quarta-feira, junho 30, 2010

A já requentada comichão de inquérito

"(Onde se volta à Comissão Parlamentar de Inquérito(CPI) com incumbência de se pronunciar sobre a veracidade das declarações de José Sócrates à Assembleia da República relativas ao negócio de compra da TVI pela Portugal Telecom, nas quais negou qualquer conhecimento pessoal sobre o mesmo, e se sustenta, também, que, conforme as coisas se desenrolaram, aquele ajuntamento de deputados não passou de uma comichão para o visado PM).


Como já dizia Locke, o Poder Legislativo é o órgão supremo do Estado pelo que, sendo a base do Governo o consentimento dos cidadãos, para além da competência para legislar, lhe é conferido poder de fiscalizar os actos do Executivo. O método acabou por se configurar com os moldes das CPI. Com o evoluir do tempo, a fiscalização pelos parlamentos ganhou importância e a função legislativa propriamente dita perdeu-a, até porque o domínio do Governo pelas forças políticas coincide, normalmente, com a maioria parlamentar do momento e o contrário. Os poderes, muito amplos das CPI, definiram-se como "jurisdicionais", isto é, incorporando os poderes do 3º poder. Assim, o Executivo, na pendência destas Comissões, fica comprimido entre a função fiscalizadora do Legislativo e o poder definidor do Judicial. Desconfortável para os destinatários mas um sossego para os cidadãos, o Povo, onde, afinal, reside toda a legitimidade dos vários poderes.

A que ocorreu neste ano de 2010, insólita para os hábitos mornos nacionais, é a primeira do género, logo altamente inovadora, mas também de finalização claramente previsível. Funcionam não só os brandos costumes como também a conjuntura político-económica, a exigir que Sócrates vá perdurando até se consumir no lume brando das judiarias (1) que insiste em praticar e da diminuição da serventia ao serviço do eixo franco - alemão (aqui não tenho nada a opor, eu até prefiro o chamado "governo económico" europeu). E, então, o final foi inócuo, de acordo com os papéis atribuídos ao relator do Bloco, João Semedo, ao PSD (menos Pacheco Pereira mais o presidente Mota Amaral), PS/Ricardo "Cuidado com os gravadores" Rodrigues(2), e, com menor relevo, aos outros actores partidários. Em suma: um bocejo para o Povo (leia-se, o Telespectador soberano) e um simples irritante para Sócrates, ele também previsível na bojarda, mas não na sua ridícula intensidade. Uma vista de olhos:
Semedo, esse, esteve adequadamente igual a si próprio, um estimável político, de verbo elegante e raciocínio lógico, afastando-se dos reflexos condicionados ideológicos. Em vista do que ficou residualmente admissível como provado, era difícil outra conclusão, nas apertadas malhas da tipo de prova jurisdicional exigida, onde presunções lógicas cabem a custo. Além do mais, concluir de forma ajuizada, no circunstancialismo político em que ninguém quer derrubar o PM, revela um prudente e benquisto pragmatismo.

Já Mota Amaral, contrariando o parecer implícito do tribunal que fez o envio das escutas tendo o dever de salvaguardar a legalidade, deixa dúvidas na motivação, se em conluio com Passos Coelho, se convenientemente em protecção de Sócrates, no papel de corifeu do regime e do "status quo". Não ficou bem no vídeo da independência, mas permitiu a saída mais conveniente no momento, dentro do ponto de vista acima configurado.

Já Pacheco Pereira fez, de forma "abrupta", o seu número de rigor, em consonância com a ideia que as pessoas dele fazem: independente, credível, com tendência para partir Louçã, digo, louça (sem til). Quando no Outono, graças ao terminus do período do Segredo de Justiça, se souber do conteúdo das famosas escutas - que só podem incriminar Sócrates, ou não houvesse factos conhecidos de suporte e a disponibilidade de presunções naturais irrespondíveis - Pacheco vai naturalmente obter os créditos resultantes da sua extensa e provavelmente acertada conclusão. Então ele, além do mais, não escutou as escutas e as suas conclusões não vão ao encontro da decisão do Tribunal do envio das gravações?

No PS, pergunto se não havia melhor que Rodrigues para encarnar o papel de defensor do PM? Bastava tão só uma formulação ligeiramente diferente das conclusões para tornar aceitável a obrigatória posição do partido. Mas Ricardo, mesmo para os que se ruborizam com a triste figura dos outros, é um permanente embaraço, e não só quando surripia bens alheios invocando auto-defesa que as imagens gravadas desmentem.

No seu melhor esteve Sócrates reclamando pedido de desculpas da Comissão! Não fosse ele quem é, e eu retiraria a convicção de que as escuta não o comprometem ou, pelo menos, que o Segredo de Justiça não iria ser levantado a breve prazo. O grande princípio da " Guerra dos Sexos" e dos advogados de defesa, a saber, "Negue sempre tudo" foi posto em hipérbole com o sobrenatural pedido de desculpas pelos agravos. Mas, nestas coisas, não somos todos admiradores do engenheiro?


(1) Substantivo politicamente incorrecto, mas que se lixe.
(2) Este é o partido de Mário Soares, Almeida Santos, Vera Jardim, …?
"

Fernando Braga de Matos

Um balão-para eu brincar

"É meia-noite da noite de S. João e escrevo com dificuldade. Nas imediações de minha casa acontecem duas celebrações da data (duas!). De uma, pelos vistos mais modesta nos meios, sai um ruído abafado semelhante ao de uma morsa com cio. A outra projecta para um raio de cinco quilómetros a obra completa de Quim Barreiros, e juro que gostaria de conhecer o colega de profissão que já conseguiu amanhar umas dúzias de linhas enquanto ouvia fascinantes narrativas que envolvem o carro da vizinha e os peitos da cabritinha, ou vice-versa, não sei. Ainda por cima, a cada vinte minutos ambas as festas rebentam num foguetório que os meus cães levam a mal e a que respondem com alvoroço. Em suma, em meu redor implantou-se o inferno.

Estranhamente, não me apetece lamentá-lo. Estranhamente, apetece-me recordar o tempo remoto em que também eu participei dessa folia cuja única regra é a ausência de regras. Aniversários, casamentos, passagens de ano e carnavais cedem aos respectivos protocolos e, em última (ou primeira) instância, tornam-se insuportáveis. Não me lembro de o S. João maçar os que, à revelia de poderes tácitos ou oficiais, enchiam as ruas do Porto e se entregavam àquele caos gentil. Aos catorze, quinze, dezasseis anos, o caos serviu de pretexto para as primeiras saídas livres e intermináveis, ou, o que ia dar ao mesmo, terminadas ao sol da manhã seguinte, às vezes na praia. É uma memória feliz, se a palavra cabe aqui, mas uma memória.

Há muito que não frequento o S. João. Há muito que nem me ocorria a existência do S. João. No entanto, o S. João continuou sem mim, e as cantorias e os foguetes desta noite são uma espécie de demonstração prática de como será o mundo depois de eu já não estar nele. Suportar o barulho que entra pela janela é igual a ler o meu obituário. E não é tão desagradável quanto parece. Apenas não me deixa escrever. Excepto isto
."

Alberto Gonçalves

terça-feira, junho 29, 2010

O homem que confundiu a mulher com um cinzeiro

"Notei com satisfação que Macário Correia voltou momentaneamente à ribalta. A cada século acontece uma semana tão parca em assuntos que o dr. Macário se torna o assunto. Para aí há vinte anos, o homem celebrizou-se por roubar uma frase velhinha e comparar o beijo de uma fumadora à lambidela de um cinzeiro, e embora pouquíssimos portugueses tivessem experimentado ambos os exercícios todos resolveram aplaudir ou insultar o jovem que, à época, era uma esperança da social-democracia.

Entretanto a esperança amadureceu e rumou à província, onde se perdeu no anonimato até regressar esta semana, pelos vistos presidente da Câmara Municipal de Faro e com uma directiva que, a pretexto da produtividade, proíbe os respectivos funcionários de interromperem o expediente para fins ociosos.

Como no confronto Senhoras versus Cinzeiros, a polémica instalou-se e logo se convocaram claques dedicadas ao apoio e ao apupo do dr. Macário. As primeiras esperam que o dr. Macário sirva de exemplo, sob o argumento de que os funcionários municipais não podem prejudicar o trabalho em favor do cafezinho, do cigarrinho ou da conversinha. As segundas acham o dr. Macário um tiranete que retira aos funcionários o essencial direito à pausa no trabalho.

Curiosamente, não há uma terceira via que pergunte de que trabalho falamos. Que eu saiba, as autarquias não produzem sapatos ou microprocessadores: produzem regulamentos, que em certos casos são justificáveis e na grande maioria apenas se justificam a si mesmos. Se uns noventa por cento dos assalariados autárquicos se ausentassem noventa vezes por dia para o café, a única consequência dramática seria o aumento exponencial dos enfartes na classe. Os "utentes", bela palavra, mal dariam por ela, a não ser na medida em que a burocracia da administração local os obriga a darem. À semelhança do Estado em geral, as autarquias criam a ilusão da própria indispensabilidade, no fundo o objectivo que o dr. Macário, de dedinho apontado aos infractores do seu código pessoal, persegue há décadas.
"

Alberto Gonçalves

segunda-feira, junho 28, 2010

Este PS

"O famigerado Rui Pedro Soares, quadro do PS colocado na PT, onde subiu, meteórica e inexplicavelmente, à administração, veio agora queixar-se da proposta de relatório da comissão parlamentar de inquérito ao caso PT/TVI. «A semelhança entre este relatório e os julgamentos da Inquisição não é pura coincidência», afirmou o azougado boy socialista, revelando a consideração em que tem o Parlamento e a ignorância do que desconhece da Inquisição.

Rui Pedro Soares, relembre-se, é um operacional partidário ao serviço da estratégia de controlo e manipulação delineada em S. Bento, como fica amplamente comprovado na investigação judicial que corre em Aveiro. E desempenhou um papel central, por vezes até com um comprometedor excesso de zelo, na tentativa de aquisição da TVI, por forma a neutralizar a sua linha editorial, incómoda para o Governo, e a silenciar as vozes mais críticas e inconvenientes para o poder socratista, como a de Manuela Moura Guedes – tudo isto está, também, sobejamente documentado na investigação do processo Face Oculta.

O jovem Soares, recorde-se ainda, mudou radicalmente a sua atitude face às audições parlamentares. Primeiro, apareceu muito ligeiro e falador, com a auto-suficiência que o seu alto posto na PT ilusoriamente lhe dava, na Comissão de Ética, a prestar abundantes declarações. Com as quais se comprometeu ainda mais. Depois, já sentindo o chão a fugir-lhe debaixo dos pés, foi à Comissão de Inquérito anunciar que se remetia ao silêncio. Ficou tudo mais claro...

Mas o que, pelos vistos, começa a fazer escola neste PS de Sócrates é a táctica de tentar passar por vítima inocente depois de ter causado o mal. O deputado Ricardo Rodrigues lamuriou-se da «insuportável violência psicológica» das perguntas dos jornalistas para justificar o furto, à sorrelfa, de dois gravadores. Rui Pedro Soares diz-se torturado por um «julgamento da Inquisição» ao ser confrontado com o seu passado recente. Rodrigues e Soares são o espelho da desqualificação a que chegou este PS. Estão bem um para o outro. Sócrates que o diga. Deposita em ambos uma absoluta confiança
."

JAL

Uma nova forma de fazer política

"Os apoiantes de Pedro Passos Coelho sempre juraram que o homem representava uma nova forma de fazer política. Não duvido. O dr. Passos Coelho é o primeiro líder da oposição que, em última instância, não se opõe a coisa nenhuma. Cada medida absurda do Governo é recebida pelo actual PSD a cinco tempos: 1) Recusa (o PSD acha a medida inadmissível); 2) Negociação (o PSD pretende obrigar o Governo a discutir a medida e forçá-lo a revê-la de acordo com as suas exigências); 3) Confusão (o PSD lança para a imprensa um nevoeiro informativo acerca das suas pretensões e do desenvolvimento da discussão que mantém com o Governo); 4) Aceitação (o PSD proclama que o interesse nacional o levou a concordar com a medida inadmissível do Governo); 5) Vergonha (o PSD pede desculpa ao País).

Numa democracia menos exótica, esta adaptação condensada dos 12 passos dos Alcoólicos Anónimos seria despachada logo que possível. Em Portugal, é um êxito. A julgar pelas sucessivas sondagens, as intenções de voto no PSD crescem em progressão geométrica. Enquanto isso, os socialistas, autores das exactas políticas que o PSD subscreve, estão em queda livre. Imagino que, para a semana, o eleitorado continuará a punir o PS por causa das Scut e dos chips nas matrículas e a premiar o PSD que, depois das típicas cambalhotas, acabará em sintonia com o Governo na questão (ou questões) das Scut e dos chips nas matrículas. Após cinco anos em sentido inverso, o povo decidiu que o eng. Sócrates é o responsável por todas as calamidades que se abatem sobre a nação. O dr. Passos Coelho, que há meses vem legitimando as calamidades, é um herói popular.

Explicações? Não mas peçam. Talvez as desculpas do dr. Passos Coelho tenham tocado o coração das massas oprimidas. Talvez as massas andem tão cansadas do eng. Sócrates que o trocariam pelo Pato Donald ou por uma torradeira eléctrica. Talvez as massas sejam definitivamente malucas. Certo é que as massas querem o dr. Passos Coelho a primeiro-ministro, e só não vêem o desejo cumprido porque, pelos vistos, a nova forma de fazer política também implica evitar o poder a qualquer custo. A nova forma de fazer política ainda será política ou já entra na pura fraude?
"

Alberto Gonçalves

domingo, junho 27, 2010

Conspirata contra o Governo

"O esgotamento político do primeiro-ministro é um dado adquirido para muitos sectores da vida nacional. A começar nos homens de negócios e a acabar no interior do próprio Partido Socialista. Mas a grave crise económica tem levado muita gente a considerar que seria de uma grande irresponsabilidade derrubar este Governo e marcar eleições antecipadas. Vetado este caminho, alguns conspiradores começaram a trabalhar noutro cenário.

O Presidente da República poderia demitir José Sócrates se houvesse uma personalidade no PS que aceitasse formar um novo Executivo que contaria com o apoio imediato do PSD de Pedro Passos Coelho. O plano está traçado e só falta encontrar no PS quem queira desempenhar esse papel. A tarefa não é fácil, mas andam a circular nos bastidores dois nomes que poderiam atenuar as ondas de choque no interior dos socialistas. Um é o habitual António Vitorino e outro Jaime Gama. Ambos têm prestígio suficiente para substituir Sócrates e garantir a formação de um Executivo com uma ampla maioria de personalidades independentes, que teria o apoio parlamentar do PSD. Cavaco está à espera de luz verde para actuar
."

António Ribeiro Ferreira

sábado, junho 26, 2010

O Inferno socialista

"O senhor engenheiro relativo deve estar a mandar para o Inferno os seus camaradas engenheiros Guterres e Cravinho pelo sarilho em que o meteram com a famigerada invenção das Scut.

A ilusão de auto--estradas de borla, do género passe agora e pague depois, a destruição do princípio do pagador-utilizador, a esperteza saloia de fazer obras sem dinheiro, está a sair muito cara aos socialistas. Mas como o mal está feito e muito bem feito, o melhor que o PS tem a fazer é ir a reboque do PSD e acabar de uma vez por todas com esta enorme aldrabice. É evidente que as populações que foram enganadas por Guterres e companhia podem revoltar-se a sério. Em todo o País. Antes assim. Pelo menos é uma revolta nacional, democráticae socialista. Como mandaa sagrada Constituição
."

António Ribeiro Ferreira

Os bancos centrais insistem em imprimir dinheiro

"‘Festina lente’ ou “apressa-te devagar”. Eis o conselho que herdámos dos romanos e que os políticos ocidentais deviam, nos tempos que correm, levar a sério.

Confrontados com elevados défices orçamentais, muitos deles concluíram que é preciso avançar com o aperto orçamental o mais rapidamente possível, na esperança de que este venha a ter um efeito expansionista. Que probabilidades têm de estar certos? Poucas. Na verdade, há alternativas mais aliciantes sobre a mesa, o problema é serem algo heterodoxas. Infelizmente, porém, são muitas as pessoas "sensatas" que preferem recessões ortodoxas a retomas heterodoxas.

Porque haveria um forte aperto orçamental estrutural de estimular a retoma? Num artigo da autoria de Alberto Alesina e Silvia Ardagna, professores em Harvard, lê-se que a existência de défices menos elevados pode reforçar a confiança dos consumidores e investidores, e contribuir para o aumento do consumo e para a redução dos prémios de risco das taxas de juro*. Entretanto, do lado da oferta, o aperto orçamental pode gerar maior oferta de emprego, mais capital ou empreendedorismo.

Nesse artigo lê-se também que os ajustamentos orçamentais "assentes na redução da despesa e não no aumento de impostos têm mais probabilidades de reduzir os défices e os rácios dívida/PIB que aqueles que têm por base a subida de impostos. Os ajustamentos do lado da despesa geram, tendencialmente, menos recessões". Esta linha de pensamento veio reforçar a determinação do novo ministro das Finanças britânico, George Osborne.

Mas será persuasivo? Não. Os autores coligiram dados de diferentes membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) entre 1970 e 2007, mas o impacto do aperto orçamental vai depender em larga medida das circunstâncias.

É importante que à redução do défice orçamental se contraponham mudanças nos défices privado e externo. Se o objectivo for uma contracção orçamental expansionista, as exportações líquidas e a despesa privada terão de aumentar ou, em alternativa, a poupança privada terá que diminuir.

Ou seja, o efeito da contracção orçamental será muito diferente quando ocorrer nalguns países pequenos e não em muitos países grandes simultaneamente; quando o sector financeiro estiver de boa saúde em vez de debilitado; quando o sector privado sanear as dívidas por oposição a uma alavancagem elevada; quando as taxas de juro forem altas e não próximas de zero; quando a procura externa for flutuante em vez de fraca; e quando as taxas de câmbio reais desvalorizarem acentuadamente, ao invés de se manterem fixas.

Em suma, quando, como agora, as economias afectadas pela debilidade do sector financeiro correspondem a metade da economia mundial - perto de 60%, incluindo a ainda frágil economia japonesa; quando a maior e mais dinâmica economia do mundo, a China, é mercantilista; quando as taxas de juro rondam zero e quando se reforçam as restrições à concessão de crédito a empresas e famílias, a ideia de que um aperto orçamental precoce terá efeitos fortemente expansionistas é, sem dúvida, temerária. Espero que tudo isto venha a concretizar-se, mas tenho poucos motivos para acreditar nisso.

Outro estudo, da lavra do Comité americano para um Orçamento Federal Responsável, centrou-se na análise do Canadá, Dinamarca, Finlândia, Irlanda e Suécia. O aspecto que mais se destaca é a importância da procura externa e, nalguns casos, as fortes depreciações na taxa de câmbio. Serão estes casos de sucesso relevantes para os EUA e para a União Europeia (UE) nos dias que correm? Duvido muito.

Em alternativa, podemos tentar identificar uma situação idêntica à que vivemos hoje. Ora, a analogia mais próxima é a década de 1930, quer na proporção da economia mundial afectada pela crise, quer ao nível das taxas de juro baixas e do contexto desinflacionista (ou, naquele caso, deflacionista). Um estudo publicado no ano passado concluiu que o estímulo orçamental foi eficiente quando testado**, mas naquele tempo, o aperto orçamental teria sido - e foi de facto - contraccionista.

Nas actuais circunstâncias, a ideia de que um aperto orçamental concertado nos países desenvolvidos teria um efeito expansionista é, no melhor dos casos, optimista. Nesta fase impõe-se perguntar qual é a alternativa. A manterem-se os défices elevados, os mercados vão ficar com medo, as taxas de juro vão disparar e a dinâmica da dívida vai ser duramente afectada.

Tenho duas respostas para isto. A primeira formulei-a na minha crónica da semana passada: o ciclo de desalavancagem tem gerado elevados excedentes financeiros no sector privado em todos os países desenvolvidos. Se não estiverem previstas mudanças nos excedentes externos agregados - e nos correspondentes défices nas economias emergentes -, então, teremos de investi-los em dívida pública. É por isso que a rentabilidade das obrigações dos governos mais seguros se mantém tão baixa.

A segunda parte do seguinte princípio: se os governos forem obrigados a gerir défices para sustentarem a procura quando o sector privado está mais frágil, terão sempre a possibilidade de pedir dinheiro emprestado aos bancos centrais. Por outras palavras, trata-se de "imprimir dinheiro", de implementar uma política insensatamente radical recomendada por um radical insensato, Milton Friedman, em 1948. Na sua opinião, o governo podia expandir a moeda em circulação nos períodos de recessão e contraí-la nos subsequentes períodos de crescimento. Um país com ‘fiat money', isto é, sem valor intrínseco, e uma moeda flutuante poderia, assim, estabilizar a economia sem desestabilizar os mercados de crédito. O aspecto mais positivo desta proposta é não termos de definir qual das políticas - monetária ou orçamental - deve fazer o trabalho mais difícil, uma vez que são as duas faces da mesma moeda.

O argumento a favor de uma expansão monetária agressiva continua a colher apoio, ainda que com algumas diferenças de país para país, devido ao fraco crescimento da moeda em circulação e do PIB nominal. A política de "alívio quantitativo" de Friedman, como é chamada, continua a fazer sentido. Estarei aqui a defender a política económica de Robert Mugabe? Não. Como em tudo, o que importa é o contexto. Nos dias que correm, "o dinheiro é pouco para tanta oferta". Num contexto como este, a política monetária tem de ser agressiva. Quando a economia recuperar, os efeitos monetários deverão ser esbatidos através dos excedentes gerados pelo controlo da despesa a longo prazo. A curto prazo, as alterações nos requisitos de reservas podem compensar o impacto que o aumento dos depósitos de bancos comerciais no banco central teria na expansão monetária. Como a moeda em circulação é mais influenciada pela procura de crédito do que as reservas, talvez isso não seja necessário.

O senso comum diz-nos que uma contracção estrutural forte e concertada, focalizada na despesa, vai fomentar o crescimento de milhares de "flores privadas". Espero que sim, mas tenho grandes dúvidas. Os governos devem apressar-se devagar. Se todos se apressarem depressa é possível que se venham a arrepender - eles e nós - logo a seguir
."

Martin Wolf

sexta-feira, junho 25, 2010

O reich dos mujahidin

"De entre as armas que o filo-islamismo incorporou no arsenal retórico anti-israelita, a mais vergonhosa é a acusação de “neo-nazismo”.

Não só pela imoralidade implícita, que devia ser óbvia, mas porque procura reescrever a história de modo a branquear a influência decisiva do nazismo e de nazis na definição do islamismo como doutrina ideológica revolucionária e anti-ocidental. A ligação entre o islamismo e o nazismo inicia-se na II Guerra Mundial. Por sugestão de dois generais turcos em visita a Berlim, a Abwehr, a unidade de intelligence da Wehrmacht, decide criar batalhões de infantaria islâmicos. O sucesso das unidades iniciais levou à sua proliferação: estima-se que cerca de 250000 muçulmanos serviram e combateram pela Alemanha nazi. As vulgatas ideológicas da história do pós-guerra atribuem a potência destruidora do islamismo contemporâneo ao recrutamento e financiamento americano de mujahidin afegãos no combate contra a ocupação soviética. Na verdade, a quinta coluna do islamismo formou-se na Alemanha cerca de 30 anos antes, em torno da construção da mesquita de Munique, um projecto impulsionado por Gerhard von Mende, o arquitecto ideológico da cooptação de islamitas para a causa nazi, entretanto recrutado pela CIA para a guerra psicológica contra a URSS e que até ao início da década de 60 seria um elemento crucial na ligação entre a CIA e os dissidentes muçulmanos de origem soviética.

No excelente A Mosque in Munich (Boston, 2010) o jornalista Ian Johnson relata o modo como um grupo de radicais ligados à Irmandade Islâmica e liderados por Said Ramadan -o pai do ubíquo Tariq- aproveitou o financiamento ocidental para disseminar o islamismo entre os muçulmanos europeus. Um analista da CIA dos anos 50 viu com clareza o carácter revolucionário do islamismo, algo que hoje parece turvo para muitos. No perfil psicológico de Ramadan, o agente descreve-o como um "reaccionário, de tipo falangista ou fascista", uma observação facilmente aplicável a Hassan al-Banna ou a Sayyid Qutb e crucial para a compreensão do islamismo: é uma doutrina anti- tradicionalista e totalitária na submissão da vida moral a desígnios ideológicos. Parafraseando Eric Hoffer, para o islamita, a liberdade de pensamento não é só contra-revolucionária -é uma apostasia punível com a morte.

O branqueamento do islamismo conduz à relativização do terrorismo: observe-se, por exemplo, o contorcionismo de Eric Holder, o procurador-geral norte-americano, incapaz de admitir perante o Comité Judicial da Câmara do Representantes que o islamismo é a motivação ideológica dos ataques terroristas aos EUA. O negacionismo de Holder recorda-me uma passagem do notável romance La Village de L'Allemand (Paris, 2008) do escritor argelino Boualem Sansal, o relato da descoberta do horror do Holocausto pelos filhos de Hans Schiller, um SS refugiado na Argélia e o rosto ficcional de inúmeros nazis que disseminaram o anti-semitismo pelo mundo árabe. No romance, quando um grupo de banlieusards decide organizar-se para resistir ao islamismo, descobrem que o termo "islamita" foi suprimido do dicionário. A supressão lexical é um tropo da cumplicidade cobarde e demissionária do ocidente e o romance funciona como uma séria advertência moral para as consequências do branqueamento do islamismo: o califado, o Reich dos mujahidin, é um horror totalitário, um crime cuja cumplicidade condenará pais e filhos por igual
."

Fernando Gabriel

quinta-feira, junho 24, 2010

Rolão Preto





Ainda estudante do liceu abandonou Portugal e foi ter com Paiva Couceiro, oficial monárquico que a partir da Galiza, nos anos de 1911 e 1912, tentou derrubar o regime republicano instaurado em Portugal, tendo participado em várias incursões. Estabelecendo-se na Bélgica, tornou-se secretário da revista Alma Portuguesa, o primeiro órgão do Integralismo Lusitano. Acabou o curso liceal no Liceu português de Lovaina, tendo ingressado posteriormente na Universidade católica da mesma cidade. Devido ao começo da primeira guerra, foi para França, onde se licenciou em Direito, na Universidade de Toulouse.

Regressado a Portugal em 1917, começou a escrever para o jornal integralista A Monarquia, sendo seu director quando Hipólito Raposo foi preso. Membro da Junta Central do Integralismo Lusitano a partir de 1922, tornou-se colaborador do general Gomes da Costa, sendo o redactor dos 12 pontos do documento distribuído em Braga no começo do movimento militar de 28 de Maio de 1926, que instaurou a ditadura militar. A inactividade do Integralismo Lusitano a seguir ao golpe de 1926 afastaram-no dessa organização política. Por isso, em 1930, dirigiu com David Neto e outros sidonistas a Liga Nacional 28 de Maio, grupo de origem universitária, que se auto proclamara defensora da Revolução Nacional.

Mas foi em Fevereiro de 1933 que Rolão Preto se tornou uma figura nacional, com o lançamento público do Nacional-Sindicalismo no decurso de vários banquetes-comício que comemoravam o primeiro ano de publicação do jornal Revolução, Diário Académico Nacionalista da Tarde, aparecido em 15 de Fevereiro de 1932 e que em 27 de Agosto desse mesmo ano tinha adoptado o subtítulo Diário Nacional-Sindicalista da Tarde. Rolão Preto era o seu director desde 14 de Março. Movimento de tipo fascista, conhecido pelos camisas azuis, o Nacional-Sindicalismo foi uma organização que conseguiu algum apoio nas universidades e na oficialidade mais jovem do Exército português. Devido a incidentes nas comemorações de 1933 do 28 de Maio em Braga, onde houve confrontos entre os nacional-sindicalistas e a polícia, ao discurso de Rolão Preto de 16 de Junho, numa sessão no São Carlos, claramente anti-salazarista, o jornal Revolução acabou por ser suspenso em 24 de Julho. Restabelecido fugazmente em Setembro seguinte - saíram só três números - o Nacional-Sindicalismo dividiu-se em Novembro quando um grupo, o mais numeroso, decidiu apoiar Salazar e integrar-se na União Nacional, abandonando assim as ideias de independência perante o novo regime defendidas por Rolão Preto e Alberto Monsaraz.

Após uma última representação ao Presidente da República, general Carmona, em defesa de um governo nacional com a participação de todas as tendências políticas nacionalistas, é detido em 10 de Julho de 1934 e exilado quatro dias depois, residindo durante um tempo em Valência de Alcântara, em Espanha, frente a Castelo de Vide. Em 29 de Julho o nacional-sindicalismo é proibido por meio de uma nota oficiosa de Salazar, que afirma que o movimento se inspirava «em certos modelos estrangeiros».

Indo para Madrid, hospedou-se em casa de José António Primo de Rivera, filho do ditador espnhol,, com quem terá colaborado na redacção do programa da Falange espanhola. Regressou em Fevereiro de 1935 a Portugal, mas foi implicado numa tentativa de golpe contra o regime, em Setembro de 1935 - o Golpe de Mendes Norton, com tentativa de revolta do navio Bartolomeu Dias e do destacamento militar do Quartel da Penha de França -, e obrigado a novo exílio. Residindo em Espanha, acompanhará a Guerra Civil ao lado dos falangistas.

Regressado a Portugal retoma a intervenção política apoiando o MUD - Movimento de Unidade Democrática -, criado no Outono de 1945 para participar nas eleições de Novembro seguinte, as primeiras eleições do Estado Novo em que se admitiram listas alternativas. Nesse ano publica o seu livro A Traição Burguesa. Mais tarde, apoia a candidatura de Quintão Meireles nas eleições para a presidência da República de 1951 contra o candidato oficial, Craveiro Lopes, discursando na única sessão política da campanha. Em 1958 apoiará Humberto Delgado, participando activamente na campanha eleitoral, sendo responsável pelos serviços de imprensa da candidatura.

Em 1970, constitui com outras personalidades monárquicas a colecção «Biblioteca do Pensamento Político» e integra a Convergência Monárquica, organização política monárquica que reúne o Movimento Popular Monárquico, de Gonçalo Ribeiro Teles, a Renovação Portuguesa de Henrique Barrilaro Ruas, em que participava, e uma facção da Liga Popular Monárquica de João Vaz de Serra e Moura. Participa nas eleições de 1969, nas Comissões Eleitorais Monárquicas, as únicas eleições durante o período de governo de Marcelo Caetano. Em 1974 assume a Presidência do Directório e do Congresso do Partido Popular Monárquico (PPM), fundado em 23 de Maio.

Mário Soares, enquanto Presidente da República, condecorou-o a título póstumo, em 10 de Fevereiro de 1994, com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique pelo seu «entranhado amor pela liberdade».

Nasceu em Gavião, a 12 de Fevereiro de 1893;
morreu em Lisboa a 18 de Dezembro de 1977

quarta-feira, junho 23, 2010

Cinema Lys


Situado na Avenida Almirante Reis, nº 20, teve a sua inauguração a 11 de Dezembro de 1930. Propriedade de Abraão de Carvalho, era seu gerente Aníbal Contreiras, fundador da Lisboa Filme. Com uma capacidade de 553 lugares, caracterizou-se por uma afluência nunca antes vista, quer pela sua dimensão, quer por ser um cinema de “reprise”, para onde eram levados os maiores êxitos, imediatamente após a sua estreia.
A sua abertura, ficou marcada pelos filmes, “O Dominó Preto”, uma comédia alemã da UFA, interpretada por Harry Liedke, o drama “Águas de Tormenta”, a farsa “Caixeiro Viajante”, o filme português “Os Camelos” e um documentário nacional.
Em 1931, Joaquim Pedro dos Santos passa a ser o seu gerente, conseguindo fazer do Lys um cinema concorrido e com um público fiel.
Como tantos outros cinemas, também este espaço passou por importantes obras interiores, passando para cinema de estreia e adoptando o nome de Cinema Roxy. Esta nova fase teve a sua inauguração a 26 de Junho de 1973 com o filme “Alfredo, Alfredo”, de Pietro Germi.
Ao longo dos anos, a sua programação foi decaindo, tendo encerrado as suas portas no início de Abril de 1988, com o filme "Noite Infernal".

terça-feira, junho 22, 2010

Guerra civil americana.

A Guerra Civil Americana foi uma guerra civil que ocorreu nos Estados Unidos da América entre 1861 e 1865. Nenhuma guerra causou mais mortes de americanos do que a Guerra Civil Americana. As causas da guerra, de seu desfecho, e mesmo os próprios nomes da guerra, são motivos de controvérsia e debate até os dias atuais.

A Guerra Civil Americana consistiu na luta entre 11 Estados do Sul latifundiário aristocrata e que era a favor do trabalho escravo contra os estados do Norte industrializado e abolicionista, dedicado a estilos mais modernos de vida. Esta divisão é considerada uma das causas primárias do conflito. Enquanto o norte passava por um período de expansão econômica graças à industrialização, à proteção ao mercado interno e à mão-de-obra livre e assalariada, a economia do sul dependia da exportação de produtos agropecuários - especialmente do algodão, cujas exportações eram a principal fonte de renda destes estados. A agropecuária do sul, por sua vez, dependia muito do uso do trabalho escravo.

Ao longo das primeiras décadas do século XIX, a imigração em massa e intensa industrialização fizeram com que o poderio do Norte crescesse economicamente e politicamente no governo. Grandes tensões políticas e sociais desenvolveram-se entre o Norte e o Sul. Em 1860, Abraham Lincoln, um republicano contrário à escravidão, venceu as eleições presidenciais americanas. Lincoln, ao assumir o posto de presidente, cognomeou os EUA de "Casa Dividida".

Em 1861, ano do início da guerra, o país consistia em 19 Estados livres, onde a escravidão era proibida, e 15 Estados onde a escravidão era permitida. Em 4 de março, antes que Lincoln assumisse o posto de presidente, 11 Estados escravagistas declararam secessão da União, e criaram um novo país, os Estados Confederados da América. A guerra começou quando forças confederadas atacaram o Fort Sumter, um posto militar americano na Carolina do Sul, em 12 de Abril de 1861, e terminaria somente em 28 de junho de 1865, com a rendição das últimas tropas remanescentes da Confederação.

Wikipedia

segunda-feira, junho 21, 2010

Parque Florestal do Monsanto


A história do Parque Florestal de Monsanto está intimamente ligada à da cidade de Lisboa. Por se encontrar próxima de diversos cursos de água, de boas zonas de pesca e por ter solos férteis, a zona de Monsanto foi ocupada pelo homem desde a pré-história. Na idade dos metais, os povos viviam da agricultura e do pastoreio e foram-se estabelecendo nas margens do rio Tejo, na zona onde é hoje Lisboa. Vieram os romanos…
Com os Romanos, o aumento da população de Olísipo levou ao recuo da floresta primitiva. A zona viu crescer olivais, hortas, trigais e mesmo criação de cavalos durante a ocupação muçulmana.
A grande quantidade de moinhos de vento ainda hoje existente na Serra de Monsanto, deve-se à generalização da cultura de cereais.
O Aqueduto das Águas Livres, mandado construir em 1731 por D. João V, veio resolver o problema da falta de água e marcou decisivamente a paisagem. A utilização agrícola intensiva dos solos conduziu à erosão e destruição quase total da vegetação original.
Nos Anos Trinta deste século, a crescente procura de terrenos para construção levou Duarte Pacheco, então Ministro das Obras Públicas, a recuperar uma ideia que vinha de 1868: a arborização de uma praticamente despida Serra de Monsanto. Em 1934 é regulamentada a constituição do Parque Florestal de Monsanto e os trabalhos de rearborização são realizados por camponeses e prisioneiros do forte de Monsanto.
Foi o arquitecto Keil do Amaral quem apresentou o primeiro projecto global para o parque, incluindo zonas recreativas e desportivas, algumas delas ainda hoje existentes.
Entre os anos 40 e 60 decorre uma fase de muitas construções.
Na década de 40 têm início as ocupações de terrenos anteriormente expropriados, de que são exemplo o Bairro da Boavista (1943), Bairro do Caramão da Ajuda (1945) e Bairro de Caselas (1947).
Nos anos 50 é construído o centro emissor da RTP - Rádio Televisão Portuguesa (1952), o Quartel da Força Aérea (1955) e o Bairro da GNR (1958).
Em 1960 é construído o Parque Municipal de Campismo em vez da construção de um cemitério, inicialmente projectado. Em 1962, são cedidos terrenos ao Clube Português de Tiro ao Chumbo. Segue-se a construção do restaurante de Monsanto em 1968 (ampliado mais tarde em 1983).
Os anos 70 também foram caracterizados por várias construções:
1971 - Bairro para os funcionários do Ministério da Justiça;
1972 - Estádio do Clube Internacional de Futebol;
1973 - Ampliação do Bairro da Boavista;
1974 - Construção da Torre dos CTT;
1975 - Ampliação do Bairro do Alto da Serafina.
A par de tantas construções, existiu um passo qualitativo em 1974 que foi o revogar de um decreto-lei que ameaçava seriamente o objectivo inicial do Parque Florestal de Monsanto, que é o de proporcionar o contacto da população com a Natureza.
Em 1977 surge o Plano Director da Câmara de Lisboa que aponta para a necessidade de conservar os espaços verdes da cidades.
Em 1979 aprova-se uma proposta que impede o "avanço da malha urbana no parque".
Os anos 80 foram caracterizados por dois estudos que nunca chegaram a ser aprovados. O primeiro, ainda na sequência da década de 70, do Eng. Agrónomo António Saraiva, e o segundo do arquitecto paisagista Leonel Fadigas. Apesar da não aprovação destes estudos, estes estiveram na base de um plano de estratégias (1986) para um projecto de implementação (aprovado em 1987 pela CML), em que se definiram zonas de instalação de equipamento - os chamados "Parques Urbanos".
Nos anos 90 iniciou-se a implementação dos "Parque Urbanos" nomeadamente o do Alto da Serafina e o do Alto do Duque. Houve necessidade de revisão deste Plano de 1986, concretizando-se em 1990 através do "Plano de Ordenamento e Revitalização de Monsanto" (P.O.R.M.).
O que se pretendia agora era promover a discussão pública sobre matérias importantes.
Com a elaboração do P.O.R.M. ficámos a conhecer melhor o Parque Florestal de Monsanto, sendo possível identificar um conjunto de condicionantes ecológico-urbanísticas:
- zonas de protecção ecológica-científica;
- zonas de acesso condicionado;
- infra-estruturas militares;
- espaços-verdes estruturados (Quintas, Viveiros);
- equipamento de uso público (já instalado ou aprovado);
- zonas estatais para uso público;
- zonas aptas para uso intenso, etc.
A partir daqui tornou-se possível definir uma estratégia de implementação global do Parque com determinados objectivos:
- alterar alguns dos princípios que Keil do Amaral definiu no Plano do Parque;
- estabelecer como estrutura de distribuição principal uma única circular de cotas intermédias;
- definir áreas de uso intenso designadas "Parques Urbanos" e dotados das infra-estruturas necessárias.
O Parque Ecológico de Monsanto surgiu em resposta a muitas solicitações por parte de escolas e interessados que pretendiam efectuar actividades no Parque Florestal.
Inaugurado na sua totalidade a 28 de Março de 1996, o Parque teve o seu início em 1993, altura em que se construiram algumas infra-estruturas na Zona Vedada e o Centro de Interpretação. Em 1997 foi ainda inaugurado o Parque Urbano dos Moinhos de Santana, cuja gestão de actividades e marcação de visitas é feita pelo Parque Ecológico. Desde então o Parque Ecológico não parou de crescer e desenvolve hoje actividades de educação ambiental em todo o Parque Florestal
O Parque Florestal de Monsanto atravessa agora uma nova etapa - um novo plano de ordenamento. Monsanto está dividido em diferentes espaços: o Parque Norte, Parque Sul e Parque Poente (parques informais de acesso livre), e zonas destinadas a Conservação da Natureza. A funcionar desde 15 de Junho de 1999 encontra-se já o Parque Norte.

domingo, junho 20, 2010

"The show must go on"

"No seu antigo espectáculo de stand-up, Jerry Seinfeld explicava o modo de chegar à dosagem ideal de um medicamento: juntar uma quantidade que nos fosse fatal e depois retirar um bocadinho.

Na perspectiva de Pedro Passos Coelho, as conclusões da Comissão de Inquérito ao negócio PT/TVI seriam sempre as que permitissem ameaçar o Governo com uma moção de censura mas não o obrigassem a apresentá-la. Não importa que, por trémulas palavras, a Comissão tenha apurado aquilo que toda a gente já sabia: o uso de interesses públicos para a realização de objectivos privados, a ingerência política na linha editorial de uma estação televisiva e a mentira ao Parlamento.

Num país normal, governo nenhum resistiria cinco minutos a factos tão graves. Em Portugal, o dr. Passos Coelho constata a gravidade e certamente irá retirar-lhe um bocadinho, o suficiente para que o eng. Sócrates continue a ser uma espécie de primeiro-ministro, ele próprio continue a ser uma espécie de líder da oposição e o país continue a ser uma espécie de espectáculo de stand-up
."

Alberto Gonçalves

sábado, junho 19, 2010

Língua moribunda

"Uma página no Facebook convocou uma manifestação contra o Acordo Ortográfico para a data, a hora e o local da apresentação de um conversor linguístico financiado pelo Estado. Compareceram três pessoas. Provavelmente, as restantes não souberam ler a convocatória.

Julgo que teria acontecido o mesmo a propósito de uma ma- nifestação de sentido contrário, caso o facto de o Acordo estar aprovado e praticamente em vigor não a tornasse um nadinha redundante. O problema não passa por gostarmos ou não gostarmos da chacina de uns cês ou pés mudos e do rapto do ocasional acento. O problema do Acordo é pretender regulamentar uma língua que já praticamente não se fala ou escreve.

Fará sentido pregar o fim da acentuação dos ditongos abertos das palavras paroxítonas a gente que não distingue um "à" de um "há"? Não é perda de tempo divagar acerca das alterações na hifenização a quem substituiu o verbo "estar" por um rascunho adulterado do verbo "ter" ("Ontem tive em Coimbra" é um clássico)?

Uma imensa percentagem da população (falo de Portugal, embora não conste que o Brasil e os "palop" sejam muito diferentes) apenas é alfabetizada na acepção teórica do termo. E se a isto juntarmos os produtos das Novas Oportunidades, as gerações dos SMS e do Messenger e um sistema de ensino que reprova as reprovações a título de "estímulo", constata-se que as alterações académicas no português têm menos impacto na vida quotidiana do que uma revisão da tabela periódica dos elementos.

Discutir o acordo ortográfico é discutir a cor da sala de uma casa marcada para demolição, uma excentricidade que interessará meia dúzia de criaturas. Ou, a julgar pela manifestação dos seus opositores, nem isso
."

Alberto Gonçalves

Todos para o Panteão e em força! Os crentes e os reciclados...

Saramago finou-se, o do Nobel, o que desprezava Portugal.
Vai ser um corropio de gentinha manhosa como ele, não digo paz à sua alma, porque o tipo, não era dessas coisas, o tal do DN e outras malfeitorias, merece, de mim, e de muita gente felizmente, que gosta da sua Pátria, poucas mais palavras, mas um Nobel é um Nobel, um prémio de merda e de vez em quando, os tipos desta Europa lá do norte, tão louros e limpos de cabecinha e tão organizados mas que limpam o cu como os outros, não se lavam depois de cagar, daí a merda lhes subir à cabeça e serem tão louros, deve ser de limparem as mãos depois do acto de defecar na cabecinha coitados.
Assim, Soares já se colocou de bicos de pé, ele e outros, espero que seja para breve, isso de serem enterrados no Panteão Nacional, tirem o bilhete mais cedo, o país agradece, melhora o défice (...), novos e velhos,mas retirem por favor, de lá, os corpos de gente decente que lá está, misturas, não.
Sobre o avião da FAP é mais uma coisa que os ursos vão pagar dos impostos.
Mas o tipo devia ser enterrado ou cremado ou lá o que for, no Arquipélago Gulag, ou em Cuba ou na Coreia do Norte, que ele tanto venerava.
Vão de preferência deitados e em força para o Panteão, .
Não gostam, espumem, há vacina para a hidrofobia, eu escrevi com gosto isto, não gostam, deitem-se ao lado...

sexta-feira, junho 18, 2010

Grande concerto

Políticos com a boca na vuvuzela

"(Onde se arquiva a consagrada expressão "boca no trombone", adoptando antes a linha post-moderninha do País, e assim a fracturante e execrável "boca na vuvuzela", para ilustrar a vetusta moda de os políticos vencedores apontarem os vencidos como fautores das desgraças, mas agora com mais frequência e clangor - e isto desde o centro do mundo (Portugal) às recônditas paragens do Japão).

As estórias das "pesadas heranças" sempre foram da História, grande e pequena, e não há mesmo nada a fazer, tanto mais que frequentemente correspondem à verdade pura e dura. Doutras vezes dão excelentes alibis ou descartes de responsabilidades, independentemente da veracidade. Por isso é que se fizeram até as reabilitações e as revisões históricas, tudo para efeitos de juízo final (salvo seja!).

Mas aqui vamos apenas deambular pelo curto prazo, pelas declarações de circunstância, quando uns grupos políticos sucedem a outros e, quanto mais não seja para prevenir, vão demonizando quem antecedeu e as suas enxofráveis obras. O curioso é que muitas vezes quem diz não sabe o que diz ou não vê como diz e provoca consequências imprevistas e nefastas, tudo isto tanto mais vulgar quando os tempos são de vacas magras e os bifes de lombo já foram comidos. Seja como for, não passaremos de casos avulsos e um tanto aleatórios, alguns de que me fui lembrando e achei curiosos pelos efeitos directos e colaterais, pretendidos ou indesejados.

Começar nas proximidades é boa maneira de começar e, assim, relembro o famoso "o País está de tanga" de Durão Barroso, sucedendo ao que o próprio Guterres chamou um "pântano" e tinha um processo por défice excessivo interposto pela Comissão Europeia. Essa e as frases acessórias, prenunciando severas medidas de austeridade, foram bem acolhidas em Bruxelas, mas nacionalmente deixaram um ar chocarreiro, de declaração não séria. Pela minha parte, que sou um bem pensante (em sentido próprio), ainda me ocorreram as "tanguinhas", mas outros terão evocado o Tarzan ou uma moda "cool". O impacto almejado teve antes ricochete e as coisas seguiram aos gritos com toda a gente a protestar.

Muito mais subtil foi o método Sócrates de encontrar, com a cumplicidade de Constâncio, um défice virtual de 6,83% (sic, à centésima, o real foi de 5,9%), coisa de deixar o povo atemorizado até porque trazia o carimbo do Banco de Portugal. O chamado bom golpe. Acima de tudo, serviu de pretexto para passar a governar exactamente ao contrário das promessas eleitorais, atirando as culpas para as costas anormalmente largas de Santana. Ora, a grande verdade é que, para boa governança pátria só mesmo a ditadura semianual à Ferreira Leite ou a aldrabice socrática. E, realmente, a peta deu para dois anos de apreciável governo. Na Comissão Europeia seguiu-se um silêncio embaraçado, mas a posterior contenção do défice mereceu encómios.

Entretanto, meteu-se a "reprise" da crise e o lavar internacional de roupa suja foi esplendoroso. Cá, em Portugal, como não houve querela sucessória (eram os mesmos), o que podia ter dado em chavascal de lama foi substituído por suaves encómios e ternos orçamentos. Mas onde não foi assim, as coisas aqueceram mesmo, e, curiosamente, com repercussão negativa onde importava (os mercados), todas as vezes que a insuficiência de informação ou os receios difusos estavam presentes. Realmente, é preciso ter cuidado com o que se diz quando se pisam cascas de ovo, e se não há disponível diplomacia Versailles também não é obrigatório puxar da cartilha de Grozny, transformando o receio difuso em susto concreto na gente que conta, os odiosamente indispensáveis prestamistas internacionais.

Pessoalmente, adorei a intervenção do novel ministro das Finanças da Hungria que lançou tal alarido, pintando as cores ainda mais negras que as do luto original, que o pânico surgiu para toda a zona do Leste europeu emergente, onde a informação é ainda escassa e eventualmente duvidosa. As bolsas estremeceram dois dias, nenhum sismo, mas lá levou com uma subida da taxa de juro para o contribuinte pagar.

Noutros lados, sucedendo a compadre político, nem assim o novo primeiro-ministro do Japão, Naoto Kan, se conteve, e, num discurso de atenção internacional, de resto de fino calibre e sentido estratégico(1), lá comparou a dívida pública Japonesa à da Grécia, num segmento curto e descontextualizado, mas aproveitado pela imprensa. Ora, a dívida do Japão é basicamente detida por nacionais, pelo que, embora enorme, é relativamente inofensiva. Mas aí os mercados estavam bem informados, e à possível incontinência verbal o Nikkei correspondeu com uma subida de 1,43%. O Kan, afinal, sossegou toda a gente, até os americanos em Okinawa.

Moralidade: Todo o cuidado é pouco, isto está tudo armadilhado."


Fernando Braga de Matos

O preconceito gay

"Portugal assistiu ao primeiro casamento gay e transformou-se enfim num país civilizado, moderno, progressista, justo e igualitário. Aqui ao lado, a Espanha há já uns anos que permite casamentos gay e por isso há anos que é um país civilizado, moderno, progressista, justo e igualitário. É isto bom? É óptimo. Pelo menos enquanto não se resolve escavar sob os conceitos e descobrir de que civilização, modernidade, progressismo, justiça e igualitarismo falamos.

A título de exemplo, para não sairmos de Espanha, soube-se que a Federación de Lesbianas, Gays, Transexuales y Bisexuales proibiu a participação de associações israelitas na marcha do Orgulho Gay a realizar no próximo dia 3 de Julho. O motivo? As associações em causa viriam a Madrid em representação da câmara de Tele- vive, instituição que não condenou o ataque das forças armadas de Israel ao navio turco dito de "ajuda humanitária" aos palestinianos.

Não vale a pena repetir que a "ajuda humanitária" não passava de propaganda favorável ao Hamas, que entretanto procurou impedir a entrada em Gaza dos medicamentos (fora do prazo), das roupas e da comida (presumo que dentro do prazo) encontrados por Israel no famoso barquinho.

Mas vale notar que a hierarquia gay madrilena discrimina a autarquia de uma cidade conhecida pela tolerância face à diversidade, incluindo a sexual, para defender um território dominado por uma organização que, além de terrorista, dispensa aos homossexuais tratamento similar ao que os muçulmanos em geral dispensam aos cães.
Não digo que, como fazem com os cachorrinhos, os habitantes e os governantes de Gaza (e de toda a Palestina, e de todo o Médio Oriente, e de quase todo o mun- do islâmico) cortam as orelhas dos homossexuais. Para evitar crueldades gratuitas, optam por persegui-los, prendê-los, torturá-los e, em ocasiões festivas, linchá-los.

Pelos vistos, esses pormenores não comovem os activistas LGBT (é assim, não é?) nossos vizinhos. Eu, se fosse espanhol e gay, pensaria duas ou três vezes antes de confiar os meus direitos a criaturas que põem o ódio aos judeus à frente do amor pela causa que teoricamente, e sublinhe-se "teoricamente", defendem. Mais absurdo do que isto só progressistas que apoiassem regimes fascistas, pacifistas que se excitassem com "mártires" homicidas e feministas que venerassem o Islão.

Curiosamente, semelhantes espécimes também existem. E nem é preciso procurá-los muito: Israel encontrou alguns no barquinho "humanitário", um conceito misterioso nos dias que correm, embora corram menos do que os homossexuais palestinianos rumo a Israel. Quando podem
."

Alberto Gonçalves

quinta-feira, junho 17, 2010

Um campeonato à parte

"Um programa patrocinado pela FIFA e paralelo ao Mundial de futebol tem como lema "Education beats poverty", a educação vence a pobreza. Espero sinceramente que sim, mas por enquanto a pobreza está a ganhar de goleada. Ainda o campeonato não começara e já um pequeno grupo de jornalistas (portugueses e espanhóis) e jogadores (gregos) tinha sido assaltado nos respectivos hotéis. Se na África do Sul a educação fosse outra, os assaltantes não escolheriam roubar cidadãos dos três campeões europeus da bancarrota.

Por azar, na África do Sul a pobreza é o que é. E a violência que lhe está associada também. Há dias, um jornal de Joanesburgo proclamava, presumo que orgulhosamente, que o país é o 121º mais pacífico do mundo. A bravata, fundamentada num estudo realizado em 149 países, assemelha-se à afirmação de que a Coreia do Norte é a 197.ª nação mais livre da Terra (em 198). Na prática, significa que a anfitriã do Mundial apresenta portentosos índices de crime e insegurança, os quais só espreitaram por entre o estardalhaço das notícias dedicadas à bola porque as vítimas não eram indígenas nem exactamente anónimas.

Já os indígenas anónimos estão condenados a desaparecer no meio da propaganda oficial, empenhada em exibir uma Áfri- ca do Sul dinâmica e próspera, e a propaganda da FIFA, empenha- da em mostrar o papel da competição no dinamismo e na prosperidade. Salvo quando relata os seus próprios infortúnios, é esta lengalenga do "sucesso" que a imprensa ocidental reproduz. Driblados pelo exotismo tropical, os noticiários não contam que se estabeleceu um novo recorde nos gastos de um governo com uma competição do género. Ou que se construíram estádios extravagantes ao lado das favelas onde vegeta boa parte da população. Ou que, para fins estéticos, inúmeros indigentes foram removidos das ruas e colocados em campos de detenção pela duração do evento (não se erradicou a pobreza, mas erradicaram-se, ao menos temporariamente, os pobres).

De Berlim em 1936 a Pequim em 2008, passando por Buenos Aires em 1978 e Moscovo em 1980, a história dos grandes acontecimentos desportivos é frequentemente a história da iniquidade que esses acontecimentos procuram esconder e, em última instância, legitimar. O Mundial da África do Sul é mais um exemplo, peculiar somente graças ao barulho das cornetas e ao remorso colonial
. "

Alberto Gonçalves

quarta-feira, junho 16, 2010

Farewell

É a crise, senhores

"O Presidente da República diz que a situação do País é insustentável, mas não demite o Governo que a provocou. Por causa da crise.

O PSD diz que o engenheiro relativo é incompetente, está desgastado, que faz parte do problema e não da solução, mas não apresenta uma moção de censura. Por causa da crise.

Aprovam-se impostos retroactivos, a despesa do Estado fica na mesma, a dívida pública aumenta todos os dias e a querida oposição cala e come. Por causa da crise.

A comissão de inquérito ao negócio PT-TVI diz tudo e o seu contrário sobre as mentiras que são verdades e as verdades que são mentiras. Por causa da crise. A mãe de todas as culpas. A mãe de todas as desculpas. A mãe de todas as misérias. A mãe de todos os miseráveis. Ide em paz e que a crise vos acompanhe
."

António Ribeiro Ferreira

O Sahara é aqui

"O futebol costuma ser o melhor enfermeiro de Portugal. Cura-nos da tentação do abismo onde pensamos ir cair sem redenção. Mas, este ano, o Mundial não é a ambulância salvadora da nossa desorientação colectiva. Os golos não apagam a miséria real e moral que vai contaminando o País. Confúcio dizia que, se pensarmos em termos de um ano, devemos plantar uma semente. Se pensarmos a 10 anos, devemos plantar árvores. Durante todos estes anos na Europa que prometia o El Dorado, semeámos demasiadas ilusões. E não plantámos realidades com futuro. Queríamos golear e, agora, só nos resta defender para não perder. José Sócrates perdeu a magia e sabe-o. Pedro Passos Coelho ainda é um aprendiz de Houdini: não sabe os truques todos. E percebe-o. Sobram aprendizes de feiticeiros avulsos que só pensam na redução do défice hoje, sem se preocuparem com as árvores que deveriam nascer amanhã. Há uma paz podre em Portugal, vigiada pelo défice e manietada pelo ocaso do consumo redentor. A crise, diz-se, combate-se com mais uns furos no cinto. Talvez até o País estar tão magro e indigente que deixe de necessitar de cinto e procure musculados suspensórios políticos. Se ficar demasiado esquelético Portugal não terá capacidades para levantar a mão a pedir esmola. Isto não é destino nem é Fado: é o resultado da incompetência. Este Governo, e outros antes, andaram demasiados anos a distribuir sementes aos amigos para estes criarem os seus quintais. Não se plantou árvores. Sem estas, abriu-se o caminho para o deserto. O Sahara já não é ali. É aqui. "

Fernando Sobral

Sonhos cor-de-rosa

"Cada vez é mais difícil distinguir o país real do irreal. O pagode que por aí vai é tal que me acontece duvidar se li determinada notícia ou se a notícia me apareceu em sonhos. Por exemplo, eu li ou sonhei que a reacção do eng. Sócrates ao "adiamento" da ligação a Portugal do TGV espanhol foi tentar levar o TGV para Marrocos e manter uma linha Lisboa-Madrid que começa num ermo e acaba noutro ermo? Eu li ou sonhei que, para efeitos de "prestígio", as "fontes" do costume espalharam que Chico Buarque andava mortinho por conhecer o eng. Sócrates? Eu li ou sonhei que o eng. Sócrates regressou à Covilhã para pedir "aos melhores jogadores do mundo" que "inspirem o povo"? Eu li ou sonhei que o ministro das Finanças jurou que nem a Constituição o impedirá de aumentar os impostos? Eu li ou sonhei que a ministra da Educação acha que a impossibilidade prática de reprovação é "um incentivo ao esforço"?

Provavelmente li umas coisas, sonhei as restantes. Certo é que, ao contrário do que se diz, isto não é nenhum fim de ciclo: o ciclo, se quiserem chamar-lhe assim, terminou há muito. Aquilo a que agora assistimos é coisa talvez inédita: um Governo outrora inepto que se empenha em parodiar a própria inépcia. Quando muito, trata-se do fim de um circo, embora ainda seja de contar com mais dois ou três números de malabarismo, trapezistas e palhaços, imensos palhaços, ricos e pobres, sobretudo de espírito
."

Alberto Gonçalves

terça-feira, junho 15, 2010

Éramos felizes e não sabíamos

"Ai, as saudades do sr. Scolari. É verdade que o homem era rude, fez de Roberto Leal a banda sonora dos treinos da selecção e instituiu o patriotismo das bandeirinhas. Mas também é verdade que a rudeza do brasileiro às vezes tinha piada, as cantilenas do sr. Leal só torturavam os jogadores e as bandeirinhas, à janela ou no punho, rotas ou imaculadas, rigorosas na heráldica ou com pagodes chineses, eram acima de tudo mudas.

Agora, temos o "professor" Queiroz, que fala com a profundidade de Manuel Alegre, divulga com o curioso patrocínio do BES uma peçonha em forma de hino e, ainda pior, aceita ou pelo menos não protesta o adereço oficioso deste Mundial, as cornetas de plástico que a Galp vende a um euro cada.

Descobri as cornetas há dias, no posto de combustível onde costumo tomar café. Ao meu lado, uma fila de clientes receosos inquiria o funcionário: "As 'vuvuzelas' esgotaram?" Note-se que não perguntaram pelas cornetas, ou por "aquelas geringonças alaranjadas que vocês mostram no anúncio": os clientes foram exactos e recorreram ao termo técnico. Depois, perante a brutal constatação de que as "vuvuzelas" tinham realmente esgotado, reuniram forças para uma segunda pergunta: "E quando chegam mais?" Não ouvi a resposta. Também não ouvi as diversas criaturas que, de então para cá, me tentaram explicar a origem e a história do fascinante artefacto, criado não sei por quem e não sei onde, para fins de não sei o quê e no ano não sei quantos.
Na impossibilidade de recuar no tempo e afogar à nascença o inventor das cornetas, apenas duas características destas me interessam.

Uma é o barulho demencial que produzem, o qual levou a FIFA a ponderar a sua proibição e, em má hora, a desistir dela. A outra é o facto de tantos portugueses ignorantes em tantas matérias se tornarem especialistas imediatos em qualquer lixo desde que o lixo esteja relacionado com o futebol. No primeiro caso, limito-me a esperar que, graças à única virtude aparente do "professor" Queiroz, a selecção não dê muitos pretextos ao uso da "vuvuzela". No segundo caso, não há esperança possível.
"

Alberto Gonçalves

segunda-feira, junho 14, 2010

Erros graves, pequenos deslizes

"É verdade que, ao declarar o apoio a Manuel Alegre, o PS exibiu o entusiasmo de quem recebe um diagnóstico de sarampo. Mas, como o sarampo, o apoio não deverá ter consequências malignas para o partido e certamente não terá as consequências previstas pelo dr. Soares aqui no DN. Claro que "por razões exclusivamente políticas", o dr. Soares sugere que, "no actual contexto político-partidário", o líder socialista, José Sócrates, "cometeu um erro grave, que porventura mesmo lhe poderá ser fatal e ao PS".

Nunca me passaria pela cabeça tentar competir com a experiência e a sabedoria do dr. Soares. Ainda assim, ouso suspeitar que a provável hecatombe nas "presidenciais" é o menor dos problemas do eng. Sócrates. O PS resignou-se à reeleição de Cavaco, inevitável mesmo que os socialistas trocassem Alegre pelo dr. Nobre ou pelo Menino Jesus da Cartolinha. Aliás, a derrota de Alegre, que condenará o poeta à irrelevância vitalícia, até será o único consolo do eng. Sócrates nos tempos que aí vêm.

O pior é o resto. E do resto, chame-se-lhe crise, falência ou caos, o eng. Sócrates e o PS talvez não escapem com a facilidade com que escaparão do fracasso da corrida a Belém. Ainda que movido "por razões exclusivamente políticas", é injusto que o dr. Soares culpe Manuel Alegre pelo buraco em que o PS se arrisca a cair. Mas é justo que aconteça a este PS o que este PS fez ao País, na certeza de que o nosso estado terminal não se deve ao sarampo
. "

Alberto Gonçalves

domingo, junho 13, 2010

13 de Junho de 2005

Morre Eugénio de Andrade, um dos mais lidos e traduzidos dos poetas portugueses vivos. Após algumas tentativas juvenis que mais tarde repudiou, impôs-se definitivamente no panorama da actual poesia portuguesa com "As Mãos e os Frutos" (1948). Contemporâneo dos movimentos neo-realista e surrealista, quase não acusa influência de quaisquer escolas literárias, propondo uma poesia elementar, cuja musicalidade só encontra precedentes na nossa lírica medieval, ou num poeta como Camilo Pessanha, que Eugénio de Andrade assume - a par de Cesário Verde - como um dos seus mestres.

Se muitos poetas portugueses da nossa época são marcados pelo desencanto, "Eugénio de Andrade vai buscar ao paraíso da infância, à intimidade com a terra, à pura felicidade de se ter um corpo a fulgurante alegria de alguns momentos privilegiados". Esta poesia à qual se tem chamado solar vai acusando, todavia, o peso do tempo, especialmente desde "Rente ao Dizer" (1992) até a "O Sal da Língua" (1995).

Os 50 anos da sua vida literária de Eugénio de Andrade foram assinalados no Porto com um colóquio internacional sobre a sua obra, cujas actas estão agora disponíveis no primeiro número dos "Cadernos de Serrúbia", editados pela sua Fundação, a Fundação Eugénio de Andrade.

Bibliografia

sábado, junho 12, 2010

Sozinhos ou com o FMI e UE?

"Teresa Ter-Minassian, uma das melhores cabeças que o FMI já teve, diz que é melhor Portugal recorrer já a ajuda internacional do que esperar pelo último minuto. O raciocínio é simples: mais vale mostrar já que temos financiamento assegurado do que recorrer aos mercados mais tarde, com uma mão à frente e outra atrás.

Teresa sabe o que diz. Foi ela que ajudou o País a por as contas em ordem em 78-89 e 83-85 (lembro-me de uma conversa, na sede do FMI, onde me falou das dificuldades para convencer alguns políticos que não havia alternativa à austeridade…). E quando alguém com a sua experiência fala, é melhor ouvir com atenção.

Isso significa que não há alternativa à prevenção" que ela defende? Não. Só que isso implica grandes sacrifícios. Como cortar na despesa corrente, dificultar o endividamento (o crédito continua a crescer acima da inflação) e forçar a poupança. Mas vale a pena. Porque estaríamos a enviar um poderoso recado aos mercados: o de que somos capazes de tratar de nós próprios… sozinhos. É difícil? É. Mas os frutos dessa estratégia seriam impagáveis. Em 1992, quando Helmut Kohl contrariou o Bundesbank e promoveu a reunificação da Alemanha com uma taxa de câmbio irrealista (Deutsche Mark vs. Ost Mark) os juros da dívida bateram nos 10%. Agora estão em 2,4%. Verstehen Sie, Kanzler Socrates?


P.S. - "Nenhuma entidade exterior pode colocar essas matérias na agenda portuguesa" (reforma laboral e das pensões). Candidato presidencial dixit. Quem o viu e quem o vê: ainda há meses defendia o Tratado de Lisboa, que deu passos claros em direcção ao federalismo
."

Camilo Lourenço

sexta-feira, junho 11, 2010

Até amanhã e boa sorte!!!

Pimba! Lá foi tudo pelos ares

"José Sócrates anda nervoso. Excepcionalmente nervoso. Os mais íntimos dizem mesmo que o primeiro-ministro e secretário-geral do PS parece um vulcão islandês a expelir lava por todos os lados. Uns acham natural.

A pressão é muita, a crise está para lavar e durar e vão ser necessárias mais medidas de austeridade, a bem ou a mal. Ainda por cima, a situação no PS não é das mais calmas. Alguns andam já a espreitar a oportunidade de o derrubar e o apoio a Manuel Alegre não foi nada pacífico. Talvez por isso, algo de muito estranho se passou no Altis, no dia da reunião da Comissão Nacional do PS. A dado passo, José Sócrates saiu da sala e foi à casa de banho. Até aqui tudo normal. O pior foi depois. Passados uns instantes ouviu-se um enorme estrondo, seguido de um silêncio mortal. Sócrates saiu e, logo de imediato, o pessoal do hotel de Fernando Martins encerrou a casa de banho. Que ficou interdita por um tempo razoável. Ninguém sabe ao certo o que se passou. Mas algumas fontes, geralmente bem informadas, garantem que algo foi pelos ares naquela casa de banho. Não se sabe o quê. Até porque quando reabriu estava tudo no sítio. Mas lá que houve coisa, houve.

CANAVILHAS NO COCKPIT DO C-130

José Sócrates foi a Marrocos e regressou a Lisboa no Falcon. Mandou para o C-130 da Força Aérea a ministra Canavilhas e o ministro Mendonça. A senhora da Cultura ficou muito incomodada e fez tudo o que podia para arranhar um lugarzinho mais confortável. Tanto disse, tanto fez, que a tripulação lá a meteu no cockpit. Ciumento, o ministro António Mendonça não quis ficar para trás e lá se foi sentar no cockpit ao lado da Canavilhas. Pobres pilotos. Sofrem a bom sofrer.

LARANJINHA NO MUNDO COR-DE-ROSA

O mundo socialista reuniu-se no Hotel Altis para discutir a magna questão do candidato presidencial. Como se sabe, os mais críticos primaram pela ausência e só uns dez membros da Comissão Nacional disseram de viva voz o que lhes ia na alma sobre Manuel Alegre. Apesar disso, o ambiente era pesado. Pois bem. No meio daquela turbulência, lá andava Jaime Soares, o dinossauro laranja de Vila Nova de Poiares, de telemóvel na mão, qual espião, a contar pormenores ao chefe Passos.

AS COSTINHAS DOS DEPUTADOS

Segunda-feira foi um dia agitado no Parlamento. Uma equipa médica andou a ver as costas de deputados e funcionários. A verdade é que 77 por cento sofrem das costas. Há quem diga que é do peso de andarem com a Nação às costas. Só se espera que não criem um ginásio pago pelos suspeitos do costume
."

António Ribeiro Ferreira

O mau serviço que Bruxelas presta ao País

"Na 2.ª feira, o comissário para os assuntos económicos e monetários, Ollie Rehn, disse que Portugal e Espanha precisam de reformas "estruturais substanciais" (leia-se reforma da lei do trabalho e das pensões). Ontem, o mesmo Ollie Rehn veio dizer que não se pode colocar os dois países no mesmo plano. Porque Portugal já foi mais longe do que Espanha. O seu mea culpa teve a ver com a reacção do governo português? Ou alguém nos serviços da Comissão o alertou para a gaffe? Ou, ainda mais grave, Bruxelas estudou mal o dossiê? É importante percebermos isso porque gaffes destas prestam um mau serviço à causa das "Reformas" em Portugal. Até porque, para além do impacte na opinião pública, o deslize permitiu ao Governo sair airosamente do radar de Bruxelas: Vieira da Silva veio logo dizer que o problema das pensões está resolvido (é verdade, mas não por período tão longo como diz o ministro) e que a reforma laboral está no terreno (a propósito, já alguém deu por ela?).

Ao passar a ideia de que os dossiês não são bem estudados, Rehn deu uma ajuda para banalizar a ideia de urgência/inevitabilidade das reformas estruturais em Portugal. Ora não podia haver pior serviço para o País. É que no futuro, quando Bruxelas pedir mais sacrifícios, o cidadão de rua (e até a classe política) dirá: "Vai ver que amanhã pedem desculpa." É um pretexto (porque os portugueses sabem que o País caminha para o empobrecimento)? É. Mas Bruxelas não está a ajudar nada. Até porque nem sequer se mostra capaz de obrigar o Governo a resolver o principal problema do País: a despesa corrente
."

Camilo Lourenço

Almanaque presidencial

"No quiosque nacional, as presidenciais prometem a batalha final para acabar com a guerra política. Refira-se em tom despreocupado que as eleições presidenciais são de momento um factor de bloqueio político.

Melhor ainda, a escolha próxima de um novo Presidente da República provoca no país um efeito de congelação da crise política. Para Cavaco Silva, a erupção de uma crise política representa o fracasso de todo um mandato. E neste momento é importante permitir ao Presidente um final de primeiro mandato com total dignidade.

Portugal tem vivido comodamente com três Presidentes - Mário Soares, o eterno Presidente; Manuel Alegre, o Presidente sombra; Cavaco Silva, o Presidente em exercício. Neste triângulo de rivalidades e de pequenos ódios joga-se o futuro da Presidência da República. Sublinhe-se que nesta conjuntura estratégica Sócrates foi completamente ultrapassado pelos acontecimentos. Seja por indolência ou por incompetência, o primeiro-ministro é já o grande derrotado das presidenciais.

Mas vamos por partes. Para consolo político, Mário Soares é parte activa nestas eleições ao armadilhar a corrida com a presença de Fernando Nobre. Fernando Nobre é o inocente útil que percorre a grande selva política que separa os dinossauros excelentíssimos, Alegre e Soares. Politicamente, Nobre define-se pela cidadania chique cruzada com o folclore humanitário, tudo rematado pela sempre útil demagogia anti-sistema. Esteja onde estiver, mas sempre com a arrogância de uma pretensa superioridade moral, Nobre está à Esquerda.

Também à Esquerda está Manuel Alegre. A candidatura de Alegre é um ‘franchise' onde cabe PS e Bloco com a descontracção própria das aberrações de circo. Alegre apresenta-se contra o espectro terrível de uma Direita que não existe. Enorme no seu imenso ego, Alegre avança contra Mário Soares porque se acha o herdeiro político e espiritual do pai fundador da República. A candidatura de Alegre não tem razão de ser e o seu perfil político não preenche os requisitos de um Presidente da República para os tempos modernos. Travestido ao centro, Alegre, a voz da revolta e do inconformismo, é agora o arauto da estabilidade. Entre o humor e o mau gosto, a estabilidade para o Bloco representa a revolução e o derrube do Governo, enquanto no PS a estabilidade representa o respeito pelas instituições e a continuação do Governo. Alegre ao deixar-se instrumentalizar pela estratégia entrista do Bloco conduziu o PS para o ridículo de uma emboscada política. Por ingenuidade ou cinismo, Alegre está cego pela quimera unificadora da religião da República.

Viciada na crise parece estar a Direita à procura de um candidato. Naturalmente à Direita está também Cavaco Silva. E para a Direita há sempre um Portugal desconhecido que espera por nós. Resta apenas saber se esse país tem futuro
."

Carlos Marques de Almeida

quinta-feira, junho 10, 2010

10 de Junho de 1580


Morre Luiz Vaz de Camões


Desconhece-se a data e o local onde terá nascido Camões. Admite-se que nasceu entre 1517 e 1525. A sua família é de origem galega que se fixou na cidade de Chaves e mais tarde terá ido para Coimbra e para Lisboa, lugares que reivindicam ser o local de seu nascimento. Frequentemente fala-se também em Alenquer, mas isto deve-se a uma má interpretação de um dos seus sonetos, onde Camões escreveu "[…] / Criou-me Portugal na verde e cara / pátria minha Alenquer […]". Esta frase isolada e a escrita do soneto na primeira pessoa levam as pessoas a pensarem que é Camões a falar de si. Mas a leitura atenta e completa do soneto permite concluir que os factos aí presentes não se associam à vida de Camões. Camões escreveu o soneto como se fosse um indivíduo, provavelmente um conhecido seu, que já teria morrido com menos de 25 anos de idade, longe da pátria, tendo como sepultura o mar.

O pai de Camões foi Simão Vaz de Camões e mãe Ana de Sá e Macedo. Por via paterna, Camões seria trineto do trovador galego Vasco Pires de Camões, e por via materna, aparentado com o navegador Vasco da Gama.

Entre 1542 e 1545, viveu em Lisboa, trocando os estudos pelo ambiente da corte de D. João III, conquistando fama de poeta e feitio altivo.

Viveu algum tempo em Coimbra onde teria frequentado o curso de Humanidades, talvez no Mosteiro de Santa Cruz, onde tinha um tio padre, D. Bento de Camões. Não há registos da passagem do poeta por Coimbra. Em todo o caso, a cultura refinada dos seus escritos torna a única universidade de Portugal do tempo como o lugar mais provável de seus estudos. Ligado à casa do Conde de Linhares, D. Francisco de Noronha, e talvez preceptor do filho D. António, segue para Ceuta em 1549 e por lá fica até 1551. Era uma aventura comum na carreira militar dos jovens, recordada na elegia Aquela que de amor descomedido. Num cerco, teve um dos olhos vazados por uma seta pela fúria rara de Marte. Ainda assim, manteve as suas potencialidades de combate.

De regresso a Lisboa, não tarda em retomar a vida boémia. São-lhe atribuídos vários amores, não só por damas da corte mas até pela própria irmã do Rei D. Manuel I. Teria caído em desgraça, a ponto de ser desterrado para Constância. Não há, porém, o menor fundamento documental de que tal fato tenha ocorrido. No dia de Corpo de Cristo de 1552 entra em rixa, e fere um certo Gonçalo Borges. Preso, é libertado por carta régia de perdão de 7 de Março de 1553, embarcando para a Índia na armada de Fernão Álvares Cabral, a 24 desse mesmo mês.

Chegado a Goa, Camões toma parte na expedição do vice-rei D. Afonso de Noronha contra o rei de Chembe, conhecido como o «rei da pimenta». A esta primeira expedição refere-se a elegia O Poeta Simónides falando. Depois Camões fixa-se em Goa onde escreveu grande parte da sua obra épica. Considerou a cidade como uma madrasta de todos os homens honestos. Lá estudou os costumes de cristãos e hindus, e a geografia e a história locais. Toma parte em mais expedições militares. Entre Fevereiro e Novembro de 1554 vai na armada de D. Fernando de Meneses constituída por mais de 1000 homens e 30 embarcações, ao Golfo Pérsico, aí sentindo a amargura expressa na canção Junto de um seco, fero e estéril monte. No regresso é nomeado "provedor-mor dos defuntos nas partes da China" pelo Governador Francisco Barreto, para quem escreveria o Auto do Filodemo.

Em 1556 parte para Macau, onde continuou os seus escritos. Vive numa célebre gruta com o seu nome e por aí terá escrito boa parte d'Os Lusíadas. Naufragou na foz do rio Mekong, onde conservou de forma heróica o manuscrito de Os Lusíadas então já adiantados (cf. Lus., X, 128). No naufrágio teria morrido a sua companheira chinesa Dinamene, celebrada em série de sonetos. É possível que datem igualmente dessa época ou tenham nascido dessa dolorosa experiência as redondilhas Sôbolos rios.

Regressa a Goa antes de Agosto de 1560 e pede a protecção do Vice-rei D. Constantino de Bragança num longo poema em oitavas. Aprisionado por dívidas, dirige súplicas em verso ao novo Vice-rei, D. Francisco Coutinho, Conde do Redondo, para ser liberto. Em 1568, vem para a ilha de Moçambique, onde, passados dois anos, Diogo do Couto o encontrou, como relata na sua obra, acrescentando que o poeta estava "tão pobre que vivia de amigos". (Década 8.ª da Ásia). Trabalhava então na revisão de Os Lusíadas e na composição de "um Parnaso de Luís de Camões, com poesia, filosofia e outras ciências", obra roubada. Diogo do Couto pagou-lhe o resto da viagem até Lisboa, onde Camões aportou em 1570. Em 1580, de regresso a Lisboa, assistiu à partida do exército português para o norte de África. Morre numa casa de Santana, em Lisboa, sendo enterrado numa campa rasa numa das igrejas das proximidades.

"Morro, mas morro com a Pátria !"

quarta-feira, junho 09, 2010

Demência criminosa

"É o maior plano de austeridade desde a II Guerra Mundial. O Governo alemão quer reduzir a despesa do Estado em 80 mil milhões de euros até 2014. Para isso vai cortar nos ordenados dos funcionários públicos, eliminar mais de 15 mil postos de trabalho no Estado e, claro, congelar as grandes obras públicas.

Tudo isto sem aumentar a carga fiscal dos alemães. Notável exemplo que não é seguido por estas bandas. Aqui aplicam-se impostos retroactivos, fazem-se festinhas na despesa pública e aumenta-se a dívida externa com TGV, travessias do Tejo e aeroportos. Merkel faz tudo para emagrecer o Estado, proteger os cidadãos e salvar a economia. O engenheiro relativo faz tudo ao contrário. Engorda o Estado, ataca os cidadãos e mata a economia. De forma demente e criminosa
."

António Ribeiro Ferreira

terça-feira, junho 08, 2010

Israel, razão e mistério

"Se a Coreia do Norte afunda um barco da vizinha do Sul ou o Governo do Sudão convoca nova chacina no Darfur, as respectivas embaixadas em Lisboa não testemunham qualquer protesto. Por um lado, porque nenhum dos países tem embaixada lisboeta. Por outro, porque, com ou sem embaixada, a disponibilidade de quem protesta concentra--se em Israel: poucas horas após o "massacre" ao barco dos "pacifistas" que rumava a Gaza, dezenas de "espontâneos", em boa parte do Bloco, PCP e organizações metastáticas, surgiram na Rua António Enes a berrar "Israel assassino, do povo palestino!".

Para cúmulo, a hipótese de bandos de desocupados viverem nas imediações da embaixada israelita, prontos a saltar indignados ao menor sinal de "massacre" ou "genocídio", não é uma especificidade lisboeta. As representações de Israel em todo o mundo sofrem com desocupados semelhantes e sofrem de um escrutínio semelhante.
Tamanha paixão ou tamanho ódio não são comuns. No máximo, são coisas também reservadas à América (a América anterior a Obama, claro), e mesmo assim em doses comparativamente moderadas. O ódio aos judeus que por aí vai não conhece moderação: é um desígnio que vem de longe, demasiado longe, e que une comunistas e fascistas, muçulmanos e inúmeros cristãos, jornalistas e comentadores, personalidades e anónimos. O pretexto do ódio varia com os séculos. Noutras épocas, foi a usura, ou a heresia, ou as "conspirações" para subjugar a Terra, ou a inferioridade "racial". Hoje, o pretexto prende-se com os palestinianos, que não comovem ninguém quando se matam entre si ou morrem às mãos dos restantes árabes. A compaixão do Ocidente dirige- -se somente aos palestinianos maltratados por Israel, os únicos capazes de alimentar a irracionalidade em curso.

Perversamente, com a exacta perversidade usada para equiparar o "sionismo" à sua némesis nazi, é de irracionalidade que os "amigos" da Palestina acusam os poucos que insistem em preferir Israel à demência empenhada em erradicá-lo. No episódio da Frota da Liberdade, curioso nome, a propaganda anti-israelita lançou um mote rapidamente glosado por cada pequeno serviçal da "causa": face a semelhante carnificina, só o fanatismo justifica que se continue a defender Israel.

Não custa concordar. Desde que se finja que uma associação turca que angaria fundos para o Hamas é uma ONG humanitária. E que o navio da associação terrorista, perdão, da ONG, seguia carregado de pacifistas. E que é normal os pacifistas ocuparem as horas de lazer a cantar incentivos ao extermínio de judeus e a puxar de adagas logo que encontram um. E que em Gaza um povo oprimido que democraticamente elegeu um governo simpático morre de fome por culpa do embargo. E que as violações do embargo apenas pretendem levar ao povo oprimido comida e medicamentos, e nunca distribuir armas ou alimentar a fúria (fácil) da "opinião pública". E que a informação veiculada pela imprensa europeia acerca do Médio Oriente é isenta e não reproduz ao pormenor a retórica terrorista. E que não há contradição na presuntiva devoção de "progressistas" ocidentais a regimes e sociedades violentos, discriminatórios e, em larga medida, primitivos. E que o interesse dos "pro- gressistas" é a vida dos palestinianos e não a morte dos israelitas. E que, em suma, Israel sobreviveria por muito tempo se agisse de acordo com os critérios estabelecidos pelos que desejam o seu fim urgente.

Desde que se aceite tudo isto, um autêntico compêndio da Razão, é evidente que se torna impossível continuar a argumentar em favor de Israel. E quem disser o contrário é fanático. Fanático, mau, feio e "sionista"
."

Alberto Gonçalves

segunda-feira, junho 07, 2010

Éramos felizes e não sabíamos

"Ai, as saudades do sr. Scolari. É verdade que o homem era rude, fez de Roberto Leal a banda sonora dos treinos da selecção e instituiu o patriotismo das bandeirinhas. Mas também é verdade que a rudeza do brasileiro às vezes tinha piada, as cantilenas do sr. Leal só torturavam os jogadores e as bandeirinhas, à janela ou no punho, rotas ou imaculadas, rigorosas na heráldica ou com pagodes chineses, eram acima de tudo mudas.

Agora, temos o "professor" Queiroz, que fala com a profundidade de Manuel Alegre, divulga com o curioso patrocínio do BES uma peçonha em forma de hino e, ainda pior, aceita ou pelo menos não protesta o adereço oficioso deste Mundial, as cornetas de plástico que a Galp vende a um euro cada.

Descobri as cornetas há dias, no posto de combustível onde costumo tomar café. Ao meu lado, uma fila de clientes receosos inquiria o funcionário: "As 'vuvuzelas' esgotaram?" Note-se que não perguntaram pelas cornetas, ou por "aquelas geringonças alaranjadas que vocês mostram no anúncio": os clientes foram exactos e recorreram ao termo técnico. Depois, perante a brutal constatação de que as "vuvuzelas" tinham realmente esgotado, reuniram forças para uma segunda pergunta: "E quando chegam mais?" Não ouvi a resposta. Também não ouvi as diversas criaturas que, de então para cá, me tentaram explicar a origem e a história do fascinante artefacto, criado não sei por quem e não sei onde, para fins de não sei o quê e no ano não sei quantos.

Na impossibilidade de recuar no tempo e afogar à nascença o inventor das cornetas, apenas duas características destas me interessam. Uma é o barulho demencial que produzem, o qual levou a FIFA a ponderar a sua proibição e, em má hora, a desistir dela. A outra é o facto de tantos portugueses ignorantes em tantas matérias se tornarem especialistas imediatos em qualquer lixo desde que o lixo esteja relacionado com o futebol. No primeiro caso, limito-me a esperar que, graças à única virtude aparente do "professor" Queiroz, a selecção não dê muitos pretextos ao uso da "vuvuzela". No segundo caso, não há esperança possível
."

Alberto Gonçalves

domingo, junho 06, 2010

A crise inventada e há muito montada

A crise de que se fala todos os dias tem origem nos problemas de sempre criados pelos países anglosaxões.
Eles mandam e os dirigentes desta assim chamada Eurozona com Euro ou Europa sem ele, dobram-se e obedecem, são seus agentes.
Quem provocou e provoca os altos e baixos preços dos combustíveis por exemplo e noutras mercadorias, são a City e Wall Street e quem lá manda, cerca de 100 famílias a nível mundial.
Quando da globalização toda este grupo de vermes que servem este novo liberalismo selvagem e esta nova forma de capitalismo, apaludiu, é claro que sabiam as consequências do mesmo.
Os chineses, indianos e países miseráveis do chamdo terceiro mundo e as suas elites menos de 1% da população não cumprem aquilo, que o excesso de regulamentação (CEE é exemplo), provoca em termos de concorrência desleal e impossível.
No entanto as multinacionais, os verdadeiros governos, querem que os produtos sejam transacionados, na Europa e nso USA, com as classes médias a desaparecerem e os estados sociais a serem desmantelados é lógico que não os vão vender nos desertos africanos.
Bem pode a chanceler alemã dobrar a espinha, a senhor é uma marioneta, quem manda são os donos dos EUA, da GB, Austrália, Nova zelândia e (Israel /que não é anglosaxão, mas foi criação deles).
O vómito de ouvir Sócrates, Passos e a esquerda neste país nem com um camião de medicamentos passa, esses sabem , mas não dizem.
Esta é génese das crises que são artificiais.
Os chieneses continuam a morrer de fome e de miséria, os indianos, morrem com as doenças de que morriam, (crianças/ homens), mais as novas doenças da escravidão da indústria sem regras para que se possa calçar ou vestir ou ter os produtos que se colocam nas prateleiras dos centros comerciais. nada disto é novo é muito antigo.
O problema é a concorrência que se impõe aqui e que não se embarga de lá.
Não chorem lágrimas de crocodilo seus hipócritas.
Esta é a nova revolução que está em marcha, depois de tentarem moldar o mundo, os donos das grandes fortunas, que já tinham financiado a revolução russa, que provocaram a 2ª Guerra, a revolução chinesa, a cubana e as guerras de África, entre muitas outras, continuam a mandar e agora vão destruir o Euro, não perdoaram a Sadam e enforcaram-no, não por ser ditador , mas por vender petróleo em Euros, as família mais poderosas do planeta não deixam, o resto é conversa de economistas a soldo.
Não posso nada fazer, mas não sou urso, continuem a discutir o Ps, o PSD e a tomar partido nesta choldra a que chamam de democracia e sobretudo acreditem em tudo o que é exigido por Bruxelas e o FMI, que parecia ter desaparecdio depois do subprime, aí estão eles e de novo, os cangalheiros dos estados nação, sediados em Wall Street e com donos conhecidos ou na sombra.

quinta-feira, junho 03, 2010

Uma aventura em Portugal

"No exacto dia em que se anunciaram "cortes" na educação em nome da austeridade e em que uma comissão de inquérito concluiu que as encomendas do Magalhães foram ilegalmente atribuídas à empresa que o embrulha e vende, a dra. Isabel Alçada tirou as devidas ilações e agiu em conformidade: garantiu a encomenda de mais computadores à JP Sá Couto e prometeu o Magalhães aos alunos dos primeiros anos lectivos em Setembro próximo, no máximo. No dia seguinte, ainda procurei nos jornais um desmentido ou uma errata. Nada. A errata somos nós. "

Alberto Gonçalves

quarta-feira, junho 02, 2010

Certificados de aforro

"Quando não se entretém a regulamentar os casais que não se casam porque querem escapar a regulamentos, a esquerda parlamentar dedica-se a convergir na defesa do TGV. Por azar, a PS, PCP e Bloco têm faltado argumentos razoáveis para defender um serviço que, à primeira vista, apenas beneficiará as grandes construtoras, além de excêntricos com dinheiro e medo de aviões. Não eram bem estes os objectivos de Marx e derivados. Em alternativa, a esquerda fala em "modernidade", "opções estratégicas" ou na "ligação à Europa", noções um tanto vagas que não convencem ninguém. Agora, enfim, surgiu um argumento que, no mínimo, me convence a mim.

Um estudo do ISEG apurou que, em vinte e sete anos, as três linhas do TGV permitiriam reduzir as importações de petróleo em 1700 milhões de euros. Dado que o estudo foi uma encomenda da RAVE, a empresa pública encarregue da alta velocidade, a isenção do mesmo está assegurada. Resta-nos constatar, entre o pasmo e a alegria, os seus resultados.

Sob qualquer perspectiva, é óptimo que se economizem 1700 milhões de euros nas três linhas hipotéticas ou uns 300 milhões na meia linha já adjudicada. Não importa que a construção daquelas fique por oito mil milhões e que o pedacinho Poceirão-Caia custe 1400 milhões (fora derrapagens e manutenção). O fundamental é que, de acordo com o referido estudo, as consequências da poupança chegam em menos de trinta anos, ao passo que as consequências da despesa talvez não cheguem nunca, principalmente se o País fechar por falência entretanto.

Apenas espero que a criatividade financeira da esquerda não se esgote no TGV. Com mais uns desvios de "fundos" para aqui, uns impostos para ali e uns créditos para acolá, poderíamos e deveríamos poupar em quase tudo. Imagine- -se o que se pouparia em solas se cada calçada portuguesa fosse revestida a tapetes rolantes. Ou em água canalizada se nos lavássemos com Luso. E estes são meros exemplos do futuro que convém garantir hoje, já que, repito, amanhã é capaz de não haver
."

Alberto Gonçalves

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