segunda-feira, maio 31, 2010

Hallelujah

O salva-vidas do PS

"O PS vive um drama típico de Shakespeare: não é ser ou não ser, é ser sem parecer. E isso é visível, quer no Governo quer na posição sobre as presidenciais. No executivo, o PS é o responsável pelas medidas que vão tornar mais pobres todos os portugueses, mas tenta não o parecer. Nas presidenciais, sem candidato próprio, apoia Manuel Alegre sem querer. Isto é: sob a direcção de José Sócrates, o PS deixou de ser um partido com identidade própria e com ideias fortes. Vive sempre do que pensa que é desejável para o País e o que pensa que os eleitores aceitarão. E entre as tradições socialistas que pensa ter de defender e as muitas que atirou para o caixote do lixo como inúteis. Sob a liderança de Sócrates, o PS tem uma única ideologia: a gestão do poder. É por isso que o apoio a Alegre é tão complicado. Não é que este tenha ideias muito definidas sobre coisa alguma: o seu pensamento é uma nuvem poética. Mas, dentro do PS, a recusa de Alegre é feita em termos emocionais. Todos os que ainda veneram o legado de Mário Soares desprezam Alegre. E assim o seu coração bate ao mesmo ritmo do de Fernando Nobre. E este já o percebeu. Por isso irá abrir à direita, para conquistar os descontentes com Cavaco, enquanto cimentará o apoio dos que dentro do PS não votarão Alegre. As eleições presidenciais marcarão um novo ciclo da vida portuguesa. Disso ninguém duvida. E é aí que o PS mostra a sua fragilidade: dividido entre dois candidatos por razões emocionais não tem uma única ideia concreta sobre o que ainda quer propor ao País. Ou seja, nada. É por isso que paradoxalmente Alegre é o seu salva-vidas."

Fernando Sobral

O equívoco de Carvalho da Silva

"Carvalho da Silva entusiasmou-se com o sucesso da manifestação da CGTP. O dirigente começou por calcular em 200 mil os presentes para, mais tarde, dizer que eram mais de 300 mil. Esqueçamos o inevitável inflacionamento dos cálculos (Isabel Brites, a ex-sindicalista que nas manifs da CGTP costumava ser a "contadora" de serviço, disse ao "Público" que na Avenida não estiveram mais de 150 mil pessoas)… e fiquemos pelo que interessa: a manifestação servia para a CGTP testar águas para uma greve geral. Foi o próprio Carvalho da Silva a admitir que, entre nós, a dureza das medidas de austeridade "podem levar a colocar rapidamente na ordem do dia uma greve geral."

Se Carvalho da Silva quer uma greve geral para tornar o país ingovernável está a laborar num erro. Porque o movimento sindical português não tem o peso de outros, na Europa. Nunca conseguiu ser derruba-governos. Porque raramente houve coincidência entre UGT e CGTP? Sim, mas não só: porque o trabalhador português é mais inteligente do que os sindicatos pensam. Quando "dividido" entre a opção ideológica e o emprego, prefere o segundo. Foi sempre assim nos últimos trinta anos.

A austeridade que os portugueses enfrentam agora é uma machadada no seu nível de vida? Sem dúvida. Mas o seu maior receio é perder o emprego, não algumas dezenas de euros no final do mês. É este pragmatismo que os sindicatos até hoje nunca conseguiram dobrar. Felizmente. Porque se a ele se juntar um Governo com um programa duro, mas reformador, o país dá a volta mais rapidamente que os seus congéneres. Alô, São Bento?
"

Camilo Lourenço

A impunidade parlamentar

"Desde tempos imemoriais que corre por aí a ideia de que a justiça portuguesa só condenaria certas criaturas se estas fossem apanhadas em flagrante e, a título de brinde, confessassem o crime por iniciativa própria e simpatia. Era boato. O caso do deputado Ricardo Rodrigues e dos gravadores da revista Sábado mostra que nem assim.

Recapitulemos. O entretanto célebre sr. Rodrigues foi filmado a meter literalmente ao bolso os ditos gravadores e a fugir com eles. Não satisfeito, afirmou orgulhosamente à imprensa que, de facto, "tomara posse" dos aparelhos. De então para cá, tudo o que lhe aconteceu resume-se às palmas dos seus colegas da bancada socialista e a única sentença que ouviu saiu da extraordinária boca do líder da bancada Francisco Assis: "Ninguém o pode julgar."

Poder, teoricamente, até há quem possa. Mas, apesar da queixa da Sábado, a mera audição do sr. Rodrigues no DIAP depende pelos vistos do levantamento da imunidade parlamentar. E no Parlamento, aliás o local do roubo, o julgamento político nem chegou a existir, por recusa de PS, PCP e Bloco. Quase um mês depois, os gravadores continuam desaparecidos, pelo menos dos legítimos proprietários, e o sr. Rodrigues continua à solta em São Bento, onde apenas o CDS tentou arrancar-lhe, em vão, um pedido de desculpas.

Como o sr. Rodrigues, o episódio é pequenino. Já a lição que ambos encerram não é. Infelizmente, não adianta aprendê-la: o nojo adequado a uma classe política que tolera ou até abençoa a prepotência e o puro roubo enquadra-se, parece, na categoria do "populismo", um delito que se não dá cadeia também não dá direito a aplausos entusiasmados dos representantes da nação. Pobre nação
."

Alberto Gonçalves

domingo, maio 30, 2010

Uma profissão com futuro.

"Se um cavalheiro anónimo barricar a entrada de um estabelecimento comercial, é provável que acabe nas páginas dos jornais devotadas ao crime ou aos distúrbios psiquiátricos (secção que os jornais normalmente não têm mas que, nos dias de hoje, deviam ter). Se um bando de cavalheiros da Greenpeace fizer exactamente o mesmo, acaba nas páginas da ecologia.

Pelo menos foi esse o espaço dado pelo Público à mais recente intervenção daquela organização "ambiental", que impediu a abertura matinal de um Pingo Doce lisboeta sob o pretexto de que este vende peixes pequeninos ou em extinção. Não importa que o supermercado em causa esteja provavelmente dentro da lei nem que, de qualquer modo, as eventuais violações da lei sejam competência das autoridades. Importa que os doze responsáveis pela arruaça beneficiam do curioso estatuto de "activistas", pelo que são livres de se envolver nas actividades que lhes apetece, incluindo transtornar o próximo e prejudicar a economia, a qual, de resto, já não respira melhor do que os peixinhos exibidos pela Jerónimo Martins.

Dito isto, é justo acrescentar que se o objectivo da Greenpeace é circular entre milheirais e peixarias a destruir negócios e empregos, também é verdade que a Greenpeace propriamente dita aparenta constituir um negócio rentável e oferecer empregos bem mais estimulantes e seguros do que repositor de supermercado ou assalariado agrícola.

Um "activista" do ramo ambiental dispõe de horário flexível, de treino ao estilo militar (juro!) e, se somar o talento para a retórica ao talento para a baderna, de francas possibilidades de ascensão na carreira. A julgar pelo carácter multinacional dos participantes em cada arruaça, o "activista" viaja imenso. A julgar pelos "investimentos" atirados para o mercado "verde", o "activista" exerce num sector que, ao contrário dos tradicionais, prospera de acordo com o prejuízo que dá. A julgar pelo tratamento da imprensa, o "activista" é um herói. Por fim, em vez de ter superiores directos que o macem, o "activista" convence-se da sua superioridade e dedica-se a maçar os outros.

Parece sedutor? É sedutor. Aliás, o site da Greenpeace possui uma ficha de inscrição que nos convida a aderir à sua vasta milícia de apoiantes. Claro que a maioria são idiotas úteis a propagar de borla os alegados valores da organização. Mas, com sorte e empenho, é possível que uma pessoa consiga reverter a idiotia alheia em utilidade própria e ascender aos valores reais: a Greenpeace tem um orçamento anual milionário e aplicado no desenvolvimento sustentável dos respectivos membros
."

Alberto Gonçalves

sábado, maio 29, 2010

Até amanhã e boa sorte!!!

Mulheres barbudas

"Em teoria, não me oponho às últimas loucuras do BE e do PS, a serem apresentadas na próxima semana. Permitir que um homem passe a mulher (nos documentos) conservando, porém, o respectivo pénis? É compreensível: todos nós guardamos certos ‘souvenirs’ de hotéis, mesmo que não tencionemos lá voltar. Por pura nostalgia.

O problema é que os projectos de ambos, ao acentuarem a divisão fatal entre ‘sexo’ e ‘género’, abrem a porta para qualquer delírio da ‘subjectividade’. Hoje, são homens que se sentem mulheres e mulheres que se sentem homens.

Mas nada garante que, nesta recusa da ‘natureza’ e na afirmação de uma ‘identidade’ alternativa, não apareçam por aí variações bizarras: homens que se imaginam cães; mulheres que se imaginam periquitos; e até, por incrível que pareça, homens que se imaginam mulheres que se imaginam homens.

Todos os seres humanos têm direito a viver as suas fantasias? Sem dúvida. Mas nenhum tem o direito de exigir dos outros o respeito ou o reconhecimento dessas fantasias. Que o meu vizinho goste de ladrar não é motivo suficiente para eu lhe oferecer um osso
. "

João Pereira Coutinho

Romance de cordel

"A economia portuguesa prepara-se para viver mais uma década perdida. Endividada, com crescimento residual e elevado desemprego.

E os portugueses já sabem que ficarão mais pobres. Quem o diz é a OCDE. É evidente que nada disto preocupa o partido do poder. Os socialistas, com a cabeça bem enterrada na areia, andaram esta semana preocupados com a magna questão das presidenciais de 2011. O chefe reuniu com presidentes de distritais, autarcas, deputados e no sábado vai comunicar à Comissão Nacional o apoio a Manuel Alegre.

O folclore democrático, com choros, zangas, ciúmes e paixões, chega ao fim com o PS cheio de azia a engolir o candidato presidencial do BE. Mas este romance de cordel não vai acabar nada bem. Esqueçam o altar, pensem no cemitério
."

António Ribeiro Ferreira

Amaral (Freitas) & Amaral (Ferreira) e o empobrecimento do país

"Freitas do Amaral e João Ferreira do Amaral atiraram-se ao euro porque nos torna menos competitivos. O ex-ministro sugere também uma coligação do "Sun belt"+Irlanda para evitar que a Alemanha aperte a "trela" aos países gastadores (limites à despesa e sanções agravadas).

Ferreira do Amaral diz que o euro destrói a competitividade ("Antes podíamos desvalorizar para ganhar competitividade e impedir a destruição de sectores produtivos") e vaticina que mais austeridade= mais ataques especulativos. Diz também que se estivéssemos fora do euro não seríamos afectados pela tempestade financeira (como aconteceu à Suécia e Dinamarca).

Valha-nos Nossa Senhora. Nenhum destes ilustres académicos percebe que a perda de competitividade não é culpa do euro, mas de não fazermos o trabalho de casa (v.g. salários que crescem acima da produtividade)? Dizer que a desvalorização garante competitividade é uma boutade que, vá lá, se desculpa a Freitas do Amaral (professor de Direito). Mas a Ferreira do Amaral, professor de Economia, apetece lembrar que desvalorização significa empobrecimento do país e destruição (pela subida da inflação) do poder de compra das classes desfavorecidas e que Suécia e Dinamarca só escaparam ao furacão financeiro porque têm as finanças em ordem. Já nós…

A Freitas do Amaral vale a pena recordar que o aperto da "trela", imposto pela Alemanha, é do nosso próprio interesse. Se gastarmos menos (nós e o "Sun belt"), sairemos do radar dos especuladores e os alemães terão menos vontade de sair do euro, largando-nos aos cães
."

Camilo Lourenço

Pânico geral

"As galinhas aprenderam com os políticos. Quando estão em pânico fogem em todas as direcções. O Governo, por isso, parece-se neste momento com um aviário. Ou seja, o Executivo já não governa. Atrapalha-se cada vez que escuta o chocalhar do milho. Onde isso é mais visível é no Ministério das Obras Públicas, transformado num mistério das decisões trocadas. O secretário de Estado disse que vai haver aumentos dos transportes, o ministério negou que isso estivesse na agenda do Conselho de Ministros e, minutos depois, veio dizer para se esquecer o que comunicara antes. Compreende-se que as circunstâncias sejam muito rápidas para os neurónios de quem decide neste sítio, mas o mundo hoje é assim. Habituem-se! Mas o que não pode acontecer é este desvario em que ministros e secretários de Estado parecem conviver sem se falarem para definir opiniões concretas. O Ministério das Obras Públicas é hoje um grupo de galinhas em fuga, seja das decisões que toma (como o do finado concurso da Terceira Travessia do Tejo) e não explica, seja das que parece ter tomado e explica mal. Fica-se com a sensação que já não há um Ministério das Obras Públicas em Portugal: existe uma hidra. António Mendonça já não é um ministro: é um cubo de Rubik, ou seja um verdadeiro quebra-cabeças. Mas o que sobra em tudo isso é a incapacidade deste Governo ser transparente e verdadeiro. Vai haver aumentos? Vai? Não vai? A um Governo exige-se que tenha opiniões concretas. E não que, no meio de meias-verdades mal amanhadas, mude de opinião a cada segundo que passa."

Fernando Sobral

sexta-feira, maio 28, 2010

Empobrecer a rir

"Para quem me acusa de só dizer mal do Governo, eis um elogio do aumento das taxas do IRS. Como quase todas as vítimas de assalto, não gosto da ideia. Mas é impossível resistir às divertidíssimas cambalhotas na data de aplicação da lei. Primeiro, o eng. Sócrates falou em Julho. Depois, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais acrescentou a retroactividade a todos os rendimentos de 2010. A seguir, o eng. Sócrates negou a retroactividade e trocou Julho por Junho. Por fim, Vital Moreira garantiu que a lei vigora a partir da publicação, leia-se em Maio, e o ministro das Finanças contrapôs que a lei vigora a partir da data que "está no meu [dele] espírito", leia-se em Junho. A avidez do Governo é quase compensada pelo seu terno desconchavo. E empobrecer por empobrecer, que seja a rir, paráfrase de um saudoso precursor dos comediantes que nos governam."

Alberto Gonçalves

quinta-feira, maio 27, 2010

O país agradece

"Para o dr. Passos Coelho, o facto de o Governo ser o principal autor da enrascada em curso não justifica uma moção de censura. No papel do estadista responsável, o líder do PSD acha que eleições antecipadas seriam "a pior coisa que poderia acontecer agora a Portugal". Mas, já no papel do adversário inflexível, abre uma excepção para o negócio da PT/TVI: se se apurar a intervenção do eng. Sócrates, o dr. Passos Coelho promete as moções e as censuras necessárias. Enquanto linha de pensamento, a do dr. Passos Coelho é algo sinuosa e exige redobrada atenção. Vamos devagarinho, então.

Aparentemente, o simpático agrupamento que há cinco anos nos tutela com assinalável inépcia é um mal menor do que as eleições susceptíveis de removê-lo. As eleições convocariam inomináveis tragédias que o dr. Passos Coelho deseja evitar a qualquer custo. A menos, lá está, que o custo fosse a manutenção no poder de um trapaceiro. Em prol do interesse nacional, o dr. Passos Coelho tolera e avaliza um Governo incompetente. Já um Governo desonesto é intolerável, e aqui deixam de importar as calamidades desencadeadas pelo seu fim precoce. Complicado? Só um bocadinho. Ou até se notar que, conforme o dr. Passos Coelho admitiu, a incompetência do primeiro-ministro está provada e, graças à portentosa comissão de inquérito, a respectiva desonestidade na história da TVI ficará por provar.

O que vale é que o dr. Passos Coelho esclareceu que está a ajudar o país e não o eng. Sócrates. Caso contrário, cada atitude sua desde que teoricamente lidera a oposição convenceria muitos do inverso.
"

Alberto Gonçalves

quarta-feira, maio 26, 2010

As medidas de excepção e as anedotas do sítio...

A Senhora Ministra da Saúde deste Estado moribundo e desta nação transformada em sítio por esta escumalha de Abril, descobriu que afinal estava enganada e que afinal era preciso poupar.
Pelos vistos neste sector, como em todos os outros, excepto a Assembleia Nacional, perdão, erro de palmátória(...) da República, essa prostituta, decidiram que estavam a gastar demais.
Vai daí, estão a gastar 5% a mais nas horas extraordinárias, coisa extraordinária, que no caso dos médicos poucos as querem fazer, mas têm obrigação de as fazer por lei, como se vai resolver o imbróglio não se sabe.
Afinal é melhor que estas horas e muitas outras sejam feitas pelos tipos das empresas de outsourcing, (em vez de um contrato de trabalho a termo certo, muito mais barato), entretanto alterados convenientemente por decretos de favor a amigos feitos de vírgulas e omissões para os amigos, por pura questão de nepotismo e que segredo bem guardado, não se sabe em que rúbrica do POCS entra, será em meios complementares de diagnóstico(?), fornecimento de serviços externos(?), não descobri depois de ver relatórios e contas de HEPEs.
O outsourcing está em todo o lado, desde limpezas, a fornecimento de hardware e software (que não aparece em activos incorpóreos, porque é pago em contratos anuais) a empresas de fornecimento externo vulgo, (outra vez) outsourcing, aqueles computadores, impressoras, servidores, não são do estado, são de empresas privadas, (Deus não é para aqui chamado, mas que nos valhe), serviços jurídicos e mais aquilo que a imaginação possa alcançar.
Poupar, poupar em papel não se sabe se higiénico, se em resmas de papel de impressora, só que as receitas, relatórios e MCDT são feitos neste tipo de papel.
A coisa é de tal forma ridícula, que custa crer, como esta gente é capaz de nos chamar a todos, todos os dias, de camelos e ursos, porque aprenderam bem com a Coisa que governa este sítio.
Interessante a reacção dos outros, dos partidos conhecidos de todos, que fazem parte da bosta que fez Abril, já com descendentes.
Claro que vamos bater na parede, se se vão safar sem mazelas não se sabe, porque se isto embrulha podem sempre ir para Angola para os braços do Eduardo & famiglia.
Sai caro, mas os ursos que pagam impostos que paguem a crise, enquanto houver PIB para sustentar e quem empreste dinheiro a este estado deste sítio mesmo muito mal frequentado, ccoisa que está acabar.

Um imprevidente

"Além da fatal (e incorrecta) citação de Fernando Pessoa, o eng. Sócrates aproveitou a entrevista à RTP para repetir a tese de que subiu os impostos ao contrário do prometido porque o mundo, esse desmancha-prazeres, mudou muito e muito de repente. Por outras palavras, ninguém podia prever os acontecimentos das últimas semanas, os quais nos trouxeram a esta inesperada penúria.

Sucede que houve quem previsse os acontecimentos e esperasse a penúria. Se contarmos os inúmeros avisos de que o pandemónio nas contas públicas ia terminar mal, há alguns anos que Portugal está repleto de videntes. Não tão repleto a ponto de os videntes influenciarem políticas e muito menos eleições, mas ainda assim o suficiente para que o primeiro-ministro desse por eles.

O primeiro-ministro, diga-se em abono da verdade, deu por eles, ouviu-os atentamente e classificou-os: "bota-abaixistas". O "bota-abaixista", belíssima expressão que não me parece de Pessoa, era toda a criatura que implorasse ao Governo para reduzir gastos, na absurda convicção de que o dinheiro é limitado e que, ultrapassado várias vezes o limite, as coisas tendem a descambar.

Como o eng. Sócrates não liga a crendices e superstições, os "bota--abaixistas" ficaram a falar sozinhos. Já o eng. Sócrates falou imenso connosco, em geral para nos exigir fracções crescentes dos nossos rendimentos de modo a dedicar-se à sua ciência predilecta: derrotar a crise ("internacional", não esquecer) e comprar eleições à conta do descarrilamento da despesa. As eleições lá se compraram. A crise não se derrotou, antes se ampliou até às dimensões actuais, curiosamente próximas da bancarrota.

E o que faz o eng. Sócrates perante a bancarrota? O costume. Culpa os "especuladores", mantém praticamente intactos os hábitos do Estado e volta a assaltar os contribuintes à mão armada, sendo que a arma são as mentiras em que ninguém, vidente ou não, consegue continuar a acreditar. Excepto, talvez, o próprio, um pormenor que distingue o alucinado do simples demagogo. Em qualquer dos casos, quando o eng. Sócrates garantiu na RTP ter feito "tudo para não aumentar os impostos", apenas o "não" está a mais. O "não" e, claro, o eng. Sócrates, que não adivinha o futuro nem aprende com o passado
."

Alberto Gonçalves

terça-feira, maio 25, 2010

... ou que se cale para sempre

"Não sei o que alegrou mais os defensores do casamento homossexual, se a promulgação do dito ou se o ar contrariado com que o Presidente da República o fez.

Obrigado a tomar posição sobre uma lei que o horroriza, o presidente tentou, como de costume, a via "utilitária" e mostrou, como de costume, a veia desajeitada. Impedir o casamento não era hipótese, visto que o parlamento repetiria os votos e, no processo, submeteria o prof. Cavaco a uma humilhação escusada. Aprovar o casamento com discrição e sem palpites não satisfaria a sua consciência nem, principalmente, a sua base eleitoral, teoricamente avessa a modernices.

A alternativa foi aquele tom compungido, à mistura com o interessante argumento de que não se pode desviar a atenção da crise (em tempos prósperos, o prof. Cavaco não permitiria que os gays fossem, para recorrer ao jargão em voga, felizes).

Tipicamente comprometido, o prof. Cavaco voltou a meter o bolo-rei à boca e a não o engolir, um espectáculo que, ao contrário do pretendido, desanima os potenciais apoiantes e convida os restantes à galhofa.

É verdade que, à semelhança do que aconteceu com o divórcio e o aborto e do que acontecerá com a adopção e a eutanásia, fingiu-se por aí celebrar o dia em que Portugal se tornou mais decente, mais civilizado, mais digno e mais o que quiserem. Mas a esquerda das "causas" sabe que o casamento homossexual excitará meia dúzia de casais à procura de notoriedade e os media à procura da novidade. Terminada esta, o fenómeno será provavelmente residual e certamente obscuro. Já as hesitantes estratégias pessoais do prof. Cavaco suscitam um gozo na esquerda que promete durar anos e legitimar vistosas, ainda que um nadinha perversas, celebrações
."

Alberto Gonçalves

segunda-feira, maio 24, 2010

Tratar a crise com os pés

"Carlos Queiroz, vulgo O Professor, sugeriu há dias que a selecção nacional "pode funcionar como um estímulo e um capital importante de auto-estima para os portugueses". É um pensamento monumental, aliás à medida do autor. Inúmeros estudos provam que o desempenho desportivo de uma nação reflecte-se no comportamento dos respectivos cidadãos e, consequentemente, nos indicadores colectivos de progresso. E se os estudos não bastassem, a realidade é avassaladora.

O Luxemburgo, por exemplo, é um território deprimido e indigente porque nunca se habituou a celebrar vitórias em competições internacionais, incluindo na bisca lambida. Já os habitantes do Quénia e da Jamaica, estimulados pelos campeões do atletismo, acumularam o capital de auto-estima necessário para transformar esses países nos portentos de prosperidade que, hoje, inegavelmente são.

Portugal é um caso intermédio. De vez em quando, há uma competição internacional, por regra de futebol, que corre razoavelmente. É nesses momentos que o optimismo do povo se alarga, por processos que apenas os místicos conhecem, à economia.

Infelizmente, tais momentos não abundam, e há meia dúzia de anos que não existem de todo. Donde a penúria em curso, económica porque anímica e anímica porque desportiva.

É verdade que o recente campeonato do Benfica empolgou seis milhões dos nossos compatriotas, entretanto estimuladíssimos em benefício da pátria. Mas é preciso ter em conta os quatro milhões que o mesmo campeonato acabrunhou e que, pelo menos durante umas semanas, querem que a pátria se lixe. É por causa disso que os torneios internos não ajudam à confiança de que os portugueses carecem.

O Mundial da África do Sul, porém, constitui uma extraordinária oportunidade para inverter o desesperado estado das coisas. Se a selecção se portar bem, cada drible de Cristiano Ronaldo terá efeitos imediatos nos números do desemprego. Cada golo ao Brasil contribuirá para a redução do défice. Cada vitória empurrará multidões para as ruas, a transbordar de auto-estima e Super Bock. Mal contemplem esses milhares de criaturas aos gritos de "Somos os maiores!", "Já ganhamos!" e "Até os comemos!", as agências de rating não terão outro remédio senão reconhecer que, de facto, somos, ganhamos e comemos.

E se a selecção se portar mal
?"

ALBERTO GONÇALVES

domingo, maio 23, 2010

Contra a usura e os banqueiros: "You walk away"

Depois da alavancagem dos vigaristas do sistema financeiro de casino protegidos pelos governos de cá e do lado de lá do Atlântico, depois da crise hipotecária gerada, quando, por exemplo, os chineses começaram a querer cobrar a dívida e se verificou que os grandes bancos americanos muitos a funcionarem em Wall Street, não tinham dinheiro para pagar, faliram de facto, outros foram premiados pelo estado americano que estava na jogada através do Fed ou não fazendo nada, por serem parte do jogo, não deixando julgar e prender os burlões, em nome do mercado, premiaram os CEOs vigaristas e despediram os homens que alertaram para a crise, claro que tem a ver com os rcebimentos dos candidatos nas campanhas que são comprados, chamam lóbi a esta forma de corrupção, como o caso de Obama, pelos grandes bancos e como os de cá, só que não podem ir contra eles, porque patrão é patrão e capo é capo, ou as duas coisas.
Assim verificou-se que o que estava em 90$ de valor afinal no banco só existia 1$, chama-se em linguagem de agora alavancagem.
Depois, exportaram para os grandes bancos e companhias de seguros na Europa o lixo, com aqueles nomes de siglas, e, no caso, a Alemanha que agora reclama, não se portou muito bem assim como a banca Suiça e muitas outras como na City.
A estratégia desde o início, foi destruir o Euro e voltar a ter o USD como moeda padrão, mesmo que seja, e é, virtual.
A Alemanha não diz que lhe convém o Euro baixo , começaraõ a ganir quando os tipos de Wall Street destruirem o Euro como moeda do cabaz e foi isso que nunca perdoaram a Saddam e íam agora permitir à Europa! Ora santa paciência.
Não me digam que o senhor Barroso agente dos americanos e Trichet discípulo de Greenspan e de Ben, não sabiam da contabilidade habilidosa do estado grego, do português, do inglês, dos espanhóis e por aí fora, incluindo a porcaria que os alemães muito castos e puros fizeram, falo em banqueiros e na comissão, o resto é treta.
Mas uma coisa interesante está a acontecer nos EUA e que até era giro acontecer por cá.
Um tipo acha que está a pagar muito e quer renegociar a dívida e a hipoteca.
Comprou, por exemplo, por 200.000€ e agora quer pagar menos pelo empréstimo embora possa pagar a prestação sem problema.
O banco diz que não, que o valor do imóvel agora é de 120.000€ e não vai baixar nem a prestação nem o spread.
Muito bem. Quem pode, por exemplo continuar a pagar, avisa o banco que vai deixar de pagar e o banco pode ficar com a casa e a pessoa com a penhora pura e simplesmente sai, o banco que fique com a casa.
O lender ou penhorado, assim deixa a casa e pode optar por uma solução muito mais em conta e há mercado no nosso país e haverá mais, se acontecerem muitos casos destes, diz a lei da oferta e da procura, há por aí casas fechadas em número muitas vezes superior às famílias deste país .
Portanto o pecado mortal "Greedy" tem maneira de ser castigado, os banqueiros que comam tijolos e fiquem com as habitações que se vão degradando.
E é legal.
Muito interessante...

sábado, maio 22, 2010

Portugueses de bom nome!

OBRIGADO MOURINHO!
DEIXE QUE LHE CHAMEM ARROGANTE NUM PAÍS DE ARROGANTES MEDÍOCRES E HIPÓCRITAS E DE MÁ ÍNDOLE.
O SENHOR É SÍMBOLO DA INTELIGÊNCIA E REPRESENTA DE EXCELENTE FORMA O NOSSO PAÍS, MESMO QUE O TEMA SEJA O FUTEBOL, MAS NÃO É SÓ DE FUTEBOL QUE SE TRATA.
OBRIGADO, BEM HAJA!

Send Me An Angel

Remédios perigosos

"Há ilustres economistas, nacionais e estrangeiros, que têm defendido que uma das soluções para a crise portuguesa seria a baixa dos salários. Nos modelos económicos com poucas variáveis, a baixa de salários aumenta a competitividade do país.

Mas na prática a aplicação deste princípio teria efeitos caóticos, conduzindo a um ainda mais acentuado empobrecimento. Em vez de o fantasma do país ser a Grécia passaria a ser a Somália.

Imaginem o efeito que teria na procura interna a quebra de 20 ou 30% dos salários. As empresas de comércio, os restaurantes, as oficinas que teriam de fechar por causa do encolhimento da procura interna. E alguém pensou nos milhões de famílias com crédito bancário, especialmente para a habitação, que deixariam de poder honrar os compromissos? E o que seria dos bancos, já aflitos com problemas de liquidez, com novos recordes de crédito malparado? Em situações pontuais, em algumas empresas, será melhor cortar salários do que destruir empregos. Mas, como se percebe, a generalização destes remédios seria perigosa. O próprio défice aumentaria com a quebra drástica do IRS, que, como se sabe, penaliza especialmente os salários. Quem faz estas recomendações está certamente de boa-fé, mas de notáveis economistas com boas intenções deve estar o inferno cheio
."

Armando Esteves Pereira

Para onde vai a zona euro?

"Pode a zona euro dividir-se? Até muito recentemente teria respondido “não, de maneira alguma”, mais a pensar na adesão de países tão diferentes daqueles que compõem o núcleo duro, isto é, a Europa do Norte, e menos no facto de considerar a união monetária uma ideia pouco sensata.

O compromisso então assumido em prol do seu êxito foi, aparentemente, fundamental para as políticas dos principais poderes europeus. Mas sê-lo-á hoje em dia? Não sei.

O que correu mal? O que vai acontecer agora? E daqui em diante? Que significado pode ter para a economia mundial e da zona euro?

No que respeita à primeira pergunta, a ortodoxia da zona euro diz-nos que a raiz da crise é orçamental. Marco Annunziata, do UniCredit, sintetizou assim esta ideia: "Em termos retrospectivos, as falhas na moldura institucional da zona euro são simultaneamente simples e complexas. Primeiro, para uma união monetária poder sobreviver é preciso uma certa convergência orçamental ou integração. Segundo, a zona euro não soube criar incentivos que promovessem a disciplina orçamental".

O gráfico apresentado por Annunziata mostra que esta perspectiva está errada. Basta ver a frequência com que a regra dos 3% do PIB - valor limite para os défices orçamentais - foi violada. A Grécia portou-se mal, no entanto, o número de violações de Itália, França e Alemanha é superior às de Espanha e da Irlanda. Não obstante, são estes dois países que agora enfrentam maiores dificuldades orçamentais.

As regras orçamentais não contemplaram os riscos. Isto não é surpresa para ninguém. O aumento dos preços dos activos e consequente avolumar da bolha, bem como os excessos financeiros associados, foram o principal motor das economias espanhola e irlandesa. O que restou depois das "economias bolha" rebentarem? Ruínas orçamentais.

Foram as bolhas, estúpido. Olhando para trás, verificamos que a criação da zona euro gerou uma certa folia: alguns países tinham bolhas de activos gigantescas e outros, muitos, permitiram o aumento constante dos salários relativos. Alemanha e Holanda passaram a ter vastos excedentes na balança de transacções correntes (BTC), a união optou por encorajar o fluxo de capitais para as economias emergentes em termos favoráveis e à implosão da despesa privada seguiu-se a explosão dos défices orçamentais.

Em que ponto nos encontramos agora? A resposta dos políticos da zona euro à crise tem sido previsível por imputarem a culpa aos especuladores, por garantirem o financiamento de devedores soberanos instáveis - salvando, assim, os credores -, por prescindirem da restruturação da dívida e por insistirem numa disciplina orçamental apertada nos países com défices elevados.

A isto soma-se o investimento do Banco Central Europeu (BCE), no montante de 16 mil milhões de euros, nas obrigações do Tesouro dos países de maior risco da zona euro - um valor baixo comparando com as recentes intervenções -, mas um sinal forte, apesar de tudo. O euro desvalorizou, mas mantém um valor alto para os parâmetros históricos. No melhor dos casos, a zona euro ganhou algum tempo para proceder aos ajustamentos necessários.

O que se segue? A Grécia vai, a dada altura, restruturar a sua dívida, como defendeu recentemente John Dizard, colunista do Financial Times. Não seria o pior desenlace. Quando um país é considerado ‘junk bond', isto é, abaixo do grau mínimo de investimento, a sua reputação fica ferida para sempre. Em circunstâncias como esta, um encargo da dívida baixo face à solvabilidade pode servir de contrapeso aos custos do incumprimento. E o momento mais lógico para o efeito coincide com a eliminação do défice orçamental primário (antes de juros), prevista para 2012.

Seja como for, os países periféricos só poderão repor a estabilidade orçamental se regressarem ao crescimento. No caso dos países com défices elevados na BTC, o crescimento teria de ser garantido pelas exportações líquidas. A alternativa ao aumento das exportações líquidas, isto é, a retoma da despesa privada e a entrada continuada de fluxos de capital, não só é improvável como indesejável. Resta saber se os países periféricos - cuja competitividade diminuiu significativamente aquando da adesão à zona euro - pode gerar fortes melhorias estruturais, e não apenas cíclicas, nas exportações líquidas.

Em termos históricos, os países que sofreram crises de dívida foram quase sempre ajudados pela desvalorização cambial. Como o grosso das trocas comerciais dos membros periféricos da zona euro têm lugar entre si, não ganhariam nada com uma ligeira desvalorização do valor externo do euro.

Numa união monetária, a saída passa pela descida dos preços ou, mais concretamente, pela redução dos custos. A Irlanda caminha nesse sentido, mas há muitos países que ficaram para trás. Além de ser um processo demorado, também ajuda a aumentar o valor real da dívida. Ora, os proponentes da reforma estrutural ignoram estes factos.

O que significa tudo isto? Primeiro, os mercados têm razão em mostrar-se cépticos face a uma solução orçamental. A restruturação da dívida é provável, pelo menos no caso da Grécia, apesar de não resolver a falta de competitividade. Segundo, a zona euro ganhou algum tempo e deve aproveitá-lo, entre outras coisas, para tornar o seu sistema financeiro solvente e levar a cabo uma restruturação credível quer da dívida pública quer da dívida privada.

Terceiro, a análise dos problemas da zona euro ignora sistematicamente a instabilidade do sector privado, que poupou demasiado em certas áreas e gastou, emprestou e pediu emprestado, também em demasia, noutras. Uma força extremamente desestabilizadora que acabou, inevitavelmente, por ser exacerbada pela política monetária de "tamanho único".

Quarto, apesar dos países periféricos se contorcerem no anzol, o pescador está decidido a mantê-los ali. Eis a única proposta de fundo que emergiu do debate sobre a reforma da zona euro: a política orçamental tem de ser disciplinada. Annunziata diz que "os limites orçamentais deviam ser incluídos na legislação de cada país sob a forma de regras automáticas, vinculativas e imutáveis". Os Estados americanos aplicam essas regras, mas os EUA têm um orçamento federal, o que não acontece com a zona euro. A segunda maior economia mundial está, pois, na iminência de adoptar a doutrina orçamental pré-keynesiana.

Quinto, nada indica que a tensão venha a abrandar entre uma Alemanha determinada a impor essas restrições orçamentais e os países que recusam a primazia de tal disciplina - caso da França, por exemplo -, ou que se mostrem incapazes de a manter. Perante os ajustamentos profundos que se avizinham, crescem as dúvidas sobre se a zona euro será, ou não, capaz de gerir estas tensões. A paciência da Alemanha poderá vir a ser esticada além do limite.

Por último, a zona euro parece estar no caminho de um maior rigor orçamental graças ao contrapeso, pelo menos por ora, de uma taxa de câmbio mais fraca. Os americanos vão dizer que se trata de uma política que visa empobrecer o vizinho e que em nada ajudará ao reequilíbrio global. Na verdade, não sabemos quanto irá depreciar face à retoma global, mas sabemos que não vai ajudar.

É provável que a zona euro sobreviva, apesar do forte pessimismo que hoje se sente. No entanto, a ideia de que tudo estaria bem se as regras orçamentais tivessem sido cumpridas está errada. A irresponsabilidade do sector privado foi o maior erro. Agora, coloca-se novamente a ênfase no rigor orçamental. Ora bem, para isto funcionar também é preciso crescimento. Poderá a austeridade gerar crescimento, como alguns esperam? Duvido. O altruísmo, só por si, não basta
."

Martin Wolf

Um governo a irs...

"Num dia não muito distante, um presidente demitiu um primeiro-ministro em Portugal. Razão: "trapalhadas". O estroina Santana Lopes saiu e levou com ele a palavra. Ei-la de volta, acompanhando um apressado aumento da taxa de IRS. E não só.

Não será fácil ser Governo quando se supõe que o mundo muda à semana. Mas mais difícil ainda é ser governado. E José Sócrates perdeu o tino. Faz, desfaz e refaz, anuncia e cancela, aponta para a esquerda e vai para a direita. Não pratica política fiscal, nem tem governação económica, não é sequer Governo. Os únicos ministros que não são desautorizados são os que estão calados. José Sócrates já não tem a cabeça em cima dos ombros, vagueia como Bertran de Born no Inferno de Dante: decapitado, com a cabeça na mão, pendurada como um lampião falante.

O aumento do IRS foi anunciado para Julho, o que provocou uma antecipação dos pedidos de subsídio de férias. Depois, admitiu-se que seria à data de Janeiro, o que seria ilegal. Ficou para Junho, daqui a dias, o que apanhou o Fisco de surpresa e precipitou o caos. E para acabar com as tosses, tributa-se 7/12 do rendimento anual, tenha ele sido recebido quando for (senhor contribuinte, à cautela, reserve já dinheiro e conte com um acerto de IRS. No próximo ano, o reembolsado será o Estado...).

A trapalhada do IRS é o caso mais evidente do desnorte. Quem investe num país assim? Nem os portugueses (senhor contribuinte, pergunte a um advogado o que lhe andam a pedir as empresas. Que lhe mudem a sede fiscal para um local menos tributado e, sobretudo, mais estável).

Mas há outros casos, como o do TGV, que evidentemente vai ser suspenso. Espanha já o anunciou ontem, o que torna a persistência do projecto português cada vez mais patética. A linha Lisboa-Madrid arrisca-se a não chegar nem a Lisboa nem a Madrid, ficando-se por uma veloz metade de linha entre algures no Poceirão e nenhures em Caia.

Os erros do passado estão a voltar à superfície, como o aumento estapafúrdio (então denunciado, senhor contribuinte, aqui e em todo o lado) dos funcionários públicos no ano passado. Como a descida do IVA antes de tempo, mas sempre mirando as eleições. Que levaram o Governo a escandalosamente omitir previsões oficiais de derrapagens na receita fiscal, como há dias denunciou o "Público".

Nas últimas semanas, Portugal perdeu soberania e ninguém se inquieta muito, o que é espantoso. Temos os credores à porta e prestamos-lhes a vassalagem dos aflitos. A moção de censura de hoje do PCP ao Governo está errada: os 230 deputados, Presidente da República, presidente da Assembleia e primeiro-ministro deviam pôr-se à frente do mesmo espelho e apresentar uma moção de censura a si mesmos. Falharam em, ao menos, manter Portugal dos portugueses. E não sentem vergonha disso.

Entregámo-nos à intervenção externa de quem também está sem norte. Os mercados "estão descontrolados", como diz o ministro alemão das Finanças. A UE está desaustinada. Quando Durão Barroso um dia disse que a Europa era um Boeing sem ninguém no cockpit, mal sabia que anos depois o Boeing continuaria sem piloto mesmo com ele a bordo.

Portugal é também um avião sem piloto, mas mais pequeno: é um Cessna, daqueles que fazem publicidade nas praias. Na faixa diz: "Sempre em festa". Dirige-se para o aeroporto na expectativa de que lá esteja o FMI (e você, senhor contribuinte, já não sabe bem se receia encontrá-lo ou se secretamente o deseja)
."

Pedro Santos Guerreiro

Verdade ou fantasia

"A Comissão Parlamentar de Inquérito pode conhecer e discutir as escutas ou o resumo das escutas realizadas legalmente em processo judicial. Dito de outra forma, a Constituição da República permite que este meio de obtenção de prova possa ser valorado pela Assembleia da República na sua tarefa de apuramento de responsabilidades políticas.

É certo que a Constituição proíbe a ingerência das autoridades públicas nas comunicações, salvo nos casos previstos na lei em matéria de processo criminal. Mas esta proibição tem de ser conjugada com a competência, também ela constitucional, da CPI. Portanto, a ressalva do artigo 34.º, n.º 4 da Constituição inclui o processo criminal e o processo da CPI constitucionalmente equiparado. É que a Constituição refere-se aos poderes de investigação da CPI sem quaisquer restrições, tendo-se o legislador constituinte afastado claramente do modelo alemão mais restritivo. O carácter irrestrito dos poderes da CPI não pode deixar de ser compreendido como englobando a aquisição de meios de prova e de obtenção de prova, incluindo as escutas. Em suma, o conhecimento e a valoração das escutas ou dos seus resumos corresponde a um poder-dever constitucional dos deputados.

Acresce que, no caso em apreço, a CPI não adopta sequer qualquer medida de investigação que se traduza na imposição de novas restrições aos direitos fundamentais dos cidadãos, uma vez que as escutas já tinham sido realizadas no âmbito de um processo judicial e foram-no a coberto de uma autorização judicial. E também foi um juiz que facultou as escutas ou os seus resumos à CPI. Ao fazê-lo, o juiz cumpriu muito justamente o dever de colaboração das autoridades judiciais com a CPI, que só pode ser recusado quando dele derive prejuízo irreversível para uma investigação criminal. E este dever de colaboração impunha-se no caso, uma vez que a entrega das escutas ou dos resumos à CPI nenhum prejuízo traz para o prosseguimento do processo onde foram ordenadas e nenhum outro processo criminal foi aberto, até hoje, com o mesmo objecto da CPI. Aliás, seria incompreensível que a CPI não pudesse ter em conta prova incluída num processo judicial que mais tarde ou mais cedo vai ser público. Que credibilidade teria um relatório da CPI que ignorasse prova judicial que mais tarde ou mais cedo vai ser conhecida de todos os portugueses?

Dito isto, é importante notar que não se verifica qualquer partilha de funções jurisdicionais entre a Assembleia da República e os tribunais, que possa constituir infracção aos princípios constitucionais da independência do poder judicial e da reserva do juiz. A investigação levada a cabo por uma CPI, ainda quando tenha objecto matérias que estão ou já estiveram pendentes num tribunal, não é equiparável à instrução criminal, já que se situa num plano político e não judicial. Os fins prosseguidos pelos tribunais e pelas CPI são distintos, uma vez que os primeiros visam determinar a responsabilidade jurídica (civil, penal ou administrativa), ao passo que as segundas apenas procuram apurar a responsabilidade política ou simplesmente realizar uma tarefa de informação para o parlamento. Por isso também, o conhecimento das escutas pela CPI não está limitado aos crimes do catálogo legal do CPP.

O que a Constituição quis é que a verdade política se aproximasse o mais possível da realidade das coisas. E bem se compreende que assim seja. A Constituição quer facultar à CPI os mais amplos meios para descobrir a verdade dos factos, não permitindo que a verdade da política se converta numa fantasia. É que é a própria credibilidade do sistema político que está em causa
."

PAULO PINTO DE ALBUQUERQUE

sexta-feira, maio 21, 2010

O muro é já ali à frente

"Importa citar aqui e agora as palavras de Fernando Ulrich, presidente do BPI. Não é para memória futura.

É para percebermos melhor o que vai acontecer a Portugal a curto prazo. Disse Ulrich: "O dia em que batermos na parede não está muito longe. Talvez por semanas. E bater na parede significa, por exemplo, a intervenção do FMI." Dito isto, o presidente do BPI foi violentamente atacado pelo engenheiro relativo, que considerou as suas palavras incendiárias. E uns tantos bancários relativos, que passam a vida de rastos perante o poder e os seus negócios, vieram logo em socorro do patrão, indignados com a verdade. É evidente que o comportamento de Ulrich é atípico num País atolado em mentiras e desgovernado por mentirosos. Um pântano que não se recomenda ao pior dos inimigos
."

António Ribeiro Ferreira

quinta-feira, maio 20, 2010

Um país morto

A I República em reprise, só faltam os tiros e os motins, a maçonaria está cá, mas já não usa a carbonária, usa o poder dos dos aliados que os compraram, o sector financeiro e algumas das grandes empresas.
O Presidente da República não existe, vive para ser reeleito e faz figuras ridículas, como a de dizer que era contra, mas não vetou a do "casamento" entre supostos homens e supostas mulheres, porque de facto o não são, o resto podem dizer o que quiserem, não tenho nada contra o facto de serem o que são, mas assumam-se como gente que não é, nem homem nem mulher, ou macho e fémea se quiserem e este nojo, levou a uma intervenção do mais alto magistrado da nação, uma vergonha.
Passando à frente, o senhor Coelho diz que o país não tem dinheiro daqui a uns tempos, mas pisca o olho aos banqueiros causadores da crise e da bolha especulativa imobiliária e quer ser também um conviva do repasto, mas cortar na despesa não, afinal há muito comparsa, mas o problema, é que sabendo como diz que sabe, pensa que tem tempo para tudo, deixar Sócrates cair, deitar os foguetes e apanhar as canas, não sei onde tirou o curso, de política sabe-se que foi nesta choldra, a faculdade não sei nem quero saber.
Depois é a esquerda, a da política de terra queimada, ainda pensam que podem voltar ao tempo do Gonçalves aquele, o lunático, ou então sabem que podem ter mais uns votos, no entanto foram responsáveis pela destruição do tecido produtivo deste país através dos sindicatos e das comissões ditas de trabalhadores e afins.
Ninguém quer fazer as medidas que facilitariam tudo, que é menos estado e melhor estado, mas Passos que já teve curso intensivo dos Bilderberg, sabe o que é o neoliberalismo que o FMI vai impor, e que vai levar à massificação da miséria e destruição da classe média, e ironia das ironias, o homem, como reponsável agora da crise, porque Sócrates já não governa e porque quem cala consente, a esquerda trauliteira do PS e BE, vai ter as suas batalhas de rua, coisa de somenos, porque à paulada a GNR leva-os à certa.
Assim, estamos tramados, os que sabem, porque o resto, é um grande país de mortos vivos, mais de 6 milhões de almas.

Camouflage

Sem ponte por onde se lhe pegue

"Há TGV. Quer dizer: há meio. Não: há todo. A suspensão era a fingir? Sim: é mesmo para fazer. Mas não já. Talvez nunca. Foi só nacionalismo. Ulrich é que sabe: não há crédito. Quê? Arrebenta a bolha...

A lucidez desapareceu do mapa, anda atrás da sensatez. O TGV entrou num pára-arranca de anúncios e ninguém pode pôr as mãos no fogo pelo projecto. E isso tem tudo a ver com as declarações de ontem do presidente do BPI, sobre a escassez de crédito. De Ulrich, o que dizer?É o mais louco ou o mais lúcido dos banqueiros?

Parte 1: o TGV. Numa semana, o Governo suspendeu os grandes projectos públicos excepto a linha de Alta Velocidade ferroviária entre Poceirão e Caia. Depois, alvitrou que a terceira travessia do Tejo seria repensada. As perplexidades foram crescendo: porquê manter o TGV? A manter alguma coisa, porquê o TGV e não o aeroporto? E como estava a ser possível o ridículo de fazer meio TGV até ao Poceirão? Ou três quartos até ao Barreiro?

Parecia desorientação, mas não: o Governo está é bem orientado. O pretexto financeiro serviu para abortar o concurso que os espanhóis da FCC venceriam e lançar um novo concurso, está-se mesmo a ver que à medida do interesse nacional da Mota-Engil. A ideologia é uma plasticina fosforescente: os liberais na prosperidade são proteccionistas pragmáticos na crise.

Resumir o keynesianismo do Governo a uma obra entregue a espanhóis era um embaraço. Mas recusar uma proposta 500 milhões mais barata era desmancho difícil. Por não gostar do vencedor, o Governo fez como as crianças: acabou com o jogo. Começa tudo outra vez, está zero a zero. E assim a Mota escusa de ir para tribunal provar que a ponte espanhola cai.

Bom, a jogada para afastar os espanhóis está consumada e o País não se ralará. Continuamos a achar que interesse nacional é que sejam empresas portuguesas as beneficiadas, em vez de o serem os consumidores ou os contribuintes. E dizemos que se os outros países são proteccionistas, também temos de sê-lo. Um credo que, como se vê, nos tem levado longe.

Tudo isto é, no entanto, mais ou menos irrelevante porque nem esta obra é para fazer já. Mesmo a linha Poceirão-Caia só é fatalidade até 2013 enquanto Portugal e Espanha não anunciarem que adiaram bilateralmente o projecto, à espera de melhores condições de financiamento.

É disso que - Parte 2: - Ulrich fala. Quando avisa que o País não está a conseguir refinanciar-se, está a quebrar a regra número 1 dos banqueiros: mostra medo. Mas manter as aparências tem um problema: motiva comportamentos errados. Do Estado, que continua a anunciar projectos. Dos portugueses, que continuam sem poupar.

Os banqueiros acharão que Ulrich perdeu uma boa oportunidade para estar calado, mas ele não perdeu a cabeça. Mesmo que tenha escolhido o fogo, ele está a iluminar a sombra da negação: o crédito à economia vai reduzir-se pela primeira vez em Portugal. E essa desalavancagem matará sonhos de falsos ricos e realidades de novos pobres. Agora é que começa a provação das PME: muitas empresas economicamente viáveis serão financeiramente insuportáveis.

O OE foi destronado pelo PEC que foi anulado pelo Programa de Austeridade que ainda há-de ser alterado. Os impostos são definitivos (o próprio ministro das Finanças aceita que se manterão após 2011) mas os cortes na despesa são duvidosos, provisórios e contornáveis (ao contrário dos de Espanha).

Isto não fica por aqui. Isto começa aqui
."

Pedro Santos Guerreiro

A política Pum!

"Portugal precisa de um Big Bang. E não de um Pum! E é isso que o Governo está a fazer. Em vez de usar armas a sério usa pistolas de fulminantes. É a política Pum! O problema é que o futuro não se resolve assim. A culpa, para Sócrates, é da "blitzkrieg" dos mercados. Não é da falta de preparação estrutural do país, nem das brincadeiras orçamentais. As guerras relâmpagos só são eficazes quando os países defensivos pensam que imutáveis Linhas Maginot os protegem de tudo. Mas Sócrates não vê. Ou então, só vê o que quer, como se viu na entrevista que deu à RTP. Acredita que está cercado e que o mundo, as carpideiras e as moscas estão contra ele.

O mundo pode ter mudado em duas semanas, como se fartou de repetir, talvez para se convencer do facto. Só que era previsível que mudasse, e o poder político tem de intuir isso. Estava nas estrelas que a "blitzkrieg" dos mercados tinha como alvo Portugal. Só o Governo estava distraído. Sócrates diz que vai fazer o seu dever. Talvez vá, mas deixou para amanhã o que deveria ter feito ontem. Sócrates não mudou: acha que a história ainda se vai repetir. Por isso alimenta esta história mal contada de metade do TGV que se faz e do concurso anulado da ponte necessária para ele se concretizar. Sócrates acha que a ponte vai fazer-se, como sonhava e que o TGV também se concretizará.

Na sua legislatura. Sócrates continua a achar que o Estado é o pai dos povos e dos seus compinchas.

O problema é que a sua política Pum! já não engana ninguém. Apenas nos assusta sobre o futuro
."

Fernando Sobral

quarta-feira, maio 19, 2010

O pátio das cantigas

"Alguém quer que este Governo caia já. Ele é um fantasma. Assombra.

É uma versão do super-herói trapalhão Morcego Vermelho, a identidade secreta do Peninha. Faz peninha. O PCP quer que Sócrates caia, exangue, no Parlamento.

Sem que uma lágrima de crocodilo seja derramada por ele. Mas mais ninguém quer isso. Nem o Presidente, e por isso deixou passar o que Sócrates quer legar ao País. Nem o PSD, que não quer ser queimado como um bruxo na fogueira do combate ao défice. É triste este País: temos um Governo que já não o é; não desejamos um Governo que o possa ser. Todos querem e não querem porque tudo é um jogo: qual a melhor táctica para garantir o poder? Cavaco Silva não quer turbulências até ser reeleito. Pedro Passos Coelho não quer confusão antes de Cavaco voltar a ganhar as eleições. O problema é que, como alertou ontem Fernando Ulrich, não há tempo para tácticas: se acertarmos na parede não ficamos com um galo, perdemos os sentidos. E nada garante que o INEM do FMI ou do BCE nos injecte com o dinheiro que não temos nem nos emprestam. A crise mata e esfola.

E ninguém quer estar no lugar do morto reservado em São Bento para quem terá de lidar com esta crise.

A coreografia está montada e a Sócrates está reservado o papel de compère, como numa revista do Parque Mayer. Sócrates tentará passar a ideia que ele é o senhor Feliz e que Passos Coelho é o senhor Contente numa dupla imbatível. Para ver se não é sacrificado sozinho. Parece que ninguém está a ver que isto já não é uma comédia portuguesa estilo "Pátio das Cantigas
". "

Fernando Sobral

"Quem se deita com miúdos, acaba molhado"

"Sérgio Sousa Pinto considerou degradante a ideia, ventilada por Luís Amado, de incluir limites ao défice e dívida pública na Constituição: "É uma ideia infeliz e mais infeliz é num momento histórico em que o poder político se impõe ao BCE».

Sousa Pinto é o exemplo de políticos europeus que não sabem o que andam a dizer. Não percebem que politizar bancos centrais é submeter a política monetária aos ciclos eleitorais. Coisa que nos anos 70 e 80 deu cabo do poder de compra de milhões de famílias europeias. Alguém devia explicar ao deputado que bancos centrais independentes são a melhor protecção para o aforro e poder de compra das classes com menos posses. E que os alemães, que se deram muito bem com um banco central independente durante 50 anos, não estão para aturar os Sérgios Sousa Pintos desta vida (50% de alemães querem regressar ao Marco). Porque já perceberam que, há dez anos, em vez de se deitarem com graúdos, deitaram-se com miúdos. E como diz o ditado, quem se deita com miúdos acaba molhado.

P.S1 - "Como vê o Banif ainda não foi vendido ao BCP". Era com este fino humor que, volta e meia, Horácio Roque me recordava uma notícia que há 15 anos dei na "Exame". Mas sem ele o banco que fundou e fez crescer vai continuar sozinho?

P.S2 - Fernando Ulrich tem razão quando diz que estamos quase a bater "na parede". Mas um banqueiro não pode falar assim: o alarme daí resultante pode acender um rastilho (v.g.fuga de capitais) de consequências imprevisíveis. Os outros banqueiros disseram o mesmo num tom diferente? Sim. Mas se há sector onde o tom conta, é o da banca
."

Camilo Lourenço

terça-feira, maio 18, 2010

Já não há pachorra

"Portugal está a caminho de atingir a maior carga fiscal de sempre depois do último assalto anunciado pelo senhor engenheiro relativo.

E o senhor ministro das Obras Públicas garante a pés juntos que a terceira travessia do Tejo vai mesmo avançar, um projecto fundamental para o TGV entre Lisboa e Madrid e, claro, o novo aeroporto de Alcochete. É evidente que esta gente ou está doida ou anda pura e simplesmente a gozar com os pobres, os desempregados, a classe média e com todos os que vão pagar os desvarios eleitorais de um senhor engenheiro relativo, que há muito devia ter sido despedido por justa causa. Enquanto isto, o senhor Presidente da República decidiu falar ontem ao País. Sobre o quê? Os casamentos entre homossexuais. Sinceramente, já não há pachorra
."

António Ribeiro Ferreira

segunda-feira, maio 17, 2010

O assalto do relativo

"A senhora Merkel e o senhor Sarkozy deram ordens muito claras a Portugal e Espanha.

Diminuir rapidamente e em força os buracos das contas públicas. O senhor Zapatero chegou a Madrid e eliminou empresas públicas, direcções--gerais, reduziu os salários dos funcionários públicos em 5 % e cortou 15 % nos vencimentos dos políticos.O senhor engenheiro relativo chegou a Lisboa e fez um assalto fiscal, com a cumplicidade do economista relativo que lidera o PSD e a bênção do governador relativo do Banco de Portugal. O corte de 5 % nos ordenados dos políticos é areia lançada pelos assaltantes aos olhos das vítimas. De assalto em assalto, de mentira em mentira, Portugal já não está no caminho da Grécia. Está desgraçado por muitos e bons anos. Paz à sua alma
."

António Ribeiro Ferreira

domingo, maio 16, 2010

"Do You Dig Destruction?"

Governos da zona euro intensificam luta com os mercados

"Os governos arriscam tudo numa única cartada no seu jogo com os mercados financeiros.

O pacote que anunciaram no passado fim-de-semana é dramático, mas o que realmente importa saber é se é mais do que uma solução temporária. Não. A zona euro falhou nos moldes em que foi idealizada originalmente e só poderá ser bem sucedida se proceder a uma reforma radical.

Qual é o plano? Primeiro, os governos europeus disponibilizaram 500 mil milhões de euros: 440 mil milhões em garantias aos estados membros em dificuldade e uma ajuda à balança de pagamentos através do mecanismo europeu de estabilização, no valor de 60 mil milhões. Segundo, o Fundo Monetário Internacional vai, aparentemente, contribuir com 250 mil milhões de euros adicionais. Terceiro, o Banco Central Europeu, para grande pesar do presidente do Bundesbank, Axel Weber, decidiu comprar as obrigações dos membros que têm sido alvo de ataques especulativos. Por último, a Reserva Federal americana reabriu as linhas de ‘swap' para que os bancos estrangeiros tenham acesso a financiamento em dólares uma reacção motivada pelo pânico em resposta ao pânico dos mercados.

Será que o plano vai funcionar? Partindo do pressuposto que vai ser ratificado, a resposta deveria ser "sim", tal como concluíram os mercados, uma vez que encarece significativamente os custos de apostar contra a dívida de Estados fragilizados. A dívida pública da zona euro é ligeiramente inferior à dos EUA, face ao Produto Interno Bruto (PIB). Os governos com maior solvabilidade financeira podem, se assim decidirem, apoiar os que apresentam níveis de solvabilidade mais baixos. Pelo menos por ora.

Por que razão uma intervenção tão radical foi tida como necessária quando acabou por ser muito diferente da preconizada inicialmente? É neste ponto que temos de recuar à génese do projecto da união monetária, assente em três pressupostos. Primeiro, restrições orçamentais claramente definidas no tratado. Segundo, e no caso destas falharem, a cláusula ‘no bail-out' desempenharia o papel de travão. Terceiro, as economias dos seus membros iriam convergir com o passar do tempo. Ora bem, nenhum deles se materializou.

Em primeiro lugar, ficou provado que os limites definidos para o défice orçamental são ineficientes, além de irrelevantes. Ineficientes porque foram ignorados quando deviam ser vinculativos. Uma verdade gritante no caso da Grécia, que forjou os números durante anos. Irrelevantes porque alguns países que hoje têm défices elevados, como Espanha, cumpriram facilmente os critérios orçamentais, na condição da sua "economia bolha" continuar a expandir-se. Ora, Espanha encerrou 2005, 2006 e 2007 com excedente orçamental.

Em segundo lugar, os mercados, durante muito tempo, não prestaram atenção ao agravamento da fragilidade orçamental, atribuindo às obrigações da zona euro ‘ratings' similares. Paul De Grauwe, da Universidade de Lovaina, faz um comentário mordaz num artigo para o Centre for European Policy Studies: "A crise da dívida pública teve origem na prodigalidade de vastos segmentos do sector privado e do sector financeiro, em particular".

Os mercados financeiros financiaram a orgia, mas agora que é preciso arrumar a casa cedem ao pânico e recusam-se a financiar a "operação de limpeza". Resumindo, agiram pró-ciclicamente em todas as etapas.

Em terceiro lugar, a história da economia da zona euro tem sido, consequentemente, de divergência e não de convergência. Os défices externos mascararam a expansão de países com elevados excedentes da BTC e correspondente exportação de capital, como a Alemanha, e a retracção de outros, nomeadamente Espanha. Nos países onde a procura era fraca e os níveis de inflação baixos, as taxas de juro reais eram altas. No caso inverso, as taxas de juro eram baixas. Resultado? Além dos défices orçamentais terem crescido, urge repor a competitividade. Na zona euro, isto só é possível reduzindo os salários, aumentando a produtividade para níveis superiores aos da Alemanha - o que vai agravar o desemprego -, ou ambas as coisas.

Os governos procuram agora gerir as consequências da crise. Porém, ao descartarem o incumprimento estão, implicitamente, a proteger o sector financeiro da sua estupidez e a obrigar a população dos países endividados a pagar a factura. Será um acordo aceitável se os países em dificuldade não regressarem ao crescimento? Dificilmente.

Para onde vamos agora? Antes de mais, temos de reconhecer que nos limitámos a ganhar tempo. Na primeira crise real que a zona euro enfrenta, os governos tentaram tudo para evitar incumprimentos à medida que o financiamento escasseava. Agora, chegou a hora de tomar decisões importantes.

A primeira, e a mais fundamental, passa por definir se avançamos para uma maior integração ou para a desintegração. Ora, a resposta está na primeira. É óbvio que podemos imaginar um regresso às moedas nacionais, mas isso levaria à implosão do sistema financeiro, uma vez que as relações entre os activos e os passivos, actualmente em euros, se tornariam extremamente incertas. Além disso, haveria uma fuga de capital massiva para os bancos dos países considerados seguros.

A segunda implica definir como se vai gerir a divergência. A zona euro não pode depender apenas dos mercados. Terá de vigiar a divergência durante os ciclos de expansão e amortecer os ajustamentos nos ciclos de contracção. Para isso, é essencial que haja um fundo monetário. Essa vigilância também deve influenciar as políticas das economias com fraca procura, bem como as que apresentam excesso de procura. As primeiras têm de compreendê-lo: para quê acumular activos estrangeiros inúteis?

A terceira pressupõe criar mecanismos que facilitem mudanças na competitividade. Por outras palavras, é preciso reformar o mercado de trabalho, o que pressupõe, eventualmente, meios legais para efectuar um ajustamento pontual dos salários nominais.

A quarta decisão prende-se com o reforço da solidariedade e como fazê-lo. O ‘think-tank' Bruegel, sediado em Bruxelas, avançou com uma proposta interessantes: os países da zona euro deveriam reunir num fundo comum até 60% do PIB da dívida nacional para criarem um dos dois maiores mercados mundiais de dívida pública.

A última passa por definir como será reestruturado o excesso de dívida. É preciso fazê-lo. A alternativa daria origem a um vasto ‘moral hazard', não entre os políticos como até aqui se receava, mas entre os financeiros.

Como referiu, e bem, o meu colega Wolfgang Münchau, chegou o momento da verdade, especialmente para Berlim. A sobrevivência da zona euro é uma das metas a longo prazo da Alemanha, por razões que vão além do corolário que foi a política do pós-guerra no sentido da integração europeia.

A união monetária também protegeu a competitividade da indústria alemã, permitindo que a sua economia crescesse apesar da estagnação da procura interna.

A Alemanha tende a acreditar que tudo correria bem se os países deficitários fossem submetidos a uma disciplina mais rigorosa. Errado. A resposta passa, isso sim, por criar um sistema que reconheça e reaja à realidade. Deve ser mudado para contemplar a divergência, facilitar a reestruturação da dívida e promover o ajustamento económico. A alternativa a isto é o fracasso. Agora, é preciso coragem para fazer uma reforma sensata
."

Martin Wolf

Há salvação para o euro?

"A crise financeira grega pôs a sobrevivência do euro em causa. Quando da sua criação, muitos questionaram-se sobre a sua viabilidade a longo prazo.

Depois, como tudo corria bem, as preocupações esvaneceram-se, apesar de uma dúvida ter persistido: como seriam feitos os ajustamentos se parte da zona euro fosse atingida por um choque adverso? A partir do momento em que o Banco Central Europeu assumiu o comando da política monetária e cambial, instrumentos que os governos nacionais poderiam usar para estimular a economia e evitar uma recessão, a pergunta passou a ser: o que vai substituí-los?

Alguns esperavam que a tragédia grega convencesse os políticos de que o euro só pode vingar se houver mais cooperação, incluindo assistência financeira. A Alemanha, fazendo eco da sua opinião pública, recusou-se a dar à Grécia a ajuda de que o país necessita. Muitos questionaram-se, dentro e fora da Grécia, uma vez que foram gastos milhares de milhões para salvar os grandes bancos. Mas agora que é preciso salvar um país de 11 milhões de habitantes, o tema passou a ser tabu.

A lição é muito clara para os países mais pequenos da UE. Se não reduzirem os défices orçamentais, o risco de ataques especulativos será maior e a ajuda que possam obter dos seus vizinhos estará sujeita a restrições orçamentais pró-cíclicas dolorosas e contraproducentes. À medida que os países europeus adoptam essas medidas, as suas economias tenderão a enfraquecer e, consequentemente, a afectar a retoma mundial.

Seria útil analisar os problemas do euro numa perspectiva global. Os EUA queixam-se dos excedentes da BTC chinesa, mas se pensarmos em termos de percentagem do PIB, o excedente da Alemanha é muito superior. Vamos supor que o euro foi criado para o comércio na zona euro, no seu conjunto, ser mais equilibrado. Isso quer dizer que para a Alemanha ter excedente, o resto da Europa tem de apresentar défice. Ora, o facto desses países importarem mais do que exportam, fragiliza as suas economias.

Uma das soluções propostas para os países deficitários implica o equivalente a uma desvalorização, a uma descida uniforme dos salários. Além de inexequível, as consequências distributivas seriam inaceitáveis.

Existe uma segunda solução: a saída da Alemanha da zona euro ou a divisão desta em duas sub-regiões. O euro foi uma experiência interessante, mas tal como o quase esquecido mecanismo de taxas de câmbio que o precedeu e ruiu quando os especuladores atacaram a libra esterlina em 1992, carece de apoio institucional para funcionar em pleno. A terceira solução será, talvez, a mais promissora: implementar reformas institucionais, nomeadamente o tão necessário enquadramento orçamental, que devia ter sido posto em prática quando do lançamento da moeda única.

A Europa ainda vai a tempo de implementar essas reformas mantendo os seus ideais, assentes na solidariedade. Mas se não for capaz de o fazer, é melhor reconhecer o fracasso e seguir em frente do que enveredar pelo desemprego e sofrimento humano em nome de um modelo económico que apresenta numerosas falhas
."

Joseph E. Stiglitz

sábado, maio 15, 2010

Porque é que este plano de salvação é um plano de afundamento do país.

O que saiu da cartola deste governo e deste regime é uma fraude.
Porquê?
Porque é desonesto e são desonestos, os pressupostos, os números e os argumentos.
Este plano apenas vai agravar ainda mais a dívida soberana, porque aumenta impostos que deveriam no mínimo estar relacionados, no caso do IVA, com as taxas do vizinho do lado.
Portanto o PIB vai diminuir, mais empresas vão falir e mais desempregados vão aparecer, a dívida soberana vai aumentar e o preço dos juros. Não é preciso ser economista para saber, aliás acho que até é um defeito, um merceeiro à antiga saberia explicar melhor e economistas sérios há muito poucos, só os que sabem e não têm patrão, condição sine qua non para ser sério.
Sobre o IRS, é mais uma fraude e um embuste e vai sobrecarregar toda a gente, excepto os que ganham o ordenado mínimo, portanto vai empobrecer ainda mais as classe médias, a esmagadora maioria dos contribuintes líquidos para este estado, gosto pouco de falar em trabalhadores, coisa que deixo para o suposto operário metalúrgico, que no tempo da destruição da economia depois de Abril, teve as suas culpas, que se reflectem ainda hoje e sobre essa gentinha nem quero falar, não merecem, porque são tão desonestos como estes dois coelhos de cartola, Sócrates e Passos.
Olhando para o Orçamento, há rúbricas que nem aparecem mas que são despesa e se aparecem estão mascaradas, ou passam como despesa flutuante, tal como uma coisa que não digo e flutua.
O problema é que não se toca nas despesas que deveriam levar pura e simplesmente ao fim de organismos que só dão despesa e só servem a política de nepotismo, deste estado, laico, maçon e ladrão, porque de facto não tenho outro nome para o chamar.
Logo os actores e co-autores são parte da quadrilha.
Há despesas que apenas servem interesses privados e aumentam de forma exorbitante a despesa, este é um estado em outsourcing tão do agrado do neoliberal, Coelho de cartola.
Os outsourcings em tudo o que são bens e serviços, mas não constantes no OE, as empresas de todo o tipo, como as municipais, do ambiente, a lista é infindável, mas controladas pelo estado local e central são um escândalo e um caso de polícia, participação em negócio, associação criminosa, e blá , blá,(...) que as comissões de transparência e contra a corrupção tanto gostam de falar, bastava seguir o rasto do dinheiro, mas isso é coisa com nome pomposo que dá sempre em nada, tipo operação X,Y,Z...
Depois as entidades reguladoras, o tribunal constitucional que é um tribunal político que serve a partidocracia instalada, os institutos públicos, as fundações e ONGs, olha, lembrem-se e podem alocar o que mais quiserem, porque por mim estou farto de pregar no deserto e ainda há quem pense que há diferenças entre os partidos, como se fossem amores clubísticos e aí anda muita gente enganada, excepto claro os que mamam e são muitos, daí as eleições não servirem para nada.
Daqui as uns tempos vão pedir mais, mas a teta vai secar, porque os problemas de fundo não são atacados, por esta gente desonesta que tomou conta do estado e do país.
A república, deveria ser comemorada colocando uma bandeira negra ou uma da restauração, em cada janela, em cada varanda, deste sítio cada vez mais mal frequentado.
Pelo menos dos que se sentem roubados.

quinta-feira, maio 13, 2010

Um coelho e muitas cartolas...

A vergonha ou a falta dela está instalada no sítio cada vez mal mal frequentado.
O povinho merece.
Porque de Sócrates a Passos, passando pelo operário metalúrgico que se passeou pelo Passos Perdidos, para dizer que é também jacobino como os outros, lembrando as declarações infelizes de um indivíduo, que hoje não comenta das decisões económicas do governo, porque hoje não é dia de comentar e só de aulas de cátedra, porque não se lembra do que não pode, atendendo a que a memória recente é um problema, da oposição de um coelho, que já vai já deixando pêlo, e que pede desculpas e não tem coragem, porque os patrões dos dois, ou melhor de todos, não deixam dizer, o que deveriam, até ao folclore do BE, do menino bem comportado, com ar de seminarista não assumido, ficámos todos a saber, que os problemas ficam para resolver, e que os mesmos, vão continuar a pagar o que os bancos provocaram, os gestores de topo provocaram e porque os baylout são coisas que por cá se fizeram e se vão continuar a fazer.
O negócio é simples.
Os ursos que paguem a porcaria que as quadrilhas jacobinas andaram a fazer, e o povinho, muito crente no deus voto, continuará a apoiar.
Os ursos e camelos, esses irão continuar a ser mais pobres e mais impotentes, porque um voto um homem ou vice versa, é um bom sistema, para os parasitas e os ladrões das operações furacão e outra vão continuar a dizer que isto é um estado de direito democrático.
O senhor Coelho, com lágrimas nos olhos, fez um grande esforço para salvar o país da ruína e sobretudo entrar em acordo com o filósofo, não sei de que cartola o fulano saiu, mas deve ser uma cartola muito cheia de truques, a avaliar pela porcaria que mandaram cá para fora.
Aumentar a receita qualquer idiota é capaz, diminuir a despesa é tarefa difícil.
Sabem porquê?
Porque quem entra nos negócios de lá não pode sair.
Falo nos ilícitos.
Por exemplo:
Quem se mete com a máfia leva na tromba e sai para o cemitério na melhor das hipóteses.
Assim, é sabido dos manuais não publicados, por exemplo, que se alguém é traficante ou mula, vai recebendo, e se ao fim de 10 viagens, por exemplo, quer sair , pode sair, mas morto. Perceberam?
É assim que funciona.
Os tipos do direito aplicado ou por aplicar, sabem do que se fala, resto é trampa e foi este o acordo a que todos chegaram, digam o que disserem e façam o que fizerem, com mais ou menos barulho.

Sem papas na língua

"Bento XVI é um Papa que está a marcar decisivamente a vida da Igreja nestes dias em que o Mundo vive momentos de grande incerteza e turbulência. Homem de coragem, não volta a cara aos graves problemas da sociedade e do catolicismo.

Fala da pedofilia, "o maior pecado da Igreja", dos cem anos da República e da liberdade que a Igreja conquistou entre 1910 e 1926, dezasseis anos de ditadura jacobina,e da crise de valores e princípios agravada pela crise económica e financeira internacional. É evidente que muitos laicos não gostam de Bento XVI. É evidente que alguns sectores do catolicismo não gostam da sabedoria, da clareza e da firmeza de Bento XVI. Uns e outros rejubilam com a crise da Igreja na Europa. Mas esquecem-se de que a Europa laica e social está à beira do precipício
."

António Ribeiro Ferreira

quarta-feira, maio 12, 2010

Gentinha de meia-tigela

"O Presidente da República pediu aos portugueses para confiarem no ministro das Finanças. Obviamente, Cavaco Silva já nem fala do senhor engenheiro relativo. Era só o que faltava. O País já sabe que daquela boca só saem mentiras.

A semana passada garantiu a pés juntos que não ia haver aumento de impostos. Ontem, o tal ministro em quem os súbditos devem confiar anunciou não só o aumento do IVA como uma taxa especial sobre o subsídio de Natal. De um lado temos um mentiroso compulsivo, do outro cúmplices activos do senhor engenheiro relativo. Para compor o ramalhete lá apareceu o sacristão Vitinho do Banco de Portugal, cheio de coragem na hora da despedida, a pedir medidas ainda mais severas. É tudo gentinha muito ordinária, de meia-tigela
."

António Ribeiro Ferreira

terça-feira, maio 11, 2010

Diabolizar as escutas

"O que terão afinal as escutas da ‘Face Oculta’ enviadas para o Parlamento e que tanto assustam o BE e o CDS, companheiros do PS na diabolização das ditas!? Para o juiz do caso elas são essenciais para compreender o negócio PT-TVI, mas o BE e o CDS, que supostamente andam à procura da verdade sobre o que se passou, preferem acompanhar o PS, que não anda à procura da verdade.

Mais de meio País já percebeu, pelo que foi publicado nos jornais que elas são, de facto, essenciais, mas o BE e o CDS barricam-se num palavreado inútil que só aproveita quem nelas vê um acto de "espionagem política". Entendamo-nos: as escutas enviadas para o Parlamento não são transcrições integrais de escutas mas apenas resumos destas com o que interessaria ao processo que o procurador--geral da República não quis abrir. Não há processo, não há transcrições nem pormenores da vida íntima. É dos livros! Depois, diabolizar as escutas como instrumento de investigação é inacreditável. O BE, o CDS e o PS têm neste caso um discurso sobre as escutas que certamente não aplicam aos crimes de terrorismo e banditismo. Nestes, as escutas são importantes, já nos outros... Tanto ziguezague só se percebe se afinal as escutas trouxerem mesmo alguma verdade, provavelmente muito inconveniente para os interesses destes partidos
."

Eduardo Dâmaso

segunda-feira, maio 10, 2010

O défice, os culpados e as virgens ofendidas...

Parece que o Senhor Presidente da República, deste sítio muito mal frequentado chamou os responsáveis pela desgraça a que chegou o dito sítio.
Se não vejamos:
Então todos aqueles figurões e podem faltar uns 3 ou 4, incluindo o Presidente, não são os responsáveis pela crise endémica do chamado estado e por esta?
Todos fizeram parte do poder desde Abril.
Agora vêm todos com ar de virgens ofendidas dizer o que todos sabem, ou seja, vão pedir mais sacrifícios aos do costume.
Aumento de impostos e menos estado social ou menos estado, a cartilha neoliberal que o FMI sabe e dita.
Os outros culpados?
Todos os partidos políticos da esquerda à direita, sem excepções.
É claro que os figurões não querem cortar pelo lado da despesa.
Há múltiplos organismos que poderiam servir para reduzir assim de uma vez o défice.
Fazer assim uma coisa como Houdini...
Institutos Públicos, criados pelo famigerado PRACE que multiplicaram por 20 as despesas das antigas Direcções Gerais e ainda por cima sem controle da mesma, acabar e extinguir os mesmos e voltar às antigas Direcções Gerais e cumprir as determinações do Tribunal de Contas.
Fechar e auditar as Empresas Municipais criadas para as clientelas dos partidos a nível local.
Acabar com todas as Entidades Reguladoras fonte de despesa apenas e que apenas desregulam.
Acabar com o Tribunal Constitucional.
Diminuir o número de deputados para cerca de 120 (e vá lá...) e a despesa com a Assembleia da dita república do sítio.
Acabar com Concelhos mais pequenos que muitas Freguesias, afinal não é assim muito difícil, o povo sai à rua porque quer ser sede de concelho, pois... a coisa resolve-se à antiga...
Saída da NATO, afinal a coisa existe para quê?
Não temos nada a ver com a produção de ópio e não temos o petróleo de graça roubado aos Iraquianos, se não quiseram fazer a guerra nem aguentar a selvajaria da descolonização, querem o quê agora os senhores militares comissões de serviço? Só está quem quer, não são guerras nossas e que as fez e inventou que as aguente.
É claro que falta falar na maior das despesas:
O estado em outsourcing, das empresas dos amigos e afilhados, o nepotismo das sociedades de advogados e da maçonaria infiltrada, tudo no estado é feito em outsourcing, desde a limpeza das latrinas até aos pareceres jurídicos muitos deles verdadeiros abortos, por falar em abortos, também estes pagos por nós e transformados em meios anticoncepcionais, no país da causas fracturantes, o aborto livre e o casamentos dos homossexuais, coisa que distraiu de tal forma este PM que se esqueceu (?), digamos assim, do défice e da destruição da economia ou a continuação da mesma.
Claro que não temos solução.
A dívida vai continuar a crescer e o défice igual.
Vejam nos últimos anos as empresas que desapareceram e que podiam incorporar com material lá fabricado sem recurso a importação a construção do TGV, não vou lembrar quais são, cada um que pense, porque isto não vai durar até ao Natal.

domingo, maio 09, 2010

9 de Maio de 1941


The German submarine U-110 is captured by the Royal Navy. On board is the latest Enigma cryptography machine. The second U-110 was a Type IXB submarine of the Kriegsmarine. Her keel was laid down February 1, 1940 by AG Weser, of Bremen, Germany. She was commissioned November 21, 1940 with Kapitänleutnant Fritz-Julius Lemp in command. Lemp commanded her for her entire career.

The second U-110 conducted two patrols, sinking three ships totalling 10,149 tons and damaging two others totalling 8,675 tons. On March 23, 1941, her 105mm deck gun exploded during firing, wounding three men. On May 9, 1941, she was captured.

U-110 was attacking a convoy along with U-201 in the North Atlantic south of Iceland when Lemp left his periscope up too long. The escort HMS Aubretia spotted it and began dropping depth charges. U-110 survived the first attacks but when HMS Bulldog and HMS Broadway joined the attack, U-110 was forced to surface. Bulldog set course to ram. Lemp saw her charge and ordered "Abandon Ship," presumably assuming that since the boat was going to be rammed and sunk, its secrets — such as codebooks and Enigma settings lists — were safe.

At the same time, however, Bulldog 's commander Captain Joe Baker-Cresswell realized that a capture might be possible and changed course, avoiding the collision. Lemp, in turn, saw that the boat was not sinking and attempted to swim back to it to destroy the secret material. He was never seen again. He may have been shot in the water by a British sailor (as testified by a German eyewitness), but his fate is unknown. Including Lemp, 15 men were killed in the action and 32 captured.

Bulldog's crew stripped U-110 of everything portable on the spot, including her secret documents and Enigma cipher machine. U-110 was taken in tow back toward England, but to ensure that the Germans would not learn that she had been captured and change the cipher system, the Admiralty send orders that the boat be scuttled at sea.

U110's capture was later given the code word Operation Primrose and was one of the biggest secrets of the war. It remained secret for thirty years. President Franklin D. Roosevelt was only told by Winston Churchill in January 1942.

The movie U-571 was partially inspired by the capture of U-110.

Mais.

9 de Maio de 1945


Göring entrega-se ao 7º Exército Norte-Americano, ocasião em que foi despojado de todas suas condecorações e feito prisioneiro e, para sua surpresa, levado a julgamento no Tribunal Internacional de Nuremberg em 1946.

Durante seu julgamento, Göring (que no cativeiro livrou-se das drogas e perdeu boa parte de seus 126 Kg) conduziu sua própria defesa habilmente e com vigor, freqüentemente superando o conselho de acusação. Com Hitler morto, ele assumiu a personalidade dominante sobre os demais réus - voltara a ser o Göring dos velhos tempos conforme observou um dos juizes aliados : “Cortês, arguto e hábil ele via rapidamente todas as alternativas da situação (...) seu auto controle era notável...”

Contudo, Göring falhou em convencer os juizes que o consideraram culpado de todas as acusações e o condenaram à morte por enforcamento. O Reichsmarshall, entendendo que a forca não era um fim glorioso para um soldado requereu que fosse executado por um pelotão de fuzilamento, o que foi negado. Em 15.10.1946, duas horas antes de sua execução ocorrer, Göring cometeu suicídio em sua cela ao ingerir uma cápsula de cianureto que ele tinha conseguido esconder de seus guardas durante o cativeiro. O seu corpo foi cremado e as suas cinzas atiradas ao vento.

Mais.

Alemanha não serve de modelo para a Europa

"O esforço levado a cabo no sentido de unir os Estados pode, ao invés, aumentar as fricções que já existem entre si. Nesse caso, estaremos perante a definição clássica de tragédia: Hybris (arrogância), Atea, (insensatez) e Némesis (destruição)”.

Foi esta a conclusão de um artigo que escrevi em Dezembro de 1991, a propósito da união monetária. Sei que a elite da Europa está empenhada no êxito do projecto europeu, porém, a crise é profunda, quer para a zona euro, quer para a União Europeia (UE) e para o resto do mundo. Como referiu o meu colega Wolfgang Münchau, da reunião do Conselho Europeu na semana passada não saiu uma solução, mas uma decepção.

A Grécia é o desafio imediato. Sobre esta matéria, os chefes de Estado e de Governo declararam que "no quadro de um pacote que envolva um financiamento substancial do Fundo Monetário Internacional e um financiamento europeu maioritário, os Estados membros da zona euro estão dispostos a contribuir para a concessão de empréstimos bilaterais coordenados". No entanto, a declaração prossegue assim: "Qualquer desembolso de empréstimos bilaterais será decidido por unanimidade pelos Estados membros da zona euro, sob reserva de uma forte condicionalidade e com base numa avaliação a efectuar pela Comissão Europeia e pelo Banco Central Europeu. (...) O objectivo desse mecanismo não é disponibilizar financiamento às taxas de juro médias da zona euro, mas criar incentivos a um retorno tão rápido quanto possível ao financiamento pelo mercado (...)".

A Alemanha, o membro mais poderoso da zona euro, conseguiu o que queria, apesar de o desenlace não ter agrado aos restantes, nomeadamente à França e ao Banco Central Europeu (BCE), que não quer que o fundo interfira na política monetária. Nicolas Sarkozy deve encarar com pavor qualquer intervenção de uma instituição sediada em Washington e presidida por Dominique Strauss-Kahn, rival de peso ao cargo de presidente da França.

Seria errado, porém, considerar que se trata de uma vitória do Fundo Monetário Internacional (FMI) ou sequer da Alemanha. O "desenlace" afigura-se, pois, inexequível.

Primeiro: estamos perante um programa da UE ou do FMI? O que pode acontecer se o FMI discordar da Comissão Europeia? Ora, é muito provável que discordem. O aperto orçamental acordado pela Grécia, de 10% do PIB nos próximos três anos, é impraticável por não haver flexibilidade monetária nem cambial. Possivelmente, nenhum programa será bem sucedido devido às condições iniciais desfavoráveis.

Segundo: quais as probabilidades de a zona euro apoiar unanimemente um programa do FMI?

Por último, porque haveria essa "ajuda" de ajudar? O problema imediato da Grécia são as elevadas taxas de juro que tem sido obrigada a pagar. Disponibilizar liquidez a uma taxa de juro penalizadora numa altura em que a Grécia não tem acesso ao mercado só iria agravar o seu problema de insolvência. Além disso, quando a ajuda chegasse já seria tarde de mais.

Até aqui tudo mal. E é quando olhamos para os grandes desafios que as coisas se tornam assustadoras. A relutância em aceitar uma situação de incumprimento é, pois, preocupante. Mais importante ainda: a ideia que a Alemanha tem sobre como a zona euro deve funcionar está errada.

Herman Van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, declarou no final da reunião que esperavam "ter tranquilizado os titulares de obrigações gregas e deixado claro que a zona euro jamais deixará a Grécia entrar em bancarrota". Só existem duas maneiras de honrar este compromisso: ou os Estados membros passam cheques em branco uns aos outros ou assumem o controlo das finanças públicas - e do governo - dos países malcomportados. A Alemanha jamais aceitaria aquela, enquanto que os princípios políticos europeus jamais permitiriam esta. Perante isto, a declaração de Rompuy é absurda.

Consideremos agora a questão mais importante. Na declaração de 25 de Março também se lê que "a actual situação demonstra a necessidade de reforçar e completar o quadro existente, de assegurar a sustentabilidade orçamental na zona euro e de fortalecer a sua capacidade de actuação em tempos de crise. De futuro, haverá que reforçar a supervisão dos riscos económicos e orçamentais, bem como os instrumentos para a sua prevenção, incluindo o procedimento relativo aos défices excessivos". Daqui se depreende que a debilidade das posições orçamentais nos países periféricos resulta da ausência de disciplina orçamental. É verdade no que respeita à Grécia e, em menor medida, a Portugal. Espanha e Irlanda, porém, aparentavam ter uma posição orçamental particularmente sólida. O seu ponto fraco estava nos défices financeiros do sector privado. Ora, a explosão do défice orçamental só teve lugar depois de o sector privado fazer correcções após a crise. Como o problema estava no sector privado e não no público, é fundamental que a supervisão também se focalize no sector privado e não apenas no sector público.

Importa referir que as bolhas de activos e a expansão do crédito no sector privado dos países periféricos também reflectem a ausência de crescimento da procura nos países centrais. Foi neste contexto que a política monetária do BCE produziu uma expansão mais ou menos adequada da procura na zona euro no seu conjunto. À pergunta qual foi a causa subjacente às catástrofes orçamentais que hoje vivemos, devemos ter presente que, em última instância, foram o resultado de uma política monetária acomodatícia, usada para contrabalançar o fraco crescimento da procura nos países centrais da zona euro e, em especial, na Alemanha.

Os decisores políticos alemães dispensam o actual debate sobre a procura interna e os desequilíbrios na zona euro. Enquanto assim for, o compromisso assumido pelo Conselho de promover "a estreita coordenação das políticas económicas na Europa" nunca será honrado. Pior. A Alemanha dispensa que os seus parceiros reduzam rapidamente os défices orçamentais. A zona euro, a segunda maior economia mundial, tenderia a transformar-se numa "grande Alemanha", padecendo de uma procura cronicamente fraca. A Alemanha e outras economias semelhantes poderiam aumentar as exportações para os países emergentes a fim de contornar este problema, mas isso condenaria os parceiros estruturalmente mais frágeis - em particular aqueles onde os custos são menos competitivos - a um longo período de estagnação. No melhor dos cenários, entenda-se. Ora bem, é esta a tão propalada "estabilidade"?

O projecto da união monetária enfrenta um grande desafio - a crise grega não é fácil de resolver. Porém, o maior desafio reside no facto de a zona euro não funcionar como a Alemanha quer. Como já referi em crónicas anteriores, a zona euro só poderá "germanizar-se" exportando o excesso de oferta ou empurrando numerosas áreas da economia da zona euro para uma crise prolongada ou, muito provavelmente, ambas. A Alemanha só pôde sê-lo porque mais nenhum país o foi. No entanto, se a zona euro se transformar numa Alemanha, não imagino como as coisas poderão funcionar.

A Alemanha pode conseguir os seus intentos no curto prazo, mas não pode moldar a zona euro da forma como pretende. Os défices orçamentais elevados são um sintoma e não uma causa da crise. Haverá uma solução satisfatória para este dilema? Até aqui não se vislumbrou nenhuma, o que é particularmente assustador
."

Martin Wolf

sábado, maio 08, 2010

Vertige

Está alguém aí?...

"É incompreensível que o Governo adjudique amanhã o troço do TGV. Que queira branquear todos os ecrãs iluminados de vermelho. Que esteja cismado neste impossivelmente sós. Sócrates fugiu para a ilha deserta do seu pensamento, onde recusa ver as garrafas cheias de mensagens que chegam nas marés vivas.

O que será preciso acontecer para que o Governo desça dos telhados de Roma onde toca a lira de Nero? Acreditará mesmo que isto passa com o tempo? Não percebe que isto pode piorar? A crise financeira não é uma alucinação colectiva em que o Governo português é o último lúcido do planeta. "Na terra dos cegos, quem tem um olho é rei, diz o adágio: na terra dos doidos, quem tem juízo é doido", concluía Mário de Sá Carneiro.

As bolsas estão a derreter. A dívida cobrada a Portugal já ultrapassa os 6,1%, o "spread" que os credores nos cobram já é 320 pontos mais caro que o pedido aos alemães. Trichet pede que nos apressemos, Constâncio diz que o tempo se tornou demasiado luxuoso. E nós, perante esta hecatombe que massacra os endividados, adjudicamos amanhã o TGV.

É pena que se tenha tornado desrespeitoso chamar autista a quem patologicamente não o é. É pena porque é o melhor termo que explica esta negação de José Sócrates. Começando por esta provocação que é fechar esta semana, precisamente esta semana, precisamente amanhã, a adjudicação do TGV. Será que José Sócrates quer que lhe apressem a queda do Governo, para poupá-lo do ónus das medidas que aí vêm?

Sobre o TGV: esta primeira adjudicação (de Caia a Poceirão) é menos cara e tem menos risco que a segunda (dali até Lisboa). Quase todo o financiamento é comunitário e do Banco Europeu de Investimentos. Mas o "timing" é desastroso. E como ninguém faz meia linha de TGV (esperemos...), a adjudicação de amanhã compromete a seguinte. Quem esperou tantos anos pode esperar mais alguns meses para ver se os mercados sossegam...

Talvez o primeiro-ministro pense que os economistas ensandeceram. Incluindo o seu ministro das Finanças, encurralado na solidariedade que lhe fecha ou os olhos ou a boca. Incluindo o governador do Banco de Portugal, que sobre as queixinhas de que a culpa é dos outros - especuladores, agências de "rating", gregos, alemães, dos economistas, gestores, jornalistas, ex-ministros das Finanças... - disse: é irrelevante culpá-los, é-o tanto como um capitão de um navio numa tempestade queixar-se do mar revolto.

Neste Titanic, o capitão abandonou a proa e foi ele mesmo para a orquestra que continua a tocar. Mesmo que tudo corra bem e que o mar acalme - que os mercados subitamente acreditem que a Zona Euro está invulnerável -, o rombo nas contas de Portugal não desaparece.

O cenário radical, e ainda improvável, é o de que precisemos de ajuda externa dos credores, por exemplo num reescalonamento da nossa dívida. O melhor cenário implica, de qualquer forma, uma contracção do crédito, menos investimento, logo, menos emprego e crescimento, recessão. Em qualquer dos cenários, é preciso agir.

O PEC era bom, mas perdeu-se tempo e já não chega. Se a Grécia tivesse agido em Fevereiro, precisaria de 40 mil milhões, agora 110 mil milhões não bastam. Dizer isto não é fazer oposição, nem sequer política. "É a economia, estúpido
."

Pedro Santos Guerreiro

A ajuda à Grécia é apenas o começo

"Para grandes males, grandes remédios. A zona euro, após meses de procrastinação com custos elevados, avançou por fim com um gigantesco pacote de ajuda financeira à Grécia.

O facto de envolver o Fundo Monetário Internacional (FMI), a mando de Berlim, além de trazer recursos adicionais ajudou a melhorar programa. Mas será que este vai funcionar? Infelizmente, tenho sérias dúvidas sobre o seu êxito.

Em que consiste o programa, afinal? Em traços largos, consiste num pacote de 110 mil milhões de euros - que correspondem, grosso modo, a pouco mais de um terço da dívida grega -, 30 mil milhões dos quais assegurados pelo FMI (acima do que habitualmente é permitido) e os restantes pela zona euro. O suficiente para manter a Grécia fora do mercado, se necessário, durante mais de dois anos.

Atenas, em contrapartida, compromete-se a pôr em prática uma consolidação orçamental de 11% do PIB nos próximos três anos, a somar às medidas já em curso, a fim de reduzir o défice de 13,6% em 2009 para 3% em 2014. As medidas do governo do lado da despesa visam gerar poupanças na ordem de 5 ¼ por cento do PIB nos próximos três anos: as pensões e os salários vão ser reduzidos para, depois, serem congelados durante três anos, o pagamento de bónus vai ser suspenso e estima-se que as medidas fiscais possam gerar receitas na ordem dos 4% do PIB. As previsões para a dívida pública apontam, apesar de tudo, para uma forte subida, devendo atingir os 150% do PIB.

No que respeita a alguns aspectos de fundo, o programa tende a ser menos realista que o seu antecessor intra-europeu. Já ninguém se deixa iludir pela ideia de que, este ano, a economia iria sofrer apenas uma ligeira contracção, regressando depois a um crescimento estável. Aparentemente, o novo programa tem em consideração uma descida cumulativa no PIB de cerca de 8%, muito embora tais previsões sejam extremamente incertas. O antigo plano partia de um princípio semelhante, isto é, que a Grécia seria capaz de reduzir o défice orçamental para menos de 3% do PIB até final de 2012. A meta no novo plano é 2014.

Gostaria de realçar outros dois aspectos agora decididos. Primeiro, não há reestruturação da dívida. Segundo, o Banco Central Europeu vai suspender o limiar mínimo de notação de risco exigido para os activos controlados pelo Estado grego quando de operações de liquidez, assegurando assim algum apoio aos bancos gregos vulneráveis. Será que este programa é razoável, quer para a Grécia quer para a zona euro? Sim e não em ambos os casos.

Comecemos pela Grécia. Em primeiro lugar, perdeu o acesso aos mercados. Nesse sentido, a alternativa a este pacote - independentemente de poder ou não ser implementado - seria a bancarrota. O país deixaria de pagar os juros da dívida, mas teria de liquidar de imediato o défice orçamental primário, de 9-10% do PIB. Uma medida muito mais austera do que aquelas que a Grécia agora aceitou. Numa situação de bancarrota, isso significaria o colapso do sistema bancário. A Grécia faz bem em prometer mundos e fundos para ganhar o tempo de que necessita para eliminar o défice primário de uma forma mais suave.

Custa a crer que a Grécia possa evitar a reestruturação da dívida. Primeiro, vamos partir do princípio que tudo corre como planeado e que os juros médios da dívida a longo prazo se mantêm num nível baixo, por exemplo, em 5%. O país teria, então, de gerir um excedente primário de 4,5% do PIB com receitas equivalentes a 7,5% do PIB, destinadas ao pagamento dos juros. Irá o povo grego suportar esse fardo ano após ano? Segundo, as previsões mais recentes do FMI são, a meu ver, demasiado optimistas. É provável que a drástica redução orçamental agora prevista e a ausência de um contrapeso em termos cambiais ou de política monetária mergulhe a Grécia numa recessão prolongada.

Perante isto, pergunto-me se uma reforma estrutural seria solução. Não, salvo se resultar numa descida significativa dos custos unitários nominais de trabalho, visto a Grécia precisar de uma subida forte e prolongada nas exportações líquidas para contrabalançar o aperto orçamental. A alternativa, uma forte expansão no défice financeiro do sector privado, é inconcebível. Além disso, se os salários nominais descerem, os custos do serviço da dívida serão ainda maiores do que o previsto.

Willem Buiter, economista-chefe do Citigroup, realça num artigo extremamente interessante que outros países com rendimento elevado, entre os quais o Canadá (1994/98), a Suécia (1993/98) e a Nova Zelândia (1990/94), foram bem sucedidos na sua estratégia de consolidação orçamental.

No entanto, importa frisar que, no caso desses países, as condições iniciais eram mais favoráveis. Ora, o que se exige à Grécia neste momento é que faça o que a América Latina fez nos anos 80. Uma década perdida, em que os credores estrangeiros foram os principais beneficiários. Mais: quem vai substituir os credores que hoje são pagos para fugir? Este pacote não vai ajudar a Grécia a regressar ao mercado dentro de alguns anos em termos mais favoráveis. E será preciso mais dinheiro se a reestruturação da dívida grega for - insensatamente - excluída.

Para outros membros da zona euro, o programa evita um choque imediato nos frágeis sistemas financeiros por se tratar, claramente, de uma ajuda à Grécia e, disfarçadamente, de uma ajuda aos bancos. Fica uma dúvida: a que ponto vai ajudar os membros que actualmente se encontram na linha de fogo? Os investidores poderão pensar, tendo em conta a escala do pacote necessário para a Grécia e as dificuldades que marcaram o respectivo processo de aprovação e ratificação, em particular na Alemanha, que os futuros novos pacotes serão, essencialmente, ambíguos.

Outros membros da zona euro ficarão por sua conta e risco. Nenhum está numa situação tão dramática como a Grécia nem nenhum se portou tão mal como a Grécia, no entanto, alguns debatem-se com défices orçamentais insustentáveis e rácios de dívida em rápida ascensão - o que os coloca numa situação semelhante à dos EUA e Reino Unido. A diferença é não terem as mesmas opções estratégicas.

Resumindo, esta história ainda não acabou. No caso da zona euro há duas lições a reter. Primeira: ou se aceita uma situação de bancarrota, por mais confusa que possa ser, ou se institui uma verdadeira união orçamental dotada de forte disciplina e de fundos suficientes para "amortecer" os ajustamentos nas economias mais fragilizadas. Buiter recomenda a criação de um Fundo Monetário Europeu de 2 biliões de euros. Segunda lição: o ajustamento na zona euro só poderá ter êxito depois de os países-chave procederem, também eles, a ajustamentos. Se a zona euro mantiver, no seu conjunto, uma procura fraca ou estagnada corre o risco de se transformar numa arena de desinflação competitiva - onde vai prevalecer a tentativa de empobrecer o vizinho (‘beggar-my-neighbour') - cada vez mais dependente dos mercados internacionais enquanto escape para os excedentes. Ora bem, poucos vão gostar deste desenlace.

As crises que neste momento se desenrolam confirmam o bom senso daqueles que viram na moeda única uma iniciativa particularmente arriscada. Estes choques não constituem propriamente uma surpresa. Pelo contrário, penso que seriam expectáveis. O medo de que a união de países tão distintos iria aumentar a tensão em vez de a reduzir também parece justificado - veja-se o sentimento antieuropeu que entretanto grassa na Alemanha. A zona euro foi criada, logo, tem de funcionar. A ajuda à Grécia é apenas o começo. Ainda há muito para fazer, quer no que respeita à crise imediata quer à reforma da zona euro num futuro não muito distante
."

Martin Wolf

Divulgue o seu blog!