sexta-feira, outubro 31, 2008

Curiosidades.

"O PSD “descobriu” na proposta de Orçamento de Estado (OE) para 2009 uma norma em que o Governo se prepara para retirar ao Tribunal de Contas (TC) o controlo sobre as transferências para os hospitais empresariais e vai propor a sua eliminação (mais aqui)".

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Cabaz de moedas

“A mãe de todas as crises cambiais” foi o termo usado pelo recém laureado Prémio Nobel da Economia, Paul Krugman, num curto artigo publicado no New York Times, no final do mês, sobre os próximos desenvolvimentos nos mercados mundiais de divisas.
O economista escreveu no seu blogue: “Tenho lido os relatórios de Stephen Jen, um antigo aluno meu, que actualmente é o estrategista chefe de câmbios do banco Morgan Stanley.
Ele sublinha que desde o colapso do Lehman [Brothers] se avolumam claros sinais de crises cambiais através dos mercados emergentes do globo, incluindo a Europa do Leste. Neste momento, não se trata de uma crise asiática ou latino-americana. É uma crise global. Jen acrescenta:
‘Até agora, o sector financeiro dos Estados Unidos foi o epicentro da crise global. Receio que a queda dos activos e das economias dos mercados emergentes será o segundo epicentro, nos próximos meses, com efeitos devastadores no mundo desenvolvido.’”
Os analistas Edward Hadas e Hugo Dixon, em outro artigo publicado pelo diário novaiorquino, também lançaram o alarme. “A crise financeira - escreveram - atingiu uma marca perigosa. Os mercados de divisas são um ioió. Agora, as autoridades têm de encetar algumas manobras, bem vastas e delicadas - uma espécie de micro-cirurgia numa aeronave em céus turbulentos.”
Após citarem a dramática apreciação do iene e as violentas desvalorizações de outras moedas face ao dólar, os analistas explicaram a razão dos temores:
“Variações desta escala são alarmantes quando acontecem no mercado bolsista. Porém, são petrificantes nos mercados de divisas, pois tornam virtualmente impossível fixar os preços das exportações e das importações.”
A situação agravou-se nos últimos meses com as manobras especulativas, sobretudo protagonizadas por grandes hedge funds.
Desde a crise asiática, e da deflação que se lhe seguiu, o iene japonês e as baixíssimas taxas de juro nipónicas foram um El Dorado para os especuladores.
Comprar ienes a preço de saldo para financiar operações especulativas a nível global foi altamente lucrativo nos últimos dez anos.
Desde 2007, a implosão do mercado hipotecário norte-americano, o aperto global do crédito e a recessão económica mundial geraram dinâmicas inversas. A necessidade de dinheiro fresco, por parte dos investidores e especuladores dos países ricos, aumentou a procura sobre a divisa japonesa.
Nos últimos meses, a necessidade fez subir em mais de 40% o seu valor face ao dólar.
A impressionante valorização do iene é uma bomba-relógio para os exportadores nipónicos e um grave factor de desestabilização dos mercados cambiais.
Os fenómenos globais de desalavancagem aceleraram o processo, com prejuízo para os países com moedas mais fracas, vulneráveis a grandes défices orçamentais, ao desequilíbrio das contas correntes ou aos crónicos agravamentos da dívida pública.
Perversamente, o dólar americano, embora afectado por todas aquelas maleitas, beneficia do facto de continuar a ser percepcionada como divisa âncora das reservas financeiras mundiais.
Por esta razão, em meados do ano, inverteu-se o acelerado processo de desvalorização do dólar, iniciado há um ano atrás.
Contrariamente, países europeus com insuficientes reservas de moeda estrangeira e excessivamente dependentes de capitais externos - com destaque para a Islândia, Hungria, Cazaquistão, Sérvia e Bielorússia - foram particularmente afectados nas útimas semanas. Pacotes internacionais de ajuda financeira - empréstimos bilionários e venda de dólares - sucederam-se para limitar os danos e a erosão do valor das suas moedas.
“Esta é a maior crise cambial que o mundo alguma vez conheceu”, afirmou Neil Mellor, estrategista do Bank of New York Mellon, citado pelo londrino The Telegraph.
O articulista do diário britânico sublinhou que “a crise financeira, que alastra como um incêndio incontrolável através do antigo bloco soviético, ameaça despoletar uma segunda e mais grave crise bancária na Europa Ocidental, e provocar o completo desmoronamento económico de todo o continente.”
Os números são aterradores.
A Alemanha e a Rússia estão no olho do furacão.
Só na Islândia as perdas da banca germânica ultrapassaram USD 22 mil milhões/bilhões (mm/bi).
Em toda a Europa do Leste a exposição dos bancos da Alemanha é igualmente gigantesca.
O caso da Rússia também é preocupante, agravado pelo afundanço dos preços do petróleo e pela desvalorização do rublo mais de 10%, nas últimas semanas.
A dívida externa dos oligarcas russos (USD 530 mm/bi) já suplantou o total das reservas do país em moeda estrangeira e, até ao final de Dezembro, terão que pagar tranches no valor de USD 47 mm/bi.
Apesar das riquezas naturais, avolumam-se os perigos de incumprimento russo no pagamento dos serviços da dívida externa.
Na semana passada, os seguros de risco contra uma eventual insolvência da Rússia, galgaram para os 12% - uma taxa superior à registada pela Islândia na véspera da falência do sector bancário islandês.
Alarmante é o grau de exposição dos bancos austríacos aos mercados emergentes europeus, que equivale a 85% do PIB da Áustria, com dimensão crítica na Hungria, Ucrânia e Sérvia.
O mesmo indicador afecta a Suíça (50%), Suécia (25%) e Espanha (23%), contra apenas 4% da banca norte-americana.
O drama espanhol é agravado pela crítica exposição aos mercados da América Latina. Os bancos do vizinho ibérico emprestaram USD 316 mil milhões aos países latino-americanos - quase o dobro dos empréstimos da banca americana na região.
Da Argentina ao México, a banca espanhola corre sérios riscos de incumprimentos em cadeia. Se a estes juntarmos os da crise da bolha imobiliária, ainda em evolução, teremos um panorama negro para a banca espanhola com evidentes perigos de contágio ao sector bancário português.
Neste contexto, conforme referiu o The Telegraph, “o mercado tomou cuidadosamente nota, na sexta-feira, que os maiores bancos de Portugal - Millenium, BPI e Banco Espírito Santo - se preparam para recorrer às garantias de crédito de emergência concedidas pelo Estado.”
Outro especialista em divisas, Hans Redeker, do banco BNP Paribas, falou “no perigo iminente” de as taxas de câmbio leste europeias implodirem “a menos que as autoridades monetárias da União Europeia acordem para a real gravidade da ameaça” prevendo mesmo “o despoletar de uma perigosa crise para a própria União Monetária Europeia.”
“O sistema está paralizado, e começa a fazer lembrar a Quarta-Feira Negra de 1992.
Eu receio que isto terá um tremendo efeito deflacionário na economia da Europa Ocidental.
É quase garantido que o suprimento de moeda aos mercados da Eurolândia está prestes a implodir”, disse o economista do BNP Paribas.
Esta é a visão de curto prazo.
Na semana passada, o investidor norte-americano Warren Buffett - admirado como o Oráculo de Omaha - discorreu no New York Times sobre a sua estratégia de longo prazo, favorável à actual compra de acções e de obrigações: “Hoje as pessoas que dispõem de aplicações equivalentes a dinheiro fresco sentem-se confortáveis. Não devem. Elas optaram por um terrível activo de longo prazo, algo que, virtualmente, dá uma remuneração igual a zero e está certamente condenada a perder valor. Na realidade, as políticas que o governo [americano] vai adoptar nos seus esforços para aliviar os efeitos da crise actual, provavelmente, vão ser inflacionárias e por isso acelerar a desvalorização do valor real dos depósitos em numerário. Os títulos, quase de certeza, irão ultrapassar a apreciação da moeda durante a próxima década, provavelmente de forma substancial.
Os investidores que acumulam numerário estão a apostar na possibilidade de poderem fazer a mudança mais tarde, com sucesso. Na espera de boas notícias, eles ignoram o conselho de Wayne Gretzky [lenda do hóquei no gelo]: “Eu patino para onde vai estar o disco e não para onde ele esteve.”
As consequências de curto prazo para a economia global são ameaçadoras, sobretudo na área do comércio internacional.
A combinação explosiva da recessão mundial, com o descontrolo da crise cambial, vai aumentar pressões proteccionistas e desencadear um ciclo vicioso de falências, desemprego e quebra do PIB mundial.
O economista norte-americano Nouriel Roubini, ontem, na coluna semanal que assina para a revista Forbes, aconselhou que devemos prepararmo-nos para a stag-deflation - um venenoso neologismo que casa estagflação com deflação.
A Grande Depressão dos anos 30 pode vir a ser ultrapassada.
Este é o efeito perversor da Globalização.
MRA Dep. Data Mining
Pedro Varanda de Castro, Consultor
Por cá nada se passa, a dívida externa é como se não existisse.

Smoke on the Water

Um orçamento incompetente e desonesto

"Uma das formas mais graves de incompetência é não perceber o que é prioritário e o que é secundário. A política económica em Portugal deve ter como objectivo final aumentar o potencial de crescimento da economia, que caiu de forma estrutural para níveis abaixo dos da UE, remetendo-nos para uma divergência estrutural, e remetendo-nos ainda para sermos ultrapassados por países que entraram depois de nós, ou seja, que estão há muito menos tempo a receber ajudas da UE.


É inacreditável que o Governo não perceba que este é, de longe, o mais importante e mais grave problema económico português. O Relatório do OE continua a ignorar a existência deste problema e, como o problema é ignorado, praticamente não há propostas para o resolver.

Um dos traços mais evidentes deste problema é a falta de competitividade que tem levado a um elevadíssimo défice externo e uma dívida externa numa trajectória explosiva. O Governo não tem a desculpa de dizer que está a prestar mais atenção à gestão da crise conjuntural, porque, justamente esta, com a crise do crédito, veio exacerbar ainda mais o problema estrutural do endividamento externo. Pode haver maior incompetência do que um Governo não perceber qual é o mais grave problema económico português?

Quanto a desonestidade, os exemplos são inúmeros. Desde logo, o cenário macroeconómico delirante. O mundo está a viver uma crise gravíssima (que leva mesmo alguns a vaticinar o fim da economia de mercado) e a economia portuguesa (Ah! valente) desacelera apenas duas décimas!

Depois, só nas despesas de pessoal tivemos duas desonestidades. A primeira foi a introdução inconsistente de uma alteração metodológica. Se esta alteração fosse aplicada de forma consistente a 2009 e aos anos anteriores, nada haveria a objectar. A segunda desonestidade foi dizer que esta alteração tinha sido feita a pedido externo, o que o Eurostat prontamente desmentiu. Estas desonestidades foram rapidamente desmontadas, daí a pergunta: qual a lógica de incorrer na crítica da desonestidade sem qualquer benefício? Temos que concluir que se tratou de uma desonestidade incompetente.

Temos ainda a desonestidade de falar em consolidação orçamental quando os défices de 2008 e 2009 são obtidos com receitas extraordinárias, como se fossem recorrentes. A diferença entre receita total e receita fiscal e contributiva era suposto ser 6,3% do PIB em 2008, mas, afinal, vai ser 7,3%. E para 2009 espera-se que esta diferença suba para 8,5%. Se estas receitas permanecessem no nível do esperado para 2008 (6,3% do PIB), o verdadeiro défice de 2008 seria 3,2% do PIB e o de 2009 seria 4.4% do PIB.

Ao verdadeiro défice de 2009 falta ainda adicionar mais duas parcelas: a desorçamentação (Estradas de Portugal, SCUT, etc., etc.) e o optimismo orçamental. Com o cenário mirabolante de manutenção do desemprego, as despesas sociais estão subestimadas. Já as receitas fiscais estão triplamente inflacionadas. Por um lado, o Governo está demasiado optimista em relação ao crescimento do PIB. Em segundo lugar, e contrariamente ao que já se passou em 2008, o Governo prevê que haja um aumento da eficiência fiscal. Em terceiro lugar, há um conjunto de benesses fiscais que o Governo apregoa, mas (diz o Governo) isso não tem impacto sobre a receita fiscal. Das duas uma, ou as benesses são inconsequentes, ou a receita está sobreavaliada.

Em resumo, o verdadeiro défice de 2009 deverá estar acima dos 5% do PIB. Na verdade, este é um orçamento de altíssimo risco, para ganhar as eleições. Se o Governo ganhar a aposta, depois das eleições inventa umas patranhas (em que são especialistas) para justificar por que é que o défice, afinal, esteve tão longe dos 2,2%. Se o Governo perder as eleições, o próximo Governo apanha com um défice de mais de 5% do PIB e vai-se ver às aranhas para o domesticar. Já repararam como esta jogada se parece com a dos banqueiros americanos? Fazem uma aposta muito arriscada; se correr bem, ganham milhões; mas se correr mal, a factura fica para os outros
."

Pedro Braz Teixeira

Manipulação

"Respigo dos jornais: “Tendo conquistado um número muito superior de câmaras em relação ao das últimas autárquicas, os partidos da base aliada do presidente Lula da Silva vão passar a governar nada menos do que 93,5 milhões de eleitores, que correspondem a 72,5% de todos os eleitores”.

Tem sido sempre assim: cada eleição no Brasil é apresentada em Portugal como uma inesperada vitória de Lula. A questão é que apesar da língua comum, por cá o que se vai sabendo sobre o “país irmão” é folclore. E quando chegam as eleições, afinal sai surpresa que o folclore não previa.
Lula foi reeleito, há dois anos, com mais de 60 por cento dos votos, ao cabo de um mandato de quatro anos sobre o qual, em Portugal, se falou essencialmente sobre o chamado “mensalão”. O eleitorado brasileiro, porém, sabia onde começava e acabava o “mensalão”. E excluindo os eleitores preconceituosos, sabia que o “mensalão” não sujava as mãos do presidente. Não era isso que constava nos despachos envenenados das agências.

Como me escrevia, em correspondência de São Paulo, um querido amigo com uma visão larga e arguta sobre estes fenómenos sociais: “Num país onde existem propriedades pessoais com área superior à Holanda, os cerca de 25 dólares mensais que, através do programa da “bolsa-família”, o governo Lula distribui a milhões de famílias necessitadas foi o suficiente para revolucionar a vida económica e social em muitas regiões do Brasil”. O eleitorado brasileiro, sobretudo a imensa maioria do eleitorado, que é o mais pobre, o sempre ludibriado por políticos trapalhões, conhece a obra de Lula da Silva no combate à pobreza, à fome e à doença.

É no prosseguimento dessas políticas que votam em larga maioria os brasileiros. As notícias dos jornais ocidentais não pesam nas campanhas eleitorais
"

João Paulo Guerra

A crise dos milionários?

"Os mesmos especialistas que revelam alguma ignorância no diagnóstico da crise, revelam também um enorme atrevimento pessimista nas previsões.

Seja nos jornais portugueses, seja nos estrangeiros, seja nas televisões portuguesas, ou nas lá de fora, não há quem não pronuncie, com toda a convicção do mundo, que vem aí uma grande recessão económica mundial. Analistas ou comentadores, políticos ou empresários, todos eles afirmam, sem um pingo de dúvida, que o planeta vai viver meses e anos terríveis, e que o desemprego e ausência de crescimento serão o futuro próximo da nossa aldeia global. No entanto, e curiosamente sem verem nisso nenhuma contradição, a maior parte das mesmas pessoas confessa não saber bem, nem sequer perceber bem, o que se passou e porque aconteceu esta actual mega-crise financeira. Ou seja, as mesmas pessoas e os mesmos especialistas que revelam alguma ignorância na análise e no diagnóstico, revelam ao mesmo tempo um enorme atrevimento pessimista nas previsões. É assim como se um médico, ao observar-nos pálidos e a tremer, nos dissesse que não fazia a mínima ideia do que nos estava a acontecer, mas tinha a certeza absoluta que iríamos sofrer muito nos próximos tempos! Curioso, não é? Eu acho que sim, e se calhar porque sou do contra, tenho algumas dúvidas de que venha aí o dilúvio, e que a tragédia global vá ser assim tão grave.

Nos últimos vinte anos, o mundo financeiro mundial desenvolveu-se de uma forma altamente acelerada. Bancos, comerciais ou de investimentos, hedge funds, fundos de fundos e mil e uma outras instituições, fizeram crescer brutalmente o valor dos activos financeiros mundiais. As bolsas atingiram valores nunca antes atingidos e, por todo o mundo, os activos financeiros subiram, levando atrás de si os valores de muitos mercados imobiliários. No entanto, esse dinheiro, que criava mais dinheiro e que criava ainda mais dinheiro – a “superbolha”, como lhe chama George Soros – não era dinheiro das pessoas normais, das classes médias ocidentais, mas sim das próprias instituições financeiras e das grandes fortunas mundiais. É claro que isso gerou um enorme desvio de riqueza, e por isso se diz que aumentou o fosso entre ricos e pobres, seja na América, seja nos outros países ocidentais. Os “novos ricos” vieram da alta finança, e eram os que tinham enriquecido com esses investimentos. Porém, não eram assim tantos como isso. O crescimento colossal dessa economia financeira beneficiou relativamente pouca gente, não mais de 10 por cento da população americana, e ainda menos da europeia. Houve novos milionários, mas essa riqueza foi mais institucional que pessoal. É claro que, com as taxas de juro baixas, toda a gente beneficiava, mas nem toda a gente enriquecia. As classes médias ocidentais não se tornaram grandes investidoras nas bolsas, em especial na Europa.

Ora, quando tudo começa a correr mal, a riqueza que é destruída é essencialmente a riqueza das grandes instituições, dos bancos, dos fundos, e a riqueza dos grandes, pequenos e médios milionários. As principais vítimas do esvaziamento das bolhas financeiras são essas, e não as classes médias. Para um milionário, perder 20 dos seus 40 milhões, pode ser um problema, mas ele não vai propriamente viver na penúria, nem debaixo da ponte. Portanto, e se os governos garantirem que o sistema bancário continua a funcionar, as maiores perdas financeiras não atingem as classes médias nem em grande parte as empresas não financeiras. Perdem muito os “novos ricos”, os milionários, e as instituições financeiras, mas não a maioria das populações. Haverá certamente uma contracção “recessiva”, devido às más expectativas e ao pessimismo generalizado que vai pelo mundo, mas pode não vir a passar-se a tal mega-recessão de que toda a gente fala, e que todos dizem vir aí.

A riqueza que o mundo financeiro gerou durante vinte anos foi essencialmente virtual e foi certamente parar a bolsos de uma minoria. É possível que, com algum bom senso e habilidade geral, as perdas sejam suportadas também por essa mesma minoria
."

Domingos Amaral

O CAFÉ E AS CONTAS

"David Gross, comentador da revista online Slate (e da Newsweek), explica a crise financeira através da quantidade de filiais da Starbucks, a cadeia multinacional de cafés. Resumindo muito, eis a tese: quanto mais filiais da Starbucks tem um país, maior é a sua vulnerabilidade face à crise.

Resumindo menos, Gross nota que a concentração de Starbucks nas diversas capitais financeiras aumenta em função da integração dessas capitais no capitalismo moderno, logo a uma propensão para o risco, para novas formas de negócio e para dar alguns euros em troca de uma simples bica. Nova Iorque e Londres rondam as centenas de lojas. Paris e Madrid, as dezenas. Pelo contrário, a África inteira, onde a banca permanece relativamente alheia às convulsões em curso, conta com uns meros três Starbucks. Idem para a América Latina e para a Ásia pobre.

Está bem: a Starbucks não existe na Islândia, pelo que a tese talvez não se candidate ao Nobel da Economia. Porém, numa altura de desnorte e palpites, é tão válida como qualquer. Para cúmulo, adapta-se perfeitamente às pretensões do Governo português, que em momentos de optimismo garante-nos imunidade perante o caos envolvente. Dado que Portugal conta apenas com uma loja Starbucks, bate certo. O que bate errado é este presumível sintoma de atraso e isolamento constituir para o Governo motivo de festejo.

Dito de maneira diferente, o que nos poderá proteger da crise internacional é, em parte, o que também "salva" o Terceiro Mundo: a crise interna, que resistiu, serena e patriótica, a anos de prosperidade ocidental. Portugal não se arrisca a cair na indigência porque, com o desemprego, a produtividade, o endividamento, as leis do trabalho e a estatização da economia que ostenta, Portugal era indigente bem antes de Wall Street se constipar.

Misteriosamente, o Governo ignora os sinais palpáveis da crise interna e ataca os sinais hipotéticos da externa. Muito misteriosamente, fá-lo mediante o reforço dos factores que nos conduziram, sem ajudas estrangeiras, à pindérica situação actual: mais Estado, mais "investimento" público, desresponsabilização dos cidadãos incumpridores, esfolamento dos cumpridores e bazófia, imensa bazófia em volta da "modernidade", dos "desígnios" e dos "desafios".

Não é à toa que a desgraça dos outros não nos preocupa. À toa andamos nós, no meio de uma desgraça particular que promete ser comprida, escaldada e sem açúcar
.

Alberto Gonçalves

quinta-feira, outubro 30, 2008

Guess...

BILL MOYERS: And take note: since the start of Fiscal 2004, the once mighty five of Wall Street - Goldman Sachs, Morgan Stanley, Merrill Lynch, Lehman Brothers and Bear Stearns - lost around $83 billion in stock market value. But they reported employee compensation of around $239 billion.
In other words, the financial engineers who dug this disastrous hole paid themselves almost three dollars for every dollar they lost.
And now this. The cost of all these bailouts to the taxpayer is more than two and half times what we forked over twenty years ago to pay for the Savings & Loan crisis - a whopping $8,750 per household. So while you may have seen your retirement savings or college tuition account destroyed or have been on of the 800,000 who have lost their jobs so far this year, the masters of the universe are doing just fine, thank you. Treasury Secretary Henry Paulson is looking out for them.
During his 32 years at Goldman Sachs, where he knew many of the players now floating to earth with taxpayer parachutes, Paulson accumulated $700 million. And now he says he's afraid that if he clamps down too harshly on compensation for his old friends, they might not be enthusiastic about participating in his plan to save our economy. I am not making this up.
Or this: the 30-nation Organisation for Economic Co-operation and Development - or OECD - is out this week with a new report on global gaps between rich and poor. Guess which great industrial nation had the fourth highest inequality in incomes - behind Mexico, Turkey and Portugal? Right. Us.
Here's precisely what the report says: "Rich households in America have been leaving both middle and poorer income groups behind. This has happened in many countries but nowhere has this trend been so stark as in the United States." Now there's some real spreading around of the wealth - in one direction: up.
No ...

Até amanhã e boa sorte.

Um estado em corrosão ou a corrosão de uma nação

OE2009: Empresas pagarão IVA mesmo sem receber do cliente
O Governo quer que as empresas que não entreguem o IVA ao Estado dentro do prazo legal sejam punidas, independentemente de ainda não terem recebido dos seus clientes, destaca o jornal Público na edição desta quinta-feira.
A intenção do Governo vem expressa na proposta de Orçamento do Estado (OE) para 2009 e surge com o objectivo de contrariar recentes decisões dos tribunais que, face à legislação em vigor, entendiam que o fisco não podia "multar" os contribuintes que se recusavam a entregar o IVA por não terem recebido dos seus clientes.
De acordo com o jornal, o Orçamento para 2009 vem alterar a situação actual, ao propor uma alteração ao artigo 114.º do RGIT no sentido de considerar puníveis como falta de entrega da prestação tributária "a falta de liquidação, liquidação inferior à devida ou liquidação indevida de imposto em factura ou documento equivalente, a falta de entrega, total ou parcial, ao credor tributário do imposto devido que tenha sido liquidado ou que devesse ter sido liquidado em factura ou documento equivalente, ou a sua menção, dedução ou rectificação sem observância dos termos legais".


É claro que é difícil fazer um orçamento com a situação que se vive, mas, a verdade é que os políticos uns tontos e grande maioria oportunistas que por cá existem ainda pensam que têm para onde fugir em caso de colapso, mas nem eles nem os seus patrões e aqui daremos graças aos deuses, pelo facto o de existir globalização.
A loucura está nos números e as mentiras do défice, da dívida pública (melhor seria o estado pagar a quem deve, do que ajudar os da usura e os agiotas da banca), faria a economia real receber algum sangue.
Um Estado que exige receber das empresas antes que o cliente tenha pago, lembra que se está a defender em causa sua, porque de facto é o maior caloteiro de todos, deixou de existir como pessoa de bem, dá o mau exemplo através da dívida que é vergonhosa, alimentando a bola de neve.
Como todos são coniventes porque todos estão mais ou menos nos poderes, pouco se preocupam com a economia real, falando mais da chamada indústria financeira, nome interessante, atendendo a que a única coisa produzida são notas e aplicações sem valor fiduciário.
O senhor Durão, não devia meter o nariz nos assuntos do estado português porque não tem nem o direito, nem a autoridade moral, depois da triste cimeira que promoveu a triste guerra no Iraque onde a América derrotada, provou mais uma humilhação, esquecendo a frente interna e a miséria do seu povo, em nome dos iluministas que pensavam que a democracia podia ser criada em todos os países do mundo, que a guerra era auto sustentada pelo petróleo e que afinal a História tinha acabado, tal como os primeiros colonos pensaram que ao habitar o novo mundo iriam criar um país redentor, livre de todo o pecado, peço desculpa pelo aparte, mas tenho dúvidas sobre o papel de certa gente, espero sinceramente que esteja mais uma vez enganado.
Baixar os impostos, por exemplo o IVA, cortar os subsídios a empresas públicas que apenas servem para empregar parasitas, ajudando as que são essenciais como os caminhos de ferro, reduzir as reformas dos políticos que não são o número que o Sr Ministro das Finanças pregou, esquecendo-se de muitos outros, reduzindo-as uma única, lembro a bofetada de luva branca do Senhor General Eanes, a quem recebe mais que uma, como o Sr PR, reformar as forças armadas, acabando com a quantidade escandalosa de oficiais superiores, incluso oficiais generais, ( que se não podem queixar, lembrando a causa primeira do 25 de Abril, que nada teve a ver com o povo, nem com a guerra), acabar com os subsídios às Fundações, acabar com os pagamentos de serviços de um estado em outsourcing e promover os contratos de trabalho, colocar e dar confiança aos juízes e procuradores, o que levará a uma limpeza de toda a teia de interesses e promiscuidade, entre políticos, polícias e poder judicial, mas isso é tarefa que nem Dante seria capaz de imaginar.
Descansem que não irá acontecer!
A reforma do sistema político só será possível, com muita dor e muito sofrimento, com estes actores de 3ª categoria, em todo o espectro político será impossível, sem um fim trágico do regime da 3ª República, sem uma vaga de fundo que varra todo este lixo, dos que são corruptos, dos que os servem, dos indecisos e dos indiferentes.

Aumento da despesa.

"O ministro do Trabalho, Viera da Silva, anunciou hoje que o novo regime do abono de família vai abranger 780 mil crianças e jovens em idade escolar. Uma medida que vai custar cerca de 20 milhões de euros aos cofres do Estado (mais aqui)"
Se a consolidação orçamental foi conseguida à custa do aumento dos impostos (visto que a despesa do estado passou de 46,3 por cento do PIB em 2004 para 47,8 do PIB em 2009 e a carga fiscal passou de 34 por cento do PIB em 2004 para 38 por cento em 2009 – ler aqui) e estão a aumentar ainda mais a despesa…

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Novo tipo de ensino.

"O Parlamento aprovou hoje por unanimidade a audição da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, e do Conselho Nacional de Educação sobre a proposta para acabar com as reprovações de alunos no ensino obrigatório (mais aqui)"
E que tal ensino à distância (tipo deixar de haver escolas e os alunos aprenderem em casa)?

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Juros.

"As taxas Euribor continuam a cair pelo 15º dia consecutivo, a reflectir o anúncio da Reserva Federal (Fed) norte-americana que ontem reduziu a taxa de juro no país, em 50 pontos base, para 1%, atingindo o valor mais baixo desde Junho de 2004. Além disso, o mercado crê que o Banco Central Europeu (BCE) vai voltar as descer os juros na próxima reunião.

A Euribor a 6 meses, principal indexante do crédito à habitação em Portugal, caiu para os 4,848%. Também a taxa a 3 meses desceu para os 4,794%, tendo atingido o valor mais baixo desde 18 de Abril. Já a Euribor a 12 meses recuou para os 4,916%.
"
E "lá fora" os juros continuam a descer…

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Frango: carne de má qualidade à venda

"A DECO-Proteste desenvolveu um estudo, relativo à carne de frango no mercado, e divulgou-o na revista de Novembro da Proteste. Segundo a Associação de Defesa dos Consumidores, foram analisadas 69 amostras (30 a granel e 39 embaladas) e a qualidade global de 66 dessas amostras foi considerada «inaceitável (mais aqui)».

"Discurso da mentira"

"Como é que passou o discurso da mentira durante estes anos todos. A despesa passa de 46,3 por cento do PIB em 2004 para 47,8 do PIB em 2009. Ou seja aumentou em 1,5 por cento do PIB. Qual consolidação?", criticou Bagão Félix, num colóquio promovido pelo CDS-PP sobre o Orçamento do Estado para 2009 na sede daquele partido (mais aqui)"

quarta-feira, outubro 29, 2008

Outro Mourinho?


"Enterrar".

"O ex-presidente do PSD Luís Filipe Menezes acusou esta quarta-feira a actual direcção, liderada por Manuela Ferreira Leite, de estar a "enterrar" o partido, criticando a "insensibilidade política" manifestada na questão do aumento do salário mínimo nacional (mais aqui)"
Seria curioso Menezes explicar isso aos trabalhadores da Macmoda (à beira da falência e cujos trabalhadores não recebem à três meses - mais aqui) ou aos da Autoeuropa (vai parar a produção 5 dias – mais aqui).

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Explicação.


"O primeiro-ministro continua em silêncio sobre o veto do Presidente da República ao Estatuto político dos Açores, alegando que não teve ainda oportunidade de o ler. Não foi o caso do adjunto de José Sócrates para a área jurídica, Rui Figueiredo, que afirma não se perceberem, “objectivamente, as razões do Presidente” e que parece que se está a fazer “uma tempestade num copo de água”. As críticas de Figueiredo a Cavaco Silva estão no blogue Câmara de Comuns (mais aqui)"
Quando um leigo como nós esperava uma explicação mais científica (leia-se jurídica) de alguém entendido na matéria (mais aqui), deparamos com um texto simples que qualquer pessoa vulgar poderia escrever a rondar a mera propaganda.

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Racismo.

"Grande parte dos 400 moradores da urbanização do Sol Poente, em Fafe, está desagradada com o comportamento de uma família cigana que ali se instalou há cerca de dois meses. "Numa casa onde podem morar quatro ou cinco pessoas, como é normal em todas as moradias da zona, estão a habitar 14 pessoas, o que nos parece uma monstruosidade; é inadmissível que, ao que se sabe, a casa não possua casas-de-banho e os seus residentes façam as necessidades fisiológicas ao ar livre por trás da cabina eléctrica, perante o nojo e a repulsa dos habitantes; os miúdos praticam pequenos furtos de bens em redor e molestam as crianças aí residentes; a família apropriou-se indevidamente de um assador que estava no Parque de Lazer desde 2005", refere a missiva enviada pela ASCSP.

Além destas queixas, os moradores do Sol Poente já deixaram também de utilizar a fonte do Parque de Merendas, "porque os ciganos lavam lá a cabeça e sentem-se incomodados pelas festas barulhentas que são organizadas naquela habitação e que, segundo a associação, perturbam o sossego do bairro
(mais aqui)"

Para que servem os chumbos?

"O Conselho Nacional de Educação (órgão consultivo do Ministério da Educação) vai propor o fim dos chumbos no ensino obrigatório (até ao 9º ano).

O que parece ser uma medida absolutamente revolucionária ( e, numa primeira leitura, permissiva) pode não o ser. Primeiro porque já foi aplicada, com sucesso, em vários países (entre eles a insuspeita Finlândia que lidera os ’rankings’ internacionais de Educação). Em segundo lugar, porque acaba com a desresponsabilização de todos os intervenientes na Educação - dos pais aos professores, passando pelos alunos. O Conselho Nacional de Educação não tem poder vinculativo, logo, tudo depende do Governo. Vai ou não Maria de Lurdes Rodrigues seguir o conselho do “seu” Conselho? É, precisamente aqui, que reside o busílis da questão. Não em relação à medida que pode ajudar a acabar, finalmente, com os excluídos do ensino apenas porque a família ou as condições financeiras não ajudam a colocar o ‘focus’ na sala de aula. Mas, acima de tudo, porque o país poderá não estar preparado para a revolução. Por melhor intencionada que ela seja
. "

Francisco Teixeira

Rock 'N Roll Train



Mais do mesmo mas, cós diabos, continuam uma maravilha…

Sócrates e o jogo das Bolsas

"Há pouco mais de um mês, José Sócrates fez um aguerrido discurso partidário em Guimarães, no qual, entre outras tiradas inflamadas, assegurou que não iria «permitir que o valor das pensões dos portugueses seja jogado na Bolsa e entregue aos caprichos dos mercados financeiros, como defende o PSD». E perguntou, com um frémito de indignação: «Como é que é possível que, face aos riscos evidentes dos mercados de capitais, o PSD mantenha esta proposta? Não será isso irresponsável? Não será isso uma aventura perigosa?».

Sócrates comprometeu-se a lutar por «uma Segurança Social pública que garanta o futuro das pensões» e apontou os horrores da proposta do PSD – que «obrigaria a que cada português entregasse um terço das suas contribuições para a Segurança Social a fundos privados», que passariam depois «a depender do jogo da Bolsa». Da tenebrosa economia de casino, como Sócrates também gosta de qualificar a actividade dos mercados financeiros.

Ora, já se sabia, mas o ministro Vieira da Silva veio esta semana confirmar que a Segurança Social do Estado perdeu, nos primeiros nove meses deste ano, 3,14% da sua carteira de investimentos, um valor que o ministro não quis quantificar mas que andará, pelo menos, entre os 250 e os 300 milhões de euros.

Como? Vieira da Silva explicou: «A actual crise financeira e económica provocou uma desvalorização nas acções do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social devido ao comportamento das Bolsas».

Mas, afinal, a Segurança Social do Estado aplica os seus fundos no ‘jogo das Bolsas’?! Aplica, aplica. Perto de 1.900 milhões de euros, cerca de 22% do total do Fundo, estão, há muito, entregues ao que Sócrates apelida de ‘caprichos dos mercados financeiros’, em acções, futuros e forwards.

E José Sócrates, quando fez a sua diatribe em Guimarães, não sabia? Teve um ataque de amnésia momentâneo? Estava a faltar descaradamente à verdade? Ou apenas a exercitar a sua demagogia política? Qualquer que seja a resposta, ela não inspirará a confiança dos portugueses no seu primeiro-ministro.
"

JAL

Risco e desempenho

"A actual crise financeira veio pôr em causa as convicções mais enraizadas. Quem ontem defendia a redução do papel do Estado e a supressão dos impostos, apressa-se agora a exigir o acréscimo da regulação e a intervenção directa na economia. A "mão invisível" parece ter perdido a sua condição de reguladora harmoniosa da economia, sugerindo a necessidade de intervenção da "mão pesada" do Estado.

Durante décadas assistimos à liberalização progressiva das trocas comerciais e dos fluxos financeiros entre países, com crescimento generalizado da riqueza. Os portugueses que regressam pela fronteira espanhola já não têm de pagar direitos pelos produtos que tenham adquirido no outro lado da fronteira. Desapareceram as categorias profissionais de contrabandista e, simultaneamente, de guarda-fiscal, mas floresceram as trocas entre os dois países. A Espanha tornou-se o primeiro destino dos produtos portugueses.

Vastas regiões, da Ásia à América Latina, escaparam à pobreza graças à abertura dos mercados e ao acesso a fontes de financiamento. A sua capacidade de criar riqueza transformou países que dependiam das remessas de emigrantes e do investimento originado em países ricos em exportadores líquidos de capital. Os "sovereign funds" da China são hoje fundamentais para a sobrevivência de bancos e o financiamento de deficits de governos de países ricos.

No entanto, o colapso do sistema financeiro originado nos EUA, o efeito de contágio e a ameaça ao crescimento económico fizeram instalar o pânico, com a queda das bolsas e a angústia pela poupança desaparecida. Chegou a temer-se a corrida aos depósitos e a travagem abrupta da concessão de crédito. Pressionados pela opinião pública, os governos assumiram a responsabilidade pela solvabilidade do sistema incluindo a nacionalização efectiva de instituições financeiras insolventes. Agora que a crise parece ter acalmado, é preciso evitar que volte a acontecer.

No entanto, a convicção dominante pode errar no diagnóstico, tanto quanto na proposta de cura. Ao funcionar como segurador de último recurso, o Estado pode estar a branquear os erros que conduziram à actual situação, enquanto o pagador de impostos pode ter de suportar elevadíssimos prejuízos. Por outro lado, se a intervenção se prolongar demasiado, incentiva os mesmos comportamentos no futuro.

A generalização da remuneração dos gestores com base no desempenho agrava a atracção pelo risco. Para quê emprestar dinheiro a 5% ao ano, quando há clientes de alto risco que prometem pagar 10%? Se a operação correr bem, a rendibilidade do banco é elevada e o gestor merece os elevados prémios que lhe correspondem. Se correr mal, o banco não vai à falência, porque o Estado intervém. O caso dos bancos, que agora se tornou tão famoso, é apenas um exemplo específico deste problema. Se uma empresa der um prémio ao seu gestor em função dos lucros obtidos no lançamento de um novo produto, este tem um incentivo para escolher o produto com maior risco – pode ganhar muito, mas, se o lançamento for um fiasco, o prejuízo é para a empresa. O problema não está tanto na "ganância", mas na sua impunidade.

Em vez de intervir e regular em excesso, é preciso gerir o sistema de incentivos de forma a evitar a preferência pelo risco elevado. Os gestores e as empresas devem ser avaliados numa perspectiva de longo prazo e assumir as consequências das suas decisões. É por isso que as empresas familiares revelam frequentemente uma prudência que escapa às empresas de capitais dispersos, sobretudo quando estas têm de apresentar contas com maior frequência, em que procuram sempre agradar aos accionistas. A possibilidade de falência das empresas, bancos incluídos, é uma condição necessária à disciplina dos seus decisores
."

José Paulo Esperança

LISBOA É PORTUGAL

"Em época de "autárquicas", isto é, durante o longo ano que precede as eleições, a Câmara Municipal de Lisboa preenche mais espaço mediático, como agora se diz, que as restantes 307 autarquias juntas. Há vigorosos debates sobre o embaraço que seria se X tentasse regressar à CML, ou sobre se Y daria um candidato capaz, ou sobre se a liderança da CML permitirá a Z alimentar ambições superiores. Isto claro, se a nação dispuser de um posto superior em prestígio e estatuto à presidência da CML, o que, a avaliar pelo barulho alusivo, é pouco provável.

Mas se o barulho proclama a solenidade da CML, também revela o seu menos solene quotidiano, comum a todos os mandatos. Apenas nas últimas semanas, houve notícias de distribuição de património por amigos, fecho de zonas públicas para publicidade de empresas, arrogância, favores, incompetência, etc. A única promessa que os ocupantes da CML invariavelmente cumprem é a de devolver o Tejo à cidade: mal chove, Lisboa rivaliza com Veneza.

Outra demonstração recente do estilo que habitualmente governa Lisboa prende-se com a empresa municipal que gere a habitação dos pobres. "Gerir" e "pobreza" são aqui conceitos latos, já que em escassos vinte meses de 2006 e 2007 três administradores da tal Gebalis terão gasto uma fortuna em viagens, livros, filmes, discos e refeições (64 mil euros em restaurantes). Não pertencesse o dinheiro aos contribuintes, o investimento dos três funcionários no aprimoramento cultural (e gastronómico) deveria ser louvado. Assim, a coisa não passa de um trivial roubo, igualzinho no método e na provável impunidade à regra do país autárquico, do qual, aliás, a CML não se distingue.

"Caso" após "caso", há quem insista em distingui-la, conferindo ao respectivo chefe uma relevância que, com ou sem culpa do dito, os hábitos da casa não justificam. No que toca a descaramento, a autarquia da capital é tão caipira quanto a de Felgueiras. Se a capital não andasse distraída a rir da província, notaria que os rigorosos rituais de escolha do seu próprio presidente pecam por exagero: na realidade, para presidir àquela desavergonhada balbúrdia qualquer um serve, embora, dadas as dimensões da desvergonha e da balbúrdia, a CML de facto não sirva a qualquer um.
"

Alberto Gonçalves

terça-feira, outubro 28, 2008

Até amanhã e boa sorte!

E a criminalidade continua a diminuir...

"Depois de dar o telemóvel é chiu e vai-te embora. E se não formos estão lá dez por trás para nos fazer a folha." O relato ao CM é de ‘João’, 18 anos, da escola Secundária Leal da Câmara, em Rio de Mouro, Sintra, e descreve a mais recente vaga de assaltos aos estudantes que, acabadas as aulas, se deslocam para a estação da CP. Os 300 metros entre a escola e a estação de comboios são o palco dos roubos. Às 18h45 as centenas de alunos que saem a passo apressado para ir para casa são um alvo fácil para bandos de rapazes, entre os 14 e os 17 anos, que se dedicam a roubar telemóveis e dinheiro.

A espera é feita nas duas entradas e saídas da estação de Rio de Mouro. "Um fica no cimo das escadas [que dão acesso à plataforma] e outro em baixo. Pedem para ‘ver’ o telemóvel. Quando são muitos fazem revistas ao pessoal", conta ‘João’,assaltado recentemente. As câmaras de videovigilância não são problema para os assaltantes. "Saltam para cima das câmaras e, empoleirados, conseguem baixá-las de modo a só se ver o chão", explica. Na zona não se vislumbra polícia ou segurança. Outro estudante, também já assaltado, conta que depois do roubo "saem do local calmamente". E indigna-se: "Sente-se que há mais insegurança porque a polícia não tem mão nisto."

Também os comerciantes da zona sentem medo da mais recente vaga de assaltos. "Todos os dias tenho receio do que possa acontecer, e se refilamos muito ainda sofremos represálias", conta uma lojista, que não quer ser identificada
(mais aqui)."

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Taxa de juros.

"Euribor acentuam quedas após Trichet ter admitido novo corte dos juros (mais aqui)"

E lá fora as taxas de juro continuam a descer incentivadas pela confissão inconfessada de incompetência do chefe da banda…

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R.I.P.

Morreu Gerard Damiano, o realizador que em 1972 nos apresentou Linda Susan Boreman mais conhecida pelo nome artístico de Linda Lovelace.

Casas que envelhecem virgens

"O sector imobiliário está num momento desolador. Muitas casas não se vendem, muitas não se pagam, muitas não se constroem até ao fim. O ajustamento é feito pelo preço mas a descida do metro quadrado não é ainda suficiente para ajustar a muita oferta à pouca procura.

Os perdedores fazem fila: proprietários que não vendem, promotores que não recebem, investidores que não realizam, imobiliárias que não comissionam, bancos que não cobram, câmaras que não taxam. Todos aqueles que lucraram uma década de prosperidade estão agarrados à cabeça.

Ponto prévio: não há um "crash" imobiliário em Portugal, como há noutros países, e nem é preciso falar dos Estados Unidos. Em Espanha e em Inglaterra há enormes desvalorizações de um sector que estava sobreaquecido, com consequências devastadoras para a economia. Um "crash" imobiliário é mais perigoso que um "crash" bolsista, porque há mais dinheiro das famílias envolvido e porque demora mais tempo a inverter. Safámo-nos disso porque há vários anos deixámos de subir preços, ao contrário doutros países. Os espanhóis e os ingleses, justamente, foram grandes investidores no metro quadrado de Lisboa, Algarve e Alentejo. Agora estão a vender, saltando do prato da procura para o da oferta, desequilibrando ainda mais a balança.

Em crises bolsistas passadas, houve deslocação de dinheiro das acções para os mercados imobiliários. Mas nesta, a queda das acções é uma consequência, não uma causa, de um excesso de negócios montados em cima de crédito, gerando uma procura artificial com subavaliação de riscos, o que aumentou preços em todos os lados, incluindo o imobiliário. Agora, o mercado está ilíquido, com pouca transacção, e quem ficou dono de casas demasiado caras é primo de quem ficou com as acções a preços meteóricos: os activos desvalorizaram. Mãos cheias de nada.

É inútil agora dizer "eu bem avisei", até porque avisámos todos, ao mesmo tempo que assinávamos contratos-promessa. A subida dos preços ficou primeiro no bolso dos investidores, com o tempo passou para a algibeira dos construtores e no final eram já os donos dos terrenos a ficar com o quinhão: os preços foram subindo retroactivamente. Pelo caminho, as câmaras fecharam os olhos às florestas de cogumelos de betão, porque o seu modelo de financiamento depende viciosamente das licenças para construir e dos impostos para adquirir e habitar.

Agora, ou se desce o preço, ou não há mercado. Mas isso significa assumir prejuízos: proprietários venderão mais barato, investidores perderão dinheiro, promotores suspenderão construções.

A alternativa é não vender e assumir os custos de ficar com as "casas que envelhecem virgens", como caracteriza o presidente da associação de promotores imobiliários APEMI. Ele foi, durante anos, o Manuel Pinho do imobiliário: optimista, arauto do sucesso e do "comprem, comprem, comprem", que contribuiu para o "construam, construam, construam" que levou ao absurdo de fogos agora vazios e não transaccionáveis. Ele é um exemplo dos excessos e agora até dá lições de moral aos seus associados: o que os construtores não sabem é construir as casas que as pessoas querem, diz. Eis uma pista: o que as pessoas querem das casas é comprá-las baratas; o que os especuladores querem é vendê-las caras; o que os aflitos anseiam é despachá-las a que preço for. É tão simples quanto inconciliável. Vai demorar anos a inverter. E há milhares de monumentos com uma placa que não nos deixará esquecê-lo: a placa "vende-se"
."

Pedro Santos Guerreiro

Brass in pocket

Retenção

"A ministra da Educação ficou “perplexa” com a percentagem de retenções de crianças no 2.º ano de escolaridade pelo que preconizou “medidas mais eficazes” para o problema.

Sugiro já uma: recomendar, primeiro, e depois proibir as retenções. Sem retenções não há crianças retidas, mesmo que não saibam juntar o “b a bá”.

Para grandes males grandes remédios e Portugal não pode ficar “retido” à espera que as crianças aprendam a ler, escrever e contar. Desde que teve um ministro da Educação que conjugava o pretérito perfeito do verbo intervir dizendo “ele interviu”, Portugal deveria ter acabado de vez com as retenções, pois não é justo uma criança ficar retida quando nada nem ninguém retém os erros gramaticais de alguém que chega a ministro da Educação. De maneira que acabe-se agora e já com o sistema das retenções e daqui por uns anos não haverá crianças “retencidas”, como dirão os doutores dessa época.

Portugal tem vindo a resolver muitos problemas por esse caminho absolutamente inovador. Por exemplo, clamam agora os jornais que, desde 2005, não são publicados dados sobre a violência policial. E sem dados acabou-se a violência policial, que era uma coisa que até 2005 envergonhava Portugal todos os anos. Da mesma forma pode acabar-se rapidamente com a violência doméstica, a violência nas escolas, o trabalho infantil, o desemprego, a pobreza. Em tempos houve um governador de Guanabara que diminuiu drasticamente a pobreza mandando esquadrões da morte chacinar os sem-abrigo durante a noite. Não é preciso tanto. Basta exterminá-los nos mapas administrativos.

Portugal devia registar rapidamente a patente e exportar a inovação para países menos criativos. Era uma contribuição positiva para fazer da Terra um mundo melhor: sem guerras, sem miséria, sem doenças, sem estatísticas
."

João Paulo Guerra

A banca aos tiros nos pés

"O Governo português anuncia uma garantia no valor de 20 mil milhões de dólares para garantir as transacções da banca. O mercado monetário tranquiliza-se e o dinheiro volta a circular. O principal objectivo do Governo estava conseguido: os bancos voltavam a emprestar dinheiro entre si e a Euribor começou a cair.

Com algum exagero, até se podia dizer que o Governo não precisava de fazer mais nada (v.g. aprovar a lei que disciplina o funcionamento das garantias). Porque o principal estava feito: os bancos confiaram na "garantia política" de que o Governo cobrirá o "default" de algum banco…

Dias depois, alguns dos principais bancos do sistema comunicam que não iriam recorrer à garantia do Estado. Porque não precisavam dela. Fazia sentido: não tinham sido eles a dizer ao país que não estavam em dificuldades?

Uma semana depois, os mesmos bancos, numa atitude surpreendente (?) aparecem a dizer exactamente o contrário: afinal admitem recorrer à garantia do Estado. Em que ficamos? Qual das versões está correcta? A primeira… ou a segunda. Se é a segunda, o que aconteceu no espaço de uma semana? Descobriram esqueletos nos armários? Ou alguém andou a fazer bluff aquando da primeira declaração?

É claro que não vão faltar explicações, porventura excelentes do ponto de vista retórico, para esta mudança de posição. Mas uma coisa é certa: dificilmente o país vai acreditar nelas
."

Camilo Lourenço

De que falamos quando falamos de crise

"Falamos do esgotamento dos principais propulsores de crescimento económico na última década. Desde os anos 90, observou-se uma forte queda de preços dos bens transaccionáveis por via da entrada dos países do sudoeste asiático no mercado mundial, da redução dos preços dos bens não transaccionáveis...

Desde os anos 90, observou-se uma forte queda de preços dos bens transaccionáveis por via da entrada dos países do sudoeste asiático no mercado mundial, da redução dos preços dos bens não transaccionáveis (devido às tecnologias de informação e comunicação e à liberalização dos serviços nas economias desenvolvidas) e da baixa das taxas de juro (pela conjugação de excesso de poupança no Oriente e complacência face ao risco no Ocidente). Os rendimentos do trabalho estagnavam, mas os orçamentos familiares progrediam. Enquanto os preços dos bens e os encargos com a dívida caiam, a bolha do crédito insuflava, e o mercado imobiliário e as bolsas valorizavam-se. Agora, os benefícios da globalização estão exaustos e a crise financeira enraizou-se de forma virulenta. O petróleo, as "t-shirts" e o crédito encareceram e a recessão subiu à ribalta, num momento que vislumbra a acalmia da desordem bancária.

O simultâneo abatimento dos principais responsáveis pelo impressionante surto de expansão económica da última década significa menores ritmos de crescimento futuro. Recordam-se os acontecimentos no Japão desde 1990, com o rebentamento da bolha imobiliária e a refundação do sistema bancário. Até 2007, os preços dos imóveis nipónicos caíram cerca de 60%. Em 1990, a sobrevalorização do mercado imobiliário nipónico atingia níveis próximos dos registados nos EUA em 2006. O mercado imobiliário americano, que vive os primeiros momentos de correcção, poderá não assistir a uma queda tão pronunciada, beneficiando de uma dinâmica populacional mais benigna. Por exemplo, no Reino Unido, a descida de preços imobiliários na década de 90 foi de 25%. Mas ensombra a estabilidade do sector financeiro, que persistirá, enquanto o mercado imobiliário continuar a fornecer incentivos ao incumprimento. Até agora nenhuma medida tomada para evitar o colapso financeiro foi destinada a inverter este fenómeno, que deixa os bancos no limbo. O consumo privado, que representa cerca de 71% do PIB americano (56% na EU), terá de encolher, reconstituindo-se poupança. Sobre os orçamentos das famílias americanas pesa ainda a subida dos preços e das taxas de juro. A pressão sobre o rendimento disponível das famílias também é visível na Europa e no resto do mundo. Embora as famílias europeias estejam menos endividadas, as empresas da UE estão mais endividadas e dependem mais de crédito bancário (cerca de 50% das suas responsabilidades é crédito bancário, contra 30% no caso dos EUA), numa envolvente de acentuadas restrições creditícias. O propulsor do crescimento europeu são as exportações. Efectivamente, o PIB europeu representa 16.1% do PIB mundial (21.3% nos EUA), mas as exportações europeias correspondem a 29.4% das exportações globais (9.6% no caso dos EUA). Olhando para o paradigma de consumo, para a dinâmica populacional e para a dependência das exportações, a Europa configura a possibilidade de um padrão de crescimento nos próximos tempos mais semelhante ao Japão que os EUA, onde a demografia, a mobilidade regional, a flexibilidade de mercados e investimento empresarial menor que o europeu conferem um crescimento potencial superior.

As economias emergentes irão compensar a quebra de crescimento das economias desenvolvidas? As últimas projecções do FMI apontam para um crescimento mundial de 3% em 2009 (3.9% em 2008) à custa da expansão de 6.1% das economias emergentes, que representam 44% do PIB mundial. Os catalisadores do crescimento serão o consumo e o investimento, em vez das exportações. Para a China manter o ritmo de expansão previsto de 9.3%, é necessário que o abrandamento das exportações (50% dirige-se à Europa e EUA) seja compensado por acréscimo de investimento e consumo privado. O consumo privado representa 36% do PIB e o investimento 40%. O primeiro está a expandir-se, mas a poupança é alta e a subida dos preços internacionais pesa mais nos orçamentos asiáticos que nos ocidentais. Pelo lado do investimento, dada a actual envolvente financeira, o investimento directo na China deverá abrandar e o custo das obras públicas previstas elevar-se-á. Com perfis idênticos, as economias emergentes correm o risco de estagnar. Embora estejam mais resistentes a choques externos, os recentes bons resultados são parcialmente devedores do incremento da procura de "commodities", que definha. Se, num contexto financeiro adverso, as exportações abrandam e as importações aceleram, por via de maior dinamismo interno, alguns fantasmas do passado serão reanimados. O FMI já se encontra a elaborar planos de auxílio para países que vão da Islândia ao Paquistão, passando pela Ucrânia
."

Cristina Casalinho

OS PUPILOS DO SR. REITOR

"Nas "praxes" do colégio agropecuário da Universidade de Évora, os alunos rastejam em excrementos de animais. E não, não é para se familiarizarem com a futura carreira. De acordo com o presidente da Associação de Estudantes, António Guladino, é somente para cumprir um "hábito antigo" e uma "tradição". Ao que parece, "todos os estudantes daquele curso gostam de passar pelo esterco". Mais: alguns, do segundo ano, "pedem para passar por aquilo outra vez". O sr. Gualdino, que se considera adepto de "uma praxe bem feita", leia-se de uma praxe sem "abusos", "excessos" e "que respeita as pessoas", jura que nunca houve queixas.

Com ou sem queixas, o reitor da Universidade decidiu proibir o vetusto exercício e abrir um processo aos seus organizadores. A medida, muito fácil e portuguesa, decerto merecerá os aplausos do prof. Mariano Gago e do Bloco de Esquerda. Infelizmente, viola a liberdade dos eventuais alunos que apreciam mesmo chafurdar em fezes e absolve a Universidade que aceita e finge formar semelhantes promessas do saber
."

Alberto Gonçalves

segunda-feira, outubro 27, 2008

Renegade

NOITE DE RIXAS, TIROS, VINGANÇA E HOMICÍDIO

"A guerra de cabo-verdianos com angolanos já era antiga no bairro. Na noite em que foi assassinado, Marco Vaz tinha ido com o irmão mais novo – Adilson, de 17 anos – a uma discoteca improvisada. Aí, uma rixa entre Marco e outro jovem do grupo da Quinta do Mocho levou o jovem depois assassinado a chamar amigos do gang do bairro da Bogalheira (onde Marco viveu e com quem mais se dava). Estes chegaram ao local em dois carros e, sem parar, dispararam vários tiros de caçadeira, fazendo sete feridos entre os rivais. Marco e o irmão fugiram, deixando para trás os feridos pertencentes ao grupo rival. Sedentos de vingança, os membros do gang da Quinta do Mocho perseguiram-nos até casa: invadindo-a, fechando a mãe de Marco no quarto e assassinando-o (à pedrada e a tiro) à frente do irmão Adilson, na cozinha da casa (mais aqui)".

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Curiosidades.

"O governo de Camberra pondera reduzir substancialmente o fluxo de entrada de trabalhadores estrangeiros caso a crise financeira internacional aumente o desemprego na Austrália, um país cada vez mais procurado pelos imigrantes (mais aqui)"

Mea culpa de Greenspan

"Alan Greenspan foi durante 19 anos (1987 a 2006) o-todo-poderoso patrão da Reserva Federal, a FED, a autoridade monetária do dólar. Entrou com Reagan e só sai com George W. Bush. Em alguns períodos foi mesmo mais influente e poderoso do que o próprio inquilino da Casa Branca. Durante o seu consulado, os americanos registaram um crescimento de riqueza ímpar.

Enquanto os seus pares da Europa se preocupavam mais com a inflação, Greenspan preocupava-se com o PIB. Abriu a torneira do crédito com juros baixos, apesar dos desequilíbrios externos da economia americana. O consumo disparou e as Bolsas bateram recordes. Fizeram-se fortunas fabulosas. Até que um dia rebentou a bolha do subprime. O guru percebeu que errou e fez mea culpa perante os congressistas no Capitólio, em Washington.

- Esta semana Greenspan foi ao congresso dos Estados Unidos admitir que cometeu erros por não ter previsto a dimensão da crise do crédito. O dinheiro barato alimentou a bolha imobiliária e permitiu a pessoas que nunca poderiam comprar casa acesso a crédito fácil, que não conseguiram pagar.

- Outro erro admitido por Greenspan foi o de ter confiado em que as instituições financeiras se vigiariam umas às outras para preservarem os seus interesses. Mas o mercado não se soube auto-regular
."

Armando Esteves Pereira

CARREGAR O CRESCENTE

"Depois de meses em que a campanha de Obama desmentiu toda a sorte de insinuações de que o candidato democrata seria muçulmano (ou "árabe", como acusou uma anónima apoiante de McCain e este contrariou de imediato: "Não senhora, é um homem decente e de família"), Colin Powell surgiu a apoiar Obama e, de caminho, a dizer o óbvio, ou seja, que não devia haver necessidade de se negar o que não constitui um crime.

Sucede que o óbvio nem sempre é exacto. Ouvindo Powell, por exemplo, fica-se com a ideia de que a baça imagem dos muçulmanos resulta de uma espécie de discriminação gratuita, e que a restante população dos EUA resolveu, sem argumentos plausíveis, recear uma religião em peso devido às acções e convicções de uma ínfima minoria dos seus praticantes.

Powell tem razão no que respeita à injustiça da discriminação. Mas erra na respectiva autoria, que o general, por diferentes palavras, sugere pertencer a cristãos, judeus, budistas, ateus e americanos de crenças e descrenças sortidas. Não foram estes "infiéis" que inventaram o separatismo racista da Nação do Islão, as regulares tentativas de destruição de Israel, a islamização iraniana e, sobretudo, o 11 de Setembro e o terror associado. E se é verdade que apenas uma pequena parcela dos muçulmanos no mundo esteve ou está envolvida nas brincadeiras acima, uma parcela assaz maior exibe em sondagens franca simpatia pela conversão forçada dos hereges ou pela Al-Qaeda, inclinações que não fazem maravilhas pela reputação de Alá no Kansas ou até em Nova Iorque.

Existem, mesmo assim, muçulmanos que abominam o terrorismo? Milhões, e muitos vivem nos EUA, incluindo o taxista de origem síria que, em Manhattan, me conduziu com um boneco de Bush no retrovisor e um discurso "patriótico" na garganta.

Os enxovalhos que essa gente ocasionalmente sofre não têm nome. Têm, porém, culpados, mais fáceis de encontrar na mesquita do que na sinagoga ou na igreja. É deles que os muçulmanos empenhados numa vida digna, e Colin Powell, se podem queixar, embora às vezes pareça que não se queixam o suficiente, preferindo lamentar a "intolerância" de um país que se prepara para eleger um negro presidente. Não é pela intolerância que o negro em causa foge das conotações islâmicas como o diabo do crescente, perdão, da cruz. Obama é cristão, pormenor que Powell, aliás, fez questão de lembrar com firmeza
."

Alberto Gonçalves

domingo, outubro 26, 2008

Estamos todos a morrer desde que nascemos...

"Os blogs estão a morrer". do Dr Assur
"Os blogs estão a morrer, estão ultrapassados». A afirmação, que já está a gerar polémica no meio digital, e não só, é de Paul Boutin, um especialista em Internet, na edição digital da revista Wired. Boutin vai mais longe e dá mesmo um «conselho de amigo»: «Se está a pensar em criar um blog, não o faça. E caso já tenha um, encerre-o (mais aqui)».

Comentário apressado de Toupeira que tem de trabalhar para comer, (desculpem se há erros de português):

Pois tudo está a morrer, até nós, desde que nascemos.
O que morreu foram os princípios das sociedades, renascendo a selvajaria e a ignorância graças aos Murdochs e outros patrões dos media deste mundo.
Ora, quem mata um sistema tenta manter outro, ou seja, o sistema financeiro que não tem solução à vista.
Chamaram indústria a este sistema financeiro. A democracia e as empresas como dizia um economista de um governo que foi mandado embora por um Presidente da República de má memória deste sítio cada vez mais perigoso e mais mal frequentado,dizia que os governos governam na melhor das hipóteses por 3 anos e as empresas seguem o mesmo ciclo, como seguem as câmaras, (tem a ver com a pior das ditaduras, digo eu, a democracia...)
A única hipótese, depois da desgraça da globalização e da crise económica é voltar a novos blocos geoestratégicos.
O jogo perigoso que a China está a fazer com os Estados Unidos, poderá custar muito caro a um dos dois.
A Europa deve virar-se para leste, aí é o seu lugar.
Depois, para o fazer é muito complicado, por causa, da democracia ou dos moldes em que as massas amorfas e impreparadas votam , ou seja, o índice de abstenções irá crescer cada vez mais e aí teremos esta espécie de tiranetes, vazios de conteúdo e sobretudo mentirosos como o PM, que repetem vezes sem conta obras que não chegam a ser feitas e que destruiram o estado, a favor e com favores, a um grupo restrito de empresas e de empresários que não criam riqueza.
Esta foi outra consequência dos arautos do neoliberalismo e do Consenso de Washington, o estado servido a preços de amigo, (crimes de participação em negócio, nepotismo, tráfico de influências e corrupção através da manipulação dos preços por ajuste directo e luvas, comissões e empregos de fachada).
Mas dizia eu, na minha santa ignorância que na Europa e nos Estados Unidos se pensou que se podia viver da "indústria financeira" e depois, as empresas deveriam ser deslocalizadas para leste primeiro e depois para a China e Índia.
Assim destruiram-se as indústrias e criaram-se os excluidos, pensando que havia a possibilidade de se comprar os produtos produzidos nesses países emergentes e que esses produtos eram de boa qualidade, ou melhor, com um pouco menos de qualidade.
Produtos que duravam 10 anos hoje duram 6 meses, mais baratos, mas o barato sai sempre caro.
A Europa, vai ter de pensar pela sua cabeça e esquecer que os Estados Unidos são seus aliados, porque não são, são concorrentes.
Ora o nosso problema são o espelho das populações, ou seja a qualidade dos dirigentes, apenas um na Europa demonstrou até agora estar certo, Brown, o resto são tontos ou gente subserviente, como Durão.
Pois é natural que os blogs estejam a morrer, estamos todos, desde que nascemos...

sábado, outubro 25, 2008

"Os blogs estão a morrer".

"Os blogs estão a morrer, estão ultrapassados». A afirmação, que já está a gerar polémica no meio digital, e não só, é de Paul Boutin, um especialista em Internet, na edição digital da revista Wired. Boutin vai mais longe e dá mesmo um «conselho de amigo»: «Se está a pensar em criar um blog, não o faça. E caso já tenha um, encerre-o (mais aqui)».

Combustíveis.

"Os preços dos combustíveis em Espanha caíram quase 5% na última semana e, em alguns locais, já se compram a menos de um euro por litro, segundo o Boletim Petrolífero da União Europeia (mais aqui)."
E lá fora os combustíveis continuam a descer…

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A fatalidade dos ciclos políticos

"Manuela Ferreira Leite encara a prova de uma entrevista sentada entre um copo de veneno e a sombra de um revólver.

Na última entrevista televisiva, Manuela Ferreira Leite surge mais solta, confiante e afirmativa. Tal não pode ser considerado uma surpresa, tanto mais que o tema em questão incidia sobre os segredos da Economia e do Orçamento. Percebe-se facilmente que Ferreira Leite vibra com as discussões económicas, sobretudo quando o exercício lhe confere o estatuto ímpar de juiz absoluto de um primeiro-ministro ausente.

No entanto, e em matéria política, Ferreira Leite repetiu uma flagrante incomodidade. Mais do que incomodidade, a líder do PSD aparenta uma peculiar fragilidade no mundo fluido da discussão política. Na questão das Autárquicas, Ferreira Leite evitou a frontalidade das ideias e refugiou-se em argumentos de autoridade que jamais serão definitivos. Neste particular, a entrevista serviu para ganhar tempo, serviu sobretudo para adiar uma discussão que existe hoje a céu aberto.

Mas no estilo, a entrevista deixa no observador uma estranha sensação. Manuela Ferreira Leite encara a prova de uma entrevista sentada entre um copo de veneno e a sombra de um revólver. O esforço perturba a narrativa e a disponibilidade política desaparece num ápice face à iminência de uma permanente ameaça.

Ainda a propósito da entrevista, existe uma reflexão mais profunda sobre a política nacional. A grande regra da vida portuguesa continua a ser a ausência de uma discussão séria entre visões políticas alternativas e em competição. A política reduz-se a um duelo pelo acesso ao Governo e ao natural domínio do Estado. Conquistado o poder, o esforço político do Governo centra-se na gestão da pobreza e nunca na promoção da riqueza. Sobem os impostos hoje ou baixam os impostos amanhã? Como se vai garantir já a justiça social? Mais investimento nas obras públicas agora ou mais recursos para a nova quimera tecnológica vocacionada para a modernidade e o desenvolvimento? O imediato e o curto prazo dominam a troca de impressões e sugestões que em Portugal se designa por reflexão política. Aliás, é na gestão da pobreza e no domínio da retórica política que o Governo prolonga e aprofunda o seu poder sobre o país. E deste modo original se vai perpetuando o atraso.

Em Portugal, na oposição todos os líderes são maus. Mas no Governo, para pior já basta assim. Para a resolução do paradoxo da imobilidade, o país inventou a teoria dos ciclos políticos. É tudo uma questão de tempo. E saber esperar ainda é a grande virtude de um político em Portugal
."

Carlos Marques de Almeida

sexta-feira, outubro 24, 2008

Manipulação de preços de ouro e prata por bancos americanos

A ponta do iceberg e o que parece é.
Vai ter que ver com a volta do USD como única moeda de troca e o fim do Euro?
Os dirigentes europeus, sem excepção, são marionetes nas mão dos banqueiros do clube, por mais que digam que não.
Artigo:
Nas últimas semanas, vários leitores da MRA Alliance interrogaram-se sobre as justificações técnicas e racionais para a queda de algumas matérias-primas cujos preços, num ambiente de colapso dos mercados financeiros, de incerteza e algum pânico, deveriam ter evoluções de preço diferentes das tendências actuais.
A questão está relacionada com potentes dinâmicas especulativas que, pela sua dimensão, mas à margem da lei, conseguem em poucas semanas manipular as cotações consoante os interesses dos grandes conglomerados financeiros e industriais.
No que toca ao ouro e à prata, aqui fica a explicação.
As mesmas práticas aplicam-se a outras matérias-primas - das alimentares, ao petróleo, gás, minerais, etc.
O mercado das opções e dos futuros - sujeito a regulação pelas autoridades competentes - é o cenário.
O exemplo que escolhemos foi compilado pelo especialista em metais preciosos, Theodore Butler, da Silver Seek, LLC.

OS NÚMEROS

PRATA: Em 01/Jul/2008, dois bancos americanos detinham 6 199 contratos a descoberto (short) na mercadoria COMEX Silver, equivalentes a 30 995 000 onças. Em 5/Ago/2008, dois bancos americanos detinham 33 805 contratos COMEX Silver, equivalentes a 169 025 000 onças – um aumento superior a 500%. Trata-se da maior posição alguma vez registada pelas estatísticas oficiais. Entre os dias 14 de Julho e 15 de Agosto, o preço COMEX Silver caiu 38% – de USD 19,55 (base Setembro) para USD 12,22.
OURO: Em Julho, três bancos americanos detinham 7 787 contratos a descoberto (short), na mercadoria COMEX Gold, equivalentes a 778 700 onças. No mês seguinte, três bancos americanos detinham 86 398 contratos na mercadoria COMEX Gold, equivalentes a 8 639 800 onças – um aumento superior a 1100%, coincidente com a queda das cotações do ouro em cerca de USD 150/onça. Tal como no caso da prata, esta foi a maior posição a descoberto detida por bancos norte-americanos no histórico estatístico da CFTC/Commodities Futures Trade Commission, disponível no site. A posição foi assumida pouco antes do colapso dos preços.

A ANÁLISE
Os números sugerem a existência de uma massiva manipulação do mercado e levantam um conjunto de questões suscitadas pelo analista da Silver Seek:
“― Existe alguma relação entre a venda adicional de 27 606 contratos futuros de prata (130 milhões de onças) no espaço de um mês, imediatamente seguido por uma forte queda das cotações daquela commoditie? O valor equivale a 20% do total da produção mineira mundial e à totalidade das existências armazenadas fisicamente pela COMEX, o segundo maior inventário de prata do mundo. Como poderia o preço não ser influenciado pela venda concentrada de tais quantidades num período tão curto de tempo?
― Existe alguma relação entre a venda adicional, por três bancos americanos, de 78 611 contratos futuros (7 861 100 onças), no espaço de um mês, logo seguida por uma queda violenta dos preços do ouro? O valor é equivalente a 10% da produção anual de ouro e ascende a USD 7 mil milhões/bilhões (mm/bi), transaccionados por três bancos em contratos futuros no espaço de um mês. Como pode uma extraordinária concentração de volume de vendas não ser uma manipulação?
― Por os preços terem caído tão violentamente, após as vendas a descoberto, os detentores de inventários físicos de prata, a nível global, registaram um decréscimo em valor que ultrapassou USD 2,5 mm/bi, pelo que, os detentores de contratos long sofreram perdas de igual dimensão. No caso do ouro, as perdas dos investidores foram muito superiores uma vez que o valor em dólares é muito maior que o da prata - da ordem das centenas de mm/bi - em termos de inventário físico. A queda das acções das companhias mineiras cotadas soma mais uns milhares de milhões aos prejuízos. A quebra do valor do ouro foi provocada pela venda concentrada e a descoberto por dois ou três bancos norte-americanos?
― Que negócio legítimo exercem os dois ou três bancos, para, de repente, venderem short tamanhas quantidades de instrumentos especulativos, num período tão curto? Queremos bancos envolvidos neste tipo de actividade? Se a manipulação não foi bem sucedida os contribuintes norte-americanos seriam novamente chamados para salvar outra especulação bancária que correu mal?
― Terão os traders que registaram prejuízos no recente colapso dos preços razões para acreditar que o seu dinheiro está agora nos cofres daqueles dois ou três bancos? Se assim for, será que têm hipóteses de recurso?”, remata Theodore Butler.
Os factos relatados apontam claramente para uma manipulação de proporções gigantescas. Um escasso número de bancos operou um dos maiores colapsos de preços na história dos metais preciosos. Operações do mesmo tipo justificam a queda dos preços destas e de outras commodities completamente à revelia da oferta e da procura.
Dá para entender o motivo pelo qual o ouro (mercado spot) oscilou ontem (23-10-2008) entre USD 733,60/736,10, escassas semanas depois de quase ter atingido a cotação de USD 1 000/onça?

A manobra é tão escandalosa quanto o silêncio e inacção das autoridades reguladoras do mercado norte-americano.
MRA Alliance, Dep. Data Mining
Pedro Varanda de Castro, Consultor
Fonte Analítica: Theodore Butler
Fonte Estatística: Commodities Futures Trade Commission
Os dados encontram-se nas secções de futuros de Julho e Agosto/2008

Pictures Of Home

Curiosidades.

1/ "Joana apanhou a mãe e o tio nus no sofá na altura em que se preparavam para manter relações sexuais. Assim que a criança de oito anos ameaçou contar tudo ao companheiro de Leonor, esta e o irmão, João, agrediram-na com bofetadas tão violentas que bateu com a cabeça numa parede e morreu ali, na casa da Aldeia de Figueira, em Portimão, onde vivia com o padrasto e dois meios-irmãos (mais aqui)".

2/ "Está em causa um crime de tortura, contra a Humanidade, pronunciado por um juiz. A Ordem dos Advogados (OA) vai constituir-se assistente para coadjuvar o Ministério Público na descoberta da verdade (mais aquiAntónio Marinho Pinto frisou que "é tempo de acabar com essa regra de que em investigação criminal vale tudo". "Não vale tudo (mais aqui)"

Desafio

"Bem sabem os portugueses como o Governo trabalha bem as estatísticas e para as estatísticas.

Basta ver, por exemplo, o trabalho sobre os dados do desemprego ou do insucesso escolar para ver como o tratamento dos números sabe tapar as mazelas, disfarçar as cicatrizes, abrilhantar a imagem do país e lisonjear o trabalho do Executivo. De tal modo que embora os portugueses corram o risco de se reconhecerem cada vez menos em alguns tratamentos da realidade social, não há dúvida que a propaganda do Governo, para uso interno e externo, tem vindo a esmerar-se em redor das aparências. A realidade pode não ser lá muito bonita mas a imagem do espelho é suficientemente distorcida para parecer aceitável ou até mesmo boa.

Agora, porém, há um desafio que vai pôr à prova toda a habilidade do Governo e a industriosa capacidade dos seus especialistas de imagem. Trata-se dos dados da OCDE que situam Portugal no terceiro lugar dos países mais desiguais abrangidos pela Organização de Cooperação e Desenvolvimento Económico, logo abaixo do México e da Turquia, e a quilómetros de países mais justos como a Dinamarca ou a Suécia.

Porque é fácil, com golpes de mágica política ou contabilística, fazer desaparecer milhares de analfabetos ou milhões de pobres. Mas é muito difícil esbater o fosso abissal que em Portugal separa os imensamente ricos dos muito pobres. É que o fosso vê-se e por muito envergonhada e discreta que seja a pobreza, há sempre uma ostensiva riqueza a meter-se pelos olhos dentro. Basta olhar à volta para se dar por essa desigualdade que o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade considerou “injusta e imoral”. Nem o Governo pode tirar alguma coisa aos ricos nem quer dar alguma coisa aos pobres de maneira a atenuar o fosso. E a desigualdade pode desacreditar todo o imenso trabalho que o Governo tem tido, de há umas semanas para cá, para dourar a pílula social. Com imaginação até se arranjam números que provem que o Governo é campeão nacional da sensibilidade social
."

João Paulo Guerra

PLANO INCLINADO

"Paulo Carvalho, professor, descreveu no seu blogue (http/paulocarvalhotecnologias.word press.com) uma sessão "formativa" do Plano Tecnológico. A certa altura da dita, paga pelo Ministério da Educação, a senhora formadora requisitou à plateia de docentes que, até ao dia seguinte, escrevessem, encenassem e interpretassem uma cantiga de louvor ao célebre Magalhães, sob pena de serem excluídos da rifa de um.

Entre os 200 docentes, poucos arriscaram a perda. Quase todos gastaram a noite na concepção de um número de vaudeville à altura da geringonça. No blogue de Paulo Carvalho há uma amostra, em vídeo, do resultado: perante a justificada alegria da senhora formadora e ajudantes, uma resma de professores salta e bate palmas ao som de Esta Vida de Marinheiro enquanto um ecrã passa imagens do Magalhães. Um segundo vídeo, no "site" do "Jornal de Notícias", consiste em cinco professores sentados que, com o Magalhães ao colo, simulam remar e cantam sobre a melodia de "Grândola": "Aqui vem o Magalhães/ Um PC de encantar/ Para o menino e para a menina / Não é para a mãe brincar".

Existe, claro, a hipótese de Paulo Carvalho ser um brincalhão, e de o texto e os vídeos citados se limitarem a uma paródia de amigos nos papéis da senhora formadora e da audiência de professores. A hipótese que sobra, a de este desvairado circo ser autêntico, também pressupõe brincadeira e paródia. A diferença é que serão outros os autores, outro o público e, se no tempo dela se tivesse descido tanto, outra senhora.
"


Alberto Gonçalves

A quem interessar...




17 de Março Pavilhão Atlântico.

quinta-feira, outubro 23, 2008

Até amanhã e boa sorte!

Taxas de juro.

"Hoje foi a vez da taxa Euribor a seis meses baixar da fasquia dos cinco por cento e ficar a valer 4,992 por cento, contra os 5,006 por cento da véspera, num movimento de correcção do preço do dinheiro que tende a aproximar-se do valor de referência do Banco Central Europeu (BCE), que se encontra nos 3,75 por cento (mais aqui)."
E lá fora as taxas de juro continuam a descer…

E a criminalidade continua a diminuir...

"Uma cena típica de um filme de acção de Hollywood aconteceu, na manhã de ontem, em pleno centro do Marco de Canaveses. Três indivíduos, encapuzados e armados, bloquearam uma das artérias da cidade para efectuar um assalto a uma ourivesaria. Horas mais tarde, a poucos metros de distância, decorreu o julgamento de Avelino Ferreira Torres no Tribunal local que fica ao lado do estabelecimento assaltado (mais aqui)".

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Salão Erótico de Lisboa vai ser convertido em festival de cinema

"O Salão Erótico, que abre as portas a 31 de Outubro, impulsionou e internacionalizou a indústria portuguesa de entretenimento para adultos e no próximo ano será convertido num festival de cinema, revelou hoje à Lusa o director do evento (mais aqui)"

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Modernices

"Durante um espectáculo de striptease no clube Booby Trap, em Pompano Beach, na Flórida), Charles Privette, de 35 anos de idade, foi atingido com um sapato de uma das bailarinas. O calçado além de atingir um cliente, ainda partiu um espelho, que se quebrou sobre a mesma vítima (mais aqui)"
No nosso tempo usava-se um balde de água fria…

O Fortuna

Curiosidades.

"Apesar de a taxa Euribor continuar a descer, prestações sobem até Dezembro (mais aqui)"

E a criminalidade continua a diminuir...

"O ministro da Justiça admitiu, esta terça-feira no Parlamento, que se verificou um aumento da criminalidade. Facto que relacionou com um aumento de presos preventivos que decorre, segundo Alberto Costa, desde Setembro (mais aqui)"
Se o número de presos preventivos consegue aumentar com as novas leis penais concebidas para diminuir o número desses presos, o sítio está mesmo muito mal. Tão mal que o próprio ministro é obrigado a reconhecer que a criminalidade está a aumentar.

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Juiz António Martins diz a Marinho Pinto para ir «tratar-se»

"António Martins entende que Marinho Pinto continua com a «senda persecutória em relação aos juízes», ironizando que só encontra duas explicações para isso: a primeira, é a de que se trata de «uma obsessão», observando que «a psicologia e a psiquiatria é que tratam das obsessões». «Portanto, convém tratar-se», aconselhou.

A outra explicação, disse, prende-se com «a preocupação desse senhor em defender tudo o que seja do Governo ou do PS». «Assim tenho mais dificuldade. Se fosse jornalista até aceitava, mas sendo representante de uma classe profissional parece que foi eleito para defender essa classe profissional e não o PS», comentou António Martins
(mais aqui)".

Justiça fiscal

"Continuamos a ser um dos países da OCDE com pior distribuição da riqueza. Nada indica que algo mudará no futuro próximo.

A aprovação de um novo orçamento de Estado devia ser um bom momento para discutir a justiça da fiscalidade. Mas não é isso que acontece. Quando falamos com fiscalistas sobre o assunto, ficamos com a impressão que não conhecem a literatura relevante. Se falamos com políticos profissionais, o resultado não é muito mais animador. Para eles, a justiça ou injustiça dos impostos parece resumir-se à possibilidade de os subir ou baixar no seu conjunto. Esta resposta está longe de ser minimamente satisfatória. Mas serve como ponto de partida para a reflexão.

Há pelo menos uma perspectiva política que considera que “quanto menos impostos melhor”. Trata-se da perspectiva libertária, ou libertarista. De acordo com esta visão, um Estado justo deve ser mínimo, na medida em que visa apenas a protecção da propriedade individual, englobando neste conceito tanto a propriedade de bens materiais como a propriedade que cada um exerce sobre o seu próprio corpo e espírito. Um Estado destes precisa de pouco dinheiro e, portanto, de poucos impostos. Segundo os defensores desta visão, um Estado que colecta com vista a promover objectivos para além das chamadas funções de soberania e alguma regulação dos mercados é um Estado ilegítimo e os impostos que cobra para esse efeito são ilegítimos. Eles são, num certo sentido, um “roubo organizado”.

Porém, se excluirmos o libertarismo, não parece fácil dizer que menos impostos significam mais justiça. Se tivermos uma visão não libertarista das funções do Estado – uma visão liberal social, ou social-democrata, por exemplo – então temos de admitir que cabe ao Estado fazer directamente ou garantir que sejam realizadas uma série de funções que têm a ver com coisas que nós, enquanto sociedade, queremos que sejam feitas em comum, desde investimento público em infraestruturas à cobertura de riscos sociais, da garantia de bens públicos fundamentais à prestação de cuidados de saúde e serviços educativos para todos. É claro que podemos considerar que algumas coisas feitas pelo Estado são intrinsecamente injustas – por exemplo, pôr os contribuintes a subsidiar os espectáculos de ópera da burguesia lisboeta. Mas, mesmo deixando de lado alguns casos de patente injustiça, continuamos a necessitar de muito dinheiro para que o Estado desempenhe todas as suas funções. Neste caso, mais impostos não significam necessariamente menos justiça e podem mesmo significar mais justiça.

A questão que se coloca então é a de saber como repartir esses impostos, ou seja, o que é que cada um de nós, ou cada família, deve pagar. Mas aqui surgem novas – e muitas – questões de justiça. Por exemplo, é mais justo um imposto directo como o IRS, ou o IRC, ou um imposto indirecto como o IVA? A tendência geral é para pensar que o imposto sobre os rendimentos é mais justo porque paga mais quem mais recebe. Mas não creio que assim seja. Este tipo de imposto gera um incentivo negativo para quem pode produzir mais e induz à fraude na declaração dos rendimentos. Pelo contrário, um imposto como o IVA penaliza especialmente quem consome mais e, sobretudo, quem consome bens que não são de primeira necessidade e que não têm taxa reduzida. Desta forma, ele acaba por ser razoavelmente justo e não ter as consequências indesejáveis, do ponto de vista da justiça, do IRS ou do IRC. Apresento aqui este ponto apenas a tipo exemplificativo, uma vez que muitos outros merecem ser debatidos do ponto de vista da justiça: as isenções e deduções fiscais consagradas em sede de IRS e IRC; a velha questão da progressividade; ou a questão do imposto sucessório, cuja ineficácia na colecta e posterior abolição pelo Governo Barroso criou entre nós um caso especialmente grave de injustiça intergeracional.

Como estas questões nunca são seriamente debatidas pelos partidos e os Governos têm uma visão casuística dos impostos – motivada por necessidades contabilísticas, ou pelo contexto económico – o resultado é que, apesar da diminuição da pobreza possibilitada pelas transferências sociais, continuamos a ser um dos países da OCDE com pior distribuição da riqueza. Nada indica que algo mudará no futuro próximo. Pelos vistos, o “socialismo” do Governo não dá para tanto
."

João Cardoso Rosas

MERECIDO SOSSEGO

"Agora que meio mundo parou de venerar o treinador Carlos Queiroz e desatou a insultá-lo, tenciono dedicar cinco minutos à defesa do homem. Não é que tenha argumentos distintos da multidão furiosa. Na verdade, os argumentos são exactamente os mesmos: as desgraçadas exibições da selecção de futebol. As consequências é que diferem: a multidão aflige-se com as exibições, eu acho-as uma bênção.

Não sei nem quero saber se o sr. Queiroz é o responsável pela derrota com a Dinamarca ou pelo empate com um punhado de albaneses. Sei que, sob a orientação dele, a lendária "equipa de todos nós" ameaça voltar a ser apenas a equipa dos onze moços que saltitam no campo. E semelhante benesse não tem preço. Espero não exagerar no optimismo, mas se as coisas correrem pelo melhor, ou seja, do modo que têm corrido, terminou a época das bandeirinhas e dos cachecóis que nos vinham atormentando, Verão sim, Verão não, desde há meia dúzia de anos.

A culpa, inútil recordar, foi de Scolari. O brasileiro, mais as santinhas, as cantilenas de Roberto Leal, os anúncios do "pimbolim" e as regulares vitórias mostrou que o povo não só não é sereno como, devidamente provocado, faz um escarcéu que não se aguenta. Eu aguentei, e caladinho, a histeria e o patriotismo da amalucada pátria que, só porque num particular dia o adversário acerta menos um pénalti, corre a reivindicar, inclusive junto dos meus ouvidos, uma incontestável superioridade (em quê?). Com Scolari, criou-se a alucinação colectiva de que éramos "os maiores". Aparentemente, já não somos, e há que agradecer a Carlos Queiroz o retorno à modorra "habitual".

No final do jogo com a Albânia, o repórter da RTP queixava-se da ausência do sr. Queiroz na flash interview (entrevista rápida, em português; em futebolês é intraduzível): "Os portugueses não merecem isto." O repórter não sabe o que diz: eu mereço.
"

Alberto Gonçalves

quarta-feira, outubro 22, 2008

Num ano o sistema bancário virá novamente a repetir tudo

O governador do Banco de Inglaterra, Mervyn King, admitiu ontem que a crise financeira global deverá empurrar o país para uma recessão, num discurso proferido em Leeds, durante uma cerimónia com empresários britânicos.
King manifestou a convicção de que o preço dos imóveis continuará a cair e admitiu a continuação da depreciação da libra.
O discurso foi interpretado por analistas como o “mais pessimista” desde a tomada de posse do governador, em 2003. “Estamos longe do patamar da estabilidade. (…)
Porém, estou convencido que o plano para recapitalizar o sistema bancário irá dar frutos quando ultrapassarmos os problemas da crise bancária iniciada no ano passado”, afirmou King.
MRA Dep. Data Mining
Os ingleses estão muito confiantes, desde que Blair anda nas conferências, tal como Greenspan, tudo passa por eles como se não tivessem feito nada, não vão ser canonizados porque a religião de um e de outro não admitem santos, por cá os santos da casa , fazem milagres... de marketing, graças à Censura ou Exame Prévio dos colunistas de serviço.
A omissão acerca dos fundos da Segurança Social é vergonhoso.
A omissão em relação à alteração das regras contabilisticas na elaboração do OE não tem classificação.
O volume do crédito malparado registou, em Agosto, a maior subida de sempre no segmento dos empréstimos às empresas e o maior agravamento dos últimos seis anos no crédito às famílias, segundo o último boletim estatístico do Banco de Portugal (BdP).
A concessão de crédito aos particulares (valores ajustados) também dá sinais de que a crise chegou ao maior dos negócios bancários: o total cresceu apenas 6,8% em termos homólogos, tendo avançado 6,2% no segmento da habitação, naqueles que são os registos mais fracos da série divulgada pelo banco central que remonta ao início de 2001.
Os dados do BdP mostram que no segmento do crédito empresarial o incumprimento disparou 36,8% nos primeiros oitos meses deste ano (até Agosto) face ao mesmo período do ano passado - um volume recorde na série estatística do banco central.
Nas famílias, o agravamento do malparado foi de 26,5%, o maior desde 2002.
A forte subida das taxas de juro Euribor, a quebra do poder de compra dos particulares e empresas dispararam os incidentes de crédito, desde finais de 2007, fruto do impacto da crise de crédito importada dos Estados Unidos.
Segundo o BdP, o malparado das famílias subiu para os EUR 2,8 mil milhões.
Assim, também a relação incumprimentos vs. crédito concedido galgou para os 2,1%. O malparado das empresas vale agora cerca de EUR 2,4 mil milhões, o que corresponde a um rácio de 2,2% do total, o mais elevado desde início de 2004.
O crédito às empresas está a crescer a um ritmo superior a 11% ao ano, mas nos próximos trimestres deverá baixar.
O novo ciclo do dinheiro caro e escasso deverá afectar os investimentos, público e privado, o mercado de emprego e, inevitávelmente, o consumo.
MRA Dep. Data Mining

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