sábado, abril 30, 2011

A inflação é que ganha

"Os lucros obtidos pelos bancos são um tema favorito quando a discussão política resvala para a demagogia.


Mas o que mais deve preocupar inquilinos do poder e clientes são as dificuldades que têm afectado o sector financeiro, com consequências na rendibilidade das instituições que nele operam.

A quebra registada nos rendimentos das famílias e das empresas não é uma boa notícia para os bancos. Depois de anos consecutivos de uma forte expansão do crédito, alimentada pelas baixas taxas de juro e por uma concorrência que esmagou os "spreads", o ciclo recessivo em que Portugal mergulhou fez regressar o fantasma do crédito malparado.

Famílias e empresas em dificuldades financeiras significam um problema na saúde dos balanços dos bancos, por causa do aumento do risco de incumprimento dos compromissos assumidos pelos devedores. Esta degradação num sector muito "alavancado", o que em termos práticos equivale a dizer demasiado exposto e dependente em relação aos seus recursos próprios, levou a que, desde há um ano, o mercado interbancário, onde as instituições financeiras se financiam, deixasse de funcionar para os bancos portugueses.

Além dos apoios já recebidos do Banco Central Europeu e, também, dos fundos que estarão previstos no pacote de ajuda externa do FMI e da União Europeia para recapitalização das instituições financeiras, emagrecer é uma palavra de ordem para corrigir as deficiências. E a dieta representa, pelo menos, duas coisas: restringir o crédito e tentar captar recursos onde eles possam estar disponíveis.

Para as empresas e famílias que precisam de crédito para realizar investimentos ou financiar despesas, o cenário é de austeridade no acesso ao crédito. Mas a outra face da moeda está na necessidade dos bancos de aumentarem as taxas de juro dos depósitos com o objectivo de atraírem os meios de que necessitam com o objectivo de equilibrarem os seus balanços e melhorarem a sua solidez perante uma conjuntura que, tão cedo, não deixará de ser adversa.

A remuneração dos depósitos tem registado melhorias para os seus titulares. Entre Junho e Janeiro passados, a taxa de juro média subiu de 1,3% para 2,8%, de acordo com as estatísticas do Banco de Portugal. É pouco, ainda, quando se sabe que a inflação está a aumentar e que este fenómeno já ganhou uma dinâmica suficiente para engolir uma boa parte dos juros pagos pelos bancos aos clientes.

Uma pesquisa efectuada pelo Negócios revelou, até, que, actualmente, não há no mercado depósitos com taxas de juro líquidas de imposto que consigam compensar a aceleração do ritmo de crescimento dos preços. Ou seja, no final do prazo do depósito o poder de compra é menor do que no momento em que foi constituído. Se o período durante o qual não vai precisar do dinheiro e pretende mantê-lo aplicado é longo, pense duas vezes antes de fazer um depósito, porque a inflação vai empobrecê-lo
."

João Cândido da Silva

sexta-feira, abril 29, 2011

Aqueles que nos mostram quem somos

"Numa foto de Tim Hetherington, na Libéria, em Junho 2003, um exausto rebelde debruça-se no jeep, olha a mulher que lhe pousa a mão protectora, como Madona na Pietà. Ele é o combatente mas é por ela que sabemos que a vida há-de continuar. No mês seguinte, outro fotógrafo, Chris Hondros, também na Libéria, mas do outro lado, com as tropas governamentais, apresenta-nos um miliciano que salta e exulta depois de ter mandado um rocket contra os rebeldes - será que a mulher da outra foto acabava de ficar viúva?...

Esta semana, Tim Hetherington e Chris Hondros estavam no mesmo lado, o mesmo bombardeamento matou-os, na Líbia. Em 1971, numa praça de Dacca, capital do Bangladesh que acabava de se separar do Paquistão depois de horrível guerra, havia os vencedores, um punhado de vencidos e fotógrafos. Os vencedores quiseram ser fotografados a esventrar os vencidos com baionetas. A maioria dos fotógrafos recusou-se, suspeitando que as mortes eram mero pretexto para as fotos.

Mas dois, o francês Michel Laurent e o alemão Horst Faas continuaram a clicar - ganharam o Pulitzer. Faas havia sido o autor de uma das mais comoventes fotos da guerra do Vietname (o seu primeiro Pulitzer, 1965): um aldeão tem o filho morto nos braços e pergunta aos soldados o que adivinhamos ser "porquê?". Laurent iria ser, em 1975, o último jornalista morto na guerra do Vietname. Os fotógrafos podem contar-nos o mundo. Eles são o mundo
. "

Ferreira Fernandes

quinta-feira, abril 28, 2011

Pilha-galinhas

"O caso Fernando Nobre fez tremer o país pensante. O caso Ricardo Rodrigues não inquietou uma alma. Entendo. Uma coisa é um convite inábil a uma personalidade inábil.

Outra, bem mais tolerável, é ter como cabeça-de-lista pelos Açores às próximas eleições legislativas um cavalheiro que furta gravadores a jornalistas com inegável talento manual; e que o Ministério Público vem agora acusar de crime de atentado à liberdade de imprensa e crime de atentado à liberdade de informação. Estas duas medalhas, reforçadas pelas imagens do acto, seriam um bilhete de regresso, em qualquer democracia respeitável, para que o sr. Rodrigues continuasse a sua carreira nas doces pastagens de onde veio. Entre nós, são o bilhete de volta à dignidade parlamentar.

Tivesse Fernando Nobre seguido esta escola e jamais teria dito por aí que vira em tempos uma criança a correr atrás de uma galinha para lhe roubar o pão que trazia no bico. A história seria outra: ele próprio roubara o pão, e a criança, e até a galinha. Tenho a certeza de que seria levado em ombros até S. Bento
."

João Pereira Coutinho

Futuro por Decreto

"É sempre interessante observar 35 anos de democracia reunidos no palco das celebrações do 25 de Abril. Os Presidentes representam a continuidade da República e a persistência das instituições democráticas.

O modelo foge à comemoração burocrática no Parlamento transformado em Câmara Corporativa do regime democrático. Se na forma o formato é um sucesso, no conteúdo a função redunda em desilusão. Em pleno 25 de Abril, os Presidentes esforçaram-se em palavras de esperança, criticaram o pessimismo, elogiaram o optimismo, exibiram perante o País as profundezas de um estado de alma. A ideia política essencial passa pelo diagnóstico da crise e pela solução da unidade nacional. Perfeito, mas vamos aos detalhes. Um efeito não intencional resultou no exercício da autocrítica em directo para um País em descrença e desilusão. No drama das palavras presidenciais faltou a visão para o futuro, um futuro que nenhum dos Presidentes soube acautelar pela acção da magistratura de influência.


Na intenção de promover a unidade nacional, as celebrações de Abril serviram para responsabilizar três gerações de políticos e de políticas pelo estado de anemia nacional. Em Portugal, os políticos pensam como génios, escrevem distintos discursos, mas falam do futuro com um medo e uma ignorância quase infantis. A proposta dos Presidentes confunde a unidade nacional com a unicidade política. Só que o País não precisa de um monolitismo obsoleto, mas precisa sim da pluralidade política orientada pelo interesse nacional em convergência estratégica. Veja-se o caso do BE e do PCP - eis uma opção clara e distinta de uma esquerda inútil que deixa a democracia portuguesa amputada em nome de uma visão monolítica da realidade e que implica a saída de Portugal da Europa. E Portugal tem futuro fora da Europa?

Na campanha eleitoral a unidade nacional é certamente a primeira vítima. Se Cavaco Silva não exercer o seu poder moderador até ao limite constitucional, não existe unidade que resista ao ódio que fraternalmente liga Sócrates, Passos e a democracia portuguesa. A campanha eleitoral promete ser um debate destrutivo e as eleições um plebiscito sobre a responsabilidade na crise política. Ao discurso partidário junta-se nas eleições a multiplicação dos Manifestos, uma versão intelectualizada e pós-moderna dos velhos hábitos liberais e decadentes com os resultados bem visíveis na História e na política nacional. Há esperança nos "Vencidos da vida"?

Com duas "troikas" a tratar do futuro de Portugal, o País será com certeza salvo. A "troika" presidencial garante a continuidade da identidade nacional; a "troika" da Europa assegura a sobrevivência da contabilidade pública. Não sendo possível salvar Portugal dos portugueses, o verdadeiro destino do País depende da identidade ou da contabilidade? Eis uma pergunta que se projecta com uma sombra de séculos
."

Carlos Marques de Almeida

quarta-feira, abril 27, 2011

Anda tudo doido…?

"Take 1 - Depois da segunda revisão do défice orçamental de 2010, motivado pela cobrança de portagens em três SCUT, Vieira da Silva disse que a nova forma de contabilizar o défice não tem "implicações negativas" para o futuro.


Ou seja, a alteração contabilística imposta pelo Eurostat não implica assumpção de novas responsabilidades. É lamentável que um ministro com a qualidade de Vieira da Silva diga coisas destas. Vejamos: o Eurostat obrigou Portugal a assumir de uma vez o investimento nas SCUT; ao invés de contabilizar, ano após ano, as rendas a pagar pela sua construção.

Isto significa que não há responsabilidades futuras? Não. A dívida pública até subiu para 93% do PIB e o financiamento a negociar com a troika tem de levar em conta todos os compromissos assumidos. Até porque há outras SCUT que vão levar o mesmo caminho em 2011…

Vieira da Silva devia ter dito outra coisa. Que o Eurostat faz um favor aos portugueses: clarificou os compromissos que o Estado assumiu (não apareciam na dívida) e que vai ter de pagar.

Take 2 - Jorge Sampaio, Presidente da República quando começou a pior fase do desgoverno orçamental (com António Guterres), sugeriu na RTP1 que Portugal deve pedir um alargamento do prazo de pagamento da dívida. Fantástico! Um ex-presidente assume que o Estado a que presidiu, depois de gastar o que tinha e o que não tinha (apesar dos alertas…), deve reestruturar dívida. Ou seja, deve prejudicar quem nos emprestou dinheiro (no meio de uma "negociação" duríssima com o FMI, CE e BCE...).

O que vai acontecer aos juros quando tivermos de pedir mais dinheiro? Pior que isto só mesmo a confusão entre défice externo e défice orçamental nos discursos do 25 de Abril…
"

Camilo Lourenço

Obrigado, senhor ministro

"O desempenho de Fernando Teixeira dos Santos está muito longe de ter sido o que qualquer português desejaria.


Iniciou o mandato como ministro das Finanças com a tarefa de endireitar as contas públicas e ajudar a estimular o crescimento da economia. Falhou nas duas frentes.

O impulso reformador inicial do Governo socialista e o objectivo de colocar em ordem as finanças públicas começaram a ceder terreno no momento em que os interesses eleitorais começaram a falar mais alto. E o ministro das Finanças foi cúmplice na festa.

Em 2008, quando o calendário começava a corrida em direcção às legislativas do ano seguinte, Fernando Teixeira dos Santos escolheu a pior conjuntura para descer a taxa normal de IVA. A crise financeira internacional estava em andamento, a consolidação das contas públicas estava a meio caminho e o sinal de desafogo dado pela redução do imposto indicava que o Governo tinha entrado em contramão. Mais cedo ou mais tarde, o choque frontal com a realidade teria de acontecer.

A redução do défice público, feita à custa do aumento das receitas fiscais e de medidas excepcionais como o congelamento de progressões no Estado, criou a ilusão de que aquilo que parecia um trabalho adequado a Hércules seria, afinal de contas, mais simples do que se previa. E os erros de avaliação da conjuntura externa e dos seus impactos na economia e nas finanças portuguesas começaram a suceder-se com uma velocidade estonteante. Do estado de negação passou-se ao discurso displicente e irresponsável que juntou o pior de dois mundos ao subestimar os efeitos vindos de fora e sobrestimar a saúde interna.

Pelo caminho, Fernando Teixeira dos Santos não só não atacou a doença a tempo de evitar que ela alastrasse, como até agravou a situação do enfermo. Em 2009, quando a meta política prioritária do primeiro Executivo de José Sócrates deixou de ser, definitivamente, a boa governação e foi substituída pelo objectivo de ganhar as eleições, o ministro das Finanças deu o aval a que se aplicasse a poção mágica que já tinha dado frutos em ocasiões anteriores e com outros protagonistas.

O aumento dos funcionários públicos vinha mesmo a calhar, porque o seu peso eleitoral impõe respeito quando chega a hora de praticar a caça ao voto. E o mesmo sucedeu quando o pretexto da crise internacional assentou como uma luva para justificar a generosidade dos cofres do Estado. Keynes teria ficado de cabelos em pé se soubesse que uma pequena economia com um endividamento externo em alta imparável e uma baixa taxa de poupança interna se serviu do seu nome para fundamentar mais despesa, mais dívidas e, no fim de tudo isto, mais recessão.

Os números são pouco simpáticos para Teixeira dos Santos e a pressão actual para que haja maior transparência na contabilização dos compromissos que os contribuintes têm que carregar sobre os ombros não os tem melhorado. Pelo contrário. De cada vez que o Eurostat abre a boca, o défice dá um salto e a dívida pública faz de macaco de imitação. Como currículo de um ministro das Finanças, não é brilhante.

Qualquer pessoa tem direito ao seu momento de redenção. Fernando Teixeira dos Santos soube aproveitá-lo. Se o primeiro-ministro se viu forçado a abandonar o seu patriotismo delirante e impedido de continuar a assistir, impávido, ao naufrágio nacional, de PEC em PEC, foi porque o ministro das Finanças decidiu, por uma vez, impor a sua vontade e obrigar José Sócrates a fazer o inevitável pedido de ajuda externa. Apesar de tudo o resto, que não é bom, obrigado senhor ministro.
"

Joao Silva

terça-feira, abril 26, 2011

O equívoco de Mário Soares

"Três ex-presidentes da República e o actual titular do cargo ensaiaram, ontem, o consenso que acreditam ser necessário para que Portugal supere a mais grave crise dos últimos 37 anos. A festa foi bonita mas a eficácia da mensagem gera dúvidas.


No Palácio de Belém, através dos oradores e do seu passado, estiveram representados os eleitores que conduziram os quatro políticos à chefia do Estado. Da esquerda à direita, ninguém ficou excluído. Do ponto de vista simbólico, a iniciativa funcionou.

Não haverá, também, quem não concorde que, sob a ameaça de bancarrota, será preciso construir uma solução de Governo sólida, apoiada numa maioria consistente. Os objectivos de aplicar as medidas imediatas destinadas a assegurar a saúde financeira do País e de lançar as reformas que, a prazo, podem retirar Portugal da espiral recessiva em que mergulhou exigem-no.

Um terceiro detalhe que esteve presente nas intervenções de Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva tem potencial para ter agradado a um largo número de eleitores. O apelo para que a próxima campanha para as legislativas seja feita no tom adequado para que as portas do entendimento pós-eleitoral não fiquem fechadas visou secar a conflitualidade e centrar o debate nas propostas de cada partido. Mas é aqui que as boas intenções dos discursos mais se arriscam a sofrer um choque frontal com a realidade.

O acto eleitoral de 5 de Junho vai ser realizado em circunstâncias delicadas e os programas dos partidos que as podem vencer vão estar condicionados pelas contrapartidas que forem exigidas a Portugal em troca do apoio financeiro da União Europeia e do FMI. As discussões, as propostas e as promessas vão estar limitadas por este facto. Mas umas eleições não servem apenas para escolher quem vai governar no futuro. Também permitem aos eleitores avaliar o passado e premiarem ou castigarem de acordo com o juízo que decidam fazer sobre o desempenho de quem teve nas mãos as rédeas do poder.

Mário Soares, que não é um inocente na luta política, não esqueceu este detalhe no seu discurso. Apelou ao consenso e a uma campanha eleitoral asséptica, mas não se eximiu de fornecer o seu próprio julgamento sobre os anos mais recentes da governação.

O ex-líder socialista assinalou que José Sócrates chegou a conseguir colocar o défice público abaixo de 3% do produto, quando a revisão dos valores do desequilíbrio das contas públicas veio já revelar não ter havido um único exercício em que o actual Governo tenha cumprido as exigências da Zona Euro. E alertou para os perigos de os mercados e os especuladores poderem derrubar o euro, quando este risco advém, em primeiro lugar, da indisciplina financeira e das políticas erradas seguidas por países que, como Portugal, estão agora dependentes de ajuda externa para se manterem à tona de água.

Enquanto líder de um Governo que, nos anos 80, negociou com o FMI, teve que impor austeridade e abriu caminho para a retoma económica que se seguiu à entrada de Portugal na União Europeia, Soares tem legitimidade para pedir contenção no verbo e soluções de consenso. Mas, na situação actual, isso não chega.

Primeiro, porque os eleitores têm o direito de não passar uma esponja sobre o passado antes de fazerem o julgamento sobre quem tem responsabilidades na grave crise actual. Depois, porque é o partido que fundou que mais tem feito para manter viva a discussão sobre quem tem culpas no cartório. Uma campanha séria, honesta e civilizada seria possível se no actual PS conhecessem a palavra "humildade". Mas esta é uma expressão que não consta no dicionário dos dirigentes socialistas, circunstância que Mário Soares devia lamentar
."

Joao Silva

Os valores de Abril

"Mário Soares fez ontem o discurso mais interessante do 25 de Abril (um momento notável que congregou três antigos Presidentes, para além de Cavaco).


Pelas críticas que fez à construção Europeia, pelo diagnóstico da situação portuguesa e pela "pantufada" que deu a quem diaboliza o FMI (Sócrates deve ter ficado com as orelhas a arder...).

Mas Soares excedeu-se ao dizer que o 25 de Abril cumpriu os três "D": descolonizar, democratizar e desenvolver. É que o "desenvolvimento" é o pilar mais débil do pós-25 de Abril... O exagero de Soares é representativo da distância que separa os "pais da Revolução" da "geração deserdada". Vejamos: Soares e muitos outros fizeram algo de grandioso (devolveram-nos a Democracia). Mas cometem o erro de olhar para o que se fez nos anos seguintes com excessiva bonomia.

Dizem, por exemplo, que poucos países fizeram o que nós fizemos: libertámos as ex-colónias, integrámos um milhão de retornados, reduzimos a iliteracia, melhorámos drasticamente os cuidados de Saúde (v.g. a queda da mortalidade infantil)... É verdade. Mas fizemos demasiados disparates: em 37 anos é a 3ª vez que recorremos ao FMI. Não há na OCDE, quanto mais na União Europeia, nenhum país com este track record.

Bem pode Soares, e outros, dourar a Revolução de Abril. As novas gerações (e até as antigas) começam a achar que, além de Democracia, têm direito a Riqueza. E essa é cada vez mais uma miragem. Estão a exagerar? Não: dez dos países que aderiram à União depois de nós... já nos olham pelo retrovisor. É natural este descontentamento. Se calhar Soares devia reconhecer que não temos dirigentes capazes de levar o país para um novo patamar de Desenvolvimento
."

Camilo Lourenço

segunda-feira, abril 25, 2011

Ganhe quem ganhar

"O "cabeça de lista" do PS nos Açores é Ricardo Rodrigues, cidadão que subtraiu dois gravadores a jornalistas da Sábado quando estes o questionaram sobre um caso de pedofilia em que foi mencionado e um caso de fraude em que foi arguido.

O "cabeça de lista" do PS na Guarda é Paulo Campos, o secretário de Estado que encomendou os chips das Scut à empresa gerida por um seu ex-assessor, que permitiu a dois assessores acumularem ilegalmente funções na administração da Fundação para as Comunicações Móveis e que nomeou para a administração dos CTT um amigalhaço acusado de falsificar a licenciatura (uma trivialidade, admito).

O "cabeça de lista"" do PS em Leiria é Basílio Horta, histórico (no sentido museológico) do velho CDS, "homem às direitas" das presidenciais de 1991 e dilecto funcionário do actual Governo numa influentíssima Agência para o Investimento e Comércio Externo.

O "cabeça de lista" do PS em Évora é Carlos Zorrinho, o ex-coordenador do Plano Tecnológico ouvido em Comissão de Inquérito pelos concursos de atribuição do poderoso computador Magalhães, o génio que o vento levou para as ventoinhas "renováveis" e o profeta que, em Janeiro último, garantia um futuro risonho para as nossas trocas comerciais com os países árabes.

E por aí fora, de Helena André (Aveiro) a Pedro Silva Pereira (Vila Real), sobre os quais a decência recomenda discrição absoluta.

À custa de figuras duvidosas, tristes serviçais e puro refugo, eis um retrato do descaramento. Mas se os comentadores próximos do PSD acertam ao alertar para a rematada baixeza dos primeiros candidatos socialistas (as segundas linhas incluem um ex-concorrente ao Big Brother), erram ao usá-la para, comparando-a, "justificar" por exemplo a escolha de Fernando Nobre, um desastre que nada justifica e quase nada permitia antecipar. Nem a miséria alheia legitima a própria nem ninguém prefere a miséria desconhecida à conhecida.

O eleitorado percebe que o PS é um prodígio de incompetência (e não só). O eleitorado gostaria de perceber que o PSD é outra coisa. Não se vê como. Em vez de, nas "listas" e no resto, se mostrar uma alternativa capaz à toleima dos últimos seis anos, tarefa ao alcance de uma couve-galega ou do Pato Donald, o PSD decidiu empenhar-se numa série de acções suicidas destinadas a provar que talvez não valha a pena arriscar a mudança. Não se trata de saltar da frigideira para o fogo: trata-se de saltar da frigideira para uma frigideira diferente, exercício cansativo e escusado.

Pelo menos é o que afirmam as sondagens, que súbita e previsivelmente colocaram PS e PSD no chamado empate técnico. Um sujeito que caísse hoje em Portugal, sobretudo se vindo de Plutão, julgaria que as "legislativas" prometem entusiástica disputa. Os sujeitos que cá vivem estão literalmente cansados de saber que a promessa é a inversa: salvo para os fanáticos, as eleições de Junho serão um acto de resignação colectiva, uma penosa corrida entre o bando responsável pela ruína pátria e o bando empenhado em tornar esse pormenor irrelevante. Ganhe quem ganhar, nós perdemos. Em larga medida, merecidamente
."

ALBERTO GONÇALVES

domingo, abril 24, 2011

América destabilizadora

"Há algo mais a dizer sobre o Egipto? Hosni Mubarak foi sacrificado para salvar o regime militar.

Há algo mais a dizer sobre o Egipto? Hosni Mubarak foi sacrificado para salvar o regime militar. Um “homem forte” que não consegue manter a ordem nas ruas não é útil para ninguém. Se a “democracia” o vai conseguir fazer é uma questão muito duvidosa. A julgar pelo que aconteceu no Paquistão, e no resto do mundo muçulmano, períodos de um governo civil (corrupto) alternam com golpes militares para “fazer a limpeza”.

Duvido que a maioria dos egípcios coloque o que nós chamamos de democracia no topo da sua agenda política. Os jornalistas que defendem o contrário não são uma amostra representativa, mesmo os dos países ocidentais. São de uma geração inquieta, que percorre as zonas mais problemáticas do mundo. A liberdade de expressão está-lhes no sangue; os protestos dão-lhes vida. Tentam transmitir o mundo como ele é, mas o seu mundo não é o da maioria das pessoas – o seu trabalho depende da interrupção do estado de coisas “habitual”. Assim, subestimam, muitas vezes, o desejo de lei e ordem (ou pelo menos de ordem).

Parece que a maioria das pessoas tolera um nível limitado de repressão política, incluindo polícia secreta, tortura e corrupção, se esta garantir segurança e o mínimo de prosperidade e equidade. De outra forma não há explicação para a longevidade de regimes ditatoriais como o de Mubarak, que esteve 30 anos no poder. Da mesma forma, no referendo que em 1990 colocou um ponto final aos 16 anos do seu governo no Chile, o general Augusto Pinochet, com milhares de desaparecidos e vítimas de torturas, surgiu com um programa de lei e ordem e recebeu 44% dos votos.

Para a maioria dos dirigentes ocidentais, a ideia de “transição para a democracia” é natural. É isso que eles querem que ocorra no Egipto, esperando que a democracia não coloque em perigo o tratado de paz com Israel. Mas a combinação de democracia e ordem – o bem mais precioso que o Ocidente deu ao mundo – nas democracias ocidentais é o produto de uma longa história e não pode ser replicado no curto prazo.

Os sistemas políticos não ocidentais são, normalmente, arcaicos: os bons governantes podem dormir descansados, enquanto os maus enfrentam o perigo constante de serem derrubados pelo exército ou pelas ruas. A maioria das pessoas dos países não ocidentais confiam nas virtudes pessoais do governante, e não nos limites institucionais do seu poder, para tornar as suas vidas toleráveis. Nós interpretamos como uma luta pela democracia o que, na realidade, é uma forma tradicional de libertação dos maus governantes.

Tudo isto exclui a possibilidade de mudança, em particular a mudança influenciada pelo papel destabilizador dos Estados Unidos no mundo. A ideia de que os Estados Unidos são uma potência que defende o status quo é uma falsa ilusão dos especialistas em relações internacionais. No curto prazo, os Estados Unidos actuam, naturalmente, como as outras potências. O país tem interesses a proteger, que muitas vezes, o obriga a apoiar regimes indesejáveis. Mas o seu projecto de longo prazo é refazer o mundo à sua imagem e semelhança.

Onde os Estados Unidos têm margem de manobra, pressionam sempre nesta direcção. E, apesar da ascensão da China e da mudança para um sistema internacional mais plural, os Estados Unidos continuam a ter o poder de alterar a “situação no terreno” em muitas partes do mundo, em particular no Médio Oriente.

Os especialistas sempre subestimaram o carácter expansionista da política estrangeira norte-americana, porque pensam na expansão do ponto de vista do mundo antigo: conquista, imperialismo e colonialismo. Os Estados Unidos não pretendem criar um império no antigo sentido da palavra: os Estados Unidos perseguem um imperialismo de valores que lhes são queridos.

Se todos os países tiverem os mesmos valores, o imperialismo tradicional torna-se obsoleto. Se bem que os Estados Unidos carecem, claramente, do poder de impor os seus valores pela força, têm, certamente, o poder de destabilizar as condições existentes seja através da atracção do seu “soft power” (o estilo de vida norte-americano) ou recorrendo à força exemplar.

Fui uma das pessoas que se opôs à invasão do Iraque em 2003. Actualmente, pergunto-me se estava certo. Certos aspectos da invasão e da ocupação deixaram, claramente, muito a desejar, pois causaram um número de mortos muito superior ao que era necessário. Mas alguém duvida que a invasão teve o efeito de abanar as peças, não apenas no Iraque, mas em todo o tabuleiro islâmico?

É por esta razão que não tenho a certeza de que as revoltas na Tunísia e no Egipto, que agora se espalharam a outros países de maioria muçulmana, possam ser, simplesmente, interpretadas como formas tradicionais de protestos contra maus governantes. Em todo o mundo muçulmano, há uma sensação de maiores possibilidades, especialmente entre os mais jovens: mais de metade dos oito milhões de habitantes do Egipto tem menos de 25 anos. Não há dúvida que este sentimento pode remontar à invasão norte-americana e queda forçada de Saddam Hussein.

No livro “Fausto” de Goethe, Deus envia à humanidade o Diabo (Mephistopheles) para que este agite a situação. As suas intenções são claras: “A natureza activa do homem, ao enfraquecer, procura demasiado cedo o equilíbrio. Aprende a ansiar o descanso completo; por este motivo, dou-lhe de boa vontade este companheiro que actua, excita e deve criar, o Diabo”.

Mephistopheles é, acima de tudo, um agitador. Assim são os Estados Unidos, que não param de agitar as sociedades adormecidas e tira-las do seu entorpecimento – um papel que começou quando o comodoro Matthew Perry “abriu” totalmente o Japão em 1854. Se queremos manter-nos fiéis a alguma concepção de progresso, este é um papel indispensável e que, actualmente, apenas os Estados Unidos podem desempenhar. A China procura relacionar-se com os seus semelhantes. Os Estados Unidos procuram relacionar-se, deliberadamente, com os que são diferentes e tentam infundir algum do seu vigor.

É verdade que a intervenção dos Estados Unidos no Médio Oriente reforça o extremismo islâmico, alimentado pelo ressentimento que a presença do país provoca nessa região do mundo. Mas o futuro não é de organizações como a Irmandade Muçulmana. O demónio religioso é muito menos atractivo do que o Tio Sam. Mais cedo ou mais tarde, os Irmãos Muçulmanos sofrerão o destino de todos os males.
"


Robert Skidelsky

sábado, abril 23, 2011

Sobre o ‘rating’

"Muito se tem falado sobre as agências de ‘rating’, mas, a avaliar pela maioria das opiniões, a ignorância sobre o assunto é vasta.

Poucos parecem saber que as agências não avaliam quem escolhem, mas quem quer ser avaliado. São os devedores que pedem às agências que lhes atribuam notas e pagam para isso uma taxa periódica (que não é barata). Portanto, se não querem ‘ratings', têm bom remédio: cessem os contratos e digam que não querem mais notações.

Depois, há a ideia de que as agências são um produto americano, a que se acrescentam, muitas vezes, intencionalidades ocultas, como a destruição do euro. As três principais agências - S&P, Moody's e Fitch - operam, de facto, a partir dos EUA. Mas a Fitch é detida maioritariamente (60%) por um grupo francês, Fimalac, e é o resultado de uma fusão (de que resultou o controlo maioritário europeu) entre a agência europeia IBCA (especializada em ‘rating' bancário) e a "pequena" agência americana Fitch.

Há mais agências no mundo e até em Portugal existe a CPR. Só que essas - com excepção, talvez, da japonesa JCR -, além de pequenas, não conseguiram suficiente projecção mundial para ombrear com as "três grandes".

Mas se ter ‘rating' é escolha dos devedores (e estes pagam para o ter), porque é que não abdicam dele? Porque isso lhes reduziria significativamente a base de investidores potenciais (e, consequentemente, a ‘pool' de investimento) a que querem aceder, na expectativa de conseguir custos de financiamento duradouramente mais baixos do que se estivessem dependentes apenas da exígua base de quem os conhece directamente. E porque é que os ‘ratings' alargam a base de investidores potenciais? Porque funcionam como uma espécie de "certificação" do devedor.

Imagine-se um fundo de pensões no Iowa americano, que quer investir em obrigações. Se quisesse escrutinar todos os emissores com títulos no mercado teria que analisar as contas dos quase 200 países e dos vários milhares de empresas do mundo. O custo de tal tarefa seria insuportável para o benefício esperado, pelo que acabaria por se confinar a investir na meia dúzia mais conhecida (e mais rica).

Agora imagine-se que há milhares de investidores nas mesmas circunstâncias e percebe-se que isso cria uma oportunidade de negócio para quem se disponha a fazer essa avaliação, disponibilizando os resultados numa notação sintética e facilmente apreensível: é o que fazem as agências de ‘rating'. É por isso, pois, que os devedores pagam para ter ‘rating': para constar do "radar" de todos os investidores mundiais.

E é por isso também que se verificou uma concentração de agências: perante uma multiplicidade de ‘ratings' para os mesmos devedores, que acabava por complicar a sua própria esccolha, os investidores foram convergindo na preferência por duas ou três, que foram ganhando mais reputação, e foram estas que acabaram por prevalecer, com o papel (talvez demasiado) dominante que hoje têm. O remédio? Como em qualquer outra actividade, a mais concentração terá que corresponder mais regulação
."

Vitor Bento

sexta-feira, abril 22, 2011

Bloco e PCP: os inúteis da política portuguesa

"O Bloco de Esquerda e o PCP são como os dois velhos dos Marretas: a única coisa que sabem fazer na vida é mandar bocas a partir do primeiro balcão e criticar o que se está a passar em palco.

Em momento algum lhes passa pela cabeça levantarem o rabo das cadeiras, deitarem mãos à obra e mostrarem como se deve fazer. PCP e BE são muito bons a organizar festas do Avante, a promover desfiles na Avenida da Liberdade, a apoiar greves, a vender boinas do Che Guevara e a pendurar cartazes. Agora, pedir--lhes um compromisso político ou esperar o mais vago arremedo de pragmatismo é a mesma coisa que colocar um belo prato de carne de porco à frente de um judeu ortodoxo e esperar que ele coma alegremente.

O Bloco e o PCP são os dois partidos mais inúteis da política portuguesa – basta ver a forma como recusaram participar nos encontros com a troika do dinheiro, preferindo abdicar de expor as suas opiniões sobre a melhor forma de retirar Portugal do monumental buraco em que está enfiado. É certo que as suas opiniões poderiam provocar um ataque de riso entre os membros da troika e atrasar o resgate do país, mas ainda assim ficar em casa amuado e a soltar comentários dignos da padeira de Aljubarrota ("este é um processo que constitui uma inaceitável atitude de submissão nacional", disse Jerónimo de Sousa, enquanto sonhava com tiros de zagalote capazes de afastar os ímpios do Terreiro do Paço) seria cómico se não fosse tão trágico.

Se Sócrates se mantém na casa dos 30% nas sondagens, tal deve-se não só ao seu charme de caudilho e às incompetências do PSD, mas também ao facto de um eleitor de esquerda ser obrigado a optar entre o PS e o deserto. Muitas das desgraças de Portugal podem ser atribuídas a esta esquerda inimputável, para a qual a política se esgota na ponta da língua
."

João Miguel Tavares

Os bancos são nossos.

"Aconteça o que acontecer, as poupanças dos portugueses estão seguras". Pois estão. Mas esta frase de 2008 pode voltar a ter de ser dita em 2011. Esta e outra: a banca portuguesa está sólida, o que não está é líquida. Isso resolve-se sem "stress", mas é preciso capital. Nem que seja do Estado. Do Estado dos outros.

Parte do grande empréstimo que está a ser negociado para Portugal está já reservado para os bancos. Não é forçoso que tenha de ser usado, mas é necessário que esteja disponível para o que for preciso. Até porque há testes de stress esta Primavera e falhar não é opção.

Repitamos: não há problema com os seus depósitos. Estamos como em 2008, só há que ter medo de ter medo, ou seja, de processos irracionais de levantamentos colectivos. Mas os bancos portugueses podem vir a precisar de mais capital e estão sem acesso a liquidez, o que exige medidas agressivas. E, no limite, entradas do Estado no capital, temporárias e parciais. Ninguém o deseja.

Andamos desde 2007 a ouvir que os nossos bancos são brilhantes, que foram geridos excepcionalmente bem, que não há uma crise bancária e que os problemas do BPP e do BPN não foram problemas de banca, mas de banco dos réus. É verdade, não houve activos tóxicos em Portugal nem "bolha" imobiliária e isso separa-nos das agruras dos bancos irlandeses, gregos, espanhóis ou ingleses. Mas, à margem destas virtudes, houve vícios: o das estruturas de capital tíbias; e o do excesso de endividamento. Os bancos portugueses deram crédito a mais, contraindo crédito de mais.

Os banco portugueses estão demasiado alavancados, foram os veículos do excesso de endividamento externo do País. Desde há dois anos estão em processo de desendividamento, o que significa deixar de dar crédito, o que prejudica a economia e lhes retira negócio.

Os próximos anos vão ser muito difíceis para os bancos portugueses. Podemos assistir ao impensável: a que tenham prejuízo em Portugal, felizmente compensado nas actividades exteriores. Além disso, a descida dos "ratings" encarece o acesso a fundos e retira-lhes clientes.

E a fuga de capitais do País é em si mesma uma saída de dinheiro do sistema financeiro. Há, aliás, bancos estrangeiros a fazer terrorismo comercial, propondo contas no estrangeiro a clientes portugueses, com base no argumento do medo.

É por todas estas razões que o aumento de capital do BCP aprovado esta semana é uma vela acesa debaixo de água. Se a "troika" aumenta os rácios de capital e desce a relação entre créditos sobre depósitos, será preciso mais. Daí que se fale da necessidade eventual de o BCP vender a Polónia. Daí que o BES ande a vender carteiras de crédito, possa ter de vender o Brasil, precise mesmo de penhorar as participações numa PT ou EDP. Daí que o BPI tenha travado a concessão de crédito às quatro rodas. Daí que a Caixa faça figas para que o Estado assuma como dívida pública os cinco mil milhões de euros emprestados ao BPN, devolvendo a liquidez à Caixa.

Quando nas eleições americanas um eleitor perguntou a Obama por que ajudava a banca, ele respondeu-lhe: por causa do empréstimo da sua empresa. Pode--se odiar a banca mas não se pode viver sem ela. E, como se vê agora, ela não pode viver sem nós
."

Pedro Santos Guerreiro

Eles riem-se

"Será a ‘troika’ simpática ou antipática? Eis a pergunta do momento, que consome os jornalistas nativos. Todos os dias, lá estão eles, com as lentes apontadas para os ‘senhores da ajuda externa’, tudo com o propósito de saber se eles riem ou fazem caretas. Seis anos de propaganda socrática tinham que dar nisto: a redução do mundo a questões de imagem e personalidade.

Eu, por mim, não tenho dúvidas: a ‘troika’ é simpaticíssima. Basta imaginá-la no dia de ontem, a sair para uma Lisboa a meio gás, com o funcionalismo público sabe Deus onde – e eles, ‘os homens sem rosto’, para usar a feliz expressão da esquerda marciana, a perguntarem para onde terá ido o país falido que eles supostamente vão resgatar. Então um jornalista aproxima-se da temível ‘troika’ e comunica aos ‘homens sem rosto’ que o governo mandou fechar a pátria mais cedo para as festividades. ‘Tolerância de ponto’, essa gloriosa instituição nacional.

O facto de nenhum dos três ter apanhado de imediato um avião para casa, encerrando os relatórios com um carimbo de ‘insanidade’, é a prova definitiva de que eles riem e não fazem caretas
."

João Pereira Coutinho

quinta-feira, abril 21, 2011

Portugal na CEE

O ninho de cacos

"O FMI já não voa sobre um ninho de cucos. Sobrevoa um ninho de cacos. Mas nesta nova fábula do Lobo Mau e do Capuchinho Vermelho, o FMI comporta-se melhor com Portugal do que a UE. Esta quer punir o estouvado Capuchinho, depois de a ter aliciado com doces durante duas décadas. Pior: quer punir-nos ganhando muito dinheiro com isso. Se o absurdo pudesse ser real, poderíamos dizer: salvem-nos dos nossos amigos, que com os inimigos podemos nós bem. Antes enteados do FMI que filhos da UE. A Alemanha quer punir-nos por ter aberto o acesso da fábrica de chocolates à nossa classe política. O que está a fazer a Portugal, à Irlanda e à Grécia é o fim da União Europeia como a conhecemos. Quando recapitalizar os seus bancos, a Zona Euro poderá cindir-se.

Sem os bárbaros do Sul. É esse o grande dilema que caiu nas mãos da nossa insignificante elite política, que só pensa no curto prazo. PS e PSD deveriam estar a reflectir numa simples coisa: que Portugal existirá depois do euro e desta UE? Mas continuam a brincar às eleições. Não era preciso Pedro Passos Coelho confirmar: o programa do PSD, e já agora o do PS, será o do FMI. Se for só esse, e não o da punitiva UE, que já vendeu a alma à Alemanha, o mal será o menor. Chegámos ao teatro do absurdo: pedimos ao FMI que nos proteja da UE. Mas isso não nos livra do fim deste regime: o FMI é agora, ao mesmo tempo, o poder e o contra-poder do País. Joseph Schumpeter dizia que o povo cede facilmente a impulsos irracionais. E há quem saiba manipular essa pobreza crítica. É isso que a punitiva UE está a criar: o caldo da contestação
"

Fernando Sobral

O Governo de Portugal

"Um dinamarquês e dois alemães, representantes do FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia, convocaram os partidos, centrais sindicais e confederações patronais para lhes apresentar o programa político e económico da Pátria para os próximos anos.

Três homens, assessorados por três dezenas de técnicos, tomaram conta da Pátria. Há reacções indignadas. São sinceras, com certeza, mas não adiantam nem atrasam. Os indígenas percebem agora que o Presidente da República, os 230 deputados e as forças políticas servem para muito pouco ou mesmo para coisa nenhuma. São adereços caros de uma democracia que falhou em toda a linha nestes trinta e sete anos de vida. Agora, quem manda são três senhores. Chegam e sobram para formar o verdadeiro Governo de Portugal
. "

António Ribeiro Ferreira

quarta-feira, abril 20, 2011

Até amanhã e boa sorte!!!

Os “políticos”

"É conhecida a habilidade de Marinho e Pinto para asneirar. Desta vez, sempre em busca do seu minuto mediático, deu-lhe para apelar a uma “greve à democracia” como forma de “punição pela mediocridade e incompetência dos políticos portugueses”.

Reparem bem: o mesmo bastonário que defendeu apaixonadamente o primeiro-ministro José Sócrates nos últimos anos vem agora dizer que a culpa do buraco onde nos meteram é de uma entidade abstracta chamada "políticos".

A tese não é original. A novidade é que saltou da conversa de café para a lógica de certos comentadores, que em vez de reconhecer os erros, preferem falar nos "políticos", como se todos tivessem assento no conselho de ministros, como se todos fossem responsáveis, desde o presidente de junta à oposição.

Vamos lá pôr nomes às coisas. Sabemos quem nos governou nos últimos anos. Há nomes e rostos. José Sócrates, Teixeira dos Santos, Silva Pereira, Santos Silva, Mário Lino, Manuel Pinho, entre outros. Foram estes "políticos" e não outros que tiveram o poder executivo durante oitenta meses, grande parte com maioria absoluta. Foram estes "políticos" que negaram a realidade, garantindo que estava tudo bem, sem conseguir inverter a espiral de endividamento.

Perante esta amnésia colectiva vale a pena recordar os factos: 620 mil desempregados, uma pobreza galopante, uma economia em recessão em contra-ciclo com a Europa, défices gigantescos em 2009 (10%) e 2010 (8,6%), a pior dívida pública dos últimos 160 anos, uma classe média endividada, mais impostos, emigração em massa, mais crime, mais divórcios, funcionários públicos desmotivados, a terceira pior taxa de abandono escolar da OCDE.

É esta a nossa realidade. Uma realidade que nos quiseram ocultar durante anos, confundido o governo do país com uma gigantesca agência de marketing, até acordarmos sem dinheiro para salários e com o FMI a bater à porta.

Por tudo isto, as próximas eleições são muito mais do que um Benfica-Sporting entre partidos. Se aqueles que nos levaram ao buraco não forem penalizados é a sanidade do sistema que está em causa. Uma democracia onde quem governa não é responsabilizado pelos resultados é uma democracia doente, talvez mais do que pensávamos. Será o pagode generalizado, um novo ‘case-study' da ciência política.

Dir-me-ão que a alternativa tem defeitos e falhas. Falam-me das listas, dos interesses, do aparelho. Reconheço que sim. Mas é essencial inverter o caminho que nos conduziu à bancarrota. Um caminho de ilusão, onde se prometeram mais empregos, choques tecnológicos, novas oportunidades, magalhães, cheques-bebé e uma falsa modernidade feita de causas fracturantes que quebraram ainda mais o nosso tecido social.

A responsabilidade, tal como a vergonha, tem nomes e rostos. Quem nos conduziu a esta situação humilhante, quem nos amarrou a uma dívida astronómica, deve prestar contas. Para isso servem as eleições. A culpa não pode morrer solteira. Isso sim seria fazer greve à democracia
."

Paulopes Marcelo

Os bombos da festa

"José Sócrates transformou o PS num fenómeno religioso. O seu Secretariado Nacional é uma falange de apoio que vela as suas palavras.

Sócrates é uma religião moderna disfarçada de política. Foi por isso que durante seis anos não precisou de governar. Bastou-lhe pairar nas sondagens. Deixou uma herança dramática: Portugal é hoje uma Bambi indefesa perdida no seu destino. Pior: abriu a caixa de Pandora para uma forma de fazer política onde o que interessa é a imagem e o ruído. As gaitas de foles e a pose para saber se fica melhor do lado direito ou do esquerdo das câmaras de televisão são as duas faces da mesma política diletante. Eça de Queiroz dizia que, no seu tempo, o povo rezava, a única coisa que fazia para além de pagar. Hoje é também o bombo da festa alheia. O problema é que Sócrates semeou o latifúndio político nacional.

Legou-nos uma classe política que vive da pequena e média intriga, da guerrilha inútil e dos dislates sucessivos. Com o FMI e a UE a pairarem sobre nós, a classe política diverte-se numa mega-feijoada como se a crise fosse um problema alheio. O País está incrédulo. Mas há momentos de animação. Fernando Nobre é o perpétuo desmentido de si próprio. Vive em lua-de-mel com a sua imagem. Transformou-se num "freak--show". O PSD deveria mandá-lo calar. Até às eleições, pelo menos. Mas ele simboliza a desertificação cultural do País. As ideias foram penhoradas e substituídas por homens que se julgam providenciais. Portugal está mal. Deciframos os problemas, vemos o que está mal, iluminamos a corrupção, mas nada acontece. Resta-nos rezar. Pagar. E calar
."

Fernando Sobral

O FMI sabe mais que Comissão e BCE

"Desde que estourou a crise grega a vida do Euro virou um Inferno. E a avaliar pelos desenvolvimentos recentes, o Inferno vai continuar.


Porque os responsáveis europeus, em vez de matarem o mal pela raiz, vão respondendo com mezinhas: ora é um fundo de emergência transitório, ora são resgates (Grécia e Irlanda) concebidos a pontapé, ora é a imposição de PEC sem ligação à realidade (Portugal)…
O terceiro resgate, em curso, mostra que o que se fez no último ano não resolveu nada e que as fundações do Euro continuam tão frágeis como em Janeiro de 2010. Porque a Europa não quer aprender com quem sabe da poda: o Fundo Monetário Internacional.

O caso português ilustra isso. Os técnicos do Fundo já perceberam que ajustamentos orçamentais demasiado restritivos e rápidos não são solução. Porque deixam de lado problemas estruturais que impedem que países como Portugal voltem a crescer de forma sustentada.

O problema é que o resto da Europa, exasperada pelas nossas mentiras e pela imaturidade da classe política, não está pelos ajustes. E olha para o resgate como "A punição" para um país que teima em viver acima das posses… em vez de encarar a crise da dívida como uma oportunidade para criar soluções para o problema. Como? Criando um Tesouro europeu que coloque técnicos (com poderes draconianos) à porta dos ministérios das Finanças de cada país; e criando, no BCE, um departamento que identifique os problemas estruturais dos países do Euro.

Num enquadramento destes a única certeza que se pode ter é que vem aí mais do mesmo. E que a Espanha, que até foi mais séria do que nós a cortar despesa, não está livre de chatices
."

Camilo Lourenço

Privatizar já! Nacionalizar também!

"Portugal vai ser privatizado. Todo? Não, o que der. Incluindo parte da Caixa Geral de Depósitos, baratinho.


E, no entanto, os bancos poderão ser parcialmente nacionalizados. Confuso? É para estar. A economia passou do ortodoxo para o paradoxo.

Está em marcha, há mais anos do que queremos reconhecer, uma venda acelerada de activos de Portugal. O Estado vende porque precisa, os portugueses não compram porque não têm como: são capitalistas sem capital. E assim caducou o tempo dos preconceitos (ou das convicções?). Defesa dos Centros de Decisão Nacional? Já não há: nem a defesa, nem os Centros. Já só falta perder uma coisa: as peneiras.

Fala-se de privatizações como se fossemos proprietários de impérios babilónicos. Não somos. Já vendemos ou hipotecámos e o que resta das nossas empresas não vale grande coisa - pronto, está dito. Não neste momento, em que Portugal tem "rating" de repulsa e o capital voa em bando daqui. Chega a ser enternecedor ouvir quem defende as "jóias da Coroa" com paixão. Anéis de amantes não são diamantes.

O problema não é querermos vender, é não quererem comprar. Temos uma fatia da EDP, a da Galp já está prometida, a TAP vai a caminho, a Águas de Portugal e a REN são a seguir... Se o Estado vendesse todas as suas empresas, descontando a dívida com que ficaria, receberia uns 12 mil milhões de euros. Daria para pagar as dívidas dos próximos três meses...

O Governo orçamentou receitas de privatizações de seis mil milhões de euros até 2013. A missão externa europeia e do FMI quer mais. Não pode ser por dinheiro, que é pouco. É por ideologia, que é muita. E boa.

A crise criou a percepção de que o Estado, afinal, é que é justo. Não é. O Estado foi uma concubina ingénua do sistema financeiro, que acabou traída pelo dissidente e a pagar as contas que ele deixou. Esse acerto de contas está por fazer. Mas nas empresas não financeiras, o Estado não trouxe boa--nova. Nem traz. Subvertendo a expressão: é melhor ter lucros privados que prejuízos públicos. Mas não é por isso. É porque a palavra "Estado" é máscara da palavra "Governo", atrás da qual está a palavra "partido".

As empresas públicas têm sido cobertores dos partidos, agências de contratação de "boys", veículos de dívida que financia terceiros. Em alguns casos, como a RTP e a TAP, a reestruturação financeira permitiu a emancipação mas quase sempre "contra" e não "com" os partidos. Mesmo noutras empresas já muito privadas, como PT, EDP e Galp, anda-se de ministro ao colo. E há melhor exemplo de escandalosa politização do que a CGD, financiadora de tantos falidos que ainda ontem se reuniram na AG do BCP?

Privatizar a Caixa é hoje um erro, pela vulnerabilidade. Mas só é um tabu para os que, aproveitando-se do temor português pelo lucro privado, impõem o prejuízo colectivo pela gestão danosa ou maldosa. Mas sim, hoje é um erro. E um paradoxo: os investidores não andam a correr atrás dos bancos portugueses, é ao contrário. E se a "troika" aumenta os rácios de capital e desce os de alavancagem à banca portuguesa, será necessário o Estado separar dinheiro para os bancos: nacionalizações, temporárias, parciais e retribuíveis, mas nacionalizações.

Privatizar empresas não é um comportamento desviante, faz bem à economia. Concorrência faz bem à economia. Desproteger faz bem à economia. Diz-se que o Estado pode fazer tão bem como os privados. É verdade. Olhe um: o Hospital de Santa Maria, em Lisboa. Mas é caso raro.

É pena que privatizemos na penúria, estamos a preços de liquidação total. Os dedos do Estado vão ficar tão nus que a mão ficará quase invisível. Que use a outra mão para o que deve: regulação, fiscalização, punição dos faltosos. É para isso que o Estado existe, para garantir os direitos dos desprotegidos. Não foi por ter empresas que o conseguiu. Que seja agora. Que venda o corpo para recuperar a alma.
"

Pedro Santos Guerreiro

terça-feira, abril 19, 2011

Petróleo.


"O petróleo está a cair pela primeira vez em quatro dias, em Nova Iorque. A forte descida foi prescrita pela Arábia Saudita, maior exportador mundial de petróleo, quando declarou que o mercado global já teria bastante petróleo para satisfazer a procura (mais aqui)"
Para (os poucos) quem ainda acreditavam que o (elevado) preço do petróleo tinha a ver com a procura…

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Estudante mata sem motivo



"António Peixoto, 60 anos, estava a comprar uma sandes numa rulote junto às piscinas municipais, em Braga, quando, sem que nada o fizesse prever, começou a ser violentamente agredido a soco e pontapé por um desconhecido. Acabou por morrer no hospital. E o agressor, um estudante cabo-verdiano, de 20 anos, que foi detido uma semana depois pela Polícia Judiciária de Braga, acabou libertado pelo juiz por estar prestes a ser pai (mais aqui). "



Porque não dizem a verdade? Ele foi solto porque, caso contrário, a justiça era acusada de ser racista.

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segunda-feira, abril 18, 2011

"Juro que não peço ajuda"

"Terça-feira, dia 5 de Abril. Cavaco Silva pede a José Sócrates que vá a Belém com urgência para ter uma reunião informal com o primeiro-ministro. A resposta não se fez esperar. A agenda não permitia, o Presidente da República teria de esperar pela reunião semanal de quinta-feira, dia 7 de Abril. O Presidente da República não gostou e mandou convocar oficialmente o primeiro--ministro para uma reunião formal em Belém. José Sócrates não teve outro remédio. A justificação oficial para a antecipação da reunião semanal foi o congresso do PS, que só começava na sexta--feira, em Matosinhos. No encontro, Cavaco Silva só quer saber uma coisa: o Governo vai ou não pedir ajuda externa imediatamente? Sócrates garante que não. Apresenta números, jura a pés juntos que Portugal tem outras saídas. Cavaco insiste. José Sócrates volta a jurar que não vai pedir ajuda. Quarta--feira, dia 6 de Abril. A emissão de dívida corre muito mal, Teixeira dos Santos almoça em São Bento com Sócrates e decidem que a ajuda é urgente. O ministro das Finanças dá uma entrevista a meio da tarde e só depois Sócrates avisa Cavaco pelo telefone. O Presidente nem queria acreditar." António Ribeiro Ferreira

O planeta de Louçã

"Portugal anda deprimido. Não admira: com Herman José reformado e os Gato Fedorento em hibernação, quem resta para nos animar? Resta Louçã, é certo, que nos últimos dias reuniu com o PCP para delirar em conjunto. Nas palavras de Louçã, é preciso resistir ao FMI, à austeridade e à recessão. E como tenciona Louçã resistir a tudo isso? Muito fácil: com ‘políticas de esquerda', defendidas por um ‘governo de esquerda', de preferência num país imaginário. Pena que, no meio de tanta precisão, ninguém tenha perguntado a Louçã duas ou três coisas mundanas. Por exemplo, de que forma esse ‘governo de esquerda' pagaria os salários dos trabalhadores já em Maio; ou, em alternativa, onde iria o país buscar o dinheiro para alimentar essas ‘políticas de esquerda', partindo do pressuposto de que os investidores não desatariam a fugir e a gritar perante elas. Louçã não tem respostas porque as perguntas não fazem sentido no planeta onde vive. À esquerda do PS, só há disto: extraterrestres. Divertem? Sem dúvida. Mas cuidado: há muito boa gente que já foi raptada por eles." João Pereira Coutinho

domingo, abril 17, 2011

O balanço da situação

"Nasci em Matosinhos e vivo a maior parte do tempo em Matosinhos. Durante décadas, assisti à transformação de uma vila bonitinha e animada numa cidade suburbana, feia, repleta de lojas fechadas e onde à noite as ruas se esvaziam como se houvesse recolher obrigatório. Aturei o PS a mandar na autarquia desde o Paleolítico e a trazer aqui os próceres nacionais de modo a abençoá-los no mercado do peixe e na lota. Soube da morte de Sousa Franco antes de a notícia chegar às televisões. Sou vizinho do armazém que embala o Magalhães e constrói o futuro tecnológico dos rústicos. Já vi de tudo em Matosinhos.


Nunca vira o que sucedeu no passado fim-de-semana. Teoricamente, tratou-se de um congresso socialista. Na prática, foi outra coisa. Na Exponor houve um palco, sanfonas retiradas de filmes, luzinhas, telas gigantes, efeitos "multimedia", uma multidão de crentes e clientes e um guru, travestido de estadista, que ensinava à multidão os clichés a repetir. Ou ele ou o caos. Ou ele ou as "aventuras". Ou ele ou um país falido, que por acaso é o que temos graças, em larga medida, às proezas do guru. Hesito em decidir se os rituais de tão tresloucado circo imitavam uma daquelas sessões de motivação e auto-ajuda ou um culto evangélico. Pensando bem, o congresso socialista foi exactamente o que um congresso socialista deve ser: uma máquina de pregar aos convertidos e assustar os restantes.


O chato é que, embora alimentada a idiotia, a máquina funciona. Aliás, isso explica parcelarmente que o partido responsável por uma bancarrota sem muitos precedentes e por um rol de mentiras sem precedentes nenhuns pareça, hoje, mais próximo de voltar a mandar no país do que a oposição que lhe tocou literalmente em sorte. A parcela da explicação que falta remete para a oposição, se esse conceito define adequadamente o PSD do dr. Passos Coelho. Nas circunstâncias actuais, qualquer alternativa sofrível à toleima do PS estaria com cinquenta por cento nas sondagens. O PSD, porém, faz o que pode para não se mostrar sofrível nem alternativa. Em poucos dias, conseguiu: a) arranjar uma trapalhada em volta do PEC IV e das reuniões/telefonemas trocados com o primeiro--ministro; b) ouvir recusas (provavelmente desejadas) de cada "notável" convidado a concorrer a deputado; c) escolher os "cabeças de lista" distritais segundo os critérios ex-candidatos-presidenciais-com-votos-hipotéticos-à-solta e colunistas-inteligentes-que-não-criticam-o-Pedro; d) manter-se em escrupuloso silêncio sobre o programa de governo.


A última alínea não é disparatada: por este andar, o PSD só governará quando os maluquinhos da Exponor lhe pedirem ou as galinhas do dr. Nobre tiverem dentes, de acordo com o que acontecer primeiro. Entre o desesperado apego ao poder do eng. Sócrates e o desprendimento suicida do dr. Passos Coelho, Portugal balança. Logo que caia, convém rezar para que Deus nosso Senhor, ou o FMI, o apanhe. Se os finlandeses deixarem, claro."


Alberto Gonçalves

sábado, abril 16, 2011

A jaula

"É a bizarria do momento: para quê eleições, sem falar de campanha eleitoral, quando PS e PSD vão assinar a mesma cartilha com a União Europeia e o FMI? Não seria preferível pedir umas massas intercalares e só depois negociar o pacote inteiro? Eis a ‘imaginação’ que o dr. Cavaco sugeriu aos europeus, para receber destes a chacota inevitável: imaginação? Para um povo arruinado que não se governa nem se deixa governar? Não há ‘imaginação’ para ninguém. O que, de certa forma, se compreende e agradece: se, por hipótese académica, houvesse agora uma esmola momentânea, não custa adivinhar como seria a campanha eleitoral. Até 5 de Junho, teríamos o conhecido cortejo de promessas e mentiras sobre um país inexistente. A partir de 6 de Junho, a dolorosa verdade sobre o real estado do Estado. Se não servir para mais nada, espera-se que a visita da UE e do FMI sirva, pelo menos, para termos uma noção aproximada do buraco onde estamos metidos. Antes de escolher o próximo caseiro. Por paradoxal que pareça, só enjaulando os partidos do regime é possível libertar os eleitores." João Pereira Coutinho

sexta-feira, abril 15, 2011

Teatro de fantoches

"O PSD/FMI do rapazinho de Massamá queria uma ajuda de emergência agora e depois logo se via. Percebe-se bem porquê. Como vai engolir o PEC 4 que chumbou no Parlamento e mais uma dose cavalar de medidas de austeridade, pretendia com esta esperteza saloia passar entre os pingos da chuva na campanha eleitoral e chegar ao poder como uma pura donzela enganada pelo senhor engenheiro relativo sobre o estado da Pátria. Para mal dos seus pecados, Bruxelas já o mandou dar uma volta ao bilhar e só empresta os 80 mil milhões de euros com o pacote todo assinado. O programa político, económico e financeiro de Portugal para os próximos três anos já está a ser escrito no estrangeiro e fica pronto a 16 de Maio. Até 5 de Junho, ao que os indígenas vão assistir é apenas a um decadente e patético teatro de fantoches. " António Ribeiro Ferreira

quinta-feira, abril 14, 2011

Sócrates tem culpa mas o Clube Biderberg são mandantes

Artigo no “New York Times” alerta sobre riscos para as democracias

Pressão “injusta” dos mercados obrigou Portugal a pedir ajuda de que não precisava

13.04.2011 - 12:36 Por Paulo Miguel Madeira

Portugal não necessitaria de um resgate se não tivesse ficado sob uma pressão “injusta a arbitrária” dos mercados, afirma o sociólogo Robert M. Fishman, da Universidade de Notre Dame, nos EUA.
Esta ideia é defendida na coluna de opinião de Fishman desta semana no New York Times, onde diz também que o pedido de ajuda de Portugal à União Europeia e ao FMI deve ser visto como “um aviso às democracias em todo o lado”.

Robert M. Fishman, cuja actividade de investigação se dedica a tópicos como democracia e práticas democráticas ou as consequências da desigualdade, o pedido de ajuda de Portugal “não é na verdade por causa da dívida”.

Apesar de o país ter apresentado “um forte desempenho económico nos anos 1990 e estar a gerir a sua recuperação da recessão global melhor do que vários outros países na Europa”, ficou sob a pressão “injusta a arbitrária dos negociantes de obrigações, especuladores e analistas de crédito”, que “por vistas curtas ou razões ideológicas” conseguiram “fazer cair um governo eleito democraticamente e potencialmente atar as mãos do próximo”.

Fishman sublinha que a crise em Portugal é “completamente diferente” das vividas pela Grécia e pela Irlanda, e que as “instituições e políticas económicas” tinham “alcançado um sucesso notável” antes de o país ter sido “sujeito a ataques sucessivos dos negociantes de obrigações”.

Nota que a dívida pública é bastante inferior à italiana e que o défice orçamental foi inferior ao de várias outras economias europeias e avança duas hipóteses para o comportamento dos “mercados”: cepticismo ideológico dobre o modelo de economia mista (publica e privada) vigente até agora em Portugal e/ou falta de perspectiva histórica.

“Os fundamentalistas do mercado detestam as intervenções de tipo keynesiano em áreas da política de habitação em Portugal – que evitou uma bolha e preservou a disponibilidade de rendas urbanas de baixo custo – e o rendimento assistencial aos pobres”, diz ainda Fisherman no seu texto, intitulado “O resgate desnecessário a Portugal”.

Neste cenário, acusa as agências de notação de crédito (rating) de, ao “distorcerem as percepções do mercado sobre a estabilidade de Portugal”, terem “minado quer a sua recuperação económica, quer a sua liberdade política”.

E conclui que o destino de Portugal deve constituir “um claro aviso para outros países, incluindo os Estados Unidos”, pois é possível que o ano em curso marque o início de uma fase de “usurpação a democracia por mercados desregulados”, e em que as próximas vítimas potenciais são a Espanha, a Itália ou a Bélgica, num contexto em que os governos têm “deixado tudo aos caprichos dos mercados de obrigações e das agências de notação de crédito”.
A crise subprime teve a mão das agências de rating, um dia antes de serem dados falidos os grandes bancos eram classificados como AAA, "os mercados" são os piratas de agora, sem rei nem roque e os governos incluindo o governo dos EUA não têm poder para os deter, são detidos pelas 70 famílias mais ricas do mundo.
A CEE e a comissão são criados dos "mercados".
Não desculpa a irresponsabilidade criminosa dos governos Sócrates mas a verdade é que atacam desta forma, há muito ruído, os islandeses fazem muito bem e Portugal fez um erro há muitos anos, foi ter entrado no Euro com o escudo forte, ou ter entrado no Euro pura e simplesmente, Cavaco tem responsabilidades e o PSD e todos os outros partidos, todos têm no governo central e nas autarquias.
Nas PPP, nos IP, Fundações e Empresas Municipais o PCP tem autarquias que domina, com empresas municipais apenas para emprego de camaradas, todos têm culpa, que não teem é a classe que vai sair esmagada por estes agiotas que cá entraram.
O FMI faz parte dos "mercados", o BCE está dependente do Fed que teve comportamento criminoso na crise subprime, os bancos centrais e os seus responsáveis tiveram comportamentos criminosos, (caso do ex Governador do Bde Portugal),ou seja, os bancos que os financiam ou os especuladores que o financiam, nesta guerra, os "mercados" funcionam como testa de ponte, é o agiotismo a nível mundial, esta gente tem de ser travada.

quarta-feira, abril 13, 2011

FMI: “Estabilidade depende de uma classe média forte”



"Há alguns milhares de anos, Aristóteles escreveu que a melhor parceria num Estado é a que opera através de pessoas de classe média... os Estados onde a classe média é grande ... têm todas as hipóteses de ter uma boa gestão (mais aqui)"

Strauss-Kahn, director do FMI
A classe média vive uma erosão econômica que não se via há muito tempo. Endividada e deprimida, será novamente a mais duramente atingida pelas novas medidas para sanear as finanças públicas...

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terça-feira, abril 12, 2011

Demagogia



Dão nas vistas em qualquer lugar
Jogando com as palavras como ninguém
Sabem como hão-de contornar
As mais directas perguntas

Aproveitam todo o espaço
Que lhes oferecem na rádio e nos jornais
E falam com desembaraço
Como se fossem formados em falar demais

Demagogia feita à maneira
É como queijo numa ratoeira

P’ra levar a água ao seu moinho
Têm nas mãos uma lata descomunal
Prometem muito pão e vinho
Quando abre a caça eleitoral

Desde que se vêem no poleiro
São atacados de amnésia total
Desde o último até ao primeiro
Vão-se curar em banquetes, numa social

Demagogia feita à maneira
É como queijo numa ratoeira

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segunda-feira, abril 11, 2011

Tristezas não pagam dívidas

"Inevitável" foi uma das palavras mais utilizadas nos comentários à solicitação de auxílio financeiro à União Económica. Inevitável é (já era) o processo de ajustamento que a economia portuguesa terá de fazer.

As necessidades de financiamento do País e a deterioração nas condições de financiamento determinaram o recurso aos mecanismos comunitários de assistência financeira. De acordo com sondagens divulgadas pela imprensa, a opinião pública encontra-se quase perfeitamente dividida quanto a esta decisão, mas é mais consensual nos benefícios a médio prazo que se espera resultem das medidas que venham a ser decididas. Vejamos, de forma sumária, algumas implicações.

Os mecanismos de apoio financeiro disponíveis para os Estados-membros da área do euro são essencialmente dois: o Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira (MEEF) e o Fundo Europeu de Estabilização Financeira. Em ambos, os fundos para o financiamento do Estado necessitado são obtidos através da emissão de dívida em mercado. Diferem nos montantes (60 mil milhões de euros de valor efectivo e 440 mil milhões de euros de valor potencial, respectivamente) e na estruturação das garantias subjacentes (o primeiro actua sob o Orçamento da Comissão Europeia, o segundo recorre a garantias dos Estados-membros da área do euro). Estas diferenças tornam o MEEF mais versátil a muito curto prazo, razão pela qual constituiu a principal fonte de financiamento da Irlanda nos últimos meses. Nas contrapartidas os dois mecanismos são muito idênticos.

Ambos estão associados a um programa de ajustamento económico e financeiro, submetido pelo Estado que solicita o auxílio, validado pela Comissão Europeia e pelo BCE, aceite pelos parceiros europeus e sujeito a avaliação regular do respectivo grau de cumprimento. O FMI participa como entidade financiadora (cerca de 1/3) e na definição das medidas de ajustamento. No caso da Irlanda, houve também empréstimos de iniciativa individual de países europeus. Será provável que para Portugal o programa contemple, igualmente, financiamento de diversas entidades e faseado no tempo. O montante e as condições de um programa desta natureza são negociados e dependem dos pressupostos e do alcance pretendido. Por exemplo, o prazo é função da expectativa do Estado e do sector privado recuperarem capacidade de financiamento regular no mercado.

Por isso, a dispersão nos valores que têm sido apresentados (entre os 50 mil milhões de euros e os 90 mil milhões de euros). O custo acordado para a Irlanda será uma referência, com 292,5 pontos base de spread sobre a taxa de juro da emissão da dívida do MEEF em mercado, o que equivaleu a um custo final entre 5,5% e 6,2% nas duas emissões já realizadas cinco e sete anos. As medidas de ajustamento diferem consoante as dificuldades financeiras e os desequilíbrios estruturais de cada país. Para a Grécia, a consolidação das finanças públicas assumiu a primazia; na Irlanda foi a estabilização do sistema financeiro; em Portugal deverá ser a promoção dos factores estruturais de crescimento. Apesar destes enfoques preferenciais, identificam-se alguns elementos comuns.

No curto prazo, o objectivo é a atenuação do impacto do clima de forte instabilidade financeira, através do suporte a políticas de consolidação orçamental e de estabilidade do sistema financeiro. As intervenções definiram: i) um plano de médio prazo para a redução das necessidades de financiamento do sector público, que na sua natureza não deverá diferir muito dos planos orçamentais recentes mas que será mais exigente na materialização dos objectivos; e ii) a disponibilização de mecanismos de financiamento do Estado e do sector financeiro, substituindo-se temporariamente ao mercado nessa função, por forma a que as restrições de liquidez não inviabilizem um programa de ajustamento credível.

Quer na Irlanda quer na Grécia, os programas incluíram expedientes extraordinários de financiamento do sector bancário e circulam rumores relativos a novos instrumentos de financiamento de longo prazo para o sistema bancário. A mais longo prazo, pretende-se a promoção de factores de sustentabilidade, donde o enfoque no crescimento potencial e na competitividade, associadas no Pacto do Euro à produtividade e ao emprego. São medidas de definição complexa e sem sucesso assegurado, mas que são importantes, entre outros contributos, para a redução persistente da dependência do financiamento externo. Este aspecto é essencial e releva a inevitabilidade do ajustamento. Portugal acumulou um endividamento elevado e que continua a aumentar.

Mas, os credores já expressaram a sua indisponibilidade para continuar a financiar este comportamento, no aumento exponencial dos prémios de risco ou (segundo a imprensa) na fraca participação de investidores não residentes na última colocação de dívida de curto prazo. Como tal, o recurso ao mercado afigura-se crescentemente impraticável. Nestas condições, e na ausência de mecanismos comunitários de apoio, o ajustamento imposto à economia portuguesa seria muito expressivo. A relevância dessa restritividade está evidenciada nos cenários macroeconómicos do Programa de Estabilidade e Crescimento ou do Banco de Portugal. Apesar da correcção e moderação do consumo e do investimento, as necessidades de financiamento do País permanecem muito elevadas, entre 7% e 9% do PIB nos próximos anos. O esforço implícito na redução do défice comercial, porque o País exporta mais e importa menos, é absorvido pelo acréscimo dos encargos com os juros.

Mas este esforço seria insuficiente porque a disponibilidade para continuar a financiar tal desequilíbrio deixou de existir. O suporte financeiro comunitário permitirá colmatar esta restrição, mas apenas parcialmente. As medidas do programa de assistência serão inúteis se não tiverem como resultado uma redução significativa das necessidades de financiamento do País, sem a qual dificilmente Portugal regressará ao financiamento regular em mercado. De modo grosseiro, significa ter capacidade para crescer nas exportações, promover a contenção das importações ou conseguir a redução dos encargos com os juros. Este último factor esbarra na inércia da dívida acumulada, o primeiro na complexidade e exigência do respectivo sucesso. No meio, sobra o regrado na despesa. A inteligência empregue nas nossas decisões individuais de despesa, os sinais que damos ao mercado, serão fundamentais no sucesso e na mitigação dos impactos na actividade económica doméstica decorrentes do programa de ajustamento que, inevitavelmente, teremos de empreender
. " Gonçalo Pascoal

domingo, abril 10, 2011

Contra o preconceito

"Ai, o eurocentrismo. É comum o desconhecimento do "outro" levar-nos a presunções erradas e, nos casos graves, ao puro preconceito. Veja-se o exemplo da Al- -Qaeda, que apressadamente julgamos representar uma cultura que enaltece o assassínio e despreza as mulheres. Se nos libertássemos de ideias feitas, veríamos que, afinal, a Al-Qaeda enaltece o assassínio e preza as mulheres a ponto de lhes dedicar uma publicação mensal. É verdade que a revista, intitulada Al-Shamikha, "A Mulher Majestosa" em português, só surgiu agora. Mas é igualmente verdade que tenta recuperar o tempo perdido. Desde logo, rompe com o mito da islâmica sem vaidade e dá conselhos de beleza, que vão da aplicação de máscaras de mel no rosto ao uso do véu para proteger a pele do sol. De qualquer modo, a Al-Shamikha recomenda às senhoras que, mesmo com a cara untada e coberta, fiquem dentro de casa em prol da "boa aparência". O resto é o habitual nos magazines femininos: entrevistas com figuras notáveis (viúvas de bombistas homicidas), pedagogia infantil (ensina-se a educar um filho para morrer pela jihad) e aconselhamento conjugal (sugere-se um marido terrorista). O editorial do primeiro número resume tudo: "Através do martírio, os fiéis ganham segurança e felicidade." E, graças a avanços civilizacionais como "A Mulher Majestosa", os infiéis ganham vontade de descobrir o "outro", na certeza de que, embora por motivos distintos, o "outro" também nos quer descobrir a nós." Alberto Gonçalves

sábado, abril 09, 2011

Aplausos de requiem, em uníssono, como nos congressos do PCUS

O Congresso de Sócrates é uma imagem dos dias em que Estaline estava no poder. Mentira? Bem... Com as devidas distâncias quem aplaude assim só desespera perder o tacho e aquilo é o Congresso dos delegados do tacho, à custa dos contribuintes e à custa da dívida que temos todos que pagar devido ao narcisismo deste indivíduo, da doença obsessivo-compulsiva de que sofre e do culto de personalidade, coisa muito usada pelos partidos da chamada esquerda.


Trata-se de uma religião, copiada de muitas outras, não cito quais para não ofender as fés verdadeiras. Assim, os tipos do PCP, idolatram o operário, mas estão a lembrar-se de Cunhal que idolatrava Stalin.

O problema é que a multidão que agora o aplaude mais tarde ou mais cedo vai pedir que seja julgado, a maçonaria tem destas coisas, falo das falsas elites que lá estão ou estão na sombra, serve enquanto serve, quando não servir vai para o caixote de lixo, daí o desespero daquela massa que fica com as mãos em brasa para fazer ouvir o aplauso ampliado pelos jornaistas de serviço, pelas estações de televisão e jornais.

Mas uma mentira e mil mentiras nunca deixam de o ser e este tipo que parece ter mais vidas que um gato, sabe para quem fala e não tenho dúvidas que vai voltar a enganar este povo, e agora sem grandes escolhas. Fica uma coisa desenhada neste Congresso estalinista, a estratégia de alianças com partidos que o PS sempre desdenhou ou com quem nunca fez alianças: com comunistas e trotzkistas.


De resto é a banalidade é a vergonha que se sente por ver este país entregue a estas turbas.

Democracia? Coisa de semântica. O que nos diferencia dos regimes Angolano ou chinês?

O voto?

O voto é como a liberdade, qualquer um a deposita aos pés do Grande Inquisidor em troca do pão terreno, porque o pão celeste, esse só pode ser conseguido por alguns, uns grãos de areia no meio do grande areal da praia Lusitana.

sexta-feira, abril 08, 2011

O patriota

"(Onde o autor adjectiva esse grande artista português, José Sócrates, que consegue praticar com grande proficiência vários números de representação, agora num dos papéis em que se exorbita, o de patriota, em ponto de excelência idêntico ao inexcedível de vítima).

A ordem do dia é evidentemente o pedido de ajuda externa ao Fundo de Estabilização Financeira e ao FMI e nem sei se do dia em que escrevo para o dia em que vou parar às bancas se passa ainda alguma coisa extraordinária, como mais um corte de "rating", agora da mercearia do Palácio de S. Bento (à Presidência da República, que é outra gente, ainda vendem fiado). Nem sei se percebo bem como se caiu nisto de supetão, ao ponto de daqui a uns dias não ir haver dinheiro para pagar compromissos do Estado, no exterior e entre muros, com a banca a recusar financiar a República para evitar activos tóxicos (ao fim e ao cabo, a função dela é proteger os depósitos e salvaguardar os interesses dos accionistas) e de aos trabalhadores dos transportes públicos nem valer a pena fazer a grevezinha do costume porque já só há vales.


A provocação do PEC IV no modo como apareceu imposta, a ingenuidade do PSD apanhado em contra-pé e a inércia congelante do PR desencadearam o "gran finale", o foguete de fim de festas, mas a queda livre dum longo processo de desporto radical conduzido por Sócrates foi mesmo o pedido de ajuda à EU, na quarta-feira, como se alguém tivesse apertado o patriota Sócrates pelo gasganete. Tudo isto envolve drama, a vida de milhões de pessoas, nem que seja na insegurança, incerteza e perplexidade em que vivem.


Mas, com o patriota Sócrates e o Financial Ali aos microfones, os verdadeiros apreciadores ainda conseguem gozar altos momentos de Opera buffa, segundo a grande regra neoliberal que diz "antes rir que gastar no Xanax". Foi ver o Ali a jurar na sexta-feira que o governo não ia mexer uma palha em pedidos de ajuda externa e adiantar que só o PR tinha competência para tal - isto num momento de exuberância constitucionalista. E foi mais ainda ouvir o patriota jurar em entrevista, na segunda-feira, que FMI, por ele, nem vê-lo, acrescentando frases de grande empolgamento, quando não de fino recorte emocional como o seu "compromisso em evitar que Portugal peça ajuda externa".


Mas, lágrimas nos olhos, essas jorraram-me quando afirmou, bélico: "Entre mim e o FMI estão 10.000.000 de portugueses". Aí achei que puxou da espada e matou o touro de um só golpe, entre aplausos em delírio, flores e mesmo cuequinhas de jovens militantes socialistas esvoaçando no ar. Esta triste representação é a que temos tido há meses a fio, com o défice a subir, os juros sempre ascendentes e os PEC a avançarem ao ponto de haver gente a aprender algarismos romanos para saber como acompanhar os seguintes... mas com o PM sempre no registo bélico da resistência aos nazis, digo ao FMI. Várias vezes pôs-se como o "único" a continuar a lutar numa batalha pelo bom nome de Portugal.


Mas nunca reparou que os moinhos são de vento, que o FMI e a CE são instituições a que pertencemos e para as quais contribuímos, até com dinheiro, e não só palavras piedosas. Mas o patriotismo a sério era de outro teor: era ser competente como Zapatero, pondo em acção medidas firmes de combate ao défice oportunamente, e não recusá-las com vitupérios anti-direita; ou mais ousadamente, vendo o percurso inexorável dos juros, ultrapassando os fatídicos 7% que o Financial Ali tinha estabelecido como limite suportável, entrar em conversações atempadas com a EU.


O prestígio de Portugal seria, sim, protegido numa mesa de negociações em que não estivesse estabelecida a pressão excessiva da urgência, ainda com domínio de opções e capacidade de contrapropostas e não como vai ser, "pega lá e é se queres". Assim temos o patriota, pronto para uma fátua batalha, que dizia dantesca, se calhar ainda vestido de peles de animais ferozes (até pode ir nu, portanto), proferindo gritos de batalha escorridos na rouquidão do desaire, sempre a vitimizar-se, digno da comiseração da derrota em batalha que enfrentou de forma inepta e perdedora. Não dava para um Triunfo romano. M


Mas eu sou patriota e recordo-me chocado da vil pedinchice à Dilma durante a luta "patriótica" do PM, com os repórteres em estado de excitação como os bobos em corte medieval, perguntando se viria ajuda do Brasil e ela respondendo " gringa": "no Banco do Brasil só com triple AAA". São patriotas como este Sócrates que dão bom nome ao Conde Andeiro
"

Fernando Braga de Matos

quinta-feira, abril 07, 2011

Leonard Cohen - Everybody Knows

A telegenia de José Sócrates em discurso à nação

O Narcisismo apanhado em flagrante

Seriedade precisa-se!

Já todos sabíamos que Sócrates é um aldrabão, sofre de doença mental grave e avançada, mente compulsivamente, e tem o complexo de Narciso, mas eu não tenho nada a ver com isso, porque não o quero como Primeiro Ministro, a um indivíduo que nem para cantoneiro de limpeza serve, com o devido respeito, que é muito, pelo homens que andam atrás no camião do lixo, a despejar contentores, de lixo.

Foi eleito 2 vezes por este povo, mas também Hitler chegou ao poder pelo voto e com grande margem.

Há anos que este indivíduo nos anda a mentir, no entanto as sondagens dão valores muito próximos ao outro o que o quer substituir.


Há uns anos, Santana Lopes foi afastado, através de golpe de Estado por um Presidente da República que se atreve ainda a dar palpites e fala com voz grossa, é também um dos pais desta crise que atravessamos, foi ele que colocou lá este seu nepote, como os antigos Papas.


Cavaco Silva, sim, esse mesmo, quando foi ministro das finanças, fez a política do escudo forte e desbaratou e deixou desbaratar os fundos, através dos nepotes, quando depois foi Primeiro Ministro, é também um dos pais desta crise, agravando-a quando devia ter demitido este sujeito, quando falseava os números das contas e que se arma em Calimero agora. Não o demitiu, porque queria ser novamente Presidente desta desgraçada III República.


Parece que o operário do PCP e o seminarista-like, do BE, fala como um seminarista, todos eles e os rebanhos que os acompanham, responsáveis pela destruição de grande número de empresas no após 25 de Abril e por esta Constituição existente, que nos empurra para épocas que ninguém deseja, nem quer recordar, porque ainda veneram o cadáver embalsamado de Lenine, são secularistas evangélicos dessa religião a que chamam de comunismo ou socialismo, mas todos eles, estes e os outros praticam, dentro dos seus partidos, o centralismo democrático, uma ideia leninista, todos eles, das chamadas esquerdas às direitas, coisa que não existe, porque a esquerda e direita não existem, apenas servem para nos dividir, uns contra os outros, falo das pessoas de bem, daqueles que todos os dias têm de colocar o pão na mesa à custa do seu trabalho.


Estamos portanto perante um regime de burlões, de uma oligarquia partidária que manietou o país e o atirou para as mãos do agiotismo e da usura internacional (greedy), dos que fizeram a crise da chamada indústria financeira, com os seus instrumentos, as agências de rating, as companhias de auditoria e os senhores professores das universidades e faculdades de economia que escrevem os artigos que sustentam toda a mentira e sustentaram, criada e exportada de Wall Street para todo o mundo, criando ( mais uma vez), o empobrecimento dos povos do mundo, inclusivé do povo americano.

Portanto meus amigos, podemos ter que os aturar, mas não temos que fazer de imbecis.

quarta-feira, abril 06, 2011

O governo decidiu auto suspender-se, suspenda-se esta treta de democracia...

O governo decidiu suspender a pouca reestruturação do Estado que estava obrigado a fazer e podia..

O governo socratino decidiu suspender tudo o que tira gordura ao Estado, no entanto continua a nomear sobrinhos e afilhados.

O goverm decidiu fazer birra e empurrar o país de vez para a ruína.

Diz que não pode.

O PR diz que não pode, mas não diz porquê, estará com birra (?), mas diz que é professor de economia.

Na Islândia as eleições atiraram para a rua o governo qeu destruiu a economia e fez duras negociações com o FMI, não levaram mais que 3% em juros.

Aqui o líder do PSD só diz asneiras e tem agenda neoliberal, conforme o FMI tem cartilha, já se viu na Irlanda e na Grécia no que dá, fala em reestruturar o IVA, mas reestruturar o IVA? Não lembra ao diabo, o semantismo.

O PCP dizem que se vai juntar ao BE, aplaude as greves de empresas falidas e que prejudicam quem ainda pode trabalhar.

Precisamos de novos Partidos políticos estes não servem, ou então precisamos de uma ditadura para limpar o Estado dos sobrinhos (nepotes) e dos boys como lhes chamam, para acabar pura e simplesmente com as PPS,( não há dinheiro não há palhaço), acabar com as empresas municipais, deixar de apoiar Fundações, (vão vender pensos ou vivam do que têm ou fechem), e acabar com os IPs e voltar às velhinhas Direcções Gerais, a bem ou a mal.

Na Islândia foi a bem, mas a Islãndia tem um povo islandês, nós temos um povo que acredita que os comprimidos que toma para não andar deprimido são de borla.

Não vai ser de borla, os gajos do PCP e do BE estão embalsamados ou querem ser, tal como os pensamentos deles do tempo do Lenine.

Este país precisa de novos partidos políticos, um chega, com homens de bem ou de uma ditadura, não vejo mais solução.

Salazar sabia o que este povo valia e sabia o que Cunhal esse taridor valia e sabia o que Soares esse traidor valia, teve-os à distância e o carrinho em Peniche foi lá colocado porque ele o queria à distância.

Não temos tempo e não há jantares de borla, muito menos pão.

terça-feira, abril 05, 2011

A culpa

A culpa de não haver PEC 4 é do PSD e do CDS.

A culpa de haver portagens nas Scuts é do PSD que viabilizou o PEC 3. A culpa do PEC 3 é do PEC 2. Que, por sua vez, tem culpa do PEC 1. Chegados a este, a culpa é da situação internacional. E da Grécia e da Irlanda. E antes destas culpas todas, a culpa continua a ser dos Governos PSD/CDS.


Aliás, nos últimos 16 anos, a culpa é apenas dos 3 anos de governação não socialista.

A culpa é do Presidente da República. A culpa é da Chanceler. A culpa é de Trichet. A culpa é da Madeira. A culpa é do FMI. A culpa é do euro. A culpa é dos mercados. Excepto do "mercado" Magalhães. A culpa é do ‘rating'. A culpa é dos especuladores que nos emprestam dinheiro. A culpa até chegou a ser das receitas extraordinárias.


À falta de outra culpa, a culpa é de os Orçamentos e PEC serem obrigatórios.

A culpa é da agricultura. A culpa é do nemátodo do pinho. A culpa é dos professores. A culpa é dos pais. A culpa é dos exames. A culpa é dos submarinos. A culpa é do TGV espanhol. A culpa é da conjuntura. A culpa é da estrutura. A culpa é do computador que entupiu. A culpa é da ‘pen'. A culpa é do funcionário do Powerpoint. A culpa é do Director-Geral. A culpa é da errata, porque nunca há errata na culpa. A culpa é das estatísticas. Umas vezes, a culpa é do INE, outras do Eurostat, outras ainda do FMI.

A culpa é de uma qualquer independente universidade.

E, agora em versão pós Constâncio, a culpa também já é do Banco de Portugal. A culpa é dos jornalistas que fazem perguntas. A culpa é dos deputados que questionam. A culpa é das Comissões parlamentares que investigam. A culpa é dos que estudam os assuntos. A culpa é do excesso de pensionistas. A culpa é dos desempregados. A culpa é dos doentes. A culpa é dos contribuintes. A culpa é dos pobres.

A culpa é das empresas, excepto as ungidas pelo regime.

A culpa é da meteorologia. A culpa é do petróleo que sobe. A culpa é do petróleo que desce. A culpa é da insensibilidade. Dos outros. A culpa é da arrogância. Dos outros. A culpa é da incompreensão. Dos outros. A culpa é da vertigem do poder. Dos outros. A culpa é da demagogia. Dos outros. A culpa é do pessimismo. Dos outros. A culpa é do passado. A culpa é do futuro. A culpa é da verdade. A culpa é da realidade. A culpa é das notícias. A culpa é da esquerda. A culpa é da direita. A culpa é da rua. A culpa é do complexo de culpa. A culpa é da ética.

Há sempre "novas oportunidades" para as culpas (dos outros). Imagine-se, até que, há tempos, o atraso para assistir a uma ópera, foi culpa do PM de Cabo-Verde.

No fim, a culpa é dos eleitores, que não deram a maioria absoluta ao imaculado. A culpa é da democracia. A culpa é de Portugal. De todos.

Só ele (e seus pajens) não têm culpa. Povo ingrato! Basta! Na passada quarta-feira, a culpa... já foi. António Bagão Félix, Economista

segunda-feira, abril 04, 2011

Não se queixem

"O ministro das Finanças declarou ontem que o governo não tem legitimidade nem poderes para pedir um resgate financeiro. O Presidente da República, na sua comunicação ao país, desmentiu-o. Eis o momento capital das palavras de Cavaco Silva: um governo de gestão não está impedido de tomar as medidas necessárias para garantir o funcionamento da economia. Porque, disse Cavaco, os governos passam mas o Estado permanece. Tradução: com juros a ultrapassar os 9% e os cofres do Estado exauridos para pagar 9 mil milhões de euros até Junho, a recusa do eng. Sócrates em lançar a toalha é um dos espectáculos mais penosos de que há memória na história da democracia doméstica. Penoso mas esperado: ao precipitar a crise, Sócrates não se limitou a fugir do descalabro anunciado; ele precisa ainda de transformar essa fuga numa resistência heróica, e ruinosa, para o futuro do país. Que isto não seja entendido por 32% dos portugueses que pensam regressar ao local do crime nas próximas eleições, eis um pormenor que resume bem a moral desta história: nós só temos o que merecemos. " João Pereira Coutinho

Esta gente não tem vergonha!

"Caro leitor, recorda-se do défice de 2009? Sim, aquele que era para ser de 5,9% e que saltou para... 9,3%.

Pois o INE ("ajudado" por Bruxelas) diz agora que foi de... 10%. E o de 2010? Sim, aquele que o Governo disse que ficaria abaixo de 7% (com o fundo de pensões da PT). Pois, ficou em... 8,6%. Razão: esqueceu-se de contabilizar 1,8 mil milhões de euros do BPN, 793 milhões do défice de empresas de transportes e 450 milhões do BPP. É muito lixo junto para varrer para baixo do tapete... E dos défices de 2007, recorda-se? Sim, aquele que o primeiro-ministro (secundado por um ministro das Finanças sem credibilidade) chamou de défice mais baixo da Democracia (2,6%). De repente saltou para 3,1%. E do de 2008, lembra-se? Era para ficar em 2,2% e acabou em... 3,5%. A correcção do Eurostat confirma que estamos perante a maior série de mentiras da III República, camufladas por um excelente "marketeer". O problema é que o "marketeer" se esqueceu de que não se pode enganar toda a gente... durante muito tempo. Porque a mentira tem perna curta. Nada disto seria muito grave se as consequências da falta de vergonha prejudicassem apenas o primeiro-ministro e o partido do Governo. Mas prejudicam o País: vamos viver muito pior nos próximos quatro anos porque o Governo não teve coragem de apertar o cinto logo no início de 2010. Tendo em conta este chorrilho de mentiras, vale a pena exigir à Comissão (com permissão da sra. Merkel) que divulgue o que apurou na visita a Portugal. Vai fazer mal à nossa reputação? Pior do que já está, é difícil. Porque mais vale contar a verdade toda, do que prolongar as dúvidas sobre o real estado das contas públicas. O PEC IV não apareceu por acaso..." Camilo Lourenço

Dia das mentiras

"De um dia para o outro, quatro défices subiram; a curva dos juros ficou irracionalmente quase invertida; passámos de "Portugal não precisa de ajuda" para "o Governo não tem condições para pedir ajuda". Ah: e deixámos de ter Governo. Hoje é dia das mentiras. Ontem também foi. Portugal tornou-se um País de políticos covardes. Ninguém assume a crise política que nos leva a mais umas eleições. Ninguém dá a cara por um pedido de ajuda externa. Ninguém mais usa a palavra "responsabilidade", mas sim "ónus" e "culpa" - e sempre referindo-se a outros. Estamos sem Governo. O que lá está entende não ter poder para mandar cantar um cego. Mesmo que o Presidente da República entenda o contrário: a discórdia é compreensível, o próprio Presidente tem dito - e mostrado - que não tem poder. Isto não é um Governo em gestão, é um País em autogestão. Os ratos estão a abandonar o barco. O primeiro-ministro sai de fininho da sua última sessão no Parlamento. O ministro das Finanças diz que já não é nada com ele. Todos os dias o Diário da República está mais grosso, com nomeações de assessores que passam para directores-gerais. Ouvem-se loas diárias às grandes empresas - as Galp, as EDP, as PT - de gente que talvez lá vá parar daqui a semanas. Nas administrações destas empresas, os telefones não param: metade é da gente que está a sair do Governo; a outra metade é da gente que pensa que lá vai entrar. "Boys will be boys"... Mesmo nas empresas públicas: Almerindo Marques bate com a porta na Estradas de Portugal; a Refer, a mais irracionalmente endividada empresa em Portugal, está há seis meses sem conseguir contratar um administrador financeiro. Pode Portugal ficar dois meses à deriva? Pode. Ficará pior, mas pode. Portugal pode tudo, aliás. Até ser obrigado a rever défices orçamentais de quatro anos, porque o Eurostat decidiu corrigir-se a si mesmo e porque o Governo pensou que a contabilidade era infinitamente elástica. A verdade não vem sempre ao de cima. A dívida vem. De tudo o que o Governo foi ontem obrigado a engolir nas contas públicas, nada é estranho. O buraco do BPN (e o aval ao BPP) já devia ter sido reconhecido no passado. As empresas de transporte são lixeiras de dívida a céu aberto há décadas. É verdade que o Eurostat foi amigo da onça, ao escolher esta data. Mas não inventou nada. Estas alterações não são indolores: o "buraco" das empresas públicas vai perdurar; e a imagem externa do País é prejudicada. Não é pelo mau aspecto. É porque estamos aflitos. Pode Portugal escapar sem ajuda? Não. Hoje, o Estado vai ao mercado pedir dinheiro a curto prazo para substituir dívidas de longo prazo e pagando um juro altíssimo. Já se cobra mais a dois anos do que a dez, sinal claro de percepção de insolvência. Mais: Portugal "inventa" hoje Obrigações a 15 meses. Porquê? Porque os credores só emprestam dinheiro até final de 2012. A partir de 2013 entram em vigor as regras de Merkel, segundo as quais os investidores privados também perdem dinheiro se um Estado afundar... Com as emissões de dívida de hoje, Portugal garantirá os pagamentos até Junho. E depois? Depois há eleições e a culpa há-de ser de alguém. É estranho: a Comissão Europeia só aceita o pedido de ajuda com acordo do PS, PSD e Presidente para as medidas de austeridade. Mas nem PS, nem PSD nem Presidente querem pronunciar a palavra. Talvez seja melhor comprar um boneco Nenuco daqueles que falam quando se aperta a barriga. Basta uma palavra: "A-ju-da". Os outros depois assinam as condições de austeridade. A culpa será do boneco. Como sempre." Pedro Santos Guerreiro

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