terça-feira, maio 31, 2011

Shoot to Thrill

"L´État c"est moi", versão Sócrates

"Na 6ª feira o país ficou a saber que, ao contrário do acordado com a Troika, o Ecofin antecipou de Setembro para Julho o calendário para reduzir a Taxa Social Única e os valores a pagar pelas empresas em caso de despedimento.


A antecipação foi logo desvalorizada por José Sócrates, alegando que a oposição sabia que havia duas versões do documento. Há aqui dois vícios. Graves. O primeiro é pensar que decisões cruciais para o país devem ficar limitadas à esfera dos partidos (admitindo que a oposição sabia das duas versões…). A Democracia não é um "cozinhado" entre partidos; os eleitores têm de ser informados de decisões importantes (sim, importantes!) as como tomadas por Bruxelas. Ainda para mais porque o processo legislativo é lento, o que praticamente inviabiliza o calendário fixado…

O segundo é a falta de ética (comum a toda a governação de Sócrates). Está na cara que o Governo ocultou deliberadamente as alterações do Ecofin, com receio das eleições (é estranho, aliás, que o ministro das Finanças, ultimamente tão preocupado em limpar a sua imagem, tenha alinhado em mais esta jogada …). Mesmo que houvesse duas versões do "memorandum", o Governo tinha obrigação de dizer qual a versão aprovada.

É este o problema de José Sócrates: acha que o Estado se confunde com ele próprio, pondo e dispondo da "res publica" sem dar satisfações aos súbditos. Nunca houve no pós-25 de Abril um 1º ministro com tanto Poder e tão pouco respeito pelo jogo democrático. Não admira que haja cada vez mais gente, inclusive dentro do PS, que o quer ver pelas costas. As declarações de Almeida Santos, sobre a saída de Sócrates em caso de derrota, são elucidativas
."

Camilo Lourenco

Petróleo.

1/ "A corrida ao armazenamento da matéria-prima, pelos receios de que os fornecimentos sejam interrompidos, está a fazer subir o preço do petróleo (11 Maio 2011 08:47 -Mais aqui)"

2/ "Reservas em máximos de dois anos baixam preços do petróleo. Os inventários norte-americanos de crude subiram acima do esperado pelos economistas, o que está a provocar a queda da matéria-prima (11 Maio 2011 16:18 - Mais aqui)"

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Benfica TV

"Por esta altura, já toda a gente terá visto o filmezinho em que duas adolescentes espancam uma terceira junto a um centro comercial de Benfica. Se alguém não viu, a culpa não é dos outros adolescentes que testemunharam a cena, registaram-na no vídeo do telemóvel e publicaram-na imediatamente no Facebook. Nem da TVI, que a transmitiu não sei quantas vezes no noticiário enquanto uma jornalista (em off) descrevia o horror que aquelas imagens devem suscitar. Presumo que as audiências compensem o sacrifício.

Sobre o episódio, não tenho muito a dizer: histórias de proezas idênticas, não só de origem nacional, surgem com crescente frequência, e não acho que exibir a proverbial aflição de psicólogos, sociólogos e afins resolva o que quer que seja. Mas apetece-me comentar o comentário da jornalista em questão, a qual encerrou a "peça" confessando a estranheza que lhe suscita a selvajaria de uma geração que, cito de memória, tem tudo para não ser selvagem.

Com a devida licença, "tudo" o quê? Uma escola "inclusiva" e reduzida a depósito de fedelhos? Professores sem autoridade e vontade? Pais que não educam por incapacidade ou demissão? As boçais referências de sucesso vigentes na cultura pop, na bola e até na política? Os castings para concursos e novelas televisivos? Duzentos canais no "cabo"? Consolas de jogos? Telefones portáteis? O Magalhães?

Por acaso, assim de repente o universo em peso parece conspirar de modo a facilitar, ou a incentivar, a fúria animal das meninas de Benfica. Ao contrário da senhora da TVI, o que me espanta é o facto de ainda haver adolescentes que não passam os seus dias a pontapear o semelhante. Ou talvez passem e não chegam ao Facebook. Ou chegam ao Facebook e os telejornais não notaram. Ou notaram e eu não reparei nos telejornais, que têm tudo para ser úteis e são isto
."

Alberto Gonçalves

segunda-feira, maio 30, 2011

No reply

Deus nos livre

"Na terça-feira, Pedro Passos Coelho lamentou as nomeações efectuadas em desespero pelo Governo dito em gestão e o eng. Sócrates confessou-se ofendido. Na quarta-feira, Passos Coelho aludiu à cosmética aplicada aos dados da execução orçamental e o eng. Sócrates confessou-se indignado. Na quinta-feira, Passos Coelho aliviou-se de um comentário sobre a lei do aborto e o eng. Sócrates confessou-se chocado. Na sexta-feira, Passos Coelho pediu esclarecimentos acerca das divergências entre o acordo assinado com a troika e o acordo com a troika anunciado. À hora a que escrevo, ignoro se o eng. Sócrates se confessou magoado, tristonho, amuado, revoltado, sorumbático ou destroçado.

Não importa. Importa que à conta das indignações e choques do Chefe Supremo, atitudes que teriam sido mais adequadas à desgraça para que empurrou as contas públicas nos últimos anos, o PS lá vai levando a campanha sem justificar a desgraça nem se atrasar nas sondagens. De norte a sul, os socialistas repetem querer discutir os verdadeiros problemas do país. Na prática, porém, limitam-se a divulgar os estados de alma do eng. Sócrates.

O truque não é inédito, e começo a achar que talvez não seja deliberado. Quando o eng. Sócrates afirma que criticar o seu desempenho equivale a insultar dez milhões de portugueses, é possível que misture sincera e genuinamente ambas as instâncias. Quando o eng. Sócrates reduz uma eleição decisiva para o futuro desses dez milhões de portugueses a uma exibição de sentimentos íntimos, é possível estar mesmo convencido de que tais sentimentos possuem uma dimensão partilhável por todos. O Estado é ele? Aparentemente, ele e um séquito de fiéis assim o julgam, e o empenho dos media em conferir estatuto de notícia (e, às vezes, de manchete) a cada angústia do eng. Sócrates ajuda a manter a ilusão.

Em qualquer democracia, há a tendência para o partido no poder se confundir com a população em peso. Não me lembro de outro caso democrático em que se confunda a população em peso com um único homem. É quase como se Portugal andasse bem desde que o eng. Sócrates ande bem, um exagero e, ao que se tem visto, um brutal equívoco: a relação é exactamente a inversa. Entretanto, as propostas, dúvidas e críticas de Passos Coelho caíram no esquecimento dez minutos depois de proferidas, não porque não eram pertinentes, mas porque insistir nelas perturbaria o eng. Sócrates, logo o país, logo a harmonia do cosmos. Deus nos livre, se no curioso mundo do eng. Sócrates Deus não for uma redundância
."

Alberto Gonçalves

domingo, maio 29, 2011

Agência de empregos

"Não surpreende ninguém que o Governo possa ter nomeado funcionários do Estado às escondidas.

Não é inédito. Um Governo que brincou às escondidas com a grave crise financeira é capaz de ocultar um elefante no bolso do casaco. É claro que esse milagre da ocultação não dura para sempre. Nem David Copperfield consegue transformar retórica em dinheiro real. A dissimulação é uma nobre arte política para Sócrates e para os seus leais conselheiros. Um dia perceberemos melhor a teia que foi criada durante anos na Administração Pública e nas empresas com participação estatal com a eficiência da melhor bordadeira de São Bento e arredores.

Encarando o Estado como a coutada privada de um partido político, algo que é um dos sinais recorrentes do subdesenvolvimento moral deste país. Tudo isto seria gravemente ridículo se Portugal não continuasse à beira do abismo. As medidas de austeridade draconianas levadas a cabo pelo FMI e pela simpática UE estão a atirar a Grécia para a bancarrota. A Irlanda, como provou a visita de Barack Obama ao país, irá livrar-se de uma forma ou de outra do pior dos males. A ceifeira debulhadora dos mercados vai, após a Grécia, virar-se para Portugal.

E já olha cada vez com maior atenção para Espanha. Niall Ferguson, que é conhecido pelas suas ideias conservadoras, foi claro como a água mais transparente: "O fracasso dos resgates e da austeridade transformou a UE numa máquina de matar Governos". E de degolar os cidadãos mais indefesos dos países periféricos. Mas aparentemente o clube de Sócrates só está preocupado em ser uma agência de empregos.

E não com coisas sérias
. "

Fernando Sobral

sábado, maio 28, 2011

O dinheiro cai do céu

"Em Portugal há alguns vendedores de ilusões. Mas há ainda mais compradores. Nesse próspero comércio, a última ilusão que comprámos foi de que nos emprestaram 78 mil milhões de euros. Queixamo-nos da taxa, fazemos beicinho, "ai, os mercados e tal", e começamos a contar notas. O Diabo deve estar a rir atrás de uma cortina.

A chegada dos primeiros cheques "externos" é anestésica, dá a falsa sensação de que apenas substituímos financiadores: depois dos mercados, empresta a União Europeia e o "femí", como diz Passos Coelho, castiço. Mas o dinheiro não está garantido. E pelo descarrilar da carruagem, está longe disso.

É verdade que a taxa de juro é má. Podia ser melhor, mais amiga. Sabe por que é tão, digamos, alta? Por causa de gente como nós. Por causa dos contribuintes de outros países. Leia na página 8: se a CGD, o BCP e BES utilizarem o aval público na emissão de dívida, pagarão 180 milhões de euros ao Estado. Está o Estado a ser ganancioso com os bancos? Não: está a justificar-se pelo aval. Com os contribuintes alemães, franceses ou finlandeses é o mesmo processo: é preciso mostrar que nós pagamos o risco moral. Ou acha que aqueles países têm melhor opinião nossa do que nós temos dos bancos?

Pergunte a um dos presidentes de empresas cotadas que estiveram esta semana em Wall Street como se sentiu. Sentiu-se pequeno. Investir em Portugal? Nem se fala nisso. As perguntas dos americanos eram outras: Portugal vai cumprir o plano? Vai ter estabilidade governativa? Vai reestruturar a dívida? Vai manter-se no euro?

O dinheiro não está garantido. O plano da troika é muito, mas mesmo muito difícil de cumprir. Tem prazos impossíveis. Os lóbis, os grupos de interesse, as corporações já desembainharam as suas inércias. A Justiça. O poder local. Os militares, que se anteciparam e fizeram promoções não autorizadas e para as quais não há dinheiro - mas ninguém ousa levantar-lhes o sobreolho, quanto mais uma palha.

Mesmo que tudo corra bem em Portugal, estamos numa escarpa. A Grécia está à beira de uma catástrofe social, que pode suceder à inevitável renegociação da dívida. Ontem, pela primeira vez, um membro da Comissão Europeia disse as palavras proibidas: "O cenário de saída da Grécia do euro está, agora, em cima da mesa". Disse-o a comissária Maria Damanaki. Maria Damanaki é grega.

Isto não é chantagem, é desespero. O euro pensava que estava na crise da puberdade, mas percebe agora que está com uma doença que desconhecia e não sabe como debelá-la. A Grécia na ruína. Espanha com um cataclismo político. Bélgica e Itália sob aviso das agências de "rating". E a Europa tem uma Comissão Europeia enfraquecida, tem a Alemanha e a França a correr atrás da própria cauda, tem os países com interesses desalinhados e conflituosos. E gente a mais a decidir e a impedir. Numa luta entre as cabeças de uma hidra, o silêncio só chega quando a hidra morre. No Titanic europeu, a orquestra já não toca, corre-se para os salva-vidas. Mas não mandam mulheres e crianças primeiro, são os mais fortes que ocupam os lugares. O mundo nunca foi justo.

Portugal tem de cumprir o plano para fazer o mínimo que pode por si mesmo. Os políticos parecem pouco disponíveis para tamanha tarefa mas, como dizia Teixeira dos Santos, o próximo Governo pode começar por poupar nas cadeiras: não há tempo para sentar. Talvez assim - talvez - não saiamos do euro, não caiamos na ruína. O dinheiro cai do céu. Mas desaparece terra adentro. Nem o vemos. Mas vamos pagá-lo. Esperamos nós
."

Pedro Santos Guerreiro

sexta-feira, maio 27, 2011

O socialismo em Espanha, em Portugal e em França

"Depois da maior derrota do socialismo na Catalunha em Novembro último, Zapatero levou o seu partido a um debacle sem comparação histórica no passado dia 22 de Maio.


(1) Depois da maior derrota do socialismo na Catalunha em Novembro último, Zapatero levou o seu partido a um debacle sem comparação histórica no passado dia 22 de Maio. O descalabro eleitoral do socialismo espanhol surpreendeu as próprias sondagens e fez-se sentir nos feudos de 35 anos (Astúrias, Castilla-La Mancha, Extremadura, Andaluzia, cinturão vermelho de Madrid). E frente a uma direita bastante incompetente, atulhada em escândalos de corrupção, e sem qualquer programa político, com um líder perdedor e sem carisma. Nem a decisão de afastar Zapatero anunciada em Março, nem uma nova lei da morte digna aprovada no último minuto para pedir o voto de esquerda salvou o socialismo espanhol. Agora é um partido tão queimado e tão derrotado que fala-se abertamente de uma refundação.

(2) Zapatero governou como a esquerda mediática gosta. Sem fazer qualquer reforma estrutural durante seis anos, alinhando por uma ideologia de confronto e em nome do Estado social contra o neoliberalismo, anunciado leis que agradavam às várias minorias que se congregaram nessa coligação radical. Confundiram sorte com sagacidade política. E, quando chegou a crise e o fim da festa, mostraram o que são, um bando de incompetentes e oportunistas, sem qualquer verdadeira vocação social-democrata frente aos interesses económicos (em especial, da banca). Abandonaram os mais desprotegidos e os mais fracos, de quem gostam tanto de falar, à sua sorte. Aplicaram fielmente as medidas da ortodoxia dos interesses financeiros. O povo falou concentrando o poder político na direita como não acontecia desde o fim do franquismo.

(3) Sempre que a esquerda espanhola está em dificuldade, aparecem uns curiosos movimentos de rua, "espontâneos", pedindo uma democracia real, falando em nome do povo, lutando contra o neoliberalismo e o capitalismo selvagem. Foi assim em 2004, agora em 2011, o movimento 15M. Novamente acarinhados pelos mesmos (Grupo Prisa, Cadena Ser, El País, respectivos canais de televisão), com o mesmo discurso de deslegitimação de umas eleições absolutamente democráticas. Mas sempre coerente. Se só a esquerda é democrática, evidentemente que qualquer acto eleitoral ganho pela direita não é verdadeiramente democrático. Infelizmente para o movimento 15M não teve nenhuma influência no voto, nem mesmo em Madrid ou em Barcelona. Demonstra-se mais uma vez que a realidade mediática é bem distinta da realidade política da imensa maioria da cidadania. Têm direito a ocupar o espaço mediático durante dias, falam em nome de um povo abstracto, mas não têm votos. Deve ser porque os votos são burgueses.

(4) Para quem acompanha a campanha eleitoral desde fora de Portugal, e não está pois sujeito à espuma dos pequenos factos do dia-à-dia eleitoral, tudo se parece muito a 2009. Mesmo depois de levar Portugal à bancarrota, depois de incumprir todas as suas promessas de 2005 e 2009, sem resultados em nenhuma das suas políticas, o PS aí está com 30-35%. Evidentemente não é nem a propaganda (que só pode enganar quem quer), nem a comunicação social (ambos os lados queixam-se o que é um bom sinal), nem a estupidez dos eleitores. Trata-se sim de uma fenómenos social perfeitamente racional.

Fundamentalmente o PS encarna o partido dos interesses corporativos e financeiros que se instalaram no Estado e que evidentemente nos levou à bancarrota. Com uma tradição histórica de séculos, os interesses corporativos alinhados com os interesses financeiros reapareceram alimentados pelos fundos comunitários tão generosamente desperdiçados pelo cavaquismo. Abandonaram o PSD, passaram de armas e bagagens para o PS em 1995, e desde aí lá estão. Cresceram e engordaram. Garantem os resultados eleitorais do PS, sempre acima dos 35% (mesmo quando perde em 2002).

A mensagem de José Sócrates é muito clara: a situação não está boa para os interesses corporativos instalados mas connosco vamos fazer de conta que implementamos as exigências do FMI, umas coisitas aqui e ali para manter as aparências, mas fundamentalmente vai ficar tudo na mesma. Foi assim nos últimos dois anos, era assim com o PEC IV, vai ser assim. Foi um discurso ganhador em 2009, talvez volte a ser em 2011. Se o PSD não perceber o que isto representa em termos sociais arrisca-se a um Governo Durão-Portas II com os resultados que sabemos.

(5) No final dos anos 90, entre a jovem ignorante, manipulada, ingénua, utilizada pelos meios políticos da direita e o todo-poderoso inteligente e experiente Presidente dos Estados Unidos, o movimento político e académico feminista tomou partido pelo último. Ainda hoje não se recuperou. E não consta que venha a ressuscitar tão cedo. Uma lição que a esquerda caviar-gucci-champagne devia aprender. Temo que ao despreciar a imigrante africana, mãe solteira, iletrada, sem recursos económicos para cair nos braços de quem é o melhor exemplo da alta burguesia "énarque", influente e poderoso, acompanhado dos melhores advogados e apoiado pelo melhor agência de comunicação norte-americana, a esquerda francesa se tenha esquecido do que supostamente diz representar. Paz à sua alma
. "

Nuno Garoupa

quinta-feira, maio 26, 2011

Alô, FMI? Ponham uma sentinela em Lisboa

"Os sinais de que temos governantes irresponsáveis multiplicam-se a cada dia. Senão veja-se. Na 3ª feira a UTAO denuncia que a execução orçamental do 1º trimestre está afectada porque o Governo adiou o pagamento de 200 milhões de euros. No mesmo dia, o Ministério das Finanças diz que os 200 milhões são coisa pouca. Nessa noite o 1º ministro faz um lamentável número de ilusionismo, dizendo que estavam apenas em causa atrasos nos descontos para a Caixa Geral de Aposentações. Esqueceu-se dos pagamentos adiados… E, pasme-se, deu a entender que quando o Estado se atrasa nas contribuições não é grave. Ao contrário das empresas, que são imediatamente perseguidas…

Ontem o Negócios divulgou que o Governo deu instruções ao Fundo de Capitalização da Segurança Social para comprar dívida pública, quando percebeu que os bancos iam deixar de acorrer aos leilões. Atente-se na gravidade da decisão: o Fundo foi criado para gerir activos, de forma a criar reservas para o caso de um dia a Segurança Social ficar sem dinheiro para pagar pensões. É esta instituição, com regulamento e critérios de gestão próprios (técnicos), que o Governo decidiu manipular para disfarçar, em desespero de causa, a pré-bancarrota do país. É de ficar com os cabelos em pé!

Chegados aqui só apetece perguntar: já alguém questionou o FMI sobre estas jogadas (nomeadamente a manipulação da execução orçamental)? Não é melhor convidá-los a colocar uma sentinela na sala contígua à do ministro das Finanças? É que como a malta não se sabe governar, pelo menos evitamos o vexame de, um dia destes, o FMI vir dizer (publicamente) que a ajuda externa está suspensa.
"

Camilo Lourenco

quarta-feira, maio 25, 2011

É verdade a Grécia martelou as contas.
Mas onde estava o exército de eurocratas que se reformam aos 50 anos e não viram, ou melhor fecharam os olhos? Ao serviço de Wall Street.
Sai do Euro?
O Euro está morto dese que nasceu foi comandado à distância por Wall Street, os das agências de rating, detidas pelos 5 grandes bancos americanos, to big to fall ou too big to fail.
Portugal e o sul da Europa serviram à Alemanha enquanto compravam os produtos deles, agora cairam, no engôdo dos chineses aliados aos americanos que não querem os mercados controlados depois do subprime e tudo se resume a isto, daí a queda DSK, o resto é CSI de baixo nível.
Pouco aqui posso escrever, isto está controlado e o computador é vítima de ataques sistemáticos e eu não sou nada.

terça-feira, maio 24, 2011

Lágrimas

"O princípio da igualdade está na Constituição, não na vida. Alguns portugueses podem emitir delírios impunemente. Outros portugueses nem sequer podem constatar uma evidência. Alguns repetem de cinco em cinco minutos que a crise nasceu com a rejeição do PEC IV, ou que sem o TGV o país é cirurgicamente removido da Europa, ou que os porcos pedalam bicicletas. E ficam impunes. Outros correm sérios riscos mesmo quando dizem uma verdade.

Pedro Passos Coelho pertence ao segundo grupo. Um destes dias, o líder do PSD sugeriu que o programa Novas Oportunidades "certifica a ignorância" e foi trucidado. O eng. Sócrates, a voz embargada e a hipocrisia solta, acusou-o de "de insultar os 500 mil portugueses que obtiveram com o seu esforço e coragem uma melhoria das suas habilitações". O isento presidente de uma Agência Nacional para a Qualificação (ANQ), o penduricalho institucional que gere o programa, acusou-o de "desconhecimento" e "irresponsabilidade". A sra. ministra da Educação acusou-o de "desfasamento da realidade". A imprensa gritou "escândalo".

Removido o simulado chinfrim, um pedestre aproveitamento eleitoral, toda a gente sabe que as Novas Oportunidades constituem a maior fraude de um sistema educativo repleto de fraudes. Ninguém ensina nada, ninguém aprende nada, os formadores arranjam um emprego deprimente e os formandos contam "histórias de vida" e adquirem um papel cuja única utilidade é a de manter empregadores à distância.

Dadas as peculiaridades do seu próprio percurso académico, supõe-se que o eng. Sócrates seja sincero quando chama esforçados e corajosos aos frequentadores das Novas Oportunidades, os quais, na impossibilidade de enviar as "histórias de vida" por fax, têm de se arrastar até uma sala melancólica. Mas aí deveria terminar a tolerância e começar o autêntico escândalo.

Escandalosa é a simpatia, ou no mínimo a indiferença, dedicada a um logro que envolve centenas de milhares de criaturas. Escandalosa é a exploração das criaturas para embelezar as estatísticas e servir a propaganda. Escandalosas são as lágrimas (lágrimas, santo Deus) do eng. Sócrates quando evoca as criaturas. Escandaloso é o recurso a meios públicos para arregimentar criaturas a fim de testemunharem nos comícios do PS (aconteceu pelo menos em Vila Franca de Xira). Escandaloso é o país que admite isto, não as afirmações do dr. Passos Coelho, que por uma vez acertou em cheio. Se compararmos com a concorrência, acertar uma vez já não é mau. As dores da concorrência provam-no
."

Alberto Gonçalves

segunda-feira, maio 23, 2011

As 72 virgens podem esperar

"É um sinal das prioridades da época que a detenção de Dominique Strauss-Kahn abafasse a notícia da semana: a descoberta de vasta colecção de pornografia no esconderijo de Bin Laden. É sempre bom perceber que o transtornado asceta possuía semelhanças com o comum dos mortais. Uma das semelhanças, aliás demonstrada em segundos pelos militares americanos, consistia na mortalidade propriamente dita. A outra era o facto de apreciar um bom forrobodó.

Presumivelmente ao contrário do material em causa, as fontes da Casa Branca não são muito explícitas sobre o tipo de pornografia encontrado. Se sabemos tratar-se de cassetes vídeo, arcaísmo necessário numa casa sem internet, não sabemos detalhes acerca dos realizadores das fitas, nem dos respectivos actores, enredo, tara ou orientação sexual.

De qualquer maneira, sendo curiosa o fascínio de Osama pelo exacto deboche que, em parte, lhe justificava a jihad, a contradição não é inédita. Quando a guerra no Afeganistão começou a espantar os terroristas das suas tocas, nas tocas ficaram retratos dos valentes guerrilheiros maquilhados e travestidos.

Pelos vistos, o ódio desses fanáticos ao Ocidente não se deve aos princípios éticos e religiosos que nos abstemos de respeitar: deve-se à assaz terrena inveja. O problema não é a facilidade com que contemplamos mulheres despidas ou a tolerância que dedicamos aos homossexuais. O problema é a dificuldade dos fanáticos em aceder ou tolerar as mesmas licenciosidades, para citar a imortal expressão do prof. Freitas do Amaral. Remexidos com jeitinho, os armários de Bin Laden ainda revelarão garrafas de uísque, bifanas, colectâneas musicais, arte sacra e toda a parafernália pecaminosa de que os taliban e aparentados se auto-excluíram.

Afinal, eles não nos detestam por sermos como somos: detestam-nos por se terem proibido de ser iguais a nós, pormenor que os torna mais humanos. Doidos varridos, mas humanos
. "

Alberto Gonçalves

domingo, maio 22, 2011

O desespero em horário nobre

"Nunca achei que a destreza oratória constituísse um bom critério de avaliação dos políticos, que por mim podiam ser mudos sem grande prejuízo. A generalidade dos nossos comentadores discorda. Às vezes, os comentadores parecem julgar os candidatos eleitorais apenas pela lábia, opção a que têm direito mas à qual deviam conceder algum rigor.

Repare-se, a propósito, no mito erguido em volta de José Sócrates. De acordo com a maioria da opinião publicada nos últimos anos, o eng. Sócrates é insuperável em debates televisivos. Ninguém explica porquê: o homem é insuperável e pronto.

Curioso, na medida em que eu, que sou distraído, já vi o invencível eng. Sócrates perder debates. Na campanha em curso, então, vi-o perder dois dos primeiros três (Jerónimo, uma simpatia, não conta) e afundar-se embaraçosamente no quarto e último, por acaso o que lhe interessava. Após o enxovalho de sexta-feira, os estúdios dos diversos canais encheram-se de convidados que se confessavam surpreendidos pela prestação de Pedro Passos Coelho.

Se Passos Coelho surpreendeu foi por afirmar aquilo que o esquecimento ou uma desvairada estratégia o levaram a calar durante demasiado tempo: o eng. Sócrates, e não ele, governou o país nestes seis anos; o eng. Sócrates, e não ele, arrastou-nos para a presente miséria; o eng. Sócrates, e não ele, deu suficientes provas de incompetência; o eng. Sócrates, e não ele, recusa aceitar um mero esboço da realidade; etc. Afinal, bastava insistir nas evidências para demolir o mito.

Pela parte que lhe toca, o mito meteu dó. Ao longo de uma penosa hora, o eng. Sócrates revelou as costuras de um método que só funciona na cabeça dos devotos. Na forma, o recorreu a truques que envergonhariam uma criança: as frases feitas e repetidas à exaustão (género "Isto é gravíssimo!", "Isto é demasiado importante!" e "Jamais virei a cara às dificuldades!"), as expressões de choque simulado, os sorrisos estudados e, fruto de menos estudo, as típicas interjeições de desagrado e impaciência.

No conteúdo, a coisa infantilizou-se ainda mais. O universo do eng. Sócrates é habitado por recorrentes bichos papões, da crise internacional às agências de rating, passando pela oposição malvada que rejeita o prodigioso PEC IV. Nada do que acontece é culpa dele, uma alma cândida que desalmadamente se empenha em prol do bom comum e fecha os olhos à destruição que semelhante empenho provoca. Descontada a componente trágica, é engraçado ouvi-lo jurar que Portugal precisa de pessoas responsáveis, não de aventureiros. De qualquer modo, este não é um mestre da retórica e da "comunicação": é um sujeito desesperado.

E será a imagem desse desespero a sobreviver a um confronto a que, para descanso de ambos os participantes, faltaram questões vitais (a reforma autárquica, a Justiça), e onde, para conforto do eleitor médio, Passos Coelho realizou uma deprimente defesa do falecido Estado "social". No auge da agonia, o eng. Sócrates decidiu martelar na extraordinária ideia de que criticar o PS é criticar o país, instâncias que confunde há muito. No dia 5 verificaremos se a pretensão tem fundamento. Se depender do debate, não tem
."

Alberto Gonçalves

Portugal suburbano

"Pouco se fala no preconceito social da esquerda. E, no entanto, não há preconceito maior: sob a capa da ‘igualdade’, o que existe é um horror ao povo e uma reverência infantil pelas castas.

O fenómeno é português. Mas é também europeu. Em Portugal, basta citar o gozo com que a esquerda fala do ‘africanista de Massamá’, uma reedição do clássico ‘rapaz de Boliqueime’.

O cheiro a subúrbio é um bálsamo para o parolo cosmopolita. E se assim é em Portugal, a coisa amplifica-se em França com a prisão de Strauss-Kahn. Prisão justa? Injusta? Não sei e não me interessa. Mas sei e interessa-me a forma como a esquerda insinua que nem todos os homens são iguais perante a justiça. Quando existe um ‘notável’ que desaperta as calças, é preciso desapertar também a moral e as leis.

A única diferença entre a França e Portugal é que Paris não é Lisboa. E apesar de uma decadência ininterrupta desde 1871, a França continua a jantar na mesa dos grandes. Portugal, quando muito, limpa as migalhas. E, nos intervalos, diverte-se com os suburbanos sem se aperceber que o verdadeiro subúrbio somos nós
."

João Pereira Coutinho

sábado, maio 21, 2011

Pior é impossível

"(Onde o autor explica que em Portugal, excepto o humor negro, tudo vai piorar para além do que já se sabe mas não se imagina, ao ponto de temer uma vaga de refugiados a atravessar o Mediterrâneo para sul, a guerra civil na Líbia não sendo sequer um obstáculo, pois, no País, o Muro de Berlim para derrubar é psicológico).


Nada para começar um assunto lúgubre como uma entrada ligeira, para ir compensando a depressão que se segue. E então estava o optimista a falar com o pessimista e dizia: "Isto está impossível, não há empregos, os preços sobem, está tudo endividado e não há dinheiro, somos a risota da Europa, o Sócrates afirma que o acordo com a troika é bom, logo deve ser horrível; eu digo-te que dentro de um ano estamos a comer lixo". E diz o pessimista: "Se o houver".

Apesar do assombroso resultado de Sócrates nas sondagens (na última que vi antes de escrever estava à frente), não acredito que a insanidade do eleitorado vá ao ponto de o premiar pela bancarrota, as aldrabices, o FMI que tinha 10 milhões de portugueses a servir de dique, as engenharias e a quantidade inacreditável de coisas inacreditáveis que não dá para escrever sem cansar a mão. Não. O PSD vai ganhar e a Direita vai ter maioria, mas eu acho que a Nossa Senhora de Fátima emigrou ela também (provavelmente para a Polónia com a Jerónimo Martins) e que não temos hipótese, devido a esta estrutura mental, constitucional, política e social, de esquerdismo conformisto-subsidiado aliado a tudo que há de interesses instalados.

Eu cá por mim sou liberal (para situar, estou mais próximo de Blair do que da Direita conservadora e tenho vergonha de confessar que votei, ao engano, na rosa de Guterres) e estou perfeitamente seguro de que o meu julgamento não interessa rigorosamente a ninguém, mas gostaria de chamar a atenção para o facto de não haver no mundo economia em crescimento, não advindo de riquezas naturais, a não ser com forte dose de liberalismo económico, ambiente favorável aos negócios e ao empreendedorismo. E quando eu digo favorável aos negócios não é no estilo Partido Socialista-Mota Engil ou CGD-Berardo, mas aquele que quer, entre outras coisas, baixar os impostos às empresas, pois estas é que criam riqueza e empregos, fora das fundações e institutos públicos, e não sufocam com contribuições e regulamentos os que tentam singrar na vida com a sua iniciativa e trabalho. Não digo facilitar a vida aos ricos e poderosos, nem distribuir prémios obscenos a gestores de monopólios, digo permitir que quem vem de baixo chegue a rico e poderoso pelo seu engenho e esforço, e que, na classe média, seja promovido quem se aplica e dá o seu melhor, sem ter que se igualizar com os militantes da "baixa" ou da lei do menor esforço. Isto, em Portugal, é apodado de neo-liberalismo, uma perigosa doença que não se sabe bem o que é, mas que intimida a população, graças às vozes de harpias que vão dos Louçãs aos Sócrates, seja por ideologia seja por demagogia, mas sempre com desinformação.

Portugal, nos últimos 12 anos, entre os 183 países monitorizados pelo FMI, foi o penúltimo em crescimento (por favor releia, porque esta verdade parece inacreditável). Desses 12, nove e meio são sob a batuta do Partido Socialista, o grande guardião do nosso sistema entronizado na Constituição da República que, como qualquer sítio governado por grandes timoneiros, vai programaticamente rumo ao socialismo. Mas é o modelo económico-social do PREC de Estado-mãe, aguado com privatizações e alguma concorrência nos mercados para se poder entrar na Europa, que se encontra vigente, pelo menos de modo a criar um imobilismo mental sufocante. Os portugueses, como qualquer pessoa, sabem o que se passa consigo e com os seus vizinhos, e com eles se comparam, não com o luxemburguês médio, embora tenham possivelmente um primo emigrante tido por rico, mas a ganhar apenas um salário vulgar de lá. Depois têm medo, muito medo, que lhes tirem o pouco que possuem essa ideologia da ansiedade, ainda mais numa população envelhecida, aproveita ao estatismo reinante. Lembro-me, era jovem, de no Porto se começarem a demolir as chamada "ilhas", sítios infectos que as pessoas resistiam a abandonar a fim de saírem para casas novas nos bairros sociais incipientes. Agora é o mesmo, e dentro de quatro anos de resistência militante à mudança das reestruturações anunciadas, muitos sacrifícios e erosão total do próximo governo, tudo voltará à boa velha choldra
."

Fernando Braga de Matos

Como "entalar" Frau Merkel

"Os candidatos a primeiro-ministro andam preocupados com as imposições que tornam Portugal num "protectorado" da Alemanha.


Os candidatos a primeiro-ministro andam preocupados com as imposições que tornam Portugal num "protectorado" da Alemanha (ontem Sócrates distanciou-se da proposta de revisão do período de férias e da idade de reforma, feita por Angela Merkel…). Os três querem convencer o eleitorado que não estão sujeitos ao apertado colete de forças imposto pela Troika.

É uma estratégia errada. Os candidatos deviam virar agulhas e explicar ao eleitorado que até podemos dar lições à Alemanha. Não em tudo, obviamente, mas naquilo que fazemos melhor do que eles. Isso não existe? Existe sim (já lá vamos)…

Só que para isso os candidatos têm de fazer um pacto com o eleitorado: explicar que para lá chegar precisamos, primeiro, de sanear as finanças públicas e melhorar a competitividade. Mobilizando os eleitores para executarmos as medidas da Troika… antes do calendário por ela fixado. Porque só recuperando a credibilidade podemos virar o bico ao prego e dizer aos alemães que há coisas que eles têm de mudar. A fórmula do cálculo de pensões, por exemplo: a nossa (que aumenta a idade de reforma em função da esperança de vida) faz mais sentido do que a deles (que fixou 67 anos como idade mínima). Outros exemplos: dizer a Frau Merkel que a Europa ganha mais se baixar a carga fiscal em vez de a aumentar (como ela quer impor à Irlanda). A questão é que tudo isto só pode ser feito se tivermos "moral". Ou seja, fazendo primeiro o trabalho de casa
. "

Camilo Lourenço

sexta-feira, maio 20, 2011

Querida Madame Min

"Angela Merkel é a querida Madame Min do sonho europeu. Amorosa e amoral. As suas palavras são feitiços mortais sobre a UE e o euro.

São vudu sobre os países periféricos. Se a senhora Merkel é o músculo amigo da Europa, chamemos Átila, o Huno, para nos salvar. As suas declarações sobre os países periféricos, especialmente Grécia, Portugal e Espanha, são a voz do polícia bom antes de mandar o polícia mau para nos torturar. É oficial. A classe política dos países mediterrânicos fez um grande favor à Alemanha: endividaram-se para comprar produtos alemães, destruíram a sua agricultura e indústria para receber subsídios, emprestaram a sua fraqueza económica para que o euro fosse competitivo para as exportações alemãs. Esta é a nossa paga, antes do dinheiro que entra no sul regressar para alimentar a deficiente banca alemã.

O caminho da rua do euro está apontado. À Grécia, depois de devidamente humilhada. A Portugal, daqui a dois ou três anos. À Espanha, a seguir. A nova Europa está a ser forjada pela senhora Merkel com a ajuda do senhor Sarkozy. Acreditam que o feitiço não se virará contra os feiticeiros porque é fácil invocar o número de dias de férias dos outros como trunfo eleitoral xenófobo. É por isso que o debate de sexta-feira entre José Sócrates e Passos Coelho também é importante. Que resposta terá Portugal a uma humilhação anunciada que servirá como uma guilhotina pendente sobre o que resta do nosso orgulho?

O que a senhora Merkel diz não é um sofisma ingénuo. É o anunciar do que nos acontecerá.

Tem a nossa classe política alguma poção mágica contra a nova Madame Min?
"

Fernando Sobral

Sobre a TSU

"A discussão à volta da Taxa Social Única (TSU) tem sido muito pobre e, como parece cada vez mais inevitável, rapidamente resvalou para a demagogia, apesar de o tema ter destaque no MOU assinado entre o Governo (que, como é seu hábito em tudo o que é incómodo, finge que não) e a Troika. E de o líder desta lhe ter atribuído um papel de “mudança de jogo”.

Em causa está uma possível redução da TSU - compensando a perda de receita fiscal com outros impostos, nomeadamente sobre o consumo (que não desenvolvo por falta de espaço) - por forma a aliviar os custos laborais, tem em vista emular os efeitos de uma desvalorização cambial.

Esta funciona através de 2 mecanismos: a) altera, a favor dos primeiros, o preço relativo entre o sector transaccionável (ST) e o não transacionável (SNT), pois que a desvalorização da moeda inflaciona o preço do ST em moeda nacional; b) embaratece o custo laboral, em termos reais, uma vez que a inflação gerada "come" parte do salário nominal.

Neste caso o que se pretende é conseguir o segundo efeito, reduzindo o custo laboral pela diminuição da fiscalidade sobre a factura salarial das empresas. A ideia é que, reduzindo os custos de produção, as empresas possam baixar os seus preços, tornando-se mais competitivas, e vender mais (exportando ou substituindo importações no mercado interno).

O problema é que, se não for possível emular também o primeiro efeito acima explicado, esta acção acabará por se tornar num bónus à rentabilidade do SNT e assim apertar ainda mais o "nó cego" da economia. Essa emulação é mais difícil, uma vez que, não se podendo agora inflacionar o ST, o efeito só se poderá alcançar por deflação do SNT e esta dificilmente será conseguida sem uma intervenção "administrativa". Em teoria, nas actividades onde a concorrência e a elasticidade procura/preço são maiores, os preços poderão ajustar pelo aperto da procura interna. Mas nas actividades com menor concorrência efectiva e baixa elasticidade, não há automatismo que funcione.

Em qualquer caso, se este efeito não for acautelado, há um sério risco de se fracassar no objectivo de "mudar o jogo". O mesmo acontecendo se a medida "central" for tímida ou "gradual" (?!).

Sobre a sua utilidade, não hajam dúvidas de que a produtividade é a variável chave para a competitividade saudável. Mas nessa frente só se conseguem resultados num horizonte de médio e longo prazo. Até lá temos um problema sério de desemprego, agravado com as medidas recessivas para estabilizar a situação financeira. Para minorar este problema só uma redução dos custos de produção - laborais e dos consumos intermédios provenientes do SNT - poderá produzir um estímulo económico nesse sentido.

Esse estímulo põe-nos a competir num patamar mais baixo? Sim, mas pode fazer-nos crescer (ou decrescer menos) e proteger o emprego. O resultado é certo? Não. É possível? Sim. É provável? Sim. Vale a pena? Depende da função de preferência de quem decide e de quem apoia o decisor, pois a escolha é: a) não fazer nada e assumir a queda do PIB e o aumento do desemprego resultantes da austeridade, quaisquer que sejam; ou b) tentar uma via que, não sendo ideal nem garantida, abre uma janela de possibilidade para mitigar aqueles efeitos e relançar o crescimento.

Se o decisor e a sua base de apoio estiverem predominantemente no SNT, qual será a preferência?
"

Vitor Bento

Merkel em deriva populista

"Vamos pagar um preço muito alto por esta deriva populista e xenófoba que se alastra na União Europeia.


Estamos a destruir mais de cinco décadas de paz e desenvolvimento. E os ricos da Europa têm uma especial responsabilidade.

As palavras de Angela Merkel sobre Portugal, Espanha e Grécia não podem sequer ser compreendidas no contexto da habitual leviandade das campanhas eleitorais. A chanceler alemã atirou lenha para uma fogueira que arde em labaredas já demasiado perigosas.

A mensagem da chanceler alemã na terça-feira foi aterradora. Disse Merkel, na terça-feira, que em países como Portugal, Espanha e Grécia as pessoas não podem ter mais férias, trabalhar menos e entrar na reforma mais cedo que os alemães. Mesmo que o que disse fosse verdade, não o deveria ter dito. Porque não é isso que importa para o sucesso da moeda única e porque apenas alimenta a má vontade que cresce em alguns países contra a ajuda aos países do euro em dificuldades financeiras.

Quando vamos verificar nas estatísticas se aquilo que Merkel disse corresponde à realidade, verificamos que, afinal, nada do que afirmou é verdade. Os alemães são os campeões europeus das férias. Os gregos são os que mais horas trabalham. E os holandeses são os que mais tarde se reformam, mas os portugueses estão muito perto deles: ocupam a quarta posição.

Dizer que uma união monetária exige que todos tenham o mesmo número de dias de férias, o mesmo número de horas de trabalho e a mesma idade de reforma é contribuir para a ignorância, a melhor amiga dos populismos e da xenofobia. Essas igualdades são consequências, e não condições para o sucesso do euro.

O que fragiliza o euro são decisões como a suspensão do acordo de Schengen, que garante a liberdade de circulação das pessoas no espaço da moeda única, ou a ausência de recursos comuns, um orçamento, um fundo ou um mecanismo, que façam frente aos choques assimétricos que estamos a viver.

Suspender Shengen por causa da imigração do Norte de África faz pior à moeda única do que a dívida de Portugal, Grécia, Espanha e Irlanda juntas, e contribui para adiar ainda mais as igualdades no mercado de trabalho que tanto preocupam Merkel. Não existir um acordo para apoiar de forma credível os países do euro em dificuldades financeiras - em linguagem económica, "afectados por um choque assimétrico" - ameaça mais o euro do que essas questões que fazem as delícias das conversas populistas.

Na frieza dos factos, países como a Grécia, Irlanda, Portugal e Espanha estão a ser vítimas de um choque assimétrico numa união monetária. As razões que conduziram estes países, e não outros, a esta situação são muitas e variadas, como é de todos os membros do euro a responsabilidade pelo que se passou. Se fosse a Holanda, por exemplo, a enfrentar um choque assimétrico, era assim, com esta racionalidade e sem o populismo de Merkel, que o tema estaria a ser debatido.

Não queremos acreditar que há países no euro que querem recuperar a velha tese de um ministro holandês que, em finais dos anos 90, não queria que os países do Sul da Europa - o clube Med, como lhes chamou - entrassem para o euro. Não queremos acreditar que os planos de ajuda são, afinal, para expulsão do euro. Angela Merkel tem de honrar a memória de Konrad Adenauer e a herança de Helmut Kohl, que ainda esta semana fez avisos sérios.

Alimentar o monstro populista que vai crescendo na Europa do euro é uma caixa de Pandora, é despertar os mais perigosos fantasmas do passado europeu. Os alemães sabem que o projecto europeu tem mais valor do que impulsos populistas. Angela Merkel sabe que uma eleição vale menos que a vida do euro
."

Helena Garrido

quinta-feira, maio 19, 2011

The Flame

Pôr a render

"Para que servem as Novas Oportunidades? Sócrates tem razão: servem para que muitos portugueses possam regressar ao mercado de trabalho, especialmente se entendermos por ‘trabalho’ as sessões de propaganda do PS.

Ontem, o CM informava que o governo solicitou aos centros públicos do programa que enviassem para Vila Franca de Xira alguns formandos. Tudo com o propósito de os ouvir a tecer hossanas ao PS e a enfeitar a campanha. O pedido cumpre a mais gloriosa tradição deste governo em matéria educativa: usar os alunos, sejam reais ou até ficcionais (lembrar a ‘escola do futuro’, em 2007), como peças de adereço na grande encenação do líder. Que isto seja um abuso político e uma subversão pedagógica, pouco importa.

Moral da história? Passos Coelho ‘insulta’ 500 mil portugueses. Sócrates, pelo contrário, prefere pô-los a render
."

João Pereira Coutinho

Da justiça - "no comments"...

"Esmaila Seide Bá, 21 anos, é guineense e tem ordem de expulsão do País. Por isso, não se quis identificar. Deu origem ao tumulto que juntou 60 pessoas à porta da esquadra e que levou a oito detenções - além de 16 identificados por desacatos. Esmaila e cúmplices acabaram libertados, três deles, já ontem, pelo Tribunal de Loures - mas, ao que o CM apurou, estão todos referenciados por crimes violentos.

No caso de Esmaila, que o juiz deixou à solta com apresentações quinzenais na PSP, é suspeito de pelo menos sete roubos por esticão - um dos quais levou a que os agentes o fossem identificar anteontem. Os cúmplices deram-lhe protecção, "numa zona que tomam pelo seu território", dizem fontes policiais, e os polícias foram ameaçados de morte
(mais aqui)".

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quarta-feira, maio 18, 2011

Brave new world

A chico-espertice como arma eleitoral

"CDS e Bloco de Esquerda não entregaram os programas eleitorais até terem começado os debates televisivos.


A jogada permitiu a Portas e Louçã passarem por alguns importantes debates (com José Sócrates e Passos Coelho) sem o ónus associado que um compromisso eleitoral representa. Circunstância que conferiu aos "faltosos" uma vantagem desleal: os adversários tinham pouco a que se agarrar no momento de discutir ideias.

Que o Bloco de Esquerda tivesse feito uma jogada destas, não admira: Louçã está em quebra e precisa de todos os truques para não se afundar. Mas de Paulo Portas, que dirige um partido-chave para uma futura solução governativa, esperava-se mais. Em termos de postura e de conteúdo do manifesto eleitoral (não um programa), que apresentou no último fim-de-semana.
Senão veja-se o que propõe o partido em matéria de peso do Estado e taxa social única (TSU), as duas questões mais discutidas na campanha. No primeiro caso, o CDS diz que se for Governo dará 90 dias aos ministérios para identificarem os organismos que devem ser fechados ou integrados. É pouco: toda a gente sabe o que o Estado precisa de fechar: basta consultar o estudo de Pina Moura, feito há dez anos, para perceber que o que falta mesmo é... fazer. E para isso é preciso ser claro... no programa eleitoral.

Na TSU, o CDS é ainda mais parco. Limita-se a dizer que sem estudos não pode fazer propostas sérias. É pena ver um partido que em tempos teve grandes ideias para reformar Portugal apostar neste quanto-menos-disser-menos-me-queimo-nas-eleições. Portas é sabido, quer ganhar a liderança da direita portuguesa. Mas não é desta maneira que lá vai chegar
. "

Camilo Lourenco

O país invisível

"Construir argumentos a partir de premissas falsas é um velho princípio da política, especialmente quando alguém não está disposto a reconhecer que se equivocou.


Sócrates consegue isso de forma militante, e também transformar a verdade numa ilusão. Para ele, a redução da TSU, algo que foi assinado com o FMI, não existe. Ou então está em letras tão pequeninas que não é para cumprir. Sócrates decretou a inexistência de algo que assinou com Paul Thomson e que é parte crucial do acordo. A única dúvida que sobra é saber se Sócrates assinou o documento com o FMI sem ler o que lá vinha? Ao não dizer nada sobre o que pretende fazer com a redução da TSU, Sócrates vem elucidar-nos de que tudo não passou dum equívoco. Não há memorando assinado com o FMI, não há dívida externa, não temos de pagar juros de mais de 33 mil milhões de euros, não temos de aumentar impostos, não vai haver mais desemprego. Sócrates conseguiu o milagre do eclipse: Portugal tornou-se no país invisível.

Chegamos à mais fantástica das conclusões: foi um duplo de Sócrates que assinou o acordo com o FMI. E como é o verdadeiro Sócrates que está em campanha eleitoral, ele não tem nada a ver com a redução da TSU. Na política portuguesa conseguiu-se o milagre da multiplicação. Há dois Sócrates. O que assinou a redução substancial da TSU; e o que desconhece a sua existência. Há o que assinou um acordo com o FMI; e há um que julga que FMI é uma energia renovável. Às vezes há o Dupont, outras o Dupond. Sócrates não existe. Está finalmente provado. Ao não reconhecer o que existe à sua volta, é ele próprio que não é real
. "

Fernando Sobral

Não odeie os banqueiros, pode tornar-se um deles

" União Europeia aprovou o empréstimo de 52 mil milhões a Portugal. O FMI aprovará mais 26 mil milhões na sexta-feira.


O BCP aumenta o capital em 1,37 mil milhões. O BES pede garantia ao Estado para se financiar em 1,25 mil milhões. Tudo no mesmo dia. Quem disse que a moeda não anda a circular?

BES e BCP estão a tratar da sua vida: o primeiro a tratar da liquidez, o segundo da solidez. Curiosamente, propondo ambos aos seus credores que se tornem accionistas.

No caso do BCP, o aumento de capital foi um sucesso. Mesmo tendo de oferecer um prémio muito grande, o banco convenceu credores a trocarem títulos de dívida perpétua por acções do banco, comprometendo os grandes accionistas a acompanhar o processo. Ou seja, a Sonangol entrou com dinheiro. A operação foi, pois, não só uma lança em África mas também, literalmente, uma lança de África. O futuro do BCP não está resolvido, mas está encaminhado. E está a pedir um novo accionista estratégico, que traga mais dinheiro e mais mercados ao banco. Com ou contra a Sonangol? Bom, isso fica para outro editorial...

O BES é um caso diferente. Precisa de liquidez. E provavelmente ainda precisará de capital. Se for o caso, terá de persuadir o accionista Crédit Agricole a fazer o que a Sonangol fez no BCP. Até lá, já vendeu a posição do brasileiro Bradesco, que não era uma jóia, era uma tiara delas. E olha para o cofre onde está a PT e a EDP, admitindo dar-lhes o mesmo destino.

Ambos os bancos estão a dar tudo para evitar ter de pedir capital ao Estado. Mas não depende só deles. Para já, o BES pede garantia do Estado para continuar a aceder à liquidez do Banco Central Europeu. E muda os seus estatutos para, no caso de não conseguir pagar ao Estado, este se tornar accionista. "Cruzes, canhoto!", dirão.

Dizem bem. Nem os contribuintes querem salvar os bancos, nem estes querem ter de ser salvos. Para vergonha já bastou a Irlanda, que se aniquilou para assumir toda a dívida de bancos que, para mais, nem sequer eram de irlandeses. Sim, a banca tem risco sistémico, mas o caso irlandês é escandaloso: os contribuintes irlandeses salvaram os accionistas estrangeiros dos seus bancos.

Em Portugal, estamos longe da situação irlandesa. No passado, os bancos pagaram impostos de menos e endividaram-se de mais. No futuro, enfrentam aumento do crédito malparado e têm os seus balanços ameaçados pelas desvalorizações. As casas valerão menos. A reestruturação de dívidas soberanas é uma possibilidade, não é mera metafísica. Aliás, se os bancos fossem obrigados a fazer aos títulos de dívida pública que estão nos seus balanços o mesmo que têm de fazer às suas acções - isto é, contabilizá-los ao valor actual de mercado -, os prejuízos eram imediatos. E o que é uma renegociação de parcerias público-privadas se não um corte nos balanços de quem as financia?

Dos três parceiros da troika, só um não assina cheque para o grande empréstimo de 78 mil milhões de euros ao Estado Português: o Banco Central Europeu. Está lá por duas razões: porque representa o poder da banca no acordo; e porque é hoje o maior credor dessa banca portuguesa.

É por isso que agora pedem garantia aos contribuintes. E é por isso que lhe dizemos: não odeie os banqueiros, qualquer dia pode tornar-se um deles. E não vai gostar nada dessa ideia
."

Pedro Santos Guerreiro

terça-feira, maio 17, 2011

I Can't Drive 55

Morreu o PP, renasceu o CDS. Ou talvez não…

"Desde que Paulo Portas iniciou a sua relação com o CDS, o partido já deu várias cambalhotas. Ainda nos tempos em que era o ideólogo de Manuel Monteiro, foi o responsável pela criação do Partido Popular.

O partido foi rebaptizado e abandonou o ADN fundador do centrismo democrata-cristão para se afirmar à direita. Foram os tempos dos tiques anti-Europa. Depois, já com Portas à frente do CDS-PP, vieram os tempos de parceiro no Governo de Durão Barroso. E Paulo Portas, então na pasta da Defesa, assumiu a postura do homem de Estado. Acabaram os radicalismos reguilas e tudo passou a ser dito com uma pose empertigada e uma voz pausada. Desde aí, já houve de tudo: do Paulinho das feiras à imagem do homem ponderado.

Paulo Portas é um político profissional. E dos bons. É do melhor que há no campeonato local. O líder do PP sabe bem o quer: o poder. Quer afirmar o CDS como incontornável para garantir a estabilidade governativa, num País que tem um sistema político pouco favorável a promover maiorias absolutas. Quer ser o fiel da balança da III República. E para isto, sabe que a ideologia deve ser plasticina. Deve ter muitas cores e ser moldável às necessidades do momento. Mais importante é a táctica.

Quem ouviu a apresentação do manifesto eleitoral, confirmou o que já se tinha percebido dos debates televisivos e da pré-campanha. Paulo Portas fez novamente o pino. O novo programa do PSD é mais liberal, mais ideológico, mais clarificador das ofertas políticas. Pedro Passos Coelho teve a coragem de separar as águas e contribuir para a bipolarização. Quem acha que o Estado deve ser o princípio e o fim de tudo, deve votar neste PS de Sócrates. Quem acha que o Estado deve sair de várias áreas da sociedade, da economia e da política, deve votar no PSD. Perante isto, Portas abandonou a direita - entregou-a a Passos Coelho - e acampou no centro. O CDS voltou em força para o PP ficar mais apagado.

Perante os pontos polémicos do programa da ‘troika', Paulo Portas responde com cuidado, cautela, com a necessidade de estudar as respostas com moderação. O caso da redução da Taxa Social Única é um exemplo paradigmático. Ele sabe que os portugueses são conservadores, que neste momento têm medo do futuro e que, por isso, a estratégia do PSD é de alto risco. Portanto, a sua táctica é passar pelo moderado, o pragmático e aproveitar o vazio deixado pela gritaria de ataques entre PS e PSD.

Tendo em conta os dados das sondagens, a vida até poderá correr bem a Paulo Portas que poderá conseguir uma votação histórica. Mas para quê? Para que servem esses votos? O programa da ‘troika' é claro e não há outro caminho para o País nos próximos anos, sob pena de se arriscar a falência real. O programa do PSD é o que melhor bebe as indicações de FMI, BCE e Comissão. É altura de fazer reformas, e em força, e não de estar com caldos de galinha. Portugal precisa de um choque de realidade e não de continuar com os velhos hábitos. Portanto, o PP parece estar fora de tom. Por outro lado, se for para o Governo com os socialistas, Paulo Portas vai dar razão a quem diz que PS e CDS são iguais: forças políticas conservadoras. No passado, Freitas do Amaral cometeu este pecado e deu-se mal. Tudo indica que Paulo Portas será um dos vitoriosos das próximas eleições, mas terá de ter cuidado para não ficar com uma vitória de Pirro
."

Bruno Proença

É inútil ser liberal em Portugal

"Está visto que o insulto mais recorrente da campanha eleitoral será acusar o adversário de "liberal". Sem prejuízo da intenção, a palavra pode aparecer nas variantes "ultraliberal", "neoliberal" ou mesmo "superliberal", já que os prefixos correm soltos quando a terminologia não se deixa tolher pelos constrangimentos da realidade. Os partidos da extrema-esquerda chamam "liberal" ao PS e ao PSD. O PS chama "liberal" ao PSD. E o PSD, pela mão do dr. Passos Coelho, mostra na televisão gráficos que provam o superior "liberalismo" do PS. O CDS, em teoria à direita do sistema, escapa razoavelmente da ofensa.

O engraçado é que imputar tendências "liberais" às forças políticas indígenas, quaisquer que sejam, é igual a responsabilizar um eunuco pela gravidez da vizinha. Com os prodigiosos resultados à vista, vivemos há quase quatro décadas sob um regime socialista e assistencial, que sucedeu a ano e meio de comunismo pró-soviético (ou pró-cubano: não éramos esquisitos), que sucedeu a quase cinco décadas de uma ditadura corporativista e fechada, que sucedeu a década e tal de uma oligarquia jacobina e caótica, etc. Misteriosamente, não alimentamos ressentimentos contra o socialismo, e há por aí inúmeros cidadãos com saudades quer do PREC, quer de Salazar, quer dos rústicos da Primeira República. O "liberalismo", que ninguém conhece e não nos fez mal nenhum, é que ninguém suporta.

Ao longo da História, inúmeros povos sonharam, combateram e sacrificaram-se pela possibilidade de mandar nos seus destinos. Os nossos sonhos, combates e sacrifícios vão todos no sentido oposto. Embora não valha a pena lembrar a etimologia de "liberalismo", interessa notar este horror colectivo à liberdade a sério, por oposição à que se grita em poemas e cantilenas. Dos "trabalhadores" aos "empresários", a maioria baba-se por um Estado vasto e protector. Curiosamente, não desanima face à repetida evidência de que, em última instância, a vastidão do Estado não protege ninguém.

Carlos Abreu Amorim, raríssima excepção a essa tendência nacional, assina uma coluna no DN intitulada "É difícil ser liberal em Portugal". Não é difícil: é inútil, inútil como se o eunuco tentasse realmente engravidar a vizinha
"

Albeerto Gonçalves

segunda-feira, maio 16, 2011

I Don`t Believe A Word

Movimentos...

1/ "Apareceram de cara tapada e colaram cartazes, como quando em Março “invadiram” as instalações do BPN para lá colarem cartazes a acusar “O vosso roubo custou 13 milhões”. Na última madrugada, os alvos do movimento É o povo pá! foram os centros de emprego e, nos cartazes que deixaram colados nos vidros, lê-se “Não queremos subsídios, queremos emprego (mais aqui)”.

2/ "Sondagem: PS ultrapassa PSD (mais aqui)"

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A Europa já não ama

"Há quanto tempo não ouvimos um responsável europeu dizer que "a moeda única é um êxito óbvio"? Há 24 horas.


Achamos que há um problema sem fim na Europa mas para a Europa o problema somos nós. De resto, "é um êxito". Óbvio.

Em entrevista ao "El País", Jean-Claude Trichet assume que a União Monetária segue melhor que a Económica. O presidente do BCE acrescenta que "a situação orçamental da zona euro no seu conjunto está muito melhor que a dos EUA ou Japão. O paradoxo é que temos alguns países numa situação muito má, que exige fortes ajustes." É uma maçada haver Grécia, Portugal e Irlanda. Por isso nos chamam periféricos.

Trichet não é político, é um "técnico". Do ponto de vista técnico, a sua análise está correcta. Mas revela bem o pragmatismo de uma Europa no momento da sua crise e da vulnerabilidade dos governantes eleitos à pressão dos seus eleitores. A ideologia solidária de Jean Monnet e Robert Schuman está no retrovisor mas não se vê mais pela janela.

Ao contrário do que proclamamos, na zona euro estamos todos próximos mas não estamos todos juntos. Não estamos sequer no mesmo barco: Portugal, Grécia e Irlanda passaram para o bote que vai atado ao navio-almirante. Presumir que é "um por todos, todos por três" pode sair-nos caro se provocar mais ilusões. A Europa sempre andou a duas velocidades. Mas agora os mais velozes olham para os outros (para nós) como peso morto que lhes atrasa o passo.


Estamos mais isolados do que queremos admitir. A saída do euro seria uma catástrofe para Portugal mas estamos a usar o argumento errado para nos garantirmos: que seria uma catástrofe também para os outros. Isso pode não ser verdade. O euro é mais importante para nós do que nós somos para o euro.

O argumento de que seremos socorridos porque temos dívida colocada em bancos estrangeiros é falacioso: se alemães, franceses e espanhóis nos ajudarem com dinheiro por causa dos seus bancos, podem preferir ajudar directamente esses bancos. E o argumento de que o ideal da União seria traído, sendo verdade, é apenas uma súplica final. De um dia para o outro, outros dirão que fomos nós que traímos esses ideais ao produzirmos as nossas falências depois das suas subsidiações. É uma visão egoísta? É. Mas não deixará um grama nas suas consciências.


Trichet é o primeiro a dizer (e será o último a deixar de dizer) que a ideia de exclusão de um país do euro é absurda. Como Barroso dirá até ao fim que a reestruturação da dívida da Grécia não acontecerá. Mas ela é possível. Acontecendo, há países que podem propor a expulsão da Grécia do euro. Nessa altura, quereremos estar noutro barco - isto é, fora do bote.

A Europa sofre pressões sem precedentes de eleitores fartos de pagar impostos e passar cheques. Os gregos e, depois deles, os portugueses são vistos como problema e pode decidir fazer-se o que se faz a um braço gangrenado: cortar para salvar o resto do corpo. Em Portugal, temos achado esse cenário impossível, ou porque "isso não se faz" ou porque nos presumimos indispensáveis.

O plano da troika é, mesmo, mas mesmo, uma última oportunidade, que temos de agarrar sem submissão mas com humildade. Só nós nos salvaremos, os outros apenas nos emprestam dinheiro. É bom acabar com a ilusão de que jamais nos deixarão cair e, em vez disso, olharmos para os compromissos brutais de redução dos défices. O plano da troika é a corda que ata o bote ao navio, mas uma corda também serve para forca.

Quando se corta a cabeça à galinha, o seu corpo corre acéfalo alguns segundos - e morre. Mas a Europa tornou-se um animal de sangue frio. E nós não somos a cabeça, somos a cauda da zona euro. E sem cauda vive o lagarto, mesmo se ela treme num estertor final
."

Pedro Santos Guerreiro

A 'troika' nunca existiu

"Ao contrário de muitos, não achei despropositado que Francisco Assis apelasse aos portugueses para conterem a euforia após o acordo com a troika. Sobretudo se o apelo se dirigia prioritariamente aos portugueses que exercem funções directivas no PS, militam no PS ou dependem de alguma maneira do PS e do Estado que o PS, embora não só o PS, galhardamente ajudou a erguer.

Aliás, o dr. Assis foi dos primeiros eufóricos a carecer de moderação. Mal se soube que o "memorando de entendimento" determina a redução ("significativa") do número de municípios e freguesias, o insigne parlamentar correu logo a opinar que concordava com a erradicação de algumas juntas, mas "não acredita" que "se avance para a eliminação dos concelhos", os quais, garante, não são "em número excessivo" no "contexto europeu".

Talvez não valha a pena explicar ao dr. Assis que, salvo uma ou duas excepções, o "contexto europeu" é um nadinha diferente do contexto nacional, leia-se a mendicidade absoluta. O que vale a pena é reler as suas palavras, essenciais para se perceber a atitude do PS face às directivas do FMI e parceiros: no fundo, os senhores que estropiaram Portugal nos últimos seis anos e misteriosamente concorrem a estropiá-lo nos próximos quatro acreditam que, com jeitinho, tudo permanecerá intocável pela parte que lhes toca.

Os "cortes" nas autarquias são um exemplo, por acaso comum aos demais partidos. Há muitos exemplos, assumidos ou implícitos, de exclusiva lavra socialista. Privatização de empresas estatais? Quiçá uma ou duas, na condição de que o Estado, leia-se os amigos do PS, permaneça lá dentro. Abolição de fundações, empresas municipais e portentos afins? Uma pequeníssima fracção, de preferência a seleccionar entre entidades imaginárias. Revisão dos subsídios às energias "renováveis"? As "renováveis" garantem a independência pátria. Moderação do sorvedouro chamado RTP? Não convém "desvirtuar a natureza" do "serviço público". Suspensão do TVG? Não se pode isolar Portugal da Europa. Redução da taxa social única? Com certeza, de 0,25% e nunca (nunca!) dos 8% a 12% de que o sr. Thomson do FMI se convenceu.

O sr. Thomson, que pelos vistos é de uma ingenuidade notável, convenceu-se de imensas coisas. Sobretudo convenceu-se de que lidava com gente suficientemente inapta para afundar uma economia e suficientemente séria para realizar os esforços necessários à sua salvação. Acertou em metade. Na demorada passagem por Lisboa, os delegados da troika ridicularizaram ponto por ponto os desígnios do PS para o País. O PS vinga-se apresentando, e defen- dendo, um programa eleitoral que nem remotamente admite a existência da troika.

Ao insistir na exacta receita que tornou imprescindível o empréstimo, das duas, uma: ou o eng. Sócrates procura aldrabar os cidadãos e termina com a farsa após as eleições ou procura aldrabar os financiadores e leva a farsa rumo à "reestruturação" da dívida (o calote), à saída do euro e ao que calhar. A confirmar-se a segunda hipótese, o eng. Sócrates será justo consigo mesmo: prometeu que não governaria com o FMI e, por uma vez na vida, arrisca-se a cumprir a promessa. Falta saber como. E falta saber se o deixamos. Acima de tudo, falta saber porque é que ainda ponderamos deixá-lo
."

Alberto Gonçalves

domingo, maio 15, 2011

Quem se quer ver sempre se encontra

"O plano de assistência financeira para Portugal ("Plano") contém diversas iniciativas para o relançamento da economia e para a redução do endividamento, mas surpreende na relativa timidez com que aborda a capitalização das empresas, cuja debilidade dificulta a conciliação destes objectivos.

O "Plano" contém as três vertentes de actuação típicas: o reequilíbrio sustentado das finanças públicas, a estabilidade do sistema financeiro e a melhoria dos factores de crescimento potencial. No caso de Portugal, esta última vertente recebe a primazia. Conforme referido pelos responsáveis do FMI, "(…) a primeira prioridade é actuar sobre os problemas de longo prazo e estruturais que têm contribuído para que Portugal tenha registado o menor crescimento económico na área do euro ao longo da última década e a maior taxa de desemprego dos últimos dez anos (…)".

O processo de ajustamento e de crescimento tem de proporcionar uma redução do défice externo, o que implica uma maior competitividade - pelo preço, qualidade ou novidade - dos bens e serviços portugueses. Não é possível replicar a política de há 30 anos, de um Escudo mais fraco, pelo que se recorre a medidas que tentam alcançar efeitos semelhantes. Donde o termo "desvalorização fiscal". De um modo sintético, desincentiva-se o consumo por contrapartida do incentivo à actividade empresarial. Materializa-se sob a forma de um aumento muito significativo da carga fiscal sobre os particulares, no IRS, no IVA, nos impostos especiais sobre o consumo ou no IMI - equivalente a cerca de 1% do rendimento disponível das famílias - e, do lado das empresas, através da redução de custos da actividade, nas contribuições para a Segurança Social, nos incentivos à mobilidade laboral, nas reformas tendentes a resoluções mais céleres do sistema judicial, cujos ganhos são muito difíceis de quantificar.

Ainda neste enquadramento, algumas das medidas mais emblemáticas associam-se ao mercado de arrendamento. Pretende-se, naturalmente, uma maior arrecadação fiscal, mas também contribuir para a mobilidade laboral e para a redução do endividamento das famílias. Esta última intenção merece um pequeno comentário no âmbito dos objectivos da "desvalorização fiscal".

O endividamento das famílias aumentou muito desde o início da adesão ao euro. As taxas de juro, o quadro regulamentar, a ineficiência do mercado de arrendamento constituíram um incentivo forte para o aumento do peso da casa própria na realidade nacional. Cerca de 75% das famílias portuguesas vivem em casa própria (era 65% no início dos anos 90). Este é um valor elevado para os padrões europeus (62% para a média europeia, dados de 2007). A dívida bruta das famílias, naturalmente, que aumentou, rondando actualmente os 105% do PIB, contra valores na ordem de 65% para a área do euro. Claro que, em boa parte, este aumento do passivo das famílias encontra alguma compensação do lado do activo, onde se inscreve a casa propriamente dita. O património financeiro líquido das famílias não difere sobremaneira das médias europeias (valor positivo do património financeiro líquido na ordem de 130% do PIB, para Portugal e para a média europeia). Resumido, o endividamento das famílias portuguesas sobressai pelas preferências e necessidades sociais diferentes.

Neste sentido, pese embora a preocupação com o endividamento das famílias seja sempre pertinente, assume alguma desproporção no Plano quando comparada com uma situação mais crítica para o crescimento económico que é o endividamento das empresas portuguesas, onde o desequilíbrio é mais acentuado. E, sobre este, as medidas são mais esparsas. O património financeiro líquido das empresas portuguesas (incluindo empréstimos e capital) é negativo, o que é uma situação normal. Mas, ascende a cerca de 170% do PIB, quando os valores médios europeus rondam os 100%. Tomando em consideração a realidade sectorial, o panorama não melhora: o valor da dívida líquida face aos resultados operativos é em média 1,5 vezes superior em Portugal ao valor que se regista noutros países europeus. Em alguns sectores, como na construção, imobiliário, alojamento, restauração e lazer, este rácio é quase superior em dobro ao valor médio europeu.

Quanto ao financiamento que poderá ser disponibilizado a Portugal nos próximos três anos, os 78 mil milhões de euros representam cerca de 1/5 do endividamento bruto total da economia portuguesa (aprox. 380 mil milhões de euros a valores do final de 2010, contabilizando apenas rubricas de dívida). Mas o plano não pretende financiar na totalidade a nossa dívida, tem por objectivo final o retorno progressivo do país a um financiamento normal em mercado. Nem financia directamente o sector privado. Os fundos são disponibilizados ao Estado, por intermédio do Estado (fundo de recapitalização do sistema financeiro de 12 mil milhões de euros a deduzir aos fundos totais) ou com recurso às garantias do Estado (aumento das garantias do Estado para 35 mil milhões de euros). O Plano institui um mecanismo extraordinário de financiamento do sector público, mas o sector privado tem de continuar a encontrar os recursos para se refinanciar ou então tem de reduzir a dívida para com o exterior (que na sua maioria foi intermediada pelo sistema bancário, donde a preocupação com a respectiva estabilidade).

Relançar a economia, designadamente pelo reforço do sector dos bens transaccionáveis, em simultâneo com um processo de redução do nível de endividamento, onde as empresas se destacam, com fortes limitações institucionais e regulamentares relativamente à exposição a risco no sector bancário e consequentemente sobre a respectiva capacidade de conceder crédito à economia, constitui um desafio exigente. Surpreende, por isso, a relativa timidez como o tema do endividamento das empresas ficou plasmado no Plano, nomeadamente quando comparado com o conjunto de iniciativas relacionadas com o endividamento das famílias. benefícios fiscais na retenção de resultados, incentivos para que os sócios/accionistas reforcem a estrutura de capital das suas empresas, repatriamento de poupanças, prémios de produtividade, regimes favoráveis a fundos de recapitalização das empresas, promoção do redimensionamento das empresas de modo a criar condições, apetência e capacidade para obter financiamento no mercado de capitais, seriam, decerto, medidas que não destoariam do restante rol e que certamente se enquadrariam nos desígnios do Plano e de Portugal.
"

Gonçalo Pascoal

sábado, maio 14, 2011

Tributar o consumo

"A polémica sobre a Taxa Social Única é mais um sinal da nossa irresponsabilidade política.
Pode não se gostar da medida; podem ter-se dúvidas quanto à sua eficácia; mas não se pode assinar um memorandum e fazer de conta que nada aconteceu: PS e CDS não podem dizer que não sabem o que vão fazer, porque ainda estão a estudar o assunto, e o PSD não pode dizer que a reestruturação do IVA faz milagres. Uns e outros sabem que ou se baixa a TSU de forma significativa, ou o impacte nas exportações é negligenciável (daí a entrevista de Poul Thomsen, ao site do FMI, onde defende uma redução agressiva da TSU…). A conclusão é óbvia: ou se compensa a quebra das receitas com um agravamento do IRS ou do IVA.

Qualquer destas medidas tem consequências para a economia. A questão é saber qual o mal menor. Vejamos: qual a principal restrição da economia portuguesa? Elevado défice externo, sinal de que Estado e famílias vivem acima das suas posses. Neste contexto, a baixa dos custos das empresas, via TSU, ajudaria as exportações. Ao mesmo tempo, uma subida do IVA, sem ser a solução ideal, ajudaria a conter o consumo (onde pesam as importações).

PS, PSD e CDS estão fartos de saber que não há soluções mágicas (é estranho, por exemplo, que ninguém alerte que uma baixa significativa da TSU não se poder manter "ad aeternum"…) e que o País vai ter de fazer grandes sacrifícios. É lamentável que estejam a esconder isso do eleitorado
. "

Camilo Lourenço

sexta-feira, maio 13, 2011

Virou cobra sem veneno

"No sítio do “Luís, estou bem assim?” ninguém dorme. Se o inimigo fala de televisão, sai televisão; se na agenda há impostos, sai impostos; vem batata, sai batata. Julga-se que se pode enganar o povo todo durante todo o tempo.

Custa entender o óbvio. Custa quando se embarca na ideia feita que cresce na ironia com sentido: "um conservador é um liberal que já foi assaltado". Não está longe do efeito que um conservador como José Sócrates procura com uma estratégia que revela a pobreza do conteúdo. Sócrates está esmifrado e vazio: também ele foi abalroado.

A história lamentável do PS e da taxa social única - será que o primeiro-ministro já não lê os documentos que subscreve? -, o texto demolidor de Wolfgang Münchau, no "Financial Times" - que diz de Sócrates o que nem o PSD ousa dizer -, o programa eleitoral do PS - que se aproxima no conteúdo do best-seller ‘Livro em Branco'. Tudo isto é triste e converge para um desastre anunciado.

Voltemos a Münchau e à liberdade de pensamento que o FT preserva: "A forma como Portugal tem gerido, e continua a gerir, a crise é assustadora. O primeiro-ministro português, José Sócrates, escolheu adiar o pedido de ajuda financeira até ao último minuto. O seu anúncio, na semana passada, foi um momento de tragicomédia nesta crise. Com o país à beira do colapso financeiro, o sr. Sócrates declarou na televisão nacional que conseguira um melhor acordo do que a Grécia e a Irlanda. (...) Quando os detalhes foram conhecidos, pudemos ver que nada disto era verdade. (...) Não se pode gerir uma união monetária com governantes como o sr. Sócrates".

Perguntado, o primeiro-ministro ignora, não só a influência da opinião como a sua existência, num processo de negação que pretende afastar do seu alcance o que o puxa à realidade.

Nada disto é relevante, da mesma forma que não se valoriza a declaração do comissário Olli Rehn sobre as exigências do memorando de entendimento: uma ambiciosa agenda de privatizações, alterações profundas nas regras do trabalho. No essencial e numa leitura simpática, um plano "doloroso e difícil para o povo português".

É esta a realidade que deixou o líder do PS sem programa, sem discurso e sem estratégia. A táctica resume-se ao efeito que a mudança cria numa sociedade agarrada ao conforto do Estado. É provável que um conservador seja um liberal que já foi assaltado. E, assim, constrói-se o medo.

Acontece que a manha de Sócrates já não assusta. Também por ter perdido essa faculdade, vai perder as eleições. Virou cobra sem veneno
."

Raul Vaz

O grande comunicador explicado às crianças

"Estou capaz de dar uma dentada na próxima pessoa que se chegar ao pé de mim e disser que José Sócrates é "um grande comunicador".

À medida que o PS sobe nas sondagens é como se os dotes comunicacionais do primeiro-ministro crescessem na mesma proporção, aproximando-se do Olimpo da retórica. Oh, que comunicador extraordinário! Não me lixem. Kennedy foi um grande comunicador. Luther King foi um grande comunicador. Obama é um grande comunicador. Sócrates é um artista de circo, que faz sempre os mesmos truques na televisão, para grande espanto do povo.

Nos Estados Unidos ou em Inglaterra, onde as pessoas aprendem na escola a falar em público, qualquer estudante de retórica de 14 anos saberia desmontar os seus truquezinhos baratos. Aqui, acolhemos as performances de Sócrates como se elas fossem um prodígio. E toda a gente diz: "Ele nunca perde um debate!" "Ele nunca se atrapalha numa entrevista!" Por amor de Deus. Serei só eu a reparar que os extraordinários dotes oratórios de José Sócrates se resumem a ser capaz de canalizar todas as questões para três míseras ideias, que não aguentam 20 segundos de reflexão?

No próximo debate em que intervier, recorte este texto e confira. É muito simples: o que quer que seja que perguntem a Sócrates vai acabar numa destas três respostas. 1) "Só estamos assim por causa da crise internacional, a maior dos últimos 80 anos." 2) "Os partidos da oposição estão a assinar o mesmo PEC que recusaram, apenas por cobiça de poder." 3) "Eu posso ter cometido erros, mas nunca cometi o erro de não agir." Perguntem a José Sócrates "o que é que comeu hoje ao almoço?" e ele vai responder-vos 1, 2 ou 3. Perguntem-lhe as horas e ele vai responder-vos 1, 2 ou 3. É isto um grande comunicador? Nós já abdicámos de nos governar. Pelos vistos, também estamos dispostos a abdicar de pensar
."

João Miguel Tavares

quinta-feira, maio 12, 2011

O nosso Gastão

"Gastão, o sobrinho do Tio Patinhas, gostava tanto de gastar que, quanto mais gastava, mais pobre ficava.

Isso não o demoveu da sua alucinação. Sócrates foi o nosso Gastão. Pior: quer continuar a sê-lo, agora disfarçado de Tio Patinhas. Mas é a ele que temos de dever a dura realidade: os portugueses não vão ter apenas de trabalhar para pagar o que comem mas vão ter de trabalhar mais para pagar o défice e os colossais juros do empréstimo interessado da UE e do FMI. O grande legado de José Sócrates a Portugal é uma camisa-de-forças de onde dificilmente sairemos e que nos vai custar os olhos da cara. Portugal não foi vendido por 30 dinheiros.

Mas vai pagar perto de 6% de juros. Os valores equivalem--se. Já é oficial: a Europa substituiu o Festival da Eurovisão pelo Euroficção. A gula da Zona Euro não vai resistir a esta longa marcha para a insolvência colectiva. Mas isso não nos livra das responsabilidades dos nossos gastadores de serviço que foram inundando o País de patranhas. Sócrates não foi apenas o rei dos gastadores. Instituiu também o sufoco democrático. A maior bancarrota que nos lega é a moral. Dissolveu-a nos interesses pessoais do seu grupo. Portugal está cansado do seu Gastão. E o PS do seu Sócrates. Por que é que não é libertado das suas funções para ir descansar? O que é espantoso em toda esta ficção, que transforma Portugal num sítio de desenhos animados, é que Sócrates continua a transfigurar-se como se fosse ele o defensor do Estado social. A maquilhagem retórica não esconde o essencial: quem esbanja recursos destrói, mais do que ninguém, o que diz defender
"

Fernando Sobral

Não há pão para doidos

"A campanha eleitoral ainda não começou e os indígenas já andam a ser bombardeados pelos partidos com notáveis propostas, bonitas promessas e extraordinárias ideias para o futuro.

Até parece que não andaram por cá uns burocratas europeus a tratar da vidinha da Pátria para os próximos anos.

Até parece que o acordo com a troika é coisa do passado e que agora são os queridos políticos que vão decidir as reformas na educação, na saúde, na economia, nas finanças, na justiça e por aí adiante. É evidente que neste quadro de indigência nacional o espectáculo é verdadeiramente hilariante. Há quem proponha o aumento do IVA da cerveja de manhã, do vinho à hora do almoço, da coca--cola mais pela tarde e da electricidade quando o Sol desaparece no horizonte.

Há quem admita que um professor de Setúbal pode ir para as Finanças do Porto, um jardineiro de Bragança para o hospital do Algarve e um médico do Minho para o registo civil da Guarda. Mas felizmente que os credores e os que vão emprestar 78 mil milhões de euros já sabem do que a casa gasta e avisaram, ontem, mais uma vez, que depois das eleições vai tudo andar a toque de caixa sem direito a devaneios. Isto é, não há pão para doidos
. "

António Ribeiro Ferreira

quarta-feira, maio 11, 2011

A primeira derrota de Sócrates

"Paulo Portas mostrou no debate da TVI como se pode bater o "animal feroz".
A sua estratégia, assente em dois pilares, tinha um único objectivo: descredibilizar o 1º ministro, associando-o ao desastre financeiro que tornou Portugal um protectorado da União e confrontando-o com a inconsistência do seu próprio discurso.

Portas insistiu, até à exaustão, no disparo da dívida pública, na bancarrota iminente da República, na comparação (desfavorável) com os parceiros do Euro, na subida do desemprego (sobretudo dos jovens)... Depois confrontou Sócrates com declarações da Troika (Portugal devia ter pedido ajuda mais cedo), do ministro das Finanças (só há dinheiro até final de Maio), com o artigo de Wolfgang Munchau no FT ("Não se pode gerir uma união monetária com governantes como Sócrates") e lembrou o célebre "não governo com o FMI".

Sócrates foi colhido de surpresa. E tirando alguns momentos em que recuperou a iniciativa (como quando lembrou o caso dos submarinos e atacou o CDS por não ter ainda programa), acabou refém dos próprios erros: a tirada para explicar porque jurou não governar com o Fundo não deve ter convencido nem a mãe; a desculpa sobre não ter lido o Financial Times foi deprimente (e cheirou a mentira…). Mas onde Sócrates baqueou fragorosamente foi no corte das pensões mais baixas, associado ao PEC IV: o 1º ministro desmentiu ter pensado em cortá-las, mas Portas atirou com documentos do próprio governo que mostram, apesar do discurso alterado, que o corte esteve mesmo em cima da mesa.

Moral da história: a tarefa de Passos Coelho, que vai ser o último a debater com Sócrates antes das eleições, ficou muito mais difícil
…"

Camilo Lourenço

O inimigo público

"Pode o Estado incentivar as famílias a realizarem um sonho para mais tarde o transformar num pesadelo?


Não só pode, como não hesita em fazê-lo. Por iniciativa própria ou por imposição de terceiros mas sempre porque a má gestão dos recursos que subtrai à economia o obriga a compensar os erros acumulados com a solução fácil de espremer a carteira dos contribuintes.

O caso não é único mas é um dos que mais dor vai provocar nos bolsos das famílias durante os próximos anos. Estimuladas a comprar casa pela conjugação de baixas taxas de juro com isenções fiscais, a que se somou a possibilidade de deduzir no imposto sobre o rendimento uma parte dos custos suportados com a amortização do capital e o pagamentos de juros, vão agora experimentar os efeitos de uma travagem a fundo. Sem "airbag", nem cinto de segurança, naquele que ameaça ser um dos choques frontais mais difíceis de digerir na corrida à redução do défice público que o actual Governo deixa em herança.

Para quem, na última década e meia, se tornou proprietário de uma casa, o cenário não é brilhante. À situação desesperada das finanças públicas portuguesas aliou-se a aceleração do ritmo de crescimento das economias que realmente contam para definir o rumo da política monetária da Zona Euro. Resultado: as taxas de juro estão a subir e vão manter este comportamento nos tempos mais próximos. No fim de cada mês, as decisões do Banco Central Europeu já estão a produzir prestações dos empréstimos mais elevadas em Portugal, por conta dos riscos inflacionistas de que os cidadãos alemães nem querem ouvir falar, cheios de boas razões para os temer.

Mobilizar poupanças com o objectivo de amortizar antecipadamente parte do capital pedido aos bancos seria o amortecedor ideal para suavizar a escalada nos encargos com os créditos. Mas o simples bom senso indica que a estratégia não deverá estar acessível a muitas famílias, apertadas por cortes nos salários, pelo desemprego e pelas diversas vias que a mão comprida do Fisco percorre com o objectivo de cumprir a sua função de aspirar aquilo que pode, sem contemplações.

O caso não será mais fácil noutras situações. As famílias que teriam meios para cortar uma fatia ao dinheiro que devem ao banco também vão ser confrontadas com a voracidade dos cofres públicos porque a dívida pública contraída hoje são os impostos que terão de ser pagos amanhã. Sucede que o amanhã chegou, não canta, e vai exigir que o dinheiro posto de lado através de um esforço de aforro acabe por servir para ajudar a pagar empréstimos, é certo, mas aqueles com que o Estado se comprometeu.

O aumento dos impostos que recaem sobre os proprietários de casas é uma das certezas adquiridas no programa de ajustamento imposto pela troika, a que o Governo resultante das eleições de 5 de Junho não terá margem de manobra para escapar. Em nome dos incentivos ao novo desígnio do arrendamento e da mobilidade, a prioridade de ajudar o Governo a sair do buraco em que se enfiou a si próprio e ao País vai sobrepor-se à vontade das famílias de encontrarem soluções para os seus problemas. A lição é dura mas é incontornável. Um Estado mal gerido e que gasta como se não houvesse amanhã é o pior inimigo de quem o financia.
"

João Cândido da Silva

terça-feira, maio 10, 2011

Ginnungagap

Money money...

1/ "Euribor sobem pelo segundo dia (mais aqui)"

2/ "Uma em cada sete famílias já não consegue pagar as dívidas. Mas se as dívidas entre as famílias sobem de forma moderada, já entre as empresas o incumprimento está a subir mais acentuadamente (mais aqui)"

3/ "Restaurantes, cafés e hotéis poderão retirar os multibancos como forma de pagamento caso o peso "elevadíssimo" deste custo se mantenha para as empresas (mais aqui)"

4/ "Visitas aos centros comerciais caem 11,2 por cento. Os portugueses estão a gastar menos dinheiro cada vez que vão às compras, pagam mais pelos produtos e deixaram de fazer tantas visitas aos centros comerciais (mais aqui)"

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"Não sofreu muito"...

"Ele não sofreu muito, só gritou duas vezes e apenas demorou duas horas a morrer, não é muito tempo", disse o homicida, que viu o namorado agonizar após recusar sexo oral (mais aqui)"

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Motivações.

"A PSP dispersou ontem à noite um grupo de 50 pessoas que estava concentrado em frente à esquadra da PSP de Odivelas protestando contra a detenção de cinco jovens, recorrendo a disparos para o ar e efectuando mais algumas detenções. Os jovens estariam nas imediações do centro comercial quando agentes à paisana lhes pediram a identificação. Estes recusaram, por não verem motivo para tal. Pediram reforços e detiveram cinco (mais aqui)"

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segunda-feira, maio 09, 2011

Até amanhã e boa sorte!!!

A especiaria da mentira

"Quando eu ouço dirigentes da oposição dizerem que o FMI virá mais tarde ou mais cedo, que é inevitável a ajuda externa ao nosso país, eu quero dizer-vos francamente que há limites para tudo”.

"Ou eu ou o FMI". "Entre vir ou não vir o FMI há dez milhões de portugueses que sofreriam". "Ainda vão ter saudades do PEC IV". "Portugal não precisará nem de ajuda externa, nem de nada mais que não seja confiança no povo português e no nosso país". "Um programa de ajuda externa tem consequências profundamente negativas para as pessoas, para as famílias e também para as empresas". Assim se exprimia, ufano, o primeiro-ministro umas horas, um dia, dois dias, alguns dias antes de pedir assistência externa.

"Este acordo pode ser o ponto de partida para a recuperação que o país precisa". "O Governo conseguiu um bom acordo. Este é um acordo que defende Portugal." "O meu primeiro dever é tranquilizar os portugueses". "O sentimento de confiança deve prevalecer sobre o negativismo e sobre o pessimismo, atitudes que só conduzem à descrença, à paralisia..." Assim se exprimiu, camaleonicamente (e, desta vez, sem o brado nervoso do pavão de São Bento), o primeiro-ministro, ao apresentar, sob a forma de publicidade enganosa, o que (não) consta do Memorando de Entendimento com a ‘troika'. Só lhe faltou o remate cultural: "porreiro, pá!"
Mais palavras para quê?

Mesmo assim há quem teime em negligenciar a distância entre a verdade, a fantasia e a mentira. Acham até que a mentira é uma nova especiaria comportamental. Vestindo-se ou travestindo-se de muitas e sofisticadas formas: meia-verdade, omissão, exagero, rumor, incoerência, quimera, ilusão, insinuação, manipulação.

A verdade existe por si. A mentira subsiste através dos seus autores. A verdade dá trabalho, e exige a consonância da sua essência com o carácter e a consciência. A mentira implica a imaginação do seu fabrico e é favorecida pela sofreguidão das notícias, que rapidamente a fazem submergir nas trevas sem memória. E sabemos que uma porta meio aberta é uma porta meio fechada, mas uma meia -mentira jamais será uma meia-verdade.

O que assistimos nos dias que precederam o anúncio do acordo - em que parte dos media colaboraram, anunciando medidas mais gravosas, para depois se assistir ao seu amaciamento - é paradigmático da tristeza, leviandade e marketing oco em que certo modo de fazer política de Estado se vem transformando.

Nas eleições, o que vai estar em causa é o escrutínio da autenticidade, da verdade, da respeitabilidade, da coerência, da dignidade, da integridade. A situação por que passamos não admite jogos florais. Acabou o tempo de se usar a magia de dividir a verdade para multiplicar a mentira.

A chave da verdade está nos eleitores. Mas atenção: nestas alturas, lembro-me de uma irónica frase do escritor norte-americano Mark Twain: "Uma das notáveis diferenças entre o gato e a mentira é o gato ter apenas nove vidas
".

António Bagão Félix

The political causes of a not-so-secret meeting

"They cannot even organise a private meeting. How, then, can they solve a debt crisis? The bungling of a not-so-secret gathering of finance ministers in Luxembourg on Friday night provides an object lesson in how the politics of eurozone crisis resolution is going wrong.

We learnt this from a leak to Spiegel Online. The German news site’s story said Greece was considering leaving the eurozone, and that finance ministers were holding a secret meeting to discuss the issue. The story also offered the intriguing detail that Wolfgang Schäuble, the German finance minister, had a report in his briefcase warning him of the prohibitive costs of a Greek exit.

Earlier that Friday evening, the spokesman for Jean-Claude Juncker, the prime minister of Luxembourg who also has responsibility for finance, flatly denied that the meeting was taking place at all. That statement was obviously untrue. The meeting ended on Friday night with the announcement that there was no discussion on a Greek exit or a Greek restructuring. I very much doubt that this statement – or indeed any official statement on the eurozone crisis – was true either.

It is my understanding that this meeting, and numerous others preceding it, discussed the whole gamut of options, including, of course, a restructuring of Greek debt. But the fact that options are being discussed does not mean they are being pursued. I am fairly sure that Greece is not preparing to leave the eurozone, and that the European Union rejects an involuntary debt restructuring – for now that is.

The reason for the frantic diplomatic activity is that the eurozone is running out of easy options for dealing with Greek debt. There are valid objections to every proposal. An exit is too risky. A haircut – a loss for creditors on the outstanding principal – would kill the country’s banking system and land the European Central Bank with losses approaching €100bn. A voluntary restructuring would not do enough to reduce the net present value of Athens’ debt to a sustainable level.

I understand collateralised lending – swapping old Greek bonds into new collateralised debt at a discount – has also been discussed. This would subordinate every Greek bondholder, including of course the ECB. The option to swap bonds of the European financial stability facility, the rescue umbrella, into peripheral bonds has been explicitly rejected by Berlin. This would probably have been the cheapest option but Germany wanted to nip in the bud anything that smells of a eurozone bond.

The core issue in the eurozone crisis is not the overall size of the peripheral countries’ sovereign debt. This is tiny relative to the monetary union’s gross domestic product. The area’s total debt-to-GDP ratio is lower than that of the UK, US or Japan. From a macroeconomic point of view, this is a storm in a teacup.

The problem is that the eurozone is politically incapable of handling a crisis that is now contagious and has the potential to cause huge collateral damage. The “grand bargain” – a series of institutional agreements on eurozone sovereign debt by the European Council in March – did not address the resolution of the current crisis. That process is starting only now. Those responsible have realised that, no matter which debt management option they choose, it will cost taxpayers hundreds of billions. It is highly unlikely states will accept fiscal transfers of such a size without imposing extreme conditions on one another.

The political reason this crisis goes from bad to worse is an unresolved collective action problem. Both sides are at fault. The tight-fisted, economically illiterate northern parliamentarian is as much to blame as the southern prime minister who cares only about his own backyard. The Greek government played it relatively straight but Portugal’s crisis management has been, and remains, appalling.

José Sócrates, prime minister, has chosen to delay applying for a financial rescue package until the last minute. His announcement last week was a tragi-comic highlight of the crisis. With the country on the brink of financial extinction, he gloated on national television that he had secured a better deal than Ireland and Greece. In addition, he claimed the agreement would not cause much pain. When the details emerged a few days later, we could see that none of this was true. The package contains savage spending cuts, freezes in public sector wages and pensions, tax rises and a forecast of two years’ deep recession.

You cannot run a monetary union with the likes of Mr Sócrates, or with finance ministers who spread rumours about a break-up. Europe’s political elites are afraid to tell a truth that economic historians have known forever: that a monetary union without a political union is simply not viable. This is not a debt crisis. This is a political crisis. The eurozone will soon face the choice between an unimaginable step forward to political union or an equally unimaginable step back. We know Mr Schäuble has contemplated, and rejected, the latter. We also know that he prefers the former. It is time to say so
."

Wolfgang Münchau

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