quarta-feira, agosto 31, 2011
O Lobo Mau alemão
"Foi na Floresta Negra alemã que o Lobo Mau comeu a avozinha do Capuchinho Vermelho. É na floresta dos interesses alemães que se está a discutir a melhor forma de degustar o euro, separando a carne dos ossos. Andamos a discutir as "eurobonds" e as decisões políticas para salvar o euro e a UE. Mas tudo isto parece um conto para crianças quando se lê o artigo de Hans-Olaf Henkel, o antigo líder do patronato alemão, no "FT". O nevoeiro das intenções alemãs desvanece-se. Para ele é necessário um novo plano: a Áustria, a Finlândia, a Alemanha e a Holanda devem deixar o euro e criar uma nova moeda. Bondosamente defende que essa nova moeda não se deve chamar marco e que o seu Banco central deve ser um sósia do Bundesbank mas não deve ser liderado por um alemão. Quanto aos outros países podem ficar com o euro, para serem concorrenciais. Obrigado! As dívidas à Alemanha seriam perdoadas por esta, porque já estão perdidas, e seriam um prémio pela saída da moeda onde ficariam a Itália, Espanha, Portugal e os outros.
Para Henkel o que é necessário não é salvar o euro, mas sim a Europa. Traduzindo: o que é importante é salvar a Alemanha. O problema desta teoria é que está a ser levada à prática com o pragmatismo eleitoralista de Angela Merkel. Com a cumplicidade de Nicolas Sarkozy. O interessante é que Henkel deixa de fora da nova moeda a França. Sabendo nós que a destruição do eixo Alemanha/França é o fim da UE como a conhecemos, percebe-se que esta nova teoria do Lobo Mau tem um objectivo: a criação de uma nova Europa à volta do sol que nasce na Alemanha. Coitados de todos nós, indefesos Capuchinhos Vermelhos."
Para Henkel o que é necessário não é salvar o euro, mas sim a Europa. Traduzindo: o que é importante é salvar a Alemanha. O problema desta teoria é que está a ser levada à prática com o pragmatismo eleitoralista de Angela Merkel. Com a cumplicidade de Nicolas Sarkozy. O interessante é que Henkel deixa de fora da nova moeda a França. Sabendo nós que a destruição do eixo Alemanha/França é o fim da UE como a conhecemos, percebe-se que esta nova teoria do Lobo Mau tem um objectivo: a criação de uma nova Europa à volta do sol que nasce na Alemanha. Coitados de todos nós, indefesos Capuchinhos Vermelhos."
Fernando Sobral
terça-feira, agosto 30, 2011
Pasta dentífrica
"Hans-Olaf Henkel é um nome que não dirá grande coisa ao comum dos mortais. Mas trata-se do antigo líder da mais poderosa associação industrial alemã e é, actualmente, um dos mais tenazes advogados do fim do euro tal como existiu até hoje.
A mais recente peça de argumentação de Henkel acaba de ser publicada no "Financial Times" e retoma o essencial daquilo que já tinha defendido em artigos anteriores publicados em jornais como o "The Guardian". Não se trata de um "eurocéptico" de longa data. Pelo contrário. Hans-Olaf Henkel foi, até há pouco tempo, um entusiasta da moeda única europeia. Acabou por mudar de ideias e até considera que a sua anterior convicção sobre o projecto da união monetária foi o maior erro que cometeu na sua vida profissional.
Pode argumentar-se que a visão deste gestor e empresário não corresponde à abordagem conhecida do poder político alemão sobre os problemas de sobrevivência do euro. Mas reflecte o que, com mais ou menos cerimónia ou cautelas, é a perspectiva partilhada por uma parte da opinião pública na Alemanha e noutros países que estão entre o grupo dos bem comportados da Zona Euro e que não vêem quaisquer vantagens em continuar a financiar a indisciplina dos seus parceiros do sul.
O que diz, afinal, Hans-Olaf Henkel? No essencial, defende que a Alemanha, juntamente com a Áustria, Holanda e Finlândia, deviam abandonar a Zona Euro e lançar uma nova moeda. Para trás, os quatro países, a que se poderia juntar a Irlanda, deixariam uma região liderada pela França e que, livre da disciplina monetária e financeira inspirada no modelo e cultura germânicas, poderia regressar ao seu modo particular de conquistar competitividade através da inflação e de desvalorizações da moeda. Com algumas dificuldades pelo meio, todos viveriam mais felizes. Verdade ou equívoco?
Compreende-se o desencanto do industrial alemão pelo rumo que a Zona Euro tomou. Alguns elementos fundadores da moeda única foram abatidos, nos tempos mais recentes, com tiros de artilharia pesada e de pontaria afinada. As regras de disciplina nas finanças públicas foram torpedeadas e ninguém foi punido. O princípio de que não haveria operações de resgate das nações delinquentes que se lançaram numa espiral de despesa e endividamento está morto e descansa em paz. E o Banco Central Europeu coloca em causa a sua independência e saúde financeira com a aquisição de dívida pública de países que são alvo da desconfiança dos credores.
As dúvidas alemãs enunciadas por Henkel, e partilhadas por outros descrentes nas capacidades de regeneração dos velhos membros do "clube med", são simples de enunciar: por que motivo não se salvam os bancos germânicos em vez de se injectar mais recursos em países que se assemelham a causas perdidas? Para quê prosseguir num modo de funcionamento da Zona Euro em que os bem comportados se vêem forçados a transferir recursos para os mal comportados, tornando os primeiros em co-responsáveis pelos erros dos segundos?
Há duas décadas, a propósito da entrada do escudo no sistema monetário europeu, Alfredo de Sousa afirmava que a decisão tinha sido um disparate. Mas acrescentava que sair seria ainda pior. Se era fácil retirar a pasta dentífrica do tubo, seria muito difícil voltar a colocá-la lá dentro. O percurso do euro, desde Maastricht, é uma história em que não faltam más decisões e defeitos de construção que estão bem à vista. Mas prestar-lhe a extrema unção seria ainda pior. Incluindo para a Alemanha.
Quarenta por cento das exportações germânicas são colocadas nos seus parceiros da Zona Euro, o que daria algumas dores-de-cabeça no cenário de uma nova moeda altamente valorizada em relação ao euro de segunda. As perturbações sociais de uma desagregação do espaço da moeda única acabariam por afectar a Alemanha. E uma ruptura do eixo franco-alemão seria o princípio do fim da União Europeia.
Desafiar o destino pode ser uma enorme tentação. Mas convém que Hans-Olaf Henkel, e quem comunga dos seus pontos de vista, pense duas vezes antes de pressionar Angela Merkel a dar o salto para o desconhecido. Conforme ensina a História, é preciso não esquecer que o longo período de paz de que a Europa desfruta desde o fim da Segunda Guerra Mundial é uma situação anormal. A regra foi o consenso à força da espada e da espingarda."
João Cândido da Silva
A mais recente peça de argumentação de Henkel acaba de ser publicada no "Financial Times" e retoma o essencial daquilo que já tinha defendido em artigos anteriores publicados em jornais como o "The Guardian". Não se trata de um "eurocéptico" de longa data. Pelo contrário. Hans-Olaf Henkel foi, até há pouco tempo, um entusiasta da moeda única europeia. Acabou por mudar de ideias e até considera que a sua anterior convicção sobre o projecto da união monetária foi o maior erro que cometeu na sua vida profissional.
Pode argumentar-se que a visão deste gestor e empresário não corresponde à abordagem conhecida do poder político alemão sobre os problemas de sobrevivência do euro. Mas reflecte o que, com mais ou menos cerimónia ou cautelas, é a perspectiva partilhada por uma parte da opinião pública na Alemanha e noutros países que estão entre o grupo dos bem comportados da Zona Euro e que não vêem quaisquer vantagens em continuar a financiar a indisciplina dos seus parceiros do sul.
O que diz, afinal, Hans-Olaf Henkel? No essencial, defende que a Alemanha, juntamente com a Áustria, Holanda e Finlândia, deviam abandonar a Zona Euro e lançar uma nova moeda. Para trás, os quatro países, a que se poderia juntar a Irlanda, deixariam uma região liderada pela França e que, livre da disciplina monetária e financeira inspirada no modelo e cultura germânicas, poderia regressar ao seu modo particular de conquistar competitividade através da inflação e de desvalorizações da moeda. Com algumas dificuldades pelo meio, todos viveriam mais felizes. Verdade ou equívoco?
Compreende-se o desencanto do industrial alemão pelo rumo que a Zona Euro tomou. Alguns elementos fundadores da moeda única foram abatidos, nos tempos mais recentes, com tiros de artilharia pesada e de pontaria afinada. As regras de disciplina nas finanças públicas foram torpedeadas e ninguém foi punido. O princípio de que não haveria operações de resgate das nações delinquentes que se lançaram numa espiral de despesa e endividamento está morto e descansa em paz. E o Banco Central Europeu coloca em causa a sua independência e saúde financeira com a aquisição de dívida pública de países que são alvo da desconfiança dos credores.
As dúvidas alemãs enunciadas por Henkel, e partilhadas por outros descrentes nas capacidades de regeneração dos velhos membros do "clube med", são simples de enunciar: por que motivo não se salvam os bancos germânicos em vez de se injectar mais recursos em países que se assemelham a causas perdidas? Para quê prosseguir num modo de funcionamento da Zona Euro em que os bem comportados se vêem forçados a transferir recursos para os mal comportados, tornando os primeiros em co-responsáveis pelos erros dos segundos?
Há duas décadas, a propósito da entrada do escudo no sistema monetário europeu, Alfredo de Sousa afirmava que a decisão tinha sido um disparate. Mas acrescentava que sair seria ainda pior. Se era fácil retirar a pasta dentífrica do tubo, seria muito difícil voltar a colocá-la lá dentro. O percurso do euro, desde Maastricht, é uma história em que não faltam más decisões e defeitos de construção que estão bem à vista. Mas prestar-lhe a extrema unção seria ainda pior. Incluindo para a Alemanha.
Quarenta por cento das exportações germânicas são colocadas nos seus parceiros da Zona Euro, o que daria algumas dores-de-cabeça no cenário de uma nova moeda altamente valorizada em relação ao euro de segunda. As perturbações sociais de uma desagregação do espaço da moeda única acabariam por afectar a Alemanha. E uma ruptura do eixo franco-alemão seria o princípio do fim da União Europeia.
Desafiar o destino pode ser uma enorme tentação. Mas convém que Hans-Olaf Henkel, e quem comunga dos seus pontos de vista, pense duas vezes antes de pressionar Angela Merkel a dar o salto para o desconhecido. Conforme ensina a História, é preciso não esquecer que o longo período de paz de que a Europa desfruta desde o fim da Segunda Guerra Mundial é uma situação anormal. A regra foi o consenso à força da espada e da espingarda."
João Cândido da Silva
segunda-feira, agosto 29, 2011
O Sol pode salvar a Grécia?
"O ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, defendeu que o desenvolvimento de recursos energéticos alternativos poderia ser uma forma adequada da Grécia gerar crescimento económico. No papel, parece a solução perfeita para os problemas orçamentais do país: a Grécia, de acordo com Schäuble, poderia exportar electricidade solar para a Alemanha.
À primeira vista, aproveitar um recurso natural abundante (como é a energia solar) para equilibrar as contas nacionais parece uma ideia lógica, em particular tendo em conta que, no centro e no Norte da Europa, a electricidade é cada vez mais escassa e cara, após a Alemanha ter decidido, no início deste ano, eliminar, progressivamente, a energia nuclear. Mas será que Schäuble encontrou a solução mágica para baixar os preços da electricidade na Alemanha e, ao mesmo tempo, repor o crescimento económico na Grécia? Sim e não.
Primeiro, as más notícias: a electricidade produzida, actualmente, nas instalações fotovoltaicas está longe de ter um preço competitivo face às tecnologias convencionais. A "paridade de rede" ("grid parity") - o custo da electricidade produzida por um painel solar colocado no telhado de uma casa é igual à electricidade procedente de uma tomada na parede - só será alcançada em meados deste século.
Mesmo nessa altura, a energia solar vai continuar a ser mais cara do que a electricidade produzida de forma convencional, porque a "paridade de rede" exclui os custos de transmissão e distribuição, que, normalmente representam metade do preço final da electricidade. Além disso, mesmo que a energia solar fosse competitiva, exportá-la para a Alemanha não faria sentido económico: as linhas de transmissão não existem e as perdas de energia, que ocorrem quando a electricidade é transportada longas distâncias, são um desincentivo à sua construção.
De facto, os preços da electricidade na Alemanha não são, sistematicamente, mais elevados do que na Grécia, que, actualmente, é importador de electricidade. Assim, a electricidade solar grega apenas serviria para substituir a geração convencional mais cara na Grécia.
Nem mesmo a redução das importações de combustível (um quarto da electricidade grega é produzido através de petróleo e gás) teria um grande impacto na conta corrente grega. Na verdade, como é pouco provável que os painéis solares sejam produzidos no país, estes teriam de ser importados.
Em poucas palavras, o problema é que a produção de electricidade solar não promete grandes benefícios. Exige uma grande quantidade de capital e geraria poucos postos de trabalho (para a montagem dos painéis). Mesmo que a Grécia fosse capaz de ser excedentária na electricidade solar, as exportações gerariam poucas receitas, já que as empresas e os países não conseguem ter vantagens competitivas devido à tecnologia "standardizada". Assim que a energia solar se tornar competitiva na Grécia, outros países com níveis semelhantes de irradiação (Espanha, Itália, Portugal, Bulgária, etc.) vão entrar no mercado. Isto vai aproximar os preços da electricidade dos preços de produção, à medida que a capacidade de gerar energia solar na Europa se aproximar da procura de electricidade.
Mas, mesmo que desenvolva sistemas fotovoltaicos em larga escala, a Grécia não pode esperar tornar-se na Arábia Saudita da energia solar. Ainda assim, Schäuble está certo ao afirmar que faz mais sentido produzir energia solar na Grécia do que na Alemanha. De facto, o apoio alemão à energia solar passa pela redução dos custos dos painéis solares, que é a principal justificação para pagar elevados subsídios (cerca de 200 euros por MWh, o que compara com os actuais preços da electricidade: 55 euros por MWh).
Naturalmente, a redução do custo não depende do local onde o desenvolvimento tem lugar: usar o dinheiro alemão para apoiar o desenvolvimento da energia solar na solarenga Grécia seria mais eficiente do que usá-lo para apoiar o desenvolvimento desta energia na nublada Alemanha. Um sistema fotovoltaico instalado na Grécia poderia cobrir uma grande percentagem dos custos e, assim, exigir menos subsídios.
A melhor forma de garantir que o dinheiro alemão e o sol grego apoiam o desenvolvimento da energia solar seria a implementação de um "sistema de certificado verde" europeu. Com este sistema, todos os fornecedores de electricidade europeus teriam de garantir que uma percentagem da electricidade que vendem é originária de fontes renováveis. As metas de cada fornecedor poderiam variar consoante o potencial de cada país para desenvolver as energias renováveis.
Os países mais aptos para desenvolver energias renováveis (como a Grécia) poderiam depois vender certificados aos países que mais precisam (como a Alemanha), tornando o apoio alemão a estas energias mais barato, ao mesmo tempo que gerava receitas na Grécia sem comprometer o desenvolvimento das energias renováveis. Mas ninguém deve esperar encontrar uma mina de ouro solar. "
Georg Zachmann
À primeira vista, aproveitar um recurso natural abundante (como é a energia solar) para equilibrar as contas nacionais parece uma ideia lógica, em particular tendo em conta que, no centro e no Norte da Europa, a electricidade é cada vez mais escassa e cara, após a Alemanha ter decidido, no início deste ano, eliminar, progressivamente, a energia nuclear. Mas será que Schäuble encontrou a solução mágica para baixar os preços da electricidade na Alemanha e, ao mesmo tempo, repor o crescimento económico na Grécia? Sim e não.
Primeiro, as más notícias: a electricidade produzida, actualmente, nas instalações fotovoltaicas está longe de ter um preço competitivo face às tecnologias convencionais. A "paridade de rede" ("grid parity") - o custo da electricidade produzida por um painel solar colocado no telhado de uma casa é igual à electricidade procedente de uma tomada na parede - só será alcançada em meados deste século.
Mesmo nessa altura, a energia solar vai continuar a ser mais cara do que a electricidade produzida de forma convencional, porque a "paridade de rede" exclui os custos de transmissão e distribuição, que, normalmente representam metade do preço final da electricidade. Além disso, mesmo que a energia solar fosse competitiva, exportá-la para a Alemanha não faria sentido económico: as linhas de transmissão não existem e as perdas de energia, que ocorrem quando a electricidade é transportada longas distâncias, são um desincentivo à sua construção.
De facto, os preços da electricidade na Alemanha não são, sistematicamente, mais elevados do que na Grécia, que, actualmente, é importador de electricidade. Assim, a electricidade solar grega apenas serviria para substituir a geração convencional mais cara na Grécia.
Nem mesmo a redução das importações de combustível (um quarto da electricidade grega é produzido através de petróleo e gás) teria um grande impacto na conta corrente grega. Na verdade, como é pouco provável que os painéis solares sejam produzidos no país, estes teriam de ser importados.
Em poucas palavras, o problema é que a produção de electricidade solar não promete grandes benefícios. Exige uma grande quantidade de capital e geraria poucos postos de trabalho (para a montagem dos painéis). Mesmo que a Grécia fosse capaz de ser excedentária na electricidade solar, as exportações gerariam poucas receitas, já que as empresas e os países não conseguem ter vantagens competitivas devido à tecnologia "standardizada". Assim que a energia solar se tornar competitiva na Grécia, outros países com níveis semelhantes de irradiação (Espanha, Itália, Portugal, Bulgária, etc.) vão entrar no mercado. Isto vai aproximar os preços da electricidade dos preços de produção, à medida que a capacidade de gerar energia solar na Europa se aproximar da procura de electricidade.
Mas, mesmo que desenvolva sistemas fotovoltaicos em larga escala, a Grécia não pode esperar tornar-se na Arábia Saudita da energia solar. Ainda assim, Schäuble está certo ao afirmar que faz mais sentido produzir energia solar na Grécia do que na Alemanha. De facto, o apoio alemão à energia solar passa pela redução dos custos dos painéis solares, que é a principal justificação para pagar elevados subsídios (cerca de 200 euros por MWh, o que compara com os actuais preços da electricidade: 55 euros por MWh).
Naturalmente, a redução do custo não depende do local onde o desenvolvimento tem lugar: usar o dinheiro alemão para apoiar o desenvolvimento da energia solar na solarenga Grécia seria mais eficiente do que usá-lo para apoiar o desenvolvimento desta energia na nublada Alemanha. Um sistema fotovoltaico instalado na Grécia poderia cobrir uma grande percentagem dos custos e, assim, exigir menos subsídios.
A melhor forma de garantir que o dinheiro alemão e o sol grego apoiam o desenvolvimento da energia solar seria a implementação de um "sistema de certificado verde" europeu. Com este sistema, todos os fornecedores de electricidade europeus teriam de garantir que uma percentagem da electricidade que vendem é originária de fontes renováveis. As metas de cada fornecedor poderiam variar consoante o potencial de cada país para desenvolver as energias renováveis.
Os países mais aptos para desenvolver energias renováveis (como a Grécia) poderiam depois vender certificados aos países que mais precisam (como a Alemanha), tornando o apoio alemão a estas energias mais barato, ao mesmo tempo que gerava receitas na Grécia sem comprometer o desenvolvimento das energias renováveis. Mas ninguém deve esperar encontrar uma mina de ouro solar. "
Georg Zachmann
domingo, agosto 28, 2011
O caso
"O caso ouco estranho das empresas municipais e outras coisas.
Parece que o nepotismo partidário ou o nepotismo puro e simples, tinha pé curto, atendendo a que houve serviços feitos pelos serviços municipalizados que foram entregues a familiares e amigos que criaram Empresas Municipais por todo este sítio muito mal frequentado e governado.Mas todos já sabíamos disto, a justiça sabia, o estado do sítio sabia, todos sabiam, todos são cúmplices portanto, excepto nós, os ursos, os que sabíamos , mas não podemos fazer nada, apenas pagar mais impostos.
A teia é tão grande que mete os senhores de vários governos e de todos os partidos sem excepção, uns mais que outros e nem os impolutos do PCP escapam.
É claro que a Justiça deixou e parece óbvio que os investigadores do MP deveriam ser afastados, porque deixaram andar a coisa tempo demais e mais grave, continuam com tempo de antena e continuam a ser tratados como paladinos da justiça e blá, blá, blá...
Assim vai o meu país, uma imensa teia.
É claro que os senhores autarcas se sentem ofendidos, as suas associações que seria interessante também serem investigadas ou auditadas, sobre quem é quem e como lá entraram os boys, filhos, enteados, todos nepotes.
Aqui reside uma parte conhecida do défice, a outra parte vai assustar, são mais esqueletos nos armários e decerto mais facturas por pagar.
O caso da sucata foi esquecido no meio desta sucata toda.
O fio e a trama é tão grande que já perceberam que será impossível pagar a dívida do que foi pedido aos sindicados bancários que troika representa, a troika, nome engraçado, porque um pouco eslavo.
Sim, vamos entrar em incumprimento e depois das medidas de cada vez mais roubo nos impostos e no estado social que o FMI, qual praga de gafanhotos, impôs à chamada de União Europeia, vá-se lá saber porquê, a praga seguirá daqui para o Egipto, para a Tunísia, para a Líbia e para onde eles quiserem, como gafanhotos que são, ficando apenas a desgraça social.
Prefiro mil vezes o regime do coronel líbio do que aquilo que vai acontecer depois da NATO e da ONU, entidades pouco fiáveis e sem controlo, fizeram, num país que não tinha um estado e nunca mais irá ter um, porque cada país tem a sua maneira de estar organizado, as tribos, irão correr com os estranhos que provocaram a destruição da Líbia, porque: "is all about oil". No egipto já se percebeu porque já começou.
Aqui na UE, vamos assistir ao default e ninguém vai escapar, nem os arrogantes do norte, afinal a Nokia já não fabrica na Finlândia, fabrica na China e empacota na Hungria, só para idiota ver, não são mais sérios que os povos do sul, são um pouco mais branquinhos.
Fiquem bem e não se queixem das arbitragens é que por cá é uma coisa e lá fora é outra, o Porto que faça queixa ao Partido do Norte carago e o Sr Pinto que limpe a baba!"
Toupeira
Parece que o nepotismo partidário ou o nepotismo puro e simples, tinha pé curto, atendendo a que houve serviços feitos pelos serviços municipalizados que foram entregues a familiares e amigos que criaram Empresas Municipais por todo este sítio muito mal frequentado e governado.Mas todos já sabíamos disto, a justiça sabia, o estado do sítio sabia, todos sabiam, todos são cúmplices portanto, excepto nós, os ursos, os que sabíamos , mas não podemos fazer nada, apenas pagar mais impostos.
A teia é tão grande que mete os senhores de vários governos e de todos os partidos sem excepção, uns mais que outros e nem os impolutos do PCP escapam.
É claro que a Justiça deixou e parece óbvio que os investigadores do MP deveriam ser afastados, porque deixaram andar a coisa tempo demais e mais grave, continuam com tempo de antena e continuam a ser tratados como paladinos da justiça e blá, blá, blá...
Assim vai o meu país, uma imensa teia.
É claro que os senhores autarcas se sentem ofendidos, as suas associações que seria interessante também serem investigadas ou auditadas, sobre quem é quem e como lá entraram os boys, filhos, enteados, todos nepotes.
Aqui reside uma parte conhecida do défice, a outra parte vai assustar, são mais esqueletos nos armários e decerto mais facturas por pagar.
O caso da sucata foi esquecido no meio desta sucata toda.
O fio e a trama é tão grande que já perceberam que será impossível pagar a dívida do que foi pedido aos sindicados bancários que troika representa, a troika, nome engraçado, porque um pouco eslavo.
Sim, vamos entrar em incumprimento e depois das medidas de cada vez mais roubo nos impostos e no estado social que o FMI, qual praga de gafanhotos, impôs à chamada de União Europeia, vá-se lá saber porquê, a praga seguirá daqui para o Egipto, para a Tunísia, para a Líbia e para onde eles quiserem, como gafanhotos que são, ficando apenas a desgraça social.
Prefiro mil vezes o regime do coronel líbio do que aquilo que vai acontecer depois da NATO e da ONU, entidades pouco fiáveis e sem controlo, fizeram, num país que não tinha um estado e nunca mais irá ter um, porque cada país tem a sua maneira de estar organizado, as tribos, irão correr com os estranhos que provocaram a destruição da Líbia, porque: "is all about oil". No egipto já se percebeu porque já começou.
Aqui na UE, vamos assistir ao default e ninguém vai escapar, nem os arrogantes do norte, afinal a Nokia já não fabrica na Finlândia, fabrica na China e empacota na Hungria, só para idiota ver, não são mais sérios que os povos do sul, são um pouco mais branquinhos.
Fiquem bem e não se queixem das arbitragens é que por cá é uma coisa e lá fora é outra, o Porto que faça queixa ao Partido do Norte carago e o Sr Pinto que limpe a baba!"
Toupeira
sábado, agosto 27, 2011
Um filme pornográfico não aconselhável...
"Um filme pornográfico não aconselhável a quem sofre do coração, a não ser que queira morrer de susto
A pornografia da troika e como esta gente ajoelha.
No entanto acho que banca nunca deveria ser autorizada a ter um sector segurador, mas não é disso que estou falando, é da perda de soberania a favor da finança internacional e do casino que a troika representa, a troika são os bancos de investimento e todo o tipo de crimes que têm feito em nome dos mercados.
O velho Greenspan veio confessar-se culpado de ser um dos arquitectos do Euro e depois o engenheiro que fez os cálculos da superestrutura, sabia que iria cair, ele foi o arquitecto e o engenheiro mais uns quantos da grande família dos que mandam na finança mundial.
Barroso é um pau mandado sempre foi, os Cavacos, os Coelhos e há vários, os Loureiros, os Sócrates e seus muchachos, os Soares e muitos outros.
Greenspan veio dizer aquilo que há muito se sabia, porque foi ele de facto o arquitecto e o engenheiro do Euro, mais os traidores desta velha Europa.
O secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, reiterou hoje que é intenção do Governo vender o negócio segurador da Caixa Geral de Depósitos (CGD), conforme consta do memorando de entendimento assinado com a ‘troika’.
"Aquilo que está dito no memorando é muito claro. E o que está escrito sempre esteve escrito e diz que a CGD irá alienar a sua parte dos seguros e ativos que não sejam estratégicos para a empresa", afirmou Carlos Moedas aos jornalistas, à margem da inauguração da Feira de Agosto, Turismo e Ambiente, em Grândola.
No memorando de entendimento, o Governo comprometeu-se a “racionalizar a estrutura do grupo estatal CGD, com o objetivo de aumentar a base de capital do seu negócio bancário de acordo com as necessidades”.
Neste sentido, o documento prevê a “definição de um calendário mais ambicioso para a já anunciada venda do negócio segurador do grupo [CGD], de um programa para a alienação gradual de todas as subsidiárias ‘non core’ [não estratégicas] e, se necessário, de uma redução das atividades no estrangeiro”.
Além da venda do ramo segurador da CGD, o programa de privatizações do Governo abrange a alienação de participações do Estado na ANA – Aeroportos de Portugal, TAP, CP Carga, Galp, EDP, REN, Águas de Portugal, CTT – Correios de Portugal e RTP."
Toupeira
A pornografia da troika e como esta gente ajoelha.
No entanto acho que banca nunca deveria ser autorizada a ter um sector segurador, mas não é disso que estou falando, é da perda de soberania a favor da finança internacional e do casino que a troika representa, a troika são os bancos de investimento e todo o tipo de crimes que têm feito em nome dos mercados.
O velho Greenspan veio confessar-se culpado de ser um dos arquitectos do Euro e depois o engenheiro que fez os cálculos da superestrutura, sabia que iria cair, ele foi o arquitecto e o engenheiro mais uns quantos da grande família dos que mandam na finança mundial.
Barroso é um pau mandado sempre foi, os Cavacos, os Coelhos e há vários, os Loureiros, os Sócrates e seus muchachos, os Soares e muitos outros.
Greenspan veio dizer aquilo que há muito se sabia, porque foi ele de facto o arquitecto e o engenheiro do Euro, mais os traidores desta velha Europa.
O secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, reiterou hoje que é intenção do Governo vender o negócio segurador da Caixa Geral de Depósitos (CGD), conforme consta do memorando de entendimento assinado com a ‘troika’.
"Aquilo que está dito no memorando é muito claro. E o que está escrito sempre esteve escrito e diz que a CGD irá alienar a sua parte dos seguros e ativos que não sejam estratégicos para a empresa", afirmou Carlos Moedas aos jornalistas, à margem da inauguração da Feira de Agosto, Turismo e Ambiente, em Grândola.
No memorando de entendimento, o Governo comprometeu-se a “racionalizar a estrutura do grupo estatal CGD, com o objetivo de aumentar a base de capital do seu negócio bancário de acordo com as necessidades”.
Neste sentido, o documento prevê a “definição de um calendário mais ambicioso para a já anunciada venda do negócio segurador do grupo [CGD], de um programa para a alienação gradual de todas as subsidiárias ‘non core’ [não estratégicas] e, se necessário, de uma redução das atividades no estrangeiro”.
Além da venda do ramo segurador da CGD, o programa de privatizações do Governo abrange a alienação de participações do Estado na ANA – Aeroportos de Portugal, TAP, CP Carga, Galp, EDP, REN, Águas de Portugal, CTT – Correios de Portugal e RTP."
Toupeira
sexta-feira, agosto 26, 2011
Governo de salvação
"(Onde o autor recorda a efeméride do segundo mês de governo, agora pelos idos de Agosto, a qual, em circunstâncias normais, seria completamente anódina, mas impõe agora observação ansiosa, pela boa razão de que, com o país de rastos e falido, nada pode falhar, numa governação milimétrica e ao segundo, num ambiente de regeneração absolutamente necessária).
Este governo é o 19º constitucional (acho eu, eles são tantos…) e fosse qual fosse a sua direcção e composição teria que ser de salvação nacional. Quando o País esteve a um mês de cessar pagamentos, o que só não ocorreu graças à caritas financeira internacional, a ideia que ocorre é a do filme italiano "Sono andata fino in fondo", no estilo comédia negra semelhante à política portuguesa.
Com mais de uma década de socialismo, de perda de competitividade, de incentivo ao desperdício, de penalização ao empreendedorismo, de recompensa ao desleixo, irresponsabilidade e compadrio, de eduquês nas escolas, de orgias de betão, de caquético e balofo estatismo, de mentira e ocultação, tudo a culminar no surrealismo e irrealidade de Sócrates, o país tinha mesmo que bater com o casco no fundo, num ranking mundial de penúltimo em crescimento económico. E, possivelmente, para uma mudança drástica de vida e regeneração da alma, só mesmo um tal colapso poderia levar à redenção, assim como o toxicodependente que se reabilita mas só depois de sentir o travo da lama. Se calhar, a clínica de reabilitação é mesmo a troika internacional e o "memorandum" de entendimento os doze passos.
Quando votei em Passos Coelho, fi-lo apenas para contribuir, com muita modéstia mas grande impetuosidade, no pontapé a Sócrates, afinal mais pela negativa do que na convicção que se iria nele desencantar o homem para a travessia do deserto. Aliás, até me parecia e parece uma missão quase impossível conduzir a bom porto um governo de salvação nacional em correspondente magnitude à da destruição nacional. Releva aqui bem a metáfora do afundamento, visto que não se trata ainda de por o barco em movimento mas iça-lo para a superfície e pô-lo a flutuar, e esta tarefa é mesmo colossal; mas a outra, a do movimento, também é gigantesca. Equilibrar o orçamento, pagar a dívida, por a economia a competir e a crescer, enfrentar o que aí vem com as parcerias público-privadas… Deus do Céu! Mas tenhamos fé, na vida quase tudo é possível, excepto ressuscitar, e, como voltei ao Taleb, os cisnes negros existem.
Ao fim e ao cabo, o primeiro-ministro surpreende positivamente pela simplicidade, franqueza, espírito de missão, capacidade de seduzir e atrair talento. A equipa ministerial aparece constituída por gente que é nata, aparentemente imbuída da alma do serviço público, preparada para sair a perder no deve e haver dos benefícios dos cargos que assumiu, e onde se vê o espírito de desafio e a força anímica imprescindíveis para enfrentar e (quem sabe?) estilhaçar o "colosso". "Falhar não é opção" pode ser bem mais que um momento de eloquência motivacional do ministro Gaspar, antes um desígnio para um país onde já houve como inspiração o "talent de bien faire" dos altos infantes (esta saiu-me bem). Por outro lado, as reformas liberais do "memorandum", que coincidem ideologicamente com o Programa do Governo, são absolutamente imprescindíveis para transformar em social-democracia este socialismo pantanoso e imobilista dum país aculturadamente esquerdês, possivelmente aproximando o sistema daquele que vemos a funcionar para os lados do norte da Europa com assinalável sucesso.
Mas será que, externamente, esta visão , que é mais uma esperança que um diagnóstico, também é partilhada ( este vertente é crucial para o sucesso)? As declarações da troika foram positivas mas não encomiásticas, aproximando-se até do que foi dito quanto à Grécia e Irlanda para idêntico período. Ora quanto aos mercados da dívida e aos seguros de crédito - o verdadeiro júri de exame - não se nota apaziguamento e isso significa que ainda estamos longe do Bojador, quanto mais da Boa Esperança.
A sabedoria política sustenta que todas as reformas penosas devem ser executadas no princípio dos mandatos governativos e depois transformadas em benesses para o ciclo eleitoral seguinte. Por mim, espero que o primeiro ministro prefira ficar na História do que em S. Bento daqui a quatro anos."
Fernando Braga de Matos
Este governo é o 19º constitucional (acho eu, eles são tantos…) e fosse qual fosse a sua direcção e composição teria que ser de salvação nacional. Quando o País esteve a um mês de cessar pagamentos, o que só não ocorreu graças à caritas financeira internacional, a ideia que ocorre é a do filme italiano "Sono andata fino in fondo", no estilo comédia negra semelhante à política portuguesa.
Com mais de uma década de socialismo, de perda de competitividade, de incentivo ao desperdício, de penalização ao empreendedorismo, de recompensa ao desleixo, irresponsabilidade e compadrio, de eduquês nas escolas, de orgias de betão, de caquético e balofo estatismo, de mentira e ocultação, tudo a culminar no surrealismo e irrealidade de Sócrates, o país tinha mesmo que bater com o casco no fundo, num ranking mundial de penúltimo em crescimento económico. E, possivelmente, para uma mudança drástica de vida e regeneração da alma, só mesmo um tal colapso poderia levar à redenção, assim como o toxicodependente que se reabilita mas só depois de sentir o travo da lama. Se calhar, a clínica de reabilitação é mesmo a troika internacional e o "memorandum" de entendimento os doze passos.
Quando votei em Passos Coelho, fi-lo apenas para contribuir, com muita modéstia mas grande impetuosidade, no pontapé a Sócrates, afinal mais pela negativa do que na convicção que se iria nele desencantar o homem para a travessia do deserto. Aliás, até me parecia e parece uma missão quase impossível conduzir a bom porto um governo de salvação nacional em correspondente magnitude à da destruição nacional. Releva aqui bem a metáfora do afundamento, visto que não se trata ainda de por o barco em movimento mas iça-lo para a superfície e pô-lo a flutuar, e esta tarefa é mesmo colossal; mas a outra, a do movimento, também é gigantesca. Equilibrar o orçamento, pagar a dívida, por a economia a competir e a crescer, enfrentar o que aí vem com as parcerias público-privadas… Deus do Céu! Mas tenhamos fé, na vida quase tudo é possível, excepto ressuscitar, e, como voltei ao Taleb, os cisnes negros existem.
Ao fim e ao cabo, o primeiro-ministro surpreende positivamente pela simplicidade, franqueza, espírito de missão, capacidade de seduzir e atrair talento. A equipa ministerial aparece constituída por gente que é nata, aparentemente imbuída da alma do serviço público, preparada para sair a perder no deve e haver dos benefícios dos cargos que assumiu, e onde se vê o espírito de desafio e a força anímica imprescindíveis para enfrentar e (quem sabe?) estilhaçar o "colosso". "Falhar não é opção" pode ser bem mais que um momento de eloquência motivacional do ministro Gaspar, antes um desígnio para um país onde já houve como inspiração o "talent de bien faire" dos altos infantes (esta saiu-me bem). Por outro lado, as reformas liberais do "memorandum", que coincidem ideologicamente com o Programa do Governo, são absolutamente imprescindíveis para transformar em social-democracia este socialismo pantanoso e imobilista dum país aculturadamente esquerdês, possivelmente aproximando o sistema daquele que vemos a funcionar para os lados do norte da Europa com assinalável sucesso.
Mas será que, externamente, esta visão , que é mais uma esperança que um diagnóstico, também é partilhada ( este vertente é crucial para o sucesso)? As declarações da troika foram positivas mas não encomiásticas, aproximando-se até do que foi dito quanto à Grécia e Irlanda para idêntico período. Ora quanto aos mercados da dívida e aos seguros de crédito - o verdadeiro júri de exame - não se nota apaziguamento e isso significa que ainda estamos longe do Bojador, quanto mais da Boa Esperança.
A sabedoria política sustenta que todas as reformas penosas devem ser executadas no princípio dos mandatos governativos e depois transformadas em benesses para o ciclo eleitoral seguinte. Por mim, espero que o primeiro ministro prefira ficar na História do que em S. Bento daqui a quatro anos."
Fernando Braga de Matos
quinta-feira, agosto 25, 2011
Strauss-Kahn e a esquerda hipócrita
"Dominique Strauss Kahn viu agora ser-lhe retirada a acusação de violação de uma empregada de hotel em Nova Iorque. Na madrugada de Maio, DSK - como é conhecido em França - foi preso já dentro do avião quando se preparava para voltar a Paris. Algemado, um dos homens mais poderosos do mundo, director do FMI e possível candidato dos socialistas franceses às eleições Presidenciais em 2012, compareceu em tribunal sob suspeita de vários crimes sexuais sobre uma guineense, Nafitossou Diallo. A juíza de serviço decretou a prisão preventiva por risco de fuga. Desde esse dia até agora, o caso tem vindo a desfazer-se, tendo o procurador agora optado por desistir de levar o caso a tribunal.
Há muito a lamentar neste caso. Por exemplo, o circo mediático que se montou à volta de DSK, onde foi julgado e condenado quase instantaneamente pela opinião pública mundial. Como é lógico, o acesso dado aos media para relatarem em directo todas as fases do processo lesa o bom nome e a imagem daqueles que não foram ainda sequer formalmente acusados. Além disso, houve um conjunto de decisões precipitadas que foram tomadas pelo procurador de Nova Iorque Cyrus Vance que poderão ter prejudicado o desenrolar do processo.
Mas mais ainda, este constitui um estudo de caso bem revelador sobre preconceitos políticos. Em primeiro lugar, o anti-americanismo primário de muitas crónicas que li, deste lado do Atlântico, condenando à partida o sistema judicial americano e sua mediatização (mas ainda não li nada desses mesmos cronistas penitenciando-se agora que os tribunais americanos afinal deixam DSK livre de todas as acusações).
Ou a forma despudoradamente hipócrita com que alguma esquerda imediatamente se pôs do lado do homem, totalmente indiferente, desde a primeira hora, perante as acusações da suposta vitima. Não seria uma mulherzinha guineense que iria acabar com uma liderança "iluminada" como a de DSK no FMI, ou travar uma potencial derrota de Sarkozy nas eleições Presidenciais. Essa fidelidade programática e ideológica acima de todos os factos é deplorável, especialmente quando espezinha princípios e valores básicos de direitos humanos.
Por isso, e ainda do ponto de vista político, surpreende a forma como o Partido Socialista francês se congratula com o regresso de DSK à política activa francesa. Segundo o "New York Times", desde Martine Aubry a François Hollande, ambos candidatos à Presidência francesa, todos estão "imensamente aliviados" com este "feliz desfecho".
Mas qual feliz desfecho? É importante que se saiba as razões pelas quais o caso não seguiu para a frente. Não foi porque se tenha determinado que DSK não cometeu nenhum crime, ou porque se tenha conseguido esclarecer que Diallo, a alegada vítima, mentiu sobre a sua violação. O que aconteceu foi simplesmente que o procurador considerou que teria muita dificuldade em convencer um júri da veracidade da versão de Diallo dos acontecimentos, "para além de qualquer dúvida". Embora haja provas da relação sexual entre ambos e ainda relatórios médicos que provam a violação (produzidos pela defesa), também é verdade que a alegada vítima mentiu sobre vários outros assuntos.
O depoimento de Diallo era pois em parte falso, mas ao longo destes meses a credibilidade de DSK também ficou muito danificada - pelo processo semelhante lançado pela escritora Christiane Banon, ou pelas notícias de uma funcionária do FMI que terá sido assediada sexualmente por Strauss-Kahn. Sendo que não havia testemunhas, o caso iria sempre depender da credibilidade relativa dos dois. Nesta fotografia, ninguém fica bem: entre um homem habituado ao direito de pernada, e uma mulher acostumada a mentir em todo o tipo de situações.
A política merece melhor, e no final de contas parece haver uma moral no "affaire Strauss-Kahn". Ganha a justiça americana que teve a honestidade de reconhecer que não tinham um caso suficientemente forte contra DSK. E perdem os vários personagens desonestos encontrados nesta história da qual não saíram impunes."
Marina Costa Lobo
Há muito a lamentar neste caso. Por exemplo, o circo mediático que se montou à volta de DSK, onde foi julgado e condenado quase instantaneamente pela opinião pública mundial. Como é lógico, o acesso dado aos media para relatarem em directo todas as fases do processo lesa o bom nome e a imagem daqueles que não foram ainda sequer formalmente acusados. Além disso, houve um conjunto de decisões precipitadas que foram tomadas pelo procurador de Nova Iorque Cyrus Vance que poderão ter prejudicado o desenrolar do processo.
Mas mais ainda, este constitui um estudo de caso bem revelador sobre preconceitos políticos. Em primeiro lugar, o anti-americanismo primário de muitas crónicas que li, deste lado do Atlântico, condenando à partida o sistema judicial americano e sua mediatização (mas ainda não li nada desses mesmos cronistas penitenciando-se agora que os tribunais americanos afinal deixam DSK livre de todas as acusações).
Ou a forma despudoradamente hipócrita com que alguma esquerda imediatamente se pôs do lado do homem, totalmente indiferente, desde a primeira hora, perante as acusações da suposta vitima. Não seria uma mulherzinha guineense que iria acabar com uma liderança "iluminada" como a de DSK no FMI, ou travar uma potencial derrota de Sarkozy nas eleições Presidenciais. Essa fidelidade programática e ideológica acima de todos os factos é deplorável, especialmente quando espezinha princípios e valores básicos de direitos humanos.
Por isso, e ainda do ponto de vista político, surpreende a forma como o Partido Socialista francês se congratula com o regresso de DSK à política activa francesa. Segundo o "New York Times", desde Martine Aubry a François Hollande, ambos candidatos à Presidência francesa, todos estão "imensamente aliviados" com este "feliz desfecho".
Mas qual feliz desfecho? É importante que se saiba as razões pelas quais o caso não seguiu para a frente. Não foi porque se tenha determinado que DSK não cometeu nenhum crime, ou porque se tenha conseguido esclarecer que Diallo, a alegada vítima, mentiu sobre a sua violação. O que aconteceu foi simplesmente que o procurador considerou que teria muita dificuldade em convencer um júri da veracidade da versão de Diallo dos acontecimentos, "para além de qualquer dúvida". Embora haja provas da relação sexual entre ambos e ainda relatórios médicos que provam a violação (produzidos pela defesa), também é verdade que a alegada vítima mentiu sobre vários outros assuntos.
O depoimento de Diallo era pois em parte falso, mas ao longo destes meses a credibilidade de DSK também ficou muito danificada - pelo processo semelhante lançado pela escritora Christiane Banon, ou pelas notícias de uma funcionária do FMI que terá sido assediada sexualmente por Strauss-Kahn. Sendo que não havia testemunhas, o caso iria sempre depender da credibilidade relativa dos dois. Nesta fotografia, ninguém fica bem: entre um homem habituado ao direito de pernada, e uma mulher acostumada a mentir em todo o tipo de situações.
A política merece melhor, e no final de contas parece haver uma moral no "affaire Strauss-Kahn". Ganha a justiça americana que teve a honestidade de reconhecer que não tinham um caso suficientemente forte contra DSK. E perdem os vários personagens desonestos encontrados nesta história da qual não saíram impunes."
Marina Costa Lobo
quarta-feira, agosto 24, 2011
O caso das estranhas facturas escondidas.
"O caso das facturas escondidas? Será único?
Duvido.
Por onde andará o super juiz? Para mim é um imenso bluff, mas afinal o país não é um imenso "bluff"?
Mais juíz menos juíz e procuradores que apenas procuram coisa de ladrão de bairro, e mesmo esses, se não fizerem parte de gang perigoso para a integridade dos agentes desta porcaria de justiça.
Habitualmente prendem se possível, (é mais mediático), preventivamente, um determinado idiota que caiu numa esparrela da vida ou então numa armadilha, vão-se entretendo e vão entretendo a populaça que gosta muito de novela, daquelas coisas que me fazem sair da sala onde está a televisão e onde há muita berraria, e muita estupidez, sem censura... Ai..., a censura..., e podem dizer palavrão e todo o tipo de idiotice, tipo morangões, porque os moranguinhos são para os idiotas e imbecis dos adolescentes, criados neste país de Abril plantado à beira mar, que já não tem remédio.Assim saio de fininho, apenas vejo futebol e olha lá, só arbitrado por árbitros das distritais... Capiche? Com pronúncia do norte, carago!
Mas dizia eu, que deve haver por aí IPs, montes deles onde as dívidas não foram pagas, as facturas escondidas não lembra ao diabo, nem aos credores, ou serão falsas?
Espera. Se forem falsas e não forem contabilizadas, não temos que pagar nada, no entanto parece que também temos de pagar as indemnizações dos boys despedidos. Esta escumalha da política,das causas fracturantes, estes serão o "lumpen" de que falava Marx?
Afinal também temos de pagar as taxas moderadoras dos abortos feitos à borla, porque afinal aquilo é mesmo planeamento familiar, daí a isenção, coisa que agrada muito à esquerda gordurosa e sebenta desta porcaria em que transformaram o meu país.
Mas pela volta que a coisa leva, eu vou chamar a isto de cagalhão flutuante, as divídas que as câmaras deixaram,os IPs,as fundações, as empresas públicas e tudo o resto que se chama de dívida, passa sempre para o ano seguinte, sabem os tipos da contabilidade pública, que ficam com os cabelos em pé, mas os chefes, os cagalhões engravatados, nomeados pelos ministros, secretários e directores gerais, também cagalhões engravatados, esses é que são os ladrões que deveriam ser procurados por essas tretas de procuradores e de juízes, chamados de supers, porque são eles os responsáveis por esses bandidos andarem a pôr a mão na massa dos impostos pagos pelos ursos como eu.
Portanto, resumindo, acho que não haveria prisões suficientes para prender esta chusma, os que roubam e os que deixam roubar e assobiam para o lado, fazendo que fazem, mas não fazendo o que devem e não se desculpem com a porcaria dos códigos, é tudo uma questão de latrina.
Bem, fiquem bem se quiserem ou vão remoendo."
TOUPEIRA
Duvido.
Por onde andará o super juiz? Para mim é um imenso bluff, mas afinal o país não é um imenso "bluff"?
Mais juíz menos juíz e procuradores que apenas procuram coisa de ladrão de bairro, e mesmo esses, se não fizerem parte de gang perigoso para a integridade dos agentes desta porcaria de justiça.
Habitualmente prendem se possível, (é mais mediático), preventivamente, um determinado idiota que caiu numa esparrela da vida ou então numa armadilha, vão-se entretendo e vão entretendo a populaça que gosta muito de novela, daquelas coisas que me fazem sair da sala onde está a televisão e onde há muita berraria, e muita estupidez, sem censura... Ai..., a censura..., e podem dizer palavrão e todo o tipo de idiotice, tipo morangões, porque os moranguinhos são para os idiotas e imbecis dos adolescentes, criados neste país de Abril plantado à beira mar, que já não tem remédio.Assim saio de fininho, apenas vejo futebol e olha lá, só arbitrado por árbitros das distritais... Capiche? Com pronúncia do norte, carago!
Mas dizia eu, que deve haver por aí IPs, montes deles onde as dívidas não foram pagas, as facturas escondidas não lembra ao diabo, nem aos credores, ou serão falsas?
Espera. Se forem falsas e não forem contabilizadas, não temos que pagar nada, no entanto parece que também temos de pagar as indemnizações dos boys despedidos. Esta escumalha da política,das causas fracturantes, estes serão o "lumpen" de que falava Marx?
Afinal também temos de pagar as taxas moderadoras dos abortos feitos à borla, porque afinal aquilo é mesmo planeamento familiar, daí a isenção, coisa que agrada muito à esquerda gordurosa e sebenta desta porcaria em que transformaram o meu país.
Mas pela volta que a coisa leva, eu vou chamar a isto de cagalhão flutuante, as divídas que as câmaras deixaram,os IPs,as fundações, as empresas públicas e tudo o resto que se chama de dívida, passa sempre para o ano seguinte, sabem os tipos da contabilidade pública, que ficam com os cabelos em pé, mas os chefes, os cagalhões engravatados, nomeados pelos ministros, secretários e directores gerais, também cagalhões engravatados, esses é que são os ladrões que deveriam ser procurados por essas tretas de procuradores e de juízes, chamados de supers, porque são eles os responsáveis por esses bandidos andarem a pôr a mão na massa dos impostos pagos pelos ursos como eu.
Portanto, resumindo, acho que não haveria prisões suficientes para prender esta chusma, os que roubam e os que deixam roubar e assobiam para o lado, fazendo que fazem, mas não fazendo o que devem e não se desculpem com a porcaria dos códigos, é tudo uma questão de latrina.
Bem, fiquem bem se quiserem ou vão remoendo."
TOUPEIRA
terça-feira, agosto 23, 2011
A crise como vai ser.
"Os pequenos comerciantes estão a deixar de ter máquinas para pagamentos electrónicos. A produção de automóveis em Julho só encontra paralelo com o que se passou há cinco anos. Duas faces do que será, no melhor dos cenários, a tendência da economia portuguesa nos próximos quase dois anos.
O cancelamento das máquinas de pagamento automático, uma notícia que se pode ler na página 9 da edição do Negócios em papel, deve-se, claro, à queda das vendas e ao Fisco. A pressão fiscal a que todos começam a estar submetidos num ambiente recessivo vai tornar a famosa curva de Laffer uma realidade na sua vertente menos desejável - sobem os impostos, cai a receita mais do que era esperado pela recessão.
A subida das exportações explica o que se passa no sector automóvel e já está a arrastar as indústrias a montante. A HUF, fábrica de origem alemã que, em Tondela, produz peças para automóveis, prepara-se para investir nove milhões de euros em maquinaria. Há pouco mais de um ano, esteve em risco de fechar.
A queda do consumo que reflecte as decisões dos pequenos comerciantes de desistirem das máquinas de pagamento electrónico é uma tendência certa que só podemos esperar que se agrave. Já menos certa é a subida das exportações. Espelho da conjuntura de crescimento do resto do mundo, o aumento das vendas para o exterior pode estar ameaçado com as nuvens que se começam a ver no horizonte financeiro. Uma recessão nos Estados Unidos, um abrandamento na Alemanha e uma aterragem brusca na China significam para Portugal contagiar a crise às empresas que exportam. Mas é isto que os investidores estão, neste Agosto, a profetizar.
O medo financeiro
A bolsa europeia, medida pelas cotações das 600 maiores empresas europeias, caiu 15% neste mês de Agosto, enquanto a sua congénere europeia (S&P 500) desvalorizou 12,5%. A taxa de juro de longo prazo da dívida pública dos Estados Unidos e da Alemanha está em mínimos históricos, revelando que, apesar de todas as instabilidades políticas, os investidores ainda procuram protecção nesses títulos. A mostrar também que os investidores ainda se abrigam no crédito aos Estados vistos como sendo de referência. A corrida ao ouro tem sido a grande marca deste Verão: nos 15 dias úteis que leva Agosto, subiu mais de 250 dólares por onça. Neste momento já se aposta que vai ultrapassar a barreira dos dois mil dólares, como se pode ler nas páginas 18 e 19 da edição impressa do Negócios. Ontem, o outro esteve em torno dos 1.894 dólares por onça.
Os mercados financeiros vivem um Verão de medo, gerado pela falta de confiança que transformará numa realidade a profecia de uma nova recessão. As comparações com o pesadelo que foi o pós-falência da Lehman Brothers em Setembro de 2008 são cada vez mais frequentes. Com uma diferença: nessa altura, os Estados Unidos e a Europa ainda tinham margem de manobra orçamental.
Dramaticamente mais do que naquela altura, evitar o coma da economia está nas mãos dos bancos centrais. O presidente da Reserva Federal, é essa a expectativa, deverá anunciar na sexta-feira uma terceira iniciativa de impressão de dólares - o designado "quantitative easing". Do lado de cá do Atlântico, o BCE regressou à compra, em força, de obrigações, uma iniciativa que não será capaz de evitar que a recessão norte-americana seja exportada para a Europa.
No mundo global em que vivemos hoje, será preciso aumentar a oferta de dólares e euros, ao mesmo tempo, para que os ganhos dos norte-americanos não se transformem em perdas da Europa, por via da valorização da moeda única. E, claro, a China tem de viabilizar a apreciação do yuan. Se assim não for, há todas as razões para ter medo."
Helena Garrido
O cancelamento das máquinas de pagamento automático, uma notícia que se pode ler na página 9 da edição do Negócios em papel, deve-se, claro, à queda das vendas e ao Fisco. A pressão fiscal a que todos começam a estar submetidos num ambiente recessivo vai tornar a famosa curva de Laffer uma realidade na sua vertente menos desejável - sobem os impostos, cai a receita mais do que era esperado pela recessão.
A subida das exportações explica o que se passa no sector automóvel e já está a arrastar as indústrias a montante. A HUF, fábrica de origem alemã que, em Tondela, produz peças para automóveis, prepara-se para investir nove milhões de euros em maquinaria. Há pouco mais de um ano, esteve em risco de fechar.
A queda do consumo que reflecte as decisões dos pequenos comerciantes de desistirem das máquinas de pagamento electrónico é uma tendência certa que só podemos esperar que se agrave. Já menos certa é a subida das exportações. Espelho da conjuntura de crescimento do resto do mundo, o aumento das vendas para o exterior pode estar ameaçado com as nuvens que se começam a ver no horizonte financeiro. Uma recessão nos Estados Unidos, um abrandamento na Alemanha e uma aterragem brusca na China significam para Portugal contagiar a crise às empresas que exportam. Mas é isto que os investidores estão, neste Agosto, a profetizar.
O medo financeiro
A bolsa europeia, medida pelas cotações das 600 maiores empresas europeias, caiu 15% neste mês de Agosto, enquanto a sua congénere europeia (S&P 500) desvalorizou 12,5%. A taxa de juro de longo prazo da dívida pública dos Estados Unidos e da Alemanha está em mínimos históricos, revelando que, apesar de todas as instabilidades políticas, os investidores ainda procuram protecção nesses títulos. A mostrar também que os investidores ainda se abrigam no crédito aos Estados vistos como sendo de referência. A corrida ao ouro tem sido a grande marca deste Verão: nos 15 dias úteis que leva Agosto, subiu mais de 250 dólares por onça. Neste momento já se aposta que vai ultrapassar a barreira dos dois mil dólares, como se pode ler nas páginas 18 e 19 da edição impressa do Negócios. Ontem, o outro esteve em torno dos 1.894 dólares por onça.
Os mercados financeiros vivem um Verão de medo, gerado pela falta de confiança que transformará numa realidade a profecia de uma nova recessão. As comparações com o pesadelo que foi o pós-falência da Lehman Brothers em Setembro de 2008 são cada vez mais frequentes. Com uma diferença: nessa altura, os Estados Unidos e a Europa ainda tinham margem de manobra orçamental.
Dramaticamente mais do que naquela altura, evitar o coma da economia está nas mãos dos bancos centrais. O presidente da Reserva Federal, é essa a expectativa, deverá anunciar na sexta-feira uma terceira iniciativa de impressão de dólares - o designado "quantitative easing". Do lado de cá do Atlântico, o BCE regressou à compra, em força, de obrigações, uma iniciativa que não será capaz de evitar que a recessão norte-americana seja exportada para a Europa.
No mundo global em que vivemos hoje, será preciso aumentar a oferta de dólares e euros, ao mesmo tempo, para que os ganhos dos norte-americanos não se transformem em perdas da Europa, por via da valorização da moeda única. E, claro, a China tem de viabilizar a apreciação do yuan. Se assim não for, há todas as razões para ter medo."
Helena Garrido
segunda-feira, agosto 22, 2011
Algumas perguntas
"As medidas da troika e algumas dúvidas sobre se é boa ou má a administração na saúde do novel governo, pela notícia que foi publicada e pelo que se sabe e não se sabe.
A notícia reza assim:
"Os gastos das Administrações Regionais de Saúde com a contratação de médicos e enfermeiros através de empresas aumentaram cinco vezes entre 2009 e 2010, passando de 3,7 milhões para 20,8 milhões de euros, revela um relatório da Administração Central dos Sistemas de Saúde.
Apesar de se ter verificado uma redução na rubrica Custos com Pessoal entre 2009 e 2010, o recurso a “trabalhos especializados – serviços técnicos de recursos humanos prestados por empresas, foi muito significativo, decorrente essencialmente, da contratação de médicos e de enfermeiros, através de empresas”, refere o relatório da actividade dos Agrupamentos de Centros de Saúde em 2010, divulgado no site da Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS).", fim de citação.
Perguntas de um burro que paga impostos, nes te país governado pela troika:
Eu gostava de saber onde está a surpresa, da subida de uns custos e a descida de outros.
Depois, devo lembrar que um dos Secretários de Estado do senhor Macedo, actual Ministro da Saúde e suprasumo, entre administradores, não descobri ainda como, mas desconfio, pois é ex administrador BCP, que recebeu uma escandalosa indemnização do BCP, um Banco controlado pela CGD e decerto não alheio às medidas da troika, entre as quais o aumento do IVA na electricidade e gás. Este Secretário escolhido pelo excelente Ministro da Saúde, era nem mais nem menos que o ex Director executivo da ACSS-IP no tempo do governo Sócrates e logo nada seria aprovado pelas ARSs-IPs, sem o crivo da ACSS-IP.
Portanto, pergunto quem foi que deixou gerar esta despesa, depois pergunto, se o importante é só saber quanto aumentaram os custos que estão numa outra rúbrica, (coisas do POCS), logo se não seria muito mais barata a contratação directa do pessoal referido, em vez de o fazer a empresas, e já que o senhor Coelho gosta muito de transparência, saber de quem são os detentores dessas empresas de fornecimento de trabalho temporário e cavando mais um pouco, saber quanto pagam à hora aos médicos, enfermeiros e outros e quanto recebem as empresas por cada hora contratada, já que saiu uma portaria, imposta pela troika, segundo é rezado na mesma, que visa no espírito da mesma troika reduzir de 30, para 20€, o valor /hora a pagar, e se isso se reflecte nos contratos actuais e nos que se venham a fazer, porque não há razão para os fazer, há razão para desfazer, porque é mais barato contratar directamente com os profissionais."
Toupeira
A notícia reza assim:
"Os gastos das Administrações Regionais de Saúde com a contratação de médicos e enfermeiros através de empresas aumentaram cinco vezes entre 2009 e 2010, passando de 3,7 milhões para 20,8 milhões de euros, revela um relatório da Administração Central dos Sistemas de Saúde.
Apesar de se ter verificado uma redução na rubrica Custos com Pessoal entre 2009 e 2010, o recurso a “trabalhos especializados – serviços técnicos de recursos humanos prestados por empresas, foi muito significativo, decorrente essencialmente, da contratação de médicos e de enfermeiros, através de empresas”, refere o relatório da actividade dos Agrupamentos de Centros de Saúde em 2010, divulgado no site da Administração Central dos Sistemas de Saúde (ACSS).", fim de citação.
Perguntas de um burro que paga impostos, nes te país governado pela troika:
Eu gostava de saber onde está a surpresa, da subida de uns custos e a descida de outros.
Depois, devo lembrar que um dos Secretários de Estado do senhor Macedo, actual Ministro da Saúde e suprasumo, entre administradores, não descobri ainda como, mas desconfio, pois é ex administrador BCP, que recebeu uma escandalosa indemnização do BCP, um Banco controlado pela CGD e decerto não alheio às medidas da troika, entre as quais o aumento do IVA na electricidade e gás. Este Secretário escolhido pelo excelente Ministro da Saúde, era nem mais nem menos que o ex Director executivo da ACSS-IP no tempo do governo Sócrates e logo nada seria aprovado pelas ARSs-IPs, sem o crivo da ACSS-IP.
Portanto, pergunto quem foi que deixou gerar esta despesa, depois pergunto, se o importante é só saber quanto aumentaram os custos que estão numa outra rúbrica, (coisas do POCS), logo se não seria muito mais barata a contratação directa do pessoal referido, em vez de o fazer a empresas, e já que o senhor Coelho gosta muito de transparência, saber de quem são os detentores dessas empresas de fornecimento de trabalho temporário e cavando mais um pouco, saber quanto pagam à hora aos médicos, enfermeiros e outros e quanto recebem as empresas por cada hora contratada, já que saiu uma portaria, imposta pela troika, segundo é rezado na mesma, que visa no espírito da mesma troika reduzir de 30, para 20€, o valor /hora a pagar, e se isso se reflecte nos contratos actuais e nos que se venham a fazer, porque não há razão para os fazer, há razão para desfazer, porque é mais barato contratar directamente com os profissionais."
Toupeira
domingo, agosto 21, 2011
O euro é uma doença crónica e os resgates são aspirinas.
"Deve ser lida a entrevista, porque diz o essencial e a verdade sobre o que daqui a um ano seremos se não sairmos a tempo e com alguma segurança.
Entrevista com Gustavo Cudell
"O euro é uma doença crónica e os resgates são aspirinas"
16.08.2011 - 17:25 Jornal Público
Gustavo Cudell nasceu em Portugal em 1954, mas foi para Suíça em 1974, onde tirou uma licenciatura em Engenharia e uma pós-graduação em Gestão Industrial.
Trabalhou vários anos na Suíça, primeiro como assistente na Faculdade Politécnica de Zurique e depois em duas multinacionais, uma das quais o grupo ABB. Regressou a Portugal 14 anos depois, já no final da década de oitenta, para trabalhar na Gustavo Cudell, Lda., a empresa criada pelo pai, precisamente no dia do seu nascimento e à qual deu o mesmo nome.
O empresário assumiu a presidência da empresa em 1990, depois da morte do pai, de ascendência francesa. O empresário integra, há 14 anos, o painel internacional do IFO, o instituto independente alemão de estudos económicos, que elabora relatórios regulares sobre as expectativas dos empresários em relação à conjuntura económica de diferentes países. Em entrevista ao PÚBLICO, Gustavo Cudell admite que foi um entusiasta do euro, mas agora defende o fim da moeda única e mostra-se muito crítico dos actuais políticos e banqueiros, que define como "marionetas do poder".
O resgate financeiro dos países mais afectados pela crise de dívida tem sido a estratégia mais seguida pela União Europeia. Essa estratégia tem sido a mais correcta ou é desastrosa?
A estratégia que tem sido seguida é desastrosa, porque aumenta as dívidas, os juros e o desemprego e, consequentemente, faz minguar a economia dos países resgatados. Os resgates de bancos e dos países só adiam e aumentam os problemas. E o problema está no euro. No início, também fui um grande apoiante da moeda única, mas hoje acho que o euro é um colete de forças para todos os países que o adoptaram. O euro não funcionou nem nunca vai funcionar, porque os países são completamente diferentes em termos de cultura, dimensão do PIB [Produto Interno Bruto] per capita e competências ou "saber fazer" das populações. Neste momento, o euro é uma doença crónica para todos os países e os resgates são aspirinas para atenuar sintomas e anestesiar as populações.
Qual a estratégia que a União Europeia deveria seguir neste momento? A saída do euro da Grécia, Irlanda e Portugal?
Sem dúvida nenhuma que a saída do euro dos GIPS [Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, também conhecidas pelo acrónimo, em inglês, PIGS] é a solução. Mas de uma forma gradual. Levámos 16 anos a entrar no euro, com as consequências cambiais e de juros, e, por isso, a saída não pode acontecer em poucos dias. O processo terá de passar pela renegociação da dívida, incluindo um perdão parcial, renegociar prazos e taxas de juro e sair da união monetária [euro] para, eventualmente, reentrar numa união cambial, com bandas de flutuação. A Alemanha, a Holanda e a Áustria também devem sair, porque também estão a ser gravemente prejudicadas.
Mas a saída de Portugal do euro não teria consequências dramáticas?
Se a saída for gradual e negociada, não é nada dramático. Reintroduz-se o escudo, as importações baixam, as exportações sobem, o desemprego cai, o turismo sobe, os imóveis transaccionam-se, o desemprego e o deficit baixam. Desaparece o colete de forças do euro. Podemos respirar de novo e recuperar a soberania de Portugal (pelo menos em parte), que nos foi roubada de forma gradual.
Se a solução é tão fácil, por que é que esse cenário assusta tanto os líderes políticos portugueses?
Os políticos e banqueiros, com grande poder, não se assustam. Eles querem é assustar os cidadãos, para que estes não lhes tirem o poder. Aliás, nunca se assiste a um político ou banqueiro a apresentar razões concretas para tal e fazem da discussão objectiva tabu. Os políticos e banqueiros são marionetas do poder, que está agregado nas mãos dos bancos, incluindo os centrais, no FMI, no Banco Mundial, nas bolsas e em algumas famílias de alta finança.
Neste momento, a crise da dívida alastra a outros países, com destaque para Espanha e Itália. Pode a dimensão destes países obrigar a União Europeia a avançar com outras soluções alternativas ao resgate financeiro?
É verdade. A Espanha e a Itália estão a ser contagiadas e é esse o objectivo. Neste momento, o objectivo é que todos os países, incluindo a Alemanha, entrem num "caldeirão", e fiquem todos doentes. O sr. Durão Barroso, de Bruxelas, não vai fazer nada para impedir isto. O que vai acontecer é que os cidadãos vão negar a colaboração com este sistema de poder e, no limite, deixar de pagar impostos. É preciso que surja um ou vários mohandas [mais conhecido por Mahatma, que quer dizer "alma grande" em hindi] Gandhi para fazer a resistência sem violência.
A Alemanha tem-se revelado contra a saída de alguns países do Euro. Esta posição explica-se pelo facto de a economia alemã sair beneficiada com a falta de competitividade de alguns países da moeda única?
Isso é o que os media mainstream contam aos cidadãos menos esclarecidos. Quando falamos da Alemanha, temos que distinguir entre a elite do poder (banqueiros e políticos) e a esmagadora maioria dos cidadãos, que são os trabalhadores e os empresários. A elite do poder alemã segue o mesmo caminho da elite do poder dos outros países. Mas não é verdade que a Alemanha beneficie com o euro, e a grande maioria do povo alemão é contra o euro. A Alemanha oferece (através do euro fraco) os excedentes que obtém da sua exportação ao Banco Central Europeu e este financia os défices dos países do Sul. Sem o euro, a Alemanha teria matérias-primas, incluindo o petróleo, e juros mais baratos e seria muito mais rica.
A Alemanha já há mais de 10 anos que exporta, de forma constante, mais de 40 por cento da sua produção. A Alemanha soube tirar partido do crescimento do PIB mundial, através de produtos e serviços competitivos e inovadores. Ao contrário dos países do Sul, onde houve uma bonança económica e os salários subiram cerca de 40 por cento, sem que o PIB tenha crescido da mesma medida. Consequentemente, o PIB tem sido absorvido só para pagamento de salários, em detrimento do investimento e o consequente colapso da competitividade destes países.
Deve a Europa avançar rapidamente para uma união política, de forma a salvar o euro?
Não. Com toda a certeza que não. Para quê salvar um colete de forças? As populações não são loucas, não precisam de um colete de forças. Uma união que não funciona economicamente, nunca pode nem vai funcionar politicamente. Isso é o desastre total. Mas é isso que os tecnocratas do poder de Bruxelas querem.
A economia portuguesa vai enfrentar um longo período recessivo. A intenção do Governo (e imposição de troika) de reduzir a taxa social única é uma medida bem-vinda?
Reduzir a taxa social única é uma medida temporária, que adia e agrava os problemas, pois a intenção por trás desta medida é baixar o custo/hora de trabalho em Portugal, mas, como a economia portuguesa não é competitiva, pelas razões já apontadas, isso é um artifício com uma duração temporária. É evidente que quem estiver a morrer afogado, agarra tudo e todos para conseguir respirar mais um pouco.
Na actual conjuntura, que outras medidas pode o Governo tomar para ajudar as empresas a aguentarem-se e a aumentarem as exportações?
A medida mais importante é negociar a saída do euro. De forma suave."
Esta entrevista e linha de pensamento está em marcha, não há que ter medo, há que ter medo de quem vendeu a soberania do nosso paíse é mordomo dos agiotas da finaça, há que ter medo dos da Abrilada que destruiram o país, Soares, dos Sócrates, dos Cavacos,Barrosos, Coelhos e Ângelos.
Há que ter medo da partidocracia que não quer mudar uma Constituição sem sentido, de uma Assembleia gosrda num país desgraçado e sobretudo há que ser portugês antes de ser de esquerda ou direita, isso são invenções de gente que sempre se serviram dos que trabalham todos os dias e dos que querem trabalhar e não podem.
É um pensamento e mais sair do Euro antes de levar um pontapé para sair.
Entrevista com Gustavo Cudell
"O euro é uma doença crónica e os resgates são aspirinas"
16.08.2011 - 17:25 Jornal Público
Gustavo Cudell nasceu em Portugal em 1954, mas foi para Suíça em 1974, onde tirou uma licenciatura em Engenharia e uma pós-graduação em Gestão Industrial.
Trabalhou vários anos na Suíça, primeiro como assistente na Faculdade Politécnica de Zurique e depois em duas multinacionais, uma das quais o grupo ABB. Regressou a Portugal 14 anos depois, já no final da década de oitenta, para trabalhar na Gustavo Cudell, Lda., a empresa criada pelo pai, precisamente no dia do seu nascimento e à qual deu o mesmo nome.
O empresário assumiu a presidência da empresa em 1990, depois da morte do pai, de ascendência francesa. O empresário integra, há 14 anos, o painel internacional do IFO, o instituto independente alemão de estudos económicos, que elabora relatórios regulares sobre as expectativas dos empresários em relação à conjuntura económica de diferentes países. Em entrevista ao PÚBLICO, Gustavo Cudell admite que foi um entusiasta do euro, mas agora defende o fim da moeda única e mostra-se muito crítico dos actuais políticos e banqueiros, que define como "marionetas do poder".
O resgate financeiro dos países mais afectados pela crise de dívida tem sido a estratégia mais seguida pela União Europeia. Essa estratégia tem sido a mais correcta ou é desastrosa?
A estratégia que tem sido seguida é desastrosa, porque aumenta as dívidas, os juros e o desemprego e, consequentemente, faz minguar a economia dos países resgatados. Os resgates de bancos e dos países só adiam e aumentam os problemas. E o problema está no euro. No início, também fui um grande apoiante da moeda única, mas hoje acho que o euro é um colete de forças para todos os países que o adoptaram. O euro não funcionou nem nunca vai funcionar, porque os países são completamente diferentes em termos de cultura, dimensão do PIB [Produto Interno Bruto] per capita e competências ou "saber fazer" das populações. Neste momento, o euro é uma doença crónica para todos os países e os resgates são aspirinas para atenuar sintomas e anestesiar as populações.
Qual a estratégia que a União Europeia deveria seguir neste momento? A saída do euro da Grécia, Irlanda e Portugal?
Sem dúvida nenhuma que a saída do euro dos GIPS [Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha, também conhecidas pelo acrónimo, em inglês, PIGS] é a solução. Mas de uma forma gradual. Levámos 16 anos a entrar no euro, com as consequências cambiais e de juros, e, por isso, a saída não pode acontecer em poucos dias. O processo terá de passar pela renegociação da dívida, incluindo um perdão parcial, renegociar prazos e taxas de juro e sair da união monetária [euro] para, eventualmente, reentrar numa união cambial, com bandas de flutuação. A Alemanha, a Holanda e a Áustria também devem sair, porque também estão a ser gravemente prejudicadas.
Mas a saída de Portugal do euro não teria consequências dramáticas?
Se a saída for gradual e negociada, não é nada dramático. Reintroduz-se o escudo, as importações baixam, as exportações sobem, o desemprego cai, o turismo sobe, os imóveis transaccionam-se, o desemprego e o deficit baixam. Desaparece o colete de forças do euro. Podemos respirar de novo e recuperar a soberania de Portugal (pelo menos em parte), que nos foi roubada de forma gradual.
Se a solução é tão fácil, por que é que esse cenário assusta tanto os líderes políticos portugueses?
Os políticos e banqueiros, com grande poder, não se assustam. Eles querem é assustar os cidadãos, para que estes não lhes tirem o poder. Aliás, nunca se assiste a um político ou banqueiro a apresentar razões concretas para tal e fazem da discussão objectiva tabu. Os políticos e banqueiros são marionetas do poder, que está agregado nas mãos dos bancos, incluindo os centrais, no FMI, no Banco Mundial, nas bolsas e em algumas famílias de alta finança.
Neste momento, a crise da dívida alastra a outros países, com destaque para Espanha e Itália. Pode a dimensão destes países obrigar a União Europeia a avançar com outras soluções alternativas ao resgate financeiro?
É verdade. A Espanha e a Itália estão a ser contagiadas e é esse o objectivo. Neste momento, o objectivo é que todos os países, incluindo a Alemanha, entrem num "caldeirão", e fiquem todos doentes. O sr. Durão Barroso, de Bruxelas, não vai fazer nada para impedir isto. O que vai acontecer é que os cidadãos vão negar a colaboração com este sistema de poder e, no limite, deixar de pagar impostos. É preciso que surja um ou vários mohandas [mais conhecido por Mahatma, que quer dizer "alma grande" em hindi] Gandhi para fazer a resistência sem violência.
A Alemanha tem-se revelado contra a saída de alguns países do Euro. Esta posição explica-se pelo facto de a economia alemã sair beneficiada com a falta de competitividade de alguns países da moeda única?
Isso é o que os media mainstream contam aos cidadãos menos esclarecidos. Quando falamos da Alemanha, temos que distinguir entre a elite do poder (banqueiros e políticos) e a esmagadora maioria dos cidadãos, que são os trabalhadores e os empresários. A elite do poder alemã segue o mesmo caminho da elite do poder dos outros países. Mas não é verdade que a Alemanha beneficie com o euro, e a grande maioria do povo alemão é contra o euro. A Alemanha oferece (através do euro fraco) os excedentes que obtém da sua exportação ao Banco Central Europeu e este financia os défices dos países do Sul. Sem o euro, a Alemanha teria matérias-primas, incluindo o petróleo, e juros mais baratos e seria muito mais rica.
A Alemanha já há mais de 10 anos que exporta, de forma constante, mais de 40 por cento da sua produção. A Alemanha soube tirar partido do crescimento do PIB mundial, através de produtos e serviços competitivos e inovadores. Ao contrário dos países do Sul, onde houve uma bonança económica e os salários subiram cerca de 40 por cento, sem que o PIB tenha crescido da mesma medida. Consequentemente, o PIB tem sido absorvido só para pagamento de salários, em detrimento do investimento e o consequente colapso da competitividade destes países.
Deve a Europa avançar rapidamente para uma união política, de forma a salvar o euro?
Não. Com toda a certeza que não. Para quê salvar um colete de forças? As populações não são loucas, não precisam de um colete de forças. Uma união que não funciona economicamente, nunca pode nem vai funcionar politicamente. Isso é o desastre total. Mas é isso que os tecnocratas do poder de Bruxelas querem.
A economia portuguesa vai enfrentar um longo período recessivo. A intenção do Governo (e imposição de troika) de reduzir a taxa social única é uma medida bem-vinda?
Reduzir a taxa social única é uma medida temporária, que adia e agrava os problemas, pois a intenção por trás desta medida é baixar o custo/hora de trabalho em Portugal, mas, como a economia portuguesa não é competitiva, pelas razões já apontadas, isso é um artifício com uma duração temporária. É evidente que quem estiver a morrer afogado, agarra tudo e todos para conseguir respirar mais um pouco.
Na actual conjuntura, que outras medidas pode o Governo tomar para ajudar as empresas a aguentarem-se e a aumentarem as exportações?
A medida mais importante é negociar a saída do euro. De forma suave."
Esta entrevista e linha de pensamento está em marcha, não há que ter medo, há que ter medo de quem vendeu a soberania do nosso paíse é mordomo dos agiotas da finaça, há que ter medo dos da Abrilada que destruiram o país, Soares, dos Sócrates, dos Cavacos,Barrosos, Coelhos e Ângelos.
Há que ter medo da partidocracia que não quer mudar uma Constituição sem sentido, de uma Assembleia gosrda num país desgraçado e sobretudo há que ser portugês antes de ser de esquerda ou direita, isso são invenções de gente que sempre se serviram dos que trabalham todos os dias e dos que querem trabalhar e não podem.
É um pensamento e mais sair do Euro antes de levar um pontapé para sair.
Pede-se coragem, o nosso país já estava a ser goverando pelos banqueiros há muito, a troika são bancos, mas antes já eramos governados por banqueiros e pelas suas falsidades. "
TOUPEIRA
sábado, agosto 20, 2011
Amanhã será mais barato?
"Os investidores assustam-se com as notícias assustadoras e entusiasmam-se com as notícias entusiasmantes. Parece normal que assim suceda mas este é um dos comportamentos mais perigosos para quem aplica dinheiro em acções.
Não haja equívocos. Um investidor que pretenda tomar as melhores decisões tem que levar a sério as más notícias, assim como deve ter em devida conta as que têm um carácter positivo. O problema está na habitual tendência para entrar em pânico quando as cotações descem e alinhar na euforia quando os índices estão em subida.
O resultado costuma ser um desastre. Acaba por se comprar quando os preços já subiram muito e vender quando aqueles já caíram de forma substancial. No actual estado das bolsas, com um período prolongado de grande volatilidade e com muita incerteza no horizonte, fugir do mercado de acções com o objectivo de evitar (mais) perdas, é uma tentação irresistível.
Compreende-se. O urso tem dominado as operações em praças como Lisboa. Existem excepções à baixa das acções mas também há um sector que tem sido especialmente fustigado com a má conjuntura. Desde 2007, o valor de mercado do BCP deteriorou-se mais de 90%. E o banco cotado que menos sofreu, o BES, contabilizou uma quebra próxima de 80%.
Os números são, por si só, assustadores. Revelam que os accionistas das instituições financeiras portuguesas estão a carregar sobre as costas a degradação da saúde dos bancos, afectados pela sua exposição à crise das dívidas soberanas e pelo abrandamento da actividade económica. Quedas daquela dimensão indicariam, noutras circunstâncias, que seria melhor os investidores controlarem os seus receios para poderem aproveitar as oportunidades de comprar agora enquanto os preços estão baratos. Mas será assim?
Os bancos estão no centro do furacão actual. Não têm acesso aos mercados para se financiarem e estão forçados a reduzir a relação entre o crédito concedido e os recursos captados. Serão forçados a alterar a forma como contabilizam as imparidades por causa dos riscos de incumprimento de quem lhes deve dinheiro e isto obrigará a reforçar provisões. Cereja no topo de um bolo amargo: os aumentos de capital que poderão não conseguir evitar, com o Estado a injectar na banca os meios financeiros que foram colocados à disposição para aquele fim através do acordo com a troika.
É por causa de todas estas nuvens negras que, se é certo que as cotações dos bancos já desceram muito, pouco impede que venham a escorregar ainda mais. Quem se assustou a tempo, terá evitado grandes dissabores. Quem só está a ficar assustado agora, arrisca-se a que aquilo que na aparência está "barato" ainda possa sair caro."
João Cândido da Silva
Não haja equívocos. Um investidor que pretenda tomar as melhores decisões tem que levar a sério as más notícias, assim como deve ter em devida conta as que têm um carácter positivo. O problema está na habitual tendência para entrar em pânico quando as cotações descem e alinhar na euforia quando os índices estão em subida.
O resultado costuma ser um desastre. Acaba por se comprar quando os preços já subiram muito e vender quando aqueles já caíram de forma substancial. No actual estado das bolsas, com um período prolongado de grande volatilidade e com muita incerteza no horizonte, fugir do mercado de acções com o objectivo de evitar (mais) perdas, é uma tentação irresistível.
Compreende-se. O urso tem dominado as operações em praças como Lisboa. Existem excepções à baixa das acções mas também há um sector que tem sido especialmente fustigado com a má conjuntura. Desde 2007, o valor de mercado do BCP deteriorou-se mais de 90%. E o banco cotado que menos sofreu, o BES, contabilizou uma quebra próxima de 80%.
Os números são, por si só, assustadores. Revelam que os accionistas das instituições financeiras portuguesas estão a carregar sobre as costas a degradação da saúde dos bancos, afectados pela sua exposição à crise das dívidas soberanas e pelo abrandamento da actividade económica. Quedas daquela dimensão indicariam, noutras circunstâncias, que seria melhor os investidores controlarem os seus receios para poderem aproveitar as oportunidades de comprar agora enquanto os preços estão baratos. Mas será assim?
Os bancos estão no centro do furacão actual. Não têm acesso aos mercados para se financiarem e estão forçados a reduzir a relação entre o crédito concedido e os recursos captados. Serão forçados a alterar a forma como contabilizam as imparidades por causa dos riscos de incumprimento de quem lhes deve dinheiro e isto obrigará a reforçar provisões. Cereja no topo de um bolo amargo: os aumentos de capital que poderão não conseguir evitar, com o Estado a injectar na banca os meios financeiros que foram colocados à disposição para aquele fim através do acordo com a troika.
É por causa de todas estas nuvens negras que, se é certo que as cotações dos bancos já desceram muito, pouco impede que venham a escorregar ainda mais. Quem se assustou a tempo, terá evitado grandes dissabores. Quem só está a ficar assustado agora, arrisca-se a que aquilo que na aparência está "barato" ainda possa sair caro."
João Cândido da Silva
sexta-feira, agosto 19, 2011
Estado social e colapso moral
"(Onde o autor propõe que, como tudo na vida e na sociedade, há que manter o bom senso e o equilíbrio, e os excessos em que caiu o "welfare state" e a cultura da permissividade apresentaram apenas uma factura nas incríveis desordens no Reino Unido, porque a doença social é mais funda, a necessitar de expurgação. E também a temos em Portugal, como em boa parte das democracias ocidentais).
Nem de propósito, encontrava-me a reler passagens do brilhante e provocatório "Black Swan", de Nassim Taleb quando os motins britânicos estalaram e se espraiaram com a naturalidade de fogo a incendiar gasolina. A curiosidade é que aparentemente não havia combustível ou ignição mas tudo ardeu. Aqui entra Taleb e a sua sugestão de que a maioria dos grandes acontecimentos que mudam a vida e às vezes até a história surgem imprevistamente do nada, destituídos também de previsibilidade apriorística, mas posteriormente sujeitos a inúmeras explicações de "retroprevisão". Agora pode-se dizer que estes jovens rebeldes sem causa, a não ser a dos Blackberry, Samsungs ou Lacoste, estão destituídos da fibra moral e cultura de responsabilidade, a quais constituem as fundações das sociedades harmoniosas, mas não nasceram assim, sociopatas candidatos a reformatório e serviço cívico, ou até, pura e simplesmente, grades. Algo se passou.
O Reino Unido oferece talvez o primeiro exemplo de sociedade socialista democrática com a vitória de Atlee em 1945, os sindicatos no poder no Partido Trabalhista, a continuação do dirigismo da economia de guerra, nacionalizações generalizadas e constrangimento nos mercados. De certa forma, para a Europa Ocidental do pós-guerra, é a opção pelo caminho oposto do trilhado pela República Federal Alemã, de liberalismo económico na concertação entre sindicatos e patronato. Sem surpresa, o país começou a destacar-se pelas taxas de crescimento inferiores aos parceiros europeus, sendo até ultrapassado pela Itália. A falta de incentivos ao sucesso individual e a subsidiação generalizada foi ilustrada brilhantemente pela tira humorística diária de Smythte, o Andy Capp (em Portugal, o Zé do Boné), desempregado permanente a viver de subsídios ("dole"), sempre no pub e no bilhar. Para não nos deixarmos arroubar pelo entusiasmo, passamos pela Thatcher sem nos determos, retomando a saga socialista do culto do facilitismo e dos direitos sem responsabilidades que Gordon Brown patrocinou. É esta a Grâ-Bretanha que deixou em combustão lenta os díscolos nihilistas que vimos espalhando o fogo, a assuada e a pilhagem, frustradamente exigentes de tudo e sentindo que é legítimo fazer seu o que aparecer disponível, porque sim, porque é direito inalienável.
Numa reportagem da Sky News, que eu acompanhei assiduamente por ter a cobertura mais contínua, dizia um encarapuçado ao jornalista que o inquiria sobre as suas razões: "estou farto de andar sem dinheiro". Esse jovem, vestindo roupa de marca e exibindo um telemóvel de última geração, estava custando aos contribuintes, isto é, aos trabalhadores, o subsídio de desemprego, uma educação estimada em 80000 libras, todos os cuidados de saúde de que necessitasse e casa de renda social. Escapava-lhe, porém, que, sempre e em toda a parte, ganhar a vida no dia a dia é a forma como as pessoas subsistem e se o jogo da fortuna não é o mais favorável não há um direito subsidiário à apropriação, ou seja, ao roubo puro e simples.
Em sociedades assim delineadas e delineando-se, o Estado é a grande mãe que tudo fornece e a quem tudo se exige, e as coisas chegaram a este ponto porque os eleitores apreciaram o sistema das dádivas que ideólogos efabularam, e os políticos não estão no jogo dos grandes princípios mas das vitória eleitorais, que conseguem com promessas cumulativa de novas dádivas. E não só à esquerda…
E sabem o que os ingleses pensam sobre os motins, segundo estudos de opinião citados em artigo do Wall Street Journal? Que se devem à falta de princípios e de regras de moral, bem como a quebras na autoridade das famílias e das escolas, com uma ínfima minoria (8%) a atribuí-los ao desemprego. Realmente o senso comum não foi de férias, mesmo em sociedades laxistas e não é de Esquerda nem de Direita. Eis, aliás, a opinião de Shaun Bailey, no "Guardian",esse prestigiado órgão socialista:
"O maior problema que o nosso país enfrentou na duas últimas décadas é o de toda a gente pensar que o Estado tem que fazer tudo. A responsabilidade pessoal e a responsabilidade das comunidades foram substituídas pela responsabilidade estadual. Se alguma coisa os motins demonstraram foi a de que esta aproximação não funciona".
Fernando Braga de Matos
Nem de propósito, encontrava-me a reler passagens do brilhante e provocatório "Black Swan", de Nassim Taleb quando os motins britânicos estalaram e se espraiaram com a naturalidade de fogo a incendiar gasolina. A curiosidade é que aparentemente não havia combustível ou ignição mas tudo ardeu. Aqui entra Taleb e a sua sugestão de que a maioria dos grandes acontecimentos que mudam a vida e às vezes até a história surgem imprevistamente do nada, destituídos também de previsibilidade apriorística, mas posteriormente sujeitos a inúmeras explicações de "retroprevisão". Agora pode-se dizer que estes jovens rebeldes sem causa, a não ser a dos Blackberry, Samsungs ou Lacoste, estão destituídos da fibra moral e cultura de responsabilidade, a quais constituem as fundações das sociedades harmoniosas, mas não nasceram assim, sociopatas candidatos a reformatório e serviço cívico, ou até, pura e simplesmente, grades. Algo se passou.
O Reino Unido oferece talvez o primeiro exemplo de sociedade socialista democrática com a vitória de Atlee em 1945, os sindicatos no poder no Partido Trabalhista, a continuação do dirigismo da economia de guerra, nacionalizações generalizadas e constrangimento nos mercados. De certa forma, para a Europa Ocidental do pós-guerra, é a opção pelo caminho oposto do trilhado pela República Federal Alemã, de liberalismo económico na concertação entre sindicatos e patronato. Sem surpresa, o país começou a destacar-se pelas taxas de crescimento inferiores aos parceiros europeus, sendo até ultrapassado pela Itália. A falta de incentivos ao sucesso individual e a subsidiação generalizada foi ilustrada brilhantemente pela tira humorística diária de Smythte, o Andy Capp (em Portugal, o Zé do Boné), desempregado permanente a viver de subsídios ("dole"), sempre no pub e no bilhar. Para não nos deixarmos arroubar pelo entusiasmo, passamos pela Thatcher sem nos determos, retomando a saga socialista do culto do facilitismo e dos direitos sem responsabilidades que Gordon Brown patrocinou. É esta a Grâ-Bretanha que deixou em combustão lenta os díscolos nihilistas que vimos espalhando o fogo, a assuada e a pilhagem, frustradamente exigentes de tudo e sentindo que é legítimo fazer seu o que aparecer disponível, porque sim, porque é direito inalienável.
Numa reportagem da Sky News, que eu acompanhei assiduamente por ter a cobertura mais contínua, dizia um encarapuçado ao jornalista que o inquiria sobre as suas razões: "estou farto de andar sem dinheiro". Esse jovem, vestindo roupa de marca e exibindo um telemóvel de última geração, estava custando aos contribuintes, isto é, aos trabalhadores, o subsídio de desemprego, uma educação estimada em 80000 libras, todos os cuidados de saúde de que necessitasse e casa de renda social. Escapava-lhe, porém, que, sempre e em toda a parte, ganhar a vida no dia a dia é a forma como as pessoas subsistem e se o jogo da fortuna não é o mais favorável não há um direito subsidiário à apropriação, ou seja, ao roubo puro e simples.
Em sociedades assim delineadas e delineando-se, o Estado é a grande mãe que tudo fornece e a quem tudo se exige, e as coisas chegaram a este ponto porque os eleitores apreciaram o sistema das dádivas que ideólogos efabularam, e os políticos não estão no jogo dos grandes princípios mas das vitória eleitorais, que conseguem com promessas cumulativa de novas dádivas. E não só à esquerda…
E sabem o que os ingleses pensam sobre os motins, segundo estudos de opinião citados em artigo do Wall Street Journal? Que se devem à falta de princípios e de regras de moral, bem como a quebras na autoridade das famílias e das escolas, com uma ínfima minoria (8%) a atribuí-los ao desemprego. Realmente o senso comum não foi de férias, mesmo em sociedades laxistas e não é de Esquerda nem de Direita. Eis, aliás, a opinião de Shaun Bailey, no "Guardian",esse prestigiado órgão socialista:
"O maior problema que o nosso país enfrentou na duas últimas décadas é o de toda a gente pensar que o Estado tem que fazer tudo. A responsabilidade pessoal e a responsabilidade das comunidades foram substituídas pela responsabilidade estadual. Se alguma coisa os motins demonstraram foi a de que esta aproximação não funciona".
Fernando Braga de Matos
quinta-feira, agosto 18, 2011
Os Smurfs da Europa
"Ninguém parece ter dúvidas: Angela Merkel e Nicolas Sarkozy reuniram e oferecem-nos, como habitualmente, uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Querem ganhar tempo. E esse é o bem mais caro para a zona euro. A senhora Merkel não consegue já fingir que é uma rainha santa: do seu regaço não saem pães mas sim rosas com espinhos. Sarkozy e Merkel mostraram mais uma vez que a sua visão para o futuro da Europa é um enigma. Que não consegue ser decifrado por ninguém. A senhora Merkel deveria saber, como física de formação, que quando se tenta caminhar sobre as águas há poucas hipóteses de isso poder acontecer. Até porque, apesar de rodeada pelos seus alunos bem comportados que obedecem à cadeia de comando alemã, há algo que começa a ser óbvio: a Europa sensata começa a estar farta de estar à espera da Alemanha. A política de austeridade está a travar qualquer crescimento. É o preço a pagar por a Europa continuar a viver acima das suas possibilidades. Mas, sem decisões sérias, a Europa está a tornar-se uma estátua de gelo. Esta é a Europa dos aprendizes de Smurfs. Porque nem conseguem ser Estrumpfes. Algo que não agrada nem aos mercados, nem aos eleitores. Ou seja, inerte como está, a Europa está a tornar-se irrelevante. Sobretudo deixa, para lá de se tornar um poder económico frágil, de ser uma autoridade moral que funcione como referente do sistema democrático no mundo. A imagem que a Europa está a dar ao mundo é simples: não há liderança política. Ninguém decide. Chegámos à época da democracia de plasticina. Tem a forma que se quer. Ou não tem forma nenhuma. "
Fernando Sobral
Fernando Sobral
quarta-feira, agosto 17, 2011
O suicídio do Ocidente
"A crise das dívidas soberanas no Ocidente é indício de um mal mais fundo. Pela primeira vez em séculos, os EUA e a Europa arriscam-se a perder o ceptro de líderes isolados da economia global. E se há uma regra natural da história é que a perda da liderança económica é rapidamente seguida da alteração da liderança política e militar. Os EUA terão menos recursos para defesa (sua e nossa) e os países emergentes (com a China à cabeça do pelotão) mais.
O Ocidente tem aceitado concorrer sem barreiras com países que jogam o mesmo jogo mas com regras menos exigentes (ambientais, protecção social, para não falar de valores políticos mais fundamentais) e que põem quantidades imensas de capital à ordem dos governos para as investirem numa lógica de pura estratégia geopolítica. Falar em proteccionismo é um dos tabus actuais mais vigiados. Porém, se um mundo desalfandegado cria relevantes benefícios gerais - do desenvolvimento do terceiro mundo ao aumento do nosso poder de compra individual -, a verdade é que também comporta pesados custos. Desde logo, uma ordem mundial que premeia quem produz com piores métodos nivela por baixo. Se não conseguimos vencê-los com o nosso modo de agir, seremos forçados a baixar-nos até eles.
Neste momento de impasse e na iminência de uma transição de poder, a mais elementar prudência recomenda que o Ocidente exija reciprocidade de métodos para continuar com o livre comércio global. Não se enganem, muitos dos nossos concorrentes são na verdade nossos inimigos. Querem depender da generosidade de estranhos?"
Duarte Lino
O Ocidente tem aceitado concorrer sem barreiras com países que jogam o mesmo jogo mas com regras menos exigentes (ambientais, protecção social, para não falar de valores políticos mais fundamentais) e que põem quantidades imensas de capital à ordem dos governos para as investirem numa lógica de pura estratégia geopolítica. Falar em proteccionismo é um dos tabus actuais mais vigiados. Porém, se um mundo desalfandegado cria relevantes benefícios gerais - do desenvolvimento do terceiro mundo ao aumento do nosso poder de compra individual -, a verdade é que também comporta pesados custos. Desde logo, uma ordem mundial que premeia quem produz com piores métodos nivela por baixo. Se não conseguimos vencê-los com o nosso modo de agir, seremos forçados a baixar-nos até eles.
Neste momento de impasse e na iminência de uma transição de poder, a mais elementar prudência recomenda que o Ocidente exija reciprocidade de métodos para continuar com o livre comércio global. Não se enganem, muitos dos nossos concorrentes são na verdade nossos inimigos. Querem depender da generosidade de estranhos?"
Duarte Lino
terça-feira, agosto 16, 2011
Os reis vão nus
"Portugal vive um último Verão de ilusão. A ilusão de que tem grandes bancos privados, industriais prósperos, grandes empresas nacionais. Mas são estrelas decadentes. Metade dos ricos está pobre.
O mundo não se divide hoje entre ricos e pobres, mas entre os que têm capital e dívidas. Portugal tem dívidas. Os seus banqueiros, empresários, cidadãos têm dívidas. E quando chegar a liquidação, liquidação será.
Compre a revista "Exame" deste mês, traz a lista anual dos mais ricos de Portugal. Guarde-a, é uma edição histórica. Daqui a cinco anos gostará de a reler, será como o "Conta-me como foi", da RTP: passado, longínquo, nostálgico, um anacronismo. O problema não é da revista, é dos ricos que o não são. Porque a história não está a ser bem contada. Há ricos com activos luxuriantes. E passivos monstruosos.
Esta lista dos mais ricos de Portugal é um monumento à decadência do capitalismo português. Ao listar apenas o património, mede-se a opulência. Ao ignorar as dívidas, ocultam-se os caídos. Metade dos magníficos empresários Dr. Jekyll transformam-se à noite em endividados Mr. Hyde. Só não estão executados porque em Portugal há muito respeitinho - e porque uma dívida grande não é um problema do devedor, é um problema do credor.
A semente da destruição está numa elite capitalista sem capital. Em parte porque foi expropriada em 1975 com fracas indemnizações depois. Noutra parte, porque foi recebendo dividendos na Suíça e distribuindo pelas famílias. Depois, porque nunca quis abdicar do controlo de 10 em vez de partilhar 100 (o medo de ter sócios..., sobretudo se forem - credo! - estrangeiros). E finalmente: porque há muitas empresas grandes mal geridas.
Esta estrutura empresarial está a ruir, 4% ao dia, na bolsa. A falta de capital, as cascatas de dívida, os dividendos não suportam um problema: a desvalorização dos colaterais. As acções são hoje casas decimais do que eram quando foram dadas como contrapartidas de dívidas. O caso mais famoso é o dos accionistas do BCP, num processo que foi aqui muitas vezes denunciado: o patrocínio da Caixa e do próprio BCP a uma guerra sem quartel, financiando guerreiros e guerrilheiros contra acções que não valiam o que cotavam. Os activos desvalorizam, os passivos ficaram. Agora, quem paga?
Joe Berardo, Teixeira Duarte, Manuel Fino... Os "donos" do BCP estão nas mãos dos bancos, que estão com as mãos na cabeça. Mas há mais. As dívidas da Impresa, da Ongoing, da Zon, da Brisa, das construtoras, das imobiliárias, tudo isto são dívidas também dos seus accionistas. Como o Estado: prepara-se para vender o controlo da EDP sem prémio de controlo.
Depois do Verão, a revisão das carteiras de crédito dos bancos vai precipitar a análise da sua nacionalização, como aqui tem sido avisado. Se isso acontecer, os balanços serão "limpos" e tudo será executado, o que levaria a uma nacionalização de grande parte da economia, através dos bancos. Para evitá-lo, restará vender essas empresas, acções e imóveis. E, claro, a estrangeiros. O problema não é serem estrangeiros, é ser ao melhor preço. Isto é: ao pior.
Não estão todos assim. Amorim está mais rico que nunca depois de ter encontrado petróleo. Soares dos Santos está mais rico que nunca depois de ter criado o seu próprio petróleo na Polónia. Queiroz Pereira, que não foi em loucuras e teve os apoios certos dos Governos, prepara-se para mobilizar centenas de milhões para comprar parte da Secil (ou para disputar parte da Cimpor?). São excepções.
Estamos a ouvir o cisne cantar. A maior parte da bazófia são casacas coçadas ou sapatos brancos em Janeiro. É como atirar a última bezerra das muralhas de Monsanto para iludir o cerco para uma falsa prosperidade.
O cerco é financeiro. A venda de activos será acelerada e o Governo já escolheu os predilectos: alemães e franceses, talvez brasileiros e angolanos. Que venham por bem, não para desmantelar, mas para investir e gerir bem. Se assim for, que venham eles. Viva o Verão, viva este Verão, este Verão de ilusão."
Pedro Santos Guerreiro
O mundo não se divide hoje entre ricos e pobres, mas entre os que têm capital e dívidas. Portugal tem dívidas. Os seus banqueiros, empresários, cidadãos têm dívidas. E quando chegar a liquidação, liquidação será.
Compre a revista "Exame" deste mês, traz a lista anual dos mais ricos de Portugal. Guarde-a, é uma edição histórica. Daqui a cinco anos gostará de a reler, será como o "Conta-me como foi", da RTP: passado, longínquo, nostálgico, um anacronismo. O problema não é da revista, é dos ricos que o não são. Porque a história não está a ser bem contada. Há ricos com activos luxuriantes. E passivos monstruosos.
Esta lista dos mais ricos de Portugal é um monumento à decadência do capitalismo português. Ao listar apenas o património, mede-se a opulência. Ao ignorar as dívidas, ocultam-se os caídos. Metade dos magníficos empresários Dr. Jekyll transformam-se à noite em endividados Mr. Hyde. Só não estão executados porque em Portugal há muito respeitinho - e porque uma dívida grande não é um problema do devedor, é um problema do credor.
A semente da destruição está numa elite capitalista sem capital. Em parte porque foi expropriada em 1975 com fracas indemnizações depois. Noutra parte, porque foi recebendo dividendos na Suíça e distribuindo pelas famílias. Depois, porque nunca quis abdicar do controlo de 10 em vez de partilhar 100 (o medo de ter sócios..., sobretudo se forem - credo! - estrangeiros). E finalmente: porque há muitas empresas grandes mal geridas.
Esta estrutura empresarial está a ruir, 4% ao dia, na bolsa. A falta de capital, as cascatas de dívida, os dividendos não suportam um problema: a desvalorização dos colaterais. As acções são hoje casas decimais do que eram quando foram dadas como contrapartidas de dívidas. O caso mais famoso é o dos accionistas do BCP, num processo que foi aqui muitas vezes denunciado: o patrocínio da Caixa e do próprio BCP a uma guerra sem quartel, financiando guerreiros e guerrilheiros contra acções que não valiam o que cotavam. Os activos desvalorizam, os passivos ficaram. Agora, quem paga?
Joe Berardo, Teixeira Duarte, Manuel Fino... Os "donos" do BCP estão nas mãos dos bancos, que estão com as mãos na cabeça. Mas há mais. As dívidas da Impresa, da Ongoing, da Zon, da Brisa, das construtoras, das imobiliárias, tudo isto são dívidas também dos seus accionistas. Como o Estado: prepara-se para vender o controlo da EDP sem prémio de controlo.
Depois do Verão, a revisão das carteiras de crédito dos bancos vai precipitar a análise da sua nacionalização, como aqui tem sido avisado. Se isso acontecer, os balanços serão "limpos" e tudo será executado, o que levaria a uma nacionalização de grande parte da economia, através dos bancos. Para evitá-lo, restará vender essas empresas, acções e imóveis. E, claro, a estrangeiros. O problema não é serem estrangeiros, é ser ao melhor preço. Isto é: ao pior.
Não estão todos assim. Amorim está mais rico que nunca depois de ter encontrado petróleo. Soares dos Santos está mais rico que nunca depois de ter criado o seu próprio petróleo na Polónia. Queiroz Pereira, que não foi em loucuras e teve os apoios certos dos Governos, prepara-se para mobilizar centenas de milhões para comprar parte da Secil (ou para disputar parte da Cimpor?). São excepções.
Estamos a ouvir o cisne cantar. A maior parte da bazófia são casacas coçadas ou sapatos brancos em Janeiro. É como atirar a última bezerra das muralhas de Monsanto para iludir o cerco para uma falsa prosperidade.
O cerco é financeiro. A venda de activos será acelerada e o Governo já escolheu os predilectos: alemães e franceses, talvez brasileiros e angolanos. Que venham por bem, não para desmantelar, mas para investir e gerir bem. Se assim for, que venham eles. Viva o Verão, viva este Verão, este Verão de ilusão."
Pedro Santos Guerreiro
segunda-feira, agosto 15, 2011
Sim, eu quero saber os salários dos assessores
"O portal das nomeações foi uma ideia de génio de Pedro Passos Coelho: mal ele ficou disponível, o país deixou de se lamentar sobre o corte no subsídio de Natal e passou a indignar-se com os ordenados dos motoristas do secretário de Estado da Cultura. A economia, como um todo, é uma coisa um bocado abstracta, e que aborrece bastante. Já os salários dos novos boys, isso sim, fazem ferver o sangue e dão boas conversas de café.
Diante deste panorama, há quem tenha rapidamente começado a indignar-se contra o referido portal, acusado de apenas incentivar a coscuvilhice e não esclarecer coisa nenhuma. Se quisermos resumir a posição da tribo que desnomeava imediatamente a medida, podemos utilizar uma daquelas frases engenhosas que Rodrigo Moita de Deus costuma proferir no blogue 31 da Armada: "O site das nomeações é a maior invenção do mundo depois do peep show." A frase é uma boa frase, mas omite um pequeno detalhe: é que os donos deste peep show somos nós. E esta é a questão essencial. Da mesma forma que não passa pela cabeça de ninguém impedir um accionista de uma empresa de saber quanto ganham os seus funcionários, também qualquer contribuinte português deve ter o direito de conhecer os salários dos trabalhadores da função pública ou das empresas em que o Estado é o principal accionista. Não se trata sequer de uma questão de transparência. Trata-se de um óbvio direito democrático. Claro que se pode discutir se o portal está bem ou mal feito (eu acho que está mal feito, porque mistura tudo, da escolha dos assessores às simples renomeações de funcionários que já fazem parte da mobília), mas a justiça da divulgação, essa, não tem discussão possível."
João Miguel Tavares
Diante deste panorama, há quem tenha rapidamente começado a indignar-se contra o referido portal, acusado de apenas incentivar a coscuvilhice e não esclarecer coisa nenhuma. Se quisermos resumir a posição da tribo que desnomeava imediatamente a medida, podemos utilizar uma daquelas frases engenhosas que Rodrigo Moita de Deus costuma proferir no blogue 31 da Armada: "O site das nomeações é a maior invenção do mundo depois do peep show." A frase é uma boa frase, mas omite um pequeno detalhe: é que os donos deste peep show somos nós. E esta é a questão essencial. Da mesma forma que não passa pela cabeça de ninguém impedir um accionista de uma empresa de saber quanto ganham os seus funcionários, também qualquer contribuinte português deve ter o direito de conhecer os salários dos trabalhadores da função pública ou das empresas em que o Estado é o principal accionista. Não se trata sequer de uma questão de transparência. Trata-se de um óbvio direito democrático. Claro que se pode discutir se o portal está bem ou mal feito (eu acho que está mal feito, porque mistura tudo, da escolha dos assessores às simples renomeações de funcionários que já fazem parte da mobília), mas a justiça da divulgação, essa, não tem discussão possível."
João Miguel Tavares
domingo, agosto 14, 2011
Quem trava a corrida para o abismo?
"De Londres chegam notícias de confrontos de jovens com a polícia, de incêndio de edifícios e até de pilhagem de estabelecimentos comerciais. Acontecimentos que ninguém imaginaria pudessem ocorrer na Europa. Tal como há alguns anos nos arredores de Paris, em Atenas mais recentemente, e de vez em quando às portas de Lisboa, a faísca que desencadeia a revolta é a actuação da polícia que conduz à morte de uma pessoa. Contudo, se queremos entender o significado destes episódios de violência, importa ver para além das responsabilidades dos indivíduos o plano em que decorre a acção da justiça. É preciso vê-los também como acontecimentos sociais que são parte integrante da história contemporânea das sociedades europeias.
É fácil reconhecer que há um enorme mal-estar nos subúrbios de algumas das grandes cidades europeias. O elevadíssimo desemprego entre os jovens, a concentração de famílias pobres em espaços urbanos degradados e a crescente desigualdade na distribuição do rendimento nestas sociedades são alguns dos ingredientes que trouxeram de volta à Europa a "questão social". Desde que as ideias neoliberais passaram a comandar a política económica, nos anos 80 do século passado, os governos de todas as cores políticas abandonaram o objectivo do pleno emprego e abraçaram o credo da "globalização feliz". Através da acção do FMI, do Banco Mundial, da OCDE e da União Europeia, o modelo do crescimento económico baseado nas exportações transformou-se na receita universal para os males de qualquer economia, ao mesmo tempo que a competitividade foi promovida a objectivo central da política económica.
A abertura às importações de países asiáticos, onde as condições salariais, sociais, ambientais e institucionais permitem preços imbatíveis, reduziu substancialmente a indústria europeia e expulsou definitivamente do mercado de trabalho largos milhares de cidadãos. A agenda de Lisboa, centrada no conceito de "economia do conhecimento" e na promoção da competitividade pela inovação, constituiu um manto ideológico que foi usado para ocultar uma dura realidade. A de que só algumas economias, muito poucas, estão em condições (têm instituições, competências, recursos) de escapar à concorrência pelo preço num mercado globalizado. Em boa parte da Europa, o crescimento do emprego precário em serviços de baixa produtividade foi o reverso da desindustrialização. Liderada pela finança, e comandada pelo imperativo do lucro de curto prazo, a globalização encaminhou os excedentes das economias vencedoras da globalização para as deficitárias onde o crescimento foi sustentado a crédito. A grande recessão que começou nos EUA em 2007 e se estendeu à Europa em 2008 é pois o triunfo da globalização, um processo em que comércio e finança são interdependentes.
Sem vontade política para continuar a garantir empréstimos, a parte da Europa que até agora beneficiou da globalização impõe agora à Espanha e à Itália a receita da austeridade e da baixa generalizada dos salários na ilusória expectativa de que a especulação contra o euro terminará. Em nome da competitividade no mercado global, agravam-se as políticas recessivas e reduz-se o Estado-providência a um Estado-assistência. Em sintonia com o neoliberalismo norte--americano, a Europa dá o seu melhor para que a grande recessão regresse e, desta vez, se transforme mesmo numa depressão.
Mas a história é um processo aberto. Marcada pelo desemprego e pela frustração dos seus projectos de vida, a juventude europeia tem dado sinais de que não se conforma com o programa de regressão social em curso. Talvez ainda seja possível congregar forças sociais e políticas que travem esta corrida para o abismo. Quem sabe?"
Jorge Bateira
É fácil reconhecer que há um enorme mal-estar nos subúrbios de algumas das grandes cidades europeias. O elevadíssimo desemprego entre os jovens, a concentração de famílias pobres em espaços urbanos degradados e a crescente desigualdade na distribuição do rendimento nestas sociedades são alguns dos ingredientes que trouxeram de volta à Europa a "questão social". Desde que as ideias neoliberais passaram a comandar a política económica, nos anos 80 do século passado, os governos de todas as cores políticas abandonaram o objectivo do pleno emprego e abraçaram o credo da "globalização feliz". Através da acção do FMI, do Banco Mundial, da OCDE e da União Europeia, o modelo do crescimento económico baseado nas exportações transformou-se na receita universal para os males de qualquer economia, ao mesmo tempo que a competitividade foi promovida a objectivo central da política económica.
A abertura às importações de países asiáticos, onde as condições salariais, sociais, ambientais e institucionais permitem preços imbatíveis, reduziu substancialmente a indústria europeia e expulsou definitivamente do mercado de trabalho largos milhares de cidadãos. A agenda de Lisboa, centrada no conceito de "economia do conhecimento" e na promoção da competitividade pela inovação, constituiu um manto ideológico que foi usado para ocultar uma dura realidade. A de que só algumas economias, muito poucas, estão em condições (têm instituições, competências, recursos) de escapar à concorrência pelo preço num mercado globalizado. Em boa parte da Europa, o crescimento do emprego precário em serviços de baixa produtividade foi o reverso da desindustrialização. Liderada pela finança, e comandada pelo imperativo do lucro de curto prazo, a globalização encaminhou os excedentes das economias vencedoras da globalização para as deficitárias onde o crescimento foi sustentado a crédito. A grande recessão que começou nos EUA em 2007 e se estendeu à Europa em 2008 é pois o triunfo da globalização, um processo em que comércio e finança são interdependentes.
Sem vontade política para continuar a garantir empréstimos, a parte da Europa que até agora beneficiou da globalização impõe agora à Espanha e à Itália a receita da austeridade e da baixa generalizada dos salários na ilusória expectativa de que a especulação contra o euro terminará. Em nome da competitividade no mercado global, agravam-se as políticas recessivas e reduz-se o Estado-providência a um Estado-assistência. Em sintonia com o neoliberalismo norte--americano, a Europa dá o seu melhor para que a grande recessão regresse e, desta vez, se transforme mesmo numa depressão.
Mas a história é um processo aberto. Marcada pelo desemprego e pela frustração dos seus projectos de vida, a juventude europeia tem dado sinais de que não se conforma com o programa de regressão social em curso. Talvez ainda seja possível congregar forças sociais e políticas que travem esta corrida para o abismo. Quem sabe?"
Jorge Bateira
sábado, agosto 13, 2011
Mas que desilusão… Governo e Troika!
"Não há dúvida. Somos um país que não consegue cortar despesa. A prova tivemo-la hoje quando o ministro das Finanças convocou a Imprensa para uma declaração (sem direito a perguntas) para anunciar mais… um aumento de impostos.
Desta vez, a passagem do IVA do gás electricidade da taxa de 6 para 23%. Tudo porque o governo precisa de mais 100 milhões de euros para ajudar a quadrar as contas deste ano (o défice de 5,9%, como referiu a Troika logo a seguir, é intocável!).
Mas maior que a desilusão de mais um aumento de impostos (Vítor Gaspar dir-me-ia, no final da conferência de imprensa que cortes de despesa ficam para a apresentação do OE 2012), foi a conferência de imprensa da Troika. Não que não tivessem sido (espantosamente) detalhados quanto aos problemas da economia portuguesa (até conseguiram especificar onde ocorreram os desvios orçamentais deste ano, coisa que devia ter sido feita pelo Governo). Não que não tivessem confirmado que seguem a implementação do programa de ajustamento ao milímetro; não que tivessem feito novos avisos à Banca (a desalavancagem não pode prejudicar o financiamento das empresas e os bancos precisam de aumentar o capital, mesmo que isso implique novos accionistas, Estado inclusivé); não que não tivessem repetido que o Estado tem de sair de uma série de sectores da economia; não que não tivessem reiterado que a União vai garantir o financiamento de Portugal se o país não conseguir regressar aos mercados, desde que implementemos o plano acordado com a Troika (vamos ver se os parlamentos alemão, finlandês e holandês não tiram o tapete às decisões da cimeira de 21 de Julho); não que não tenham feito finca-pé na redução da Taxa Social Única, em 6 a 7% e para todos os sectores (num “aviso” àqueles que no governo e Banco de Portugal preferiam uma versão minimalista do corte da TSU); não que não tivessem “sugerido” um novo programa de “governance” na Madeira (pena que não tivessem dito o mesmo para as autarquias…); não que não tenha reiterado que o ajustamento orçamental se não for acompanhado de reformas estruturais só resolve parte do problema (a economia estagna)…
Mas se eles fizeram tantos avisos, perguntará o leitor, porque estou tão desiludido? É simples: não foram suficientemente assertivos na questão do corte de despesa. Quando perguntei à Troika se não estavam desapontados com o facto de o Governo, até agora, ter feito “mais do mesmo”, a resposta foi: o governo tomou posse há pouco tempo, há que compreender isso. “Mas não é verdade que não fez nada: estabilizou o ritmo de crescimento da despesa”. Como analista a “força” desta declaração não chega. É verdade que Poul Thomsen, mais à frente, ainda disse que em 2012 terá de haver “cortes substanciais de despesa”. Mas a Troika tinha obrigação de ter posto mais pressão sobre o Governo. Para bem do próprio Governo (a opinião pública teria mais uma prova de que Portugal não tem saída senão o corte de despesa) e por respeito pelo contribuinte, que acaba sempre por pagar as correcções dos desvios orçamentais.
Mais: ontem ficámos a saber que parte do desvio das despesas de 2011 (provocado pelo BPN, em 320 milhões, e pela Madeira, em 277 milhões) será coberto pela transferência do fundo de pensões da banca para a Segurança Social. Só que este “pormaior” foi divulgado pela Troika, quando devia ter sido pelo Governo. Inadmissível!"
Camilo Lourenço
Desta vez, a passagem do IVA do gás electricidade da taxa de 6 para 23%. Tudo porque o governo precisa de mais 100 milhões de euros para ajudar a quadrar as contas deste ano (o défice de 5,9%, como referiu a Troika logo a seguir, é intocável!).
Mas maior que a desilusão de mais um aumento de impostos (Vítor Gaspar dir-me-ia, no final da conferência de imprensa que cortes de despesa ficam para a apresentação do OE 2012), foi a conferência de imprensa da Troika. Não que não tivessem sido (espantosamente) detalhados quanto aos problemas da economia portuguesa (até conseguiram especificar onde ocorreram os desvios orçamentais deste ano, coisa que devia ter sido feita pelo Governo). Não que não tivessem confirmado que seguem a implementação do programa de ajustamento ao milímetro; não que tivessem feito novos avisos à Banca (a desalavancagem não pode prejudicar o financiamento das empresas e os bancos precisam de aumentar o capital, mesmo que isso implique novos accionistas, Estado inclusivé); não que não tivessem repetido que o Estado tem de sair de uma série de sectores da economia; não que não tivessem reiterado que a União vai garantir o financiamento de Portugal se o país não conseguir regressar aos mercados, desde que implementemos o plano acordado com a Troika (vamos ver se os parlamentos alemão, finlandês e holandês não tiram o tapete às decisões da cimeira de 21 de Julho); não que não tenham feito finca-pé na redução da Taxa Social Única, em 6 a 7% e para todos os sectores (num “aviso” àqueles que no governo e Banco de Portugal preferiam uma versão minimalista do corte da TSU); não que não tivessem “sugerido” um novo programa de “governance” na Madeira (pena que não tivessem dito o mesmo para as autarquias…); não que não tenha reiterado que o ajustamento orçamental se não for acompanhado de reformas estruturais só resolve parte do problema (a economia estagna)…
Mas se eles fizeram tantos avisos, perguntará o leitor, porque estou tão desiludido? É simples: não foram suficientemente assertivos na questão do corte de despesa. Quando perguntei à Troika se não estavam desapontados com o facto de o Governo, até agora, ter feito “mais do mesmo”, a resposta foi: o governo tomou posse há pouco tempo, há que compreender isso. “Mas não é verdade que não fez nada: estabilizou o ritmo de crescimento da despesa”. Como analista a “força” desta declaração não chega. É verdade que Poul Thomsen, mais à frente, ainda disse que em 2012 terá de haver “cortes substanciais de despesa”. Mas a Troika tinha obrigação de ter posto mais pressão sobre o Governo. Para bem do próprio Governo (a opinião pública teria mais uma prova de que Portugal não tem saída senão o corte de despesa) e por respeito pelo contribuinte, que acaba sempre por pagar as correcções dos desvios orçamentais.
Mais: ontem ficámos a saber que parte do desvio das despesas de 2011 (provocado pelo BPN, em 320 milhões, e pela Madeira, em 277 milhões) será coberto pela transferência do fundo de pensões da banca para a Segurança Social. Só que este “pormaior” foi divulgado pela Troika, quando devia ter sido pelo Governo. Inadmissível!"
Camilo Lourenço
sexta-feira, agosto 12, 2011
Devolvam-nos o futuro, sff
"Não há futuro", cantavam os punks de Londres, três décadas atrás, nas ruas que agora ardem. Dezasseis mil polícias não controlam 16 milhões de pessoas. A ordem apenas se mantém quando a maioria da população permite que ela exista. Os governos e os políticos destruíram a possibilidade de haver paz. A política tornou-se um prato único de austeridade para quem trabalha e mais riqueza para os do costume. Os cortes sociais abruptos e cegos e o aumento do desemprego fizeram com que haja cada vez mais gente que não tenha nada a perder. Os governos liquidaram o futuro, mas esta revolta também não traz nenhuma esperança. Apenas violência, chamas e caos.
Aqueles que saíram às ruas são uma caricatura da sociedade que os levou ao beco sem saída: o plasma que roubaram na grande superfície só lhes permite ver a versão local do "Preço Certo" em ecrã maior. É este o drama da nossa época. Precisamos de uma mudança revolucionária que ponha a vida das pessoas no centro da economia. De uma sociedade que se importe com os empregos e combata os lucros fáceis da especulação bolsista. Mas nesta Europa não vemos uma força que queira transformar o caos numa destruição criadora. No Reino Unido, a 5 de Novembro, as pessoas assinalam a captura de um homem que no meio da injustiça pretendeu destruir o parlamento. Esse ao menos tinha claro que o mal é uma questão política. "
Nuno Ramos de Almeida
Aqueles que saíram às ruas são uma caricatura da sociedade que os levou ao beco sem saída: o plasma que roubaram na grande superfície só lhes permite ver a versão local do "Preço Certo" em ecrã maior. É este o drama da nossa época. Precisamos de uma mudança revolucionária que ponha a vida das pessoas no centro da economia. De uma sociedade que se importe com os empregos e combata os lucros fáceis da especulação bolsista. Mas nesta Europa não vemos uma força que queira transformar o caos numa destruição criadora. No Reino Unido, a 5 de Novembro, as pessoas assinalam a captura de um homem que no meio da injustiça pretendeu destruir o parlamento. Esse ao menos tinha claro que o mal é uma questão política. "
Nuno Ramos de Almeida
quinta-feira, agosto 11, 2011
O ponto de ebulição
"O IVA não é uma pastilha elástica: não estica indefinidamente. E, em Portugal, está a atingir o ponto de ebulição. Um dia destes, o IVA passará do estado líquido para o de vapor. E aí deixará de ter efeito. Mas antes de isso suceder, qualquer Governo que o tenha colocado numa cafeteira para aquecer melhor pode queimar-se. Trocar o aumento do IVA, hoje já um dos mais elevados da Europa, por uma baixa reduzida da TSU parece um "bluff" num jogo de poker: para se ter sucesso, é preciso que os outros jogadores acreditem que ele vai causar o efeito pretendido.
É uma jogada psicológica, porque para ter efeitos reais teria de ser muito mais arriscada. Mas para isso suceder teria de haver capacidade para ir buscar receitas perdidas a um qualquer oásis. Aumentar ainda mais o IVA pode ter consequências ainda mais devastadoras no já débil tecido económico nacional. A partir de certo momento, não vai haver mais receitas porque não há dinheiro para adquirir. E sabemos onde está o resto de vitalidade da sociedade portuguesa: no consumo e na circulação de dinheiro. É por isso que a troca do IVA pela TSU pode queimar os dedos ao Governo. E mostrar à sociedade que as promessas de que não haveria um assalto fiscal continuado eram teatro musicado, com muita dança e declamação, mas nada mais do que isso.
Ninguém duvida de que os portugueses, a curto prazo, vão ficar mais pobres. Mas o combate à dívida e ao défice devem ser vistos não apenas em termos económicos e financeiros, mas também com um olhar político. De outra forma, estamos a atirar o País para um micro-ondas, onde cozerá rapidamente até torrar."
Fernando Sobral
É uma jogada psicológica, porque para ter efeitos reais teria de ser muito mais arriscada. Mas para isso suceder teria de haver capacidade para ir buscar receitas perdidas a um qualquer oásis. Aumentar ainda mais o IVA pode ter consequências ainda mais devastadoras no já débil tecido económico nacional. A partir de certo momento, não vai haver mais receitas porque não há dinheiro para adquirir. E sabemos onde está o resto de vitalidade da sociedade portuguesa: no consumo e na circulação de dinheiro. É por isso que a troca do IVA pela TSU pode queimar os dedos ao Governo. E mostrar à sociedade que as promessas de que não haveria um assalto fiscal continuado eram teatro musicado, com muita dança e declamação, mas nada mais do que isso.
Ninguém duvida de que os portugueses, a curto prazo, vão ficar mais pobres. Mas o combate à dívida e ao défice devem ser vistos não apenas em termos económicos e financeiros, mas também com um olhar político. De outra forma, estamos a atirar o País para um micro-ondas, onde cozerá rapidamente até torrar."
Fernando Sobral
A especulação à solta
"Os mercados estão com a cabeça a andar à roda. Um sopro torna-se furacão, um azar passa a tragédia, uma alegria vira azia. Enquanto as acções derretem na incineradora do pânico, muitos fazem fortunas do dia para a noite. Ataque especulativo, diz Sarkozy. Diz Zapatero. Diz Berlusconi. Diz agora até Obama. E diz Vasco de Mello.
Vários gestores portugueses têm criticado as vendas a descoberto, e não só através de "naked short-selling", que permite vender acções que não se tem. Ricardo Salgado foi o primeiro, António Mexia depois, Carlos Tavares também. Mas hoje é a primeira vez que um presidente de uma empresa cotada denuncia, em declarações a este jornal, uma suspeita de manipulação de acções da sua própria empresa: da Brisa.
Os crentes dos mercados que ainda são crédulos acham estas críticas uma paspalhice. Mas a questão põe-se: o "short-selling" é uma forma de diversificar risco, ganhando dinheiro quando as acções desvalorizam? Ou, sendo isso, permite também manipulações de acções ao ponto de as deixar inanimadas?
"Portugal está de 'shorts'", escreveu-se aqui há três anos. A acção do BCP tem sido rodada como uma galdéria entre "short sellers". Como a da EDP, que convenientemente não pára de tombar desde que se anunciou a privatização. A privatização do seu controlo!
Agora a Brisa. A Brisa tem problemas evidentes: está muito endividada, as taxas de juro estão a subir, o tráfego a cair, há concessões que estão a valer zero. Mas no último mês e meio, em que a bolsa caiu 19%, a Brisa caiu quase 40%. "Short-selling"? Aqui surge a perplexidade: ao contrário do BCP e da EDP, a Brisa tem pouca dispersão em bolsa. Para haver um ataque especulativo, é preciso quem, detendo acções, as esteja a emprestar a troco de uma comissão. Sabe-se das tensões entre a José de Mello e os seus parceiros Arcus (com quem houve conflito no final do ano) e Abertis (que prometem vender tudo há dois anos mas não vendem nada). Mas não é possível acreditar que algum deles ande nisto.
Desde 2007 que reguladores e legisladores prometem enjaular o mercado financeiro, mas são tíbios ou falhos. É o caso dos CDS, que ainda ontem zarparam para a dívida francesa. É o caso do "short-selling", que chegou, recorde-se, a ser proibido em 2008 em acções do sector financeiro na Alemanha, no Reino Unido e nos Estados Unidos.
O nervosismo é hoje tão grande que tornou os mercados quase descontrolados. Qualquer rumor gera um movimento de pânico, como se viu ontem com a banca francesa. Para mais, os líderes europeus continuam a mostrar-se sólidos como plasticina. Angela Merkel não sabe como salvar o euro e salvar-se a si mesma na Alemanha - país que se tornou nuclear na crise europeia sem estar pronto nem ter estratégia para isso. O seu amigo Sarkozy decidiu ontem dizer que ia interromper as férias, o que provocou boatos imediatos. Zapatero fizera o mesmo há semanas, com o mesmo desfecho. E até Obama, dos discursos maravilhosos, fez uma intervenção ridícula sobre as agências de "rating".
Tudo isto é desespero, tudo isto alimenta o pânico, tudo isto destrói a confiança sobre a qual se erguera o edifício dos mercados financeiros globalizados. Sem confiança não há mercados, sobram arenas, onde se come aquilo que se mata. E que agora se tornou canibal: devora-se.
Ontem foi o banco francês Société Générale a ser roído. Muitos perderam milhões. Muitos ganharam milhões. Está certo: "Banca Francesa" é, como se sabe, o nome de um jogo de casino."
Pedro Santos Guerreiro
Vários gestores portugueses têm criticado as vendas a descoberto, e não só através de "naked short-selling", que permite vender acções que não se tem. Ricardo Salgado foi o primeiro, António Mexia depois, Carlos Tavares também. Mas hoje é a primeira vez que um presidente de uma empresa cotada denuncia, em declarações a este jornal, uma suspeita de manipulação de acções da sua própria empresa: da Brisa.
Os crentes dos mercados que ainda são crédulos acham estas críticas uma paspalhice. Mas a questão põe-se: o "short-selling" é uma forma de diversificar risco, ganhando dinheiro quando as acções desvalorizam? Ou, sendo isso, permite também manipulações de acções ao ponto de as deixar inanimadas?
"Portugal está de 'shorts'", escreveu-se aqui há três anos. A acção do BCP tem sido rodada como uma galdéria entre "short sellers". Como a da EDP, que convenientemente não pára de tombar desde que se anunciou a privatização. A privatização do seu controlo!
Agora a Brisa. A Brisa tem problemas evidentes: está muito endividada, as taxas de juro estão a subir, o tráfego a cair, há concessões que estão a valer zero. Mas no último mês e meio, em que a bolsa caiu 19%, a Brisa caiu quase 40%. "Short-selling"? Aqui surge a perplexidade: ao contrário do BCP e da EDP, a Brisa tem pouca dispersão em bolsa. Para haver um ataque especulativo, é preciso quem, detendo acções, as esteja a emprestar a troco de uma comissão. Sabe-se das tensões entre a José de Mello e os seus parceiros Arcus (com quem houve conflito no final do ano) e Abertis (que prometem vender tudo há dois anos mas não vendem nada). Mas não é possível acreditar que algum deles ande nisto.
Desde 2007 que reguladores e legisladores prometem enjaular o mercado financeiro, mas são tíbios ou falhos. É o caso dos CDS, que ainda ontem zarparam para a dívida francesa. É o caso do "short-selling", que chegou, recorde-se, a ser proibido em 2008 em acções do sector financeiro na Alemanha, no Reino Unido e nos Estados Unidos.
O nervosismo é hoje tão grande que tornou os mercados quase descontrolados. Qualquer rumor gera um movimento de pânico, como se viu ontem com a banca francesa. Para mais, os líderes europeus continuam a mostrar-se sólidos como plasticina. Angela Merkel não sabe como salvar o euro e salvar-se a si mesma na Alemanha - país que se tornou nuclear na crise europeia sem estar pronto nem ter estratégia para isso. O seu amigo Sarkozy decidiu ontem dizer que ia interromper as férias, o que provocou boatos imediatos. Zapatero fizera o mesmo há semanas, com o mesmo desfecho. E até Obama, dos discursos maravilhosos, fez uma intervenção ridícula sobre as agências de "rating".
Tudo isto é desespero, tudo isto alimenta o pânico, tudo isto destrói a confiança sobre a qual se erguera o edifício dos mercados financeiros globalizados. Sem confiança não há mercados, sobram arenas, onde se come aquilo que se mata. E que agora se tornou canibal: devora-se.
Ontem foi o banco francês Société Générale a ser roído. Muitos perderam milhões. Muitos ganharam milhões. Está certo: "Banca Francesa" é, como se sabe, o nome de um jogo de casino."
Pedro Santos Guerreiro
quarta-feira, agosto 10, 2011
Pois aí está nem eles sabem...
Da apendicite grega ao tumor hispano-italiano
A bolsa nova-iorquina interrompeu ontem um ciclo de quedas consecutivas, ao fechar com valorizações de mais de quatro por cento nos principais índices. Pouco antes do fecho da sessão, aconteceu a repentina valorização após a Reserva Federal (Fed) norte-americana ter anunciado que manterá as taxas de juro de referência próximas de zero por mais dois anos.
Entre os índices de referência, o Nasdaq Composite Index, que agrega empresas de base tecnológica, foi o que mais disparou: 5,295 por cento (para 2,482.520 pontos). O índice Standard and Poor’s 500 Index cresceu 4,741 por cento (para 1,172.530 pontos) e o industrial Dow Jones avançou 3,977 por cento (para 11,239.770 pontos).
Porém, o dia foi marcado por uma acentuada volatilidade nas bolsas europeias e norte-americanas. Wall Street abriu positiva, mas o disparo só foi visível no final da sessão, após o anúncio do Fed.
Imediatamente a seguir à divulgação da notícia, os mercados reagiram com apetite pelo risco. O Nasdaq subia pouco mais de um por cento, o índice S&P 500 valorizava 0,2 por cento e o Dow estava em terreno negativo. Os minutos finais da sessão foram determinantes para a recuperação.
Mas a recuperação de ontem será de curta ou de média duração? Em nossa opinião, os fundamentais das economias nacionais e das empresas cotadas nas bolsas dos dois lados do Atlântico não enganam: estamos na antecâmara de uma nova fase da crise sistémica de que temos vindo a falar, desde 2007 (ver exemplos aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, ou aqui).
Contrariamente à reacção de ontem das bolsas norte-americanas, outras praças indicam que entraram no território dos mercados recessivos (bear market). Em Londres, o índice de referência FTSE 100 recuou 20%, desde Fevereiro. De 6091 pontos escorregou para 4855 pontos. O mesmo aconteceu em Hong Kong. O índice Hang Seng recuou 23% desde o último máximo, registado em 8 de Novembro passado. Idêntica situação aconteceu na brasileira Bovespa (-31%). Por outro lado, refira-se que o entusiasmo de ontem nas praças americanas está ensombrado pela acelarada perda de 18% nas cotações do índice S&P 500 registada nos últimos meses…
A decisão da agência de rating Standard & Poor´s de baixar a notação da dívida norte-americana de AAA para Aaa, na sexta-feira, na sequência do recente aumento, pelo Congresso, do tecto da dívida federal acima da fasquia de USD 14,3 trillion, apesar de ter precipitado a presente situação, é apenas mais um episódio do colossal descontrolo financeiro norte-americano. A crise não está controlada. Longe disso.
A decisão do Fed agora anunciada de manter as taxas de juro próximas de zero até 2013 é tudo menos uma boa notícia. Dinheiro fácil e escandalosamente barato é mau conselheiro. É um viveiro de bolhas especulativas. Das dotcom às hipotecas subprime insistimos em trilhar um caminho perigoso. De bolha em bolha até à definitiva implosão do sistema financeiro global. Sem pretendermos ser exaustivos, propomos uma olhada sobre os sinais. Alguns têm tanto de elucidativos como de preocupantes:
Na bolsa de futuros Comex, após o anúncio do Fed, as posições relativamente aos contratos de ouro subiram 1,8%, fixando-se no novo recorde histórico de 1740 dólares a onça;
O banco J.P. Morgan emitiu ontem uma nota segundo a qual a cotação do ouro deverá atingir os 2500 dólares a onça até ao final do ano, enquanto o Goldman Sachs prevê que esteja nos 1730 dólares dentro de seis meses e nos 1900 dólares dentro de 12 meses;
O metal amarelo prossegue a sua escalada enquanto activo à prova de crises. Continua a ser o refúgio mais seguro que o dinheiro pode comprar nos tempos que correm. Esta opinião é partilhada por alguns governadores de importantes bancos emissores;
Nos dois últimos meses, o banco central da Coreia do Sul comprou 25 toneladas de ouro, aumentando em 17 vezes as suas reservas de metal amarelo. No mesmo período, também o banco central da Tailândia aumentou as suas reservas de ouro em 15,5%, tendo passado de 3523 milhões de onças, em Maio, para 4,07 milhões, em Junho. No princípio do ano, a Tailândia já adquirira 9,3 toneladas de ouro. A Rússia comprou 41,8 toneladas e o México 99,2 toneladas. A China anunciou no início do ano que pretende, até 2020, aumentar drasticamente as suas reservas de ouro. Das actuais 1054 toneladas quer chegar às 8-10 mil toneladas;
Os juros implícitos (yield) dos títulos dos EUA a dez anos baixaram de 2,32% para 2,28%, entre segunda e terça-feira;
Até agora, perante a visível deterioração do clima económico nos sete países mais industrializados (G7) e a profunda crise das dívidas soberanas europeias, a maioria dos investidores e especuladores comprava, devido ao risco quase inexistente, títulos do tesouro americano na expectativa de que se valorizassem. Porém, se em vez disso eles se depreciarem, como já está a acontecer, tal pode significar que a bolha do mercado das obrigações norte-americanas está prestes a rebentar. As consequências serão trágicas para a economia global;
Desde 24 de Julho, o pânico generalizado em todos os mercados mundiais gerou perdas globais de USD 8,1 trillion (mais de metade do PIB dos EUA). Este valor corresponde a 14,8% da capitalização bolsista do mundo;
Em apenas cinco anos (2008-2012), o montante das obrigações de dívida vencidas, emitidas pelo Tesouro norte-americano, atingirá o gigantesco volume de USD 5,6 trillion. A totalidade do crescimento da dívida do país, entre 1776 (ano da declaração de independência) e 2008, foi de 4,6 trillion. Obama vai ultrapassar em apenas cinco anos o que o conjunto dos seus 43 antecessores fez em… 232 anos!!!
O custo global das ajudas financeiras aos bancos e empresas financeiras dos EUA e da Europa, desde 2008, na realidade, ascende a quase USD 24 trillion, segundo a estimativa de Neil Barofsky, o inspector-geral do TARP (Troubled Asset Relief Program), o mega programa de resgate aprovado pela administração Bush e continuado pela administração Obama. Se compararmos este número com o do défice reconhecido pelo Tesouro (USD 14,7 trillion) ficamos com uma ideia mais realista da enormidade dos problemas a resolver quando for apresentada a factura para liquidação;
Se tivermos em conta que o rácio dívida/PIB da Grécia já atingiu os 150%, e que os EUA estão a caminho de ultrapassar rapidamente a psicológica barreira dos 100%, as perspectivas para o biénio 2012-2013 são ainda mais negras. Os efeitos sobre a evolução do crescimento e do emprego serão devastadoras. Também o dólar, enquanto reserva cambial mundial, terá o seu canto do cisne;
E o que nos reserva a Europa dos 17 (Zona Euro), ou dos 27 (UE)? Será que o sonho europeu, idealizado nos anos 50 pelo eixo Bona-Paris, poderá, meio século depois, vir a transformar-se no pesadelo do eixo Berlim-Paris? A prazo é bem possível. Para já, é avisado estarmos preparados para o pior (desintegração da UE e fim do euro).
Os altos dirigentes dos países membros mais ricos e a elite dos eurocratas têm pautado a sua actuação pela incapacidade de gerar consensos, de elaborar discursos coerentes, de afirmar um projecto europeu credível e sustentável e de ter a noção dos timings certos para agir.
Se no debate sobre a subida do tecto da dívida federal, os congressistas norte-americanos e o Presidente Obama deram aquele risível espectáculo de marcar o golo (chegar a acordo) no período de descontos (praticamente no fim do prazo), o que dizer dos líderes europeus? Com os sucessivos avanços e recuos e os constantes desmentidos das promessas feitas na véspera, uns e outros colocaram a Europa a jeito da voracidade vampírica dos mercados (leia-se especuladores).
O que ontem era uma simples apendicite grega, passou hoje a ser um desconfortável pólipo luso-irlandês, o qual, num futuro próximo, ameaça evoluir para um fatal carcinoma hispano-italiano.
Deste lado do Atlântico, os meteorologistas da política e do dinheiro têm o dedo no botão de alerta de tsunami, atentos a alguns sinais dos chamados “mercados”:
Um editorialista do Financial Times escreveu ontem que o futuro da Europa depende da qualidade da defesa da Espanha e da Itália pelo triunvirato UE/BCE/FMI.
Embora Madrid tenha apresentado “bons resultados” no combate ao défice e na flexibilização do mercado de trabalho, o articulista elege como positivo o facto de registar um superávit primário e de os seus empréstimos terem maturidades confortáveis. Como aspecto negativo é sublinhado o elevado peso da dívida (a terceira maior da Zona Euro), as tímidas medidas de combate ao défice e a crónica incapacidade do governo Berlusconi para fazer crescer a economia, melhorar a capacidade competitiva e combater o excesso de burocracia;
Esta análise, em nossa opinião, peca por benigna já que passa ao lado de uma variável essencial da equação – a estratégia dos especuladores e as ferramentas de que dispõem para desestabilizar qualquer economia ou moeda, independentemente do seu peso e dimensão;
A manipulação pelos especuladores (privados e institucionais) de instrumentos derivativos, designadamente os famigerados seguros de incumprimento financeiro – Credit Default Swaps (CDS) -, levou à falência do banco Lehman Brothers, à nacionalização da seguradora AIG, à insolvência da Islândia e a severas crises cambiais nos anos 90 que atiraram para as cordas as moedas da Rússia, da Malásia, da Coreia do Sul, do México e por aí fora;
Ninguém sabe ao certo qual o montante global dos tóxicos CDS que infectam os balanços de sonantes nomes da banca europeia – do germânico Deutsche Bank, ao britânico Barclays, ao francês Paribas, passando pelo espanhol Santander e pelo italiano Unicredit – mas diversos especialistas dividem-se entre estimativas estratosféricas (trillions ou quadrillions);
Certo é que, contrariamente ao que tem sido vertido em muitas páginas de jornais e revistas especializadas, existe o perigo real de um ou mais bancos europeus de grande dimensão poderem vir a ser atacados pelo vírus Lehman Brothers. Quando chegar a hora, lembrem-se de trautear “Don’t cry for me Argentina”;
A França, para alguns inesperada e injustamente, está na berlinda desde sexta-feira, dia em que a S&P despromoveu a qualidade da dívida norte-americana. Comparativamente a outros países com notações triple A, os juros implícitos, os CDS e os níveis do défice que afectam a economia gaulesa são variáveis consideradas excessivas pelas maiores agências de rating;
Na próxima sexta-feira, a França publicará dados estatísticos sobre o crescimento da economia no segundo trimestre. A generalidade dos analistas prevê números desanimadores da ordem dos 0,2%, ou seja 0,7% abaixo do valor registado no primeiro trimestre;
Caso se confirmem as previsões, as campainhas de alarme alertarão para a dificuldade de a França conseguir, em 2013, atingir a prometida meta de reduzir o actual défice (7,15% do PIB) para menos de 3%;
O facto de os CDS sobre a dívida francesa serem superiores aos pagos pelos compradores de dívida emitida pelas autoridades do Peru, Indonésia, África do Sul e da República Eslovaca é motivo de preocupação não apenas para o governo francês. As lideranças da UE, do BCE e do FMI receiam que a equacionável perda pela França da notação AAA possa pôr em causa toda a arquitectura do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e inviabilizar futuros resgates;
De resto, os recursos do FEEF (750 mil milhões de euros) são considerados insuficientes para fazer face às necessidades prováveis dos resgates. Chegam para atender o conjunto dos actuais três “clientes” – Grécia, Irlanda e Portugal e eventualmente de Chipre. Caso a Espanha ou a Itália sejam forçadas a usá-lo precisaria de ser generosamente recapitalizado. De resto, há mesmo quem pense que o resgate da terceira e da quarta economias da UE, a Itália e a Espanha respectivamente, necessitaria de um novo Plano Marshall, mas agora com a inclusão dos países emergentes do G20 (China, Índia, Brasil, Arábia Saudita, etc.);
Para apimentar o cenário, o mês de Setembro promete ser crítico. A troika irá a Atenas fazer a avaliação de desempenho do governo na aplicação dos programas de resgate em curso e em fase de implementação. A instabilidade política e social em que a Grécia está mergulhada faz temer a obtenção de resultados aquém dos desejados pelos credores, com efeitos negativos na evolução da crise europeia;
Na Alemanha, a Chanceler Merkel enfrenta uma resiliente frente de forças políticas e de individualidades da coligação que lidera (CDU/FDP) que discordam abertamente dos acordos pró-resgate por ela validados em Bruxelas. O regresso de férias dos deputados do Bundestag promete acessos debates.
Conhecida a sua propensão para o “nim”, bem como para protelar até ao limite decisões urgentes, a senhora Merkel poderá viver dias difíceis e voltar a dar sinais errados aos mercados de dívida. Qualquer sinal de instabilidade e de laisser-faire dado pela Alemanha pode complicar ainda mais as já ténues possibilidades de controlo da situação;
Também em Setembro, algumas “cajas de ahorros” espanholas irão ao mercado tentar obter empréstimos. Num cenário de eleições antecipadas, de escalada dos juros da dívida soberana e de insuficientes taxas de crescimento económico, para além de uma elevada taxa de desemprego (superior a 20%), este segmento da banca espanhola terá uma missão espinhosa e de resultados duvidosos;
Se, como tudo indica, nada de enérgico e proactivo for feito, em Agosto, pelos líderes europeus que ditam as políticas da UE – Merkel e Sarkozy - chegaremos a Setembro com uma situação mais degradada. Talvez irremediavelmente…
Nesse caso, e se persistirem os ataques especulativos contra as dívidas espanhola e italiana, com uma insustentável subida das taxas de juro e dos CDS, o último trimestre promete ser um osso duro de roer.
Neste momento, ninguém, do BCE ao FMI, passando por outras instituições de idêntico calibre, dispõe de recursos para resgatar financeiramente países como a Espanha e a Itália. Se tal for imperativo, como vão os mandantes da economia mundial resolver o problema?
A resposta é simples. Ninguém sabe. Nem eles…
PVC, Consultor
A bolsa nova-iorquina interrompeu ontem um ciclo de quedas consecutivas, ao fechar com valorizações de mais de quatro por cento nos principais índices. Pouco antes do fecho da sessão, aconteceu a repentina valorização após a Reserva Federal (Fed) norte-americana ter anunciado que manterá as taxas de juro de referência próximas de zero por mais dois anos.
Entre os índices de referência, o Nasdaq Composite Index, que agrega empresas de base tecnológica, foi o que mais disparou: 5,295 por cento (para 2,482.520 pontos). O índice Standard and Poor’s 500 Index cresceu 4,741 por cento (para 1,172.530 pontos) e o industrial Dow Jones avançou 3,977 por cento (para 11,239.770 pontos).
Porém, o dia foi marcado por uma acentuada volatilidade nas bolsas europeias e norte-americanas. Wall Street abriu positiva, mas o disparo só foi visível no final da sessão, após o anúncio do Fed.
Imediatamente a seguir à divulgação da notícia, os mercados reagiram com apetite pelo risco. O Nasdaq subia pouco mais de um por cento, o índice S&P 500 valorizava 0,2 por cento e o Dow estava em terreno negativo. Os minutos finais da sessão foram determinantes para a recuperação.
Mas a recuperação de ontem será de curta ou de média duração? Em nossa opinião, os fundamentais das economias nacionais e das empresas cotadas nas bolsas dos dois lados do Atlântico não enganam: estamos na antecâmara de uma nova fase da crise sistémica de que temos vindo a falar, desde 2007 (ver exemplos aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, ou aqui).
Contrariamente à reacção de ontem das bolsas norte-americanas, outras praças indicam que entraram no território dos mercados recessivos (bear market). Em Londres, o índice de referência FTSE 100 recuou 20%, desde Fevereiro. De 6091 pontos escorregou para 4855 pontos. O mesmo aconteceu em Hong Kong. O índice Hang Seng recuou 23% desde o último máximo, registado em 8 de Novembro passado. Idêntica situação aconteceu na brasileira Bovespa (-31%). Por outro lado, refira-se que o entusiasmo de ontem nas praças americanas está ensombrado pela acelarada perda de 18% nas cotações do índice S&P 500 registada nos últimos meses…
A decisão da agência de rating Standard & Poor´s de baixar a notação da dívida norte-americana de AAA para Aaa, na sexta-feira, na sequência do recente aumento, pelo Congresso, do tecto da dívida federal acima da fasquia de USD 14,3 trillion, apesar de ter precipitado a presente situação, é apenas mais um episódio do colossal descontrolo financeiro norte-americano. A crise não está controlada. Longe disso.
A decisão do Fed agora anunciada de manter as taxas de juro próximas de zero até 2013 é tudo menos uma boa notícia. Dinheiro fácil e escandalosamente barato é mau conselheiro. É um viveiro de bolhas especulativas. Das dotcom às hipotecas subprime insistimos em trilhar um caminho perigoso. De bolha em bolha até à definitiva implosão do sistema financeiro global. Sem pretendermos ser exaustivos, propomos uma olhada sobre os sinais. Alguns têm tanto de elucidativos como de preocupantes:
Na bolsa de futuros Comex, após o anúncio do Fed, as posições relativamente aos contratos de ouro subiram 1,8%, fixando-se no novo recorde histórico de 1740 dólares a onça;
O banco J.P. Morgan emitiu ontem uma nota segundo a qual a cotação do ouro deverá atingir os 2500 dólares a onça até ao final do ano, enquanto o Goldman Sachs prevê que esteja nos 1730 dólares dentro de seis meses e nos 1900 dólares dentro de 12 meses;
O metal amarelo prossegue a sua escalada enquanto activo à prova de crises. Continua a ser o refúgio mais seguro que o dinheiro pode comprar nos tempos que correm. Esta opinião é partilhada por alguns governadores de importantes bancos emissores;
Nos dois últimos meses, o banco central da Coreia do Sul comprou 25 toneladas de ouro, aumentando em 17 vezes as suas reservas de metal amarelo. No mesmo período, também o banco central da Tailândia aumentou as suas reservas de ouro em 15,5%, tendo passado de 3523 milhões de onças, em Maio, para 4,07 milhões, em Junho. No princípio do ano, a Tailândia já adquirira 9,3 toneladas de ouro. A Rússia comprou 41,8 toneladas e o México 99,2 toneladas. A China anunciou no início do ano que pretende, até 2020, aumentar drasticamente as suas reservas de ouro. Das actuais 1054 toneladas quer chegar às 8-10 mil toneladas;
Os juros implícitos (yield) dos títulos dos EUA a dez anos baixaram de 2,32% para 2,28%, entre segunda e terça-feira;
Até agora, perante a visível deterioração do clima económico nos sete países mais industrializados (G7) e a profunda crise das dívidas soberanas europeias, a maioria dos investidores e especuladores comprava, devido ao risco quase inexistente, títulos do tesouro americano na expectativa de que se valorizassem. Porém, se em vez disso eles se depreciarem, como já está a acontecer, tal pode significar que a bolha do mercado das obrigações norte-americanas está prestes a rebentar. As consequências serão trágicas para a economia global;
Desde 24 de Julho, o pânico generalizado em todos os mercados mundiais gerou perdas globais de USD 8,1 trillion (mais de metade do PIB dos EUA). Este valor corresponde a 14,8% da capitalização bolsista do mundo;
Em apenas cinco anos (2008-2012), o montante das obrigações de dívida vencidas, emitidas pelo Tesouro norte-americano, atingirá o gigantesco volume de USD 5,6 trillion. A totalidade do crescimento da dívida do país, entre 1776 (ano da declaração de independência) e 2008, foi de 4,6 trillion. Obama vai ultrapassar em apenas cinco anos o que o conjunto dos seus 43 antecessores fez em… 232 anos!!!
O custo global das ajudas financeiras aos bancos e empresas financeiras dos EUA e da Europa, desde 2008, na realidade, ascende a quase USD 24 trillion, segundo a estimativa de Neil Barofsky, o inspector-geral do TARP (Troubled Asset Relief Program), o mega programa de resgate aprovado pela administração Bush e continuado pela administração Obama. Se compararmos este número com o do défice reconhecido pelo Tesouro (USD 14,7 trillion) ficamos com uma ideia mais realista da enormidade dos problemas a resolver quando for apresentada a factura para liquidação;
Se tivermos em conta que o rácio dívida/PIB da Grécia já atingiu os 150%, e que os EUA estão a caminho de ultrapassar rapidamente a psicológica barreira dos 100%, as perspectivas para o biénio 2012-2013 são ainda mais negras. Os efeitos sobre a evolução do crescimento e do emprego serão devastadoras. Também o dólar, enquanto reserva cambial mundial, terá o seu canto do cisne;
E o que nos reserva a Europa dos 17 (Zona Euro), ou dos 27 (UE)? Será que o sonho europeu, idealizado nos anos 50 pelo eixo Bona-Paris, poderá, meio século depois, vir a transformar-se no pesadelo do eixo Berlim-Paris? A prazo é bem possível. Para já, é avisado estarmos preparados para o pior (desintegração da UE e fim do euro).
Os altos dirigentes dos países membros mais ricos e a elite dos eurocratas têm pautado a sua actuação pela incapacidade de gerar consensos, de elaborar discursos coerentes, de afirmar um projecto europeu credível e sustentável e de ter a noção dos timings certos para agir.
Se no debate sobre a subida do tecto da dívida federal, os congressistas norte-americanos e o Presidente Obama deram aquele risível espectáculo de marcar o golo (chegar a acordo) no período de descontos (praticamente no fim do prazo), o que dizer dos líderes europeus? Com os sucessivos avanços e recuos e os constantes desmentidos das promessas feitas na véspera, uns e outros colocaram a Europa a jeito da voracidade vampírica dos mercados (leia-se especuladores).
O que ontem era uma simples apendicite grega, passou hoje a ser um desconfortável pólipo luso-irlandês, o qual, num futuro próximo, ameaça evoluir para um fatal carcinoma hispano-italiano.
Deste lado do Atlântico, os meteorologistas da política e do dinheiro têm o dedo no botão de alerta de tsunami, atentos a alguns sinais dos chamados “mercados”:
Um editorialista do Financial Times escreveu ontem que o futuro da Europa depende da qualidade da defesa da Espanha e da Itália pelo triunvirato UE/BCE/FMI.
Embora Madrid tenha apresentado “bons resultados” no combate ao défice e na flexibilização do mercado de trabalho, o articulista elege como positivo o facto de registar um superávit primário e de os seus empréstimos terem maturidades confortáveis. Como aspecto negativo é sublinhado o elevado peso da dívida (a terceira maior da Zona Euro), as tímidas medidas de combate ao défice e a crónica incapacidade do governo Berlusconi para fazer crescer a economia, melhorar a capacidade competitiva e combater o excesso de burocracia;
Esta análise, em nossa opinião, peca por benigna já que passa ao lado de uma variável essencial da equação – a estratégia dos especuladores e as ferramentas de que dispõem para desestabilizar qualquer economia ou moeda, independentemente do seu peso e dimensão;
A manipulação pelos especuladores (privados e institucionais) de instrumentos derivativos, designadamente os famigerados seguros de incumprimento financeiro – Credit Default Swaps (CDS) -, levou à falência do banco Lehman Brothers, à nacionalização da seguradora AIG, à insolvência da Islândia e a severas crises cambiais nos anos 90 que atiraram para as cordas as moedas da Rússia, da Malásia, da Coreia do Sul, do México e por aí fora;
Ninguém sabe ao certo qual o montante global dos tóxicos CDS que infectam os balanços de sonantes nomes da banca europeia – do germânico Deutsche Bank, ao britânico Barclays, ao francês Paribas, passando pelo espanhol Santander e pelo italiano Unicredit – mas diversos especialistas dividem-se entre estimativas estratosféricas (trillions ou quadrillions);
Certo é que, contrariamente ao que tem sido vertido em muitas páginas de jornais e revistas especializadas, existe o perigo real de um ou mais bancos europeus de grande dimensão poderem vir a ser atacados pelo vírus Lehman Brothers. Quando chegar a hora, lembrem-se de trautear “Don’t cry for me Argentina”;
A França, para alguns inesperada e injustamente, está na berlinda desde sexta-feira, dia em que a S&P despromoveu a qualidade da dívida norte-americana. Comparativamente a outros países com notações triple A, os juros implícitos, os CDS e os níveis do défice que afectam a economia gaulesa são variáveis consideradas excessivas pelas maiores agências de rating;
Na próxima sexta-feira, a França publicará dados estatísticos sobre o crescimento da economia no segundo trimestre. A generalidade dos analistas prevê números desanimadores da ordem dos 0,2%, ou seja 0,7% abaixo do valor registado no primeiro trimestre;
Caso se confirmem as previsões, as campainhas de alarme alertarão para a dificuldade de a França conseguir, em 2013, atingir a prometida meta de reduzir o actual défice (7,15% do PIB) para menos de 3%;
O facto de os CDS sobre a dívida francesa serem superiores aos pagos pelos compradores de dívida emitida pelas autoridades do Peru, Indonésia, África do Sul e da República Eslovaca é motivo de preocupação não apenas para o governo francês. As lideranças da UE, do BCE e do FMI receiam que a equacionável perda pela França da notação AAA possa pôr em causa toda a arquitectura do Fundo Europeu de Estabilização Financeira (FEEF) e inviabilizar futuros resgates;
De resto, os recursos do FEEF (750 mil milhões de euros) são considerados insuficientes para fazer face às necessidades prováveis dos resgates. Chegam para atender o conjunto dos actuais três “clientes” – Grécia, Irlanda e Portugal e eventualmente de Chipre. Caso a Espanha ou a Itália sejam forçadas a usá-lo precisaria de ser generosamente recapitalizado. De resto, há mesmo quem pense que o resgate da terceira e da quarta economias da UE, a Itália e a Espanha respectivamente, necessitaria de um novo Plano Marshall, mas agora com a inclusão dos países emergentes do G20 (China, Índia, Brasil, Arábia Saudita, etc.);
Para apimentar o cenário, o mês de Setembro promete ser crítico. A troika irá a Atenas fazer a avaliação de desempenho do governo na aplicação dos programas de resgate em curso e em fase de implementação. A instabilidade política e social em que a Grécia está mergulhada faz temer a obtenção de resultados aquém dos desejados pelos credores, com efeitos negativos na evolução da crise europeia;
Na Alemanha, a Chanceler Merkel enfrenta uma resiliente frente de forças políticas e de individualidades da coligação que lidera (CDU/FDP) que discordam abertamente dos acordos pró-resgate por ela validados em Bruxelas. O regresso de férias dos deputados do Bundestag promete acessos debates.
Conhecida a sua propensão para o “nim”, bem como para protelar até ao limite decisões urgentes, a senhora Merkel poderá viver dias difíceis e voltar a dar sinais errados aos mercados de dívida. Qualquer sinal de instabilidade e de laisser-faire dado pela Alemanha pode complicar ainda mais as já ténues possibilidades de controlo da situação;
Também em Setembro, algumas “cajas de ahorros” espanholas irão ao mercado tentar obter empréstimos. Num cenário de eleições antecipadas, de escalada dos juros da dívida soberana e de insuficientes taxas de crescimento económico, para além de uma elevada taxa de desemprego (superior a 20%), este segmento da banca espanhola terá uma missão espinhosa e de resultados duvidosos;
Se, como tudo indica, nada de enérgico e proactivo for feito, em Agosto, pelos líderes europeus que ditam as políticas da UE – Merkel e Sarkozy - chegaremos a Setembro com uma situação mais degradada. Talvez irremediavelmente…
Nesse caso, e se persistirem os ataques especulativos contra as dívidas espanhola e italiana, com uma insustentável subida das taxas de juro e dos CDS, o último trimestre promete ser um osso duro de roer.
Neste momento, ninguém, do BCE ao FMI, passando por outras instituições de idêntico calibre, dispõe de recursos para resgatar financeiramente países como a Espanha e a Itália. Se tal for imperativo, como vão os mandantes da economia mundial resolver o problema?
A resposta é simples. Ninguém sabe. Nem eles…
PVC, Consultor
Alemanha "rainha das dívidas"
"Os alemães são caloteiros e além disso acham que são melhores que os povos do sul, ora vejam e confirmem...
Historiador Albrecht Ritschl considera Alemanha "rainha das dívidas"
PARA QUE O TEMPO NÃO APAGUE DA MEMÓRIA:
Alemanha "rainha das dívidas"
O historiador Albrecht Ritschl evoca hoje em entrevista ao site de Der Spiegel vários momentos na História do século XX em que a Alemanha equilibrou as suas contas à custa de generosas injecções de capital norte-americano ou do cancelamento de dívidas astronómicas, suportadas por grandes e pequenos países credores.
Ritschl começa por lembrar que a República de Weimar viveu entre 1924 e 1929 a pagar com empréstimos norte-americanos as reparações de guerra a que ficara condenada pelo Tratado de Versalhes, após a derrota sofrida na Primeira Grande Guerra. Como a crise de 1931, decorrente do crash bolsista de 1929, impediu o pagamento desses empréstimos, foram os EUA a arcar com os custos das reparações.
A Guerra Fria cancela a dívida alemã
Depois da Segunda Guerra Mundial, os EUA anteciparam-se e impediram que fossem exigidas à Alemanha reparações de guerra tão avultadas como o foram em Versalhes. Quase tudo ficou adiado até ao dia de uma eventual reunificação alemã. E, lembra Ritschl, isso significou que os trabalhadores escravizados pelo nazismo não foram compensados e que a maioria dos países europeus se viu obrigada a renunciar às indemnizações que lhe correspondiam devido à ocupação alemã.
No caso da Grécia, essa renúncia foi imposta por uma sangrenta guerra civil, ganha pelas forças pró-ocidentais já no contexto da Guerra Fria. Por muito que a Alemanha de Konrad Adenauer e Ludwig Ehrard tivesse recusado pagar indemnizações à Grécia, teria sempre à perna a reivindicação desse pagamento se não fosse por a esquerda grega ficar silenciada na sequência da guerra civil.
À pergunta do entrevistador, pressupondo a importância da primeira ajuda à Grécia, no valor de 110 mil milhões de euros, e da segunda, em valor semelhante, contrapõe Ritschl a perspetiva histórica: essas somas são peanuts ao lado do incumprimento alemão dos anos 30, apenas comparável aos custos que teve para os EUA a crise do subprime em 2008. A gravidade da crise grega, acrescenta o especialista em História económica, não reside tanto no volume da ajuda requerida pelo pequeno país, como no risco de contágio a outros países europeus.
Tiram-nos tudo - "até a camisa"
Ritschl lembra também que em 1953 os próprios EUA cancelaram uma parte substancial da dívida alemã - um haircut, segundo a moderna expressão, que reduziu a abundante cabeleira "afro" da potência devedora a uma reluzente careca. E o resultado paradoxal foi exonerar a Alemanha dos custos da guerra que tinha causado, e deixá-los aos países vítimas da ocupação.
E, finalmente, também em 1990 a Alemanha passou um calote aos seus credores, quando o chanceler Helmut Kohl decidiu ignorar o tal acordo que remetia para o dia da reunificação alemã os pagamentos devidos pela guerra. É que isso era fácil de prometer enquanto a reunificação parecia música de um futuro distante, mas difícil de cumprir quando chegasse o dia. E tinha chegado.
Ritschl conclui aconselhando os bancos alemães credores da Grécia a moderarem a sua sofreguidão cobradora, não só porque a Alemanha vive de exportações e uma crise contagiosa a arrastaria igualmente para a ruína, mas também porque o calote da Segunda Guerra Mundial, afirma, vive na memória colectiva do povo grego. Uma atitude de cobrança implacável das dívidas actuais não deixaria, segundo o historiador, de reanimar em retaliação as velhas reivindicações congeladas, da Grécia e doutros países e, nesse caso, "despojar-nos-ão de tudo, até da camisa". "
Toupeira
Historiador Albrecht Ritschl considera Alemanha "rainha das dívidas"
PARA QUE O TEMPO NÃO APAGUE DA MEMÓRIA:
Alemanha "rainha das dívidas"
O historiador Albrecht Ritschl evoca hoje em entrevista ao site de Der Spiegel vários momentos na História do século XX em que a Alemanha equilibrou as suas contas à custa de generosas injecções de capital norte-americano ou do cancelamento de dívidas astronómicas, suportadas por grandes e pequenos países credores.
Ritschl começa por lembrar que a República de Weimar viveu entre 1924 e 1929 a pagar com empréstimos norte-americanos as reparações de guerra a que ficara condenada pelo Tratado de Versalhes, após a derrota sofrida na Primeira Grande Guerra. Como a crise de 1931, decorrente do crash bolsista de 1929, impediu o pagamento desses empréstimos, foram os EUA a arcar com os custos das reparações.
A Guerra Fria cancela a dívida alemã
Depois da Segunda Guerra Mundial, os EUA anteciparam-se e impediram que fossem exigidas à Alemanha reparações de guerra tão avultadas como o foram em Versalhes. Quase tudo ficou adiado até ao dia de uma eventual reunificação alemã. E, lembra Ritschl, isso significou que os trabalhadores escravizados pelo nazismo não foram compensados e que a maioria dos países europeus se viu obrigada a renunciar às indemnizações que lhe correspondiam devido à ocupação alemã.
No caso da Grécia, essa renúncia foi imposta por uma sangrenta guerra civil, ganha pelas forças pró-ocidentais já no contexto da Guerra Fria. Por muito que a Alemanha de Konrad Adenauer e Ludwig Ehrard tivesse recusado pagar indemnizações à Grécia, teria sempre à perna a reivindicação desse pagamento se não fosse por a esquerda grega ficar silenciada na sequência da guerra civil.
À pergunta do entrevistador, pressupondo a importância da primeira ajuda à Grécia, no valor de 110 mil milhões de euros, e da segunda, em valor semelhante, contrapõe Ritschl a perspetiva histórica: essas somas são peanuts ao lado do incumprimento alemão dos anos 30, apenas comparável aos custos que teve para os EUA a crise do subprime em 2008. A gravidade da crise grega, acrescenta o especialista em História económica, não reside tanto no volume da ajuda requerida pelo pequeno país, como no risco de contágio a outros países europeus.
Tiram-nos tudo - "até a camisa"
Ritschl lembra também que em 1953 os próprios EUA cancelaram uma parte substancial da dívida alemã - um haircut, segundo a moderna expressão, que reduziu a abundante cabeleira "afro" da potência devedora a uma reluzente careca. E o resultado paradoxal foi exonerar a Alemanha dos custos da guerra que tinha causado, e deixá-los aos países vítimas da ocupação.
E, finalmente, também em 1990 a Alemanha passou um calote aos seus credores, quando o chanceler Helmut Kohl decidiu ignorar o tal acordo que remetia para o dia da reunificação alemã os pagamentos devidos pela guerra. É que isso era fácil de prometer enquanto a reunificação parecia música de um futuro distante, mas difícil de cumprir quando chegasse o dia. E tinha chegado.
Ritschl conclui aconselhando os bancos alemães credores da Grécia a moderarem a sua sofreguidão cobradora, não só porque a Alemanha vive de exportações e uma crise contagiosa a arrastaria igualmente para a ruína, mas também porque o calote da Segunda Guerra Mundial, afirma, vive na memória colectiva do povo grego. Uma atitude de cobrança implacável das dívidas actuais não deixaria, segundo o historiador, de reanimar em retaliação as velhas reivindicações congeladas, da Grécia e doutros países e, nesse caso, "despojar-nos-ão de tudo, até da camisa". "
Toupeira
As lições de 1992 e o futuro do Euro
"Em 1992, o Sistema Monetário Europeu, precursor da União Monetária, enfrentava a sua pior crise em 13 anos de existência. Os países que o compunham tentavam salvá-lo da pressão especulativa que assentara baterias contra Itália e Inglaterra.
A certa altura o Bundesbank, colocado entre a inevitabilidade de vender marcos e comprar liras (para evitar que a lira furasse o intervalo máximo de flutuação cambial) ou deixar a Itália à deriva, optou pela segunda. Razão: a estabilidade monetária, ou seja inflação baixa, era mais importante para a Alemanha do que a "obrigação" de apoiar o projecto europeu (a Itália acabou corrida do SME). Então, como agora, os problemas de Itália eram os mesmos: irresponsabilidade financeira e falta de competitividade.
O que estamos a viver é uma fotocópia de 1992. Há diferenças? Há. Em vez de moedas temos dívida soberana; em vez de Itália e Inglaterra temos Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália. Mas há uma semelhança, tirada a papel químico: os problemas que afectam o Euro são, grosso modo, os mesmos do SME (desequilíbrios orçamentais e falta de competitividade das economias). E há outra semelhança com 1992: o projecto não subsiste sem a Alemanha.
Em 1992, a Europa ficou a saber que não se bate os mercados sem armas adequadas (a propósito, apesar do "downgrade" os investidores continuaram a comprar "Treasuries" americanas…). E se isso era verdade em 1992 é-o, por maioria de razão, agora. Só não é seguro que os intervenientes o tenham percebido. Uma coisa é certa: se o Euro quebrar, as consequências serão bem diferentes das de 1992. O estrondo (recessão) far-se-á sentir em todo o mundo. Alemanha incluída."
Camilo Lourenco
A certa altura o Bundesbank, colocado entre a inevitabilidade de vender marcos e comprar liras (para evitar que a lira furasse o intervalo máximo de flutuação cambial) ou deixar a Itália à deriva, optou pela segunda. Razão: a estabilidade monetária, ou seja inflação baixa, era mais importante para a Alemanha do que a "obrigação" de apoiar o projecto europeu (a Itália acabou corrida do SME). Então, como agora, os problemas de Itália eram os mesmos: irresponsabilidade financeira e falta de competitividade.
O que estamos a viver é uma fotocópia de 1992. Há diferenças? Há. Em vez de moedas temos dívida soberana; em vez de Itália e Inglaterra temos Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália. Mas há uma semelhança, tirada a papel químico: os problemas que afectam o Euro são, grosso modo, os mesmos do SME (desequilíbrios orçamentais e falta de competitividade das economias). E há outra semelhança com 1992: o projecto não subsiste sem a Alemanha.
Em 1992, a Europa ficou a saber que não se bate os mercados sem armas adequadas (a propósito, apesar do "downgrade" os investidores continuaram a comprar "Treasuries" americanas…). E se isso era verdade em 1992 é-o, por maioria de razão, agora. Só não é seguro que os intervenientes o tenham percebido. Uma coisa é certa: se o Euro quebrar, as consequências serão bem diferentes das de 1992. O estrondo (recessão) far-se-á sentir em todo o mundo. Alemanha incluída."
Camilo Lourenco
terça-feira, agosto 09, 2011
O mundo virou PIG.
"Era uma vez um tempo em que a dívida era um problema de países menores, desprezados e periféricos como a Grécia, Irlanda e Portugal. Estamos finalmente a enfrentar a realidade, o primeiro passo para a mudança. Agora, sim, e popularmente falando, "ou vai ou racha": na Europa e no equilíbrio de poderes do mundo.
O problema da dívida está, há muito, do outro lado do Atlântico e também em países como a Itália. As dificuldades de acesso ao crédito de países como a Grécia, Irlanda e Portugal tinham as suas raízes no excesso de endividamento e não por causa da Grécia, Portugal e Irlanda.
Um banqueiro central comparou recentemente o ciclo do financiamento com um fontanário com vários pratos, uns em cima dos outros. Nos pratos de cima estão economias como os Estados Unidos, a Itália, o Reino Unido e até a Alemanha. Nos pratos do fundo estão países como a Grécia, a Irlanda e Portugal. A corrente da água - a poupança mundial - que jorra de cima tornou-se cada vez mais reduzida. E os pratos de baixo foram ficando cada vez com menos água, leia-se, financiamento. Mas foram apenas os primeiros. Chegou a vez dos pratos de cima, como os Estados Unidos e a Itália, enfrentarem também a falta de água, a escassez de uma poupança mundial localizada na Ásia, com a China a liderar, em África e, menos, na América do Sul.
A metáfora do fontanário não desculpabiliza os excessos cometidos por países como Portugal. Mas mostra que o problema fundamental não está nos ditos periféricos indisciplinados. Os países ricos do hemisfério Norte e do Ocidente vivem acima das suas possibilidades, com crédito alimentado pelas poupanças da parte do mundo que é mais pobre.
As últimas três semanas tiveram a virtude de obrigar os líderes dos países mais poderosos deste mundo rico talvez não ainda a enfrentar, mas pelo menos a confrontarem-se com a realidade. Já não é mais possível aos Estados Unidos dizerem que não são Portugal ou à Alemanha criticar o despesismo dos portugueses. O problema da dívida deixou de estar circunscrito a uns indisciplinados do Sul da Europa. Está demonstrado que mundo rico é todo ele PIG de Portugal Irlanda e Grécia. E agora, sim, podemos esperar que o problema comece a resolver-se.
Ter uma noção mais rigorosa do problema não significa, contudo, que ele venha a ser resolvido com aquela que consideramos ser a melhor fórmula. Apenas nos diz que estamos mais perto de uma saída. Que pode ser pior ou melhor mas que, em qualquer circunstância, seja qual for o caminho, vamos piorar antes de melhorar.
Financeiramente falando, um problema de excesso de dívida tem basicamente duas soluções. Uma é um qualquer tipo de incumprimento - nominal, como a Zona Euro propõe para a Grécia, ou real, como os Estados Unidos estão a fazer com a desvalorização do dólar. A outra solução - que se pode e está a combinar com a anterior - é a redução da procura interna, diminuindo assim a dependência da poupança externa mas gerando uma inevitável recessão. Para uma efectiva correcção dos actuais desequilíbrios financeiros, quem consome mais do que poupa terá de voltar a fazer uma vida de acordo com as suas possibilidades. E se quem poupa mais, como a China, não consumir mais, todo o mundo ficará mais pobre.
O reequilibro financeiro do mundo não se faz sem mudanças, que exigem escolhas. Na Europa, a melhor opção para todos é mais integração política na Zona Euro, já que o problema não se resolve com o BCE a comprar dívida pública. Mas a História mostra que nem sempre o escolhido é o melhor para todos. Estamos no momento da verdade, no dilema entre ir para mais Europa ou para Europa nenhuma."
Helena Garrido
O problema da dívida está, há muito, do outro lado do Atlântico e também em países como a Itália. As dificuldades de acesso ao crédito de países como a Grécia, Irlanda e Portugal tinham as suas raízes no excesso de endividamento e não por causa da Grécia, Portugal e Irlanda.
Um banqueiro central comparou recentemente o ciclo do financiamento com um fontanário com vários pratos, uns em cima dos outros. Nos pratos de cima estão economias como os Estados Unidos, a Itália, o Reino Unido e até a Alemanha. Nos pratos do fundo estão países como a Grécia, a Irlanda e Portugal. A corrente da água - a poupança mundial - que jorra de cima tornou-se cada vez mais reduzida. E os pratos de baixo foram ficando cada vez com menos água, leia-se, financiamento. Mas foram apenas os primeiros. Chegou a vez dos pratos de cima, como os Estados Unidos e a Itália, enfrentarem também a falta de água, a escassez de uma poupança mundial localizada na Ásia, com a China a liderar, em África e, menos, na América do Sul.
A metáfora do fontanário não desculpabiliza os excessos cometidos por países como Portugal. Mas mostra que o problema fundamental não está nos ditos periféricos indisciplinados. Os países ricos do hemisfério Norte e do Ocidente vivem acima das suas possibilidades, com crédito alimentado pelas poupanças da parte do mundo que é mais pobre.
As últimas três semanas tiveram a virtude de obrigar os líderes dos países mais poderosos deste mundo rico talvez não ainda a enfrentar, mas pelo menos a confrontarem-se com a realidade. Já não é mais possível aos Estados Unidos dizerem que não são Portugal ou à Alemanha criticar o despesismo dos portugueses. O problema da dívida deixou de estar circunscrito a uns indisciplinados do Sul da Europa. Está demonstrado que mundo rico é todo ele PIG de Portugal Irlanda e Grécia. E agora, sim, podemos esperar que o problema comece a resolver-se.
Ter uma noção mais rigorosa do problema não significa, contudo, que ele venha a ser resolvido com aquela que consideramos ser a melhor fórmula. Apenas nos diz que estamos mais perto de uma saída. Que pode ser pior ou melhor mas que, em qualquer circunstância, seja qual for o caminho, vamos piorar antes de melhorar.
Financeiramente falando, um problema de excesso de dívida tem basicamente duas soluções. Uma é um qualquer tipo de incumprimento - nominal, como a Zona Euro propõe para a Grécia, ou real, como os Estados Unidos estão a fazer com a desvalorização do dólar. A outra solução - que se pode e está a combinar com a anterior - é a redução da procura interna, diminuindo assim a dependência da poupança externa mas gerando uma inevitável recessão. Para uma efectiva correcção dos actuais desequilíbrios financeiros, quem consome mais do que poupa terá de voltar a fazer uma vida de acordo com as suas possibilidades. E se quem poupa mais, como a China, não consumir mais, todo o mundo ficará mais pobre.
O reequilibro financeiro do mundo não se faz sem mudanças, que exigem escolhas. Na Europa, a melhor opção para todos é mais integração política na Zona Euro, já que o problema não se resolve com o BCE a comprar dívida pública. Mas a História mostra que nem sempre o escolhido é o melhor para todos. Estamos no momento da verdade, no dilema entre ir para mais Europa ou para Europa nenhuma."
Helena Garrido