A hora da verdade chega no Verão
No fim da Primavera, ainda estaremos todos bastante deprimidos com falências, despedimentos e queda da produção. Mas será nessa altura, em meados de Maio, quando ocorrer o quarto exame da troika, que vamos perceber se há luz ao fundo do túnel construído por estas políticas de ajustamento. Quanto à luz propriamente dita, a desejada recuperação, só a vamos ver e sentir efectivamente algures em meados de 2013.
A antecipação que se acabou de fazer descreve a trajectória de sucesso do programa de ajustamento económico e financeiro. Se tudo correr conforme planeado, se as famílias, as empresas e o Estado reagirem conforme se espera, se mais nenhuma tempestade se formar no horizonte europeu, o fim da Primavera anunciará o fim da terapia recessiva. E no Verão poderemos começar a dizer que o pior já passou e poderemos começar a ouvir os economistas a afirmar que estamos a iniciar a recuperação.
O Governo, tal como a troika, considera que estamos neste momento a viver a pior fase da crise, aquela em que a queda da produção é mais significativa. Tal como se pode ver nas últimas previsões da Comissão Europeia - divulgadas na semana passada - e como se percebeu pelas declarações mais ou menos públicas das autoridades portuguesas e dos credores internacionais, a actividade económica continuará a cair ao longo deste ano mas com taxas cada vez mais baixas.
Ninguém tem a certeza de que é assim que vai acontecer. A fase do ajustamento em que estamos não fechou ainda o caminho do pior cenário. Mesmo o ministro das Finanças, que neste momento perscruta os números da economia portuguesa, para encontrar neles aquilo que é menos mau, o máximo que consegue dizer é que espera que a correcção dos desequilíbrios tenha menos custos do que o previsto no programa da troika. Esta mensagem de pura esperança, transmitida por Vítor Gaspar no texto que escreveu na semana passada na revista "Visão", mostra que ainda tudo pode acontecer. E revela, mais uma vez, que até o discurso político, de que depende também a retoma, tem de ser feito a partir da Praça do Comércio.
As previsões - os economistas sabem-no bem - fazem-se da mesma forma que se conduziria um carro a olhar para o vidro de trás. Tudo corre bem se estivermos a conduzir numa recta, o acidente é certo se a estrada tiver uma curva. Como se não bastasse a quantidade e o fechado ângulo das muitas curvas que temos vivido desde que esta crise se iniciou nos Estados Unidos, Portugal está a ser alvo de políticas nunca experimentadas.
Reduzir a dívida e reequilibrar as contas externas, no prazo de dois anos, sem usar a taxa de câmbio e sem poder usar a política orçamental, limitam a terapia à redução do poder de compra e dos custos de produção, a frio, sem o apoio narcotizante da desvalorização que no passado disfarçou mais do que curou as fragilidades da economia portuguesa. Um dia, este tipo de ajustamento teria de ser feito, sem disfarces. Lamentavelmente, está a ser concretizado na pior conjuntura. No Verão saberemos se, finalmente, a economia se regenerou de problemas que se foram acumulando durante mais de três décadas."
Helena Garrido