terça-feira, janeiro 31, 2012

A equidade da austeridade e a austera equidade das palavras, bem....

Com respeito ao apelo do Exº Sr. Presidente da Republica, sobre a alegada equidade na austeridade, junto envio respeitosamente à consideração e consciência de V. Exºs o email que circula na net e cujo conteúdo subscrevo na integra com excepção de alguma linguagem ...


E mais....... Sabiam que o Banco de Portugal comparticipa aos seus funcionários 100% das despesas de saúde? Quem paga isso? Somos nós os contribuintes, enquanto que a ADSE paga só aquilo que nós sabemos.


É por isso que funcionários do Banco de Portugal fazem implantes dentários e os "outros implantes" que estão agora na moda às funcionárias e às mulheres dos funcionários.


Mais, todos tem 900€ por anos para livros dos filhos...


Mais, todos tem 50% de comparticipação na compra de computadores privados e material informático...


Mais, antes que a Bola de Neve da opinião publica crescesse demais, pagaram excepcionalmente este ano, a 06 de Janeiro, o Subsidio de Ferias, quando costumam recebe-lo a 21 de janeiro com o vencimento.


Como é isto possível?


E nós que somos os pagantes, ficamos calados???,,,,


Vá bardamerda senhor Governador!


Neste país há investigadores universitários que estudam todos os dias até altas horas da noite, que trabalham continuamente sem limites de horários, sem fins-de-semana e sem feriados. Há professores universitários que dão o seu melhor, que prepararam cuidadosamente as suas aulas pensando no futuro dos seus alunos, que dão o melhor e sem limites pelas suas universidades. Há policias que ganham miseravelmente, que não recebem horas extraordinárias, que pagam as fardas do seu bolso e para sobreviverem têm de prestar os serviços remunerados.


Toda esta gente e muita mais que poderia ser referida foi eleita como a culpada da crise, denunciada como gorduras do Estado, tratada como inutilidade social, acusada de ganhar mais do que a média, desprezada por supostamente não ser necessária para certos políticos se manterem no poder. Mas há uns senhores neste país que ganham muito mais do que a média dos funcionários públicos, que têm subsídios extras para tudo e mais alguma coisa, que cumprem com incompetência as suas funções, que recebem pensões chorudas, que vivem do dinheiro dos contribuintes como todo o Estado, mas que não foram alvo de nenhuma das medidas de austeridade que até hoje foram aplicadas aos funcionários públicos. São os meninos e meninas do BdP.


Ainda as pessoas mal estavam refeitas do anúncio da pilhagem aos seus rendimentos e há um tal Costa, governador do Banco de Portugal, vinha defender que as medidas deste OE deveriam prolongar-se para além de 2014. Isto é, o senhor defende que os cortes se tornem definitivos. No mesmo dia a comunicação social informava que as medidas de austeridade aplicadas aos funcionários públicos não seriam aplicadas aos funcionários do banco de Portugal, o argumento para tal situação era o da independência do banco.


Mas se o Governo não pode nem deve interferir na gestão do BdP e o senhor Costa se comporta como um cruzamento entre a ave agoirenta e o Medina Carreira o mínimo que se espera é que ele dê o exemplo pois nada o impede de aplicar aos seus (incluindo os pensionistas do BdP) a austeridade que exige aos outros. No caso do BdP o senhor Costa não só estaria a adaptar as mordomias dos funcionários públicos e pensionistas do BdP à realidade do país como estaria a dar um duplo exemplo, um exemplo porque aplica aos seus a austeridade que exige aos outros e um exemplo porque chama os seus a responder pela incompetência demonstrada enquanto entidade reguladora de bancos como o BPN ou o BPP.


Porque razão um professor catedrático de finanças ganha menos do que um quadro do BdP, não recebe subsídio para livros como este e na hora da austeridade perde parte do vencimento e os subsídios enquanto o funcionário público do BdP não corta nada e muito provavelmente ainda recebe um aumento?


E já que falamos no BdP que tanto se bate pela transparência das contas públicas e do Estado enquanto o seu governador anda por aí armado em santinha das finanças, porque razão os vencimentos e mordomias do BdP não aparecem no seu site de forma a que sejam conhecidas pelos contribuintes que as pagam? Todas as colocações, subidas de categoria e remunerações dos funcionários públicos são divulgadas no Diário da República mas o que se passa no BDP é segredo, muito provavelmente para que o povo não saiba e assim manterem o esquema.


Ainda a propósito de transparência seria interessante saber porque razão os fundos de pensões da banca vão ser transferidos para o Estado e o do Banco de Portugal fica de fora. O argumento da independência não pega, o que nos faz recear que o fundo de pensões seja abastecido de formas pouco aceitáveis para os portugueses. Seria interessante, por exemplo, saber a que preço e em que condições uma boa parte do imobiliário que o banco detinha por todo o país foi transferido para o fundo de pensões dos seus dirigentes e funcionários.


É por estas e por outras o senhor Costa não tem autoridade moral para propor o mais pequeno sacrifício seja a quem for e deveria abster-se de parecer em público, este senhor só merece a resposta que lhe daria o saudoso Almirante Pinheiro de Azevedo: «vá bardamerda, snr. governador»!...

Grande coisa com amigos destes e dirigentes criados deles aqui na Europa...

Cerca de 31% dos grandes bancos norte-americanos acreditam que beneficiaram nos últimos seis meses da redução da capacidade dos seus rivais europeus devido à crise, revela uma sondagem da Reserva Federal.

 
O estudo trimestral do banco central dos Estados Unidos realizado a 10 de Janeiro mostra que 29,1% das 55 entidades financeiras consultadas consideram que a menor capacidade europeia “aumentou o seu volume de negócios”.

A esta percentagem somam-se 1,8% dos bancos que asseguraram que a crise europeia e o arrefecimento da actividade das suas entidades financeiras teve impacto na melhoria do negócio tanto com clientes estrangeiros como locais e “de maneira considerável”.

As percentagens obtidas são, segundo a sondagem, muito maiores quando as respostas são oriundas dos 33 grandes bancos inquiridos pela Reserva Federal, pois quase metade respondeu que os seus negócios melhoraram de algum modo (45,5%) ou de maneira considerável (3%) à conta da crise dos seus rivais europeus.

A sondagem trimestral da Reserva Federal incluiu pela primeira vez a pergunta sobre a melhoria ou perda de operações devido à crise europeia.

A maioria dos bancos inquiridos (58%) disseram ainda estarem mais restritivos quando se trata de emprestar dinheiro a bancos europeus ou às suas filiais.

Já nem vergonha têm na cara estes f... da p... .
Criaram a crise e gerem-na as agências são deles e os dirigentes dos governos Europeus são coocados por eles, é a continuação do Tratado de Tersalhes...

sábado, janeiro 28, 2012

Calmaria ou efeito de maré...

Depois dos sentimentos de revolta, da vontade de fazer justiça com as próprias mãos, depois de pensar que apenas será um acto sem consequências, esse de fazer justiça pelas próprias mãos,  tenho que me acalmar e ver, sentir e cheirar a brisa e os verde azuis salpicados dos tons de púrpura e amarelos ocre ou clarinhos que apenas a minha Ria Formosa me dá, mesmo quando dela afastado estou, porque é um lugar único no mundo, mas o meu mundo é um mundo pequeno de pequenas coisas, de pequenas alegrias dentro dos sofrimentos que me são impostos e que vivo também pelos outros, porque é preciso viver pelos outros, sentir pelos outros, fora da maldade e da miséria deste pântano em que transformaram a vida de muitos de nós, persistindo, sem fim à vista e sem esperança que a coisa nos largue como um cancro metastizado que não larga o moribundo, que não sabe que o é.
Seremos todos moribundos neste país que se afunda levado por políticos sem escrúpulos e sem alma, tal como bandidos sem moral e sem respeito pelas vidas dos outros?

O perfume barato do contar


O perfume barato do contar

Sabia que me iria irritar. Que o livro Um Político Assume-se seria uma forma de se justificar perante a História, já que não perante a sua consciência. Mesmo assim insisti em querer vê-lo. Foi esta noite. Fui directo à página onde, na obra que diz ser de memórias políticas,  Mário Soares trata do que eu conheço de perto, por ter vivido na pele parte da trama: a história da sua ligação, enquanto Presidente da República, ao território de Macau. Detive-me nas linhas que dedica ao caso Emaudio/TDM. Poucas linhas, esclarecedoras linhas.
Diz que foi afinal uma campanha lançada «pela extrema direita» contra ele, para o envolver na história. Mente, por contrariar a verdade. A questão não tem a ver com políticos de qualquer quadrante que se tenham mobilizado contra si, mas com os factos que não se conseguem iludir.
Acrescenta que na origem da campanha esteve o Rui Mateus. Mente por sobre-simplificar a verdade. O papel de Rui Mateus é prévio na próxima ligação à sua pessoa, contemporâneo com todo o caso e posterior com maior intensidade no que se refere ao caso da Weidelplan/Aeroporto de Macau, mas o assunto transcende-o e em muito.
Para enxovalhar Rui Mateus, Soares diz que o conheceu empregado de um restaurante e que teve uma ambição tal que quis ser ministro dos Negócios Estrangeiros do seu Governo. Mente por omissão da verdade. A ligação entre os dois é muitíssimo mais vasta, próxima, e, é só ler o livro que aquele escreveu, para concluir que em matéria de "comedorias" o conhecimento não se limitou a restaurantes.
Remata, enfim, dizendo que envolveram no assunto o então Governador de Macau, Carlos Montez Melancia, que seria absolvido judicialmente. Mente por adulteração da verdade. A história do processo judicial ainda está para ser contada, como a história dos processos judiciais que nunca existiram em torno do caso. E como é que a absolvição do Governador neste processo deu em condenação em outro, o "caso do fax".
No momento em que escrevo estas linhas hesito se contarei ou não toda a história desse aproveitamento político, económico e pessoal da televisão de Macau que o livro tenta branquear.
Confesso que o descaramento do livro me incendeia um sentido de revolta pessoal. Que a "reconstrução" da História  me repugna como cidadão, como o faz tanta historiografia oficial arregimentada que tem andado a ser escrita em relação ao que nem regime político chegou sequer a ser e hoje está em estilhaços, o estado cadaveroso do País.
Sei que se o fizer, contando o que sei, serei sujeito aos efeitos da difamação e do enxovalho, porque ele e este estilo de obra são o rosto de um modo de ser que define a actual Situação, o verso dos que a criaram, o anverso dos que a consentiram. Talvez haja um direito à tranquilidade, minha e dos meus, que eu deveria saber preservar.
Por outro lado estou perante uma figura pública idolatrada a quem tantos perdoaram tudo, à direita e à esquerda, com quem tantos se arranjaram para tanto. Ficarei isolado e à mercê.
Talvez haja, enfim, o respeito devido à idade, se não houvesse o respeito devido à Nação de todos nós. Apodar-me-ão de desapiedado, logo quanto a um livro em que o seu autor se fez cercar, no lançamento, da imagem inocente dos seus netos.
Vou tentar tranquilizar o espírito e logo verei. Até passar o hálito da sordidez do caso e do perfume barato com que agora o vejo contado.

  José António Barreiros,15.12.2011

Que me desculpe o Senhor Doutor José António Barreiros por publicar o texto, veio por mail, através de alguns amigos e confesso que não resisti.
Não o conheço mas tenho apreço pelo Senhor, apreço e admiração, porque escreve de forma única e sentida, escreve bem e pensa decerto bem, pelo que o posso considerar uma boa pessoa.
Assim, peço desculpa por publicar o texto que não sei de onde veio, se de um dos seus blogs se de outro local, mas deixe-me sentir também isolado e à mercê, este país precisa de muita gente que se sinta à mercê, para deixarem de estar e se sentirem à mercê.
Um simples físico ao seu serviço.

Acerca da justiça no sítio mal frequentado

"Portugal é hoje um paraíso criminal onde alguns inocentes imbecis se levantam para ir trabalhar, recebendo por isso dinheiro que depois lhes é roubado pelos criminosos e ajuda a pagar ordenados aos iluminados que bolsam certas leis".

Barra da Costa Criminologista

sexta-feira, janeiro 27, 2012

A vitória dos medíocres e das criaturas do pântano


Desde o perfume barato de Soares de que fala e bem conhece pela repugnância que lhe provoca, José António Barreiros fica paralisado como muitos, perante gente sem escrúpulos e hoje, num período de guerra civil ainda surda, percebe-se que não se queira ver enxovalhado ou arrastado, percebe-se que o faça por defesa dos seus. Excelente aviso do seu bem escrito texto:” O perfume barato do contar”.
É este o país que temos e o regime que temos, como os vários poderes que mesmo muitas vezes enxovalhados não desistem de o serem mais, porque não têm vergonha do que são nem do que foram criando, porque não pode neste caso se sentir enxovalhado quem não sabe o que isso é, vivem na esterqueira e a ela estão habituados, vivem no pântano e arrastam o país e todos os que não querem  ser empurrados para o local onde sobrevivem as miasmas e os invertebrados que nos governam, que comandam os poderes que deveriam constituir um Estado de Direito, e estes seres rastejantes, são os poderes nas suas várias faces segundo dizem, o legislativo, o executivo e o da aplicação da justiça.
Os que sabem, há muito perceberam que o país irá à bancarrota, seguirá o caminho da Grécia, porque assim está programado por esta Europa de dirigentes comandados de fora, a mando dos “mercados” da City e de Wall Street e dos seus oligarcas da mundialização.
Foram os défices escondidos e serão os que continuam escondidos mas irão aparecer mais… Depois, toda a gente que nos governa e governou  já sabiam, porque só os imbecis o não poderiam saber, mas todos sabiam, porque todos militam em organizações mais ou menos secretas,  com tentáculos, túneis e ligações, com mais ou menos aventais.
Ontem foi o buraco da saúde  dos seus outsourcings de que não se prescinde, empresas de amigos, claro, amanhã será o poder local, hoje foi a Madeira e decerto ainda faltará o buraco dos Açores, quando tiverem de pagar as grandes obras aos consórcios adjudicados, sim, porque neste sítio ninguém pense que se fica a rir do vizinho, vivemos uma guerra civil não declarada por um povo amesquinhado que pariu estes políticos, vermes do pântano em que todos os dos vários poderes transformaram este meu país.
“De novo está presente a ameaça, mãe da moral, a grande ameaça, desta vez localizada no indivíduo, no próximo e no amigo, na rua, no próprio filho, no próprio coração, no que há de mais pessoal e secreto em desejo e vontade: o que terão agora de pregar os filósofos da moral que surge nessa altura? Eles, estes observadores agudos às esquinas das ruas, descobrem que se aproxima rapidamente o fim, que tudo à volta deles corrompe e se corrompe, que nada ficará até depois de amanhã, exceptuando uma espécie de homens, os incuravelmente medíocres. Só os medíocres têm a possibilidade de continuar, de procriar, - eles é que são os homens do futuro, os únicos sobreviventes; « sede como eles!, tornai-vos medíocres!», é esta a única moral que ainda tem sentido, que ainda encontra quem a ouça, - Mas é difícil de pregar, esta moral da mediocridade! – pois que ela nunca pode confessar o que é e o que quer! Tem que falar de moderação e dignidade e dever e amor do próximo, - terá necessidade de ocultar a ironia!”
Nietzsche in “Para além do bem e do mal”

quinta-feira, janeiro 26, 2012

Pretty Woman

"Esqueçam a Grécia. É Portugal que vai destruir o euro"

"Um "default" é acidente. Dois já é uma crise sistémica. Quem o diz é Matthew Lynn, presidente executivo da Strategy Economics, sublinhando que Portugal voltará a ter um importante papel no palco mundial. Mas pela negativa. Ao Negócios, diz que o incumprimento português é inevitável. "É apenas uma questão de tempo".
Matthew Lynn (na foto), CEO da consultora britânica Strategy Economics , traça um cenário sombrio para a Zona Euro. E diz que Portugal será o responsável pela queda do euro.

No seu mais recente artigo de opinião, publicado na "Market Watch", na sua coluna intitulada "London Eye", Lynn começa por relembrar a importância do País para a história mundial, com a assinatura do Tratado de Tordesilhas, que dividiu o mundo não europeu entre Espanha e Portugal em 1494. E salienta que 2012 pode ser o ano em que Portugal volta ao centro do palco mundial. Como? “Fazendo o euro ir ao ar”, responde.

“A Grécia já estoirou – e o seu incumprimento está já descontado pelo mercado. Mas Portugal está precisamente na mesma posição (…). Está também a resvalar para um inevitável ‘default’ das suas dívidas – e quando isso acontecer, vai ter um efeito devastador para a moeda única e infligir danos ao sistema bancário europeu, que poderão revelar-se catastróficos”, escreve Lynn, autor de dois livros de economia: "The Billion-Dollar Battle: Merck v. Glaxo and Birds of Prey: Boeing v.Airbus" e Bust: Greece, the Euro and the Sovereign Debt Crisis.

O analista e consultor britânico compara a situação de Atenas e de Lisboa, destacando que “Portugal - um dos países mais pobres da União Europeia, com um PIB per capita de apenas 21.000 dólares, significativamente abaixo dos 26.000 dólares da Grécia – fixou metas de redução do seu défice de 4,5% em 2012 e de 3% em 2013”.

“Então e como está a sair-se?”, questiona-se. E responde: “Quase tão bem como a Grécia – ou seja, nada bem. Prevê-se que a economia grega registe uma contracção de 6% este ano e Portugal não fica muito atrás – o Citigroup estima que a economia ‘encolha’ 5,7% em 2012 e mais 3% em 2013”.

Matthew Lynn recorda o estudo da Universidade do Porto, divulgado na semana passada, que diz que a economia paralela aumentou 2,5% no ano passado e que representa agora cerca de 25% da actividade económica em Portugal. “E não há qualquer expectativa de que isso vá mudar em breve. As empresas portuguesas simplesmente não conseguem sobreviver a pagar as taxas de imposto que lhes foram impostas”, refere o especialista.

“O resultado qual será?”, pergunta. E volta a responder: “Os objectivos de redução do défice não vão ser cumpridos. No início deste mês, o governo reviu em alta a previsão do défice, de 4,5% para 5,9% do PIB este ano. Se a experiência grega for válida, esta meta continuará a ser revista em alta. A economia encolhe, cada vez mais pessoas transitarão para a economia subterrânea para sobreviverem e o défice continuará a crescer”.

“Em resposta, a União Europeia exige mais e mais austeridade – o que significa, muito simplesmente, que a economia continuará a contrair-se ainda mais. É um círculo vicioso. Se alguém souber como sair dele, então está a guardar o segredo para si próprio”, comenta Lynn.

Juros da dívida a escalarem

O comentador da "Market Watch" recorda o corte do “rating” da dívida soberana de longo prazo de Portugal, para nível de “lixo”, por parte da Standard & Poor’s. Das três principais agências, só faltava a S&P para a dívida pública de Portugal ser colocada na categoria “especulativa” – ou seja, não é considerada “digna” de investimento, atendendo aos riscos que os investidores correm de não serem reembolsados.

Segundo Matthew Lynn, haverá mais “downgrades”. “Os juros da dívida estão a disparar. Na semana passada, as ‘yields’ das obrigações a 10 anos superaram os 14%. E deverão subir ainda mais”, prognostica. O analista relembra que a maturidade a 10 anos da dívida soberana grega já está com juros de 33% e diz que “não há qualquer razão para as ‘yields’ da República Portuguesa não atingirem os mesmos níveis”.

“E isso é importante”, sublinha. Isto porque, adianta, a crise grega poderia até ser vista como um caso especial. “Mas não a de Portugal. Não houve ‘manipulação’ nos números [Portugal] não registou défices excessivos – com efeito, quando caminhávamos para a crise de 2008, o País apresentava défices de menos de 3% do PIB, bem dentro das regras impostas pela Zona Euro. Não era irresponsável. O problema, muito simplesmente, é que Portugal não conseguiu competir no seio de uma moeda única com economias muito mais fortes. Agora, o País está a mergulhar numa depressão em toda a escala – tão má como o que se testemunhou nos anos 30 [Grande Depressão] – devido à união monetária”.

“Vai ser tão grave como na Grécia. E talvez até pior”, vaticina.

Lynn refere igualmente que os bancos europeus estão mais expostos a Portugal do que à Grécia. “No total, os bancos têm uma exposição de 244 mil milhões de dólares a Portugal, contra 204 mil milhões de dívida grega”, segundo os dados do Banco de Pagamentos Internacionais citados pelo antigo colunista da Bloomberg News e responsável pela “newsletter” da área financeira desta agência.

“O grosso da dívida portuguesa é detido pela Alemanha e pela França. Mas estes são os dados oficiais. É bem provável que grande parte da dívida privada, que é mais substancial do que a dívida pública, seja detida por bancos espanhóis. E estes já estão frágeis. Conseguirão assumir as perdas? Talvez, mas não apostaria a minha última garrafa de vinho do Porto nisso”, comenta Matthew Lynn.

Em seguida, diz o ex-colunista da Bloomberg, esta situação também irá repercutir-se na moeda única. “Se um país entrar em incumprimento, dentro de uma união monetária, isso pode ser visto como um acidente infeliz. Todas as famílias têm uma ovelha negra. Mas quando um segundo país cai, o caso fica muito mais sério. A ideia de que isto é culpa de alguns governos irresponsáveis vai deixar de ser sustentável. A explicação alternativa – a de que o euro é uma moeda disfuncional – vai ganhar mais peso”.

Segundo Lynn, “um incumprimento da dívida soberana por parte de Portugal desencadeará uma retirada da Zona Euro – e neste momento, parece que esse poderá ser o motor que desencadeará o colapso do sistema”. “Foram cinco séculos de espera. Mas agora Portugal poderá estar prestes a desempenhar de novo um papel central na economia global”, conclui o especialista da área financeira.

"É apenas uma questão de tempo"

Ao Negócios, Matthew Lynn reafirmou o que diz no seu artigo de opinião. Questionado sobre se há alguma possibilidade de Portugal não entrar em incumprimento, responde que não. “Penso que é inevitável um ‘default’ de Portugal, caso se mantenha no euro. Quando uma economia está a encolher 5% ao ano, é impossível que a dívida fique sob controlo. Por isso, as dívidas vão ficando cada vez maiores”.

“A única coisa que poderia evitar o incumprimento seria uma ampla ajuda financeira por parte do resto da Zona Euro. Isso estabilizaria a dívida e daria à economia uma hipótese de crescer. Mas isso não vai acontecer – por isso, o ‘default’ é a única opção. É apenas uma questão de tempo”, disse ao Negócios
."

quarta-feira, janeiro 25, 2012

Call me

A arte do convívio

"A grande contribuição britânica para arte do convívio foi falar sobre o tempo. Assim conseguia-se o máximo acordo com o mínimo de acção intelectual. A sociedade portuguesa adaptou, com orgulho, esta genial invenção e aplicou-a a quase tudo o que move ou respira: à política, à economia, à cultura, à justiça ou à saúde.

Discutem-se anedotas e evitam-se as questões de fundo. Não é por acaso que Portugal é um dependente crónico do oxigénio externo a que damos o nome de crédito. Olhe-se só para o que nos exalta ciclicamente com um empenho que faz escorrer suor: o BPN, o curso de Sócrates, o BPP, as condenações de Isaltino de Morais, o caso Casa Pia, o "rei da sucata" e as alheiras, os contratos das PPP, os ordenados de Cavaco Silva. Emocionados, exaltamo-nos numa comunhão de indignações militantes, o assunto arrasta-se durante algum tempo e tudo termina na fórmula que encontrámos para dar um toque nacional à arte do convívio: o esquecimento.

Enquanto discutimos isso com renovado vigor obliteramos o fantástico caso da pressão do aumento do preço dos transportes públicos (em nome da "verdade") que terá consequências imprevisíveis na circulação e no trabalho nos grandes centros urbanos. Enquanto discutimos e falamos tanto de diplomacia económica esquecemos o encerramento de uma emblemática livraria, a Camões no Rio de Janeiro, porque é "deficitária". A questão do envelhecimento da população é subvalorizada. É essa capacidade que temos para a indignação sem resultados que ameaça tornar Portugal num país que tenta parecer que é mas que nunca cumpre o seu destino. O que é uma tristeza
."

Fernando Sobral

terça-feira, janeiro 24, 2012

Moonlight Shadow

Taxas de juros.

1/ "Taxas de juro do crédito à habitação em alta desde Junho de 2010 (mais aqui)"

2/ "Taxas Euribor atingem mínimos de dez meses (mais aqui)"

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Combustíveis.

"Consumo de combustível desceu 7% no último trimestre (mais aqui)"

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Exportações.


"Novas encomendas às fábricas nacionais sofreram queda recorde em Novembro. Apesar de ter um comportamento particularmente volátil, este é mais um indicador que sugere o aprofundamento do contexto recessivo e a perda de vigor do único motor que tem impedido a economia portuguesa de se afundar ainda mais: o exportador. Novas encomendas caíram 25% em Novembro, dez vezes mais do que a média da Zona Euro (mais aqui)"
Não há dúvida que uma boa ideia é uma boa ideia... E então quando vem de longe…

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Tudo em família

"Foram precisos dois milénios de cristandade para que a esquerda se pronunciasse contra os subsídios do Estado aos artistas, ou "artistas". Claro que o pronunciamento não aconteceu em sentido genérico e não aconteceu à toa, mas apenas porque, na história em causa, o Estado é o Instituto de Investigação Científica Tropical, presidido por Jorge Braga de Macedo, e a artista, ou "artista", é Ana de Macedo, por acaso ou desígnio filha do supracitado economista barra tropicalista. Segundo consta, o misterioso IICT apoiou uma exposição de "arte contemporânea" da senhora em Maputo, um português lá residente escreveu há seis meses um texto no seu blogue sobre o assunto e, agora, o Bloco de Esquerda insurge-se contra o arranjinho e questionou o Governo acerca do esbanjamento de dinheiros públicos.

Além de espanto, a iniciativa merece aplausos. E, se não for maçada, continuidade. A menos, note-se, que o Bloco pretenda limitar a sua indignação a casos de nepotismo e, dentro destes, a casos de nepotismo que envolvam figuras ligadas ao PSD, está aberto o precedente para que enfim se levantem duas ou três questões pertinentes ou, na verdade, uma única: a que título os contribuintes devem patrocinar, mediante extorsão de impostos, a arte, ou a "arte", que não consomem?

Estou certo de que, se procurar bem, a rapaziada do Bloco encontrará outros exemplos em que a atribuição de subvenções do género é contaminada pela existência de laços familiares, relações fraternas, compadrios, interesses mútuos ou meras simpatias entre quem decide o destino dos subsídios e quem os recebe. O difícil, se não impossível, é encontrar exemplos contrários.

Embora a revelação possa chocar muitos, nem o Estado tem carácter divino nem as benesses que distribui derivam de juízos iluminados: a distribuição resulta da opinião de pessoas, e as pessoas, principalmente em países pequeninos, tendem à promiscuidade. Se isto é válido para áreas relativamente permeáveis a escrutínio técnico, mais válido é para as artes, ou "artes", cuja relevância depende do teste do tempo e não do palpite de um cunhado, compincha ou interesse amoroso. É evidente que os parentes, vizinhos ou amantes do artista, ou "artista", X são livres de patrocinar os seus desabafos criativos. Não são, ou não deviam ser, livres de o fazer à custa de cidadãos que ignoram a obra de X ou que, quando a conhecem, preferiam não ter conhecido.

À cautela, o ideal era esquecer inclinações ideológicas ou gabarito dos subsidiados e alargar os escrúpulos com o dinheiro dos outros a toda a manifestação artística, ou "artística", desígnio que gostaria de ver defendido pelo Bloco e, sobretudo, pelo Estado
."

Alberto Gonçalves

segunda-feira, janeiro 23, 2012

O risco é um maçador

"A crise suscitou algumas reacções inesperadas, mas reveladoras. Por exemplo, há banqueiros que lamentam haver entidades que lhes devem dinheiro. E alguns até fazem beicinho porque, imagine-se, há quem não pague os empréstimos com que se comprometeu.

O mundo parece, assim, ter-se reunido para conspirar contra as instituições financeiras e quem as gere. O cenário é parecido com aquele que se verifica com as companhias seguradoras. Assumem a cobertura dos riscos mas, quando os sinistros acontecem, culpam a imprudência dos clientes ou a inclemência da Natureza.

Lá no fundo, há algo comum a estas atitudes e resume-se de forma simples. Não são os únicos, mas banqueiros, tal como seguradores, alimentam um ódio mal disfarçado pelo risco. Estão dispostos a financiar quem lhes solicita recursos desde que lhes pareça que a probabilidade de os créditos não serem pagos ser equivalente a zero.

Foi por este motivo que os grandes bancos portugueses se entretiveram a financiar o Estado e conceder financiamentos garantidos ou, em última análise, da responsabilidade dos cofres públicos, na convicção de que os contribuintes poderiam ser esfolados, em qualquer altura no futuro, para que os compromissos pudessem ser honrados.

Houve bancos a incentivar obras megalómanas e sem rendibilidade apenas porque acreditavam que a sua fatia do negócio estava garantida. Houve bancos a financiar um Estado que engordava muito para além dos limites razoáveis porque teorias delirantes disseminaram a ideia de que, integrado na Zona Euro, Portugal poderia contrair dívidas sem pensar no dia seguinte. E houve instituições financeiras que mantiveram a torneira aberta para empresas públicas e municipais, autarquias e regiões, além de não se fazerem rogados quando se tratou de alimentar as ambições das famílias de terem casa própria, carros e outros bens de consumo.

Durante anos, os bancos deitaram gasolina sobre a fogueira do endividamento e o incêndio cresceu até começar a queimar quem o alimentou. E, um dia, teria de acontecer. A espiral de endividamento, nos sectores público e privado, acabou por se virar contra os credores.

Os bancos travaram a fundo e procuram, agora, meios de se recapitalizarem e defenderem a sua solidez contra o crescimento do malparado, com o apoio do Estado, de novos investidores ou de ambos. Subitamente conscientes de que o risco não faz parte de uma tese académica carecida de prova, subiram "spreads" e comissões. Para quem queira comprar habitação a crédito, os custos subiram mais de 8% nos dois últimos anos.

Ser banqueiro pode ser óptimo, mas os devedores são um incómodo. E o risco é uma grande maçada
."

Joao Silva

Pobre presidente

"Um dia, é o primeiro-ministro que agradece a "discreta mas importante intervenção" do presidente da República no acordo chamado de concertação social. No dia seguinte, é o presidente da República que, voluntária ou involuntariamente, decide sabotar qualquer esforço de concerto, com "c" ou com "s".

A esta hora, já toda a gente conhece as declarações de Cavaco Silva sobre os seus ganhos e os seus gastos, as quais, a bem da clareza, merecem um par de ajustes face às paráfrases sarcásticas ou indignadas que circulam por aí. Cavaco Silva não afirmou que a sua reforma é de 1300 euros por mês, mas que a sua reforma enquanto professor universitário e investigador na Gulbenkian é de 1300 euros por mês (se juntarmos a do Banco de Portugal, a coisa parece ascender aos 8 mil). Cavaco Silva também não afirmou que não consegue pagar as despesas pessoais, mas que necessita de recorrer às poupanças que realizou para complementar os rendimentos periódicos.

De resto, é escusado distorcer as declarações em causa para torná-las absurdas. Há absurdo suficiente quando o chefe de um Estado falido e cujos cidadãos ganham, se ganharem de todo, uma média de 700 ou 800 euros, se lamenta de que 9 mil euros mensais não chegam para uma existência decente. A maçada, claro, não são os montantes: são os lamentos. Não acho que Cavaco Silva deva regular o nível de vida pelos padrões de quem aufere dez vezes menos, nem que se deva envergonhar das pensões que lhe cabem por direito, nem sequer que deva cair na recusa demagógica do respectivo salário (em que aliás caiu). Acho apenas que lhe convinha ter uma noção, ainda que vaga, do cargo que ocupa e daquilo que o rodeia. No mínimo, a tentativa de se aproximar do homem comum na pobreza material levou Cavaco Silva a suplantá-lo em pobreza de espírito.

Tamanho delírio custa mais porque a distância entre a classe política e o mundo real esteve precisamente na origem das loucuras que nos trouxeram à desgraça vigente. Após suportarmos governantes que cantaram loas à prosperidade enquanto esfarrapavam o país, dispensava-se um PR que admite a crise enquanto ignora as condições do país que a sofre. Após suportarmos a regular opinião de lunáticos que condenam a austeridade como se houvesse alternativa, dispensávamos um PR que confunde austeridade com abundância. Após suportarmos a popular lengalenga de que estrangeiros sombrios conspiram para esmagar uma nação inocente, dispensava-se um PR que atribui às agências de rating todos os males da pátria, não por acaso o que Cavaco Silva fez na exacta intervenção em que chorou a minguada reforma.

Por distracção ou inconveniência gerais, o escândalo subsequente ao segundo disparate abafou o primeiro. Dado que ambos são inseparáveis, foi pena: seria útil notar que, graças aos vultos políticos de que dispõe, Portugal é perfeitamente capaz de se desgraçar sozinho
."

Alberto Gonçalves

domingo, janeiro 22, 2012

O mostrengo voador

"Há alguns anos, na BD, foi criado o Morcego Vermelho, um alter ego do popular personagem Peninha. Ele era um super-herói improvável. Apesar de ter equipamentos sofisticados como o pula-pula morcego, a moto-morcego e a corda-morcego, eles frequentemente resultavam mal.

O Morcego Vermelho é uma inspiração, mesmo na política. Mas em Portugal há uma maior: o Mostrengo. Vítor Gaspar é, na sua sobriedade de falso lento, um optimista. Provou-o ao dizer que Portugal está perto do "ponto de viragem". Socorreu-se então da poesia para explicar a prosa. Lembrou "O Mostrengo" de Fernando Pessoa para exemplificar a ideia que no presente é possível recriar o "episódio mítico do monstro marinho contra o homem do leme".

E, é claro, Gaspar acredita que é o homem do leme e que, escudado em Camões e Pessoa, abrirá a via para o cabo da Boa Esperança. É uma ideia encantadora. Depois do medo inicial, surge a certeza. Depois da coragem, a verdade. Vítor Gaspar ilude, no entanto, uma metáfora: "O Mostrengo", antes de se chamar assim, chamava-se "O Morcego".

Não foi ingenuamente que Pessoa se lembrou dele: o morcego, no Ocidente, simboliza a noite e a sua natureza proibida. O mundo subterrâneo é povoado por morcegos. Há quem diga que, com "O Mostrengo", Pessoa queria simbolizar a entrada na noite. Mostrengo ou Morcego entrámos na noite. Portugal não poderá continuar a criar mais austeridade, senão o equilibrismo político reinante desaparecerá.

Até 2013 estamos sob o chapéu dos fundos da troika. Mas depois, sim, se verá se vencemos o Mostrengo ou toda a farsa será simbolizada pelos morcegos da noite do euro
. "

Fernando Sobral

sábado, janeiro 21, 2012

É o crédito, estúpido, é o crédito

"Os sinais de que a economia está a passar por um "credit crunch" avolumam-se. É verdade que a Troika diz que não.

De facto, quando se olha para o volume total de crédito, parece que a Troika tem razão. Mas não é assim. Ontem, num workshop sobre mudanças estruturais,isso ficou claro. E logo pela pena de uma técnica do próprio BCE, cujo estudo mostra que há pelo menos cinco anos a maior parte do crédito concedido acabou em empresas do Estado e no sector imobiliário.

Depois de assinado o memo de entendimento o cenário mudou (o crédito caiu). Para todos? Não. O sector empresarial do Estado manteve-se como grande cliente dos bancos... portugueses (os estrangeiros puseram-se na alheta). Ooops!, lá se vai a teoria de João Galamba...

Moral da história: as empresas produtivas, inclusive as exportadoras, não têm crédito para crescer.

O Governo tem de aproveitar a presença da Troika em Lisboa para, citando o estudo do BCE, pressionar o abrandamento da desalavancagem. Porque a escassez de crédito vai provocar uma quebra ainda maior do PIB, colocando mais pressão sobre o défice (menos receitas, mais desemprego e mais prestações sociais).

Percebe-se o que quer a Troika: forçar um ajustamento rápido da economia, à la irlandesa e à la países bálticos (casos citados ontem pelo BCE). O problema é que ao deitar fora a água do banho, podemos deitar fora o bébé. E tendo em conta que nos estamos a portar bem (o acordo social é de fazer inveja aos alemães!), o Governo tem de mostrar aos portugueses que consegue cedências da Troika. Até para convencer os sindicatos que os sacrifícios valem a pena
..."

Camilo Lourenco

sexta-feira, janeiro 20, 2012

Um estranho bem-querer de crises políticas

"Quando perguntaram a Joseph Stiglitz o que pensava das mudanças à lei laboral em Portugal, o nobel da Economia respondeu que sim, que eram positivas, que era óptimo haver acordo entre parceiros sociais mas que a verdadeira questão é se o euro se vai manter. A resposta devolve-nos à escala dos nossos conflitos. É a Grécia, é sempre a Grécia. E somos nós. Vamos inventar uma crise política a esta hora?

A Grécia está a ser largada no corredor da morte. A missão de salvá-la é quase impossível, tamanha é a sua dívida, tão fraca é a estabilidade política, tão esparsa é a possibilidade social de implementar as medidas danadas exigidas pelos credores. Quase metade da dívida grega é já hoje europeia (emprestada pelo Banco Central Europeu e pelo Fundo de Estabilização). Na outra parte, pede-se um perdão de 68%.

A dissimulação já não existe: os líderes dos maiores países europeus e das institu-ições comunitárias já não fazem juramentos de bandeira azul e branca. A tese dominante parece ser a seguinte: a Grécia vai sair mas não pode sair já, descontroladamente, pois seria o caos; é preciso ganhar tempo para criar "firewalls", cortinas que internem a Grécia sem perigo de contágio; e depois deixam-se os gregos à desventura de uma falência do estilo da Argentina, extirpando o problema da Europa.

A tese tem um problema: ninguém sabe se vai funcionar. As "firewalls" passam pela receita de sempre - compromisso político, mais federalismo, reforço dos fundos europeus e activação do BCE - mas é impossível prever se a quarentena da Grécia não inocula o vírus. Mesmo que o Banco Central Europeu já esteja, indirectamente, a injectar vastas quantidades de liquidez (através dos empréstimos a três anos a taxas de 1%), a corda que nos sustém é fina. E são mais os que dizem que não é possível separar o contágio da Grécia do que os que crêem no contrário.

Agora segure-se bem: há "hedge funds" norte-americanos que, por causa da dívida, admitem processar a Grécia no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. Sim, os "hedge funds", uma forma selvagem de investimento institucional, alegam violação de Direitos Humanos... Este exemplo mostra a ridícula submissão a que a Europa chegou face aos mercados financeiros. É como abutres processarem as carcaças de animais mortos por já não estarem frescas.

Este cenário de catástrofe possível na Europa não pode paralisar Portugal. Estamos, como tem sido dito, a fazer a nossa parte na base do melhor cenário europeu, cujo desfecho não controlamos e quase não influenciamos. O nosso novo ministro das Finanças já cita o mesmo "Monstrengo", de Pessoa, que o antigo ministro das Finanças citava, o que significa que já se sente isolado e missionário. Por tudo isto, este acordo para a reforma das leis laborais é um activo precioso, que deve ajudar à percepção externa de que Portugal está mais para o bom lado irlandês do que para o mau lado grego.

A união entre a UGT e a CGTP desfez-se. A união dentro do PS está em risco do mesmo. António José Seguro não tem o partido a seus pés e Carlos Zorrinho não tem a bancada parlamentar nas mãos. Há um grupo de dissidentes, que são socratistas, que querem divorciar-se de um novo acordo com o Governo, quando ele for solicitado, o que há-de acontecer para novas medidas de austeridade. Se o PS sai do caldo, ele entorna-se. Cavaco Silva sabe-o. E nós também. Não é altura de uma crise política. Olhai a Grécia, minha gente, olhai a Grécia
..."

Pedro Santos Guerreiro

quinta-feira, janeiro 19, 2012

Poor's Portugal

"O discurso é estafado. A única maneira de Portugal de sair da crise é exportar mais, apregoam governantes, políticos, empresários e quejandos. O problema é: exportar o quê? Durante duas décadas o país apostou forte no seu processo de desindustrialização. Cavaco Silva, enquanto primeiro-ministro, teceu loas às virtualidades da economia de serviços.

Pelo caminho ficaram a agricultura, as pescas e as indústria pesadas. Ingenuamente ter-se-á pensado que a União Europeia funcionaria numa lógica de complementaridade - uns produziriam aquilo, outros aqueloutro e outros ainda receberiam para não produzir. Portugal entrou nesta última categoria.

Atraída pela opulência fácil que a mesma proporcionava. Os que se seguiram a Cavaco Silva na cadeira do poder adoptaram a mesma táctica, requintada com modelos que garantiam o sucesso. Portugal devia copiar a Irlanda, baptizada como o "tigre celta". Só que a crise também cortou as unhas ao "tigre", o qual, ficou então a saber-se, era de papel.

É por isso que o discurso sobre as exportações é irritante. E volátil como a gelatina em termos de conteúdo. Invocar os pastéis de nata como exemplo acentua o ridículo da coisa. Para exportar, o país precisa de ter o que exportar e para tal precisa de ter indústrias que produzam.

Que não tem, nem em número, nem em dimensão. Nesta medida, necessita de mais e melhor iniciativa privada. Ou seja, Portugal precisa de investir e não de empobrecer.

E agora diga lá o que é que as agências de "rating" têm a ver a isto?
"

Celso Filipe

quarta-feira, janeiro 18, 2012

A enganadora retoma da América

"Os indicadores macroeconómicos dos Estados Unidos têm sido melhores do que o esperado nos últimos meses. A criação de empregos aumentou. Os indicadores relativos à actividade industrial e aos serviços melhoraram moderadamente. Até mesmo o sector do imobiliário residencial deu alguns sinais de vida. E o crescimento do consumo tem sido relativamente resiliente.

No entanto, apesar dos dados favoráveis, o crescimento económico dos EUA manter-se-á débil e abaixo da tendência durante o ano de 2012. Por que motivo não há confiança em todas as recentes boas notícias económicas?

Em primeiro lugar, os consumidores norte-americanos continuarão com problemas em matéria de rendimentos e de património, além de que se vêem limitados pelas suas dívidas. O rendimento disponível tem vindo a crescer modestamente – apesar da estagnação dos salários reais – essencialmente devido ao corte de impostos e às transferências sociais. Não é uma situação sustentável: essas transferências acabarão por ser reduzidas e os impostos acabarão por ser aumentados com vista à redução do défice orçamental. Os recentes dados do consumo estão já em queda face há dois meses, altura em que as vendas da época natalícia registaram um aumento passageiro.

Ao mesmo tempo, o crescimento dos empregos nos Estados Unidos continua a ser demasiado medíocre para poder fazer descer significativamente a taxa de desemprego e para ter impacto sobre os rendimentos do trabalho. Os EUA precisam de criar pelo menos 150.000 empregos por mês, numa base consistente, para conseguirem estabilizar a taxa de desemprego. Mais de 40% dos desempregados são neste momento desempregados de longa duração, o que reduz as suas probabilidades de voltarem a ter um emprego decente. Com efeito, as empresas continuam à procura de maneiras de reduzirem os custos laborais.

O aumento da desigualdade de rendimentos irá também penalizar o crescimento do consumo, à medida que parte dos rendimentos é transferida daqueles que têm mais propensão para gastar (trabalhadores e menos abastados) para aqueles que são mais propensos a poupar (empresas e famílias mais ricas).

Além disso, a recente retoma dos gastos em investimento (e no imobiliário) irá terminar, dadas as fracas perspectivas para 2012, à medida que os benefícios fiscais vão acabando, que as empresas se preparam para os chamados "riscos de cauda" (acontecimentos com baixa probabilidade de concretização, mas de grande impacto) e que a insuficiente procura final for diminuindo as taxas de utilização de capacidade. E a maior parte dos gastos de capital continuará a ser consagrada às tecnologias que reduzem a mão-de-obra, o que uma vez mais implica uma limitada criação de empregos.

Ao mesmo tempo, mesmo após seis anos de recessão no sector habitacional, este continua em estado comatoso. Atendendo a que a procura de casas novas diminuiu 80% face ao seu pico, o ajustamento em baixa dos preços deverá prosseguir em 2012, uma vez que a oferta de casas novas e usadas continua a ultrapassar a procura. Cerca de 40% das casas com uma hipoteca – 20 milhões – poderão acabar por ter um valor patrimonial negativo. Por isso, o ciclo vicioso das execuções hipotecárias e dos preços baixos deverá manter-se – e com tantas famílias a depararem-se com um aperto do crédito, a confiança dos consumidores irá continuar baixa, mesmo que melhore.

Atendendo ao crescimento anémico da procura interna, a única hipótese de a América se aproximar da sua taxa de crescimento potencial será através da redução do seu enorme défice comercial. Mas as exportações líquidas não conseguirão estimular o crescimento em 2012. E por várias razões:

O dólar teria de desvalorizar mais, o que é pouco provável, porque muitos outros bancos centrais seguiram os passos da Reserva Federal em material de política de flexibilização monetária. Além disso, o euro deverá continuar sob pressão baixista e a China e outros países com mercados emergentes continuam a intervir de forma agressiva para impedirem que as suas moedas valorizem demasiadamente depressa.
A desaceleração do crescimento em muitas economias avançadas, na China e noutros mercados emergentes significará menor procura de produtos norte-americanos.
Os preços do petróleo deverão continuar altos, dados os riscos geopolíticos no Médio Oriente, o que manterá elevada a factura da importação de energia por parte dos EUA.

Não será de esperar que as medidas de acção política norte-americanas sejam de grande ajuda nesta matéria. Pelo contrário, a contenção orçamental que irá observar-se em 2012, bem como o impasse político na corrida às eleições presidenciais de Novembro, provocarão uma paralisia política que impedirá as autoridades de resolverem as dificuldades orçamentais de longo prazo.

Atendendo ao sombrio panorama para o crescimento económico dos EUA, a Fed poderá avançar com mais uma ronda de flexibilização monetária. Mas a Fed depara-se também com restrições de ordem política e intervirá pouco, e tarde, a ponto de não se revelar verdadeiramente eficaz. Além disso, uma minoria ruidosa no seio da Fed está contra uma maior flexibilização monetária. De qualquer das formas, a política monetária só conseguirá atender aos problemas de liquidez – e os bancos estão repletos de reservas excessivas.

Mais importante ainda, os Estados Unidos – e muitas outras economias avançadas – continuam mergulhados em fases muito iniciais de um ciclo de desendividamento. Uma recessão provocada por demasiada dívida e alavancagem (primeiro no sector privado e depois no público) exigirá um longo período de redução de gastos e de maiores poupanças. Este ano não será diferente, uma vez que a desalavancagem do sector público ainda mal começou.

Por último, existem aqueles riscos de cauda que tornam hiper-prudentes os investidores, empresas e consumidores: a Zona Euro, onde as reestruturações da dívida – ou pior, um desmoronamento – constituem riscos com consequências sistémicas; o resultado das eleições presidenciais nos EUA; os riscos geopolíticos, como a Primavera Árabe, os confrontos militares com o Irão, a instabilidade no Afeganistão e Paquistão, a sucessão na Coreia do Norte e a transição da liderança na China; e as consequências de um abrandamento económico global.

Dados todos estes riscos grandes e pequenos, as empresas, consumidores e investidores têm fortes motivos para ficarem sentados a observar em vez de agirem. O problema, obviamente, é que quando há muita gente à espera sem actuar, essas pessoas aumentam os riscos que estão a tentar evitar
."

Nouriel Roubini

terça-feira, janeiro 17, 2012

Chiclete

Trabalhar...



1/ "Trabalha-se muito em Portugal mas a produtividade é baixa (mais aqui)"

2/ "Os três dias extra de férias que hoje existem ligados à assiduidade serão eliminados, o que reduz o tempo máximo de férias para 22 dias. Também serão cortados quatro feriados (mais aqui)
Quem diria... Não é que encontraram a “solução perfeita”…

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Charlot e a S&P

"O grande vencedor dos Globos de Ouro deste ano, "The Artist", é um filme mudo e a preto-e-branco. É uma metáfora sobre o novo tempo em que vivemos. A sociedade ocidental deixou de viver a cores e começa a ser incapaz de pensar e de falar. Charlot volta a ser o nosso herói. Lembremos "Tempos Modernos", uma crítica demolidora à sociedade da Grande Depressão. Voltamos a ser como Chaplin: vagabundos sem destino.

A Standard & Poor's quer impor esse destino a todos nós. Olhe-se para a sua última expulsão de conteúdo gástrico a propósito da zona euro. Para a S&P a Europa é um minúsculo hamster que deve correr numa roda até morrer de exaustão. Dá uma opção à Europa: querem morrer pela espada ou pela cicuta? Se os europeus apostam na austeridade, a S&P diz que não há hipóteses de a economia crescer e por isso baixa o "rating". Se apostam no investimento (até para combater o desemprego galopante), a S&P diz que assim não há estratégia para combater o défice.

As agências de "rating" candidataram-se a cangalheiros do euro e têm tido uma boa ajuda da UE. Por isso a vida sorri-lhes. Tudo é visível como num filme mudo: as agências como a S&P são os bombeiros do dólar. E os cavaleiros do apocalipse, porque há quem aposte na catástrofe para ganhar dinheiro. Tudo o resto é uma comédia sem arte. O drama é que se joga com a vida de milhões de pessoas. A Grécia está à beira do abismo. E pode-se adivinhar que, a seguir, os cangalheiros se virarão para Portugal. Sabe-se hoje que a Europa nunca voltará a ser o símbolo do "glamour". Mas escusavam de nos colocar mudos e a preto-e-branco. Como Charlot
."

Fernando Sobral

De Angola, com amor

"Miguel Relvas foi a Luanda. Não para estar num programa de televisão, mas para liderar uma embaixada de charme. O "Prós e Contras" de ontem foi mais que um debate, foi um encontro em directo entre dois Estados. Isto sim é diplomacia activa. É melhor que pastéis de nata.

Depois de uma semana "horribilis", o Governo passou do estado de graça para o estado de desgraça sem passar pelo benefício da dúvida. O dano produzido pelas nomeações da EDP e (bem mais graves) da Águas de Portugal é talvez irrecuperável: a virgindade só se perde, nunca se ganha. Mas os grandes problemas tornam-se ridículos ao pé das catástrofes, como uma dor de cabeça desaparece se se parte uma perna. As nomeações são graves porque revoltam, mas a perna está a partir-se noutro lado. Não nos ecrãs de TV, mas nos monitores dos mercados.

O problema maior de Portugal é bem maior que Portugal. É a União Monetária, é a provável saída da Grécia do euro, é o risco de descontrolo posterior, é o corte de "rating", é as taxas de juro terem ontem disparado mais trezentos pontos (!), é a paragem cardíaca da economia, é a falta de receita fiscal - é a falta de dinheiro, de dinheiro vivo para pagar dívidas, contas, salários, importações. Por isso se vendeu a EDP depressa e bem, por isso se tenta aviar a REN enquanto há tempo, por isso se acolhem chineses, se visitam colombianos, se entronizam angolanos, se assediam brasileiros, se desejam russos, árabes e omanenses.

Portugal precisa de dinheiro, Angola de poder. O poder está na banca e na comunicação social e é precisamente aí que o investimento angolano está agora a crescer. Os desenvolvimentos que se esperam no BCP, por exemplo, poderão prová-lo. Na própria RTP (e na Cofina, proprietária deste jornal) também. Até porque os activos portugueses, empresas ou imobiliários, ficaram baratos e estão hipotecados.

Nada do que se está a passar em Portugal é, no entanto, alheio ao que se passa em Angola. Os problemas de transparência são permanentes e os atrasos nos pagamentos em Angola têm paridade com o preço do barril de petróleo. Mesmo com o crude a escalar com a crise no Estreito de Ormuz há empresas portuguesas aflitas. Basta ver o caso da maior construtora de Viana do Castelo, que hoje noticiamos: o gestor de insolvência denuncia a falta de contas na participada angolana.

Angola vive uma situação social que está controlada pelo Governo mas que é instável. Os ventos de libertação da Primavera Árabe sopram nos arrabaldes de Luanda, onde há acesso à Internet ou onde há ânsia de democracia. E a sucessão de José Eduardo dos Santos é um tabu por resolver dentro da própria nomenclatura dominante.

Para estar em Angola é preciso estar com o parceiro certo. A presença de Miguel Relvas em Luanda pareceu querer demonstrar uma espécie de chancela de aprovação pública face ao Governo angolano, mas Angola não se fez representar pela primeira divisão (Carlos Feijó era esperado mas não apareceu na RTP; Zeinal Bava, que mal falou, estaria bem ao lado de Manuel Vicente, ou mesmo da sua sócia Isabel dos Santos).

A aflição portuguesa fez-nos sair atrás de dinheiro. Partimos criando Planos A para a debilidade portuguesa e Planos B para a Europa. Partimos porque nos tornámos lúcidos e pragmáticos. Mas é um paradoxo que, não crendo já num D. Sebastião, partamos com a pressa espavorida que tanto nos pode levar à Nova Luanda, Maputo ou São Paulo - como a uma nova Alcácer-Quibir
."

Pedro Santos Guerreiro

segunda-feira, janeiro 16, 2012

Laugh And Walk Away

A Standard &Poor’s pôs Merkel no lixo

"A Standard & Poor’s, talvez a mais influente agência de rating norte-americana, pôs Portugal no lixo. Mas não estamos sozinhos: a S&P diminuiu o “rating” de vários países europeus e retirou o triplo A, a nota máxima, à França. A Alemanha mantém-se intocável, o que não espanta: por enquanto, está a lucrar à grande com a crise do euro. No meio da trapalhada geral, os activos germânicos (e a libra e o dólar) são “seguros”. Os investidores batem-se para comprar dívida alemã e já houve investidores que pagaram para emprestar à Alemanha.

A economia alemã mantém naturalmente o triplo A, mas a grande notícia do relatório da Standard & Poors é a colocação de Angela Merkel no lixo. Nem é Portugal, ou o governo português, que são considerados especialmente maus pela agência – as políticas de Angela Merkel é que são classificadas como “lixo” e empurram Portugal para o “lixo”.

Vejamos o argumentário da agência: “As iniciativas tomadas pelos decisores políticos europeus nas últimas semanas podem ser insuficientes para fazer face à crise sistémica na zona euro”. Por muito que não se goste de agências de rating e do seu funcionamento este argumento é difícil de contrariar. A zona euro não está a salvo, e como a incerteza domina muitos dos seus países – os mais frágeis – deixaram de ser “activos seguros”. A própria França já não é o que era.

A S&P fala que o aperto das condições de crédito, o enfraquecimento das perspectivas de crescimento económico e a guerra prolongada entre os políticos europeus sobre a correcta abordagem para resolver a crise do euro não sossegam ninguém – muito menos “os mercados”.

A cimeira de 9 de Dezembro não convenceu a agência de rating (e convenceu alguém?) de que estão reunidas as condições e os recursos suficientes para resgatar os países do euro ou apoiar os que estão sujeito a grandes pressões – vidé Itália. A Standard & Poor’s acha que Angela Merkel não faz uma adequada análise da fonte da crise – os desequilíbrios entre centro e periferia.

E não é que a Standard & Poor’s parece um partido de esquerda a falar? Reformar a Europa “unicamente tendo por base um pilar de austeridade arrisca-se a ser autodestrutivo”. Os consumidores não gastam, porque estão preocupados com a segurança no emprego. Em consequência, as receitas fiscais desaparecem. A diminuição reflecte “a visão de que a eficácia, estabilidade e previsibilidade das políticas europeias e das instituições políticas não foi tão forte” quanto pedia “a gravidade da situação e o aprofundamento da crise financeira”. É, assim, Angela Merkel que está no lixo
."

Ana Sá Lopes

A Europa e as agências de ‘rating’

"A Standard & Poor’s cortou as notações de ‘rating’ de nove países europeus, incluindo Portugal, Espanha e Itália, mas também Áustria e França perderam o ‘AAA’.

Portugal passou, como se esperava, a ter a classificação de ‘lixo' que já lhe tinha sido atribuída pela Moody's e pela Fitch, as outras duas grandes agências de ‘rating' internacionais. O Governo reagiu prontamente com um comunicado de nove pontos onde explica as razões pelas quais lamenta a decisão da S&P, que considera inconsistente com anteriores posições e relatórios divulgados pela agência. Reacções idênticas surgiram um pouco por toda a Europa, com especial incidência em França, onde a perda da notação máxima é vista como um fracasso do presidente e pode influenciar a votação nas próximas eleições de Abril e consequentemente a reeleição de Nicolas Sarkozy, bem como as negociações futuras com Berlim.

Também os juros da dívida pública dos países atingidos vão aumentar, o que torna o esforço dos mais endividados, como Portugal, ainda maior. E a classificação do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) também depende das contribuições dos quatro países da zona euro que ainda conservam o ‘AAA' - Alemanha, Holanda, Luxemburgo e Finlândia. Se alguma coisa de bom pode dizer-se que advém do anúncio do corte de ‘rating' pela S&P é a aceleração do processo de consolidação europeu. Angela Merkel já veio dizer que é preciso apressar a concretização do Mecanismo Europeu de Estabilidade. O certo é que a Europa não pode continuar a dizer mal das agências de ‘rating' sempre que há avaliações negativas. Tem de agir de forma estrutural, com várias medidas, porque, como na crise europeia, não há uma medida milagrosa
"

domingo, janeiro 15, 2012

Cliffs Of Gallipoli

Os coveiros do euro

"As férias da crise no euro acabaram. A semana começa com a pesada herança do corte no 'rating' de nove dos países da União Monetária e com a suspensão das negociações entre a Grécia e a banca para reduzir a sua dívida para metade, condição para Bruxelas viabilizar o segundo empréstimo a Atenas. Merkel e Sarkozy continuam a abrir buracos onde um dia, por este andar, irão enterrar o euro.

Na sexta-feira, a Standard & Poor's tirou à França e à Áustria a nota máxima de baixo risco, baixou o 'rating' de mais sete países no qual se inclui a Itália, a passos de ser considerado um investimento arriscado. Portugal, claro, está entre esses países e, obviamente, os financiamentos ao Estado português foram classificados como de elevado risco, assumindo a tal classificação de " lixo", popularizada com a primeira decisão da Moody's.

A decisão da Standard & Poor's é mais um prego num caixão para o euro e para toda a construção europeia, que está a ser montado por Merkel e Sarkozy, na sua fúria de se manterem no poder. Mesmo que para isso tenham de destruir a União Europeia.

Há meses que assistimos ao mesmo. O BCE faz e as Cimeiras e agências de 'rating' desfazem. Depois de termos assistido, durante as últimas semanas, à queda sustentada das taxas de juro dos países ditos periféricos, onde se inclui Portugal, eis que a Standard & Poor's vem dizer que o problema não está resolvido e até se pode agravar, que os líderes europeus têm andado sempre atrás dos acontecimentos - quantas vezes já ouvimos isto? - e que as divergências entre os países do euro e os seus desequilíbrios são elevados.

A única expectativa positiva que se pode alimentar é que esta decisão da S&P leve ao reconhecimento de que, por este caminho, não se resolve crise nenhuma. Um modelo de combate à crise da dívida que dura há quase três anos e que apenas agrava a própria crise, arrastando para o colapso mais e mais países, só pode estar errado. Ou não será assim? Quem sabe a França volte a ser aquela França que moderou a rigidez e ortodoxia da Alemanha, agora que foi humilhada com o anuncio público de que é mais arriscado emprestar-lhe dinheiro do que à Holanda ou à Finlândia.

Sim, é verdade que a França passou a ser tão arriscada como os Estados Unidos, cuja classificação caiu em Agosto do ano passado. Mas isso revela também o grau de irracionalidade da decisão da Standard & Poor's. Os Estados Unidos têm autonomia monetária e são, pelo menos ainda, a potência imperial. Podem imprimir dólares e em dólares se continuarão a transaccionar as mais importantes matérias-primas do mundo. Por isso mesmo, a decisão da S&P pouco ou nenhum efeito teve.

Outra contradição, nesta onda de reavaliações de risco da S&P, está na manutenção da classificação máxima para a Alemanha. Os analistas da agência de 'rating' acabaram por consagrar a ideia de que os desequilíbrios só são os défices. Quando de facto, e como o demonstram critérios diferentes quando se trata do tema das relações entre os Estados Unidos e a China, os excedentes externos contribuem igualmente para a instabilidade e são desequilíbrios tão importantes como os défices.

A irracionalidade tomou conta dos políticos, dos mercados e das agências de avaliação de risco. Portugal esperava, legitimamente, uma recompensa que não teve. Este pode ser o ano do fim da crise. Mas, por este caminho, será o ano de uma nova e mais grave crise. Se Merkel e Sarkozy quiserem ficar na história como os coveiros do euro
. "

Helena Garrido

Pastéis de nata.

"É ridículo que Álvaro Santos Pereira tenha ido à conferência do DN "Made in Portugal" sugerir, a título de exemplo, o franchise global dos pastéis de nata? Não acho, mas a "inteligência" indígena irrompeu em imediata galhofa. É razoável que, na mesma ocasião, o dr. Santos Pereira se aliviasse de frases ocas acerca do "orgulho" em ser português, da "aposta" nas exportações e da "estratégia" de internacionalização? Não acho, mas a "inteligência" indígena tipicamente ignorou tamanhos clichés. É por isso que, por cá, a inteligência anda sempre entre aspas.

Toda a gente se ri de uma ideia plausível, ou pelo menos tão plausível quanto a dos italianos que lançaram a cadeia de cafés Costa, a do americano que inventou a Kentucky Fried Chicken ou a do mexicano que difundiu o H1N1. Ninguém acha piada a que um homem adulto se afirme patriota. Ninguém acha absurdo que, num regime dito democrático, um governante pretenda orientar as massas acerca dos passos que devem ou não devem dar. Ninguém acha estranho que haja um ministro da Economia.

A culpa do dr. Santos Pereira é apenas a de reproduzir os tiques comuns aos seus antecessores e não perceber a contradição entre apelar à iniciativa individual e, simultaneamente, teimar nas "apostas" e nas "estratégias" em que o fatal Estado possui a última palavra. Talvez porque muitos empresários insistem em ser salvos pelo Governo, o Governo insiste em salvar os empresários, donde os "apoios", os "fundos", os "incentivos", os "programas", os "quadros" e, preferência pessoal, as divertidas excursões de estadistas e "agentes económicos" a tiracolo, que sem notarem o paradoxo rumam regularmente ao estrangeiro a fim de espantar os locais com o nosso "empreendedorismo" e o nosso descaramento. Na conferência do DN, o dr. Santos Pereira anunciou visita próxima ao Magrebe.

E para quê, Deus meu? Para engrossar a lista de falhanços patrocinados pela crença de que compete aos poderes públicos "dinamizar" os interesses privados em vez de, simples e literalmente, desamparar-lhes a loja. A lista é longa e próspera. Há dois anos, os noticiários babavam fervor nacionalista ao descrever a actriz da série Mad Men que desfilou na cerimónia dos Emmy vestida por uma marca portuguesa, naturalmente subsidiada para conquistar a Terra. Esta semana soube-se que a marca em causa faliu, soterrada em dívidas às entidades que lhe sustentaram o capricho. Chamava-se Papo d'Anjo, que também é nome de doce. Como o pastel de nata, cujo franchise aliás já existe na Ásia, a cargo de um inglês que fez pela vida e espantosamente dispensou as estratégias do sr. ministro
."

Alberto Gonçalves

sábado, janeiro 14, 2012

Porque é que a gências de rating fazem gato sapato dos traidores que governam a Europa e infiltraram os governos da Europa, não anglosaxónica



A Oeste nada de novo...

1. A oligarquia financeira está empurrando pela goela abaixo da União Europeia (UE), um "acordo" que estabelece regras rígidas para que a Europa seja governada (ou desgovernada), de forma absoluta, por bancos, liderados pelo Goldman Sachs, de Nova York.

2. Embora as modificações desse acordo aos Tratados da UE dependam de aprovação legal em cada país membro – processo que poderia durar anos – os manipuladores financeiros assumiram o poder à força e irão em frente, a menos que o impeça a resistência dos povos, ainda sem organização.

3. Com a experiência da pequena Islândia, em duas consultas ao povo, a última em Abril de 2011, os predadores perceberam que qualquer outra, em qualquer país, implica a derrota de suas proposições.

4. Mesmo antes de 09/12/2011 – quando foi encenada "reunião de cúpula", e Sarkozy (França) e Angela Merkel (Alemanha) anunciaram o tal "acordo" – o Goldman Sachs (GS) já havia posto três de seus prepostos em posições-chave: Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu; Mario Monti, primeiro-ministro da Itália; Lucas Papademos, primeiro-ministro da Grécia, envolvido em operações do Goldman Sachs com a dívida grega resultantes no seu agravamento.

5. Os países da Zona Euro (os 17 membros da UE cuja moeda é o euro) serão obrigados a aceitar o "acordo". Sarkozy e Merkel dizem que os dirigentes dos outros 15 países foram consultados, mera formalidade. Nove outros Estados participam da União Europeia, mas não adotam o euro: Reino Unido e Dinamarca (isentos), e mais sete que poderiam ainda aderir à Zona.

6. Aqueles porta-vozes apresentaram o pacote envolto neste rótulo: "salvar o euro"; "reforçar e harmonizar" a integração fiscal e orçamentária da Europa. Na realidade, trata-se de destruir a Europa econômica e politicamente, sem garantir a sobrevida do euro, além de aprofundar a depressão, com o arrasamento das políticas de bem-estar social, instituindo uma espécie de "lei de responsabilidade fiscal", como a que manieta o Brasil.

7. O "acordo" impõe duras sanções aos países que não o cumpram, além de serem fiscalizados pelo Tribunal Europeu de Justiça. Os Chefes de Estado e de governo passam a reunir-se mensalmente durante a crise. Com isso, reduz-se o poder dos burocratas da Comissão Europeia, mas essa mudança nada altera, dado que estes também executam fielmente os desejos da oligarquia anglo-americana.

8. Sarkozy é cópia piorada de Mussolini, pois este pôs os bancos sob o controle do Estado – e não o contrário, como se faz agora com a Europa, EUA etc. Submisso às diretivas da oligarquia financeira, o presidente da França declara que os benefícios sociais não são sustentáveis, na hora em que eles são mais necessários que nunca, dado o desemprego grassante.

9. O pacote quer obrigar, punindo os que não o cumpram, que os países da Zona Euro reduzam seus déficits orçamentários para 0,5% do PIB, ou seja, seis vezes menos que o limite de 3%, prescrito no Tratado de Maastricht.

10. Isso significa que Grécia, Itália, Espanha, Portugal e outros terão de cortar ainda mais despesas, depois de já as terem cortado, fazendo, assim, a depressão aprofundar-se. A depressão já causou queda nas receitas fiscais. Combinada a queda das receitas fiscais com o crescimento do serviço da dívida pública, decorrente da alta das taxas de juros, temos, juntos, dois fatores de elevação do déficit orçamentário.

11. Que fazer? Cortar toda despesa que não as da dívida, desmantelando as políticas sociais e deixando de investir na infra-estrutura econômica e na social. Isso trará, entre outros danos irreparáveis, o aumento da disparidade entre membros mais e menos desenvolvidos, inviabilizando a permanência destes na Zona Euro, o que implica sua desintegração.

12. A periferia europeia está, pois, ingressando no Terceiro Mundo, caminho aberto também ao restante da Europa, já que acaba de lhe ser prescrita a receita usual do FMI, a qual ajudou a manter o Brasil e outros no subdesenvolvimento.

13. A dupla franco-alemã enche os  seus egos brincando de diretório europeu, mas Merkel, obedecendo aos bancos alemães, rejeitou a possibilidade de o Banco Central Europeu (BCE) emitir títulos para substituir os dos países devedores. Os bancos querem continuar emprestando aos governos, para receber os juros.

14. Essa rejeição deve levar ao fim do euro, se este já não está perto do fim mesmo sem ela. Traz consequências danosas para a própria Alemanha e para a França, pois obriga os devedores mais problemáticos a continuar pagando taxas de juros demasiado elevadas nos seus títulos.

15. Isso promove crise ainda maior de suas dívidas, com o que credores – bancos alemães, franceses e norte-americanos – chegarão mais rápido ao colapso. Mostra-se, portanto, quimérica outra pretensão do "acordo": a de enquadrar os países no limite de 60% do PIB para suas dívidas
.
16. Não é para a União Europeia que os países europeus estão perdendo a soberania. É em favor da oligarquia financeira que renunciam formalmente, através de atos irresponsáveis de seus chefes de governo.

17. A perda de soberania não se restringe às regras draconianas citadas, por si sós conducentes à ruína financeira e econômica. Inclui também que os países devedores liquidem – a preço de salvados do incêndio – inalienáveis patrimônios do Estado, como já foi determinado à Grécia e a outros. É a privatização, objeto das mais colossais corrupções vistas na história do Brasil.

18. Os analistas ligados ao sistema de poder atribuem a crise dos países europeus mais pobres a terem estes gastado acima de suas possibilidades, e mesmo economistas mais sérios oferecem explicações para a derrocada europeia que omitem sua causa principal.

19. Essa causa é a depressão econômica mundial, resultante do colapso financeiro armado pela finança oligárquica centrada em Nova York e Londres. Ele eclodiu em 2007, iniciando a depressão que se desenha como a mais profunda e longa da História, se não for interrompida pela terceira guerra mundial, planejada pelo complexo financeiro-militar dos EUA.

20. Martin Feldstein, professor de Harvard, aponta diferenças institucionais e nas políticas monetária e fiscal entre os EUA e a UE. Ele e muitos, como Delfim Neto, atribuem grande importância à taxa de câmbio. Argumentam que os europeus em crise não têm como desvalorizar a moeda para se tornarem mais competitivos, uma vez que adoptaram o euro.

21. Robert Solow, prêmio Nobel, salienta que a UE transfere recursos de pequena monta aos membros menos avançados, pois o orçamento unificado da UE equivale a só 1% de seu PIB. Já nos EUA o governo federal fez vultosas transferências de recursos aos Estados e para regiões críticas.

22. Ainda assim, Itália, Espanha, Grécia, Portugal suportaram a situação até surgir a depressão mundial. Tendo exportações de menor conteúdo tecnológico que Alemanha, Holanda, França, e dependendo do turismo, foram duramente atingidos até pela queda da produção e do emprego nos países ditos ricos, inclusive extra-continentais, como EUA e Japão.

23. A depressão, por sua vez, adveio das bandalheiras financeiras geradas a partir de Wall Street e bases off-shore, sem regulamentação, atuantes no esquema da City de Londres, desembocando no colapso financeiro que eclodiu em 2007 e se direciona para novo estágio, mais destrutivo.

24. Os europeus envolveram-se na onda dos derivativos, quando bancos suíços e alemães adquiriram alguns bancos de investimento de Wall Street. Mesmo assim, os bancos dos EUA estão tão ou mais encalacrados que os europeus nos títulos podres resultantes da abusiva criação dos derivativos.

25. Além disso, Grécia, Espanha, Itália e outros foram enrolados pela engenharia financeira de Wall Street, Goldman Sachs à frente, que lesou investidores, camuflando os riscos, além de proporcionar créditos àqueles países, ao mesmo tempo em que fazia hedge, jogando contra seus devedores, com o resultado de elevar os juros das dívidas.

26. O assaltante está tendo por prémio ficar com a casa do assaltado. Mas, antes da ocupação dos governos pelos bancos, agora ostensiva, as pretensas democracias ocidentais já não tinham autonomia, mesmo com parlamentos eleitos escolhendo o primeiro-ministro.

27. Como os principais partidos políticos são controlados pela oligarquia financeira – na Europa, nos EUA etc – e se diferenciam apenas por ideologias pró-forma, acomodáveis a qualquer prática, pode-se dizer que a escolha eleitoral se limita à marca do azeite com o qual os eleitores serão fritados.

28. O "acordo" agora imposto à Europa surge como culminação de uma guerra financeira que completa o trabalho realizado nas duas primeiras Guerras Mundiais. Estas destruíram a Alemanha e a França como grandes potências. O império anglo-americano só não conseguira retirar esse "status" da Rússia, mas logrou-o, ao final da Guerra Fria (1989), embora a Rússia procure agora recuperá-lo.

29. Para que a Europa não afunde, terá de tomar rumo radicalmente diferente daquele em que foi colocada e no qual segue em aceleração impulsionada pelo "acordo" a ser celebrado, a pretexto de salvar a moeda única.

30. O General De Gaulle, nos anos 60, insurgiu-se contra o privilégio dos EUA, de cobrir seus enormes déficits externos, simplesmente emitindo dólares, e exigiu a conversão para o ouro das reservas da França. Profeticamente advertiu que a entrada da Inglaterra na UE seria uma operação "cavalo de Troia".

31. Hoje o dólar continua sendo sustentado pela condição de divisa internacional, instituída em 1944 (acordos de Bretton Woods), e mais ainda pelo poder militar. Os EUA forçam, por exemplo, que seja liquidado em dólares o petróleo comerciado entre terceiros países.

32. Percebe-se o propósito de desviar para a Europa o foco da crise econômica e financeira, que deveria estar nos EUA e do Reino Unido. Ele foi posto na Eurolândia, através de jogadas dos bancos de Wall Street com suas subsidiárias baseadas no grande paraíso fiscal que é a City de Londres.

33. Os mercados financeiros parecem teatro do absurdo. Se não, como explicar que os títulos de longo prazo norte-americanos paguem juros de menos de 2% a.a., enquanto os da Itália, de dois anos de prazo, subiram para 8% a.a.? E como explicar que a cotação do risco de crédito da Alemanha e da França esteja sendo rebaixada, enquanto isso não se dá com os títulos norte-americanos?

34. Deveria ser o contrário, pois: 1) as emissões de dólares em moeda e em títulos públicos são muito maiores que as de euros; 2) a dívida pública dos EUA atinge 120% do PIB (muito mais que os países da Zona Euro), e seria muitíssimo maior sem as enormes compras de títulos do Tesouro dos EUA pelo FED e as emissões desbragadas do FED; 3) o déficit orçamentário dos EUA supera 10% do PIB, enquanto a média europeia é 4%. 4) o déficit nas transações com o exterior dos EUA, em 2010, correspondeu a 3,9% do PIB, enquanto a Alemanha teve superávit de 5,7% do PIB, e os déficits da França e da Itália foram 2% e 3% do PIB.

35. Não bastasse, os grandes bancos americanos têm vultosas carteiras de títulos podres (sobretudo derivativos), mesmo depois de grande parte deles ter sido comprada pelo FED e por agências do governo dos EUA, em operações caracterizadas por grau incrível de corrupção.

36. Como aponta o Prof. Michael Hudson, um quarto dos imóveis nos EUA vale menos que suas hipotecas. Cidades e Estados estão em insolvência, grandes companhias falindo, fundos de pensão com pagamentos atrasados.

37. A economia britânica também cambaleia, mas os títulos governamentais pagam juros de só 2% a.a., enquanto os membros da Zona Euro enfrentam juros acima de 7% a.a, porque não têm a opção "pública" de criar dinheiro.

38. O artigo 123 do Tratado de Lisboa proíbe o BCE fazer o que os bancos centrais devem fazer: criar dinheiro para financiar déficits do orçamento público e rolar as dívidas do governo. Também não o pode o banco central alemão, por força da Constituição da Alemanha (país ocupado).

39. Conclui Hudson: "se o euro quebrar será porque os governos da UE pagam juros aos banqueiros, em vez de se financiarem através de seus próprios bancos centrais". Dois poderes caracterizam o Estado-Nação: criar dinheiro e governar a política fiscal. O primeiro já não existia para os europeus, e o segundo está sendo cassado com o presente "acordo".

A grande loja irregular

"Parece que um tal Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD e membro da Comissão Parlamentar que investiga as irregularidades no Serviço de Informações Estratégicas de Defesa, pertence a uma loja maçónica chamada Mozart (em honra do músico - Cosi Fan Tutte, não é? - ou dos bombons?). Parece que um tal Jorge Silva Carvalho, ex-director do SIED e alvo da investigação, pertence igualmente à referida loja, metida numa história de tráfico de segredos de Estado. Parece que o PSD, na versão do PS, ou que o PS, na versão do PSD, censuraram as referências à maçonaria num relatório sobre a matéria. Parece, por fim, que o aborrecido episódio suscitou um daqueles escândalos fátuos com que a pátria sazonalmente se entretém.

Eu também me confesso escandalizado, pelo menos com o facto de o público ainda se surpreender com duas ou três evidências, a saber: 1) a classe política nacional é, salvo escassas excepções, um entreposto de maçons ou folclóricos com propósitos no fundo similares (ver Opus Dei, sff); 2) à semelhança de qualquer sociedade relativamente secreta, a maçonaria é uma seita destinada a satisfazer interesses de facção, incluindo a obtenção de protecção e privilégio para os respectivos devotos; 3) os favores em questão, transaccionados em cauteloso recato, naturalmente constituem ou implicam a prática de irregularidades e puras ilicitudes.

Pouco democrático? Decerto. Mas a essência da coisa é essa. Ou se interditam as associações do género ou se aceitam as manhas que lhes estão na natureza. Eu opto pela tolerância. É verdade que os maçons violam jovialmente os princípios da ascensão pelo mérito e saltitam nas carreiras à custa da "fraternidade", cá fora conhecida como "cunha". Porém, as injustiças cometidas não escapam ao castigo devido, quiçá divino. De que adianta um indivíduo conseguir emprego, influência ou o que toma por "prestígio" se tamanhas maravilhas obrigam a sujeição a rituais grotescos? Prestígio nenhum resiste aos aventais, aos cordões, aos bodes e à pompa balofa que criaturas adultas passeiam com inconsciência. Cada benefício implica uma humilhação muito maior. Não admira que a seita favoreça a ocultação.

As milícias do velho Oeste americano herdaram a tradição inglesa de ridicularizar o próximo cobrindo-o de alcatrão, primeiro, e de penas, em seguida. Os maçons ridicularizam-se sozinhos e, ridículo supremo, nem sempre se apercebem. As últimas notícias dão conta de uma debandada de integrantes da loja Mozart por causa das penúltimas notícias. Talvez se mudem para a loja Haydn, talvez para a Mon Chéri. Do embaraçoso avental é que ninguém livra os pedreiros-livres
."

Alberto Gonçalves

quinta-feira, janeiro 12, 2012

'The Show Must Go On'

Petróleo


"A APETRO, Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas, afirma que, caso o petróleo atinja os 200 dólares por barril, o litro de combustível em Portugal pode passar a custar 2,13 euros por litro, enquanto o gasóleo valeria 2,07 euros (mais aqui)"
Esta rapaziada não sabe fazer contas. Se estando o petróleo abaixo dos 120 Dólares custa quase 1,6 Euros, quando chegar aos 200 Dólares custará perto de 5 Euros.

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Exportar...


"O ministro da Economia lamentou o facto de Portugal “exportar pouco” e “não ter interiorizado ainda a necessidade de exportar (mais aqui)”.
Agora que a crise ameaça reduzir a procura mundial??? Adiante. Na Alemanha, a fomentar o crescimento, tem estado o consumo interno, que no terceiro trimestre subiu 0,5 por cento, e a confiança das famílias, que continua estável (mais aqui)". Em Portugal, o Banco de Portugal prevê recessão sem limite (mais aqui)..."

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quarta-feira, janeiro 11, 2012

Ticket To Ride

O julgamento de um traidor

"O vilão nacional da semana é, a grande distância da concorrência, Alexandre Soares dos Santos, principal accionista da Jerónimo Martins e, por inerência, dono do Pingo Doce. Como transferiu a sede social do grupo para a subsidiária holandesa, o sr. Soares dos Santos tornou-se o alvo da oposição política e o protagonista das esclarecidíssimas "redes sociais", que tipicamente fervem de raiva e apelam a boicotes aos supermercados em questão.

Com toda a razão, diga-se. Ainda que o IRC dos supermercados caseiros continue a ser pago cá, é inadmissível que um empresário procure financiamento mais fácil e mais barato, uma carga fiscal menos pesada e imprevisível e, afinal, o aumento do lucro e a prosperidade da empresa. Os verdadeiros patriotas são os que desprezam a capacidade de se financiar, rezam todas as noites a pedir subida de impostos, sonham com duplas, triplas e quádruplas tributações e fazem de tudo para alcançar a falência. O empresário falido é o único empresário bom. Quanto ao Estado, virtuoso por definição, basta-lhe existir para merecer a nossa devoção.

Com a excepção do cidadão comum, a quem não fica mal evitar a "facturinha" e reclamar do fisco, não há maior traição do que privar o Estado da parte que é sua por misterioso direito. Se começamos a admitir que os rendimentos pertencem aos sujeitos que os criam, o que sobraria para a redistribuição social, a maneira técnica e bonitinha de designar a propaganda e a alegria das clientelas? Houvesse justiça e o sr. Soares dos Santos continuaria por exemplo a financiar o ócio da exacta AR que no próximo dia 13 discutirá a forma de impedir o sr. Soares dos Santos de cortar no financiamento do ócio da AR. O PCP e o Bloco já apresentaram propostas para proibir a "fuga" de capitais, proibir o alívio proporcionado pelas offshores, proibir a solvência das empresas em geral e, de caminho, proibir a Holanda
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Alberto Gonçalves

O declínio e a queda do euro

"Os grandes impérios raramente sucumbem a ataques externos. No entanto, frequentemente desintegram-se devido ao peso das dissidências internas. Esta vulnerabilidade parece aplicar-se também à Zona Euro.

Os principais indicadores macroeconómicos não sugerem nenhum problema para a Zona Euro, como um todo. Até pelo contrário, já que a região tem uma conta corrente equilibrada, o que significa que tem recursos suficientes para resolver os seus próprios problemas de financiamento público. Aliás, neste aspecto, a Zona Euro destaca-se positivamente quando comparada com outras grandes potências cambiais, tais como os Estados Unidos da América ou, mais próximo, o Reino Unido, que têm défices externos e que, por isso, dependem de entradas continuadas de capital.

Da mesma forma, em termos de política orçamental, a média da Zona Euro é comparavelmente forte. Tem um défice orçamental bastante mais baixo do que os EUA (4% do PIB para a Zona Euro, que compara com quase 10% do PIB norte-americano).

A depreciação da moeda é outro sinal da fraqueza que costuma anteceder o declínio e a queda. Mas, novamente, este não é o caso da Zona Euro, onde a taxa de inflação continua reduzida – e abaixo da inflação nos EUA e no Reino Unido. Além do mais, não há nenhum perigo significativo de uma subida da inflação. Os pedidos para aumentos salariais continuam tímidos e o Banco Central Europeu (BCE) irá enfrentar uma baixa pressão para financiar os défices, dado que estão em níveis reduzidos e estima-se que venham a desaparecer nos próximos anos. O refinanciamento da dívida soberana não é inflacionário, pois não cria novo poder de compra. O BCE é apenas uma "contraparte central" entre os aforradores alemães adversos ao risco e o governo italiano.

Muito se tem escrito sobre o lento crescimento da Europa, mas os registos não são, na realidade, assim tão maus. Na última década, o crescimento per capita nos EUA e na Zona Euro foi quase exactamente o mesmo.

Dada esta força relativa dos fundamentais da Zona Euro, é demasiado cedo para eliminar o euro. Mas a crise tem ido de mal a pior, pois os políticos europeus parecem indubitavelmente capazes de tornar toda a situação numa enorme confusão.

O problema é a distribuição interna das poupanças e dos investimentos financeiros: embora a Zona Euro tenha poupanças suficientes para financiar todos os défices, alguns países enfrentam problemas porque as poupanças deixaram de atravessar fronteiras. Há um excesso de poupanças a norte dos Alpes. Mas os aforradores do norte europeu não querem financiar as nações do sul, como Itália, Espanha e Grécia.

É por isso que os prémios de risco da dívida italiana e de outros países do sul da Europa permanecem entre 450 e 500 pontos base e é por isso que, ao mesmo tempo, o Governo alemão consegue leiloar títulos de dívida a curto prazo a taxas próximas de zero. A relutância dos aforradores do norte europeu em investir na periferia do euro é a raiz do problema.

Portanto, esta "greve dos investidores" do norte europeu vai acabar?

A posição da Alemanha parece ser a de que os mercados vão financiar a Itália a taxas aceitáveis se, e quando, as políticas forem credíveis. Se os custos de financiamento de Itália continuarem teimosamente elevados, a única solução é esforçar-se mais.

Já a posição de Itália pode caracterizar-se da seguinte forma: "Estamos a esforçarmo-nos o máximo que é humanamente possível para eliminar o nosso défice, mas temos um problema de refinanciamento da dívida".

Claro que o governo alemão pode resolver o problema se estiver disposto a garantir toda a dívida italiana, espanhola, entre outras. Mas, compreensivelmente, o governo germânico está relutante em assumir um risco tão grande – embora esteja também a assumir um grande risco ao não garantir a dívida soberana dos países do sul europeu.

O BCE também pode resolver o problema ao actuar como credor de último recurso para toda a dívida evitada pelos mercados financeiros. Mas, também neste caso, está compreensivelmente relutante em assumir o risco – e é este impasse que tem enervado os mercados e que coloca em perigo a vitalidade do euro.

Gerir o excesso de dívida sempre foi um dos mais duros desafios para os políticos. Na antiguidade, os conflitos entre credores e devedores tornavam-se, muitas vezes, violentos, dado que a alternativa ao serviço da dívida era a escravidão. Na Europa da actualidade, o conflito entre credores e devedores assume uma forma mais civilizada, que apenas se revela nas resoluções do Conselho Europeu e nos debates internos do BCE.

Mas o conflito continua a não ter solução. Se, na sua sequência, o euro cair, não vai ser porque era impossível alcançar uma solução, mas sim porque os políticos não fizeram tudo o que era necessário.

A sobrevivência a longo prazo do euro exige uma combinação correcta do ajustamento por parte dos devedores, perdão da dívida quando esse ajustamento já não for suficiente e a possibilidade de financiamento transitório para convencer os nervosos mercados financeiros de que os devedores terão o tempo necessário para que o ajustamento resulte. Os recursos estão lá. A Europa precisa da vontade política para os utilizar
."

Daniel Gros

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