilateral, e com pouco sucesso. Pedir à Alemanha que resolva a crise na Europa é a mesma coisa que pedir a uma empresa de venda de armamento para servir de mediadora num processo de negociação de paz. Porque, quer se goste, quer não se goste, a Alemanha está a ganhar com a crise.

Na maior crise financeira dos últimos 80 anos, o PIB alemão está a crescer 3% e o desemprego caiu para os 6,7%, o valor mais baixo dos últimos 20 anos. Os sindicatos da função pública e do sector metalúrgico estão a negociar aumentos salariais a rondar os 6,5%. O défice alemão caiu para 1% e ficou abaixo dos 3% impostos pelo PEC pela primeira vez em três anos.

A economia alemã tem uma balança comercial altamente excedentária e, na semana passada, foi anunciado que as exportações ultrapassaram, pela primeira vez, a mítica barreira de um bilião de euros. E se pensam que os alemães estão deslumbrados com o consumo e não estão a poupar, desenganem-se: a taxa de poupança ultrapassou os 17%, a mais alta da Europa. Mas as boas notícias não se ficam por aqui. A Alemanha está a beneficiar do fenómeno do ‘flight to quality' na Europa, com os investidores a fugirem dos países periféricos para se refugiarem nas ‘bunds'. Berlim está a vender dívida de curto prazo com ‘yields' negativas, o que quer dizer que os investidores estão dispostos a perder dinheiro para emprestarem à Alemanha.

Este tem sido o grande erro da Europa. A crise está a ser resolvida por quem está a ganhar com a crise e o papel das instituições europeias (Conselho e Comissão) tem sido uma nulidade. Hoje todos nós sabemos quem é a senhora Merkel e o senhor Schäuble, os senhores que mandam nisto tudo. Mas se perguntarem aos europeus quem é Van Rompuy são capazes de dizer que é uma marca de aspiradores. Catherine Ashton deve ser alguma espécie de automóvel de alta cilindrada, Juncker algum tipo de esquentador e Barroso é capaz de ser um bom vinho português.

Enquanto esta arquitectura de poder se mantiver na Europa, e enquanto tivermos uma Europa a duas velocidades, vamos ficar sempre com esta sensação de que os alemães estão a sentir aquela coisa do ‘schadenfreude'.
"

Pedro Sousa Carvalho

terça-feira, fevereiro 14, 2012

"Ghost Division"

"

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Portugal para aonde vais?

1/ "Portugal é terceiro da OCDE com mais desempregados (mais aqui)"

2/ "Queda do PIB duplicou no fim de 2011 (mais aqui)"

3/ "Economia portuguesa "está em risco de colapso" por falta de financiamento (mais aqui)"

4/ "As estatísticas, na sua frieza, mostram um cenário de incumprimento sem paralelo. São cada vez mais as famílias sobreendividadas, a quem o crédito levou tudo (mais aqui)"

5/ "Portugal a caminho do quarto ano de recessão (mais aqui)"

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Milagres


"O secretário-geral da OCDE, Angel Gurria, declarou hoje que o "milagre no mercado de trabalho alemão é uma lição para os outros" países da Europa (mais aqui)"
Quando um dia alguém desvendar o “mistério”, será interessante ouvir alguns comentários dos mesmos…

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segunda-feira, fevereiro 13, 2012

Rise of Evil

Privatizem a gestão da Caixa

"Faz três anos que a Caixa assinou o que titulámos então de "escandaloso negócio com Manuel Fino", um acordo para as dívidas do empresário com acções da Cimpor. Foi um cobertor para o estertor. Ei-lo de novo, em dose tripla: de Fino, da Caixa e da Cimpor. José de Matos devia pendurar as contas de 2011 à frente da mesa onde atende os telefonemas do Governo: para se lembrar do que custa dizer "sim".

José de Matos não é Luís de Matos, não faz ilusionismo. Estes prejuízos limpam anos de sarcófagos. Não há fábula, agora é o príncipe que, beijado, se transforma em sapo. E assim se percebe que esta administração pôs cá fora o que pelo menos duas administrações andaram a fazer ou a esconder. Os valores de provisões e de imparidades (1,6 mil milhões de euros!) são como confissões de crimes que prescreveram: não comprometem esta administração (embora comprometam alguns dos seus administradores).

Ouvir José de Matos dizer que "a Caixa vai concentrar-se na actividade bancária" revela um ridículo inteiro. É como ouvir um hotel dizer que vai dedicar-se à hotelaria ou uma pedreira às pedras. Para trás estão investimentos ruinosos na diversificação (por exemplo na saúde), na internacionalização (em Espanha), em participações financeiras (a lista é interminável), em empréstimos sem garantias, a famosos, a amigos do Governo e a financiadores de partidos. As imparidades "esmagaram os resultados", diz Matos. É verdade. Mas as imparidades não são meteoritos inexplicáveis que caem do céu. Eles nasceram da terra onde se semearam jogatanas de poder. Com o BCP à cabeça, no que se tornou um "arrastão" maior de falhados e de quem os financiou: incluindo nós, sem o sabermos.

Manuel Fino foi um dos arrastados pelos cânticos suicidários do BCP. O empresário está pouco mais do que falido, não tem como pagar dívidas de centenas de milhões, e pede uma moratória à Caixa, para não perder o que resta da Cimpor para as duas hienas brasileiras, Votorantim e Camargo, que se preparam para passar da partilha ao espartilho da cimenteira que já foi portuguesa. Manuel Fino tem uma vida inteira de industrial, não de casinada bolsista, pelo que este desfecho é especialmente cruel. Além disso, o "capitão de indústria" revela uma dignidade no seu declínio como é raro assistir no país das aparências. Mas isso, que torna a perda de Fino desgostosa, não a iliba.

Só a Caixa separa a Cimpor do seu desmantelamento. Mas ele não é responsabilidade sua, é dos accionistas que em vez de a gerirem, a usaram como garantia de empréstimos alucinados. Foi aí que a Caixa não se concentrou "na actividade bancária", mas noutra coisa qualquer que só o Diabo poderá escrever. Mas é também verdade que Armando Vara tem as costas largas: os empréstimos foram aprovados por conselhos de crédito numerosos. Ou todos os seus membros, que têm nome, eram incompetentes, ou alinhados ou medrosos.

Já não vale a pena propor que privatizem a Caixa, não há dinheiro para comprá-la, mesmo que uma Caixa privada jamais fizesse o mal que esta fez - e se fizesse, seria aos seus accionistas, não aos contribuintes. Mas além de mais um aumento de capital e do início tardio da venda de activos pede-se, por favor, uma nova era na gestão do banco. A era do "não", do "não" aos partidos, aos Governos, às cunhas, aos amigos, aos políticos e às ocasiões. É isso que se pede à equipa de José de Matos, agora que acabou a faxina das contas.

Os prejuízos de 2011 da banca são como álcool em ferida, ardem mas curam. E evidenciam que foi a Caixa e o BCP que mais asneiras fizeram, incluindo nas inacreditáveis fragilidades das garantias dos seus empréstimos. Mas agora a Caixa recomeça do zero. Quer dizer, do menos 488 milhões.

PS: Fonte do Governo de José Eduardo dos Santos, sobre o BCP, ao "Novo Jornal": "Com uma crescente influência de Angola na condução desta nova fase da vida do Millennium poderemos, a médio prazo, levá-lo a investir em geografias que maiores sinergias geram no processo de internacionalização das nossas empresas e, neste quadro, estabelecer parcerias equilibradas e contribuir para a diversificação económica". Não é verdade, pois não? Não é verdade que com menos 15% já mandem assim no BCP, pois não? Não substituiremos um Estado pelo outro, pois não?
"

Pedro Santos Guerreiro

A estratégia Bart Simpson

"Portugal, às vezes, é como Bart Simpson. Finge que é um bom aluno, diz que é um incompreendido e, ciclicamente, há um qualquer Homer com a cabeça perdida que o tenta estrangular. Em vez de Marge, quem costuma salvar Portugal é a divina previdência ou um milagre. Estamos à espera de que tal aconteça. E é por isso que Vítor Gaspar mostra o que aprendeu, quer com Bart Simpson quer com Maquiavel: o mal faz-se de uma vez e o bem aos poucos.

A eloquente e gongórica arte do sussurro desenvolvida entre Wolfgang Schauble e Vítor Gaspar mostra que a solução para a crise portuguesa se baseia no teatro de sombras chinês: fingimos de bom aluno, fazemos de elegantes dançarinos e prosseguimos a nossa vida. Agora como aluno estudioso, às vezes como cábula, outras como esponja. Tudo pareceu uma reverência do aluno para com o mestre, mas se bem repararmos será assim que talvez se consiga caminhar através das areias movediças sem nos afundarmos. Gostaríamos que Vítor Gaspar se assemelhasse mais a Bart Simpson. Mas só temos amor para dar em troca de dinheiro, apesar dos Beatles terem um dia cantado que o dinheiro não compra o amor. Da arte do sussurro desvendada pela televisão pareceu evidente que era Schauble que se desculpava perante Gaspar, como se carregasse a culpa da incompreensão alemã.

Com a Alemanha temos de ser orgulhosos (como fez Paulo Portas diante de Martin Schulz) e coniventes como Gaspar perante Schauble. Nenhuma estratégia é vencedora sem utilizarmos com sapiência a táctica. No fundo, não foi Gaspar que se vergou a Schauble. Foi este que se envergonhou da culpa alemã.
"

Fernando Sobral

domingo, fevereiro 12, 2012

Os piegas

"Em tempo de privações, os países civilizados discutem o que se deve fazer. Nós discutimos o que se deve dizer. Nessa linha, não surpreendeu que o tema da semana fosse o apelo do primeiro-ministro para que fôssemos, passo a citar, "menos piegas". É certo que a frase parece uma adaptação pelintra do "sangue, suor e lágrimas" celebrizado por Churchill, revista à escala da crise e do emissor. Mas também é verdade que muitos dos destinatários não merecem maior sofisticação. Não consta que os ingleses de 1940 se sentissem ofendidos por um governante lhes oferecer secreções corporais. Porém, inúmeros portugueses de 2012 tomaram a peito o desabafo do dr. Passos Coelho. O Bloco acusou-o de insultar o povo. O PS acusou-o de flagelar o povo. E, naturalmente, o PCP prometeu resposta do povo em manifestação próxima.

Entretidas com a blasfémia, nenhuma destas forças ultrajadas criticou, por exemplo, o processo de reforma da administração local. E se o fizeram, as críticas deveram-se a reflexos con- dicionados e não a argumentos reais. Ou a uma simples evidência: a reforma em causa, justamente chamada de "reorganização" e limitada à supressão de uns 30% das freguesias, é um engodo e, se nos der para rir de coisas tristes, uma anedota. O acordo com a troika previa a extinção de uma percentagem substancial e sensata de municípios. Aflito, o Governo depressa tomou as providências necessárias para que não se extinguisse um único e para que o propósito descesse àquele limbo onde em Portugal falecem todos os arremedos reformistas. De repente, analisa-se (digamos) uma brincadeira periférica, leia-se a quantidade de freguesias, como se o problema a sério, leia-se a quantidade de municípios, nunca tivesse sido sequer colocado. O Governo mostra-se inflexível, o lóbi dos autarcas finge-se escandalizado e tudo termina no exacto ponto em que começou. Ou quase, o que é o mesmo e é igual.

É óbvio que os autarcas constituem uma parte essencial das clientelas partidárias, por definição intocáveis. Pior ainda, é notório que o amparo das clientelas, excelentemente representadas no executivo pelo dr. Relvas, não se esgota nas câmaras municipais. O país está repleto de degenerescências do género, uma interminável rede de empregos estatais na letra ou no orçamento que, no fundo, são a unidade monetária em vigor na política.

Só um milagre ou a distracção do dr. Relvas permitiriam que o Governo beliscasse de facto tamanha fortuna. Milagres não existem e o dr. Relvas não se distrai. Salvo alterações cosméticas, é garantido que nada ficará diferente do que era antes, e que os prometidos "cortes" nas gorduras do Estado significam, afinal, o ritual emagrecimento dos contribuintes. O Governo "neoliberal" da lenda prescreve a solução do costume e, em vez de reduzir despesa, extrai, crescentemente à imagem de um tumor, receita. E os que se queixam mais alto, queixam-se do que não interessa, aliás a própria definição de pieguice.
"

Alberto Gonçalves

sábado, fevereiro 11, 2012

Os chimpanzés e as agências de ‘rating’

"Burton Malkiel é um conceituado economista e professor de finanças na Universidade de Princeton. Na sua obra mais conhecida, ‘A Random Walk Down Wall Street’, Malkiel expôs uma tese controversa: se dermos a um chimpanzé a possibilidade de lançar uns dardos às páginas com as cotações no The Wall Street Journal, os dardos marcariam um conjunto de títulos que, em média, poderia ter um comportamento semelhante a uma carteira escolhida por um investidor ou por um gestor de fundos.

Esta tese sobre a eficiência dos mercados foi considerada uma afronta pelos gestores de carteiras que ganhavam a peso de ouro para fazer o ‘stock picking' de acções, supostamente de uma forma menos aleatória do que um chimpanzé.

Esta polémica vem a propósito de um estudo recente feito pela Autoridade Europeia dos Mercados Valores Mobiliários (ESMA), que em Portugal é representada pela CMVM, e que vem questionar, pela evidência dos dados, o papel ou a utilidade das agências de ‘rating'.

Segundo este estudo, de 2007 até 2011, 77% das situações de ‘default' de empresas europeias ocorreram em títulos que estavam avaliados pelas três principais agências com notações acima do ‘rating' ‘CCC' - patamar estabelecido pelas agências de ‘rating' para identificar os emitentes com elevado risco de incumprimento. Esta realidade é também válida ao nível da classificação de risco dada aos países. De acordo com a ESMA, entre 2000 e Julho de 2007 ocorreram 52 ‘defaults' soberanos em todo o mundo e apenas 13% dos episódios deram-se em títulos que apresentavam uma classificação de ‘CCC' ou inferior.

Exemplos não faltam. Veja-se o caso da Enron ou da Worldcom cujos erros de avaliação por parte das agências traduziram-se em perdas acumuladas superiores a 175 mil milhões de euros a investidores de todo o mundo. Ou veja-se o caso da Islândia ou ainda da Lehman Brothers que tinha um ‘rating' de ‘A+' 180 dias antes da sua falência.

Depois do falhanço rotundo em classificar o nível do risco dos produtos associados ao ‘subprime', que convém nunca esquecer estiveram na origem da crise que ainda hoje estamos a viver, estes números dizem muito sobre a qualidade e a utilidade do trabalho que é desenvolvido pela Fitch, Moody's e Standard & Poor's.

É caso para perguntar se um chimpanzé, que se contenta com um cacho de banana e nem sequer nos cobra um ‘fee', não faria melhor
."

Pedro Sousa Carvalho

sexta-feira, fevereiro 10, 2012

Livre arbítrio



O livre arbítrio, que quer dizer, o juízo livre, é a capacidade de escolha pela vontade humana entre o bem e o mal, entre o certo e o errado, conscientemente conhecidos.


O internacionalismo maçónico contaminara-nos já desde atrás, com os soldados que serviram a fortuna de Napoleão e que no regresso nos empurravam francamente para a União Ibérica, saudada e propagada nas Lojas Peninsulares como o triunfo maior da causa da Liberdade. Só numa história escrita ao contrário, como a nossa anda, é que Gomes Freire pode figurar de mártir da Pátria. O militar valente, mas desnacionalizado, da epopeia napoleónica não era o único, porém. Os seus irmãos do triângulo simbólico enraizaram-se farta e fortemente no solo português, mal o senhor Intendente deixou de farejar por toda a Lisboa do começo do século findo os agentes perniciosos da grande conspiração universal que foi, na verdade, a Revolução. Pois da Maçonaria descende o nosso Liberalismo, como da Maçonaria surgiu esta República, já adivinhada e procurada com entusiasmo de sentimento e oratória pelos homens de 1820.





Ontem o Liberalismo, agora a Democracia, não são senão as fachadas dum poder oculto que, no subsolo da política, a manobra a seu bel-prazer. Tal poder é o da Maçonaria, inimiga desde sempre de tudo quanto seja para Portugal o renascimento das suas velhas qualidades de fé e de disciplina


A desnacionalização começa pelo desenvolvimento progressivo do Liberalismo, que é uma forma espiritual do Semitismo, como criação directa da Maçonaria. Perdido o sentido tradicional da nossa antiga vocação, a calúnia da nossa história completa a sua obra, desenraizando-se e desfibrando toda aquela forte autoctonia-lusitana, que, com raiz nos nossos municípios, escrevera a epopeia admirável de Quatrocentos. (António Sardinha in «Durante a Fogueira»)





Paulo de Tarso, na sua "Epístola aos Romanos" 9:21, põe a questão: "Porventura não é o oleiro senhor do barro para poder fazer da mesma massa um vaso para uso honroso e outro para uso vil?"


O que somos então hoje?


Um povo e uma Nação vilipendiados por gente da Alemanha, à Finlândia ou à Bélgica um falso Estado, porque não existente de facto e portanto a prazo, como esta Europa da União, assim chamada de União Europeia.


Só o livre arbítrio nos poderá salvar, porque nos deveremos livrar, das contaminações vindas da Maçonaria,  das agremiações políticas, vulgo, partidos políticos, que interpretaram as filosofias nas quais dizem basear os seus princípios em meros instrumentos de utilização do Estado e dos bens da Nação, em seu favor, ou seja, o nepotismo, a burla, o roubo puro e simples, a associação criminosa, o poder da plutocracia que suborna, deixando o cidadão que acredita na boa fé do Estado à mercê desta imensa matilha que tomou de assalto o Estado nos seus vários poderes.


Está na hora de utilizarmos então o livre arbítrio, sem rebanhos e sem capatazes, sem controleiros ou cães de fila, porque não somos de facto todos  decerto, aquilo que um tipo não eleito nos chamou há dias, porque se olhou ao espelho e ao olhar não gostou do que viu,  porque viu aquilo que a outros apelidou,  e assim, não poderemos continuar a tolerar gente que destruiu este país, seja o senhor Silva, o senhor Sócrates ou o senhor Coelho.
 Está chegado o momento de pensarmos por nós e decidirmos por nós, nem que seja, cada um por si contra muitos, mesmo que os dentes deles se mostrem, usem os vossos, antes de sermos mais humilhados por esta corja de dentro e de fora.  

quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Attero Dominatus

La pobreza atrapa a la clase media europea

"Dimitris Pavlópulos tiene una pensión de 550 euros al mes, y un desembolso en medicinas que ronda los 150. El recorte de subvenciones en gasto farmacéutico le obliga a elegir entre comprar un litro de leche (1,5 euros) o una de las recetas que su enfermedad demanda, porque le es imposible afrontar ambos gastos.

Manuel G. es un parado de larga duración que añora el mileurismo de las primeras embestidas de la crisis. Perdió su trabajo de administrativo hace tres años y ha agotado la prestación por desempleo. Sin colchón familiar, vive en una habitación alquilada y recurre a los comedores sociales y el reparto de ropa de una ONG.

Los ecuatorianos Roberto y Marilisa Madera, albañil y empleada de hogar, acaban de ser desahuciados de la vivienda que compraron hace seis años en Madrid. Con cuatro hijos y la renta mínima de inserción, dudan si volver a su país: la falta de expectativas les frena, y aún deben 100.000 euros de la hipoteca.

Son las víctimas de la crisis: sectores de la sociedad que hace un lustro figuraban entre la clase media, o media-baja, son hoy nuevos pobres. Personas que deben elegir entre hacer una comida caliente al día o caldear la casa; entre pagar la hipoteca o alimentarse. Casos que dinamitan la tradicional imagen de la pobreza ligada a la mendicidad: cada vez más, la pobreza se asocia a normalidad. "Los voluntarios de antes son hoy beneficiarios nuestros", explica Jorge Nuño, secretario general de Caritas Europa.

Según la Unión Europea, en 2009 había 115 millones de personas en riesgo de pobreza y exclusión social en territorio de los Veintisiete (el 23,1% de la población), "sin contar otros 100 o 150 millones en el filo de la navaja", explica Nuño, "porque dos meses de paro y una hipoteca a cuestas hunden a cualquiera". En 2007, antes de que la coyuntura económica diera muestras de deterioro, eran 85 millones (el 17% de la población) los que se hallaban por debajo del umbral de pobreza relativa. En la lista figuran países como Grecia, España o Irlanda, “pero también Francia, Alemania o Austria”, apunta Nuño.

No pintan mejor las cosas en Reino Unido, con una tasa de pobreza infantil tan abismal que figura en el puesto 22º de los Veintisiete, según datos de la John Rowntree Foundation. Londres es la urbe con mayor porcentaje de menores en situación de pobreza del país. La herencia social tatcheriana, elevada al cubo por la crisis, tiene hoy contra las cuerdas al 22% de la población británica (13,4 millones de personas).

Los ejemplos muestran las vías de agua del sistema: el endeudamiento familiar; la quiebra de Estados pródigos en subvenciones o la existencia de trabajos de mala calidad, como los millones de empleos perdidos en la construcción en España. “Si tras la crisis de 1993-94 enderezar la tasa de empleo costó siete años, el paro de ahora es mucho más estructural: se han perdido cerca de tres millones de puestos de trabajo precarios”, señala Francisco Lorenzo, del equipo de estudios de Cáritas.

¿Cómo se mide la penuria? La calificación de pobreza como posición económica relativa con respecto a la media de ingresos del país y el tamaño de la unidad familiar se aplica, por ejemplo en España, a hogares con ingresos inferiores a 7.980 euros al año, incluidas las transferencias sociales (datos de 2009). Hay dos tipos de pobreza, la moderada o relativa (un 60% de la media de ingresos del país) y la severa (un 40%). “La mayoría de los pobres se sitúan cada vez más lejos de este umbral. Los pobres se han hecho más pobres, pero también es cierto que a los comedores sociales acude gente que no había ido nunca. Las tasas de pobreza han crecido espectacularmente en niños –uno de cada cuatro está en situación de pobreza en España-, y bastante en inmigrantes y jóvenes”, explica el sociólogo Paul Mari-Klose, del CSIC.

“Hablamos de situaciones de privación, de no poder llegar a fin de mes, o de comer carne menos de dos veces a la semana. Pero en España, como en Grecia, Portugal o Italia, no ha aumentado tanto la extensión de la pobreza como la severidad de la misma, y su concentración en determinados grupos. Durante la expansión económica, muchos jóvenes se emanciparon precariamente, y ahora se hallan en situaciones límite. En Islandia ha habido un incremento espectacular de la pobreza sobre todo en la infancia”, añade Mari-Klose.

La crisis está acercando en las estadísticas a los remisos PIGS (Portugal, Irlanda, Grecia y España) y a países del Este recién incorporados a la UE; a capas cada vez más amplias de la población de Estados sólidos y a puntales del Estado del bienestar venidos a menos, como Islandia tras la quiebra de su sistema bancario. Pero la media comunitaria presenta una elevada dispersión. Bulgaria (46,2%) y Rumanía (43,1%) casi la duplican, según Eurostat. En el otro extremo se hallan República Checa (14%), Países Bajos (15,1%) y Suecia (15,9%). España ocupa un lugar intermedio, el 23,4%. Pero estar en mitad de la tabla no significa pasar desapercibido: la suma de riesgo estructural (en 2007, cerca del 20%), déficit de protección social y récord de desempleo (el 22,8%) apunta un futuro nada halagüeño.

Los expertos en políticas públicas coinciden en que a los tres núcleos tradicionalmente más expuestos a la pobreza -niños y mayores, mujeres e inmigrantes, es decir, la edad, el género y la etnia como factores de intensificación de la misma- se ha sumado una legión de ciudadanos sin etiquetas en un contexto de recorte de gastos sociales, lo que amplifica los efectos de la crisis: “Personas con un trabajo muy precario, a las que resulta difícil llegar a fin de mes y que encima no tienen ayudas; gente entre los 30 y los 45 años, con o sin cargas familiares, y sin subsidios porque tienen algún ingreso, que se ve obligada a volver con sus padres si quiere seguir pagando la hipoteca”, sostiene Joan Subirats, de la Universidad Autónoma de Barcelona. “Los otros sectores están más vigilados, pero estas clases medias bajas no estaban bajo el foco. Desde el establecimiento de las políticas sociales el factor trabajo es el discriminante a la hora de acceder o no a una ayuda, y este segmento de la población está en el límite”, añade.

El estado de práctica inanición de amplias capas de la sociedad europea no solo es un problema de índole social; también tiene una proyección política evidente: cada vez hay más ciudadanos en los márgenes del sistema. "Buena parte de los votantes de Plataforma per Catalunya [partido de extrema derecha, xenófobo] salen de estos sectores más desfavorecidos", explica Subirats; "se preguntan, sin hallar una respuesta, por qué ellos no tienen derecho a una beca comedor para sus hijos mientras los inmigrantes, uno de los focos tradicionales de los servicios sociales, sí la reciben".

Aunque la mayoría de los expertos consultados previene de la tentación de hacer de los "nuevos pobres" las únicas víctimas de la crisis, y subrayan el deterioro de sectores previamente empobrecidos, resulta innegable es que, tras casi tres lustros de vacas gordas y nuevos ricos, la crisis ha laminado un segmento de la población que, hasta 2007, tenían sus necesidades básicas cubiertas. El fiel de la balanza es con frecuencia el pago de la hipoteca, y esta es una de las características de la crisis que no presentan otros socios comunitarios.

Pero en la pesadilla de los nuevos pobres hay muchos más factores que el impago. Entre los miembros más recientes de la UE, el principal lastre es el déficit estructural heredado; la mayoría son regímenes excomunistas reconvertidos a marchas forzadas, como Letonia (37,4% de riesgo de pobreza y exclusión); Lituania y Hungría, con algo más del 29%), y los citados Bulgaria y Rumanía.

En Grecia, el fantasma del hambre ha devenido sangrante realidad. El jubilado Pavlópulos, de 75 años, es beneficiario de la ONG Médicos del Mundo-Grecia. Desde que el primer plan de ajuste (2010) suprimió numerosas subvenciones, el hombre consume su pensión en 10 días, y luego recurre al reparto de medicamentos y comida de la ONG. “Hemos lanzado una campaña de donación de medicinas y alimentos para casos de extrema necesidad. Sin ánimo de compararnos con África, hemos constatado numerosos casos de desnutrición entre jubilados, menores e inmigrantes; no es hambruna, pero sí restricciones en la dieta”, señala Yanis Yanakópulos, portavoz de la ONG. Varios sindicatos de la enseñanza han referido casos de desmayos en alumnos de primaria por hambre; el Ministerio de Educación asegura estar sobre aviso.

2010 pasó sin pena ni gloria como el Año Europeo de Lucha contra la Pobreza y la Exclusión Social. Concluía así la Estrategia de Lisboa, que pretendía obrar “un efecto decisivo en la erradicación de la pobreza”, y arrancaba la Estrategia 2020. Pero la crisis ha arrumbado los buenos propósitos. El principal objetivo de la Estrategia 2020, reducir en 20 millones el número de pobres en esta década, amenaza con convertirse en papel mojado
."
El País

terça-feira, fevereiro 07, 2012

Até amanhã e boa sorte!!

Os mercados têm estados de espírito e somos nós

"Num artigo publicado há dias, George Soros, que fez uma enorme fortuna nos anos 90 com a saída da Inglaterra do sistema monetário europeu, afirmou que os mercados tinham estados de espírito e que as autoridades financeira deviam aprender a lidar com isso.

Os estados de espírito, tanto em termos de pessoas como de grupos, têm a ver com factores emocionais – por oposição aos racionais. A globalização contribui para favorecer a propagação dos estados de espírito, sejam eles dominados pela confiança ou, pelo contrário, pelo cepticismo ou mesmo pelo desespero. Desde 2007 que vimos assistindo, nos Estados Unidos e na Europa, a um clima generalizado de cepticismo – ou, em alternativa, de manutenção das ilusões e de negação da realidade (como aconteceu em Portugal durante os últimos anos).

Talvez esteja já na altura de olharmos para a famosa crise com as ferramentas não só económico-financeiras mas também as da psicologia.

E que diz a psicologia colectiva? Que as multidões são manipuláveis. Nós temos alguma tendência para imaginar as multidões como gente aos gritos nas ruas e os mercados como entidades imateriais escondidas por detrás de écrans de computador. Nada mais longe da verdade.

Os mercados são os bancos, fundos e seguradoras que gerem as "poupanças de todos nós", incluindo as da nossa Segurança Social. A sua rentabilidade e a nossa sobrevivência dependem de factores tão subjectivos como as expectativas, positivas ou negativas, e a confiança.

Já há muito tempo que se sabe que num mundo ideal todos teríamos acesso à mesma informação e os mercados funcionariam na perfeição. Como no mundo real tal não sucede, as assimetrias de informação permitem especulações e jogadas antecipatórias. Assim, os rumores, os receios, os pânicos, a "inside information" (que na prática tem sido impossível de evitar) e até as intuições permitem as uns ganhar e a outros perder. Por isso a confiança nas instuitições e nas pessoas é tão importante na economia de mercado. Infelizmente, uma vez perdida a confiança, é difícil recuperá-la e leva muito tempo.

Que nos diz a psicologia de grupos? Que os seus membros têm tendência a adquirir uma mentalidade colectiva que os faz inclinarem-se para determinado comportamentos em detrimento de outros. Mais: as oscilações podem ser bruscas e assumir características de quase-pânico.

Os estados de espírito dos mercados reflectem o estado emocional não só dos indivíduos mas também dos grupos e sociedades. A falta de confiança, e até o desespero, que está a caracterizar este início do século XXI deveria funcionar como um alerta para todos nós. Não há sociedade que subsista sem um projecto que confira esperança e objectivos para o futuro. Se um indivíduo vive muito mal com isso, deprime e pode até tomar medidas drásticas (veja-se o aumento de suicídios na Grécia e em Portugal), as sociedades também ficam doentes. E uma sociedade doente fica vulnerável aos cantos de sereia que sempre aparecem nestas ocasiões. Deveríamos estudar melhor a história da primeira metade do século vinte. Os nossos jovens têm uma ideia vaguíssima do que aconteceu e quais as razões para as duas mortíferas guerras mundiais, e em breve já não haverá ninguém vivo para lhes lembrar.
"

Clara Pracana

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

Até amanhã e boa sorte!!

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