quinta-feira, dezembro 31, 2009

Primeiro o PS depois o PR

"Portugal tem tido muita gente esquisita a governá-lo mas, com Cavaco Silva e José Sócrates, atingimos um elevado grau de desconforto. O semipresidencialismo destes dois homens produziu um regime híbrido que não executa nem deixa executar. Semi-governante e semi-presidente ao fim de quatro anos de semi-vida institucional aparecem embrulhados numa luta por afirmação confusa e desagradável de seguir. O embaraço público que foram os cumprimentos de Natal adensou a sensação de incómodo. O regime poderia funcionar se os actores se quisessem complementar. Mas estes actores, por formação e deformação, não têm valências associáveis. O voluntarismo de que os dois vão dando testemunho não chega para disfarçar as suas limitações. Com eles a circular a alta velocidade nos topos de gama à prova de bala e nos jactos executivos do Estado, o futuro de Portugal fica hipotecado ao patético despique da escolha de impropérios numa inconsequente zaragata de raquíticos. Até que alguém de fora venha pôr ordem na casa. A menos que venha alguém de dentro.

Semi-governante e semi-presidente tornaram-se descartáveis e, dada a urgência, é preciso começar pelo Partido Socialista. A crise no PS com a ausência de resultados desta direcção é muito mais séria para Portugal do que o tumulto no PSD. Porque o PS governa e o PSD não. O PSD morreu. Ressuscitará ao terceiro dia para um mundo diferente. Um mundo em que homens casam com homens e mulheres com mulheres e onde se morre, ou se mata, por uma questão de vontade, requerimento ou decreto. Um mundo cheio de coisas difíceis de descrever. Coisas que precisam de muitas palavras para serem narradas e, mesmo assim, não fazem sentido. Como por exemplo a "activista-transexual-espanhola" que é alguém que frequenta o Parlamento de Portugal pela mão deste PS segundo José Sócrates. Um PSD ressuscitado vai ter que incorporar estas invenções na matriz de costumes de Sá Carneiro, inovadora à época, monástica hoje, ainda que, provavelmente, adequada para o futuro.

Até lá é aos Socialistas a quem compete definir alguém para governar. Alguém que quando falar de educação não nos faça recordar a Independente. Alguém que quando discutir grandes investimentos não nos faça associar tudo ao Freeport. Alguém que definitivamente não seja relacionável com nada que tenha faces ocultas e que quando se falar de Parlamento não tenha nada a ver com as misteriosas ambiguidades de Carla Antonelli "a activista transexual espanhola" que, com Sócrates, agora deambula pelos Passos Perdidos em busca do seu "direito à felicidade". O governo não pode estar entregue a um PS imprevisível e imprevidente, menor em qualidades executivas e em ética, capturado nos seus aparelhos por operadores desalmados e oportunistas. Recuperar a majestade das construções ideológicas e políticas de Salgado Zenha, Sottomayor Cardia e Mário Soares é fundamental nesta fase da vida, ou da morte, do país.

No Partido Socialista há gente seguramente preparada governar e começar a recuperar o clima de confiança e respeito pelos executivos nacionais que Sócrates e Cavaco arruinaram. Substituir Sócrates é já um dever. Na hierarquia de urgências o problema Cavaco Silva vem depois mas, também aqui, Portugal tem que ter na Presidência alguém que não possa ser nem vagamente relacionável com nada onde subsistam incógnitas. E há muitas incógnitas no BPN. Mas cada coisa a seu tempo. Primeiro o PS, depois o PR
."

Mário Crespo

A produtividade à mesa

"Enfim o regresso a uma existência civilizada. Nos últimos tempos, foi-me quase impossível marcar um jantar num restaurante com amigos. O motivo? Os restaurantes estavam ocupados com jantares de empresa e os amigos recrutados para os mesmos.

Não sei até que ponto este tipo de eventos, invariavelmente realizados na época pré-natalícia, é ritual indígena ou importado, género Dia dos Namorados ou Dia das Bruxas (às vezes as senhoras em questão permitem acumular). Sei que o jantar de empresa é uma ideia luminosa, e não só para a restauração: que outro pretexto facilitaria o convívio de colegas que evitam o ano inteiro encontrar-se fora das obrigações estritamente relacionadas com o trabalho? Nesse sentido, é o prolongamento profissional da consoada tradicional, a qual reúne os familiares que, decerto por boas razões, evitam encontrar-se nas restantes 364 noites.

Mal por mal, a consoada dura um singelo serão: os jantares de empresa estendem-se por uma quantidade indefinida deles. Por estranho que pareça, cada cidadão consegue (ou é forçado a) ir a muito mais do que um mero jantar de empresa. Assim de repente, calculo uns cinco repastos por cabeça. Uma das causas do desemprego deve passar pela quantidade de gente que desempenha cargos simultâneos em múltiplas firmas. Outra causa do desemprego talvez passe pela relação entre os jantares de empresas e o número de falências: é interessante notar que a proliferação dos primeiros varia em função do aumento das segundas. Ou vice-versa: não é claro se as empresas fecham porque preferem jantar a produzir ou se antecipam o fecho e jantam a título de última vontade.

Claríssimo é que esta voga representa um transtorno para o cidadão alheio ao mundo empresarial, que todos os meses de Dezembro vê a vida social reduzida a escombros. Para já, acabou. Mas para o ano há mais (jantares) e menos (empresas).
"

Alberto Gonçalves

quarta-feira, dezembro 30, 2009

Stand by me

Um País envelhecido

"Em 2002, havia em Portugal 106 pessoas com mais de 65 anos por cada cem crianças até aos 14 anos. Seis anos depois, essa relação degradou-se, e por cada cem crianças passou a haver 115 seniores. O facto de existirem mais pessoas idosas é uma boa notícia, é sinal do aumento da esperança média de vida. O problema é haver tão poucas crianças.

Esta anemia demográfica vai criar sérias limitações ao crescimento económico deste país. Numa economia em que mais de vinte por cento das pessoas vão viver de pensões, é fácil perceber os constrangimentos de financiamento da Segurança Social, o que significa que os descontos obrigatórios serão maiores e os benefícios menores.

A falta de jovens também limita o potencial de inovação da economia e empobrece Portugal. Mas este país não é para crianças. Se os jovens aos trinta anos têm um emprego precário, mal remunerado e ainda precisam da ajuda dos pais para manter um nível de vida digno, como podem pensar em ter filhos? E os casais corajosos que apesar de tudo decidem ter descendência ainda têm de enfrentar uma verdadeira corrida de obstáculos, sem uma rede de apoio.

O incentivo à natalidade deveria ser uma prioridade nacional, porque é essencial para o futuro. Mas poucos se preocupam com questões de longo prazo
."

Armando Esteves Pereira

Pior é bem possível

"Em 2010, José Sócrates vai tentar, custe o que custar, recuperar a maioria absoluta. Dito isto, é de temer o pior do ano que aí vem.

O ano de 2009 está a acabar. Para muitos é um alívio. Principalmente para os muitos milhares que ficaram desempregados, para os que ficaram sem casa própria, para os que viram os seus níveis de endividamento atingirem valores incomportáveis, para os empresários falidos, para os muitos que caíram na pobreza e também para os milhares que só sobrevivem à conta de subsídios do Estado. Estas desgraças, na sábia opinião do senhor presidente relativo do Conselho e do seu partido, só aconteceram devido à crise internacional.

Como agora se sabe, quando as águas estão a voltar ao normal e deixam a nu uma miserável realidade, as culpas atiradas para cima da crise não passam de patranhas que o Governo do senhor presidente relativo do Conselho repetiu mil vezes na vã tentativa de as transformar em verdades. O ano de 2009 também ficou marcado por três eleições. Nas Europeias ganhou o PSD, nas Legislativas o PS, sem maioria absoluta, e nas Autárquicas de novo o PSD, com menos mandatos e menos câmaras. No fundo, depois de tantas campanhas, de tantos milhões atirados à rua e de tantos votos, ficou tudo exactamente na mesma. Melhor ainda. Ficou tudo pior. E se de política estamos conversados, com o PSD em estado de pré-coma, na Justiça as coisas chegaram a tal ponto que é legítimo a qualquer indígena deste sítio pobre, deprimido, manhoso e cada vez mais mal frequentado duvidar seriamente da independência dos mais altos responsáveis da dita, isto é, presidente do Supremo Tribunal de Justiça e procurador-geral da República.

Hoje em dia, qualquer decisão, despacho ou investigação está, à partida, sob suspeita. Tanto no Freeport como na Face Oculta, destapa-se a tampa e o cheiro é verdadeiramente nauseabundo. E se 2009 foi uma desgraça, é escusado andar por aí a desejar um bom ano de 2010. Não será melhor para os desempregados, para os pobres, para os falidos. É até bem possível que a esta legião de desgraçados se juntem mais uns tantos milhares. Com uma agravante. O Estado está a caminho do buraco com as políticas irresponsáveis e, em alguns casos, criminosas do Governo do senhor presidente relativo do Conselho. E do ponto de vista político, José Sócrates vai aproveitar o ano que aí vem para manter um clima de guerrilha com tudo e com todos, mesmo com Cavaco Silva, para tentar, custe o que custar, recuperar a maioria absoluta. Dito isto, é de temer o pior do ano que aí vem
."

António Ribeiro Ferreira

A estratégia (errada) de Sócrates

"José Sócrates continua a escalar o conflito com o Presidente da República. Depois das críticas indirectas, por interpostos deputados, passou ao ataque directo ao dizer que nem a presidência está isenta de críticas.

O que leva Sócrates a atirar-se de forma desabrida ao Presidente? Dramatizar a luta política para obrigar o PR a dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas? Criar espaço para um candidato presidencial do PS, percebida a fragilidade de Cavaco depois das "escutas"? É irrelevante. O que interessa é perceber os riscos da sua atitude. E ao contrário do que defendem alguns analistas, o primeiro-ministro perde mais do que ganha com esta estratégia.

Porquê? Porque a situação económica vai continuar a degradar nos próximos meses (e provavelmente anos). Desde logo o desemprego, que deve chegar aos 11% em 2010 (sem hipótese de redução porque o crescimento económico será insípido). Depois o défice orçamental, que só em sonhos (do ministro das Finanças) descerá para os 3% até 2013. Mas há um problema ainda maior que Sócrates enfrenta: a degradação da competitividade da economia. O que, em linguagem corrente, significa agravamento do défice externo para níveis insustentáveis. E que, mais tarde ou mais cedo, nos vai obrigar a apertar o cinto. Moral da história: o que fará Sócrates quando a sua popularidade estiver de rastos, mercê da má performance económica? É nessa altura que se vai arrepender da tempestade provocada pelos ventos que anda agora a semear. Porque estará nas mãos do Presidente
."

Camilo Lourenço

Elogio da ingovernabilidade

"Ao longo de quatro anos e meio, aprendemos como governa o PS em maioria parlamentar: com arrogância e maus modos. "Habituem-se", preveniu no início da anterior legislatura o dr. Vitorino. E não tivemos outro remédio. Na legislatura vigente, estamos a habituar-nos ao estilo do PS quando não manda no parlamento: histérico e choramingas. Sendo um espectáculo diferente, é igualmente arrebatador. Sobretudo por exibir protagonistas tão prestigiados quanto um dr. Ricardo Rodrigues, que um juiz garante ter pertencido a um "gang internacional", e um dr. Sousa Pinto, que nem isso.

A oposição não acolhe com reverência e pasmo cada prodigiosa medida socialista? O PS queixa-se de "deslealdade" e diz que assim não é possível. Cavaco Silva confessa-se preocupado com a economia? O PS queixa-se de "intromissão" e amua. Não tardará que o PS faça beicinho e birra a propósito do fracasso de Copenhaga, suspenda a respiração por causa da crise do Sporting e arranque cabelos sob o argumento da chuva que não passa. Por este andar, de guincho em guincho a aprovação do casamento "gay" arrisca-se a ser a atitude menos amaricada do XVIII Governo constitucional.

Ignoro se, por culpa do Parlamento, de Cavaco, de Copenhaga ou do Sporting, o Governo de facto não consegue governar. Certo é que, entretido a lamentar-se, o Governo não governa. E é preciso um cinismo político sem limites para sugerir que a carência governativa é necessariamente má. A oposição, que é cínica, sugere. A oposição pede ao Governo que se deixe de mariquices e atente aos "reais problemas do país". Sucede que, enquanto teve rédea solta para atentar aos "reais problemas do país", o Governo do eng. Sócrates conseguiu afundar o dito a um ponto que levou o Tribunal de Contas a atirar a toalha ao chão e inúmeros cidadãos a imitarem a toalha.

Ou seja, sempre que pôde o Governo estimulou, quando não inventou do zero, muitos dos problemas que o país realmente tem. Se continuasse a poder, as ânsias de "investimento" público e deslumbres afins mostram que não se ficará por aqui. De momento, o conflito institucional parece constituir o único obstáculo ao caos absoluto. "Ingovernável" ou apenas "ingovernado", é preferível que o país se fique pelo caos relativo, e a rezar para que as eleições antecipadas, que tarde ou cedo hão-de chegar, não nos tirem dele. Pior é impossível? O optimismo é péssimo conselheiro
"

Alberto Gonçalves

terça-feira, dezembro 29, 2009

Os educadores da classe opinativa

"Uma recente escola de pensamento defende a moderação, espontânea ou coerciva, do jornalismo em geral e das colunas de opinião em particular. A tese é partilhada por altas figuras da magistratura, políticos conhecidos, políticos ou assessores que preferem o anonimato e, curiosamente ou não, alguns jornalistas e colunistas, entre eles Pedro Marques Lopes, aqui no DN.

Enquanto membro da última classe, acho óptimo que se vigiem os excessos dos meus colegas e de mim próprio. Embora nos paguem a opinião, esta resulta muito mais louvável e construtiva se se abstiver de injúrias e levar em conta que os eventuais deslizes serão severamente castigados, mediante multa, prisão efectiva ou degredo. De calúnias e insinuações maldosas está o país farto, ou, nas imortais palavras de um fugaz ministro do anterior Governo, liberdade não é licenciosidade.

Claro que os tribunais comuns, useiros em desculpar o pagode opinativo, não servem para impor o devido respeito. Por isso uma personalidade insuspeita como Noronha do Nascimento, presidente do Supremo Tribunal de Justiça, propôs que sejam os políticos a julgar jornalistas e afins, o que de resto já sucede em todas as nações desenvolvidas, de Cuba à Coreia do Norte. É urgente que, em Portugal, o ofício de colunista deixe de ser confundido com insolentes que dizem o que lhes vai nas cabeças. Dizermos o que vai nas cabeças de outros, principalmente se os outros forem governantes ou avençados, é um enorme passo para a dignidade da profissão.

E um pequeno passo para um colunista. No fundo, a mudança que se reclama não impedirá ninguém de continuar a escrever as maiores barbaridades sobre banqueiros em desgraça, autarcas avulsos, líderes da oposição, jogadores da bola, columbófilos e até o presidente da República: insultar tais criaturas não suscita a indignação de vivalma, incluindo do dr. Noronha do Nascimento. Tudo bem espremido, os únicos "julgamentos de carácter" intoleráveis são os que visam a sagrada figura do actual primeiro-ministro. Bastará não produzir uma só linha menos simpática para com o eng. Sócrates e qualquer potencial candidato a correctivos será imediatamente elevado a farol da seriedade e da responsabilidade. Obviamente, não custa nada. Excepto a vergonha, aliás um tique em declínio
."

Alberto Gonçalves

segunda-feira, dezembro 28, 2009

Ser Macho.



Adoramos mulheres desde o dia em que nascemos. Ainda bebé, já tal invulgar dom se notava. Segundo as palavras do nosso pai, o único macho de que gostamos, sempre que homens nos pegavam ao colo, fazíamos um berreiro monstruoso. Com as mulheres passava-se o inverso. Quanto mais belas elas fossem, mais rapidamente adormecíamos nos seus braços, irradiando um sorriso de felicidade e muita saliva a escorrer pelos cantos da boca.

Na adolescência, enquanto os outros miúdos enchiam o quarto com calendários de jogadores da bola e músicos, tudo gajos feiosos, dedicava-nos a coleccionar lindos e educativos calendários de garagem, "Ginas", "Tanias" e "Playboys". Uma maravilha contemplar aquele amontoado de curvas selvagens fotografadas ao natural.

Infelizmente, por incapacidades logísticas, várias vezes a nossa vasta colecção diminuía rumo ao lixo devido à falta de sensibilidade maternal. Mas logo as velhas revistas com as folhas amachucadas e coladas eram substituídas pelo último gemido, perdão, grito.

Com o passar da idade, enquanto os outros iam ver o futebol, nós optávamos por visitas furtivas às capelinhas de culto como o Elefante Branco, Tesouro e o Night and Day, na companhia do nosso primo Manel, conhecido macho da capital. Nada como beber um bom whisky enquanto se tirava as medidas as vitelas.

Mais. Enquanto os outros putos, jogavam à bola, já nós caçávamos caça grossa. Com brilhantes resultados não fossemos nós, modéstia à parte, perfeitos modelos de gritar por mais. Sim, chegaram-nos a convidar para ser modelo mas, quando fomos fazer as provas, desistimos logo. Os gajos eram quase todos “lilas” e elas, uns montes de ossos, sem nada para roer. E o que gostamos é de carne. Muita carne, mas sem cair no exagero.

Claro que toda essa “peregrinação educativa” resultou no apuramento dos nossos sentidos e, apreciar uma mulher tornou-se uma verdadeira arte, só ao alcance de poucos. É isso. Não tenham dúvidas. As curvas, os olhos, os gestos, o andar, o cheiro, tudo tem um travo de sedução. Foram bons tempos. Havia muitos pseudo machos e a concorrência dava gozo.

Outro dia vimos a entrevista com um grande macho do nosso país, pelos vistos uma raça em perigo de extinção, o Zézé Camarinha do Algarve. Embora muito intelectual para o nosso gosto, os seus métodos não deixam de ter piada, bem como o seu inglês fluído e "oxfordiano". Deu mesmo gozo ouvi-lo contar a arte dos seus engates, embora tenhamos de confessar que não queríamos nada com 98% daquelas gajas. Mas mulher é mulher e ele lá sabe.

Infelizmente, com o “evoluir” da sociedade, começou a aparecer uma raça estranha, que podemos apelidar de rabetas, bichas, viados, etc, com a particularidade de só pegarem de marcha-atrás. Na verdade, trata-se de tipos que adoram dar nas vistas com os seus tiques nauseabundos. São mesmo doentes. Com tanta fêmea boa aos saltos por aí como trutas selvagens, como pode um gajo gostar de outro, ainda por cima, cheio de pêlos por todo o corpo?

MAIS. Se nos custa beijar uma peixeira com buço, mesmo nos raríssimos tempos de escassez de material, como pode um gajo beijar outro com uma bigodaça tipo “arame farpado”? E o pior disso, é que tornou-se moda ser-se “furado”.

A humanidade está perdida. Duvidam?

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sábado, dezembro 26, 2009

Dust In The Wind

Derrubar Cavaco

"Sócrates não deseja governar em minoria e, sobretudo, não deseja governar sob a presidência austera de Cavaco. O seu ‘programa de governo’ resume-se a estas duas prioridades, que implicam outras duas: recuperar a maioria e recuperar a Presidência.

Mas como conseguir o duplo salto? Sim, existe uma ‘janela’ em 2010 para regressar à maioria; mas Sócrates sabe que as ‘janelas’ são arriscadas e, no actual contexto, suicidas. Melhor optar pela grande porta presidencial de 2011, altura em que o PS, se vencer, terá o pretexto ideal para inaugurar um ‘novo ciclo político’ e pedir um voto de confiança aos portugueses. Enganam-se os sábios que vêem uma simples ‘birra’ entre Sócrates e Cavaco. Não existe qualquer ‘birra’. O que existe é um projecto de poder pensado por Sócrates e onde Cavaco é a última peça que importa derrubar
. "

João Pereira Coutinho

"Eles..."

"Confrontado com a questão do casamento entre homossexuais, Cavaco Silva contrapôs: «A minha atenção está noutros problemas, como o desemprego, o endividamento, o desequilíbrio das contas públicas, a falta de produtividade e de competitividade do país». Uma resposta ponderada e preocupada, com a qual não deixarão de estar de acordo até muitos dos que aprovam a legislação dos casamentos gay.

Mas eis que o ressuscitado deputado socialista Sérgio Sousa Pinto vem comunicar ao país que vê nas sensatas palavras do Presidente da República «uma intromissão na agenda do partido que apoia o Governo», ou, pior ainda, «uma dramatização indesejável da vida política», se não mesmo um cenário de horror: o PR está «a pôr em causa as condições de estabilidade política». Intromissão?! Dramatização!? Instabilidade política pelo facto de o Presidente afirmar que está mais preocupado com o desemprego e a falta de competitividade do país do que com os casamentos gay?! A irrazoabilidade e o despropósito da diatribe de Sousa Pinto atingiram um tal absurdo que a primeira reacção foi admitir que ele tinha acabado de sair de uma noite de insónias, de atravessar um ambiente saturado de substâncias psicotrópicas ou de ter sofrido um qualquer abalo psicológico. Mas não.



Para quem ainda pensasse que a aberrante intervenção era resultado de um delírio febril momentâneo ou de qualquer descompensação emocional de Sousa Pinto, José Sócrates tratou, rapidamente, de esclarecer o propósito político e o alcance partidário da desconsideração ao Presidente da República. Fazendo questão de elogiar publicamente «a combatividade» de dois, apenas dois, dos vários vice-presidentes da bancada parlamentar do PS: «o Ricardo Rodrigues e o Sérgio Sousa Pinto» (uma dupla de susto, que mostra bem o nível a que desceu o círculo de fiéis de que Sócrates está hoje rodeado).

O primeiro-ministro, já se percebeu (e escusava de forçar a nota a este ponto lamentável de irresponsabilidade institucional), está sobretudo interessado em arranjar pretextos para não governar. E em alimentar querelas políticas e guerrilhas artificiais com a Oposição, em geral, e o Presidente da República, em particular.

Não se lhe augura grande futuro por este caminho suicidário. Os portugueses, na sua maioria, já perderam a paciência para este folclore e este radicalismo lamechas do primeiro-ministro. E até o PS começa a ver em Sócrates mais um problema sem remédio do que um líder que dê garantias de futuro
."

JAL

Presentes de Natal

"O primeiro-ministro, em fase de vitimização, confronto e paralisia governamental, recebeu muitos presentes de Natal do PSD: Pedro Santana Lopes veio publicamente "legitimar" o conflito do Governo com o Presidente da República e com o Parlamento, alegando que o primeiro-ministro, assim, não tem condições para governar. Pedro Santana Lopes propõe um Congresso que tem como consequência adiar a clarificação da liderança do PSD lá para Junho, obrigando à realização de 2 (dois) Congressos!

E o País? Com tanto problema, assiste incrédulo. O Presidente está acima de tudo isso, preocupado é com o País.

A Direcção Nacional do PSD, por sua vez, legitimou a ideia de convocar um Congresso dito para "resolver o passado" (como é evidente, depois de Marcelo Rebelo de Sousa ter dito que não iria lá se fosse para discutir o passado, Santana Lopes veio dizer que era exactamente para o que o Congresso serviria). Mas há mais: a ordem de trabalhos proposta para o Congresso revela que, depois de anos a reclamar directas, Santana Lopes vem agora pôr em causa as directas. Essa ordem de trabalhos pode ser um golpe estatutário interno. E estamos mesmo a ver os militantes a seguir o Congresso, on-line e, aí pelas 03h00 ou 04h00 da manhã, finda a apresentação de moções, irem todos a correr às urnas de voto.

Isto serve para condicionar a próxima liderança e fazer festa. Pedro Santana Lopes precisa desesperadamente disto, mesmo que surja agora como quem nunca teve responsabilidade em nada. Claro que se poderia perguntar, entre outras, pelo trabalho de Oposição na Câmara de Lisboa... cargo para o qual Santana Lopes foi eleito... mas sobre isso...

Ao fim e ao cabo, os maus ‘astros’ conjugam-se (ou querem conjugar-se) para que os mesmos protagonistas dos últimos 15 anos venham a ser os dos próximos quinze... Fatal. Tudo isto – sem excepção para a aliança entre a Direcção Nacional e Santana Lopes e pela segunda vez – é tacticazinha. Soa a truque e a espectáculo. Onde não faltam tentativas de alterar as regras do jogo. Ora, nós precisamos é de união e projectos. Quanto mais tarde o partido se reafirmar, com maiores custos o fará, muitos irreversíveis.

As últimas sondagens atribuíram ao PSD uns singelos 24% das intenções de voto. A sintonia entre a Direcção Nacional e as propostas de Santana Lopes pode até ser uma prova de vida para ambos, mas também pode ser um golpe mortal desferido no PSD
."

Paula Teixeira da Cruz

Decisões de gaveta

"É tecnicamente possível, em processo penal e, no decurso de uma investigação criminal, haver decisões de gaveta? É legalmente possível existirem, neste domínio, decisões de natureza administrativa?

Pela natureza do processo-crime e pelos valores constitucionais em jogo, naquilo que diz respeito à transparência e aos direitos fundamentais em colisão, a resposta só pode ser negativa.

As decisões de gaveta, que mais não são do que puras decisões administrativas, não suportadas pela existência de um processo-crime, são ilegais e violam normas do Código de Processo Penal. E é assim porque ser de gaveta é ser obscura, não ser transparente e não permitir a sua fiscalização por via de recurso. Esta é a regra seja qual for a condição social, económica, pública ou anónima do arguido visado.

Dizem as más-línguas que, a propósito do processo ‘Face Oculta’, foram proferidas decisões ambíguas, confusas e ao arrepio das normas legais. A ser verdadeira esta tese, quem assim agiu violou as leis criminais e a Constituição.

Mas digam-me que isto não é verdade, que se trata de uma fantasia. Então, não compete ao Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e ao Procurador-Geral da República garantir a legalidade e defender a transparência das decisões judiciais e as boas regras de funcionamento do Estado de Direito? Claro que sim!

As decisões referentes às escutas entre Sócrates e Vara têm o efeito, para a imagem e a dignidade da Justiça, de um verdadeiro tsunami. Não pela não divulgação pública das escutas que só têm relevância para o processo, por se tratar de matéria que não pode ser resgatada para fins de interesse político e para a luta partidária. Mas por falta de esclarecimento dos procedimentos adoptados nas várias decisões proferidas.

A revelação dos fundamentos das decisões não viola o segredo de justiça, nem a nulidade decretada que fulminou a validade das escutas. Esta exigível divulgação pública não implica a divulgação do teor das escutas. Divulgar os procedimentos processuais é reforçar a transparência das decisões judiciais e validar os alicerces da democracia.

Não quero saber o teor das conversas gravadas. O que pretendo é saber os fundamentos das decisões proferidas. Manter tudo neste limbo de escuridão é deixar que os ventos e a tempestade semeada pelo tsunami arrastem outros que nada fizeram para o estado a que isto chegou.

A Justiça perde em rigor, em clareza e em coragem.

Não há dúvidas mas muitas certezas. Se não foi instaurado qualquer inquérito então não é possível aplicar as regras do CPP
."

Rui Rangel

sexta-feira, dezembro 25, 2009

The Power Of Love

A questão das escutas

"O procurador-geral da República saiu mal da prometida divulgação das escutas da ‘Face Oculta’. A questão essencial desta história não está, para já, na divulgação das escutas.

O que aqui importa, pelos factos conhecidos até hoje, é saber porque foi liminarmente rejeitada uma investigação ao primeiro-ministro e se, como mandam as regras do processo penal, é possível escrutinar, dentro do inquérito, as decisões do procurador-geral da República e do presidente do Supremo Tribunal de Justiça.

Dos comunicados de um e outro resultam alegadas nulidades processuais e a suposta ausência de indícios criminais. Não resulta, como se banalizou na esfera mediática, estarmos perante supostas ‘conversas privadas’ de Sócrates.

Conversas privadas são uma coisa, insusceptível de qualquer transcrição, indícios criminais, avaliados pela PJ e validados pelo Ministério Público e por um juiz de instrução, são outra, apesar do que pensa Pinto Monteiro e Noronha do Nascimento. Um e outro não são a voz exclusiva e hierarquicamente absoluta em matéria de definição do que é o Direito. Isso pertence aos tribunais. Há quem queira que assim seja, mas no dia em que aceitarmos tal concepção do sistema de Justiça, independentemente dos protagonistas, então é mesmo de dizer adeus ao Estado de Direito Democrático
."

Eduardo Dâmaso,

O que vale a palavra? A do Estado já não aval nada

"O Estado não sabe bem quanto recebe. Nem quanto gasta. Nem o que tem. Se sabe, não diz. Ou diz mal. Ou mete em "offshores" na Caixa. O Estado penhora sem critério. O Estado deu aval ao BPP. O aval é ilegal. Mas o dinheiro já foi gasto. O Estado vai perder no BPP. E no BPN. Eis o Estado. O Estado somos nós. Nós errámos? Nós pagamos.

Todos os anos, o Tribunal de Contas diz que o rei vai travestido: chumba as contas do Estado. Porque elas não são fidedignas. A contabilidade é credível ou é criativa? Não sabemos, é insindicável. Não há mecanismos de controlo, diz o TC. É por isso que não é possível saber com rigor nem o valor da receita, nem da despesa, nem o do património do Estado. Todos os anos isso é dito. Todos os anos nos escandalizamos durante cinco minutos. E passamos ao próximo.

Talvez as ordens de grandeza sejam demasiado abstractas. Arredonda-se. O Fisco arredonda por cima. O contribuinte deve 100? As Finanças penhoram 500. Depois só consegue vender 20% do que penhora: 100... Os outros 400 ficam no armazém. É o que o Tribunal de Contas chama de "falta de proporcionalidade sobre o bem penhorado". É o que o contribuinte chama de injustiça. Mas o Fisco cumpriu o seu papel. O papel dos objectivos anuais. Quem disse que é só na banca que a ditadura dos objectivos estimula o risco? O Fisco tem receitas, não tem consciência.

Consciência pesada tinha o Governo pelo dinheiro que a Segurança Social aplicara em sociedades em "offshores". Não era uma ilegalidade, era uma vergonha. Não é possível exorcizar os paraísos fiscais e ter lá dinheiro. Vende-se à Caixa Geral de Depósitos, o mata-borrão do Estado. Gestão financeira? Nada. "Gestão política", diz o Tribunal de Contas.

Que avisa: o Estado vai provavelmente "ter de efectuar, num futuro próximo, pagamentos vultuosos" na execução de garantias. Que garantias? Ao BPP e ao BPN. "Quase 1.800 milhões de euros".

E mais o chumbo ao aval do Estado ao empréstimo de 450 milhões de euros ao BPP. O chumbo é inconsequente: o dinheiro foi para lá há um ano. Saiu no dia seguinte. Não existe. O Parlamento não se rala. Mas vale a pena recordar o que o Ministério afirmou vezes sem conta: os 450 milhões de euros não estão em risco, pois o Estado teria contra-garantias de 600 milhões. O Banco de Portugal garante que assim é. O Tribunal de Contas duvida: não havia há um ano condições para saber quanto valiam aquelas garantias. Agora já há: a Deloitte, num trabalho encomendado pela Orey, diz que só valem um terço do aval. Não valem 600 milhões, valem 150 milhões. A diferença é um buraco.

Como é possível que o que vale num ano 600 valha no ano seguinte 150? A pergunta faz sentido. Mas está mal feita: nunca valeu 600. Porque a maioria das contra-garantias são créditos dados pelo BPP a clientes que não os vão pagar. O BPP - ó sublime exemplo de boas práticas bancárias! - emprestava para investir em acções. Mas não pedia activos colaterais.

Os accionistas do BPP rejubilam. A proposta de Orey ganha força. Porque o custo de insolvência do BPP para o Estado passa a ser maior que o custo de o salvar. O Estado está encurralado: forçado a assumir o buraco. Eis o Estado. O Estado somos nós. Nós errámos? Nós pagamos.

Estes relatórios do Tribunal de Contas são um fartote. É fartar! Feliz Natal
."

Pedro Santos Guerreiro

Natal

"O dr. Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, foi uma personagem que pelas piores razões será provavelmente inesquecível.

Da leitura dos seus diários, que foram preservados, compreende-se que estamos perante um homem culto, que escreve bem, que pensa com argúcia e que é criativo. Não era um boçal ou um primitivo. Em algumas passagens chega a exibir um inesperado sentido se humor, em alguns casos um humor cruel, mas noutros um humor quase inocente.

O que é fascinante em Goebbels não é no entanto a sua capacidade literária ou o seu valor como fonte histórica. É a capacidade de lidar com aquilo que se passa à sua volta, de apreciar acontecimentos ou de congeminar soluções, sem entrar em linha de conta com qualquer limitação de ordem moral, por mais básica que fosse.

O poder é tudo, e todas as concessões que se façam a valores de humanidade não passam de estúpidas dificuldades que se antepõem no caminho. Goebbels chega a propor que se proceda à liquidação em massa dos prisioneiros de guerra como forma de impedir a tentação da rendição alemã, a qual deixaria de ser atraente face aos níveis de ódio que se gerariam. Era a guerra total, que pregou por todo lado até ao fim.

Apenas invoca critérios morais quando é necessário reforçar críticas sobre terceiros, isto é, como acto de propaganda, nunca como limitação aos seus próprios actos. Os italianos são traidores sem princípios quando em 1943 mudam de campo, os alemães heróis ao invadirem de surpresa a União Soviética em 1941, com quem tinham assinado um tratado de não agressão, causando milhões de mortos. Um homem destes só podia ter existido num regime sem moral. E o fascínio que ele desperta é o fascínio que desperta a aberração do Mal.

Dou por mim a pensar nisto tudo ao passarmos a quadra do Natal, festa essencial do cristianismo e dos valores que veio trazer à humanidade. Independentemente da questão religiosa, questão íntima para a qual muitos não têm resposta, ficam os princípios de humanidade que há dois mil anos um pequeno grupo de gente pobre foi divulgando.

Portugal nasceu como país há séculos sob a égide do cristianismo. É essa a nossa origem e Portugal foi feito assim. Os valores que nos moldaram são valores hoje universais. Podemos portanto tranquilamente festejar o Natal de Cristo, como uma festa nacional, que nos une, sem com isso ofender por um momento que seja a liberdade religiosa de que nos orgulhamos e sem que o Estado por um segundo perca a laicidade a que está obrigado
."

Joaquim Ferreira do Amaral

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Happy Xmas (War is Over)



So this is Xmas
And what have you done
Another year over
And a new one just begun
And so this is Xmas
I hope you have fun
The near and the dear one
The old and the young

A very Merry Xmas
And a happy New Year
Let's hope it's a good one
Without any fear

And so this is Xmas
For weak and for strong
For rich and the poor ones
The world is so wrong
And so happy Xmas
For black and for white
For yellow and red ones
Let's stop all the fight

A very Merry Xmas
And a happy New Year
Let's hope it's a good one
Without any fear

And so this is Xmas
And what have we done
Another year over
A new one just begun
And so happy Xmas
We hope you have fun
The near and the dear one
The old and the young

A very Merry Xmas
And a happy New Year
Let's hope it's a good one
Without any fear
War is over, if you want it
War is over now

Haverá asas brancas nas costas de Pinto Monteiro?

"Vamos ver se nos entendemos: Fernando José Pinto Monteiro é procurador-geral da República desde Outubro de 2006 e a sua nomeação foi uma escolha pessoal do primeiro-ministro José Sócrates. Pinto Monteiro, coitado, não tem culpa disso - são as regras da pátria -, mas factos são factos: ele deve a José Sócrates o gabinete mais espaçoso no palacete da Procuradoria. Não foi o Parlamento que o pôs lá. Não foi o Presidente da República (formalismos à parte) que o pôs lá. Foi o Governo, foi este primeiro-ministro.

Implicação óbvia: nem por um momento Pinto Monteiro pode deixar transparecer que a sua independência possa estar em causa quando se trata de lidar com suspeitas que recaem sobre o primeiro-ministro. Mas é isso que tem transparecido. Pinto Monteiro teve azar, porque ninguém poderia imaginar que o percurso de Sócrates contivesse material capaz de animar cinco séries inteiras do CSI. Só que ele, como PGR, também não tem dado mostras do distanciamento que lhe seria exigido no caso "Face Oculta", em que, se não está a proteger o primeiro-ministro a todo o custo, está pelo menos a imitar muito bem.

Os golpes de cintura que Pinto Monteiro tem dado para impedir que se saiba o que quer que seja sobre as certidões emitidas pelo juiz de Aveiro são dignos de um malabarista do circo Chen. A coisa chegou a tal ponto que a própria associação dos juízes se viu obrigada a emitir um comunicado duríssimo, em que fala de uma "inexplicada divergência de valoração dos indícios que foi feita na comarca de Aveiro e pelo PGR", considerando que "os deveres de transparência e de informação impõem o esclarecimento daqueles equívocos", e que é "imperioso" que "se proceda à publicitação das decisões do PGR e do presidente do Supremo Tribunal de Justiça".

Os juízes têm toda a razão. Afinal, que argumentos apresentou até agora o procurador para mandar as certidões e as suspeitas sobre Sócrates para o baú? Zero. Pinto Monteiro disse: "Não há indícios probatórios" e esperou que todos acreditássemos. O procurador deu-nos a sua palavra e nada mais. Ora, diante de todas as notícias vindas a público, qualquer português que não viva à sombra do guarda-sol cor-de-rosa perguntar-se-á: e porque vou eu acreditar na palavra, e nada mais do que a palavra, de um homem que foi posto naquele lugar por José Sócrates?

As regras institucionais existem exactamente para não estarmos apenas dependentes da boa vontade e do carácter de determinados homens. Se fôssemos todos anjos, não precisaríamos de leis nem de edifícios jurídicos. Ora, até este momento, Pinto Monteiro limitou-se a apontar para as suas costas e a rezar para que o povo ali vislumbrasse um belo tufo de penas brancas. Eu, infelizmente, não vislumbro
."

João Miguel Tavares

Dormir com o estripador

"Pouco depois da agressão a Berlusconi, um blogue português explicava o sucedido: "O que a democracia não resolve, resolve o povo!" A distinção é velha, e sempre engraçada. Uma coisa é o processo democrático, legitimado por massas alienadas que tendem a resignar-se à "normalidade" liberal. Outra coisa, muito mais bonita, é o "povo" enquanto entidade mítica. Não importa se o "povo" é formado por milhões, milhares ou centenas de pessoas. Aliás, não importa se o "povo" consiste apenas numa única criatura. Importa é que realize os nossos sonhos, incluindo o de espatifar o rosto de um velho ou, de modo genérico, o de arrasar os símbolos da "opressão" que estiverem a jeito.

É evidente que o "povo" com dinheiro e tempo disponíveis esteve em acção nas ruas de Copenhaga, vagamente a pretexto da Cimeira do clima. Aí, na falta de um estadista desprotegido, a fúria libertadora aliviou-se, sob a forma de pedregulhos, na polícia e em edifícios públicos. Parece que a palavra de ordem era "Queremos justiça climática!", embora o conceito, de tão absurdo, pudesse ter sido substituído sem prejuízo por qualquer frase, incluindo "Não gostamos de goiabada!" ou "Viva o chapéu de aba larga!". Durante a destruição, uma "activista" feliz berrava com maior precisão: "Isto é o que uma democracia deve ser!", por oposição, deduz-se, ao aborrecimento de colocar o voto na urna e acatar a vontade da maioria.

O blogue acima citado é de extrema-esquerda. Provavelmente, a "activista" feliz também o será. Mas não pretendo restringir politicamente o estilo. Manifestantes da esquerda e skinheads da extrema-direita guiam-se por um princípio idêntico: o de que a distância entre o mundo real e o mundo que as suas cabecinhas, rapadas ou não, desejam deve ser corrigida pela violência. A arrogância totalitária e a aversão ao "sistema" não dependem da margem partidária que se integra. Já a resposta do "sistema", que tolera o ódio ideológico como não tolera o ódio racial, sim. A agressão a Berlusconi e, sobretudo, os arruaceiros de Copenhaga mereceram do público uma "compreensão" que, não sendo inédita, não augura nada de bom. Um dia, a diferença de tratamento cobrará um preço: é escusado fugir do estrangulador de Boston para em seguida dormir com o estripador de Rostov.


Haja esperança. Acredite-se ou não na lenda do "aquecimento global", as notícias do fracasso da Cimeira de Copenhaga são altamente exageradas. Ao menos conseguiu-se que alguns dos "activistas" que foram à Dinamarca observar o evento (e destruir as zonas envolventes) cortassem o cabelo. Parece que a medida ocorreu em protesto contra a falta de um acordo entre os líderes presentes. Não importa. Importa que, no seu afã contestatário, os militantes do ambiente também costumam contestar os procedimentos da higiene básica, o que lhes confere, digamos, um ambiente pouco asseado. Por isso, rapar cabeças que constituem o sonho de lêndeas e derivados é, além de alternativa à violência, uma atitude coerente com a defesa de um mundo mais limpo, afinal o autêntico objectivo desta Cimeira. Se houver outra, caso o mundo não acabe entretanto, é possível que os activistas aumentem o nível de protesto e enfim tomem banho integral.
"

Alberto Gonçalves

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Merry Christmas(I Don t Want To Fight Tonight)

O álibi

"Cavaco Silva tornou-se o álibi perfeito para o PS. Não é uma táctica nova. É um sabor que vem de longe. Há muitos anos, o filósofo austríaco Karl Kraus confirmava isso: "Da forma como o mundo é governado, como é que as guerras começam? Os diplomatas dizem mentiras aos jornalistas, e depois acreditam no que lêem". Substitua-se mentiras por intriga e temos o argumento do teatro político a que assistimos no País. Sérgio Sousa Pinto, o mais crédulo dos parlamentares socialistas, já mostrou em que é que acredita. Claro que o PS, até agora, tem uma estratégia clara relativamente a Belém: nos dias pares quer que Cavaco esteja calado, nos dias ímpares quer que fale. Tudo em nome da governabilidade, é claro, como explicaram em momentos diferentes António Vitorino e o ex-jovem fracturante Sousa Pinto.

Sabemos que é difícil governar em minoria quando se está habituado a mandar em maioria. Admitamos mesmo que José Sócrates e o PS estão cansados de governar. E que, resolvidos os problemas fracturantes do País, já não têm força para tratar de assuntos menores como a situação da economia ou o combate ao desemprego. O PS procura assim ser um Hercule Poirot requintado: busca quem lhe serve de melhor álibi para não surgir como culpado perante o eleitorado. Esta é a nova política Forrest Gump do PS. O grau de intriga existente parece já ter um único fim em vista. O PS quer saltar borda fora do navio a afundar-se, mas não quer ficar como capitão. Porque assim só sairia no fim. Quer sair com os que normalmente debandam primeiro do barco
. "

Fernando Sobral

Sócrates: parte do problema

"(Onde o escriba, armado à mini-salvador da Pátria, lembra o que a OCDE já recomendou, até de forma anormalmente agreste, e acrescenta umas ideias duma evidência chocante ao seu ídolo político, logo a seguir a Hugo Chavez: ele próprio, o autêntico, o único, José Sócrates).

Portugal, que já foi membro do Clube Mediterranée do euro, agora aderiu a uma outra associação de bem-fazer, o grupo dos PIIGS (Portugal, Italy, Ireland, Greece, Spain), os que, a continuarem assim, vão mesmo à falência.

A Irlanda já se pôs a tratar da vida, nós por cá vamos no casamento gay - uma absoluta prioridade, como mesmo qualquer ameríndio nacional consegue entender(1).

Para nós, a questão põe-se da seguinte maneira, se se quiser evitar mais uma ruptura financeira com intervenção internacional, de vastos sacrifícios, como já aconteceu duas vezes desde o 25 de Abril: diagnóstico sério dos problemas, agenda clara das soluções e objectivos fundamentais, consenso nacional de adesão por via de transparência e verdade, liderança patriótica. Evidente, não?

Eis então um percurso telegráfico.

Inventariar problemas é coisa simples, há sim que destacar os prioritários. Mas nem aqui haverá problemas de maior porque já ocorre uma quase unanimidade na zona não revolucionária. Gente de craveira e espírito aberto , de Esquerda e Direita, aponta claramente para o combate à despesa primária do Estado, luta ao desemprego por via do apoio às empresas (únicas entidades que o podem criar sem mais desequilíbrios), aposta na competitividade internacional e reforma da justiça.

É isso ou lá teremos Teixeira dos Santos, um belo dia, a ir pedir mais crédito para pagar juros à própria Cofidis, por falta de alternativa, tudo a caminho da girândola final.

A partir daqui, segue-se para os métodos que viabilizem, em adequada quantificação, calendarização e absoluta transparência, sem manobras dilatórias e distractivas - as habituais politiquices que deixam desesperados os próprios santos.

A adesão nacional é difícil, mas possível. Infelizmente, um País em que 20% do eleitorado vota na extrema-Esquerda está mesmo a pedir regressão, com sindicatos da luta de classes a cumprir o objectivo leninista de destruir o sistema. Mas, N. Sª de Fátima ajudando, os portugueses podem ser motivados para um desígnio nacional mesmo através de sacrifícios, desde que partilhados. Até se podiam fazer anúncios motivadores na oficiosa RTP, com o Cristiano Ronaldo em chuteiras e a Cláudia em mini-saia e tacões de produção nacional.

Agora entra a difícil questão da liderança e aí está o verdadeiro drama, em Sócrates e no PS que ele formatou.

Quando entrou a governar, ainda por cima em maioria absoluta, imprimiu o que parecia o ímpeto reformista necessário para levar as coisas a bom porto. Mas o homem, o que gosta realmente é de confrontos e a reserva de energia e os consensos mínimos necessários foram rapidamente delapidados. A cena patética do Congresso do PS com o personagem a berrar contra a "campanha negra" e órgãos da comunicação social revelavam com eloquência o que já se notava: trata-se de um homem de poder sem sombra de estadista, rodeado de caceteiros e candidatos ao nepotismo.

Mas há muita gente boa no PS e na sua proximidade, e o tempo urge. Se as coligações parecem impossíveis, não é admissível dizer o mesmo de acordos de regime movidos pelo patriotismo. Podia olhar-se para os anos 80 em Espanha, quando Gonzales uniu toda a Espanha através do pacto de Moncloa - Esquerda, Direita, sindicatos, patronato, forças vivas.

É então do PS , na liderança, que tem de partir a iniciativa de aproximação séria, coisa bem diferente de manobras irritantes como convidar todos os partidos para coligação ou começar a vitimizar-se, atirando "culpas" para as oposições e correndo a pedir auxílio a um Presidente da República que passou o tempo a hostilizar - numa permanente campanha eleitoral para preservação do poder. Começar pelo Orçamento de 2010 seria um bom passo.

Se até a selecção nacional chegou à África do Sul, porque não há--de o País fazer como a Irlanda, nação que nem sequer obteve idêntico resultado?
E até se podia contratar Scolari para primeiro-ministro…


(1)Eu, por mim, sou absolutamente a favor, até porque já ninguém se casa hoje em dia e, pelos vistos, a preservação dessa vetusta instituição matrimonial vai mesmo recair sobre os homossexuais, os únicos que aparentemente querem dar o nó.

Eu até proponho, já que os homo disso fazem tanta questão, que os heterossexuais passem a unir-se através duma união civil registada, mantendo-se a diferença de situações.
"

Fernando Braga de Matos

A mulher mais poderosa de Portugal é angolana

"Portugal tem muitas mulheres importantes, algumas são ricas, poucas são poderosas. Uma é as três coisas. Tem 36 anos e não é portuguesa. É a angolana Isabel dos Santos.

Dizem que detesta ser tratada como "a filha de José Eduardo dos Santos". Pela maneira como está a afirmar-se em Portugal, um dia trataremos o Presidente de Angola como "o pai de Isabel dos Santos". É a nova accionista da Zon. E de muitas outras empresas. Uma atrás da outra, todas lhe estendem tapetes. Tapetes verdes, da cor do dinheiro.

A mulher mais rica de Portugal, segundo a "Exame", é Maria do Carmo Moniz Galvão Espírito Santo Silva, com uma fortuna de 731 milhões de euros. Não tem metade do poder de Isabel dos Santos. E tem apenas uma fracção do seu dinheiro: só na Galp, BPI, Zon e BESA, a empresária angolana tem quase dois mil milhões de euros. Fora o resto.

A lista dos dez mais ricos de Portugal está aliás cheia de pessoas que fazem negócios com a família dos Santos. Américo Amorim é sócio de Isabel na Galp e no Banco BIC. Belmiro de Azevedo, segundo foi noticiado, quer ser parceiro de distribuição em Angola. O Grupo Espírito Santo tem interesses imobiliários, nos diamantes, na banca. Salvador Caetano tem concessões. O Coronel Luís Silva acaba de fechar negócio para vender acções da Zon a Isabel dos Santos. Zon onde João Pereira Coutinho e Joe Berardo são accionistas.

Da lista dos mais ricos, só a família Mello e Soares dos Santos estão "fora" da geografia. O "dinheiro dos angolanos" pesa sobre muitas consciências. Soares dos Santos foi o único a assumir publicamente o desdém pelos níveis de corrupção de Angola.

Isabel dos Santos é accionista da Zon e sócia da PT. É accionista do BPI e sócia do BES. É accionista da Galp e a Sonangol é parceira da EDP. A empresária garante que não tem relações com as actividades do seu pai e da estatal Sonangol. Identificando todos os interesses em causa, as relações de sociedades portuguesas alargam-se ainda à Caixa, Totta, BPN e Mota-Engil. Dá um índice bolsista.

O que faz com que tantas empresas portuguesas implorem para fazer negócios com Isabel dos Santos? E que Isabel "jogue" em equipas rivais, concorrentes confessos em Portugal, sem um pestanejo? Só uma coisa consegue tanto unanimismo: o dinheiro. A liquidez angolana, que desapareceu de Portugal. A contrapartida de acesso ao crescente mercado angolano. Os portugueses não abrem os braços a Isabel dos Santos, abrem-lhe as carteiras - estão vazias.

O casamento entre angolanos e portugueses tem as prioridades do das famílias feudais: o interesse está primeiro, o amor virá depois, se vier. E o interesse é recíproco: os angolanos são entronizados em Portugal e na Europa; os portugueses são-no em Angola e em África. Não há equívocos, há dinheiro.

Os últimos dois grandes negócios de Isabel dos Santos em Portugal, no BPI em 2008 e na Zon em 2009, tiveram uma curiosidade cabalística: ambos foram fechados na terceira semana de Dezembro, ambos de 10%, ambos por 164 milhões. Na Zon, pagou um prémio de 26% sobre a cotação. Comprou caro? Comprou mais barato que os accionistas que estão na empresa. Comprou bem.

Isabel e José Eduardo construíram um poder tão ramificado em empresas portuguesas que só o Estado e Grupo Espírito Santo os ultrapassarão. Tanta concentração de poder é mais ameaçadora do que uma nacionalidade. Em Portugal, Isabel e José Eduardo não são Santos da casa mas fazem milagres
."

Pedro Santos Guerreiro

O pavilhão multiusos

"Está a causar certa polémica a decisão da Câmara de Paredes em erguer um mastro com cem metros de altura e uma bandeira nacional na ponta. Não percebo a razão. O edil lá do sítio, eleito nas listas do PSD, explica, e muito bem, que a bandeira visa comemorar o centenário da república e que o mastro visa "georreferenciar" (sic) o concelho. Ao contrário dos adversários do projecto, defendo que a república deve ser comemorada e sobretudo que Paredes deve ser "georreferenciada", até porque, a olho nu, não conseguiria encontrar semelhante lugar mesmo que quisesse (não quero).

Sem surpresa, o problema das más-línguas prende-se com o custo da obra: um milhão de euros. Com surpresa, as maiores más-línguas pertencem à oposição autárquica e invocam a ofensa aos contribuintes, de cujo bolso o mastro fatalmente sairá. Se não me engano, é a primeira vez que vejo socialistas preocupados com o destino do dinheiro alheio. O espanto aumenta quando um dos socialistas em questão se chama Artur Penedos (um nome familiar, nos dois sentidos) e é, além de vereador em Paredes, assessor do primeiro-ministro.

Aparentemente, o convívio com o eng. Sócrates não atirou o sr. Penedos para as leituras de Keynes e não lhe ensinou uma verdade irrefutável: o investimento público é essencial ao desenvolvimento do país, logo, por maioria de razão, ao desenvolvimento de Paredes. Como inúmeras das maravilhas que o eng. Sócrates diariamente publicita, o mastro com bandeira colocará Portugal na vanguarda da Europa em matéria de mastros e bandeiras, dinamizará a economia local através do turismo, estimulará a auto-estima dos autóctones mediante a elevação quase celestial da esfera armilar e, não satisfeito, criará empregos, no mínimo dois: um para subir e descer o pavilhão, outro para afugentar os cães que pretendam urinar na base da estrutura. Se o mastro é menos veloz que o comboio de alta velocidade, será inequivocamente mais alto, e 15 mil vezes mais barato
."

Albeto Gonçalves

terça-feira, dezembro 22, 2009

Até amanhã e boa sorte!

E a criminalidade continua a diminuir...

"Vaga de assaltos regressa a Setúbal (mais aqui)"

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Converter à "normalidade".

"Parecer da Ordem dos Médicos defende que algumas orientações sexuais não serão imutáveis. ILGA teme que alguns clínicos possam sentir-se tentados a 'converter' clientes a pedido (mais aqui)"
Pois é. Parece que há alguns que querem voltar a ser “normais” mas o lobby não lhes permite tanta liberdade . Enfim coerências da Orquestra Vermelha…

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"O negro"...

«Acho que o negro está a ser o melhor aluno do branco: Bush. Chego a essa conclusão depois dos meses que Obama tem como presidente" declarou Evo Morales ao «El Mundo» (mais aqui
Felizmente o índio tem carta branca do politicamente correcto para fazer afirmações racistas e xenófobas. Se fosse outro…

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A crise acabou...

"As direcções de muitos hotéis e aldeamentos turísticos no Algarve optaram este ano por encerrar no Inverno, apesar de o fim de ano estar à porta e de se prever que atraia mais visitantes do que em 2008. A situação de encerramento de hotéis é comum em época baixa devido à diminuição da procura, mas desta vez atingiu uma dimensão superior ao normal (mais aqui)"

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Long Way From Home

Desesperados

"Pior do que isto parece impossível, mas é bom que os indígenas estejam preparados para situações ainda mais desgraçadas nos próximos tempos.

O partido do senhor presidente relativo do Conselho anda de cabeça perdida, desesperado e sem qualquer tino nos neurónios.

A ressaca das eleições de 27 de Setembro está agora bem visível e tem tendên’cia para se agravar desgraçadamente até ao dia em que os indígenas o ponham na rua. Vai ser difícil, mas nestes tempos natalícios é legítimo ter alguma esperança num desfecho feliz para tamanha desgraça. O alvo da fúria socialista é, como o foi no Verão, o Presidente da República.

O partido do senhor presidente relativo do Conselho não suporta que Cavaco Silva diga aos indígenas o que toda a gente pensa. Isto é, que as suas grandes preocupações são o desemprego galopante, o endividamento externo, a dívida pública e a falta de competitividade e produtividade, factores que impedem um crescimento económico saudável, única forma de criar emprego e aumentar o nível de vida dos indígenas que desgraçadamente vivem neste sítio cada vez mais pobre, deprimido, manhoso e obviamente cada vez mais mal frequentado. É óbvio que perante as desgraças sociais que abalam o sítio, a última preocupação de qualquer pessoa com um mínimo de sanidade seja a história dos casamentos entre homossexuais.

É evidente que numa situação em que aumenta a pobreza e há cada vez mais pessoas à beira do desespero, a última das preocupações deva ser a conversa fiada da regionalização. Pois bem. Indiferentes a tudo e a todos, na tentativa vã de esconderem o estado em que deixaram o sítio, os socialistas liderados pelo senhor presidente relativo do Conselho atiram-se ao Presidente da República de forma desvairada para ver se o calam e desviam as atenções dos indígenas. Mas estão muito bem enganados.

A realidade, fria e dura, está aí à vista de toda a gente. Nem mesmo os mais ferozes optimistas já o conseguem ser. Restam os vendidos por uns pratos de lentilhas. Mas destes não rezará qualquer história. Foram miseráveis ontem, são-no hoje e assim continuarão. É por isso que este poder socialista, desesperado por ter perdido a maioria absoluta e pela desgraça que provoca todos os dias em milhões de indígenas, se atiça contra Cavaco Silva, o único referencial de seriedade. É por isso que neste Natal triste, desgraçado e quase sem esperança é legítimo pedir ao Menino Jesus que nos livre deste Mal
."

António Ribeiro Ferreira

Vai ser tão mau, não foi?

"O ano de 2009 não tem balanço: foi em si mesmo um desequilíbrio. Foi um ano péssimo. Um refluxo de uma prosperidade falsificada, um pêndulo que, uma vez empurrado de mais para lá, voltou arrasador. Mas podia ter sido pior. Para alguns até foi bom.

Há um ano, sabíamos que ia ser mau e desejávamos que passasse depressa. Estarrecemos quando, logo em Janeiro, a economia travou às quatro rodas. Sem consumo, sem investimento, com apatia total dos agentes económicos, um medo da sombra. Temíamos uma depressão global. Levámos com a recessão. A diferença entre uma coisa e outra foi paga com dinheiro de contribuinte. Com défices. Com dívidas. O Estado está nas lonas, como reconheceu num Orçamento rectificativo, mera declaração de óbito das contas de 2009 e máquina da verdade para um Governo que escondeu os números até quando pôde.

O relatório de falências e das deslocalizações consagra a grande vítima do ano: quem perdeu o emprego. Se o País ainda erguesse estátuas às vítimas, o desempregado seria o novo Soldado Desconhecido.

A quem correu bem o ano? A milhões. Aos que ganharam finalmente poder de compra com aumentos do rendimento face a uma inflação negativa e a juros minúsculos. Para curar o mal de se ter oferecido crédito no passado, este ano ofereceu-se dinheiro. E que fizeram os portugueses? Pouparam mais. Sensatos.

O ano correu bem a quem investiu nas bolsas. O iô-iô tinha descido de mais no ano passado - subiu quase tanto este ano. As percentagens só não são um disparate se considerarmos dois anos de uma vez: 2008-2009. A Bolsa de Lisboa subiu 45% desde meados de Março. Acções como a Sonaecom duplicaram. Quem investiu em "media" ganhou 130% nas acções da Impresa ou da Cofina, dona deste jornal. Muitas empresas haviam sido arrastadas para o grau zero das expectativas dos mercados há um ano. Muitas empresas fizeram por si.

Essas empresas, que tiraram as mãos dos bolsos sem ser para as estender ao Estado, são as grandes vencedoras deste ano. É o caso da discreta Emparque, que aproveitou a crise das empresas espanholas e lá comprou uma rede enorme de parques de estacionamento - o que a redacção do Negócios elegeu como o negócio do ano. É o caso de empresas como a EDP, o BES, a Cimpor, a Soares da Costa, que soltaram amarras e foram atrás do dinheiro para o Brasil, para os Estados Unidos, para Angola. É o caso da PT, que além de porfiar no Brasil o seu futuro, se constituiu como um caso de estudo europeu ao investir na fibra e fazer a impossível inversão do negócio da rede fixa. É o caso da Bial, uma empresa que pensa em décadas e se calibrou à prova de ciclos de Kondratieff. O exemplo de Luís Portela, que a redacção do Negócios elegeu como personalidade do ano, é uma lição de estratégia e de execução.

O ano de 2009 foi duro, expiámos pecados e olhámos a realidade sem máscaras. Chegamos a Dezembro a apanhar os cacos. Uma economia arrasada, um ambiente político sob a espada de eleições, um sistema de justiça incompreensível.

Não foi o ano que passou por nós, fomos nós que passámos o ano. Encerramos 2009 temendo 2010, como quem passou o Bojador e sabe que lhe falta dobrar Boa Esperança. Mas as Bial desta vida mostram-nos que é possível. Não é apenas ter sucesso. É contrariar a fatalidade
."

Pedro Santos Guerreiro

Recursos desperdiçados

"Por regra, a cantiga de que os portugueses não valorizam o que têm de bom é uma desculpa para não se criticar o que temos de péssimo. Às vezes, curiosamente, a cantiga é verdadeira.

Veja-se o sucedido com os exames de português para imigrantes, de que, afinal, uma considerável parte não era realizada pelos candidatos à aquisição de nacionalidade, mas por familiares, amigos ou prestadores de serviços contratados. O SEF reparou na fraude e deteve noventa e tal sujeitos. Incompreensivelmente, não houve autoridade que reparasse no que de facto interessa: o pormenor de que existe por aí gente com um domínio mínimo da nossa língua, raridade que, ao invés de cadeia, devia dar direito a cargos de responsabilidade nos sectores privado e público, incluindo, a julgar pelas limitações verbais do sr. secretário de Estado da Educação, no próprio Governo. Prender esses indivíduos é desperdiçar recursos de que o País carece e que, dada a exigência nula dos respectivos testes, os meninos e meninas do ensino secundário não prometem preencher.

É possível, admito, que a aparente taxa de sucesso nos exames para estrangeiros se justifique pela sua facilidade. Ainda assim, não podem ser tão fáceis quanto os do "secundário", ou então qualquer cidadão do Burkina Faso chegado anteontem à Portela os teria feito. E, como a bem intencionada porém cega acção do SEF revelou, não os fez
. "

Alberto Gonçalves

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Até amanhã e boa sorte!

Muçulmanos e homossexuais.

"A minha religião não admite casamentos homossexuais ou lésbicos, são valores abraâmicos, casamentos são sempre entre pessoas de sexos diferentes, mas lei é lei e se eles (Governo) querem passar a lei, passam-na concerteza, mas nós os muçulmanos não acreditamos em casamentos homossexuais (mais aqui)"
Será que determinada parte do pessoal que apregoa “somos todos muçulmanos” vai continuar a ser?

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Médicos de orientação.

"Colégio de psiquiatria defende que homossexualidade não é doença, mas avisa que médicos não podem recusar pedido de pacientes que querem resolver problemas de orientação sexual (mais aqui)"
E nós a pensar que os médicos só serviam para curar doenças. Afinal também são uma espécie de polícias sinaleiros…

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À solta.

"Os membros de um gangue que terá estado ligado a cerca de 30 assaltos a carrinhas de transporte de valores, entre 2004 e 2006, já estão todos libertados, apesar de condenações que oscilaram entre dois e nove anos de cadeia (mais aqui)"

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Carros especiais.

"Uma carrinha do piquete da PSP da Amadora (a única disponível), circula há duas semanas com a janela de uma das portas frontais tapada por plásticos (mais aqui)"

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Dreamer

Os homens do Direito

"O poder judicial deve ser independente do poder político? Em teoria, sem dúvida. Na prática, o relatório ao caso Lopes da Mota revelou ao país o que já se suspeitava: não existe verdadeira independência de poderes entre nós. O que existe é um poder político que pressiona o judiciário; e este, indiferente à sua importância e dignidade numa sociedade livre, deixa-se pressionar.

Na mesma semana, outra pérola: Noronha Nascimento, presidente do Supremo, sugeriu à nação que os crimes de imprensa sejam julgados fora dos tribunais. Por quem? Segurem-se: por outros jornalistas e, claro, pelo poder político vigente, uma originalidade que determinaria o fim da liberdade de expressão em Portugal.

Dois casos, uma única certeza: se o Estado de Direito dependesse apenas dos homens do direito, não haveria mais Estado de Direito entre nós
. "

João Pereira Coutinho

Salvem as minorias dos seus salvadores

"Em Espanha, um juiz finalmente denunciou o sentido único da Lei da Violência de Género, aprovada em 2004 e dedicada a punir em exclusivo os maus tratos dos homens sobre as mulheres. Em Portugal, o provedor dos leitores do Público lamentou a diferença na cobertura do diário a um homicídio da esposa pelo marido (chamada de primeira página) e a um homicídio do marido pela esposa (quatro linhas interiores).

É notável que, no Ocidente do século XXI, a emancipação feminina tenha de voltar a ser defendida e, ainda por cima, o seja por uns poucos excêntricos, sozinhos contra a nova misoginia emergente. Os exemplos citados mostram o modo como, décadas após a igualdade que tanto lhe custou alcançar, a fêmea da espécie se vê devolvida ao estatuto de penduricalho decorativo. Na justiça e na imprensa, a corrente histeria em volta da violência doméstica toma por adquirida a culpa do homem, sem dúvida na presunção de que o "sexo frágil" nunca reage a um conflito conjugal mediante tiros de caçadeira ou qualquer outro método desagradável. Provavelmente, acha-se que uma senhora é demasiado tontinha para carregar uma arma e demasiado inofensiva para premir o gatilho. Mesmo nos casos em que o marido é encontrado na cama com seis balas nas costas, a moralidade dominante inclina-se para o suicídio ou morte "natural" ("Ele devia estar a pedi-las"): o único papel disponível à mulher é o de vítima, estatuto que confere vantagens em divórcios litigiosos e não confere mais nada, incluindo humanidade.

A velha escola da discriminação desumanizava as "minorias" para as oprimir às claras. Nos subtis dias que correm, face às mulheres e ao resto, a desumanização das "minorias" é uma tendência comum aos que berram em seu alegado favor. Entre o berreiro, só os "inimigos", leia-se os indivíduos do sexo masculino, heterossexuais, caucasianos, etc., emergem como pessoas inteiras, capazes dos actos medonhos que também definem a espécie. Pela minha parte, obrigadinho, mas não alinho na sugestão de que o exercício de atrocidades está vedado a mulheres, homossexuais, pretos e similares grupos do catálogo em que o politicamente correcto armazena pessoas maiores e talvez vacinadas.

Além de mentiroso, o pressuposto é vexatório, na medida em que reduz as "minorias" ao tipo de clichés que afirma combater. As mulheres são passivos sacos de pancada. Os gays são criaturinhas festivas e frágeis, carentes de um aval do Estado para consumar uma atracção. E os pretos são condenados ao gueto da pequena delinquência "romântica" e a expressões de subjugação social, género capoeira ou hip-hop, para consumo, e consolo, do senhor branco.

Tudo isto, afinal, se inscreve na Síndroma Lorosae, conceito que por acaso acabei de inventar. Quando a independência de Timor era por cá "causa" obrigatória, era igualmente obrigatório tratar os timorenses de "dóceis" e "meigos" para baixo (ou para cima, consoante a perspectiva), adjectivos normalmente reservados a cachorrinhos e destinados a suscitar pena universal. Mal se percebeu que os timorenses eram gente e que a sua "docilidade" não os impedia de se chacinarem mutuamente, a "terra do Sol Nascente" saiu das notícias, nas quais, para evitar choques de realidade, as mulheres homicidas e o bom senso nem chegam a entrar
. "

Alberto Gonçalves

sábado, dezembro 19, 2009

Anytime Anywhere

Rico avanço

"A aprovação do casamento gay é um exemplo de como legislar sem usar os neurónios. Que nos diz a proposta? Duas coisas: casamento, sim; adopção, não.

Será isto possível? Pessoalmente, sou contra o casamento gay. Mas não creio que seja sustentável aprovar a grinalda e deixar de fora o menino das alianças. O arranjo parece-me juridicamente aberrante e, mais, absolutamente singular entre os (poucos) países que seguiram a moda.

Mas existe uma consequência suplementar da proposta: até agora, qualquer adulto solteiro, independentemente da orientação sexual, podia adoptar uma criança. E seria até possível, num quadro de união civil, continuar a acomodar esse direito (lembrar o Reino Unido). A partir de 2010, a nova lei encosta o homossexual lusitano à parede e dá-lhe uma única opção: ou um cônjuge, ou um filho. Os dois é que não. Rico avanço
."

João Pereira Coutinho

Enganar os crentes

"Percebo as preocupações de toda a gente com o tipo de jornalismo que se faz em Portugal. Percebo que é preciso uma reflexão luminosa sobre os fundamentos da liberdade de expressão e seus limites. Percebo que os portugueses e a democracia mereciam outra forma de fazer jornalismo. Percebo as preocupações de Noronha do Nascimento com a Comunicação Social e as constantes violações do segredo de justiça. O que não compreendo é o caminho que nos propõe com a criação de uma entidade política, superpartes, que controle e fiscalize a acção dos média.

É verdade que a Comunicação Social está em roda-livre, sem ninguém que a responsabilize pela má prática jornalística. O Sindicato dos Jornalistas nada faz e a Comissão da Carteira é um nado-morto, sem força ou competência, limitando-se, de quando em vez, a fazer umas ‘cócegas’ aos jornalistas que não cumprem a ‘legis artis’ – e já vão sendo, infelizmente, a maioria.

Mais preocupante que a violação do segredo de justiça, que, só por si, não justifica a criação de uma entidade que condicione a liberdade de expressão, é o estado a que chegou o jornalismo entre nós, com jornalistas instrumentalizados pelo poder político e ao serviço das agências de comunicação social. As agências de comunicação, de que, aliás, nenhuma instituição prescinde (é o caso, por exemplo, do presidente do Supremo Tribunal de Justiça), vão enganando os puristas que ainda acreditam na liberdade de expressão e de informação. Esta temática é que merecia ampla reflexão e, talvez, a criação de uma ordem de jornalistas, com poderes disciplinares efectivos. Sei bem dos entraves jurídicos que alguns apontam à criação de uma ordem mas, com o trabalho típico de um relojoeiro, de minúcia e de filigrana jurídica, era possível o legislador ultrapassar estas dificuldades.

A criação da falada entidade política, para além de colidir com a liberdade de expressão e com o direito a uma informação livre, faz-me lembrar o mau legislador, que, quando não sabe o que fazer, cria leis para ‘tapar o Sol com a peneira’.

Thomas Browne, num livro proibido pela Igreja, a propósito do julgamento de Galileu, escreveu: " Tal como a razão se opõe à fé, também a paixão se opõe à razão". "Mantenha-se a razão firmemente no seu lugar e apresente-se ao seu tribunal todos os factos, todas as opiniões", disse Thomas Jefferson.

A paixão cega. A razão, única fonte soberana de autoridade, é a luz que nos deve guiar nesta hora de apertos e dificuldades. E, já agora, porque não uma entidade política, para sindicar as violações do segredo de justiça praticadas pelos actores directos da Justiça?
"

Rui Rangel

Madrid te mata, meu caro David

"Há rapazes que nascem com o rabinho para a Lua e, ainda por cima, têm grandes amigos nos lugares certos. Veja-se o caso de David Damião, que durante uns anos foi jornalista da Renascença.

Quando Guterres foi para o Governo, em 1995, David Damião foi escolhido para seu assessor de imprensa. Esteve em S. Bento até o ex-líder do PS ter fugido do pântano, em 2001. Nessa altura, David foi colocado na embaixada de Londres, como conselheiro de imprensa. Em 2005, quando José Sócrates ganhou as eleições e aterrou em S. Bento, David vem de Londres para ser seu assessor. Assim se manteve durante quatro anos e meio. Agora, depois das eleições de 27 de Setembro, voltou a voar. O Diário da República de 4 de Dezembro explica para onde. Por despacho de 25 de Novembro de Luís Amado, ministro dos Negócios Estrangeiros, cessou funções como conselheiro de imprensa da embaixada em Londres e por despacho do mesmo ministro do mesmo dia 25 de Novembro foi nomeado conselheiro de imprensa da embaixada em Madrid. Isto é, anda desde 2001 a ganhar um rico ordenado que pode rondar os 15 mil euros. Há rapazes com sorte.

IBERO-AMERICANA I: JOSÉ SÓCRATES DOIDÃO COM BRASILEIROS

A conferência de imprensa final da cimeira Ibero-Americana de Cascais tinha acabado. Alguns jornalistas brasileiros, entre os quais Clóvis Rossi, da ‘Folhaonline’, aproximaram-se de Sócrates para lhe dizer que o comunicado final era ambíguo. O primeiro-ministro português ficou tão feliz por estar a falar com brasileiros que enxotou os outros jornalistas para longe. E chegou mesmo a repreender um assessor que o queria levar para o almoço: "Não vê que eu estou conversando?"

IBERO-AMERICANA II: ZAPATERO LOUCO COM O BRASIL

Estava Sócrates doidão a falar com os jornalistas brasileiros quando se aproximou Zapatero, primeiro-ministro espanhol e grande amigo de Sócrates. Claro está que entrou na conversa e desfez-se em elogios à diplomacia brasileira e em particular a Lula da Silva. É evidente que Sócrates dizia que sim.

PARLAMENTO EUROPEU: AS RICAS FÉRIAS DE VITAL MOREIRA

Vital Moreira anda maravilhado com as suas novas funções de eurodeputado. Parece um menino feliz com as descobertas que anda a fazer. Tão feliz que conta tudo no seu blogue Causa Nossa. Ficamos a saber que foi a Nova Iorque pela primeira vez no Inverno. E andou pela Plaza, junto do Rockefeller Center, a ver a árvore de Natal. Já em Bruxelas, foi visitar a casa-museu do arquitecto Victor Horta. É Vital na sua versão turística, sempre à conta do Parlamento Europeu. Bom Natal.
"

António Ribeiro Ferreira

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Porreiro

"Os senhores da Europa, que tanto se afadigam a medirem o comprimento dos ‘jaquinzinhos’, o calibre da fruta ou as emanações dos fornos de lenha, estão-se nas tintas para que haja um membro da União em divergência acelerada e a caminho do Terceiro Mundo.

"Portugueses perdem o estilo de vida europeu", escrevia o Diário de Notícias de ontem. Mas o "estilo de vida europeu", como a coesão e a Europa social são tralhas de oratória arrumadas no sótão de uma Europa de burocratas debruçados sobre o próprio umbigo. "Porreiro, pá".

O poder de compra dos portugueses está cada vez mais longe da Europa. Nos últimos anos, em lugar de progredir ao encontro dos países europeus com melhor nível de vida, Portugal regrediu e abeirou-se de Chipre e por este andar não tarda que esteja a par da Letónia, rumo à Coreia do Norte. E não há quem veja isto, a não ser quem o sente nas dificuldades que são o pão de cada dia da maioria dos portugueses. De resto, as classes dirigentes, políticas e empresariais, estão satisfeitíssimas consigo próprias, com o sucesso das suas ideias e o resultado das suas práticas: Os portugueses são dos mais pobres da União Europeia. "Porreiro, pá".

A divulgação das estatísticas do INE, que dão expressão numérica à pelintrice que vai pelo País, coincide com o regateio do salário mínimo nacional, durante o qual o patronato tem argumentado que não há justificação estatística para um aumento de mais 15 euros. Em Espanha, aqui ao lado e tão longe, o salário mínimo fica 200 euros mais acima e as entidades patronais gastam mais 20 por cento em encargos com os trabalhadores. Mas Portugal, da mesma maneira que se desvia da Europa, vai-se afastando de Espanha, fazendo do atraso uma forma de vida. "Porreiro, pá
"."

João Paulo Guerra

A última oportunidade

"Apesar das trafulhices em que a "ciência" do clima tem incorrido, o "consenso" dominante exige que se tomem à letra as respectivas especulações. As especulações variam (há quem aposte na espécie humana engolida por maremotos, tragada pelo chão ou simplesmente dedicada ao canibalismo), mas o Juízo Final é certo. Excepto, garantem-nos, se se passar imediatamente à "acção". A "acção", garantem-nos outra vez, é a única resposta possível ao "aquecimento global". Que o "aquecimento global" seja um risco por provar e, se calhar, literalmente improvável, é mero detalhe: o catastrofismo ambiental prefere a precaução excessiva aos lamentos posteriores, sob o pressuposto de que amanhã pode ser demasiado tarde.

Tarde para quê? Na retórica oficiosa, para impedir eventuais tragédias climáticas. Na realidade, para aproveitar o frenesim ainda em vigor. Aqui e ali, sondagens mostram que a crença das populações no "aquecimento global" e sobretudo no papel do homem no dito tende a diminuir. Por este caminho, chegará o dia em que será difícil submeter os cidadãos dos países desenvolvidos ao retrocesso civilizacional que as pantominices do clima pretendem legitimar. Como por aí se diz, a Cimeira de Copenhaga é de facto a última oportunidade não de salvar o planeta mas de destruir o capitalismo, afinal o único objectivo de toda esta história
."

Alberto Gonçalves

quinta-feira, dezembro 17, 2009

Os casamentos da rapaziada do regime...

O Conselho de Ministros deste sítio, cada vez mais mal frequentado e falido, tomou uma decisão que decert,o por ser de enorme importância e alcance, comove todos os que neles votaram e todos os outros da querida esquerda e das direitas mais dadas ao secularismo evangélico do politicamente correcto.
Finalmente podem assumir-se e casar, as parelhas de homens e mulheres e assim poderemos ver, até onde chegam os negócios de família, há muito desconfiados pelos mal falantes do sítio.
Assim, já poderemos ver ministros a casarem com secretários de estado, assessores com adjuntos e conselheiros com ministros e toda a panóplia de coisas de que a inolvidável III República representa e é capaz, com papel passado e contas, que devem ser independentes, conforme as circunstâncias, vá-se lá saber porque razão de última hora foi alterado o código do IRS.
Lembrei-me da anedota do pai alentejano a dizer ao filho, tu não és gay tu és é ...
Felizmente não podem procriar no casamento sagrado da religião secular, o que é um alívio para os que pensam que esta coisa tem salvação.
Esta medida, é muito mais importante que o TGV, porque vai permitir esquecer os TGVs do sítio, e os sucateiros e toda a sucata em que se transfomaram os poderes do sítio e do seu regime de serviço, a IIIRepública.
Dou os parabéns aos noivos.

Fool For Your Loving

O palhaço

"O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem.

O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca notícias nos jornais. O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos.

Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem.

O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada.

Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.

O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar.

E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples.

Ou nós, ou o palhaço
. "

Mário Crespo

Contas secretas

"O presidente do Tribunal Constitucional proibiu a divulgação pública dos pareceres sobre as contas anuais dos partidos e das campanhas eleitorais. O argumento não poderia ser mais extravagante: o parecer da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos é um "documento interno" de suporte à decisão do Tribunal Constitucional.

Metida a chancela de "documento interno", portanto indisponível ao escrutínio público, o zeloso tribunal acrescenta: "A Entidade das Contas e Financiamento Políticos tem, nos termos da lei, como atribuição coadjuvar tecnicamente o Tribunal na apreciação e fiscalização das contas dos partidos políticos e das campanhas eleitorais."

É com este tipo de atitude e de argumentação que construímos um Estado insuportável, cada vez mais fechado, menos escrutinável, mais defensivo na ocultação das suas mazelas, menos representativo e absolutamente a leste de qualquer lógica de serviço ao cidadão. O cidadão e a cidadania não estão presentes no espírito nem na missão de quem tem este tipo de argumentação e atitudes lamentáveis. Nesses espíritos apenas sobrevive a pura lógica do poder e do habitual suporte de secretismo necessário à sua preservação, o que, tratando-se de um Tribunal Constitucional, é de manifesta infelicidade
."

Eduardo Dâmaso

Vai tudo de TGV

"Provavelmente mais cedo do que se imagina, vamos aterrar na realidade com estrondo, sangue, suor e muitas lágrimas.

O senhor presidente relativo do Conselho anunciou com imenso orgulho que é tempo do TGV passar do papel ao terreno. Feliz consigo mesmo, anunciou pela milésima vez aos indígenas que a obra vai dar emprego e ajudar à recuperação económica. Patranhas que a própria realidade já desmente e que o futuro próximo vai atirar definitivamente para o lixo. Conhece-se o estado a que o sítio chegou. Défice descontrolado, dívida pública galopante e um endividamento externo alarmante. Para além disso, o desemprego não pára de subir e o número de pessoas com fome aumenta todos os dias. Os sinais de alarme vêm de fora e alguns, ainda muito tímidos e desgarrados, cá de dentro.

Mas nem os mais recentes exemplos externos servem para Governo e Oposição arrepiarem caminho e, de uma vez para sempre, virem dizer aos indígenas que o modelo económico está errado há muitos anos e que chegou o tempo de mudanças sérias, abruptas e muito dolorosas. Continuam com a cabeça metida na areia e, com o apoio de alguns avençados de serviço, vão desvalorizando as tragédias da Grécia e da Irlanda. Mas, mais cedo do que tarde, as ondas gigantes vão atingir de uma forma violenta este sítio esfomeado, pobre, manhoso, corrupto, hipócrita e, obviamente, cada vez mais mal frequentado. O tsunami vai chegar a alta velocidade e só esta desgraçada classe política não vê as ondas que vão atirar o sítio para a desgraça absoluta. Agora, quando o Governo do senhor presidente relativo do Conselho prepara o Orçamento de Estado para 2010, é certo e sabido que nada de relevante irá mudar.

Nem mesmo a oposição vai ser capaz de dizer que o rei vai nu, dar um murro na mesa e, finalmente, falar verdade aos indígenas. Uma coisa é certa. No meio das desgraças que aí vêm haverá sempre alguém que virá com antibióticos fortíssimos evitar o descalabro e a morte do artista. Mas os efeitos secundários vão ser tão ou mais dolorosos que a própria doença. E o exemplo irlandês virá, com certeza, marcar essa emergência médica. A mal ou a bem, provavelmente a mal, alguém virá dizer a esta classe política irresponsável e incompetente que a despesa do Estado é incomportável, que o número de funcionários públicos tem de ser reduzido e que os salários dos indígenas estão muito acima da riqueza produzida. Mais cedo ou mais tarde, provavelmente mais cedo do que se imagina, vamos aterrar na realidade com estrondo, sangue, suor e muitas lágrimas
."

António Ribeiro Ferreira

Os impostos mais sexy do mundo

"O PS encontrou uma proposta que o Bloco de Esquerda não porá em causa: tributar salários dos banqueiros. A medida não é boa nem é má: não se aplica. Já o nunca aplicado imposto Tobin é de novo estudado. Quem tem razão? Fernando Ulrich. Deixem-nos trabalhar.

Acto I: o imposto Tobin, ou seja, aplicar uma pequena taxa sobre todas as transacções financeiras. Há 30 anos que se debatem os prós e os contras desta taxa, "inventada" por James Tobin, originalmente para combater a especulação cambial que pudesse desestabilizar países. Nunca foi aplicada e por boas razões.

Mas tem novos adeptos. Nicolas Sarkozy já o era, Gordon Brown passou a sê-lo, Angela Merkel e Durão Barroso apoiaram-nos: a União Europeia acaba de pedir ao FMI que analise a introdução desta taxa. Para evitar a especulação? Não: para financiar o combate às alterações climáticas. Perdão?

A taxa Tobin tem uma lista opositores notáveis, que explicam que ela promoverá a opacidade nas transacções e será um entrave à globalização. Além disso, se for pequena é irrelevante para reduzir a "má" especulação financeira, se for grande reduzirá o "bom" volume de transacções financeiras (além de que a especulação financeira não é toda "má", mas isso é outra história). Mais do que isso, a taxa só tem sucesso se for globalmente aplicada, de outra forma os investidores mudam a sede das suas transacções. Ora, os EUA estão contra a taxa.

Os estados estão a atacar os problemas certos com as soluções erradas. Os problemas são o descontrolo sobre a especulação financeira e a revolta com os prémios de gestores de bancos acudidos pelos contribuintes. As soluções erradas são a taxa Tobin e a sobretributação dos prémios.

A Europa não está interessada em reduzir a especulação, mas em financiar a recuperação da crise. Pôr todos os bancos a pagar os problemas que alguns deles criaram. Parece justo. Pode não sê-lo.

Acto II: aumento do imposto sobre os prémios dos banqueiros. A medida foi proposta em Inglaterra na semana passada, em reacção à pressão pública sobre os "bónus" que a banca de investimento vai distribuir este ano. São valores revoltantes, tendo em conta que são estes os bancos que criaram a crise e receberam ajudas estatais.

A medida é eficaz na subida da popularidade dos políticos. Não no combate à especulação. Os lucros e o incentivo à tomada de riscos jorrarão apesar disso. Há formas melhores, como aqui já foi escrito.

Também em Portugal, o Governo anunciou a medida. É típico, em vésperas de Orçamento do Estado, taxar a banca ou anunciar o seu combate. Mas é uma medida desnecessária, pois em Portugal não houve nem há problemas como os de outras terras. E é irrelevante pois pelo que foi dito, só se aplicará a prémios tão altos que não se praticam em Portugal (desde que o BCP deixou de distribuir 10% dos lucros). É governar para o boneco. O boneco da popularidade.

Acto III: foi o que disse Fernando Ulrich na sexta-feira: "Deixem-nos trabalhar. Não nos massacrem todos os dias com novos regulamentos". Numa apresentação a sublinhar com fosforescência, o presidente do BPI repetiu que não houve crise bancária em Portugal e a que houve foi permitida por regulações diferentes, as anglo-saxónicas. Porquê imitá-las?

Há bancos que deviam pagá-las. Por este andar, os que deviam não são os que vão pagar
. "

Pedro Santos Guerreiro

É favor não contrariar

"Desde o início que se assiste a uma luta entre o que Obama é e o que os seus devotos queriam que fosse. O discurso de aceitação do Nobel da Paz, que Obama dedicou à necessidade de determinadas guerras, é apenas o mais recente golpe numa ilusão que deu um trabalhão a criar. Aos poucos, a ilusão esvai-se e sobra aquilo que, dentro dos EUA, sempre se pressentiu: um homem, eleito por motivos válidos, absurdos e assim-assim ao mais influente cargo da Terra e cuja prestação convém avaliar em função dos factos e não de delírios.

Incrivelmente, fora dos EUA os delírios persistem. Se muitos, desanimados, desistiram de ver em Obama o ícone antiamericano com que sonharam, outros, por teimosia ou convicção real, mantêm a esperança. Alguns dos esperançados roçam o fanatismo. Alguns dos fanáticos roçam a paródia. São os que, em se tratando de Obama, "percebem" na oposição à erradicação das minas terrestres a forma de erradicar as minas terrestres, na manutenção do Patriotic Act o processo de acabar com o Patriotic Act, na detenção de terroristas em bases americanas o modo de condenar a detenção de terroristas em bases americanas e, em suma, na defesa da guerra o único caminho para a paz.

Há dias, um editorial do Público partilhava esta recusa da evidência em prol do seu reverso e exigia aos "cínicos" que se calassem. Enquanto "cínico", calo-me: certos estados mentais não devem ser contrariados. Já basta o próprio Obama contrariá-los diariamente, embora, como se nota, sem grandes resultados
."

Alberto Gonçalves

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Fitas

"Sobretudo na respeitável área da "cultura", qualquer recém-nomeado para um cargo público lança os jornalistas na busca de opiniões de "personalidades" acerca do feliz contemplado. Por regra, não há surpresas: as opiniões são na maioria positivas, embora irrompam ocasionais manifestações de antipatia. Independentemente da sua orientação, porém, o teor "intimista" dos testemunhos revela o tamanho do meio, tão pequeno que não se encontra quem não tenha já roçado, metafórica ou literalmente, a criatura em questão.

Se a constatação da nossa dimensão paroquial deprime, pelo menos os argumentos das "personalidades" divertem. Esta semana, por exemplo, as reacções à designação de Maria João Seixas para directora da Cinemateca Nacional divertiram-me. Noto que, excepto por umas variedades televisivas, não conheço a senhora de lado nenhum, logo naturalmente não compreendo as razões da nomeação. O engraçado é que os que a conhecem também não parecem compreender, mas em nome da amizade elaboram imaginativas explicações.

O realizador João Botelho acha a dra. Maria João "culta, simpática e fora dos lóbis", duas razões etéreas e uma discutível. A realizadora Margarida Gil vê nela "uma pessoa do cinema", presumivelmente por ter sido casada com Fernando Lopes e recebido subsídios para publicitar fitas nacionais no estrangeiro. O produtor Paulo Branco elogia- -lhe, sem especificar, o "trabalho" e o "trajecto". E Medeiros Ferreira ganha de longe o prémio da justificação mais original: o antigo ministro e deputado louva a escolha porque num seu aniversário a dra. Maria João, cito, "convidou o plenário dos seus amigos para uma celebração natalícia na Cinemateca". Volto a citar o dr. Medeiros Ferreira: "Está tudo dito sobre o seu amor ao cinema."

Estará? Eu julgo que ainda falta aplaudir a devoção às aves de todos quantos festejam os anos em churrasqueiras. Falta esclarecer em que circunstâncias uma instituição pública se reserva para pândegas particulares. E falta certamente destacar a opinião de Nuno Artur Silva, dono das Produções Fictícias e o único a apresentar uma razão credível para a nomeação da dra. Maria João: o "traquejo político". Traduzido, isso significa que a novel directora foi assessora de António Guterres e mandatária em candidaturas de Jorge Sampaio, Mário Soares e Manuel Maria Carrilho. Agora sim, está tudo dito sobre o seu amor ao cinema
. "

Alberto Gonçalves

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