Confesso que esta época chateia-me. Desde o histerismo consumista até ao cínico fingimento da paz e alegria, passando pelos Fangios de oportunidade que, aproveitando a fluídez do trânsito ou a destreza momentânea proporcionada pelo álcool, espetam-se alarvemente por todo o lado, tudo já me faz confusão. A verdade é que, apesar dos discursos políticos, cada vez há mais desigualdades, mais riqueza mal distribuída, mais incompetência dirigente. Sei que são palavras por demais gastas mas reflectem o meu presente estado de espírito. Talvez seja a velhice ou a tristeza da época.
"O que é que acontecia se não se fizessem as privatizações? Não acontecia nada. As privatizações encerram em si um elemento de fraude orçamental, porque o que estamos a fazer é trocar um activo (empresa) por outro (dinheiro), o que em si é mera mudança no balanço, sem alterar em nada a situação financeira do Estado. E este dinheiro acaba gasto pelo Estado, como se fosse receita. É o mesmo que vender as pratas da família: parece que estamos a resolver um problema, sem fazer nada. O problema português é um problema de excesso de despesa pública. Com as privatizações conseguimos adiar por algum tempo a necessidade de cortar os gastos. O Estado é o único sector que não fez nenhum ajustamento. Estamos em crise desde 2008, as empresas privadas há muito que sofrem e o Estado ainda nada fez. Fala muito em austeridade, mas a despesa continua a subir. A questão é sempre a mesma, os ‘lobbys' instalados que impedem que o Estado ajuste a despesa. Em 2010 foi rosário de PECs. Este ano fomos à última hora buscar os fundos de pensões dos bancos porque o défice derrapou e já estamos a ouvir que para o ano haverá novo desvio do défice."
"Portugal e a Europa pediram uma consulta no divã do doutor Freud. Enganaram-se na porta. Deitaram-se numa cama de pregos. E é um faquir que lhes está a tratar da saúde. Dói e vai doer ainda mais.
Depois de doses sucessivas de austeridade até que o Estado e os cidadãos fiquem exangues, a classe política terá de se defrontar com a realidade. E ela é fria como uma lâmina: o modelo em que vivemos depois da II Guerra Mundial, e no qual se estabeleceu o Estado social com todas as almofadas que acomodavam os desequilíbrios sociais, acabou. Dificilmente a Europa voltará ao crescimento económico que permitia este paraíso terrestre. A força dos BRIC, a paixão dos EUA pela Ásia e a incapacidade de os líderes europeus perceberem o óbvio, torna o continente cada vez mais irrelevante. Até como força moral que tinha a democracia como símbolo de referência. Esta Europa caminha para a insolvência política e económica. Sobreviverá, talvez, a sua cultura.
Portugal, se conseguir atravessar 2012 sem que tudo corra pelo pior, terá então de se redimir. Terá de descobrir uma forma de deixar de depender das importações até para comer. Terá de voltar a criar a economia interna que destruiu alegremente com o tilintar dos fundos europeus. Terá de voltar a descobrir a terra. Terá de deixar de asfixiar a sociedade com impostos sem sentido. Porque o Estado social vai deixar de ser apresentado como a solução para quem envelhece. Deitámo-nos na cama do faquir. Sem sedativos. Depois desta experiência será difícil que alguém aguente pregos mais afiados. A inteligência política é agora necessária para driblar a dor. "
"O eventual estoiro do mercado imobiliário é um dos maiores riscos para a economia da China no Ano do Dragão em que o vice-presidente Xi Jinping e o vice-primeiro-ministro Li Keqiang assumirão a chefia do país.
Os primeiros casos pontuais de colapso imobiliário ocorreram este ano em cidades como Wenzhou, na província costeira de Zhejiang no sudeste da China, ou Ordos, na Mongólia Interior, provocando falências em cadeia.
Medidas de emergência para apoio a empresas e particulares insolventes aumentaram a dívida das administrações locais - que no seu conjunto equivale a um montante entre os 25% a 36% do PIB da China - e o cenário de Wenzhou e Ordos ameaça estender-se ao resto do país.
O governo de Pequim começou no ano passado a tentar conter a alta do investimento imobiliário, que prosseguia incessante desde os anos 90, restringindo designadamente o acesso ao crédito bancário e a compra de múltiplas unidades habitacionais para fins não-residenciais, mas arrisca colher uma queda abrupta de consequências muito negativas num fase de transição da liderança política.
Em queda livre Os preços de venda de unidades de habitação caíram em Novembro 0,28% em relação a Outubro, segundo a "China Index Academy" que monitoriza o mercado em 100 cidades do país.
Este terceiro mês consecutivo de quebra - que no caso de habitações em primeira mão em Pequim chegou aos 35%, de acordo com a "HomeLink", uma das principais imobiliárias da capital - foi acompanhado por uma acentuada contracção nos leilões de terrenos para construção (residencial, indústrias e serviços) que representam em média 40% das receitas dos governos locais.
Em Xangai, o maior mercado do país, as receitas caíram 13% entre Janeiro e Novembro, em comparação com idêntico período de 2010, enquanto Pequim registava uma quebra de 14%. No caso da capital as receitas de concessões de terrenos para construção habitacional caíram 51%.
A diminuição de uma das principais fontes de receitas das administrações locais - menos 11% nos onze primeiros meses deste ano em relação ao valor obtido em idêntico período de 2010 em 25 das cidades monitorizadas pela "China Index Academy" - põe em causa a sustentação de alguns serviços municipais conforme sucede em Wuxi (um cidade com mais de 6 milhões de habitantes na província de Jiangsu na costa leste) onde a queda nos valores angariados atingiu os 34%.
Empréstimos indirectos por parte dos governos locais para sustentar os leilões de concessões só serão admitidos em casos excepcionais pelo governo central e a rebelião este mês na aldeia de Wukan - na província de Guangdong, adjacente a Macau e Hong Kong - veio, uma vez mais, evidenciar o perigo que representam as expropriações abusivas de terrenos pelas autoridades para venda comercial.
A intenção manifestada pelo governo de Pequim de prosseguir a construção de habitação subsidiada a preços acessíveis à maior parte dos potenciais compradores (cerca de 8 milhões de unidades previstas para 2012) é uma das iniciativas que talvez possa suster a quebra do sector de construção residencial que equivale a cerca de 13% do PIB.
Urbanização e especulação Em princípio, o processo de urbanização acelerada desde o início das reformas de Deng Xiaoping, quando a população citadina se quedava pelos 21,13% (dados do Censo de 1982), deveria sustentar o sector da construção, mas, no caso do mercado imobiliário residencial prevaleceu essencialmente a propensão especulativa.
O Censo de 2010 identificava 49,7% dos 1 334 milhões de chineses como população urbana, um aumento de 13% em relação a 2000, além de 260 milhões de emigrantes internos oriundos de zonas rurais sem residência fixa e legal nas cidades.
A urbanização em curso - concentrada nas grandes cidades ao longo do rio Yangtze (Chongqing, Wuhan, Nanjing, Xangai), no delta do Rio das Pérolas, em Guangdong, e no eixo Pequim-Tianjin - poderia sustentar o sector imobiliário residencial, mas uma década de alta de preços excluiu a maior parte dos interessados no acesso a habitação própria.
As estatísticas do Censo 2010 permitiam avaliar a nível nacional um PIB per capita de 4 358 US (considerando um câmbio médio 100 USD = 682,67 yuans) - para termo de comparação o Banco Mundial apresentou uma estimativa de 4260 USD -, mas mesmo nas áreas administrativas mais ricas (Xangai: 10 711 USD, Pequim 9 233 USD, segundo cálculos de Xizhe Peng da Universidade de Fudan, Xangai) os preços da habitação excediam largamente a capacidade de endividamento de potenciais compradores.
As projecções apontam para um aumento da população urbana dos actuais 665 milhões para 926 milhões em 2025, graças sobretudo a migração das zonas rurais para as cidades, mas um ciclo de especulação no imobiliário residencial está prestes a acabar.
Sem retorno O retorno do investimento no mercado imobiliário, que foi a via preferencial para colocação de aforro na falta de opções mais rentáveis oferecidas pela banca comercial e face ao risco bolsista, conhecerá, consequentemente, uma quebra significativa, sendo já notória a quebra no volume de transacções segundo informações de agências privadas e estatísticas oficiais.
O ministro da Habitação, Jiang Weixin, anunciou este mês, no âmbito da "política fiscal proactiva" e da "política monetária prudente" definidas pelo executivo, que em 2012 continuarão em vigor as medidas impostas em 40 das 655 cidades do país para baixar preços do imobiliário.
O há muito temido estoiro da bolha imobiliária ou os expedientes de emergência para obviar ao pior contar-se-ão entre as grandes histórias de 2012, o Ano do Dragão."
"A grande ideóloga do liberalismo moderno americano, Ayn Rand, não acreditava no engarrafamento de ideias. Para ela, na sua cruzada pelo individualismo puro, "as contradições não existem. Sempre que achemos que estamos defronte duma contradição, verifiquemos as premissas. Descobriremos que uma delas está errada".
O legado da autora de "Atlas Shrugged" (lamentavelmente por traduzir em Portugal) é contundente nos dias de hoje. Olhe-se, por exemplo, para aquilo que, bondosamente, chamamos de política de transportes e mobilidade do Governo. Há alguns anos que se procura afastar o transporte particular do centro de Lisboa. Para isso apostou-se em transportes públicos mais úteis, a começar pelo metropolitano.
Agora fala-se mesmo em taxar quem quiser entrar na capital, enquanto a pretexto do défice das empresas de transportes públicos, se vai aumentando sucessivamente, em doses absurdas, os preços de bilhetes e passes. Que magia negra é esta? Quer-se que os cidadãos venham para a cidade com os seus carros ou quer-se que eles usem transportes públicos? Ou, simplesmente, tudo não passa de uma campanha ecológica para obrigar os portugueses a andar a pé? No resto do país a contradição também se baseia numa falsa premissa. A mobilidade, diz-se, é importante para a economia. Taxando tudo o que é auto-estradas (política estrutural desde Cavaco Silva) ou SCUT (quem é que inventou o hilariante termo?), os cidadãos têm de ir para as estradas nacionais, muitas caminhos de cabras. As Scut perderam 40% do tráfego. Resultado: a mobilidade, crucial para uma economia fluida, é um engarrafamento."
"Pronto, entrámos naquela semaninha em que se faz balanço das anteriores 51. Coisas que me estragaram o 2011: desde logo, Moody's, Fitch e Standard & Poor's. Que vão para o caixote do lixo da história, mais o abecedário manhoso delas. Dos triplos AAA de rating com que acenam e extorquem, ao lixo para onde mandam os países pobres diabos que não têm dinheiro para mandar cantar uma agência vesga. Não que àquelas três eu lhes aponte mentiras, não me interessa, mas porque lhes reconheço inutilidade. E são das piores inúteis, porque elas, não sendo nada, já nos convenceram que nos convencem. Outra triste coisa de 2011, não para erradicar em 2012, mas para diminuir a frequência: as cimeiras decisivas europeias. Aqueles encontros demasiado proclamados cada vez mais se parecem com os embates amorosos dos casais sem filhos e que os querem muito: a ansiedade de resultados passa a ser causa de infertilidade e lançam a suspeita de que o outro é o culpado. Cimeiras, pois, poucas mas eficazes. No plano interno, uma lição dada por 2011. Na primeira metade do ano, os que não estavam no poder precisaram de lá chegar para, na segunda metade, se convencerem de que, no essencial, a crise nos ultrapassava, era externa. Espero que os que perderam o poder em 2011 não precisem nem de metade de 2012 para se convencerem de que só lá iremos juntos. E, já agora, que a segunda metade de 2011 também já tenha convencido disso os do Governo."
"Troika. Portugal paga 222 milhões em comissões este ano e 326 milhões em 2012. A estimativa do total do custo do empréstimo em comissões continua em 655 milhões de euros até 2014 (mais aqui)"
"O Público contou a história de José, que foi ontem a notícia mais lida do site do jornal. José, rapaz do Norte a viver em Lisboa, no Dia dos Namorados deste ano foi a um jantar de encalhados, de gente sem par. No regresso, deixou uma rosa no sinal de alarme do Metro, com um bilhete para uma potencial namorada. Repetiu o gesto uns dias, mas ficou sem resposta. José, que ia a jantares de 'desnamorados' e acenava com rosas às raparigas, enfim, um rapaz que fazia pela vida, descobriu outro destino: fazedor de gestos gratuitos. Quase a mesma coisa - uma flor colocada no sinal de alarme do metropolitano (sempre a mesma carruagem, a última da Linha Azul) - mas toda uma outra filosofia: desta vez, era gesto sem procura de retribuição, era sem intenção de engate.
Com a flor, José deixa uma frase com endereço universal, saudando o amor e a paixão. Não terá o talento de Cyrano de Bergerac, mas tem o mesmo panache. Há dez meses, cada dia, ele deixa a sua flor ("o meu papel é pôr a flor, depois o metro que a leve"), numa persistência gratuita e bela que um leitor, na caixa de comentários do jornal, comparou à do "senhor do Adeus, no Saldanha, lembram-se?". Como não nos lembrarmos de quem nos aquece a alma e não pede recibo? Outro leitor falou dos seus tempos de estudante, na camioneta de carreira, três anos a fazer do bilhete um barco que deixava no banco com esta frase: "Bom dia!" É só raspar levemente e sai-nos disto, gente."
"Portugal está a trocar, quase sem reparar, o peso dos juros da dívida pelos pesados juros da vida. Esta crise fechou um ciclo de três décadas em que os portugueses acreditaram que o paraíso tinha chegado na forma de uma ATM inesgotável. Era um desejo compreensível. Passámos rapidamente de uma sociedade rural e fechada para uma urbana e de consumo. Nem tivemos tempo para, culturalmente, sustentarmos uma ruptura tão grande e rápida. Vivemos tarde a evolução social global.
As grandes utopias liberais do passado século anunciavam mais ócio à sombra da paz tecnológica. Só que as cartas estavam trocadas: a tecnologia trouxe mais competitividade. Aos Estados, às empresas e aos seres humanos.
Os juros da vida, em vez de diminuírem, aumentaram. As sociedades tornaram-se mais velozes e os seres humanos também. Funcionar quer dizer competir e não viver. Por isso o novo paradigma é a competitividade. Não só na economia mas também na vida. Portugal sofreu um choque frontal com esta nova realidade. Até porque nunca conseguiu ultrapassar as suas políticas de corta-mato, feitas do "jeito", da "renda" e da "cumplicidade".
A crise fez com que a confiança num mundo fácil implodisse. Quando Passos Coelho colocou, na mensagem de Natal, a confiança como o coração da política, está a intuir o drama. Os portugueses perderam a confiança. Nas instituições, na economia, nos políticos e, cada vez mais, no futuro. Sentem que estão a pagar juros indecentes por uma vida que não viveram nem vão viver. Sentem a injustiça em forma de impostos sem fim. Vêem o presente. Não sabem se haverá futuro."
"1/ A redução maciça das despesas públicas e do poder de compra da maioria da população vai diminuir a procura e as receitas fiscais e provocar ainda mais necessidade de o país se endividar para pagar a dívida. Tanto a política da troika na Grécia, Irlanda e Portugal, como a política da Comissão Europeia e dos países do Centro, como a Alemanha e a França, vai provocar mais recessão. A própria Alemanha vai ter problemas, porque precisa de ter quem compre os seus produtos.
2/ "A Alemanha beneficia com o euro, pelas suas exportações e inclusive pelos empréstimos a Portugal. Quando vai financiar-se ao mercado, a Alemanha paga 1%, mas empresta a Portugal a 5%. Não é generosidade, é um bom negócio para a Alemanha."
3/ O que Portugal precisa é de uma política soberana em que o Estado declarasse não querer sair da zona euro, mas dissesse que as condições impostas pela troika são inaceitáveis para os cidadãos e para o interesse do país. Caso contrário, a troika só fará mais exigências, que não permitirão ao país sair da situação em que se encontra. Se Portugal disser não à troika, esta seria obrigada a sentar-se à mesa e renegociar a dívida e as condições que impõe. E não me parece que a troika queira a saída de um país do euro (mais aqui)"
1/ "A queda no consumo de combustíveis em Portugal volta a agravar-se em Outubro, mantendo um comportamento que se verifica, pelo menos, desde Março (mais aqui)"
2/ "O Brent do Mar do Norte, negociado em Londres, sobe 0,29% para 108,20 dólares por barril (mais aqui)
3/ "Diferença entre preço do gasóleo e gasolina não era tão pequena desde Janeiro de 2009 (mais aqui)"
Esquecendo o gasóleo, Brent a menos de 110 Dólares e gasolina à volta de 1,5€ ????
"Brasil ultrapassou o Reino Unido em 2011 e tornou-se a sexta maior economia do mundo. O jornal The Guardian escreve que a queda do Reino Unido se deve à crise financeira de 2008 e à consequente recessão, enquanto a economia brasileira beneficiou das exportações para a China. O estudo conclui ainda que a queda do Reino Unido no ranking das maiores economias continuará nos próximos anos, com a Rússia e a Índia a empurrar o país para a oitava posição (mais aqui)".
1/ "O número de agregados com ambos os elementos do casal no desemprego não parou de aumentar, desde que o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) começou a recolher estatísticas sobre o tema, há um ano. Em Novembro, havia 5.649 casais naquela situação, o dobro do mesmo mês do ano passado (mais aqui)"
2/ "Na perspectiva da CIP, a criação de emprego na actual conjuntura torna imperiosa a introdução de maior flexibilidade ao nível da racionalização de recursos, quer na vertente da cessação do contrato de trabalho, quer no que toca à introdução de formas flexíveis de contratação (mais aqui)"
“O Natal não é um momento nem uma estação, senão um estado da mente. Valorizar a paz e a generosidade e ter graça é compreender o verdadeiro significado de Natal”
"Ontem foi um dia histórico. Menos pela saída do Estado Português do que pela entrada da China na EDP. A Europa está a ficar para tia, falida e pudica, de um mundo que agora gira entre Nova Iorque e Pequim. Portugal tomou uma opção: entrou nesse eixo. E isso abre um novo mar - um mar onde seremos as rémoras dos tubarões.
A privatização foi um "jackpot" para a EDP e para o Estado. Porque traz aquilo de que ambos mais carecem: capital. O capital sem pátria, que preferíamos que fosse nosso, mas nosso não há. Há este, é pegar ou largar. Nós pegámos. A dependência tornou-nos pragmáticos: andamos a aprender com os angolanos. Mas a China é outra coisa: é um potentado. E quanto a proselitismos, basta olhar para a Zona Euro. O dinheiro chinês é o mesmo dinheiro que a União Europeia e o FMI foram mendigar há semanas para alavancar o Fundo de Estabilização da Zona Euro. Foi um vexame: a senhora Lagarde e o senhor Regling levaram tampa. Portugal fechou negócio. A diferença não é o espaço geográfico, é ser capital para investimento em vez de capital para pedinte.
É claro que os chineses são um problema, mesmo para quem não tem consciência. Não são uma democracia. Não respeitam direitos humanos. Nem ambientais. Mas a Europa hipotecou a consciência quando se tornou frágil. Olhai para Espanha: prepara-se para vender 10% da Repsol a chineses, a russos ou ao Qatar. Pois é: o país dos "campeões nacionais" está de rastos, com construtoras como a Sacyr a vender-se para pagar dívidas e bancos como o Santander a precisarem de aumentos de capital gigantes para tapar os buracos abertos pelos seus apregoados sucessos.
Sempre esperámos a ascensão dos BRIC. Nunca esperámos que ela acontecesse em simultâneo com o declínio acelerado da Europa e a erosão lenta dos Estados Unidos: a quebra do mundo ocidental. E agora, por muito que nos custe, e custa, vamos pedir dinheiro a países pobres onde há muitos ricos. Países de petróleo, da abundância de recursos naturais, países como a China. Que não é uma democracia. Que emergirá como nova potência mundial para uma nova bipolaridade. Sem disparar um único tiro.
A Three Gorges capitaliza e financia a EDP, salvando-a de uma dívida preocupante em tempo de maus "ratings". Mais: a China traz fábricas, financia bancos, anuncia participar na solução do BCP. Mas nós, sobretudo, selámos uma aliança. Não com o Diabo. Não com qualquer anjo. Passos Coelho foi corajoso - e temerário.
É preciso garantir que tudo o que foi anunciado será cumprido - há razões para ser céptico em relação aos chineses. Se for, seguiremos no lastro. Para África, inclusive. E para o Brasil. É esse o nosso "interesse": o "mercado de língua portuguesa", de que falava o primeiro-ministro há dias. A PT vale pelo Brasil, a EDP vale pelo Brasil e pelas renováveis, a TAP vale pelo Brasil e África, a Galp vale pelo Brasil e Moçambique, o BPI vale por Angola. É o nosso factor competitivo, foi o nosso destino, a solução de escape enquanto falidos.
Os chineses investem em ciclos longos e actuam em rede. Percebemo-los mal e vamos ter de aprender a dialogar com eles, ou seremos enganados. Mas agora, numa galeria longínqua em Pequim, já nos olham como chinesinhos, seus aliados.
Angela Merkel deve ter aprendido ontem uma lição. Isto não está a acontecer a Portugal, está a acontecer à Europa, paralisada nas suas pequenas ordenanças. E nós? Nós estamos a ver se nos salvamos, desesperadamente procurando fora da Europa o que a Europa não nos consegue providenciar. Portugal não se vendeu porque não se vende o que não se tem. Bem-vindos ao mundo novo, ele é pouco admirável mas segue em lentas translações. Correr riscos é melhor do que morrer devagar."
"Nas últimas décadas, uma das principais forças propulsoras da actividade económica mundial foi, consensualmente, a globalização. Progrediu em duas frentes: no mercado de mercadorias e serviços e no mercado de capitais. Muito embora percepcionada maioritariamente de forma positiva, a actual turbulência tende a ter evidenciar a dualidade deste fenómeno.
Comecemos pela vertente dos bens. Nas economias avançadas, os consumidores ficaram deliciados quando puderam adquirir t-shirts, ecrãs de plasma, computadores portáteis ou telemóveis a preços crescentemente mais baixos, descurando suas implicações. A deslocalização da produção física para as economias emergentes, mantendo, nas economias avançadas, o trabalho maioritariamente intelectual, promoveu a queda de preços do produto final em resultado de menores custos de produção, sobretudo ao nível do trabalho. Como resultado, o preço do produto final caiu, arrastando a remuneração dos factores produtivos nas economias desenvolvidas.
Se se vende o mesmo bem a um preço inferior ao do passado, não se podem continuar a remunerar os factores produtivos da mesma forma, a menos que, aquilo que normalmente se designa na gíria económica por produtividade total dos factores produtivos (capital e trabalho) tenha aumentado muito significativamente: ou seja, se se consegue fazer mais com menos. Contudo, as estatísticas sugerem que, nos últimos anos, embora se consiga fazer muito mais que no passado, necessita-se praticamente do mesmo para obter cada unidade. Por conseguinte: os preços baixos do produto final sobem na cadeia produtiva, contagiando lucros e salários. Efectivamente, nos últimos anos, a remuneração do factor capital, considerando a evolução das taxas de juro ou os ganhos médios dos principais índices bolsistas mundiais, tem declinado. Pelo lado dos salários, nas economias desenvolvidas, os progressos têm sido limitados e as quedas tendencialmente agravar-se-ão, porque o impacto do abaixamento de preços do produto final induzido pela globalização ainda não se encontra totalmente reflectido no rendimento do factor trabalho.
Do lado do mercado de capitais: associado ao deslocamento de unidades fabris estiveram fluxos de capital, primeiramente sob a forma de investimento directo. As economias, para suportar o crescimento à custa de exportações ou para colmatar falta de poupança face às necessidades de investimento, favoreceram a intensificação de fluxos de capitais e uma grande interconectividade de sistemas financeiros. Como consequência, reforçaram a volatilidade dos mercados de capitais, acentuando a tendência esquizofrénica e de comportamento de manada dos investidores. A livre circulação de capitais deveria assegurar a sua melhor alocação; porém, como a crise da dívida subprime nos EUA ou a crise europeia ilustram, pode intensificar comportamentos disfuncionais, geradores de bolhas e explosões destrutivas.
No mundo desenvolvido, os rendimentos de capital e de trabalho encolhem. No seu contraponto, nas economias emergentes, significativas camadas da população escapam anualmente à armadilha da pobreza endémica, alcançando serviços mínimos de saúde, educação e justiça, que ainda podem ser postos em causa. Ao mundo actual, apresentam-se duas alternativas para superar este aparente predomínio do lado negro da globalização: ou se regressa ao passado, impondo-se proteccionismo sob a forma de barreiras comerciais e controlo de capitais; ou se opta por uma solução mais cooperativa, exigindo maior vigilância nas práticas produtivas e nos fluxos de capitais, com cedências mútuas.
Finalmente, uma vez que a inovação é o principal dínamo da produtividade total dos factores é também a única forma de assegurar aumentos sustentáveis de rendimento dos factores de produção. Apesar dos progressos tecnológicos recentes, a produtividade tem crescido relativamente pouco no último quartel. Os grandes saltos de produtividade tendem a estar associados a mudanças de paradigma tecnológico: a máquina a vapor no séc. XVIII ou o motor de combustão interna no séc. XIX. Por enquanto, as novidades tecnológicas dos sécs. XX-XXI ainda não produziram o salto de produtividade proporcionado pelos exemplos de épocas passadas. Partindo de níveis tecnológicos mais altos, inovar revolucionariamente pode ser mais difícil; porém, viver nos tempos de maior qualificação da força de trabalho mundial dará certamente frutos."
"Rangel sugere agência nacional para ajudar portugueses que queiram emigrar (mais aqui)".
Rangel devia dar o exemplo dele. Emigrou para Bruxelas, vive modestamente numa pensão nos subúrbios, desloca-se a pé para o trabalho e, quando visita Portugal, vem de carro.
E eles são tão amiguinhos de Portugal (mais aqui e aqui)…
"Para o Padre António Vieira, emigrar era um desígnio nacional. Os portugueses deveriam emigrar para expandir o cristianismo. Eça de Queiroz era mais sibilino: "Em Portugal, a emigração não é, como em toda a parte, a transbordação de uma população que sobra; mas a fuga de uma população que sofre". Pedro Passos Coelho inventou uma nova doutrina mobilizadora nacional: emigremos, o último a fugir é galinha!
O primeiro-ministro, que usou a frase errada no momento errado, será no futuro conhecido não como o Lavrador ou o Príncipe Perfeito, mas como o Desmobilizador. Passos Coelho conhece os dados: só no último ano emigraram 40 mil portugueses. No passado, Portugal sempre foi uma fábrica de emigrantes: para o Brasil, para África, para os EUA, para França. Todos em busca de um futuro que aqui nunca atingiriam. Há portugueses a mais? Não: existe é uma elite incapaz de tornar Portugal num país decente. Daí que, ao longo dos séculos, se tenha pedido aos portugueses em excesso para emigrar, de forma educada ou a pontapé.
Os portugueses podem ser cidadãos do mundo, como sonhava Agostinho da Silva, mas também o são porque são infelizes na sua terra. A emigração pode ser a solução. E será para muitos portugueses. Mas a questão não pode ser colocada diletantemente como fez Passos Coelho. Tem de ser enquadrada, dentro de uma política que possa envolver o Estado de forma concertada. De outra forma parece a política do salve-se quem puder. Seja como for, a emigração surge como o evidente falhanço da elite que se mostra incapaz de gerir sensatamente Portugal. Navegar é preciso, viver não é preciso?"
"O pânico começa a tomar conta da Zona Euro. Itália e Espanha foram apanhadas no turbilhão. Bélgica escorrega para a zona de perigo. À medida que França é arrastada, o crescente fosso entre as taxas de juro implícitas das suas obrigações e as da Alemanha está a testar seriamente a aliança política responsável por seis décadas de integração europeia.
Mesmo os nadadores mais hábeis, como a Holanda e a Finlândia, estão a ser esgotados pela corrente. Os bancos debatem-se para se manterem à tona da água – o capital dá-lhes pouco suporte com a liquidez a secar – enquanto os negócios dependentes do crédito também têm problemas. Todos os sinais apontam para uma recessão na Zona Euro.
Se nada for feito, o pânico relativo à solvência soberana vai provocar incumprimento: da mesma forma que um banco saudável pode ir à falência se sofrer uma corrida aos seus depósitos, mesmo o governo mais digno de crédito fica em risco se o mercado se recusar a refinanciar sua dívida. Mal se conseguem imaginar as consequências: Uma catadupa de incumprimentos soberanos e insolvências bancárias, uma depressão devastadora, o colapso do euro (e mesmo da União Europeia), contágio global e instabilidade política potencialmente trágica. Então, porque não estão os responsáveis políticos a fazer tudo o que for preciso para evitar uma catástrofe?
Desde que as taxas de juro implícitas na dívida de Itália atingiram um pico, no dia 1 de Agosto, eu acredito que só um compromisso sem reservas do Banco Central Europeu, para manter os juros implícitos na dívida dos governos solventes em taxas sustentáveis, pode acalmar o pânico e criar a margem de manobra necessária para implementar reformas que dinamizem a confiança. Tudo o que aconteceu entretanto veio confirmar esta perspectiva.
Agora que a crise atingiu os países do núcleo da Zona Euro, tornou-se evidente que os recursos necessários para apoiar os países mais frágeis excedem a capacidade orçamental dos países mais fortes. As inovações financeiras não podem disfarçar isso, enquanto o compromisso de maiores ajudas arriscam arrastar todos os países. Juntá-los todos no mesmo bote de salvação – através da emissão de obrigações suportadas em conjuntos pelos países da União Europeia com garantias adicionais – não é legalmente viável, por agora, e seria politicamente tóxico se fosse tentado de forma prematura. Nem pode uma crise de natureza sistémica ser resolvida pela acção individual dos governos – quanto mais não seja porque o pânico está a ultrapassar a capacidade de resposta do poder político. Agora, só o BCE tem os recursos ilimitados com que se pode salvar a Europa do abismo.
O BCE tem uma fundamentação sólida para actuar: assegurar a transmissão suave da política monetária, prevenir uma depressão que iria levar à deflação e evitar o colapso do euro. Ainda assim, tem-se recusado a fazê-lo escondendo-se por trás de um labirinto legal.
É um dado que o Artigo 123 do Tratado de Lisboa proíbe o BCE de comprar obrigações directamente a organismos públicos, mas intervir no mercado secundário é permitido. Há muito que o BCE o tem feito através do Programa de Compra (PCA). Onde é que diz, no tratado, que expandir o PCA é proibido? De facto, um compromisso sem reservas e credível para conter os prémios implícitos nas taxas de juro iria exigir menos compras do BCE do que o actual programa, que é limitado e temporário.
Infelizmente, muitos alemães, em particular no banco central da Alemanha (“Bundesbank”), detestam a ideia de intervenção do banco central. Isto, porque reaviva memórias de 1923, quando a autoridade monetária de então (Reichsbank) imprimiu dinheiro para financiar o endividamento do governo, com a hiper inflação resultante a destruir as poupanças da classe média e a ascensão ao poder de Hitler, uma década mais tarde. Ainda assim, os alemães deveriam recordar que foi o pânico financeiro provocado pela corrida ao banco austríaco Creditanstalt, o resultante abrandamento e o fraco senso comum dos políticos alemães, que abriram caminho aos nazis.
Mais do que impedir a acção, a história justifica-a. Além disso, não existe razão para entrar em pânico em relação à inflação quando o crescimento monetário é baixo, o crédito bancário está a contrair e as pessoas estão poupar o dinheiro e não a gastá-lo. Além disso, quaisquer compras do BCE podem continuar a ser esterilizadas.
Outra objecção é que a intervenção do BCE iria mitigar a pressão sobre os governos de Espanha e Itália no sentido de implementarem reformas. Todavia, nas actuais circunstâncias, os reformadores não têm tempo granjear credibilidade e, se a Zona Euro colapsar, a porta estará aberta a extremistas populistas. Por isso, porque não chega o BCE a um acordo com os governos solventes para manter as taxas de juros baixas desde que eles adiram aos seus programas de reforma?
Os líderes da Zona Euro podiam ainda determinar modelo para a emissão de obrigações de dívida conjunta dos países da Zona Euro, sujeito a condições estritas e associado a um mecanismo para assegurar a prudência orçamental. Isto daria um incentivo adicional para que os governos que se queiram qualificar a implementarem as reformas necessárias, ao mesmo tempo que permite ao BCE e aos mercados que os governos continuam empenhados em fazer o euro funcionar.
Tempos excepcionais exigem soluções excepcionais – e eu creio que o BCE vai sentir-se obrigado a agir se a Zona Euro for empurrada para junto do precipício. Mas quanto mais o BCE adiar, maior será o impacto nos empregos e poupanças das famílias, maior será o dano duradouro para a confiança dos investidores no sistema financeiro da Zona Euro e maior será o risco de uma contrariedade catastrófica. O momento para agir é agora. "
"Passos Coelho: “Queremos cobrar menos impostos em 2015 (mais aqui)"
Pois... Seguindo as sugestões de emigração e com a actual crescente taxa de desemprego, em 2015, só os “tais” vão estar em condições de pagar impostos…
"Os professores na Grécia estão preocupados com os vários casos que se têm registado nos últimos meses de alunos que desmaiam nas escolas por fome e desnutrição e já alertaram as autoridades para o caso. Os meios de comunicação deram conta do caso, mas as notícias foram catalogadas de exageros jornalísticos até que, há cerca de duas semanas, um rapaz de 13 anos desmaiou num colégio da Heraklión, a capital da ilha de Creta.
Quando a diretora avisou a mãe, que trabalha a tempo parcial numa empresa municipal e tem quatro filhos, ela disse que a sua família não comia nada há dois dias.
O assunto transformou-se em debate nacional e a imagem da comida a ser dividida nas escolas despertou, entre os mais velhos, o pesado inverno de 1941-42 quando, depois da ocupação nazi, mais de 300 mil pessoas morreram de fome (mais aqui)"
"Passos Coelho sugere a emigração a professores desempregados. Portugal é um dos países da Europa com menores níveis de escolarização da população, segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano de 2011, publicado no mês passado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). (mais aqui)"
"Na terça-feira, Nordine Amrani, 33 anos, belga de origem marroquina, desatou a disparar uma espingarda e a lançar granadas numa praça de Liège. Matou quatro pessoas e feriu cento e tal antes de se suicidar. Posteriormente, descobriu-se o cadáver de uma mulher na casa do sujeito. Face a isto, toda a gente, desde as autoridades até aos media, foram céleres no diagnóstico: o sujeito era um infeliz que cedo perdeu os pais e passou por muitas dificuldades, conforme atesta um currículo repleto de tráfico de drogas, posse de armas, receptação de bens roubados e abusos sexuais. Para cúmulo, sentia-se fragilizado e perseguido pela polícia, vá lá saber-se porquê. A imprensa evitou cunhar de assassino um homem que os amigos definiram como "calmo". Confrontado com a avalanche de justificações psico-sociológicas do massacre, perdão, do incidente, o promotor-geral de Liège garantiu: "Tentaremos compreender." Se tentarem o bastante, ainda acabarão a condenar as vítimas da praça, a sociedade belga e o hemisfério norte em peso por não terem correspondido às expectativas do pobre atirador.
Se calhar é impressão minha, mas não dei por cautelas semelhantes na reacção pública ao gesto de Gianluca Casseri, italiano de 50 anos que, horas após o massacre, perdão, o incidente na Bélgica, abriu fogo em dois mercados ao ar livre de Florença, matou um par de vendedores ambulantes, feriu um terceiro e depois suicidou-se tipicamente. Aqui não houve lugar para histórias de vida, melodramas familiares, eufemismos, relativismos, explicações e contextos sociais: dado que os vendedores em questão eram imigrantes senegaleses, percebeu-se num ápice que Casseri agiu por racismo. Aliás, certas fontes de informação depressa sugeriram as alegadas ligações do assassino (neste caso o termo usou-se com abundância) a uma associação de extrema-direita. As fontes menos contidas, entre as quais a BBC, descreveram-no enquanto um "solitário" e um "conhecido activista de extrema-direita". O presidente da câmara florentina chamou-lhe "lúcido mas louco". Também não faltou quem o apelidasse de "ultraconservador" e só por acaso e um triz ninguém o acusou de neoliberalismo. Ou acusou e eu não reparei.
Se a diferença de tratamento não se deve à quantidade de homicídios, a diferença passa decerto pela qualidade: ou um homicida inspira acrescidas mesuras quando é árabe, ou as vítimas inspiram mais pena quando são negras. Se o primeiro ou as segundas incorrerem na infâmia de pertencer à etnia (digamos) dominante, os critérios de avaliação subvertem-se imediatamente. Os ocidentais matam por crueldade, os restantes acabam "conduzidos à delinquência". Os ocidentais morrem sem motivo, os restantes morrem devido ao ódio ou à incúria. Os ocidentais sacrificam-se em prol da exaltação paternalista do "outro", os restantes não devolvem a cortesia. "
Uniões, desuniões, crises e cimeiras "on the rocks"
"(Onde o autor desenvolve um poderoso raciocínio sobre o que se vem passando na União Europeia, seja o aprofundamento das relações entre países membros, seja a crise do euro e das dívidas soberanas, concluindo, também com grande poder intelectual, que nada ocorreu que não estivesse à vista, e que a cimeira do "tudo ou nada" há-de ser sempre a seguinte). Depois de 247 cimeiras, mais coisa menos coisa, até eu já tinha concluído que, com estes actores e neste contexto, a União Europeia não resolve o que quer que seja com golpes dramáticos. A coisa lá vai seguindo no seu vagar e nem o facto de haver uma crise aflitiva estimula os dirigentes. Surpreendente? Nada disso, pois os pontos de vista e os interesses de curto prazo divergem profundamente e o antigo sistema em que havia uma Alemanha, cheia de sentimentos de culpa e desejos de regressar à Humanidade, a pagar, e uma França, com manias de "grandeur", com enorme empenho de dirigir e fazer andar, esse sistema, pura e simplesmente acabou.
Neste segmento histórico, a confederação europeia , como entidade, não passa de um magma enorme e pegajoso ao sabor da inércia pois andou demais com pernas a menos. Dramático? Nada disso, visto ser indiferente, para efeitos de distância, marchar depressa no início e devagar mais para a frente ou o contrário. Este modelo de percurso, mais oportunístico que planeado, é afinal a maneira mais inteligente de prosseguir, porque nem a ordem unida não se coaduna com a democracia nem a unanimidade se ajusta à diversidade.
Eu, que não acredito em milagres, acho completamente milagroso que inimigos perenes , rivais de estimação e gente que se encontra casualmente construam todos uma unidade viável, embora complexa, e chegue aos cinquenta anos de convívio (contando com o "namoro"), nesta santa desarmonia harmoniosa. Claro que temos uma crise maior para resolver e isso é que cria ansiedade, mas de resto tudo vai andando como dantes, quartel general em Abrantes. Conformista? Nada disso, pois ainda há bem pouco tempo andava tudo à turra e à massa com a Convenção Europeia, o remendo do Tratado de Lisboa, referendos "à la carte", para não falar que a União até tem um Presidente escolhido na base do menor denominador comum e que só muito empurrado aceitou o encargo e à terceira vez. Isto tudo para dizer que ainda não esbarramos no iceberg e isso nem sequer vai acontecer, mesmo que para uma Merkl apareça sempre um Cameron "odd MAN out" e haja até quem pense que anões dão murros na mesa para intimidar gigantes.
Mas passando ao que interessa no concreto, e isso é o problema do euro e das dívidas soberanas, é de dar nota de 60, numa escala de 100, no que toca à bondade dos resultados da cimeira dos dias 8/9. Surpreendente? Nada disso, mesmo que os mercados, no dia em que escrevo, estejam no vermelho cor de sangue e eles é que sabem, embora eu fique muito sentido por aparentemente ligarem mais ao que diz a Moody's do que ao que eu digo. Um resultado mede-se por relação a uma expectativa e a verdade é que o realismo não prognosticava nada de particularmente positivo. Logo, o simples facto de se ter saído sem um desastre já é um bem, pois a linha de água estava no ponto de se manter tudo igual , mas aconteceram pequenos apontamentos bons e nenhuma nota insanavelmente menos. Os mercados estão negativos e o euro marginalmente abaixo dos 1,3 USD mas isso é porque a perspectiva de falta de crescimento na Europa implica uma muito maior possibilidade de incumprimentos de dívida soberana e porque a falta de resposta do Fed aos malvistos indicadores económicos nos EUA aumenta o pessimismo.
De resto, depois do encontro romântico Merkozy num motel a 20 km de Bruxelas no dia 5, segundo dizem, via-se que a linha alemã ia vencer e nem era por jogarem kriegspiel ou por o Sarkozy preferir alemãs loiras e buchas a italianas morenas e longilíneas. Com 27 na União, 17 no euro e a Grã-Bretanha a deixar o continente permanentemente isolado(1), "haja quem mande!", como se dizia noutros tempos que não se podem nomear, para mais com enorme maioria. E isso vai havendo, mesmo sem bigode de vassoura. Perguntar-se-á se a direcção é boa, mas algo eu sei: pode-se escrever a regra de oiro quanto aos défices orçamentais e às dívidas dos países nas constituições ou nas portas dos frigoríficos, mas fazer como os ganhadores não há-de ser má ideia.
(1) Não consigo resistir a contar a piada do chefe da oposição ao PM britânico, no parlamento local: " Vc. conseguiu emitir um veto que não parou coisa nenhuma".
"Criou-se uma obsessão típica de Ícaro: se o limite ao défice de 0,5% for inscrito na Constituição o sol brilhará para todos nós. Em Portugal os partidos do arco do poder dividem-se entre achar que a regra deve estar na Constituição ou numa lei paraconstitucional. No fundo o que os divide é a forma e não o conteúdo. PSD, PP e PS gostam de ser humilhados em público. E ainda discutem quem deve ter a honra de escolher a humilhação. É um caso de esquizofrenia mas já nada admira neste país que admite ter uma folga orçamental podendo com isso injectar dinheiro na economia e não o faz enquanto a troika não der a bênção.
Os 0,5% são a maquilhagem para a humilhação vergonhosa que a Alemanha quer legar aos povos do sul da Europa. Institucionalizando uma corrente de pensamento que atolará os países mais fracos numa recessão sem fim. Que queremos: um fim horrível ou um horror sem fim? Walter Bagehot, liberal e fundador do "The Economist" costumava dizer: "Um dos maiores prazeres da vida consiste em fazer o que os outros lhe dizem que não pode fazer".
Esta tentativa de domesticação não resolve o essencial: a liquidez do sistema e o crescimento económico. O caso não é muito grave: sabe-se que a Constituição portuguesa é um conjunto de generosas intenções que normalmente salvam as almas no momento em que não são cumpridas. O problema é que afogados em impostos, imersos no desemprego e sem uma luz de recuperação à vista, os portugueses precisam de esperança. E estes 0,5% parecem mais uma corda para se enforcarem. O termómetro da sociedade escalda. Mas a classe política continua a voar como Ícaro."
"Vamos privatizar empresas para as vendermos ao Estado de outros países. Teria graça se não fosse trágico. Mas pode ser que esta lição, definitiva, abra um pouco os olhos e exercite os neurónios a quem diz ser a elite portuguesa.
Fernando Pessoa era um grande poeta, mas era também um homem encantado com as questões da economia. Para ele, defensor do patriotismo activo, o nacionalismo não tinha a ver apenas com a fixação nas tradições nacionais. Para ele, o que era verdadeiramente importante era "nacionalizar todos os fenómenos importados". Ou seja, para ele, "a vitalidade de uma nação - a verdadeira e real vitalidade - mede-se pela facilidade, prontidão e eficácia com que se nacionaliza o importado". Estas palavras têm tudo a ver com um momento crítico, este, da existência de Portugal. Estamos a poucos dias do Estado alienar um dos seus últimos anéis: a EDP. Terminado este ciclo de privatizações, o Estado ficará com as suas gorduras mas deixará de ter bens apetitosos. É o fim de um ciclo.
Mas este fechar de portas a uma época tem a ver com duas incapacidades estruturais do País: acumular capital e investi-lo produtivamente. O problema não é de agora. É de há séculos, incentivado por uma Coroa que dominou a iniciativa económica e por uma República que lhe seguiu os passos. À sua sombra nasceram os homens e as empresas que viviam de rendas. O sistema político foi mesmo construído para existir com base no clientelismo e da dependência da sociedade civil face ao Estado. Com a expansão das actividades deste os recursos para a criação de rendas e clientes aumentou. Com isso nem criámos verdadeiros núcleos económicos potentes nem nacionalizámos as boas ideias que vinham do estrangeiro. O Estado é culpado, mas como dizia Filipe de Botton há dias numa lúcida entrevista ao "i", "O maior problema em Portugal é a classe empresarial. Somos pouco formados e pouco cosmopolitas". É uma frase mortal, mas que nos ajuda a compreender porque é que, para a privatização da EDP, só surgem empresas estrangeiras. Em Portugal não há músculo financeiro. Nem do Estado nem dos ditos "núcleos duros" da economia.
Não deixa de ser curioso que, dentro do nosso diletantismo liberal, coloquemos à venda uma empresa e sejam maioritariamente empresas estatais estrangeiras que se colocam à frente para comprar a EDP (a própria E.ON tem um aconchego generoso da Alemanha). Só prova que importámos o liberalismo económico como referência mas não o conseguimos nacionalizar a nosso favor. Vamos privatizar empresas para as vendermos ao Estado de outros países. Teria graça se não fosse trágico. Mas pode ser que esta lição, definitiva, abra um pouco os olhos e exercite os neurónios a quem diz ser a elite portuguesa. E que, na prática, tem demonstrado inúmeras dificuldades em demonstrá-lo.
Terminou, indiscutivelmente, o grande ciclo das rendas. Vão perdurar, como por exemplo nas auto-estradas (o Estado prendeu-se de mãos e pés a contratos leoninos que só defendem quem obtém as rendas, mas parece que nunca se descobrirão os culpados dessa sangria dos impostos dos portugueses). Mas é altura de a sociedade civil mais clarividente olhar à volta e pensar qual será a melhor estratégia, com um Estado cada vez menor, criar núcleos de riqueza e investimento nacionais para o futuro. Os accionistas estrangeiros vão trazer o capital para tapar o buraco das nossas contas públicas. Mas depois vão retirar os dividendos do que EDP e Galp andaram a construir pelo mundo. Fernando Pessoa dizia que, "só existem nações; não existe humanidade". E esse sentimento atento pode servir de alavanca para uma outra forma de olhar para a política e para a economia nacional. Sem pensar só nas rendas e no lucro imediato."
"O primeiro-ministro disse ao "Correio da Manhã" que o défice orçamental deste ano vai ficar abaixo de 4,5%. Isto com a inclusão da massa que virá do fundo de pensões da banca...
É uma boa notícia? Não. Nem para os mercados... nem para o cidadão comum. Para os mercados porque eles "descontam" estas falsificações. E olham para o que interessa: relação entre despesas e receitas normais (sem as extraordinárias).Ou seja, para eles o défice real está bem acima dos 5,9% com que nos comprometemos (esta falsificação até é capaz de piorar a nossa credibilidade – é a 4ª em dez anos...).
Mas também não é boa notícia para os cidadãos. Não, não é por causa das consequências daqui a 12 anos, quando a Segurança Social começar a pagar aos reformados da banca (altura em que terá de desencantar os 3,3 mil milhões que o Estado foi agora buscar ao baú para pagar dívidas). É por outra razão: é que em 2012 o esforço (pagamento de impostos e corte de despesa) que teremos de fazer para cumprir os 4,5% acordados com a Troika será o mesmo que... se o défice de 2011 não ficasse abaixo de 4,5%.
É uma conclusão lapalissiana, dirão alguns. Sim... mas para quem tem literacia financeira. Como o cidadão comum não a tem, não vai perceber por que o obrigam a ficar sem 50% do 13ª mês em 2012 e a fazer um esforço draconiano em 2012. Bem, sejamos honestos: não são apenas os que não têm literacia financeira. Mesmo os que a têm vão repetir até à exaustão que, à conta da folga do fundo de pensões, não seria preciso tributar o 13º de 2011. Por questões eleitoralistas? Sem dúvida: mas alguém está preocupado com o país?"
"Quando a Inglaterra era vitoriana e o Sol nunca se punha no Império Britânico, um jornal londrino fez esta manchete (ou, se não fez, publique-se a lenda): "Tempestade no Canal da Mancha - o Continente isolado!" Ontem, o jornal popular Sun fez outra manchete: "Toma, Europa!", com Cameron fazendo de zé-povinho, mas, como este não é conhecido na "pérfida Albion" (como se dizia da Inglaterra no tempo de Bordalo), o tablóide pôs o primeiro-ministro vestido à Winston Churchill. Demasiadas tolices! Desde logo, o Reino Unido, hoje, é curto (um só meridiano horário resolve-o). Depois, é mesmo só uma ilha, e nas tempestades quem fica isolado é ela. E, finalmente, um primeiro-ministro é um primeiro-ministro e outro é outro, mesmo quando são os dois britânicos.
Dito com mais crueldade, ontem, pelo jornal Guardian (também britânico mas sem gajas nuas na pág. 3): "Ficar sozinho contra todos pode ser um acto de coragem, mas também pode ser uma cretinice. É o caso de Cameron." David Cameron demonstrou na sexta-feira ser um exagero de casting, colocado acima das suas possibilidades. Deixemos os jornais pró e contra da sua ilha, para sermos mais frios, e colhamos opinião de fora. Por causa da actuação de Cameron na Cimeira, o americano New York Times resume: "Big Looser [O Grande Derrotado]". Acertando as horas na velha manchete: "Continua a tempestade do euro no Continente - e a Grã-Bretanha, isolada, já não conta para nada."
Poderia ser só não estar de acordo, mas não, é estar "desapontado". Poderia ser só "desapontado", mas não, é "amargamente desapontado". Poderia ser de adversário, mas não, esse comentário contra o veto de David Cameron é do seu parceiro de aliança, Nick Clegg. Os dois são os líderes da coligação que governa o Reino Unido. Este ano europeu já viu várias quedas de Governo, todas explicadas pela crise do euro. O que se anuncia na Grã-Bretanha é novo, o país nem pertence ao euro. "Estou feliz por não estar na Zona Euro", disse Cameron na cimeira. Os líderes que estão na Zona Euro não estarão também muito felizes em lá estar, e têm demonstrado grande incapacidade em resolver esse desconforto.
Mas, além da falta de soluções, o que 2011 tem revelado é a vontade dos líderes europeus em não perderem a União Europeia: o ano já vai em oito cimeiras e, se isso significa que se procura a rolha desordenadamente, revela também que se quer procurar a rolha. Os líderes europeus do continente têm uma coerência, estão na União Europeia e querem lá estar - para lá do nevoeiro do euro, eles julgam adivinhar um destino. E isso é comum entre os grandes partidos que governam e os que estão na oposição. Cameron tem um problema: tanto os seus aliados liberais-democratas como a oposição trabalhista não partilham a sua ideia de não querer estar onde estão, na União Europeia. Mais facilmente se resolve a questão do euro que essa contradição."
"A EDP é de todos", diz o anúncio. Mas está quase a ser toda deles. Porque não estão à venda 21,4% mas sim o controlo da EDP. E porque, não se sabendo ainda se a empresa será chinesa, alemã ou brasileira, sabe-se o que ela não será mais: portuguesa. Com um paradoxo notável: três dos quatro candidatos são detidos por Estados. Não é uma privatização, é um negócio. Com todo o direito a sê-lo.
Este será o maior negócio deste ano - e dos próximos. Esta terça-feira, os accionistas da EDP pronunciam-se sobre as propostas, depois a Parpública decide, a decisão vai quinta-feira a Conselho de Ministros, que apurará um ou dois finalistas para a negociação final. Até lá, todas as placas tectónicas do poder estão em movimento.
Como o Negócios revelou em primeira mão, os chineses da Three Gorges oferecem o preço mais alto (€3,45 por acção, ou quase 2,7 mil milhões de euros pelos 21,4%), seguidos dos brasileiros da Eletrobras e dos alemães da E.ON. A oferta menor é dos também brasileiros da Cemig, que parecem afastados da "pole position". As três melhores propostas estão separadas, no entanto, por pouco: cerca de 200 milhões de euros.
As propostas envolvem muito mais do que dinheiro. Envolvem projecto industrial, investimento conjuntos, modelo (e nomes) para a gestão. Mas deixemo-nos de peneiras: um faminto não discute a ementa. É o dinheiro que hoje mais pesa. O abundante dinheiro chinês. O influente dinheiro brasileiro. O poderoso dinheiro alemão.
Se Angela Merkel pegar no telefone, dificilmente Passos Coelho dirá que não. Se o disser, di-lo-á também a Vítor Gaspar, que já vê da janela do seu gabinete o camião de dinheiro que os chineses prometem estacionar no Terreiro do Paço. 2,7 mil milhões pela EDP mais crédito ao Estado e aos bancos portugueses, num total de mais 7,5 mil milhões. De caminho, ainda entram no BCP, que há três porfia um accionista chinês.
A parada está alta. A China quase suborna Portugal com crédito. O Brasil mancomuna-se com os espanhóis da Iberdrola para dominar. A Alemanha convida António Mexia a Frankfurt e sedu-lo com funções na própria sede. Não há anjos nesta história, nem nunca haverá. Apesar de ter uma dívida que já é o dobro do seu valor em Bolsa, a EDP é, como se vê, apetecível, com produção renovável e entrada no Brasil e EUA.
Há dinheiro para o Estado, que venderá 21,4% e, mais tarde, os últimos 4%. Há dinheiro, também, para o núcleo duro BES, Grupo Mello e BCP, que está mortinho por vender a bom preço. Não tem o queijo mas tem a faca na mão: depois da privatização há Assembleia-Geral da EDP onde o seu voto é importante. Quem entrar tem de entrar com e não contra este núcleo. Mais tarde se fará a compra.
É por isso que a EDP vai ser outra coisa. Podem parti-la como partirão a Cimpor, torná-la uma filial, envergá-la como centro de renováveis ou ponta-de-lança na Europa. Mas no fundo assistimos à estrutura de poder que dominou Portugal - o Estado e os "núcleos duros" - a venderem o que podem para pagar as suas dívidas.
Three Gorges, Eletrobras e Cemig são empresas estatais e mesmo a E.ON, não o sendo, já envolveu chefes de Governo no negócio. A operação é financeira e política, e ainda vão arranjar forma de dizer que estão preocupados com os investidores minoritários e com os clientes, quando estão sim preocupados com continuar a cobrar impostos em Lisboa.
Este é o último "negócio da China" do Estado Português. Mas pode ser, também, o primeiro negócio com a China, que ainda não pôs a mão nas energias na Europa e está disposta a iniciá-lo em Portugal. Se os chineses ganharem, teremos um aliado poderoso e temido: o Estado Chinês, que é controlado pelo Partido Comunista Chinês. Estes são tempos de enormes ironias históricas: ainda ouviremos este Governo, que se diz liberal, não só a nacionalizar bancos como a dizer que é comunista desde pequenino."
"A realização de cimeiras sucessivas e as longas horas de discussão consumidas a tentar encontrar soluções para a crise das dívidas soberanas poderia indiciar que o mais difícil para a Zona Euro é encontrar consensos. É uma ideia errada. E a reunião dos líderes europeus no final da semana passada provou-o.
Descontada a dissidência do Reino Unido, que levou David Cameron a regressar a casa de mãos vazias e sob a ameaça de fracturas dentro da coligação que sustenta o seu Governo, os restantes parceiros europeus comeram aquilo que lhes foi colocado no prato. Nem se esperava que os acontecimentos se desenrolassem de outra forma.
A posição negocial dos países que já estão sob a tutela da ajuda externa e a daqueles, como Itália ou Espanha, que podem vir a necessitar de quem se substitua a mercados relutantes em ceder financiamentos, era demasiado fraca para poder influenciar outro desfecho. Em contraste, a Alemanha, que é o derradeiro pilar que pode segurar um edifício do euro que está sob o risco de ruir de forma estrepitosa, tinha todos os trunfos na mão e limitou-se a fazer o seu jogo. Acontece que este facto não garante a sobrevivência e a saúde da moeda única.
A forma como a Zona Euro chegou ao ponto de agonia em que se encontra pode ter várias explicações, mas uma das mais importantes está na circunstância de os compromissos que a fundaram terem sido subestimados. A escassa seriedade com que as regras de disciplina financeira do pacto de estabilidade e crescimento foram encaradas são um exemplo.
O documento exigia que os estados integrantes do euro apresentassem saldos nulos ou excedentes orçamentais que, em tempos de crise económica, poderiam deslizar até 3% do produto. Salvo raras excepções, as normas nunca foram cumpridas. E o facto de os governos sempre terem dado mais relevo ao cumprimento de um défice igual, ou apenas ligeiramente inferior, ao nível máximo admitido, apresentando-o como uma vitória estrondosa quando se tratava apenas de meia conquista, revela como as regras foram desvalorizadas, numa prática que contou com a cumplicidade geral. Assumir os objectivos pela exigência mínima, contentava toda a gente.
Ao impor regras mais duras e sanções mais pesadas e automáticas, Berlim passou, agora, a mensagem de que quer mais esforços de consolidação e rigor nas finanças públicas, antes de aceitar a utilização da ansiada bazuka que colocaria a Zona Euro a fazer emissões conjuntas de dívida e o Banco Central Europeu a representar um papel de financiador de último recurso que os fundadores do euro lhe rejeitaram.
Angela Merkel sabe que a relação com os seus parceiros do euro é como um casamento. A realidade já lhe provou que não basta que todos assinem um papel para que a fidelidade ao que lá está escrito fique garantida. À segunda, é preciso assinar, mas também é necessário tempo para que se fique a saber se, desta vez, os compromissos serão levados a sério. Entre líderes de boa fé e dotados de sentido de Estado, nem deveria ser necessário levar as novas regras de prudência financeira à Constituição. Quando a credibilidade se perde, demora a ser reconstruída.
As cautelas alemãs são legítimas e compreensíveis. Mas resta um problema imediato: se não há dinheiro, também não há tempo. Mais do que promessas renovadas, os financiadores da Zona Euro querem saber que risco têm os seus investimentos e que expectativas podem alimentar de que o dinheiro que emprestam será reembolsado. Nesta matéria, se os mercados queriam uma bazuca, a Alemanha apenas autorizou que lhes fosse fornecida uma bisnaga."
"A esperança de vida dos alemães com rendimentos mais baixos diminuiu fortemente nos últimos dez anos, indicam números do governo federal publicados hoje. O especialista em reformas no seio do grupo parlamentar Die Linke, Matthias Birkwald, sublinhou em comunicado que na Alemanha «o aumento da idade da reforma para 67 anos foi justificado pelo aumento da esperança de vida».
Os números publicados hoje mostram também que apenas 26,4 por cento das pessoas com idades entre os 60 e os 64 anos tinham em Março de 2011 um emprego sujeito a descontos para a segurança social e menos de 19 por cento tinham um emprego a tempo inteiro.
Segundo Birkwald, estes números indicam que o aumento da idade de reforma «não representa senão um grande plano de redução das reformas que atinge antes de tudo os rendimentos mais fracos e os daqueles que têm os empregos mais peníveis (mais aqui)».
"Um em cada cinco trabalhadores sofre de perturbações mentais. O relatório, intitulado "Doença no trabalho? Mitos e realidade sobre saúde mental no trabalho", revela que as doenças mentais são um problema crescente no local de trabalho e estão a afectar a produtividade das empresas (mais aqui)"
1/ "Crise da dívida anula impacto do corte de juros na Euribor (mais aqui)"
2/ "A agência de notação financeira Fitch considera que a Cimeira Europeia "fez pouco para aliviar pressão sobre a dívida soberana da Zona Euro (mais aqui)".
3/ "O presidente do "Bundestag", Norbert Lammert, manifesta dúvidas sobre a constitucionalidade das medidas acordadas na Cimeira Europeia da última sexta-feira. Estas podem ser chumbadas pelo Tribunal Constitucional, teme (mais aqui)"
4/ "Um economista sénior do UBS disse achar inevitável que um dos países da Zona Euro com "rating" máximo venha a perder essa classificação. “É apenas uma questão de quando é que a S&P ou outra agência de ‘rating’ decide puxar o gatilho (mais aqui)”
5/ "Os principais mercados europeus estão hoje a cair pela quarta vez em cinco dias, penalizados pelo anúncio da Moody’s de que irá rever a classificação de crédito de todos os países da União Europeia, dado que a Cimeira da semana passada não apresentou medidas políticas decisivas para lidar com a crise do euro (mais aqui)"
"Ofuscados pelo mediatismo do par “Merkozy”, e do desalinhamento britânico, a maioria dos analistas não tem prestado a suficiente atenção a outras evoluções importantes na política da União Europeia.
Uma delas é o alinhamento entre as instituições. Contrariando as previsões pós-Tratado de Lisboa, os Presidentes do Conselho Europeu e da Comissão Europeia construíram uma verdadeira parceria política. Neste momento, são eles que funcionam como contra-peso ao "directório franco-alemão".
No último Conselho Europeu, as propostas Van-Rompuy-Barroso constituíram a única alternativa às propostas de Merkel e de Sarkozy. Não foram aceites na totalidade, mas marcaram as conclusões finais de um modo indiscutível. Nomeadamente, evitaram uma divisão maior da União entre os "Euro 17" e os "não-Euro 10", como pretendia Paris. Ao contrário do que disse a imprensa francesa do fim de semana, o novo Tratado não será "17 mais", mas muito provavelmente "27 menos 1". Uma grande diferença.
Durante os próximos três meses, a influência das instituições será decisiva, desde logo, porque o eixo unipolar "Merkely" não é adequado para liderar a União. Veja-se o exemplo das decisões tomadas em Deauville em Outubro do ano passado. As duas mais importantes - a participação do sector privado na redução parcial da dívida grega e a recusa da natureza quase-automática das sanções - foram agora abandonadas. Na altura, as instituições opuseram-se a estas medidas, mas elas avançaram por duas razões. Para esconder divergências noutras matérias entre Berlim e Paris e por questões internas dos dois países. Quanto custou à Europa, e especialmente a Portugal, a Itália e a Espanha, os famosos ‘haircuts' à dívida grega?
Não se pode governar a Europa num momento tão sério como o actual atendendo sobretudo à política interna de dois países, por mais importantes que sejam. E é por isso que as instituições são fundamentais: não estão reféns de políticas domésticas e atendem ao interesse geral europeu. Mas há ainda mais duas razões que justificam uma maior influência das instituições. São elas, nomeadamente a Comissão, as maiores defensoras do equilíbrio entre a consolidação orçamental e o crescimento económico. A "austeridade" não pode ser um fim em si mesmo, e só é virtuosa como um meio para se atingir uma prosperidade sustentável.
Por fim, dada a situação eleitoral em França, a apropriação da política europeia pela política interna francesa corre um risco muito sério: a divisão entre a direita e a esquerda em relação à Europa. O Tratado que aí vem não pode ser um Tratado da direita ("Merkozy") contra a esquerda, mas um Tratado europeu, que junte as principais famílias políticas. Mais uma vez, tendo em conta a natureza supra-partidária das suas funções, Durão Barroso e Van Rompuy estão bem posicionados para trabalharem com vista a um amplo entendimento político europeu. A partir de Janeiro, o Presidente do Parlamento Europeu será um socialista e a Dinamarca iniciará a Presidência rotativa do Conselho, com uma PM socialista. Os Presidentes da Comissão e do Conselho Europeu desempenharão um papel essencial para associá-los ao que será decidido nos próximos três meses. "
You may be an ambassador to England or France You may like to gamble, you might like to dance You may be the heavyweight champion of the world You may be a socialite with a long string of pearls
But you’re gonna have to serve somebody, yes indeed You’re gonna have to serve somebody Well, it may be the devil or it may be the Lord But you’re gonna have to serve somebody
You might be a rock ’n’ roll addict prancing on the stage You might have drugs at your command, women in a cage You may be a businessman or some high-degree thief They may call you Doctor or they may call you Chief
But you’re gonna have to serve somebody, yes indeed You’re gonna have to serve somebody Well, it may be the devil or it may be the Lord But you’re gonna have to serve somebody
You may be a state trooper, you might be a young Turk You may be the head of some big TV network You may be rich or poor, you may be blind or lame You may be living in another country under another name
But you’re gonna have to serve somebody, yes indeed You’re gonna have to serve somebody Well, it may be the devil or it may be the Lord But you’re gonna have to serve somebody
You may be a construction worker working on a home You may be living in a mansion or you might live in a dome You might own guns and you might even own tanks You might be somebody’s landlord, you might even own banks
But you’re gonna have to serve somebody, yes indeed You’re gonna have to serve somebody Well, it may be the devil or it may be the Lord But you’re gonna have to serve somebody
You may be a preacher with your spiritual pride You may be a city councilman taking bribes on the side You may be workin’ in a barbershop, you may know how to cut hair You may be somebody’s mistress, may be somebody’s heir
But you’re gonna have to serve somebody, yes indeed You’re gonna have to serve somebody Well, it may be the devil or it may be the Lord But you’re gonna have to serve somebody
Might like to wear cotton, might like to wear silk Might like to drink whiskey, might like to drink milk You might like to eat caviar, you might like to eat bread You may be sleeping on the floor, sleeping in a king-sized bed
But you’re gonna have to serve somebody, yes indeed You’re gonna have to serve somebody Well, it may be the devil or it may be the Lord But you’re gonna have to serve somebody
You may call me Terry, you may call me Timmy You may call me Bobby, you may call me Zimmy You may call me R.J., you may call me Ray You may call me anything but no matter what you say
You’re gonna have to serve somebody, yes indeed You’re gonna have to serve somebody Well, it may be the devil or it may be the Lord But you’re gonna have to serve somebody
"José Sócrates diz que pagar dívidas do Estado é ideia de criança: "Para pequenos países como Portugal e Espanha, pagar a dívida é uma ideia de criança. As dívidas dos Estados são, por definição, eternas. As dívidas gerem-se. Foi assim que eu estudei".
E acrescentou: "Claro que não devemos deixar crescer a dívida muito, porque isso pesa depois sobre os encargos. Todavia, para um país como Portugal, é essencial financiamento para desenvolver a economia".
Caro leitor, já percebeu por que estamos na bancarrota? Sócrates não percebe nada de Economia e não aprendeu com os erros. Vejamos: se o Estado se endividar para fazer investimentos úteis, o retorno desses investimentos é suficiente para amortizar a dívida contraída. Não há razão para não pagar dívida se há dinheiro. Foi isso que fizeram Suécia e Irlanda (esta até ao colapso do seu sistema financeiro) nos últimos 20 anos.
As dívidas só se mantêm elevadas, e por isso têm de ser "roladas", quando os investimentos não criam riqueza. Como aconteceu connosco na última década e meia. Além de que "rolar" dívida é arriscado: quando os mercados percebem que o Estado se viciou em endividamento, penalizam os detractores.
Mais: se de repente o Estado tiver de se endividar para fazer a uma emergência, o stock de dívida (e o seu custo) disparam para níveis proibitivos. Exactamente o que Sócrates fez nos últimos três anos: levou a dívida pública de 68% para 100% do PIB (com retorno zero).
Só há uma coisa que não percebo nesta conversa: onde mesmo é que Sócrates "estudou" estas teorias? Definitivamente não se deve tirar cursos ao fim-de-semana…"
"A renúncia do primeiro-ministro grego, George Papandreou, e do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi pôs em destaque a forma como a Grécia, a Itália e muitos outros países ocultaram, durante demasiado tempo, os enormes problemas dos seus sectores públicos com insustentáveis benefícios sociais. De facto, para muitos destes países as reformas são, agora, inevitáveis.
Os sistemas de Segurança Social da Europa, Estados Unidos, Japão e outros países, foram definidos em circunstâncias económicas e demográficas muito diferentes das actuais – crescimento económico mais rápido, população crescente e esperança média de vida mais alta. Os governos (a atenção centra-se agora na Grécia e na Itália mas não são os únicos) prometeram demasiado, a muitos, durante muito tempo. No meu livro “Too many promises” (Demasiadas promessas), de 1986, assinalei os mesmos problemas no sistema de segurança social norte-americano.
O principal problema manifestou-se agora na dinâmica de dívida insustentável destes países. A integração na Zona Euro, que permitiu um endividamento maciço a taxas de juro baixas, apenas piorou esta dinâmica.
Reformar o sistema de benefícios sociais é a única solução permanente para a crise europeia. Espero que com a ajuda dos governos nacionais, do Banco Central Europeu, do Fundo Monetário Internacional e do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), se consiga estancar, temporariamente, o financiamento das dívidas soberanas e recapitalizar os bancos europeus. Estas medidas só vão funcionar se existirem reformas estruturais que tornem estas economias bem mais competitivas. Para isso devem reduzir a carga fiscal e reduzir os enormes pagamentos de transferências. Há demasiadas pessoas a receberem benefícios face ao número de pessoas que trabalham e pagam impostos.
Entretanto, as preocupações dos mercados de obrigações em relação aos défices orçamentais e às dinâmicas da dívida têm aumentado os custos de endividamento destes países. As políticas de curto e longo prazo estão, assim, relacionadas. A não ser que se combinem soluções temporárias com reformas estruturais de longo prazo, é inevitável que ocorra um desastre semelhante – ou pior – ao actual.
Há três factores que determinam a evolução da dívida soberana de um país: a sua taxa de crescimento económico, os custos de endividamento, e o défice primário (défice menos os juros). Um país com um défice primário equilibrado arrecada receitas suficientes para pagar os gastos correntes mas não os juros da dívida pendente. Com taxas de juro mais elevadas, um crescimento económico mais lento e uma posição orçamental mais débil aumenta a trajectória do rácio da dívida. Actualmente a Itália paga 7% de juros anuais pela sua dívida soberana, enquanto a economia cresce apenas a uma taxa de 1% ao ano. A Itália necessita de um excedente primário amplo e sustentável, de um crescimento mais rápido e/ou taxas de juro muito mais baixas, para evitar a reestruturação da dívida.
Um plano credível para obter excedentes primários baixaria as taxas de juro. No longo prazo, se os excedentes primários forem alcançados através do controlo das despesas, o aumento da poupança nacional vai promover o investimento e o crescimento, enquanto o aumento das taxas de juro irá funcionar no sentido oposto.
Após a II Guerra Mundial a bem sucedida consolidação orçamental nos países da OCDE implicou cortes de despesa médios de 5 a 6 dólares por cada dólar de aumento de impostos.
Alguns especialistas, como o antigo presidente do Banco Central Europeu Jean-Claude Trichet, defendem que a consolidação orçamental deve ser expansionista. Ou seja, deve aumentar a confiança, o que por sua vez reduz a taxas de juro e anula qualquer impacto directo na procura, tal como ocorreu na Irlanda e na Dinamarca nos anos 80. No entanto, é pouco provável que está estratégia funcione nos dias que correm, já que vários países estão a implementar, simultaneamente, programas de consolidação orçamental, as taxas de juros não soberanas já estão baixas e a união monetária impede que os países mais problemáticos da Zona Euro – Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha – desvalorizem a moeda como forma de aumentar a competitividade.
Durante muitos anos serão necessários excedentes primários substanciais para estabilizar o rácio da dívida e, gradualmente, reduzi-lo para a zona de segurança económica de menos de 60% do PIB (Itália e Grécia têm um rácio da dívida superior a 100%). Um programa de reformas credível de longo prazo deve ser implementado o mais rápido possível, enquanto as medidas de emergência temporárias – compra de obrigações pelo FEEF, FMI e BCE – concedem espaço de manobra à Zona Euro. Se os excedentes primários forem insuficientes, as medidas temporárias apenas vão adiar o inevitável desastre da dívida.
No centro do dilema da dívida há questões de aritmética básicas. A carga fiscal exigida para financiar os benefícios sociais depende de três factores: o rácio de dependência (a proporção de beneficiários face aos contribuintes); a taxa de substituição (o rácio de benefícios face ao salário médio); e a taxa de crescimento económico (aproximadamente, a produtividade mais o crescimento da população).
Por outras palavras, quanto mais generosos e alargados forem os benefícios do governo, maior é a carga fiscal exigida. Este problema central afectará, cada vez mais, os países do norte da Europa, independentemente da sua solidez económica e da congruência fiscal.
Nas economias europeias com impostos elevados, um melhor comprimento das obrigações fiscais ou medidas selectivas de receitas têm um impacto pequeno nas receitas fiscais sem minar o crescimento. A redução dos gastos é a única forma de melhor significativamente a situação orçamental. Mas esse caminho será difícil. Em muitos países europeus, o governo paga benefícios à maioria da população.
A questão central é se o novo primeiro-ministro grego, Lucas Papademos e o colega italiano Mario Monti, ambos reconhecidos economistas, têm capacidades de liderança para navegar estas águas traiçoeiras. Os seus exemplos irão testar se as democracias europeias, com populações altamente dependentes de benefícios sociais, conseguem controlar os excessos do Estado social.
Não é um desafio impossível. O Canadá reduziu, significativamente, os piores excessos do Estado social, à medida que os governos de centro esquerda e centro direita foram reduzindo, nos últimos anos, a percentagem de gastos do governo face ao PIB em oito pontos percentuais. Vários governos europeus estão a ponderar aumentar, consideravelmente, a idade da reforma, ou já o fizeram. Tendo em conta as tendências demográficas, esta pode ser a última oportunidade da Europa para construir as bases sólidas de um futuro próspero.
Sobre os Estados Unidos, Winston Churchill afirmou que podemos contar com eles para fazer o que está correcto, assim que foram excluídas todas as outras alternativas. Esperemos que isto se cumpra também no caso da Europa."
"O Presidente da República, acompanhado da típica corte, anda pelos EUA a tentar, cito, "corrigir a imagem um pouco distorcida que às vezes aqui se projecta do nosso país". Ai, a velha questão da "imagem". Não deve haver povo que passe tanto tampo ao espelho quanto o português, e nem assim conseguimos que os outros nos vejam como gostaríamos que nos vissem. Talvez o problema seja do espelho, talvez seja dos outros, não sei.
O que também não sei é o tipo de distorção que os americanos "projectam" de Portugal. Sempre que um indígena de lá me pergunta pelas origens, a reacção à resposta é quase sempre a mesma: "Vasco da Gama!" Ou: "Magalhães!" (eles dizem Magellan, mas não os corrijo: Gengis Cão incluído, a adaptação lexical de um substantivo é prova da respectiva importância). À primeira vista, parece uma "imagem" preferível às referências futebolísticas, fatais quando um diálogo idêntico acontece na Europa. Na Itália, na Inglaterra ou na Polónia, é raríssimo sairmos das alu- sões a Cristiano Ronaldo e a José Mourinho, símbolos que, embora possivelmente mais exactos, dão à pátria um prestígio inferior ao conferido por navegadores quinhentistas.
Esta, porém, é a minha perspectiva, necessariamente pequenina e parcial. Se o prof. Cavaco garante que a "imagem" de Portugal na América não é grande coisa, fica decidido que a "imagem" de Portugal na América não é grande coisa. E o que fez o representante máximo da nação para contrariar a tendência? Resumidamente, contou umas histórias. Entre reuniões oficiais, encontros informais e conferências, o prof. Cavaco jurou que Portugal merece ser olhado enquanto "oportunidade de investimento", que Portugal é "um bom porto de entrada para a Europa e para os mercados lusófonos", que Portugal é um "país empreendedor e de talento", que Portugal "ultrapassará os problemas económicos e financeiros" e, numa abordagem internacional, que o euro não acabará. Na próxima segunda-feira, irá a Silicon Valley mostrar que Portugal é um lugar de "inovação tecnológica" e "capacidade inovadora". Se o passeio correr bem, haverá de espantar os moços da Intel com uma demonstração do computador Magalhães (inexplicavelmente ainda sem direito à anglicização do nome).
No fim da digressão presidencial, e dando de barato que a mesma não foi ignorada por cerca de 99,74% dos locais, será bastante provável que aconteça um profundo retoque da tal "imagem" e os americanos descubram que, além de descobridores, os portugueses são uns grandessíssimos mentirosos. Mas continuarão sem ideia nenhuma de quem é José Mourinho. Aquilo é uma terra de boçais. "
A horas do encerramento da cimeira climática da ONU em Durban, África do Sul, uma conclusão parece evidente: não haverá tão cedo um novo tratado global para conter as alterações climáticas.
Muitos Katrinas aí virão, inundações e fogos na Austrália, inundações e poluição na China, mas com a nova classe média, a prazo, nos seus Mercedes e BMW de grande cilindrada.
Não escaparemos também, podem crer, mesmo que tenhamos muitos milhares ou milhões de eólicas, que pagamos nas nossas contas em nome dos crimes ambientais fabricados pelos que desindustrializaram os EUA e a Europa, os mesmos de sempre, too big to fail ou os too big to fall.
Em nome do "crescimento" da China, da Índia e dos BRIC e da globalização da desgraça.
Tes procès on le sait ne sont pas fondés Dans tes camps on le sait on supprime sans gants Elle se dit l'élite des peuples civilisés Elle pourrait arborer sans aucune gêne la croix gammée
Elle a pour principe de protéger les gens De leur littérature de leurs pensées de leurs chansons Elle dit que c'est fondé sur l'esprit de liberté Elle ne fait que parjurer les traités déjà signés
L'élite est entrée sans prévenir Devant ses chars d'assaut vous n'aviez que des idées Renforçons l'amitié proclament vos slogans Amitié enfermant des gens nommés dissidents
Elle fut scandalisée en voyant ce génocide Elle a combattu et vaincu quel homicide La seule leçon qu'elle ait su en tirer C'est de financer des états policiers
As virgens ofendidas que vivem do mercado interno europeu
Juncker: 'Alemães pensam que são os únicos virtuosos'
O presidente do Eurogrupo, Jean Claude Juncker, considera que «os alemães pensam que são os únicos virtuosos» no debate sobre o resgate do euro, mas manifesta-se optimista em relação à Cimeira Europeia que hoje começa.
«Às vezes acho curioso que a Alemanha se sinta como se estivesse rodeada de pecadores da estabilidade. Nos últimos três anos houve sempre entre nove e 11 países que tinham dívidas públicas menores que a Alemanha», acrescentou Juncker, que também é primeiro-ministro do Luxemburgo, numa entrevista publicada no Süddeutsche Zeitung.
Para Juncker, «surpreende que os alemães pensem que, como únicos virtuosos, tenham de pagar sempre pelos outros» e «isso não é assim».
O presidente do Eurogrupo acredita que se deve reforçar as regras para o euro e afirmou que, «se isso só possível mediante a reforma dos tratados, contem comigo. Mas exijo que se faça bem e rápido. A reforma deve ser limitada e não pode levar a um debate e ratificação demorados».
Juncker defende uma ampliação dos tratados que afecte todos os 27 Estados.
A Cimeira Europeia, considerada decisiva para a sobrevivência do euro, arranca hoje ao final do dia e termina na sexta-feira.
Os portugueses têm de fazer um esforço quando compram devem verificar se uma grande parte é produzido em Portugal.
Há grupos que exigem que uma percentagem dos seus produtos sejam produzidos em Portugal, como o caso Pingo Doce.
Se não nos defendermos seremos tratados sem respeito.
"Lembram-se da Primavera Árabe? Lembram-se da entretanto lendária Praça Tahrir, no Cairo, repleta de gente a exigir democracia e liberdade? Lembram-se das manifestações convocadas pelo Facebook? Lembram-se da alegria nos rostos quando da queda de Mubarak? Lembram-se dos comentadores ocidentais a assegurar que tudo aquilo era puro e secular e distante de fúrias religiosas? Lembram-se dos insultos adequadamente dirigidos aos cínicos que duvidavam de tamanhas maravilhas?
Se calhar houve algum equívoco pelo caminho, já que a Irmandade Muçulmana lidera com substancial avanço a contagem de votos nas "legislativas" locais. Em segundo lugar está o partido "salafista", hoje apelidado de "radical", e em terceiro vem o Bloco Egípcio, que nos curiosos critérios em jogo passa por "liberal". Aparentemente, no léxico dos correspondentes ocidentais, os senhores da Irmandade representam agora as forças "centristas" ou "moderadas" da sociedade, o que, no caso, significa apenas que, por exemplo, defendem a lapidação das adúlteras com calhaus um pedacinho menores do que os utilizados pelos "radicais" e um nadinha maiores do que os utilizados pelos "liberais". Ou que pretendem torturar os homossexuais com severidade ligeiramente inferior à dos "radicais" e algo superior à dos "liberais". Ou que prometem dedicar aos apóstatas uma morte qualquer coisinha mais rápida do que os "radicais" e uns minutos mais lenta do que os "liberais". Etc.
Entre a sharia versão mata e a sharia versão esfola, não se pode dizer que os indígenas não escolheram democraticamente. Também não se pode dizer que a escolha foi aquela que a ingenuidade "multicultural" do Ocidente gostaria que tivesse sido. Ou pode, se trocarmos a ingenuidade pela má-fé."
"Ontem tivemos dois belíssimos exemplos da maneira de ser portuguesa: as declarações de Freitas do Amaral sobre o governo Sócrates e as nomeações para cargos públicos (uma cedência à pressão para nomear boys para jobs públicos...).
Fiquemos pelo primeiro. Freitas do Amaral culpa os erros de Sócrates (excesso de despesa) pelo estado do país: "Todos sabemos que é uma situação para a qual fomos empurrados, em primeiro lugar por uma crise internacional e em segundo pelos três últimos anos de governação de José Sócrates, que foram muito mal orientados", disse Freitas à Antena Um. Para depois acrescentar: "Andámos anos a gastar demais, agora temos de apertar o cinto para pormos as contas em ordem".
Deixem-me contar até dez antes de continuar o artigo: 1,2,3,4... 10! Pronto, agora que já passou a vontade de dizer uma coisa feia posso continuar. Para fazer duas perguntas: como explicar a amnésia de Freitas do Amaral nos últimos três anos (fora os que passou no governo)? Ou será que fez um curso acelerado de Finanças Públicas? Se foi isso não era preciso: as cadeiras de Finanças Públicas da Faculdade de Direito, onde estudou, chegavam para perceber, à distância, que Sócrates estava a empurrar o país para a bancarrota. Como se verificou!
Freitas, que com Soares devia ser um dos pais desta República, está a fazer um grande esforço para se descredibilizar. E, com isso, a agravar a má imagem que os eleitores têm da classe política: como é que o cidadão comum vai entender que um homem que foi ministro dos Negócios Estrangeiros de Sócrates venha agora dizer cobras e lagartos da actuação do anterior governo? "