quinta-feira, julho 29, 2010
Vivemos num país sem governo, sem regime e com um índice de corrupção semelhante ao de Angola. Depois, com um presidente que aconselha os empresários a investir num país com um dos regimes mais brutais e corruptos do mundo.
Temos um Procurador que não procura coisa alguma, só mostra força aos fracos e aos que se não podem defender, mostrando que a justiça existe para proteger os amigos, anular os inimigos e condenar os fracos, é isto o que se comemora nos 100 anos da República e tenho de colocar uma excepção,a II República, porque por muito que custe a muita gentinha que por aí anda é, o que é verdade custa .
O PM, não tem culpa, a culpa é da justiça, e um regime que se diz democrático só se for por anedota. Quem manda é o poder económico que come à mesa dos altos servidores deste estado corrupto, os criminosos violentos têm um acordo tácito com o estado, que é simples não nos toquem, que nós não lhes fazemos mal, nem a vocês nem às vossas famílias e se acontecer foi dano colateral como agora se chama.
Com este govero e estas oposições, estamos como na I República só que a guerra não é entre militares, é entre gangs, de gangs e da miséria que provoca um número nunca visto de mortes por motivos passionais e de ódios antigos, assim, meus amigos começam as guerras chamadas de civis e esta não é por motivos políticos é mesmo hobesiana, o Leviatã faltou à chamada, os homens de bem desapareceram do estado e da sociedade civil, Hobbes é para reler.
sexta-feira, julho 23, 2010
Afinal senhora chanceler, Almúnias e cº, Lda, em que ficamos?
Depois de perseguirem os pobres do sul, afinal a Alemanha da chanceler parece que entrou no jogo dos bancos falidos sabendo que estavam falidos, mas não querendo saber se estavam falidos e há um comissários espanhol que vai ter de engolir em seco.
Isto vem confirmar que esta crise é artificial e surge ditada pelos senhores do costume, e pelos mordomos que aqui vivem nesta Europa com uma comissão que é controlada pelo Fed e FMI.
Uma vergonha.
Anda por aí um rapaz que foi formatado pelo FMI, digamos que é um Sócrates mas para pior, com curso feito do lado de lá do Atlântico.
Fizeram tantas, como na Argentina, Nova Zelândia, Brasil, até Lula dizer vão dar uma voltinha.
Não há aqui ideologias, falamos de dinheiro e do poder do mesmo, ou seja o poder de destruir países e Estados.
Este foi o papel do FMI, só se calaram durante um tempinho , quando a América e Wall Street vigarizava o mundo e exportava o lixo tóxico ou seja os produtos financeiros criados ainda no tempo em que era presidente o marido desta senhora que fala grosso, com os desgraçados deste miserável mundo, não se ouviu nada em relação à BP, relembrando que os bancos de investimento foram criados no tempo do senhor da sala oval que fumava charuto de forma esquisita.
Esta é a essência da crise e continua enquanto tivermos políticos comandados por Washington e Wall Street.
Constituição.
"O principal mérito do projecto de revisão constitucional que anda a ser preparado pelo PSD é o de ter colocado à discussão uma série de questões, algumas delicadas, não tendo medo de ser politicamente incorrecto e não fazendo o péssimo truque, habitual na política portuguesa, de só tomar as medidas polémicas ou falar da necessidade de fazer cortes ou reduções depois de eleições. Este é claramente um ponto a favor, como é também um ponto a favor a abertura da discussão sobre o que todos podemos esperar do Estado social. Depois há questões, do ponto de vista da reforma do sistema político, em que não se entende bem a prioridade estabelecida, relativa às competências do Presidente da República. Fazia mais sentido, acho eu, debater questões como o funcionamento do sistema partidário, a reforma das eleições para tentar maior participação (por exemplo facilitando candidaturas independentes), e uma abordagem séria das actualizações impostas pela evolução enorme de comunicação e das novas possibilidades de participação desenvolvidas tecnologicamente nos últimos dez anos.
Faz-me impressão que se encare como imutável o papel dos partidos e dos seus aparelhos e que se trave a abertura da política e da participação cívica a independentes - de que os partidos apenas têm uma visão utilitária em véspera de eleições. E, claro, não se entende como se fala da educação e da saúde e não se aborda de frente a questão da degradação cada vez maior do funcionamento da justiça. Mas regressemos à questão das obrigações do Estado em matéria social - o sistema inevitavelmente tem de ser revisto: não é suportável pagar ainda mais impostos em nome de um modelo que penaliza as gerações futuras e que no fundo se está a deteriorar. E não se pode falar de diminuir o Estado Social sem mostrar que ao mesmo tempo descerão os impostos - se não for assim, ninguém percebe. Não é por acaso que são os arautos da brigada do reumático, que nunca fizeram contas e que são muito responsáveis pelo estado das finanças públicas, que aparecem a gritar contra as mudanças nestas áreas. Mas é também certo que a forma como foram comunicadas as propostas do PSD - a conta-gotas, de forma desconexa, parcelar, e muitas vezes incompleta, deram azo a que a gritaria dos que nunca querem mudar nada se amplificasse. A última coisa que a reforma do Estado social precisa é que se alimente uma frente unida da velha esquerda e que se comprometa o apoio da zona central do eleitorado às mudanças necessárias. E este ressuscitar da frente unida de esquerda poderia ser evitado se o assunto fosse bem comunicado e de forma dirigida ao alvo mais interessado na mudança - todos os que começam agora a sua actividade profissional. Espero sinceramente que a má comunicação não comprometa as boas propostas e que haja ainda o bom senso de repensar o que é mesmo importante na reforma do sistema político-partidário.
Crise
O episódio da ministra do Emprego a anunciar o que não lhe competia é apenas o sinal mais recente do desnorte e descoordenação do Executivo. A realidade é esta: o Governo não está a gerir a crise, está apenas a aumentá-la e, assim sendo, mais valia pensar se em matéria de instabilidade não será mais grave manter as coisas como estão ou procurar soluções alternativas. O pretexto da estabilidade, como os números e os factos mais recentes mostram, serve apenas para deteriorar ainda mais a situação. O Governo ziguezagueia - uma coisa é o que Teixeira dos Santos diz em Bruxelas, outra é o que ministros avulsos vão prometendo pelo País às diversas corporações de interesses. E a nova batalha pelo "Estado social" ainda vai fazer degradar mais as coisas."
Manuel Falcão
Faz-me impressão que se encare como imutável o papel dos partidos e dos seus aparelhos e que se trave a abertura da política e da participação cívica a independentes - de que os partidos apenas têm uma visão utilitária em véspera de eleições. E, claro, não se entende como se fala da educação e da saúde e não se aborda de frente a questão da degradação cada vez maior do funcionamento da justiça. Mas regressemos à questão das obrigações do Estado em matéria social - o sistema inevitavelmente tem de ser revisto: não é suportável pagar ainda mais impostos em nome de um modelo que penaliza as gerações futuras e que no fundo se está a deteriorar. E não se pode falar de diminuir o Estado Social sem mostrar que ao mesmo tempo descerão os impostos - se não for assim, ninguém percebe. Não é por acaso que são os arautos da brigada do reumático, que nunca fizeram contas e que são muito responsáveis pelo estado das finanças públicas, que aparecem a gritar contra as mudanças nestas áreas. Mas é também certo que a forma como foram comunicadas as propostas do PSD - a conta-gotas, de forma desconexa, parcelar, e muitas vezes incompleta, deram azo a que a gritaria dos que nunca querem mudar nada se amplificasse. A última coisa que a reforma do Estado social precisa é que se alimente uma frente unida da velha esquerda e que se comprometa o apoio da zona central do eleitorado às mudanças necessárias. E este ressuscitar da frente unida de esquerda poderia ser evitado se o assunto fosse bem comunicado e de forma dirigida ao alvo mais interessado na mudança - todos os que começam agora a sua actividade profissional. Espero sinceramente que a má comunicação não comprometa as boas propostas e que haja ainda o bom senso de repensar o que é mesmo importante na reforma do sistema político-partidário.
Crise
O episódio da ministra do Emprego a anunciar o que não lhe competia é apenas o sinal mais recente do desnorte e descoordenação do Executivo. A realidade é esta: o Governo não está a gerir a crise, está apenas a aumentá-la e, assim sendo, mais valia pensar se em matéria de instabilidade não será mais grave manter as coisas como estão ou procurar soluções alternativas. O pretexto da estabilidade, como os números e os factos mais recentes mostram, serve apenas para deteriorar ainda mais a situação. O Governo ziguezagueia - uma coisa é o que Teixeira dos Santos diz em Bruxelas, outra é o que ministros avulsos vão prometendo pelo País às diversas corporações de interesses. E a nova batalha pelo "Estado social" ainda vai fazer degradar mais as coisas."
Manuel Falcão
A Europa está a fazer tudo mal?
"Os países da chamada “periferia” da Zona Euro (Grécia, Espanha, Portugal, Irlanda e talvez outros países) precisam de realizar ajustamentos complementares que são muitas vezes discutidos separadamente mas que, na verdade, precisam de ser debatidos de forma conjunta. De facto, para repor a saúde destas economias, são necessários três tipos de ajustamentos distintos: entre a Zona Euro e o mundo, entre a periferia da Zona Euro e o centro e entre dívida e rendimento nos países periféricos altamente endividados, como é o caso da Grécia.
A solução em cada caso é tão óbvia como é complexa a sua implementação. Primeiro, para aliviar a pressão sobre os países periféricos (pelo menos em parte), a Zona Euro deve exportar alguns dos ajustamentos necessários através de uma depreciação significativa do euro, que já está a ocorrer. Este é o ajustamento entre a Zona Euro e o mundo.
Em segundo lugar, para recuperar a competitividade, o ajustamento entre os países da periferia e do centro da Zona Euro exige acabar com o diferencial de inflação que se acumulou durante a bonança de fluxos de capitais antes de 2008. Em países como a Grécia e a Espanha, isto representou cerca de 14% do PIB após o lançamento do euro.
Por fim, o ajustamento entre a dívida e o rendimento pode ser alcançado, ao longo tempo, através de uma inflação mais elevada em toda a Zona Euro. Mas é cada vez mais óbvio que alinhar a carga da dívida com as capacidades de pagamento dos países com problemas, pelo menos em alguns deles (em particular na Grécia), exige um processo ordenado de reestruturação da dívida.
Até agora, os decisores políticos da Europa decidiram fazer precisamente o contrário em cada frente. Tentaram influenciar o valor do euro. Mas os mercados cambiais encararam esta tentativa como mera retórica política e estão rapidamente a levar o euro para perto do equilíbrio.
Da mesma forma, a União Europeia tentou dissipar as dúvidas sobre a iminência de uma reestruturação da dívida soberana grega e de outros países estabelecendo um fundo de estabilidade razoavelmente grande (incluindo 250 mil milhões de euros prometidos pelo Fundo Monetário Internacional que, no entanto, ainda não existem). Esta medida foi definida não tanto para proteger os países periféricos de uma corrida ao mercado mas sim para “resgatar” os bancos privados.
Com era de esperar, os bancos viram um pouco mais longe e perceberam a inviabilidade dos cortes orçamentais subjacentes. A Bloomberg noticiou que, numa pesquisa global recente realizada junto dos investidores, 73% afirmou que era provável que a Grécia entrasse em incumprimento. Nestas circunstâncias, adiar a reestruturação apenas perpetua a desconfiança nos bancos europeus com exposições soberanas opacas e nos mercados financeiros em geral – mais ou menos da mesma forma a incerteza sobre a exposição a obrigações de dívida colaterizadas levou a uma crise de confiança no final de 2008.
Porque não usar o tão anunciado fundo de estabilidade como garantia de um plano Brady europeu que coloque um fim na saga na dívida soberana? Pode soar extremo mas seria, certamente, mais eficiente do que uma lenta hemorragia dos fundos da União Europeia, que poderia conduzir a uma ressaca de dívida oficial e multilateral que não faria mais do que dissuadir os credores privados.
Este plano permitiria, também, clarificar, de uma vez por todas, a dimensão do contágio aos bancos europeus e os que, em definitivo, estão a salvo. Tudo o que é exigido são os mesmos recursos que o Banco Central Europeu está, actualmente, a desperdiçar na compra de divida soberana dos países da periferia com problemas – um esforço que parece não ter impressionado os mercados. De facto, os “spreads” das obrigações espanholas e italianas estão hoje mais elevados do que antes da implementação do programa do BCE.
Finalmente, os governos europeus parecem estar a competir para ver que realiza o ajustamento orçamental mais drástico. Esta é uma solução contra-producente que pode seduzir apenas os analistas de mercado mais míopes – e, curiosamente, um Fundo Monetário Internacional bipolar que há menos de um ano defendeu, correctamente, estímulos orçamentais sincronizados precisamente pelas mesmas razões que uma restrição orçamental organizada é, agora, uma má política para a Europa.
Neste contexto, o novo pacote de austeridade alemão é o último e mais surpreendente elemento numa sequência de respostas desacertadas. A austeridade na Alemanha só pode contribuir para reduzir a procura por produtos da Zona Euro e baixar a inflação no país. E inflação mais baixa na Europa significa que, para acabar com o diferencial de inflação, os países periféricos precisariam de um período claro de deflação.
Por outras palavras, os cortes orçamentais na Alemanha significam cortes orçamentais na Grécia e em Espanha. Trata-se de uma decisão política desconcertante numa altura em que a Alemanha deveria estar o seu espaço de manobra orçamental e a sua influência económica para criar e melhorar a procura que a Europa periférica precisa para sair da sua miséria. Uma política com essas características também geraria alguma inflação – desejável – para facilitar o ajustamento de preços relativo na Europa.
No ano passado, a cimeira do G-20 em Londres reconheceu que a crise global exigia um esforço coordenado para retirar as economias do abismo. Quinze meses mais tarde, a Europa e o FMI, ao apoiarem uma restrição orçamental desadequada, não foram capazes de reconhecer que a crise europeia exige política diferenciadas para alcançar múltiplos e diferentes objectivos. Implementar a imprudência convencional de hoje apenas promete uma recessão mais profunda e adia o inevitável dia do ajuste de contas."
Mario I. Blejer
A solução em cada caso é tão óbvia como é complexa a sua implementação. Primeiro, para aliviar a pressão sobre os países periféricos (pelo menos em parte), a Zona Euro deve exportar alguns dos ajustamentos necessários através de uma depreciação significativa do euro, que já está a ocorrer. Este é o ajustamento entre a Zona Euro e o mundo.
Em segundo lugar, para recuperar a competitividade, o ajustamento entre os países da periferia e do centro da Zona Euro exige acabar com o diferencial de inflação que se acumulou durante a bonança de fluxos de capitais antes de 2008. Em países como a Grécia e a Espanha, isto representou cerca de 14% do PIB após o lançamento do euro.
Por fim, o ajustamento entre a dívida e o rendimento pode ser alcançado, ao longo tempo, através de uma inflação mais elevada em toda a Zona Euro. Mas é cada vez mais óbvio que alinhar a carga da dívida com as capacidades de pagamento dos países com problemas, pelo menos em alguns deles (em particular na Grécia), exige um processo ordenado de reestruturação da dívida.
Até agora, os decisores políticos da Europa decidiram fazer precisamente o contrário em cada frente. Tentaram influenciar o valor do euro. Mas os mercados cambiais encararam esta tentativa como mera retórica política e estão rapidamente a levar o euro para perto do equilíbrio.
Da mesma forma, a União Europeia tentou dissipar as dúvidas sobre a iminência de uma reestruturação da dívida soberana grega e de outros países estabelecendo um fundo de estabilidade razoavelmente grande (incluindo 250 mil milhões de euros prometidos pelo Fundo Monetário Internacional que, no entanto, ainda não existem). Esta medida foi definida não tanto para proteger os países periféricos de uma corrida ao mercado mas sim para “resgatar” os bancos privados.
Com era de esperar, os bancos viram um pouco mais longe e perceberam a inviabilidade dos cortes orçamentais subjacentes. A Bloomberg noticiou que, numa pesquisa global recente realizada junto dos investidores, 73% afirmou que era provável que a Grécia entrasse em incumprimento. Nestas circunstâncias, adiar a reestruturação apenas perpetua a desconfiança nos bancos europeus com exposições soberanas opacas e nos mercados financeiros em geral – mais ou menos da mesma forma a incerteza sobre a exposição a obrigações de dívida colaterizadas levou a uma crise de confiança no final de 2008.
Porque não usar o tão anunciado fundo de estabilidade como garantia de um plano Brady europeu que coloque um fim na saga na dívida soberana? Pode soar extremo mas seria, certamente, mais eficiente do que uma lenta hemorragia dos fundos da União Europeia, que poderia conduzir a uma ressaca de dívida oficial e multilateral que não faria mais do que dissuadir os credores privados.
Este plano permitiria, também, clarificar, de uma vez por todas, a dimensão do contágio aos bancos europeus e os que, em definitivo, estão a salvo. Tudo o que é exigido são os mesmos recursos que o Banco Central Europeu está, actualmente, a desperdiçar na compra de divida soberana dos países da periferia com problemas – um esforço que parece não ter impressionado os mercados. De facto, os “spreads” das obrigações espanholas e italianas estão hoje mais elevados do que antes da implementação do programa do BCE.
Finalmente, os governos europeus parecem estar a competir para ver que realiza o ajustamento orçamental mais drástico. Esta é uma solução contra-producente que pode seduzir apenas os analistas de mercado mais míopes – e, curiosamente, um Fundo Monetário Internacional bipolar que há menos de um ano defendeu, correctamente, estímulos orçamentais sincronizados precisamente pelas mesmas razões que uma restrição orçamental organizada é, agora, uma má política para a Europa.
Neste contexto, o novo pacote de austeridade alemão é o último e mais surpreendente elemento numa sequência de respostas desacertadas. A austeridade na Alemanha só pode contribuir para reduzir a procura por produtos da Zona Euro e baixar a inflação no país. E inflação mais baixa na Europa significa que, para acabar com o diferencial de inflação, os países periféricos precisariam de um período claro de deflação.
Por outras palavras, os cortes orçamentais na Alemanha significam cortes orçamentais na Grécia e em Espanha. Trata-se de uma decisão política desconcertante numa altura em que a Alemanha deveria estar o seu espaço de manobra orçamental e a sua influência económica para criar e melhorar a procura que a Europa periférica precisa para sair da sua miséria. Uma política com essas características também geraria alguma inflação – desejável – para facilitar o ajustamento de preços relativo na Europa.
No ano passado, a cimeira do G-20 em Londres reconheceu que a crise global exigia um esforço coordenado para retirar as economias do abismo. Quinze meses mais tarde, a Europa e o FMI, ao apoiarem uma restrição orçamental desadequada, não foram capazes de reconhecer que a crise europeia exige política diferenciadas para alcançar múltiplos e diferentes objectivos. Implementar a imprudência convencional de hoje apenas promete uma recessão mais profunda e adia o inevitável dia do ajuste de contas."
Mario I. Blejer
Onde pára o dinheiro?
"O País da crise está de férias. O corpo talvez ainda esteja no gabinete, mas a cabeça já está de férias. Pela largueza com que se anda a gastar dinheiro, só pode. Crise? Bah!... Da abnegação à negação foi só um semestre. E o próximo?
Há poucas expressões mais entediantes para muitos leitores do que esta: "execução orçamental." Mas faça um esforço: é a medida do acerto ou desvario do Estado, o que, a prazo, se traduz em menos ou mais impostos. Pois bem, a execução do último mês foi má, com um aumento grande da despesa, derrapagem em diversas autarquias e uma sobrecarga dos juros pagos pelo Estado crescente, começando a reflectir as taxas elevadas das emissões de dívida deste ano. O saldo é negativo, apesar da subida das receitas.
Apesar da subida das receitas...
Este é o ponto: os impostos sobre o consumo, que servem de métrica para o próprio consumo, estão a subir. Muito. No primeiro trimestre era normal, uma vez que comparavam com um primeiro trimestre de 2009 em que a economia tinha congelado, por pavor dos agentes económicos. Mas nos meses seguintes já não foi assim.
Olhando para os resultados do grupo Sonae ou da Jerónimo, entrevê-se que o consumo de telemóveis e nos hipermercados não caiu, aumentou. Os dados de compra de automóveis idem, segundo valores oficiais das marcas. Os impostos são o espelho disso.
Nos primeiros seis meses do ano, as receitas de IVA subiram 16%. Consome-se mais. As receitas do imposto sobre o tabaco aumentaram 60%. Fuma-se mais. As receitas do imposto sobre veículos cresceram 21,3%. Conduz-se mais. Dos impostos com receitas mais volumosas, só um caiu. Adivinhe qual? O IRS. O rendimento.
Com este aumento do consumo, ou a economia está mais robusta, como diz o Governo, ou os portugueses andam a consumir para esquecer o que os espera.
Talvez seja preciso ouvir um psicólogo social. No início desta crise, o consumo arreou e a taxa de poupança aumentou, invertendo vagarosamente uma tendência insustentável de dívida. Por isso se disse que "os portugueses são sensatos". E agora, o que são? Ou são mais sábios que os economistas (hipótese a considerar...) ou andam sob encantamento dos políticos.
O dinheiro está a sair dos produtos de poupança. Em Junho, os portugueses levantaram 10 milhões por dia a mais do que investiram em fundos de investimento. Nos certificados de aforro há uma saída massiva desde o início do ano. Os novos depósitos bancários de famílias foram, em Maio, os mais baixos dos últimos quatro anos.
Para onde está a ir o dinheiro? Para consumo? Para o estrangeiro, nas contas oportunísticas que vão sendo abertas por bancos estrangeiros para ganhar com a ansiedade dos boatos? Para o colchão, só para o caso de...? A liquidez é tida como um indicador de pânico da economia. Será isso?
Não há crescimento, nem investimento. Depois dos desempregados, a crise está a chegar aos empregados, por redução do rendimento disponível. Menos dinheiro, mais impostos. E nós? Nós pimba: gastamos. Até quando? Até acabar. Ou o dinheiro ou a ilusão.
Acendamos uma velinha no santuário dos economistas, desejando que estejam todos errados. Se o pior tivesse passado... "
Pedro Santos Guerreiro
quinta-feira, julho 22, 2010
Compras ao Domingo
"Os hipermercados foram um símbolo do cavaquismo. No final dos anos oitenta e início dos noventa, quando Cavaco Silva governava em maioria, nasceram os primeiros hipermercados – da Sonae de Belmiro de Azevedo – e rapidamente se tornaram um local de peregrinação da classe média da altura.
A piada da família a passear ao domingo à tarde no hipermercado vestida com um fato-de-treino florescente e de sapatilhas vem dessa data. Durante os últimos anos, com a proibição da abertura das grandes superfícies ao domingo, a anedota deixou de fazer sentido. Com a decisão de ontem do Governo em Conselho de Ministros pode regressar a caricatura.
Piadas à parte, a decisão governamental faz todo o sentido. Os hipermercados abertos ao domingo trazem vantagens para todos. Desde logo para as pessoas que têm mais opções. Ou seja, têm mais um dia em que podem planear a sua vida para fazerem compras. E para quem tem vidas muito ocupadas dá jeito. Também para as empresas é mais um dia em que podem fazer negócio. Estão em causa 180 megalojas que passam a vender ao domingo. E não são apenas os tradicionais hipermercados. São lojas de desporto ou o Ikea.
Do outro lado da barricada está o pequeno comércio. O seu argumento consiste em que as grandes superfícies funcionam como o eucalipto - seca tudo à sua volta. Não faz sentido. Primeiro porque o pequeno comércio de bairro também está fechado ao Domingo. Portanto, até hoje não quis aproveitar a proibição que afectava os hipermercados para prejuízo dos consumidores. Além disto, o pequeno comércio só vai sobreviver se apostar na diferenciação, na inovação e na qualidade. Deve atacar os preços baixos das grandes superfícies com a simpatia da proximidade com as pessoas, com a qualidade dos produtos acima da média e na inovação do serviço prestado aos clientes. É assim que se ganha quota de mercado e não querendo empurrar os outros para fora.
Há um outro argumento contra que ainda é mais perverso. Lojas abertas ao domingo promovem o consumo e combatem a poupança. Assim, devia estar tudo fechado para evitar tentações. Quem acredita nisto é porque não acredita na inteligência das pessoas. Os consumidores são mais espertos do que se pensa e sabem muito bem decidir o que é melhor para si. É preciso ter fé nas pessoas."
Bruno Proença
A piada da família a passear ao domingo à tarde no hipermercado vestida com um fato-de-treino florescente e de sapatilhas vem dessa data. Durante os últimos anos, com a proibição da abertura das grandes superfícies ao domingo, a anedota deixou de fazer sentido. Com a decisão de ontem do Governo em Conselho de Ministros pode regressar a caricatura.
Piadas à parte, a decisão governamental faz todo o sentido. Os hipermercados abertos ao domingo trazem vantagens para todos. Desde logo para as pessoas que têm mais opções. Ou seja, têm mais um dia em que podem planear a sua vida para fazerem compras. E para quem tem vidas muito ocupadas dá jeito. Também para as empresas é mais um dia em que podem fazer negócio. Estão em causa 180 megalojas que passam a vender ao domingo. E não são apenas os tradicionais hipermercados. São lojas de desporto ou o Ikea.
Do outro lado da barricada está o pequeno comércio. O seu argumento consiste em que as grandes superfícies funcionam como o eucalipto - seca tudo à sua volta. Não faz sentido. Primeiro porque o pequeno comércio de bairro também está fechado ao Domingo. Portanto, até hoje não quis aproveitar a proibição que afectava os hipermercados para prejuízo dos consumidores. Além disto, o pequeno comércio só vai sobreviver se apostar na diferenciação, na inovação e na qualidade. Deve atacar os preços baixos das grandes superfícies com a simpatia da proximidade com as pessoas, com a qualidade dos produtos acima da média e na inovação do serviço prestado aos clientes. É assim que se ganha quota de mercado e não querendo empurrar os outros para fora.
Há um outro argumento contra que ainda é mais perverso. Lojas abertas ao domingo promovem o consumo e combatem a poupança. Assim, devia estar tudo fechado para evitar tentações. Quem acredita nisto é porque não acredita na inteligência das pessoas. Os consumidores são mais espertos do que se pensa e sabem muito bem decidir o que é melhor para si. É preciso ter fé nas pessoas."
Bruno Proença
Bancos, Boatos, stress e histeria colectiva
"Gente: o boato é falso. Vá à janela, espreite para a rua e veja a porta do BCP aberta. É segunda-feira e Nostradamus falhou outra vez a previsão do fim-do-mundo. A banca está sã e salva? Salva está, sã é que não.
O boato sobre a alegada falência do BCP teve segunda vida nas últimas semanas (a primeira foi em 2008), começou no Norte e multiplicou-se da tal forma na sexta-feira que se fez o que nunca se faz: desmentir um boato é amplificá-lo. Até o Governo falou disso sem falar e o Negócios sabe que há preocupações no Executivo quanto à propagação oportunística deste tipo de rumores, que podem metastizar-se nas próximas semanas.
Este boato, que assegurava que o BCP seria intervencionado este fim-de-semana (as intervenções são sempre ao fim-de-semana...) e hoje já não abriria as portas, foi aceite até por gente informada e influente, após um vírus galopante na Internet. Depois do "spam" e do "phishing", o "hoax": histórias falsas na rede.
Sucede que este boato foi difundido aparentemente de modo profissional, a partir de números telefónicos que não existem e de servidores "offshore". Quer uma teoria da conspiração? Escolha você mesmo: é fácil encontrar gente que teria a ganhar com a queda do BCP... Dos "short sellers" a clientes e investidores a contas com o banco, passando pelas bruxas caçadas nos últimos anos, até concorrentes portugueses que precisam de despistar atenções e estrangeiros que andam a abrir contas para portugueses... O problema é que o boato pode provocar o que preconiza. Se os clientes lhe derem credibilidade, acorrem aos levantamentos e a isso nenhum banco resiste.
Mas há outra razão para o boato se ter tornado credível: o medo. Nos últimos anos, aprendemos que os bancos são cavalos que também se abatem. "Quem tem medo não faz outra coisa a não ser sentir rumores", escreveu Acrisio. Qualquer dia batemos contra a parede, verbalizou Fernando Ulrich.
O boato é falso mas o contexto é pois verdadeiro. Como disse Paulo Pinho no "Expresso", até os bancos estão com medo da sombra. É por isso que não emprestam dinheiro uns aos outros. O que não é um problema nem do BCP nem português, mas europeu. Por isso os "testes de stress" podem ser importantes: ao exporem as contas dos bancos à simulação de situações extremas, teremos atestados de viabilidade ou de falta dela. Desde que os testes sejam exigentes. Até à sua divulgação, no dia 23, podemos esperar mais rumores. Veremos o que faz o Banco de Portugal; veremos se tem credibilidade para ser ouvido. Se falar...
Há falta de liquidez na banca europeia, que vai precisar mais capital. O processo de "desendividamento" da economia mal começou, mas muitas empresas já têm linhas de crédito fechadas. Não é por acaso que dois bancos disseram não à Estradas de Portugal. Não é um problema da EP, é um problema da banca. Nem é por acaso que o BES votou a favor da venda da Vivo - adivinhe em que banco seriam depositados aqueles 7,15 mil milhões de euros...
O Banco Central Europeu é o salvador. Está a emprestar dinheiro à banca, sem o qual a economia estaria congelada há meses. Os próximos meses vão ser muito difíceis para a banca e para quem precisa de crédito. O "risco sistémico" continua a ser a garantia de que um banco relevante não cairá. Mesmo quando a nova vaga desta crise financeira infernal chegasse. Ei-la. Só há uma forma de combater o medo e o boato: com informação. Lembra-se? A Gripe A não foi assim há tanto tempo..."
Pedro Santos Guerreiro
quarta-feira, julho 21, 2010
Taxas.
"As taxas Euribor voltaram hoje a subir em todos os prazos, uma notícia negativa para as famílias com crédito à habitação (mais aqui)"Parece que os bancos se querem financiar com casas hipotecadas… Não é só uma má notícia para as famílias com crédito à habitação. É uma má notícia para o país…
Etiquetas: ALI BABÁ E OS QUARENTA LADRÕES, Cavalgada das Valquírias versão Apocalypse Now, Now you pay, Paga imposto tonho.
Da justiça.
"Dos 3 assaltantes de bicicletas detidos esta segunda-feira no Algarve depois de uma perseguição policial, dois estiveram envolvidos no homicídio do chefe da PSP de Lagos em Dezembro de 2005. Os três detidos foram ouvidos no Tribunal de Faro não por um juiz, mas por um funcionário judicial. E foram mandados para casa (mais aqui)".Da justiça já nada nos surpreende dado que os Códigos foram feitos a pensar nos criminosos…
Etiquetas: A alegria de viver nesta democracia..., Paga imposto tonho.
Justa causa
Parece que esta rapaziada quer transformar Portugal numa China…Justa causa "põe em causa os limites materiais da Constituição porque subverte a ideia básica que é a ideia de não haver despedimentos arbitrários. Ora, razão atendível permite tudo. Basicamente cabe tudo em razão atendível. Ao passo que justa causa, embora seja um conceito aberto, em todo o caso, tem como limite a proibição do arbítrio. E a razão atendível pode abranger tudo. Eu tenho a ideia que essa medida vai contra os limites materiais da Constituição, direitos, liberdades e garantias».Jorge Miranda
Etiquetas: Cantam bem mas não nos alegram neste reino do politicamente correcto
Jovens empresários.
"Se o Sol não conseguir pagar a dívida, estou disponível para me entender com os accionistas do semanário e ficar dono do jornal (mais aqui)"Já tinhamos verificado que o Rui era um bom empreendedor…
Rui Pedro Soares
Etiquetas: "All Quiet on the Western Front"
terça-feira, julho 20, 2010
A resistência aos alemães
"Leio, muito comovido, a notícia de que a Autoridade Marítima do Sul invadiu as praias algarvias a fim de apreender e destruir 500 bolas-de-berlim, as quais, cito fonte da instituição, tinham quase todas recheio, não tinham embalagem adequada e podiam constituir um perigo para a saúde pública. Só a nossa habitual ingratidão impede que, por estes dias, a AMS receba sucessivas homenagens oficiais e sentidos aplausos do povo.
Os bombeiros de Nova Iorque, que no 11 de Setembro se limitaram a chegar depois de o mal estar feito, foram glorificados na sequência dos atentados ao World Trade Center. Não lhes nego heroísmo, mas não os comparo aos bravos da AMS, que, antes que uma chacina dizimasse milhares de banhistas indefesos, ousaram enfrentar cinco centenas de temíveis pastéis, para cúmulo da medonha variante que possui creme de pasteleiro do lado de dentro e não possui invólucro do lado de fora.
Quem acha isto irrisório nunca se encontrou, cara a cara, com um desses sinistros exemplares da confeitaria nacional, a transbordar ovos doces e arrogância. Se Albufeira ou lá o que é não erguer rapidamente uma estátua à AMS, Albufeira é uma vergonha."
Alberto Gonçalves
Os bombeiros de Nova Iorque, que no 11 de Setembro se limitaram a chegar depois de o mal estar feito, foram glorificados na sequência dos atentados ao World Trade Center. Não lhes nego heroísmo, mas não os comparo aos bravos da AMS, que, antes que uma chacina dizimasse milhares de banhistas indefesos, ousaram enfrentar cinco centenas de temíveis pastéis, para cúmulo da medonha variante que possui creme de pasteleiro do lado de dentro e não possui invólucro do lado de fora.
Quem acha isto irrisório nunca se encontrou, cara a cara, com um desses sinistros exemplares da confeitaria nacional, a transbordar ovos doces e arrogância. Se Albufeira ou lá o que é não erguer rapidamente uma estátua à AMS, Albufeira é uma vergonha."
Alberto Gonçalves
segunda-feira, julho 19, 2010
A enxada é de todos
"Você sabe o que é o carpooling? Não? Por sua causa é que o planeta está como está. O carpooling é a designação inglesa e "gira" para a partilha de um carro por vários passageiros. Ao que parece, se um sujeito conduz sozinho para o emprego põe em risco não só o equilíbrio orçamental como o ambiental. Se, por outro lado, todas as manhãs encher o automóvel com três ou quatro marmanjos, não saberá o que fazer a tanto dinheiro no final do mês e, de brinde, candidata-se a uma medalha da Quercus.
Mas isso é em países desenvolvidos, onde mesmo pessoas famosas apelam ao carpooling (e onde pessoas ficam famosas graças ao carpooling - quando o respectivo cadáver aparece horas depois do exercício). Em Portugal, um estudo agora divulgado conclui que pelo menos os residentes na Área Metropolitana de Lisboa padecem de uma "barreira psicológica" que os impede de viajar ao lado de desconhecidos, donde a fraquíssima adesão a esta fascinante modalidade.
Ai, as barreiras psicológicas. São elas que também nos impedem de repartir a sala de estar, a refeição ou o cônjuge com gente que nunca vimos na vida. Falta-nos em consciência comunitária o que nos sobra em individualismo, é o que é. Felizmente, para colmatar lacunas assim existe o Estado, e devem estar a rebentar por aí incentivos ao carpooling, género faixas rápidas ou desconto nas portagens. Por mim, acho óptimo, sobretudo porque trabalho em casa e há pouquíssimos candidatos a boleias entre o meu quarto e o meu computador no meu sótão. Até que, a pretexto de uma ameaça ecológica ou de pura birra, o Estado decida que o pronome possessivo está a mais."
Alberto Gonçalves
Mas isso é em países desenvolvidos, onde mesmo pessoas famosas apelam ao carpooling (e onde pessoas ficam famosas graças ao carpooling - quando o respectivo cadáver aparece horas depois do exercício). Em Portugal, um estudo agora divulgado conclui que pelo menos os residentes na Área Metropolitana de Lisboa padecem de uma "barreira psicológica" que os impede de viajar ao lado de desconhecidos, donde a fraquíssima adesão a esta fascinante modalidade.
Ai, as barreiras psicológicas. São elas que também nos impedem de repartir a sala de estar, a refeição ou o cônjuge com gente que nunca vimos na vida. Falta-nos em consciência comunitária o que nos sobra em individualismo, é o que é. Felizmente, para colmatar lacunas assim existe o Estado, e devem estar a rebentar por aí incentivos ao carpooling, género faixas rápidas ou desconto nas portagens. Por mim, acho óptimo, sobretudo porque trabalho em casa e há pouquíssimos candidatos a boleias entre o meu quarto e o meu computador no meu sótão. Até que, a pretexto de uma ameaça ecológica ou de pura birra, o Estado decida que o pronome possessivo está a mais."
Alberto Gonçalves
domingo, julho 18, 2010
Um problema de saúde pública
"Ao Financial Times, o eng. Sócrates diz que combate as dificuldades enfrentadas pela nossa economia e que tem total confiança nas reformas em curso. O eng. Sócrates diz que combate as dificuldades com coragem. O eng. Sócrates diz que não houve país tão reformista nos últimos cinco anos. O eng. Sócrates diz que o desempenho da economia nos últimos seis meses excedeu as expectativas e confia que o seu plano terá os resultados pretendidos. O eng. Sócrates diz que a reforma das pensões em 2007 tirou Portugal da lista de países com o regime de Segurança Social em risco. O eng. Sócrates diz que nenhum outro membro da União Europeia reduziu tanto a administração pública nos anos recentes quanto Portugal. O eng. Sócrates diz que Portugal foi o único país a rever as leis do trabalho no auge da recessão de 2008 e a enfrentar os sindicatos de modo a introduzir maior flexibilidade. O eng. Sócrates diz que as suas reformas na Educação levaram um computador portátil e o inglês enquanto segunda língua a todas as crianças da escola primária. O eng. Sócrates diz que em 2010 70% da electricidade nacional resultou de fontes renováveis. O eng. Sócrates diz que o contributo do Governo para a ciência tem sido absolutamente extraordinário. O eng. Sócrates diz que Portugal está em franco progresso.
O eng. Sócrates, já o sabíamos, é uma máquina de produzir mentiras cabeludas, meias verdades, verdades inconsequentes e puros contra-sensos. Com o tempo, esse seu talento, o único que possui além do gosto arquitectónico, vem-se aprimorando. O que é natural: à medida que a situação afocinha, a retórica do "optimismo" exige uma distância crescente da realidade. Resta perceber a que distância poderá o eng. Sócrates chegar. Começa a suspeitar-se que o infinito é o limite.
Dias depois da entrevista ao Financial Times, sob a chuva contínua de indicadores económicos calamitosos, o eng. Sócrates dirigiu-se ao Parlamento para manter as alucinações anteriores e acrescentar alucinações novinhas em folha. Em vez de tanto discutirmos o estado da Nação, devíamos discutir o estado dos senhores que mandam nela. Guterres ainda teve a lucidez de fugir do Governo. Hoje, é o Governo que foge daqui, uma excentricidade que só não é inédita porque há um par de séculos D. João VI mudou-se com a corte para o Rio de Janeiro. A diferença é que, embora longínquo, o Brasil é um lugar geográfico: o eng. Sócrates e respectiva corte vão a caminho de uma dimensão paralela e inescrutável, o que nem seria mau se o País não fosse menos imune ao eng. Sócrates do que o eng. Sócrates ao País.
Mas os delírios têm repercussões: em livrinho recente e recomendável, o filósofo inglês Roger Scruton dedica-se a explicar de que modo a cartilha optimista sempre legitimou a irresponsabilidade, mascarou a prepotência e conduziu as nações à ruína, quer na versão extrema (Scruton cita Lenine e Hitler), quer na versão ligeira (Scruton cita, imagine-se, Keynes). Talvez por via mais prosaica, o PSD afirma reconhecer os perigos da fantasia e implicitamente admite que esta espécie de primeiro-ministro barra prestidigitador é um problema de saúde pública. O mistério é não fazer nada para o erradicar. Consta que o dr. Passos Coelho aguarda que o eng. Sócrates se consuma nos próprios devaneios. E nós com ele - óptima estratégia."
Alberto Gonçalves
O eng. Sócrates, já o sabíamos, é uma máquina de produzir mentiras cabeludas, meias verdades, verdades inconsequentes e puros contra-sensos. Com o tempo, esse seu talento, o único que possui além do gosto arquitectónico, vem-se aprimorando. O que é natural: à medida que a situação afocinha, a retórica do "optimismo" exige uma distância crescente da realidade. Resta perceber a que distância poderá o eng. Sócrates chegar. Começa a suspeitar-se que o infinito é o limite.
Dias depois da entrevista ao Financial Times, sob a chuva contínua de indicadores económicos calamitosos, o eng. Sócrates dirigiu-se ao Parlamento para manter as alucinações anteriores e acrescentar alucinações novinhas em folha. Em vez de tanto discutirmos o estado da Nação, devíamos discutir o estado dos senhores que mandam nela. Guterres ainda teve a lucidez de fugir do Governo. Hoje, é o Governo que foge daqui, uma excentricidade que só não é inédita porque há um par de séculos D. João VI mudou-se com a corte para o Rio de Janeiro. A diferença é que, embora longínquo, o Brasil é um lugar geográfico: o eng. Sócrates e respectiva corte vão a caminho de uma dimensão paralela e inescrutável, o que nem seria mau se o País não fosse menos imune ao eng. Sócrates do que o eng. Sócrates ao País.
Mas os delírios têm repercussões: em livrinho recente e recomendável, o filósofo inglês Roger Scruton dedica-se a explicar de que modo a cartilha optimista sempre legitimou a irresponsabilidade, mascarou a prepotência e conduziu as nações à ruína, quer na versão extrema (Scruton cita Lenine e Hitler), quer na versão ligeira (Scruton cita, imagine-se, Keynes). Talvez por via mais prosaica, o PSD afirma reconhecer os perigos da fantasia e implicitamente admite que esta espécie de primeiro-ministro barra prestidigitador é um problema de saúde pública. O mistério é não fazer nada para o erradicar. Consta que o dr. Passos Coelho aguarda que o eng. Sócrates se consuma nos próprios devaneios. E nós com ele - óptima estratégia."
Alberto Gonçalves
sábado, julho 17, 2010
Inquérito, instrução e julgamento
"O inquérito é a fase processual que compreende o conjunto de diligências que visam investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes e a responsabilidade deles e descobrir e recolher as provas, em ordem à decisão sobre acusação.
A instrução visa a comprovação judicial da decisão de deduzir acusação ou de arquivar o inquérito em ordem a submeter ou não a causa a julgamento. O julgamento é a fase rainha da produção de todos os meios de prova com vista à busca da descoberta da verdade e à boa decisão da causa. Todas estas fases processuais têm uma razão de ser e uma lógica na estrutura acusatória do processo penal. E todas fazem sentido num processo penal democrático, como é o nosso, que se quer mais transparente e que salvaguarde o direito das pessoas que estão a ser investigadas.
O inquérito e a instrução são também uma garantia da existência de um processo limpo e do reforço da segurança jurídica. O que significa que esta ritualização processual não só garante melhor o direito de defesa do arguido como oferece mais segurança no julgamento. O objectivo e a natureza do inquérito são radicalmente diferentes da instrução, por isso não pode levar a tornar esta uma coisa dispensável. E muito menos por razões que se prendem com a agilização da investigação.
Nem sempre as razões de celeridade processual são um ganho, quando se perde em segurança jurídica, em transparência, em igualdade de armas e em direitos. É o que se pode perder, como alguns pretendem, se for eliminada de forma cega a instrução. Sendo certo que não me repugna que a instrução fique confinada aos casos mais graves e complexos. Um processo com estrutura acusatória, com um inquérito secreto que muitas vezes se prolonga no tempo, com decisões surpresa, com desigualdade de armas, sem contraditório e sem vinculação temática, precisa da instrução. E não adianta dizer que a instrução de nada serve porque o juiz sufraga sempre a tese da acusação. Foi isto que o legislador quis quando atirou para canto os poderes do juiz de instrução criminal. Ainda que assim seja, a instrução é sempre o sinal vermelho que se pode acender para sindicalizar a acusação e para limitar o excesso de músculos e até alguns abusos que são cometidos. Agora o que está na moda, em sede de futura revisão constitucional, é acabar com a instrução. Por favor deixem-se de modas e de vaidades e de continuarem a ser ‘colonizados’ pelo pensamento estrangeiro e estudem mais a nossa cultura judiciária e a nossa realidade criminal.
E parem para pensar, e bem, antes de voltarem a mexer mais no ‘desgraçado’ do processo penal que tem sido tão estragado pela mão do homem que legisla com os pés. E já agora, por que não passar da notícia do crime directamente para julgamento. Se pensam que resolvem os atrasos na justiça acabando com a instrução, desenganem-se. É um absurdo e um sinal de total ignorância e de falta de conhecimento do que se está a passar. O problema está no inquérito e na falta de disciplina e de responsabilidade aí existente."
Rui Rangel
A instrução visa a comprovação judicial da decisão de deduzir acusação ou de arquivar o inquérito em ordem a submeter ou não a causa a julgamento. O julgamento é a fase rainha da produção de todos os meios de prova com vista à busca da descoberta da verdade e à boa decisão da causa. Todas estas fases processuais têm uma razão de ser e uma lógica na estrutura acusatória do processo penal. E todas fazem sentido num processo penal democrático, como é o nosso, que se quer mais transparente e que salvaguarde o direito das pessoas que estão a ser investigadas.
O inquérito e a instrução são também uma garantia da existência de um processo limpo e do reforço da segurança jurídica. O que significa que esta ritualização processual não só garante melhor o direito de defesa do arguido como oferece mais segurança no julgamento. O objectivo e a natureza do inquérito são radicalmente diferentes da instrução, por isso não pode levar a tornar esta uma coisa dispensável. E muito menos por razões que se prendem com a agilização da investigação.
Nem sempre as razões de celeridade processual são um ganho, quando se perde em segurança jurídica, em transparência, em igualdade de armas e em direitos. É o que se pode perder, como alguns pretendem, se for eliminada de forma cega a instrução. Sendo certo que não me repugna que a instrução fique confinada aos casos mais graves e complexos. Um processo com estrutura acusatória, com um inquérito secreto que muitas vezes se prolonga no tempo, com decisões surpresa, com desigualdade de armas, sem contraditório e sem vinculação temática, precisa da instrução. E não adianta dizer que a instrução de nada serve porque o juiz sufraga sempre a tese da acusação. Foi isto que o legislador quis quando atirou para canto os poderes do juiz de instrução criminal. Ainda que assim seja, a instrução é sempre o sinal vermelho que se pode acender para sindicalizar a acusação e para limitar o excesso de músculos e até alguns abusos que são cometidos. Agora o que está na moda, em sede de futura revisão constitucional, é acabar com a instrução. Por favor deixem-se de modas e de vaidades e de continuarem a ser ‘colonizados’ pelo pensamento estrangeiro e estudem mais a nossa cultura judiciária e a nossa realidade criminal.
E parem para pensar, e bem, antes de voltarem a mexer mais no ‘desgraçado’ do processo penal que tem sido tão estragado pela mão do homem que legisla com os pés. E já agora, por que não passar da notícia do crime directamente para julgamento. Se pensam que resolvem os atrasos na justiça acabando com a instrução, desenganem-se. É um absurdo e um sinal de total ignorância e de falta de conhecimento do que se está a passar. O problema está no inquérito e na falta de disciplina e de responsabilidade aí existente."
Rui Rangel
quinta-feira, julho 15, 2010
Patriotas e ladrões
"O ministro das Finanças está cada vez mais amigo da verdade. Coisa rara num Governo que ganhou as eleições de Setembro com muitas mentiras e ilusões.
Agora apresentou aos deputados o chamado Relatório de Orientação da Política Orçamental. Nome pomposo para um conjunto de páginas em que Teixeira dos Santos revela a receita para a extraordinária redução do défice.
Mais impostos, mais impostos, mais impostos. Só para se ter uma pequena ideia da dimensão do assalto, as receitas fiscais em percentagem do PIB vão passar de 21,8% em 2009 para 25,4% em 2013. O Estado, esse, vai continuar a engordar. Em nome da esquerda, do interesse nacional, da trafulhice, da corrupção e da pilhagem dos abutres que comem à mesa do Orçamento. Patriotas todos os dias e ladrões em nome da Pátria."
António Ribeiro Ferreira
Agora apresentou aos deputados o chamado Relatório de Orientação da Política Orçamental. Nome pomposo para um conjunto de páginas em que Teixeira dos Santos revela a receita para a extraordinária redução do défice.
Mais impostos, mais impostos, mais impostos. Só para se ter uma pequena ideia da dimensão do assalto, as receitas fiscais em percentagem do PIB vão passar de 21,8% em 2009 para 25,4% em 2013. O Estado, esse, vai continuar a engordar. Em nome da esquerda, do interesse nacional, da trafulhice, da corrupção e da pilhagem dos abutres que comem à mesa do Orçamento. Patriotas todos os dias e ladrões em nome da Pátria."
António Ribeiro Ferreira
1950 é agora
"Por causa de umas declarações em Madrid sobre o uso da golden share na PT, o dr. Passos Coelho viu-se acusado pelo eng. Sócrates de desonrar "as boas tradições da política portuguesa", ou seja, não divulgar lá fora as misérias caseiras. Depois do "interesse nacional", as "boas tradições". Se juntarmos a isto os nomes feios, incluindo o de Miguel de Vasconcelos, que os serviçais do Governo chamam na Internet aos críticos da intervenção estatal, constata-se que o país moderno que o eng. Sócrates prometeu se parece imenso com o país atrasado que Salazar legou. Mais um pedacinho de furor patriótico, volta-se à substituição de importações e fecham-se as fronteiras, o que nem será mau desde que avisem com antecedência: é que eu gostava de poder escolher o lado menos tresloucado."
Alberto Gonçalves
Alberto Gonçalves
quarta-feira, julho 14, 2010
Fardos de palha.
"O engenheiro relativo anda numa cruzada patriótica contra tudo o que mexe nos superiores interesses da vasta clientela do Estado.
Nos intervalos do patriotismo bacoco, muito nacional e muito socialista, tenta mostrar que é de esquerda e que tem soluções para os problemas da Pátria. O Estado providência, diz esta alma penada, não é um fardo, foi até construído para as novas gerações. Pois foi.
Que o digam os 22% de jovens desempregados, os milhares que vivem na precariedade e os que já sabem que vão ver as reformas por um canudo. É evidente que o País não tem presente e muito menos futuro com gente desta. E a juventude, a que não foge a sete pés daqui para fora, só pode esperar um fardo de palha embrulhado no socialismo democrático. Bom proveito."
António Ribeiro Ferreira
Nos intervalos do patriotismo bacoco, muito nacional e muito socialista, tenta mostrar que é de esquerda e que tem soluções para os problemas da Pátria. O Estado providência, diz esta alma penada, não é um fardo, foi até construído para as novas gerações. Pois foi.
Que o digam os 22% de jovens desempregados, os milhares que vivem na precariedade e os que já sabem que vão ver as reformas por um canudo. É evidente que o País não tem presente e muito menos futuro com gente desta. E a juventude, a que não foge a sete pés daqui para fora, só pode esperar um fardo de palha embrulhado no socialismo democrático. Bom proveito."
António Ribeiro Ferreira
Um sucesso de bilheteira
"Não imagino nada de muito pior do que centenas de profissionais das "artes", leia-se sobretudo do teatro, do cinema e da dança, reunidos numa sala. O caso muda radicalmente de figura se, em vez de ameaçarem actuar, os profissionais em causa ameaçarem não actuar. Felizmente, foi a segunda hipótese a verificada no Maria Matos, em Lisboa, onde 600 vultos da Cultura (note-se que observei a maiúscula) se juntaram um destes dias em assembleia para protestar contra os "cortes" de 20% no sector e contra a ministra que os assina.
Contas feitas, o encontro resultou numa lista de sete exigências a enviar ao eng. Sócrates, entre as quais "o respeito pelos artistas e criadores portugueses" e "o fim do discurso da subsídiodependência por parte do Governo". São propostas justas, porém mal endereçadas. Seria mais interessante que se propusesse acabar com o discurso da "subsídiodependência" (sic) por parte dos "artistas" e "criadores" portugueses, que assim dariam um passo decisivo rumo à respeitabilidade.
De resto, embora esteja sinceramente convicto da culpa do eng. Sócrates em cerca de 83,60% das desgraças que nos abalam, nesta matéria o homem está inocente. Por mim, acho óptimo que os espectáculos sejam financiados com dinheiro público: o dinheiro que o público deseja gastar com os ditos. Se o público não está para aí virado, é capaz de ser ligeiramente ofensivo assaltar-lhe os rendimentos de modo a financiar produtos que apenas excitam jurados de festivais prestigiados, críticos da imprensa prestigiada e amigalhaços com prestígio em geral, os quais gostam dos produtos sobretudo porque não os pagam.
Nisso, são o oposto do contribuinte indígena, que evita consumir as "artes" indígenas a todo o custo mas não consegue evitar pagá-las: depois dos ameaços, o Governo deu tipicamente o dito pelo não dito e reduziu os "cortes" para 12,5%. A mendicância é a única arte nacional de êxito garantido."
Alberto Gonçalves
Contas feitas, o encontro resultou numa lista de sete exigências a enviar ao eng. Sócrates, entre as quais "o respeito pelos artistas e criadores portugueses" e "o fim do discurso da subsídiodependência por parte do Governo". São propostas justas, porém mal endereçadas. Seria mais interessante que se propusesse acabar com o discurso da "subsídiodependência" (sic) por parte dos "artistas" e "criadores" portugueses, que assim dariam um passo decisivo rumo à respeitabilidade.
De resto, embora esteja sinceramente convicto da culpa do eng. Sócrates em cerca de 83,60% das desgraças que nos abalam, nesta matéria o homem está inocente. Por mim, acho óptimo que os espectáculos sejam financiados com dinheiro público: o dinheiro que o público deseja gastar com os ditos. Se o público não está para aí virado, é capaz de ser ligeiramente ofensivo assaltar-lhe os rendimentos de modo a financiar produtos que apenas excitam jurados de festivais prestigiados, críticos da imprensa prestigiada e amigalhaços com prestígio em geral, os quais gostam dos produtos sobretudo porque não os pagam.
Nisso, são o oposto do contribuinte indígena, que evita consumir as "artes" indígenas a todo o custo mas não consegue evitar pagá-las: depois dos ameaços, o Governo deu tipicamente o dito pelo não dito e reduziu os "cortes" para 12,5%. A mendicância é a única arte nacional de êxito garantido."
Alberto Gonçalves
terça-feira, julho 13, 2010
Qual reforma do Estado?
"O título do artigo era prometedor "Governo corta gastos na Função Pública", mas o conteúdo era desolador: "O Governo prepara cortes nos gastos diários da Função Pública. Em causa está a factura com consumos intermédios: papel, luz, água, estudos, material militar, detergente, ar condicionado...".
É esta a nossa sina: nenhum Governo corta despesa pública à séria. Toda a gente sabe que a despesa do Estado com salários e prestações sociais (aquela que não se corta de um dia para o outro) atinge cerca de 76% da despesa total. Ou seja, qualquer corte noutras áreas, por mais significativo que seja, tem impacte reduzido no défice orçamental.
É claro que dá jeito patrocinar "leaks" destes: passa para o mercado a ideia de que o Governo está realmente a fazer alguma coisa para conter os gastos do Estado... Quando está apenas a fazer marketing. Pior do que esta "cacha", só aquela que, sistematicamente, ocupa as manchetes da comunicação social: a reforma da Administração Pública.
Quem se der ao luxo de recortar as dezenas de informações que o Governo já libertou sobre esta malfadada reforma ficará a pensar que é um "work in progress". Que é um "work", já todos sabemos (anda a ser anunciada há cinco anos). Quanto ao "in progress", não restam dúvidas: é só olhar para o peso da despesa corrente no PIB para perceber como o Estado continua a engordar.
Se o Governo quer contribuir para uma redução estrutural do défice, só pode fazer duas coisas: fechar organismos do Estado que não servem para nada (ou para muito pouco) e cortar salários. E este é o momento para o fazer. O resto é "fait divers"."
Camilo Lourenço
É esta a nossa sina: nenhum Governo corta despesa pública à séria. Toda a gente sabe que a despesa do Estado com salários e prestações sociais (aquela que não se corta de um dia para o outro) atinge cerca de 76% da despesa total. Ou seja, qualquer corte noutras áreas, por mais significativo que seja, tem impacte reduzido no défice orçamental.
É claro que dá jeito patrocinar "leaks" destes: passa para o mercado a ideia de que o Governo está realmente a fazer alguma coisa para conter os gastos do Estado... Quando está apenas a fazer marketing. Pior do que esta "cacha", só aquela que, sistematicamente, ocupa as manchetes da comunicação social: a reforma da Administração Pública.
Quem se der ao luxo de recortar as dezenas de informações que o Governo já libertou sobre esta malfadada reforma ficará a pensar que é um "work in progress". Que é um "work", já todos sabemos (anda a ser anunciada há cinco anos). Quanto ao "in progress", não restam dúvidas: é só olhar para o peso da despesa corrente no PIB para perceber como o Estado continua a engordar.
Se o Governo quer contribuir para uma redução estrutural do défice, só pode fazer duas coisas: fechar organismos do Estado que não servem para nada (ou para muito pouco) e cortar salários. E este é o momento para o fazer. O resto é "fait divers"."
Camilo Lourenço
A via Shrek para o socialismo
"As notícias da morte política de José Sócrates eram manifestamente exageradas. Mas os sussurros sobre a morte ideológica e anímica do PS foram suficientemente confirmados nas suas Jornadas Parlamentares.
O PS é hoje um Shrek envergonhado da sua figura e apaixonado por uma princesa socialista que nunca desposará. A ideologia do PS é o poder. As paixões ideológicas, deixa-as para momentos em que luta para se manter no poder, como acontece na cruzada anticapitalista destes dias.
O PS é liberal nos dias pares e social-democrata nos ímpares. Aos domingos pede uma terceira via para lhe salvarem a alma. O PS perdeu a bússola e já não sabe nem onde está, nem para onde se dirige. E o que se passou na PT mostrou qual era o socialismo que Sócrates defendia para Portugal: um centralismo democrático gerido por si.
Hipnotizado pelo grande Belzebu do poder, o PS deixou de ser o partido das causas morais e do Estado social. Enleado no polvo do poder, quer que ele anuncie a sua vitória total. Para o PS, tudo era bonito quando o crescimento económico e a folga orçamental permitiam apregoar o Sol que brilharia amanhã e no dia seguinte. A crise destruiu o arranjo floral socialista. O desemprego é a sua água insalubre. Os cortes sociais são o seu óleo de fígado de bacalhau.
O PS já não sabe o que é. Por isso é que João Proença acha que o aumento do IVA é a via verde para o socialismo.
E o Governo faz do aumento consecutivo de impostos a sua "Internacional". Quando olha para os princípios que já defendeu, o PS é como o Shrek: acha que é o príncipe perfeito."
Fernando Sobral
O interesse nacional
"A OCDE afirma que Portugal terá de criar 170 mil empregos para, cito, anular os efeitos da crise. Naturalmente, a OCDE não explica como se consegue tal milagre. Pior ainda, não justifica que o milagre seja de facto necessário.
À semelhança da morte anunciada de Mark Twain, o drama produzido a pretexto do desemprego parece-me bastante exagerado. De quem falamos quando falamos dos 600 mil sujeitos sem trabalho? Sinceramente, não faço ideia, em parte porque a crueza dos números anula os indivíduos, em parte porque os indivíduos em causa sempre foram assaz anuláveis. Mesmo que desçamos da generalização estatística para a mais humana dimensão individual, continuamos na ignorância acerca de cada um dos desempregados. No máximo, percebemos tratar-se do João, metalúrgico do Cacém, e da Emília, escriturária de Santo Tirso. Porém, o que sabemos realmente do João e da Emília?
Nada, excepto o pormenor de não haver nada que deles importe saber.
As pessoas que importam, as pessoas que, graças à família, aos amigos ou aos partidos, são alguém, essas estão dignamente colocadas nos empregos que Portugal, leia-se o Estado, leia-se o sistema político, tem-se esforçado com sucesso para criar - e criar, no sentido de produzir a partir do zero, é o termo. Não se pode acusar os senhores que mandam nisto de deixarem cair os parentes na lama. Os parentes caem por exemplo na PT, e é um exercício compensador inventariar os cargos ali optimamente remunerados de filhos, irmãos, cônjuges, primos, genros e simples alter-egos das sumidades que, por estes dias, saíram a defender o "interesse nacional" contra a oferta da espanhola Telefónica.
É escusado acrescentar que, de tão irrelevante, o futuro profissional do João e da Emília não cabe no "interesse nacional", mas apenas no interesse deles próprios. E isso só não revela um egoísmo atroz na medida em que o João e a Emília provavelmente integram os 64% de cidadãos anónimos que, segundo sondagem recente, defendem a golden share. E muito bem: primeiro, o País."
Alberto Gonçalves
À semelhança da morte anunciada de Mark Twain, o drama produzido a pretexto do desemprego parece-me bastante exagerado. De quem falamos quando falamos dos 600 mil sujeitos sem trabalho? Sinceramente, não faço ideia, em parte porque a crueza dos números anula os indivíduos, em parte porque os indivíduos em causa sempre foram assaz anuláveis. Mesmo que desçamos da generalização estatística para a mais humana dimensão individual, continuamos na ignorância acerca de cada um dos desempregados. No máximo, percebemos tratar-se do João, metalúrgico do Cacém, e da Emília, escriturária de Santo Tirso. Porém, o que sabemos realmente do João e da Emília?
Nada, excepto o pormenor de não haver nada que deles importe saber.
As pessoas que importam, as pessoas que, graças à família, aos amigos ou aos partidos, são alguém, essas estão dignamente colocadas nos empregos que Portugal, leia-se o Estado, leia-se o sistema político, tem-se esforçado com sucesso para criar - e criar, no sentido de produzir a partir do zero, é o termo. Não se pode acusar os senhores que mandam nisto de deixarem cair os parentes na lama. Os parentes caem por exemplo na PT, e é um exercício compensador inventariar os cargos ali optimamente remunerados de filhos, irmãos, cônjuges, primos, genros e simples alter-egos das sumidades que, por estes dias, saíram a defender o "interesse nacional" contra a oferta da espanhola Telefónica.
É escusado acrescentar que, de tão irrelevante, o futuro profissional do João e da Emília não cabe no "interesse nacional", mas apenas no interesse deles próprios. E isso só não revela um egoísmo atroz na medida em que o João e a Emília provavelmente integram os 64% de cidadãos anónimos que, segundo sondagem recente, defendem a golden share. E muito bem: primeiro, o País."
Alberto Gonçalves
segunda-feira, julho 12, 2010
Chorar de inveja
"Portugal termina as suas participações futebolísticas em grande. Quando não desatamos a esmurrar o árbitro, rumamos para o aeroporto para tentar esmurrar o seleccionador. Ou então temos o próprio seleccionador a esmurrar (verbalmente) a Federação, um gesto que o próprio desmente esmurrando os jornalistas.
Não havia necessidade. Até porque a eliminação prometia devolver alguma da sanidade que o país começou a alienar quando a rapaziada se juntou na província para ‘estágio’. Foram milhares de horas televisivas a dissecar a equipa e a sua táctica – e não havia lá pelo meio uma criatura que dissesse a evidência: o futebol é um jogo e o país é um manicómio.
Nem ontem, nem hoje: depois da derrota, procuram-se ainda ‘causas’ para o fracasso, como se o fracasso precisasse de uma. Verdade que ainda não chegámos a França, onde há inquéritos parlamentares para apurar ‘responsabilidades’. Mas lamenta-se que Portugal não siga, pelo menos, o exemplo da Nigéria, que tenciona enviar a equipa nacional para férias durante os próximos dois anos. Quase choro de inveja."
João Pereira Coutinho
Não havia necessidade. Até porque a eliminação prometia devolver alguma da sanidade que o país começou a alienar quando a rapaziada se juntou na província para ‘estágio’. Foram milhares de horas televisivas a dissecar a equipa e a sua táctica – e não havia lá pelo meio uma criatura que dissesse a evidência: o futebol é um jogo e o país é um manicómio.
Nem ontem, nem hoje: depois da derrota, procuram-se ainda ‘causas’ para o fracasso, como se o fracasso precisasse de uma. Verdade que ainda não chegámos a França, onde há inquéritos parlamentares para apurar ‘responsabilidades’. Mas lamenta-se que Portugal não siga, pelo menos, o exemplo da Nigéria, que tenciona enviar a equipa nacional para férias durante os próximos dois anos. Quase choro de inveja."
João Pereira Coutinho
Europeus acidentais
"E, num instante, o discurso oficial saltou do orgulho no Tratado de Lisboa e das comemorações da integração europeia para um genérico ódio à Europa "ultraliberal", cujas instituições centrais conspiram contra os nossos "interesses estratégicos" e cujos países membros atiçam as respectivas empresas para nos enxovalhar. É uma atitude bastante mais coerente, não só com os governantes que sempre se sentiram em casa na casa de Hugo Chávez e sobas afins, mas igualmente com os portugueses em geral, os quais, valha a verdade, nunca se sentiram assim muito europeus.
As reacções ao Mundial de futebol, se me permitem a fatídica alusão, têm sido aliás representativas do lugar que nos atribuímos na Terra. Logo que terminou a obrigação ("patriótica", dizem) de "torcer" pela selecção nacional, os entusiastas da bola dedicaram-se ao Brasil, à Argentina, ao Uruguai, ao Paraguai e até ao Gana, que também servia para atingir o objectivo de todos: evitar a vitória de uma equipa europeia. Na televisão, nos jornais, na Internet e nos cafés, peritos e amadores proclamavam com nítida satisfação que este era o campeonato da América Latina, e o desânimo foi grande quando a realidade os desmentiu.
Isto não acontece por acidente. Acidental é a existência portuguesa num continente onde, salvo em raríssimos e remotíssimos momentos, a periferia geográfica coincidiu com a periferia política, económica e cultural. Por culpa própria ou destino, persiste em nós a impressão de habitar uma região inadequada à "identidade nacional", seja isso o que for. Como em 1500, em 2010 um vago Sul, repleto de praias, mulatas, sombreros, cachaça e corrupção, continua a seduzir-nos.
Claro que, graças às esmolas da UE, ao longo dos últimos 25 anos aproximámo-nos do Primeiro Mundo e afastámo-nos do Terceiro. Mas logo que a Europa retribua em indiferença uma fracção do nojo que lhe dedicamos e as esmolas terminem, regressaremos, salvo na geografia, às paragens míticas a que chamamos lar. Até lá, somos europeus por empréstimo, ou, literalmente, a fundo perdido."
Alberto Gonçalves
As reacções ao Mundial de futebol, se me permitem a fatídica alusão, têm sido aliás representativas do lugar que nos atribuímos na Terra. Logo que terminou a obrigação ("patriótica", dizem) de "torcer" pela selecção nacional, os entusiastas da bola dedicaram-se ao Brasil, à Argentina, ao Uruguai, ao Paraguai e até ao Gana, que também servia para atingir o objectivo de todos: evitar a vitória de uma equipa europeia. Na televisão, nos jornais, na Internet e nos cafés, peritos e amadores proclamavam com nítida satisfação que este era o campeonato da América Latina, e o desânimo foi grande quando a realidade os desmentiu.
Isto não acontece por acidente. Acidental é a existência portuguesa num continente onde, salvo em raríssimos e remotíssimos momentos, a periferia geográfica coincidiu com a periferia política, económica e cultural. Por culpa própria ou destino, persiste em nós a impressão de habitar uma região inadequada à "identidade nacional", seja isso o que for. Como em 1500, em 2010 um vago Sul, repleto de praias, mulatas, sombreros, cachaça e corrupção, continua a seduzir-nos.
Claro que, graças às esmolas da UE, ao longo dos últimos 25 anos aproximámo-nos do Primeiro Mundo e afastámo-nos do Terceiro. Mas logo que a Europa retribua em indiferença uma fracção do nojo que lhe dedicamos e as esmolas terminem, regressaremos, salvo na geografia, às paragens míticas a que chamamos lar. Até lá, somos europeus por empréstimo, ou, literalmente, a fundo perdido."
Alberto Gonçalves
domingo, julho 11, 2010
O Evangelho segundo a 'Playboy'
"O verdadeiro problema da última (se calhar literalmente) edição da Playboy caseira é a bizarria de servir Saramago a quem apenas espera encontrar meninas em pelota. Curiosamente, o polémica surgiu de outro lado, isto é, da "homenagem" (sic) que a revista quis fazer ao falecido Nobel: meia dúzia de retratos de um infeliz fantasiado de Cristo junto a uma amostra das referidas meninas. Os responsáveis da publicação explicam que pretenderam transmitir uma "mensagem forte", a exigir "análise profunda".
De análise profunda, embora a cargo de uma junta psiquiátrica, precisam os que vêem no conjunto de fotografias mais do que aquilo evidentemente é: um monumento ao atraso de vida e, talvez, um golpe publicitário. Qualquer que fosse o motivo, o que correu é que a Playboy original tenciona cancelar a licença da versão portuguesa e eu diverti-me a contar os (poucos) minutos que separaram a divulgação da notícia dos primeiros berros de "Censura!".
Naturalmente, os berros surgiram num blogue subsidiário do Bloco de Esquerda. Por acaso, nem o blogue em causa nem o Bloco são conhecidos por patrocinar opiniões que consideram contrárias aos seus princípios, e não me lembro de ler no www.esquerda.net (o site oficial do bando) textos simpáticos para com a globalização, o Vaticano ou as políticas de Israel, por exemplo. Trata-se de critérios editoriais, claro, os quais pelos vistos não se aplicam à Playboy, que deve publicar tudo o que os funcionários do dr. Louçã acham publicável ou sujeitar-se a acusações de fundamentalismo e, se lhes puxarem pela língua, a equivalências com os islâmicos que protestam as ofensas a Maomé.
Na perspectiva dos rapazes da esquerda folclórica, todo o pretexto serve para realçar a intolerância do Ocidente, apontar o puritanismo dos americanos e relativizar a fúria do Islão, incluindo comparar a decisão interna de uma empresa com multidões que babam ódio e estados que emitem sentenças de morte. É lá com eles, mas, de um arrevesado modo, em matéria de censuras e fundamentalismos o fait-divers da Playboy diz mais sobre os que o criticaram do que sobre os que o produziram. Como o acto de censura homenageia melhor do que a pretensa homenagem o censor que Saramago foi."
Alberto Gonçalves
De análise profunda, embora a cargo de uma junta psiquiátrica, precisam os que vêem no conjunto de fotografias mais do que aquilo evidentemente é: um monumento ao atraso de vida e, talvez, um golpe publicitário. Qualquer que fosse o motivo, o que correu é que a Playboy original tenciona cancelar a licença da versão portuguesa e eu diverti-me a contar os (poucos) minutos que separaram a divulgação da notícia dos primeiros berros de "Censura!".
Naturalmente, os berros surgiram num blogue subsidiário do Bloco de Esquerda. Por acaso, nem o blogue em causa nem o Bloco são conhecidos por patrocinar opiniões que consideram contrárias aos seus princípios, e não me lembro de ler no www.esquerda.net (o site oficial do bando) textos simpáticos para com a globalização, o Vaticano ou as políticas de Israel, por exemplo. Trata-se de critérios editoriais, claro, os quais pelos vistos não se aplicam à Playboy, que deve publicar tudo o que os funcionários do dr. Louçã acham publicável ou sujeitar-se a acusações de fundamentalismo e, se lhes puxarem pela língua, a equivalências com os islâmicos que protestam as ofensas a Maomé.
Na perspectiva dos rapazes da esquerda folclórica, todo o pretexto serve para realçar a intolerância do Ocidente, apontar o puritanismo dos americanos e relativizar a fúria do Islão, incluindo comparar a decisão interna de uma empresa com multidões que babam ódio e estados que emitem sentenças de morte. É lá com eles, mas, de um arrevesado modo, em matéria de censuras e fundamentalismos o fait-divers da Playboy diz mais sobre os que o criticaram do que sobre os que o produziram. Como o acto de censura homenageia melhor do que a pretensa homenagem o censor que Saramago foi."
Alberto Gonçalves
sábado, julho 10, 2010
O homem certo
"Num dos 38 programas televisivos devotados ao Mundial, de que por perversão fiquei ferrenho, um comentador "residente" reagiu assim às críticas a Carlos Queiroz feitas por um espectador (via Internet) após o jogo com Espanha: "Esse senhor que mude de canal, não precisamos de gente assim."
Por um lado, o pormenor de o programa citado passar na RTP torna notável a arrogância do comentador para com quem, provavelmente, ajuda a pagar-lhe o salário. Por outro lado, mudar de canal não teria adiantado nada: em todos se praticava o louvor do extraordinário "professor" Queiroz.
E extraordinário é o termo, já que não é fácil levar dois anos sem vencer uma única equipa razoavelmente profissional e, ainda assim, continuar a ser considerado "o homem certo no lugar certo" pela generalidade dos especialistas do ramo. O fervor com que os especialistas defendem o "professor" Queiroz só é igualado pelo fervor com que o próprio se agarra ao cargo. Vale que o homem se limita ao futebol: nem quero imaginar o que seria um "professor" Queiroz à solta em áreas menos inócuas. Felizmente, esse é um pressuposto apenas teórico."
Alberto Gonçalves
Por um lado, o pormenor de o programa citado passar na RTP torna notável a arrogância do comentador para com quem, provavelmente, ajuda a pagar-lhe o salário. Por outro lado, mudar de canal não teria adiantado nada: em todos se praticava o louvor do extraordinário "professor" Queiroz.
E extraordinário é o termo, já que não é fácil levar dois anos sem vencer uma única equipa razoavelmente profissional e, ainda assim, continuar a ser considerado "o homem certo no lugar certo" pela generalidade dos especialistas do ramo. O fervor com que os especialistas defendem o "professor" Queiroz só é igualado pelo fervor com que o próprio se agarra ao cargo. Vale que o homem se limita ao futebol: nem quero imaginar o que seria um "professor" Queiroz à solta em áreas menos inócuas. Felizmente, esse é um pressuposto apenas teórico."
Alberto Gonçalves
sexta-feira, julho 09, 2010
O crime perfeito
"A intervenção de Sócrates no negócio entre a PT e a Telefónica foi um sucesso... para Sócrates. Mostrou quem manda. Manda na PT, na Caixa, manda em tudo o que antes negava. Nós, o povo, delirámos. E assim se legitima o que antes era escândalo. Amemos o polvo.
Sobre a "golden share" já se disse o que havia a dizer. O País parece entender que o Governo escreveu direito por linhas tortas e que, como outros assim fazem, que se danem os tribunais. Sobretudo sendo espanhóis e arrogantes, como foi a Telefónica. Investidores? Accionistas? Privados? Mercados? Abrenúncio! E na alucinação colectiva em que mergulhámos, quem discorda preenche quota na corja de ultraliberais. Incluindo os pequenos investidores, ignorados ou esconjurados.
É preciso reconhecer mérito ao primeiro-ministro. Não pelo acerto mas pela força. Numa semana ajoelhou todos, Telefónica, Banco Espírito Santo, Ongoing, administradores e políticos. Vingativo e manipulador como sempre, Sócrates foi no entanto inabalável como não se via desde o início da sua governação. Onde andou este primeiro-ministro nos últimos anos? A cultivar defeitos enterrando qualidades.
Assim acaba a primeira parte deste jogo de telecomunicações, num armistício para negociar. Os accionistas perderam um grande negócio mas a PT não amputou o braço direito. E todos ficámos a perceber que quem decide é o Governo.
Ficou tudo às claras: o Governo dá ordens à Caixa Geral de Depósitos e não aceita que se façam negócios sem ser ouvido e sem anuir ou mesmo encorajar. Estivemos anos a ouvir o contrário. Que não, que as empresas decidem autonomamente; que falar de intervenção estatal era insulto; que a Caixa competia no mercado com os outros.
Quem é que hoje acredita que a TVI esteve para ser comprada pela PT sem o conhecimento, aprovação e até motivação do Governo? Quem pode hoje sonhar que na OPA da Sonae o Governo foi mesmo neutro? Quem pode crer que o financiamento galopante e suicida que a Caixa fez àqueles que se consumiram no BCP (Berardo, Fino e outros) não teve o pulso ou o impulso do PS? E que a não execução destes capitalistas falidos foi isenta? Quem põe as mãos no fogo pela nomeação de dezenas de "boys", tachos e incompetentes infiltrados nestas empresas? Quem acredita nos negócios na Taguspark, no pequeno-almoço de Figo, nos amores à primeira vista com a JP Sá Couto, nas adjudicações sem concurso, na convocatória da EDP para a Qimonda Solar, na coincidência do ex-assessor do secretário de Estado das Scut que passa a vender chips ao Estado? Quem se fia em todos os investimentos e créditos perdulários da Caixa em antros de pirataria como a La Seda? Nos dinheiros de fundos públicos para a Aerosoles, nos patrocínios compulsivos de "empresas estratégicas" no Red Bull Air Race, que acaba de nos mandar passear? Quem ainda acredita que a Caixa não está a reforçar-se como testa--de-ferro da "golden share" da PT, nas nomeações na Cimpor, como antes no BCP, nas entradas accionistas na Galp, Quem?
O Estado é maior que o Governo, que é maior que o partido. Em Portugal, contudo, o sentido é o inverso. Temos ministros da Economia que são directores comerciais e primeiros-ministros "chairman". Com a nacionalização temporária da PT para o Verão, que incluiu ordens à Caixa, acabou-se o cinismo. E, para gáudio, a massa que antes apupava estes tentáculos enleva-se agora neles. Um dia, o interesse nacional será não o das grandes empresas e dos Governos, mas o dos consumidores e o dos contribuintes. Um dia, um dia..."
Pedro Santos Guerreiro
Sobre a "golden share" já se disse o que havia a dizer. O País parece entender que o Governo escreveu direito por linhas tortas e que, como outros assim fazem, que se danem os tribunais. Sobretudo sendo espanhóis e arrogantes, como foi a Telefónica. Investidores? Accionistas? Privados? Mercados? Abrenúncio! E na alucinação colectiva em que mergulhámos, quem discorda preenche quota na corja de ultraliberais. Incluindo os pequenos investidores, ignorados ou esconjurados.
É preciso reconhecer mérito ao primeiro-ministro. Não pelo acerto mas pela força. Numa semana ajoelhou todos, Telefónica, Banco Espírito Santo, Ongoing, administradores e políticos. Vingativo e manipulador como sempre, Sócrates foi no entanto inabalável como não se via desde o início da sua governação. Onde andou este primeiro-ministro nos últimos anos? A cultivar defeitos enterrando qualidades.
Assim acaba a primeira parte deste jogo de telecomunicações, num armistício para negociar. Os accionistas perderam um grande negócio mas a PT não amputou o braço direito. E todos ficámos a perceber que quem decide é o Governo.
Ficou tudo às claras: o Governo dá ordens à Caixa Geral de Depósitos e não aceita que se façam negócios sem ser ouvido e sem anuir ou mesmo encorajar. Estivemos anos a ouvir o contrário. Que não, que as empresas decidem autonomamente; que falar de intervenção estatal era insulto; que a Caixa competia no mercado com os outros.
Quem é que hoje acredita que a TVI esteve para ser comprada pela PT sem o conhecimento, aprovação e até motivação do Governo? Quem pode hoje sonhar que na OPA da Sonae o Governo foi mesmo neutro? Quem pode crer que o financiamento galopante e suicida que a Caixa fez àqueles que se consumiram no BCP (Berardo, Fino e outros) não teve o pulso ou o impulso do PS? E que a não execução destes capitalistas falidos foi isenta? Quem põe as mãos no fogo pela nomeação de dezenas de "boys", tachos e incompetentes infiltrados nestas empresas? Quem acredita nos negócios na Taguspark, no pequeno-almoço de Figo, nos amores à primeira vista com a JP Sá Couto, nas adjudicações sem concurso, na convocatória da EDP para a Qimonda Solar, na coincidência do ex-assessor do secretário de Estado das Scut que passa a vender chips ao Estado? Quem se fia em todos os investimentos e créditos perdulários da Caixa em antros de pirataria como a La Seda? Nos dinheiros de fundos públicos para a Aerosoles, nos patrocínios compulsivos de "empresas estratégicas" no Red Bull Air Race, que acaba de nos mandar passear? Quem ainda acredita que a Caixa não está a reforçar-se como testa--de-ferro da "golden share" da PT, nas nomeações na Cimpor, como antes no BCP, nas entradas accionistas na Galp, Quem?
O Estado é maior que o Governo, que é maior que o partido. Em Portugal, contudo, o sentido é o inverso. Temos ministros da Economia que são directores comerciais e primeiros-ministros "chairman". Com a nacionalização temporária da PT para o Verão, que incluiu ordens à Caixa, acabou-se o cinismo. E, para gáudio, a massa que antes apupava estes tentáculos enleva-se agora neles. Um dia, o interesse nacional será não o das grandes empresas e dos Governos, mas o dos consumidores e o dos contribuintes. Um dia, um dia..."
Pedro Santos Guerreiro
A poesia e a economia
"A economia não é um predador inclemente. Só o é quando não a entendemos e quando fazemos dela um tubarão digno de um filme de Steven Spielberg.
Há alguns dias Manuel Alegre agarrou na lira e declamou: "Eu não sou economista e sei muito pouco de finanças, mas tenho uma outra visão da economia e não quero na Presidência da República alguém que tenha a superstição dos mercados, que aceite uma posição de subserviência em relação aos mercados, que não diga uma palavra quando o Governo toma uma atitude justa que é a de vetar um negócio que punha em causa grandes interesses nacionais".
É um poema moderno, sem rima, mas que errou no meio e no fim. No fim porque o alvo, Cavaco, já falou para apoiar o veto governamental ao negócio Vivo. E no meio porque, ao afastar do seu mundo lírico a economia, Alegre encerrou a prosa numa jaula, como se fosse um animal feroz.
A economia não é um predador inclemente. Só o é quando não a entendemos e quando fazemos dela um tubarão digno de um filme de Steven Spielberg. Alegre demonstra que não percebe o mundo: este sempre foi feito de créditos e débitos e a própria poesia está cheia desta economia de emoções.
Fazer da sua campanha uma marcha libertadora contra a economia não o levará a lado nenhum. Se olhar para a biblioteca básica da história verá como, de Marx a António Sérgio, a economia foi a poesia das consciências. A cultura nunca viveu num mundo separado da economia: lembre Alegre a Florença dos Médicis ou a Flandres da pintura. Só mais recentemente se achou que eram mundos que viviam de costas voltadas. Fernando Pessoa tinha razão quando dizia: "o poeta é um fingidor". Mas, seguindo a lógica, Alegre é um ficcionista sem noção da realidade"
Fernando Sobral
Um 'feeling' com oito décadas
"E depois de todos os concertos de vuvuzelas, de todas as bandeiras, de todas as reportagens sobre a preparação, o estágio, os treinos, as refeições e as abluções dos jogadores, de todos os prognósticos dos especialistas, de todos os "painéis" televisivos, de todos os anúncios ao BES disfarçados de hino, de todas as afirmações patrióticas, de todos os votos de confiança dos governantes, depois de tudo isso a selecção foi eliminada do Mundial de futebol.
Na despedida, pareceu-me, sobrou um guarda-redes que não merecia as dez nulidades à sua frente, zero golos marcados a equipas cujos atletas não estivessem sob ameaça de internamento em campos de trabalhos forçados e o típico mau perder, que incluiu cotoveladas aos marotos dos espanhóis e troca de mimos entre a comitiva. E sobrou a inevitável "depressão colectiva", tão intensa e desmiolada quanto a excitação que a precede. Muito barulho para nada, de facto. Vale a pena?
A realidade sugere que não vale. Existem campeonatos do mundo de futebol há oitenta anos (e campeonatos europeus há cinquenta). A selecção portuguesa não ganhou nenhum. A selecção portuguesa nem sequer chegou a um jogo final. A selecção portuguesa apenas alcançou em duas ocasiões a disputa pelo terceiro lugar. Há aqui uma regularidade que ensina a redundância dos nossos esforços. Infelizmente, não há maneira de aprendermos, e a cada competição subimos as expectativas e, o que é pior, o barulho em volta da equipa que é de todos nós embora só pague salário a alguns, poucos, de nós.
Na tentativa de fintar a realidade, procura-se redimir os falhanços nacionais através da evocação dos falhanços alheios. A França, a Itália e a Inglaterra foram igualmente eliminadas, dizem os peritos. Esquecem-se de dizer que a qualquer das selecções citadas já aconteceu não serem eliminadas e, pelo menos uma vez (ou, no caso da Itália, uma data de vezes), vencerem o Mundial.
Portugal, pelo contrário, vence exclusivamente por antecipação, e não imagino que espécie de argumento convence milhares ou milhões a acreditar repetidamente que "agora é que vai ser". Não vai. Bastaria que se lembrassem de há 4, 8, 12 anos para constatar que nunca foi e, provavelmente, nunca será. O fascinante "professor" Queiroz tinha um feeling. Eu também, e o meu é que estava certo."
Alberto Gonçalves
Na despedida, pareceu-me, sobrou um guarda-redes que não merecia as dez nulidades à sua frente, zero golos marcados a equipas cujos atletas não estivessem sob ameaça de internamento em campos de trabalhos forçados e o típico mau perder, que incluiu cotoveladas aos marotos dos espanhóis e troca de mimos entre a comitiva. E sobrou a inevitável "depressão colectiva", tão intensa e desmiolada quanto a excitação que a precede. Muito barulho para nada, de facto. Vale a pena?
A realidade sugere que não vale. Existem campeonatos do mundo de futebol há oitenta anos (e campeonatos europeus há cinquenta). A selecção portuguesa não ganhou nenhum. A selecção portuguesa nem sequer chegou a um jogo final. A selecção portuguesa apenas alcançou em duas ocasiões a disputa pelo terceiro lugar. Há aqui uma regularidade que ensina a redundância dos nossos esforços. Infelizmente, não há maneira de aprendermos, e a cada competição subimos as expectativas e, o que é pior, o barulho em volta da equipa que é de todos nós embora só pague salário a alguns, poucos, de nós.
Na tentativa de fintar a realidade, procura-se redimir os falhanços nacionais através da evocação dos falhanços alheios. A França, a Itália e a Inglaterra foram igualmente eliminadas, dizem os peritos. Esquecem-se de dizer que a qualquer das selecções citadas já aconteceu não serem eliminadas e, pelo menos uma vez (ou, no caso da Itália, uma data de vezes), vencerem o Mundial.
Portugal, pelo contrário, vence exclusivamente por antecipação, e não imagino que espécie de argumento convence milhares ou milhões a acreditar repetidamente que "agora é que vai ser". Não vai. Bastaria que se lembrassem de há 4, 8, 12 anos para constatar que nunca foi e, provavelmente, nunca será. O fascinante "professor" Queiroz tinha um feeling. Eu também, e o meu é que estava certo."
Alberto Gonçalves
quinta-feira, julho 08, 2010
Maturidade democrática
"O Expresso contou a história. Um tal Pedro Bento, 34 anos, foi nomeado em 2008 assessor do secretário de Estado das Obras Públicas e das Comunicações Paulo Campos, firme propagandista dos chips nas matrículas. Em 2009, o sr. Bento saltou para o cargo de administrador executivo da então recém-criada SIEV - Sistema de Identificação Electrónica de Veículos S.A., a entidade criada pelo Governo para gerir e, digamos, fiscalizar o processo de implantação de chips nas matrículas. Em 2010, o sr. Bento é o responsável em Portugal pela Q-Free ASA, a empresa norueguesa escolhida pelo Governo para vender por cá os chips das matrículas.
Não sei onde o fulgurante sr. Bento estará em 2011. Sei que não estará na cadeia, dado que as consequências da revelação do seu percurso profissional foram zero. Antigamente, leia-se há seis meses, este tipo de notícias ainda produzia duas ou três semanas de indignação popular, o simulacro de um inquérito parlamentar ou a intenção de um processo judicial e, por fim, o esquecimento. Agora passa-se directamente para o esquecimento: a notícia aparece e, vinte minutos depois, já se viu jogada no arquivo morto da memória colectiva, nos dias que correm bastante mais atafulhado que o dos tribunais.
O facto é que o povo desistiu de se maçar com as trapalhadas que envolvem, ou aparentam envolver, o eng. Sócrates e os vultos que o rodeiam. E faz bem. Na justiça, que o senhor procurador-geral considera das melhores da Europa, as trapalhadas invariavelmente dão em nada. Na política, invariavelmente dão em coisa nenhuma. A fase da indignação cria expectativas inúteis e constitui, em última instância, uma perda de tempo. A portentosa indiferença em curso é um sinal de maturidade democrática, naturalmente adaptada à democracia que temos."
Alberto Gonçalves
Não sei onde o fulgurante sr. Bento estará em 2011. Sei que não estará na cadeia, dado que as consequências da revelação do seu percurso profissional foram zero. Antigamente, leia-se há seis meses, este tipo de notícias ainda produzia duas ou três semanas de indignação popular, o simulacro de um inquérito parlamentar ou a intenção de um processo judicial e, por fim, o esquecimento. Agora passa-se directamente para o esquecimento: a notícia aparece e, vinte minutos depois, já se viu jogada no arquivo morto da memória colectiva, nos dias que correm bastante mais atafulhado que o dos tribunais.
O facto é que o povo desistiu de se maçar com as trapalhadas que envolvem, ou aparentam envolver, o eng. Sócrates e os vultos que o rodeiam. E faz bem. Na justiça, que o senhor procurador-geral considera das melhores da Europa, as trapalhadas invariavelmente dão em nada. Na política, invariavelmente dão em coisa nenhuma. A fase da indignação cria expectativas inúteis e constitui, em última instância, uma perda de tempo. A portentosa indiferença em curso é um sinal de maturidade democrática, naturalmente adaptada à democracia que temos."
Alberto Gonçalves
quarta-feira, julho 07, 2010
Maturidade democrática
"O Expresso contou a história. Um tal Pedro Bento, 34 anos, foi nomeado em 2008 assessor do secretário de Estado das Obras Públicas e das Comunicações Paulo Campos, firme propagandista dos chips nas matrículas. Em 2009, o sr. Bento saltou para o cargo de administrador executivo da então recém-criada SIEV - Sistema de Identificação Electrónica de Veículos S.A., a entidade criada pelo Governo para gerir e, digamos, fiscalizar o processo de implantação de chips nas matrículas. Em 2010, o sr. Bento é o responsável em Portugal pela Q-Free ASA, a empresa norueguesa escolhida pelo Governo para vender por cá os chips das matrículas.
Não sei onde o fulgurante sr. Bento estará em 2011. Sei que não estará na cadeia, dado que as consequências da revelação do seu percurso profissional foram zero. Antigamente, leia-se há seis meses, este tipo de notícias ainda produzia duas ou três semanas de indignação popular, o simulacro de um inquérito parlamentar ou a intenção de um processo judicial e, por fim, o esquecimento. Agora passa-se directamente para o esquecimento: a notícia aparece e, vinte minutos depois, já se viu jogada no arquivo morto da memória colectiva, nos dias que correm bastante mais atafulhado que o dos tribunais.
O facto é que o povo desistiu de se maçar com as trapalhadas que envolvem, ou aparentam envolver, o eng. Sócrates e os vultos que o rodeiam. E faz bem. Na justiça, que o senhor procurador-geral considera das melhores da Europa, as trapalhadas invariavelmente dão em nada. Na política, invariavelmente dão em coisa nenhuma. A fase da indignação cria expectativas inúteis e constitui, em última instância, uma perda de tempo. A portentosa indiferença em curso é um sinal de maturidade democrática, naturalmente adaptada à democracia que temos."
Alberto Gonçalves
Não sei onde o fulgurante sr. Bento estará em 2011. Sei que não estará na cadeia, dado que as consequências da revelação do seu percurso profissional foram zero. Antigamente, leia-se há seis meses, este tipo de notícias ainda produzia duas ou três semanas de indignação popular, o simulacro de um inquérito parlamentar ou a intenção de um processo judicial e, por fim, o esquecimento. Agora passa-se directamente para o esquecimento: a notícia aparece e, vinte minutos depois, já se viu jogada no arquivo morto da memória colectiva, nos dias que correm bastante mais atafulhado que o dos tribunais.
O facto é que o povo desistiu de se maçar com as trapalhadas que envolvem, ou aparentam envolver, o eng. Sócrates e os vultos que o rodeiam. E faz bem. Na justiça, que o senhor procurador-geral considera das melhores da Europa, as trapalhadas invariavelmente dão em nada. Na política, invariavelmente dão em coisa nenhuma. A fase da indignação cria expectativas inúteis e constitui, em última instância, uma perda de tempo. A portentosa indiferença em curso é um sinal de maturidade democrática, naturalmente adaptada à democracia que temos."
Alberto Gonçalves
terça-feira, julho 06, 2010
Um figurão da Pátria
"Henrique Granadeiro é um figurão da Pátria e comporta-se como tal. Nada o demove, nada o tira da cadeira, mesmo que seja enganado, encornado, uma, duas vezes.
Este agricultor nas horas vagas tem um enorme estômago e um coração cada vez mais cor-de--rosa. O homem que se queixou de enormes pressões do PSD quando estava à frente da Lusomundo e mandava em alguns jornais confessou publicamente que foi encornado pelos boys do PS na jogada de controlo da TVI pela PT.
Agora, na telenovela de venda de parte da Vivo à Telefónica, fez um intervalo nos vinhos para andar pelo Mundo a garantir aos investidores que o Estado não ia usar a golden share. Foi enganado mais uma vez. É muito bem feito. Quem é encornado por gosto não pode andar por aí a fazer queixinhas."
António Ribeiro Ferreira
Este agricultor nas horas vagas tem um enorme estômago e um coração cada vez mais cor-de--rosa. O homem que se queixou de enormes pressões do PSD quando estava à frente da Lusomundo e mandava em alguns jornais confessou publicamente que foi encornado pelos boys do PS na jogada de controlo da TVI pela PT.
Agora, na telenovela de venda de parte da Vivo à Telefónica, fez um intervalo nos vinhos para andar pelo Mundo a garantir aos investidores que o Estado não ia usar a golden share. Foi enganado mais uma vez. É muito bem feito. Quem é encornado por gosto não pode andar por aí a fazer queixinhas."
António Ribeiro Ferreira
Apologia de Sócrates
"O caso PT fez renascer o liberalismo de cartola e o socialismo de cartilha de que Portugal tanto gosta.
Visto de perto, a política de Sócrates confunde-se com o diálogo de um cão com o seu dono sobre a necessidade de morder os amigos. Morda-se a Espanha, morda-se a Comissão Europeia, morda-se o mundo que conspira contra a modernidade nacional. Visto ainda mais de perto, o Governo está sentado no alto do ramo de uma árvore enquanto o primeiro-ministro se entretém a serrar o ramo pela base. A queda do Executivo será certamente um espectáculo do Cirque du Soleil e o PS agita-se ansioso por um sucessor de Sócrates.
De acordo com o primeiro-ministro, no caso PT os mercados fazem o trabalho do demónio em parceria com uma Comissão Europeia ultraliberal e pérfida de preconceitos sobre o papel do Estado na economia. Sócrates é o novo Quixote que enfrenta solitário uma ideologia liberal predatória e insensível à soberania do Estado. Mas o primeiro-ministro é também o defensor de um PEC em que se estabelece uma estratégia ‘market oriented' com o objectivo de melhor "enfrentar os desafios da liberalização do mercado". A desorientação é aqui prova de uma estrutural ausência de valores e de convicções.
Ainda de acordo com o primeiro-ministro, os mercados fazem o trabalho de deus. Quando os mercados alimentam o fluxo de dinheiro fresco para suportar a megalomania política do Governo, Sócrates elogia a confiança dos investidores estrangeiros em Portugal. Que importa uma dívida pública explosiva que ameaça a solidez financeira no futuro. E quando os juros dos financiamentos sobem, Sócrates denuncia a ganância imoral dos especuladores sobre a dívida soberana. A diferença entre um investidor e um especulador resume-se à conveniência política do momento.
No ‘affair' PT evoca-se ainda o interesse nacional. O interesse nacional é um conceito desvalorizado e completamente refém das envolvências políticas. Mais ainda, o interesse nacional tem sempre a pequena duração do curto prazo. Na utilização da ‘golden share' na PT existe apenas a fraqueza de um Estado que disfarça a incompetência com o discurso da coragem.
No mundo de hoje, e no horizonte do longo prazo, a afirmação de Portugal depende sobretudo da consistência de uma classe empresarial independente do Estado, autónoma e capaz de interpretar o interesse nacional para além dos interesses particulares e das conformidades políticas. O zelo nacionalista e partidário é a receita para o atraso.
Uma nota final ao cuidado do primeiro-ministro. Sem riqueza e crescimento económico não existe equidade social nem redistribuição de rendimentos. Dito de outro modo, sem liberais não existem socialistas. Eis o princípio político de toda uma governação."
Carlos Marques de Almeida
Visto de perto, a política de Sócrates confunde-se com o diálogo de um cão com o seu dono sobre a necessidade de morder os amigos. Morda-se a Espanha, morda-se a Comissão Europeia, morda-se o mundo que conspira contra a modernidade nacional. Visto ainda mais de perto, o Governo está sentado no alto do ramo de uma árvore enquanto o primeiro-ministro se entretém a serrar o ramo pela base. A queda do Executivo será certamente um espectáculo do Cirque du Soleil e o PS agita-se ansioso por um sucessor de Sócrates.
De acordo com o primeiro-ministro, no caso PT os mercados fazem o trabalho do demónio em parceria com uma Comissão Europeia ultraliberal e pérfida de preconceitos sobre o papel do Estado na economia. Sócrates é o novo Quixote que enfrenta solitário uma ideologia liberal predatória e insensível à soberania do Estado. Mas o primeiro-ministro é também o defensor de um PEC em que se estabelece uma estratégia ‘market oriented' com o objectivo de melhor "enfrentar os desafios da liberalização do mercado". A desorientação é aqui prova de uma estrutural ausência de valores e de convicções.
Ainda de acordo com o primeiro-ministro, os mercados fazem o trabalho de deus. Quando os mercados alimentam o fluxo de dinheiro fresco para suportar a megalomania política do Governo, Sócrates elogia a confiança dos investidores estrangeiros em Portugal. Que importa uma dívida pública explosiva que ameaça a solidez financeira no futuro. E quando os juros dos financiamentos sobem, Sócrates denuncia a ganância imoral dos especuladores sobre a dívida soberana. A diferença entre um investidor e um especulador resume-se à conveniência política do momento.
No ‘affair' PT evoca-se ainda o interesse nacional. O interesse nacional é um conceito desvalorizado e completamente refém das envolvências políticas. Mais ainda, o interesse nacional tem sempre a pequena duração do curto prazo. Na utilização da ‘golden share' na PT existe apenas a fraqueza de um Estado que disfarça a incompetência com o discurso da coragem.
No mundo de hoje, e no horizonte do longo prazo, a afirmação de Portugal depende sobretudo da consistência de uma classe empresarial independente do Estado, autónoma e capaz de interpretar o interesse nacional para além dos interesses particulares e das conformidades políticas. O zelo nacionalista e partidário é a receita para o atraso.
Uma nota final ao cuidado do primeiro-ministro. Sem riqueza e crescimento económico não existe equidade social nem redistribuição de rendimentos. Dito de outro modo, sem liberais não existem socialistas. Eis o princípio político de toda uma governação."
Carlos Marques de Almeida
Vivò socialismo!
"A falta de interesse, aptidão ou paciência exclui-me de certas áreas do conhecimento. Até há dias, tinha uma ideia vaga da existência da espanhola Telefónica e uma ideia vaguíssima da existência da brasileira Vivo, de que aquela empresa e a muito nossa Portugal Telecom detêm, salvo o erro, 60% em partes iguais. Por isso, embora sete mil milhões (ou 4% do PIB português) me pareçam uma verba decente, não sei se a venda à Telefónica da parte da Vivo pertencente à PT era ou não era vantajosa para os respectivos accionistas.
Mas até um leigo percebe tratar-se de uma matéria que cabe aos accionistas decidir. E eles decidiram, com quase três quartos a votar favoravelmente o negócio. O problema é que, em nações exóticas, fora da esfera governamental, as decisões valem pouco e quem manda, manda nada. O Estado, que possui a astronómica quantia de 15 euros em acções da PT, recorreu pela primeira vez a um curioso instrumento chamado golden share, reduziu a nada as promessas em sentido contrário da administração e impediu que se cumprisse a vontade dos ingénuos que julgavam dispor da sua propriedade.
Claro que a história ainda agora começou. Claro que os tribunais (europeus) provavelmente vão determinar a ilegalidade do truque e vetar o veto. Claro que a Telefónica saberá contornar os obstáculos. Porém, se a golden share é juridicamente ou tecnicamente reversível, não o é "simbolicamente". Segundo o eng. Sócrates, corroborado pela extrema-esquerda (que acha a golden share escassa e naturalmente reclama nacionalizações urgentes), pelo divertido CDS e pelo prof. Cavaco, a oposição ao negócio justifica-se em nome de uma fragrância mítica chamada "interesse estratégico nacional".
Pelos vistos, o "interesse estratégico nacional" é, além daquilo que apetece ao eng. Sócrates, tudo o que empurra Portugal rumo ao anedotário internacional, no papel de uma república socialista avessa ao mercado. De facto, à semelhança do que sucedia nas velhas feiras de horrores, o mundo civilizado voltou-se para nós, a contemplar a aberração que, afinal, somos. Num ápice, o país moderno da propaganda transformou-se na mulher barbuda ou no engolidor de facas, com a diferença de que estes ao menos inspiravam pena e esmolas. Ao investidor estrangeiro, que nunca nos olhou encantado, Portugal passou a inspirar puro medo.
Daqui a muito tempo, quando já não houver Vivo nem o Governo do eng. Sócrates, será com esse medo que teremos de viver, e será o seu preço que cá estaremos, se estivermos, para pagar. Durante cinco anos, o eng. Sócrates ganhou fama de péssimo primeiro-ministro e razoável comerciante. A segunda reputação é completamente injusta."
Alberto Gonçalves
Mas até um leigo percebe tratar-se de uma matéria que cabe aos accionistas decidir. E eles decidiram, com quase três quartos a votar favoravelmente o negócio. O problema é que, em nações exóticas, fora da esfera governamental, as decisões valem pouco e quem manda, manda nada. O Estado, que possui a astronómica quantia de 15 euros em acções da PT, recorreu pela primeira vez a um curioso instrumento chamado golden share, reduziu a nada as promessas em sentido contrário da administração e impediu que se cumprisse a vontade dos ingénuos que julgavam dispor da sua propriedade.
Claro que a história ainda agora começou. Claro que os tribunais (europeus) provavelmente vão determinar a ilegalidade do truque e vetar o veto. Claro que a Telefónica saberá contornar os obstáculos. Porém, se a golden share é juridicamente ou tecnicamente reversível, não o é "simbolicamente". Segundo o eng. Sócrates, corroborado pela extrema-esquerda (que acha a golden share escassa e naturalmente reclama nacionalizações urgentes), pelo divertido CDS e pelo prof. Cavaco, a oposição ao negócio justifica-se em nome de uma fragrância mítica chamada "interesse estratégico nacional".
Pelos vistos, o "interesse estratégico nacional" é, além daquilo que apetece ao eng. Sócrates, tudo o que empurra Portugal rumo ao anedotário internacional, no papel de uma república socialista avessa ao mercado. De facto, à semelhança do que sucedia nas velhas feiras de horrores, o mundo civilizado voltou-se para nós, a contemplar a aberração que, afinal, somos. Num ápice, o país moderno da propaganda transformou-se na mulher barbuda ou no engolidor de facas, com a diferença de que estes ao menos inspiravam pena e esmolas. Ao investidor estrangeiro, que nunca nos olhou encantado, Portugal passou a inspirar puro medo.
Daqui a muito tempo, quando já não houver Vivo nem o Governo do eng. Sócrates, será com esse medo que teremos de viver, e será o seu preço que cá estaremos, se estivermos, para pagar. Durante cinco anos, o eng. Sócrates ganhou fama de péssimo primeiro-ministro e razoável comerciante. A segunda reputação é completamente injusta."
Alberto Gonçalves
segunda-feira, julho 05, 2010
E a criminalidade continua a diminuir...
"A violência instalou-se novamente ontem nas praias da Linha de Cascais. Pouco depois das 14h00, um tiro ecoava em plena praia do Tamariz, no Estoril. Um jovem foi baleado depois de cercado e agredido por um grupo que decidiu acertar contas com milhares de banhistas à volta. Estava lançado o rastilho para uma tarde de terror. O sentimento de insegurança é geral. Os banhistas começam a ter medo e os comerciantes fecham as portas com a invasão de grupos oriundos de bairros problemáticos de toda a área metropolitana de Lisboa, que acorrem às praias em grande número através dos comboios, onde se tem verificado uma escalada de medo e violência. Apanhadas no meio de actos de vingança entre grupos, foram várias as pessoas que tiveram de se esconder debaixo das mesas das esplanadas junto à praia com medo de serem atingidas (mais aqui)"Depois do sucesso de "era uma vez um arrastão", está na altura de Diana Andringa (mais aqui) continuar a saga e demonstrar que tudo não passou de ilusão óptica fruto do imenso calor que se sentiu nesse dia.
Etiquetas: atirem-nos areia para os olhos., Welcome to the Jungle
Curiosidades.
1/ "Preços dos combustíveis sofrem maior queda num ano. A petrolífera nacional reduziu o preço do litro da gasolina em 2,1 cêntimos, enquanto o gasóleo ficou mais barato em 2,5 cêntimos. O preço do litro do gasóleo na Galp passou assim a valer 1,194 euros, enquanto o preço da gasolina custa agora 1,419 euros por litro (mais aqui)
2/ "O barril de crude escorregava 0,55% para 71,74 dólares, enquanto o preço do barril de ‘brent', referência para as importações portuguesas, caía 0,24% para 71,48 dólares (mais aqui)"
A redacção do Zezito
"Mário Soares é uma figura da democracia e um homem com um grande coração. Tão grande que não reagiu violentamente a esta declaração de amor do engenheiro relativo: "Mário Soares é um patriota, gosta de Camões. Eu gosto dos políticos que gostam de Camões. Eu gosto muito do doutor Mário Soares".
É evidente que em circunstâncias normais o fundador do PS teria dado com um pano encharcado nas trombas do Zezito e obrigado o menino a voltar aos bancos da escola. Mas como Mário Soares já aturou muitos analfabetos, travestidos de engenheiros e doutores, é natural que não tenha estranhado a redacção medíocre do seu sucessor. Espera-se é que tenha registado na sua célebre agenda preta mais esta brilhante pérola do menino de Vilar de Maçada que desgraçadamente nos saiu na rifa. "
António Ribeiro Ferreira
É evidente que em circunstâncias normais o fundador do PS teria dado com um pano encharcado nas trombas do Zezito e obrigado o menino a voltar aos bancos da escola. Mas como Mário Soares já aturou muitos analfabetos, travestidos de engenheiros e doutores, é natural que não tenha estranhado a redacção medíocre do seu sucessor. Espera-se é que tenha registado na sua célebre agenda preta mais esta brilhante pérola do menino de Vilar de Maçada que desgraçadamente nos saiu na rifa. "
António Ribeiro Ferreira
domingo, julho 04, 2010
Cunhal em Joanesburgo
"Nos cinco anos da morte de Álvaro Cunhal, os media, ligeira e proverbialmente hagiográficos, dedicaram-se a recordar a "coerência", as "convicções", a "inteligência" e a "abnegação" do histórico líder comunista. Com o devido respeito, não era preciso. A maior homenagem aos valores e aos princípios do dr. Cunhal surgiu, algo inesperadamente, no Mundial da África do Sul. Foi no jogo entre a Coreia do Norte e o Brasil, quando, frente a um ou dois biliões de telespectadores, um futebolista coreano chorou baba e ranho durante o hino do seu país.
Na altura, não alcancei o motivo de tamanha comoção. Mas nos dias seguintes correu a história de que quatro colegas do futebolista desertaram antes do desafio e sinceramente presumi: o chorão estava destroçado por não poder imitá-los.
Ou não. Entretanto, ouvi dizer que o chorão até vive no Japão e também sei que a FIFA, embora de modo nebuloso, negou que os quatro rapazes tivessem desaparecido. Aqui, porém, o importante não é bem o desaparecimento ou as lágrimas: é o facto de toda a gente os achar plausíveis. Na República Democrática Popular da Coreia como em Cuba ou, antigamente, na extinta União Soviética e nos países do Pacto de Varsóvia, é tradição dos seus desportistas aproveitarem competições no estrangeiro para sumir e reaparecer numa embaixada ocidental sob o estatuto de refugiados. Em contrapartida, são escassos os casos em que atletas de nações democráticas, na prática e não de nome, pedem refúgio junto de nações comunistas (contas por alto: zero).
A lendária "coerência" do dr. Cunhal consistiu em passar uma vida às avessas da humanidade, a sonhar para os outros um mundo de que os outros fogem horrorizados. Cinco anos depois, é essa convicção cega nas virtudes do horror o seu legado, que muitos continuam a honrar e que a democracia acolhe com a leviandade de um corpo de bombeiros que emprega um reputado pirómano. "
Alberto Gonçalves
Na altura, não alcancei o motivo de tamanha comoção. Mas nos dias seguintes correu a história de que quatro colegas do futebolista desertaram antes do desafio e sinceramente presumi: o chorão estava destroçado por não poder imitá-los.
Ou não. Entretanto, ouvi dizer que o chorão até vive no Japão e também sei que a FIFA, embora de modo nebuloso, negou que os quatro rapazes tivessem desaparecido. Aqui, porém, o importante não é bem o desaparecimento ou as lágrimas: é o facto de toda a gente os achar plausíveis. Na República Democrática Popular da Coreia como em Cuba ou, antigamente, na extinta União Soviética e nos países do Pacto de Varsóvia, é tradição dos seus desportistas aproveitarem competições no estrangeiro para sumir e reaparecer numa embaixada ocidental sob o estatuto de refugiados. Em contrapartida, são escassos os casos em que atletas de nações democráticas, na prática e não de nome, pedem refúgio junto de nações comunistas (contas por alto: zero).
A lendária "coerência" do dr. Cunhal consistiu em passar uma vida às avessas da humanidade, a sonhar para os outros um mundo de que os outros fogem horrorizados. Cinco anos depois, é essa convicção cega nas virtudes do horror o seu legado, que muitos continuam a honrar e que a democracia acolhe com a leviandade de um corpo de bombeiros que emprega um reputado pirómano. "
Alberto Gonçalves
sábado, julho 03, 2010
O inimigo público n.º 1
"O cidadão português contribuinte tornou-se o inimigo público n.º 1 do Estado. É para ele que estão voltados os holofotes fiscais e está reservada uma pena na Sing-Sing indígena: a denúncia na Internet. Antigamente, os governantes decretavam o imposto como uma bênção para os portugueses. No tempo de Eça de Queiroz era assim. Agora, a vergonha foi-se. Estamos no tempo em que se ameaça com o músculo estatal: "o imposto ou a vida." E o contribuinte, que ainda tem emprego, não tem fuga. Ou melhor, só lhe resta um escape: emigra. Portugal está a tornar-se um sítio inóspito para se sobreviver. Um português bem-disposto começa a tornar-se uma raridade digna de estudo científico. O País vai ficando mais pobre e estagnado, como se lê no relatório da UE. Este País já não é o pântano de António Guterres. É um deserto sem água. Até as miragens, neste País, pagam imposto. A tentativa a toda a força de avançar com os "chips" nos carros já nem é digna do "Big Brother" em que o Estado português se transformou a reboque da intendência dos impostos. É um "Little Brother" pacóvio. Porque nem prazer já pretende dar aos portugueses, como no mundo admirável de Aldous Huxley, onde todos estavam acorrentados mas tinham algum deleite. Este País de impostos está a asfixiar tudo, especialmente o nosso futuro colectivo. Porque, para lá do imposto para resolver os problemas de hoje, não se vê como pode ele contribuir para construir um futuro melhor. Os impostos por tudo e por nada estão a tirar o oxigénio aos cidadãos. E, no enterro, o Estado há-de vir dizer orgulhosamente que salvou o País."
Fernando Sobral
Fernando Sobral
'Second life'
"Segundo o DN, no mês passado a base de dados do Ministério da Justiça contabilizava 28 192 crimes com armas de fogo cometidos entre 2005 e 2009. Hoje, esse exacto inventário, disponível na Internet, refere apenas 13 471 crimes. Milagre? Parece que não. A tutela justifica-se com um erro informático que teria distorcido os dados dos últimos cinco anos e garante que o valor actual é que é verdadeiro. A tutela, que reclama assim estatuto de incompetente, é demasiado modesta. É óbvio que as estatísticas foram amputadas deliberadamente. E brilhantemente, se me permitem acrescentar.
Como abundantes sociólogos e psicólogos não se cansam de explicar, o principal problema do crime é a respectiva percepção. Ou seja, não é muito grave um cidadão ser aliviado da carteira ou do carro por um meliante com revólver: grave é que os restantes cidadãos tomem conhecimento do facto e, mariquinhas que são, se alarmem com a hipótese de constituir o próximo alvo.
Perante isto, não há necessidade de os governantes combaterem o crime através de políticas e investimentos que reduzam realmente a quantidade de ocorrências. Basta reduzir a quantidade de ocorrências nos registos informáticos. Alterar meia dúzia de algarismos no computador é muito mais barato, muito mais rápido e muito mais eficaz do que torrar fortunas em meios policiais e depois aguardar por resultados incertos. Para quê bulir na realidade propriamente dita, uma instância desagradável e arisca, se a realidade virtual é o futuro?
Mal possa, não duvido de que o Governo aplicará método idêntico aos números do desemprego e da dívida pública e privada, por exemplo. Dado que tudo é psicológico, semelhante medida apaziguaria as angústias do povo, excepto, claro, da parcela do povo que ficou sem carteira, sem trabalho ou sem crédito em geral. Mas esses não são assim tantos, e se mexermos nas estatísticas serão ainda menos."
Alberto Gonçalves
Como abundantes sociólogos e psicólogos não se cansam de explicar, o principal problema do crime é a respectiva percepção. Ou seja, não é muito grave um cidadão ser aliviado da carteira ou do carro por um meliante com revólver: grave é que os restantes cidadãos tomem conhecimento do facto e, mariquinhas que são, se alarmem com a hipótese de constituir o próximo alvo.
Perante isto, não há necessidade de os governantes combaterem o crime através de políticas e investimentos que reduzam realmente a quantidade de ocorrências. Basta reduzir a quantidade de ocorrências nos registos informáticos. Alterar meia dúzia de algarismos no computador é muito mais barato, muito mais rápido e muito mais eficaz do que torrar fortunas em meios policiais e depois aguardar por resultados incertos. Para quê bulir na realidade propriamente dita, uma instância desagradável e arisca, se a realidade virtual é o futuro?
Mal possa, não duvido de que o Governo aplicará método idêntico aos números do desemprego e da dívida pública e privada, por exemplo. Dado que tudo é psicológico, semelhante medida apaziguaria as angústias do povo, excepto, claro, da parcela do povo que ficou sem carteira, sem trabalho ou sem crédito em geral. Mas esses não são assim tantos, e se mexermos nas estatísticas serão ainda menos."
Alberto Gonçalves
sexta-feira, julho 02, 2010
Milionários
"O nono país mais pobre da União Europeia ganhou 600 novos milionários em plena crise, apesar da crise, contra a crise e através da crise.
Razão tem o ministro da Economia quando diz que "Portugal tem um nível excessivamente elevado de desigualdades". O país em que cerca de 40% da população admite que todos os meses vive "uma luta constante" para conseguir pagar as suas dívidas, tem 600 novos sócios do clube do milhão ou mais. O facto é tanto mais surpreendente quanto o mesmo estudo que revela o crescimento de 5,5% do número de milionários e o aumento do valor das fortunas confirma, no mesmo espaço de um ano, de 2008 para 2009, que a produção industrial se reduziu e as exportações caíram. Portanto, os 600 novos milionários terão recebido heranças de inesperadas tias alegadamente ricas, terão sido bafejados por algum concurso televisivo, pela Santa Casa ou pelo Santo Espírito, ou ainda por uma carta da Nigéria.
Com este crescimento, Portugal passou a casa dos 11 mil milionários, o que é um feito notável por parte de um país tão pobre. Ora para uma população de 10 milhões, 40% dos quais em aflições - isto é, 4 milhões - ter 11.400 milionários diz algumas coisas. Diz, por exemplo, que por cada lote de 351 portugueses aflitos há um milionário, o que certamente será motivo de orgulho e atenuará o desconforto das aflições. Infelizmente, como em outros sectores da vida portuguesa, não se pratica uma política de proximidade que permita a cada aflito ou grupo de aflitos saberem quem é o respectivo milionário para nele se inspirarem.
Todas estas questões têm leituras diversas. À luz das Escrituras, o que se passa é que 11.400 portugueses mais dificilmente entrarão no Reino dos Céus do que um camelo passará pelo fundo de uma agulha."
Joao Paulo Guerra
Razão tem o ministro da Economia quando diz que "Portugal tem um nível excessivamente elevado de desigualdades". O país em que cerca de 40% da população admite que todos os meses vive "uma luta constante" para conseguir pagar as suas dívidas, tem 600 novos sócios do clube do milhão ou mais. O facto é tanto mais surpreendente quanto o mesmo estudo que revela o crescimento de 5,5% do número de milionários e o aumento do valor das fortunas confirma, no mesmo espaço de um ano, de 2008 para 2009, que a produção industrial se reduziu e as exportações caíram. Portanto, os 600 novos milionários terão recebido heranças de inesperadas tias alegadamente ricas, terão sido bafejados por algum concurso televisivo, pela Santa Casa ou pelo Santo Espírito, ou ainda por uma carta da Nigéria.
Com este crescimento, Portugal passou a casa dos 11 mil milionários, o que é um feito notável por parte de um país tão pobre. Ora para uma população de 10 milhões, 40% dos quais em aflições - isto é, 4 milhões - ter 11.400 milionários diz algumas coisas. Diz, por exemplo, que por cada lote de 351 portugueses aflitos há um milionário, o que certamente será motivo de orgulho e atenuará o desconforto das aflições. Infelizmente, como em outros sectores da vida portuguesa, não se pratica uma política de proximidade que permita a cada aflito ou grupo de aflitos saberem quem é o respectivo milionário para nele se inspirarem.
Todas estas questões têm leituras diversas. À luz das Escrituras, o que se passa é que 11.400 portugueses mais dificilmente entrarão no Reino dos Céus do que um camelo passará pelo fundo de uma agulha."
Joao Paulo Guerra
O dia da morte de José Saramago
"Portugal ficou mais pobre? Se a pobreza for de espírito e a julgar pelas carpideiras, sem dúvida. A morte de José Saramago iniciou uma competição de louvores e levou uma extraordinária quantidade de sujeitos, notáveis e anónimos, a elogiar um homem que, evidentemente a título elogioso, todos acham "polémico".
É verdade que Saramago tentou a polémica. E se agora muitos aconselham a separar o autor da respectiva obra, é igualmente verdade que o conselho não possui efeitos retroactivos. Após O Evangelho... e sobretudo após o Nobel, que insuflou Saramago com uma importância proporcional à importância que um país periférico dá a essas coisas, os seus romances confundem-se frequentemente com sebentas de apoio às controvérsias públicas que o autor buscava e, na maioria dos casos, obtinha. Menos lidos do que comentados, os livros de Saramago pareciam-se com uma mera versão escrita do chinfrim que o próprio anunciava ainda antes de cada publicação e se esforçava por alimentar depois.
E tudo isso para quê? Vasculha--se a imprensa e, entre a excitação dos epitáfios, não se encontra uma voz dissonante. Saramago orgulhava-se de fomentar inimigos, mas, fora dos comentários sem rosto na Internet, aparentemente não há um com a decência de aparecer e proclamar que desprezava a obra ou que detestava o autor.
Para quem se sonhou incómodo, não haverá maior traição do que partir neste sufocante consenso. Armados de panegíricos, os adversários evitam o sectarismo de que Saramago sempre padeceu, os admiradores lembram o criador perseguido (?) e esquecem o comissário político, os alucinados exaltam a "coragem" do fiel servidor de uma ditadura (felizmente breve), os sensíveis reclamam respeito post mortem por um indivíduo que venerou uma ideologia especializada no assassínio.
Eu, que nunca gostei do escritor nem do cidadão e não mudei de ideias por causa de um destino a que ninguém escapa, faço-lhe a justiça de imaginar que, caso também aí Saramago se tenha enganado e a alma seja realmente imortal, a alma dele hoje lastime tamanha unanimidade. Pela modestíssima parte que me toca, não a terá. E não precisa de agradecer."
Alberto Gonçalves
É verdade que Saramago tentou a polémica. E se agora muitos aconselham a separar o autor da respectiva obra, é igualmente verdade que o conselho não possui efeitos retroactivos. Após O Evangelho... e sobretudo após o Nobel, que insuflou Saramago com uma importância proporcional à importância que um país periférico dá a essas coisas, os seus romances confundem-se frequentemente com sebentas de apoio às controvérsias públicas que o autor buscava e, na maioria dos casos, obtinha. Menos lidos do que comentados, os livros de Saramago pareciam-se com uma mera versão escrita do chinfrim que o próprio anunciava ainda antes de cada publicação e se esforçava por alimentar depois.
E tudo isso para quê? Vasculha--se a imprensa e, entre a excitação dos epitáfios, não se encontra uma voz dissonante. Saramago orgulhava-se de fomentar inimigos, mas, fora dos comentários sem rosto na Internet, aparentemente não há um com a decência de aparecer e proclamar que desprezava a obra ou que detestava o autor.
Para quem se sonhou incómodo, não haverá maior traição do que partir neste sufocante consenso. Armados de panegíricos, os adversários evitam o sectarismo de que Saramago sempre padeceu, os admiradores lembram o criador perseguido (?) e esquecem o comissário político, os alucinados exaltam a "coragem" do fiel servidor de uma ditadura (felizmente breve), os sensíveis reclamam respeito post mortem por um indivíduo que venerou uma ideologia especializada no assassínio.
Eu, que nunca gostei do escritor nem do cidadão e não mudei de ideias por causa de um destino a que ninguém escapa, faço-lhe a justiça de imaginar que, caso também aí Saramago se tenha enganado e a alma seja realmente imortal, a alma dele hoje lastime tamanha unanimidade. Pela modestíssima parte que me toca, não a terá. E não precisa de agradecer."
Alberto Gonçalves
quinta-feira, julho 01, 2010
ASAE fecha Mercado de Tomar, seria possível fechar o país?
Venho falar de notícia, daquelas que aparecem nas páginas dos jornais que misturam crime, ofensa, e neste caso segurança alimentar.
O facto mereceu do Presidente da Câmara o comentário que a acção foi despropositada e parece-me que o homem tem razão, só esqueceu dizer o alguns comentaram no local e sabem, a concorrência manda matar, coisa em que eu não acredito...
Fez-me lembrar um fulano que comanda aquela tropa ou força ou lá o que é a coisa,a fuma r chruto e gozar com o pagode, interessante, que nunca os vi nas gandes superfícies ou então a coisa não merece destaque desta imprensa fundada por gentinha como o saudoso Saramago o tal que saneou umas dezenas de jornalistas do DN no tempo do General em mangas de camisa e olhar no infinito.
De facto, acho que a ASAE deveria começar por fiscalizar o Governo do sítio, afinal ele é o grande responsável pelas actividades económicas e os deslizes.
Fiscalizar a EDP, a PT e congéneres, as gasolineiras para saber se o gasóleo, tem apenas óleo de fritar, ou gasóleo ou se tem mais de um que de outros, porque o engenheiro tem de reciclar, é que as empresas de bombas injectoras não têm mão a medir, será porquê?
Portanto a ASAE com o equipamento próprio de Rambos de pacotilha como a tropa fandanga de hoje, têm o útil trabalho de acabar com o que resta da economia já que o pessoal dos partidos políticos, sem excepção, já têm o deles em off shore.
É claro que isto é uma caricatura de mais uma coisa que deveria ser extinta pura e simplesmente como uma praga, como são os Institutos Públicos, as Parcerias Público Privadas e já agora a Assembleia do sítio, cada vez mais bolorento, mais fedorento e pôdre e só comparável a um narco estado, trata-se de um sítio que é tipo África com luz às vezes, subserviente aaos crápulas de Bruxelas, com o agente americano Durão a comandar.
Tomem sais de fruto, recomendo aos democratas que defendem esta choldra.
Fracturar por aí
"As propostas fracturantes são, quase sempre, Frankensteins que servem para afugentar espíritos frágeis. São espantalhos que não impedem os pássaros de continuar a comer os cereais. Servem para iludir o essencial e para polemizar o acessório. É por isso que se estranha que haja quem, no PSD, esteja a discutir uma alteração à Constituição que permita acabar com a imposição da forma republicana de governo. Não se acredita que, como nas propostas fracturantes do PS nos primeiros tempos da tutela de José Sócrates sobre o País, esta apenas sirva para a promoção pessoal dos seus proponentes. Para virem a ser recompensados, no futuro, com um qualquer cargo de eurodeputado ou vice-presidência da bancada parlamentar. Por isso a situação deve ser analisada de forma mais séria. Substituir a imposição constitucional da República é abrir uma caixa de Pandora. Democracia, que alguns querem ver no lugar de República, pode querer dizer Monarquia, mas também Democracia musculada ou mesmo Democracia socialista. A leitura é para todos os gostos. Mas o que espanta é olhar-se para o republicanismo como se ele fosse um bloqueio ao futuro do sítio. A não ser que haja um interesse ideológico muito próprio (que não vislumbramos no universo maioritário do PSD) em chutar a República para o caixote do lixo, não se vislumbra a razão do cisma. Até porque Passos Coelho não necessitará, neste momento, de vir a ser confrontado com as razões de tão radical mudança na Constituição. Precisa, antes, de mostrar que pode dar um novo ânimo ao País"
Fernando Sobral
Fernando Sobral
Ganhar à França
"Eu, que sou um nostálgico, aflijo- -me com as tradições em risco. Entre greves, balneários destruídos e murros nos árbitros, por regra é a selecção portuguesa que costuma abandonar em grande as competições internacionais de futebol. No Mundial em curso, porém, foi para já a equipa francesa a destacar-se nesse particular campeonato da rebaldaria. Quando não nos elimina nos confrontos directos, como é habitual, a França arranja sempre maneira de nos vencer. E, aparentemente, de goleada.
Assim por alto, o desempenho dos bleus (aos poucos vou dominando o jargão) na África do Sul consistiu em jogadores que insultam o treinador, jogadores recambiados precocemente para casa, jogadores que trocam os treinos por plenários, jogadores que ameaçam não aparecer para o último jogo, jogadores que perdem o último jogo, jogadores que pedem, e conseguem, audiências no Eliseu com o presidente da República, o qual entretanto cancelou todos os compromissos restantes a fim de resolver a crise pelas próprias mãos.
Vive la France? Com certeza, que este nível de ridículo não se ultrapassa com facilidade. Sucede que o futebol é proverbialmente uma caixinha de surpresas e, noutro provérbio, o bom povo garante que até ao lavar dos cestos é vindima. Por enquanto, a nossa selecção limitou-se a festejar sete vezes a condenação da comitiva norte-coreana a campos de concentração e a afastar dois futebolistas por lesões que os especialistas reputam de duvidosas. Mas ainda há tempo para inverter este melancólico estado das coisas.
Se a selecção fizer por honrar o seu historial, estou convencido de que, antes, durante ou depois do jogo com a Espanha, arranjará um regabofe de dimensão suficiente para preocupar o presidente da República, suscitar a intervenção urgente do primeiro-ministro e, em nome da estabilidade e dos superiores interesses do país, motivar o envolvimento responsável do dr. Passos Coelho."
Alberto Gonçalves
Assim por alto, o desempenho dos bleus (aos poucos vou dominando o jargão) na África do Sul consistiu em jogadores que insultam o treinador, jogadores recambiados precocemente para casa, jogadores que trocam os treinos por plenários, jogadores que ameaçam não aparecer para o último jogo, jogadores que perdem o último jogo, jogadores que pedem, e conseguem, audiências no Eliseu com o presidente da República, o qual entretanto cancelou todos os compromissos restantes a fim de resolver a crise pelas próprias mãos.
Vive la France? Com certeza, que este nível de ridículo não se ultrapassa com facilidade. Sucede que o futebol é proverbialmente uma caixinha de surpresas e, noutro provérbio, o bom povo garante que até ao lavar dos cestos é vindima. Por enquanto, a nossa selecção limitou-se a festejar sete vezes a condenação da comitiva norte-coreana a campos de concentração e a afastar dois futebolistas por lesões que os especialistas reputam de duvidosas. Mas ainda há tempo para inverter este melancólico estado das coisas.
Se a selecção fizer por honrar o seu historial, estou convencido de que, antes, durante ou depois do jogo com a Espanha, arranjará um regabofe de dimensão suficiente para preocupar o presidente da República, suscitar a intervenção urgente do primeiro-ministro e, em nome da estabilidade e dos superiores interesses do país, motivar o envolvimento responsável do dr. Passos Coelho."
Alberto Gonçalves