A inflação é que ganha
Mas o que mais deve preocupar inquilinos do poder e clientes são as dificuldades que têm afectado o sector financeiro, com consequências na rendibilidade das instituições que nele operam.
A quebra registada nos rendimentos das famílias e das empresas não é uma boa notícia para os bancos. Depois de anos consecutivos de uma forte expansão do crédito, alimentada pelas baixas taxas de juro e por uma concorrência que esmagou os "spreads", o ciclo recessivo em que Portugal mergulhou fez regressar o fantasma do crédito malparado.
Famílias e empresas em dificuldades financeiras significam um problema na saúde dos balanços dos bancos, por causa do aumento do risco de incumprimento dos compromissos assumidos pelos devedores. Esta degradação num sector muito "alavancado", o que em termos práticos equivale a dizer demasiado exposto e dependente em relação aos seus recursos próprios, levou a que, desde há um ano, o mercado interbancário, onde as instituições financeiras se financiam, deixasse de funcionar para os bancos portugueses.
Além dos apoios já recebidos do Banco Central Europeu e, também, dos fundos que estarão previstos no pacote de ajuda externa do FMI e da União Europeia para recapitalização das instituições financeiras, emagrecer é uma palavra de ordem para corrigir as deficiências. E a dieta representa, pelo menos, duas coisas: restringir o crédito e tentar captar recursos onde eles possam estar disponíveis.
Para as empresas e famílias que precisam de crédito para realizar investimentos ou financiar despesas, o cenário é de austeridade no acesso ao crédito. Mas a outra face da moeda está na necessidade dos bancos de aumentarem as taxas de juro dos depósitos com o objectivo de atraírem os meios de que necessitam com o objectivo de equilibrarem os seus balanços e melhorarem a sua solidez perante uma conjuntura que, tão cedo, não deixará de ser adversa.
A remuneração dos depósitos tem registado melhorias para os seus titulares. Entre Junho e Janeiro passados, a taxa de juro média subiu de 1,3% para 2,8%, de acordo com as estatísticas do Banco de Portugal. É pouco, ainda, quando se sabe que a inflação está a aumentar e que este fenómeno já ganhou uma dinâmica suficiente para engolir uma boa parte dos juros pagos pelos bancos aos clientes.
Uma pesquisa efectuada pelo Negócios revelou, até, que, actualmente, não há no mercado depósitos com taxas de juro líquidas de imposto que consigam compensar a aceleração do ritmo de crescimento dos preços. Ou seja, no final do prazo do depósito o poder de compra é menor do que no momento em que foi constituído. Se o período durante o qual não vai precisar do dinheiro e pretende mantê-lo aplicado é longo, pense duas vezes antes de fazer um depósito, porque a inflação vai empobrecê-lo."
João Cândido da Silva