quarta-feira, setembro 30, 2009
terça-feira, setembro 29, 2009
Um dia depois da vitória, a realidade: défice duplica, dívida dispara.
Etiquetas: Bem-vindo à realidade
segunda-feira, setembro 28, 2009
Derrotas e vitórias
Em três meses, tudo se esfumou. Por culpa própria, por mérito do PSe por intervenções alheias. Ferreira Leite e os seus estrategos acreditaram que menos circo significaria mais credibilidade. Esqueceram--se que o povo gosta de circo, independentemente da credibilidade. Em matéria de credibilidade, o PSD teve pouca. Cavalgando a ‘política da verdade’, Ferreira Leite incluía António Preto e Helena Lopes da Costa na sua lista. Denunciando a ‘asfixia democrática’, visitava a Madeira e elogiava o presidente nativo. Além disso, a ‘verdade’ e a ‘asfixia’ esqueciam o essencial: os quatro anos do engenheiro (tradução: mais défice, mais desemprego, mais endividamento). O engenheiro agradeceu.
A máquina de propaganda do PS fez o resto. E o caso das escutas, que seguirá dentro de momentos, deu o empurrão final. O silêncio de Cavaco, segundo o próprio teve como objectivo não interferir na campanha . Ironia: não fez outra coisa senão interferir na campanha . Com razão ou sem ela, Cavaco e o PSD conspiravam na sombra para derrubar ilegitimamente o PS de Sócrates. Nem de encomenda. Repito: o PSD perdeu. Mas qual PSD? Não, com certeza, o PSD que conspira na sombra para remover a líder e regressar ao poder. Esse PSD nunca esteve interessado na vitória de Ferreira Leite e espera pelo fim das autárquicas para que a senhora vá embora. Ela, com toda a certeza, irá. E, com ela, a ‘política da verdade’, que dará lugar à política de verdade."
João Pereira Coutinho
Tudo como dantes.
A vitória do partido do senhor presidente relativo do Conselho com maioria relativa não vai mudar nada neste sítio cada vez mais pobre, muito manhoso, cheio de mentirosos, recheado de larápios e obviamente cada vez mais mal frequentado. É natural que hoje muitos indígenas estejam com uma enorme ressaca. Professores, funcionários públicos, agricultores, desempregados sem qualquer subsídio, os novos pobres e os pobres envergonhados.
A economia está de rastos, o endividamento disparou, o défice das contas públicas vai atingir valores inimagináveis e o partido do senhor presidente relativo do Conselho já mostrou que é incapaz de resolver os problemas estruturais do sítio. Engane-se pois quem pensa que a perda da maioria absoluta irá provocar uma mudança de estilo e de políticas. Engane-se quem pensa que a perda de votos e deputados do partido do senhor presidente relativo do Conselho irá torná-lo mais dialogante, menos arrogante, menos autoritário, menos vingativo, mais amigo das liberdades.
O senhor presidente relativo do Conselho não muda de estilo e muito menos de carácter. Pior. Com maioria relativa na Assembleia da República irá entrar no jogo da chantagem com as forças políticas à esquerda e à direita na esperança de que alguém o derrube e provoque eleições antecipadas, o melhor caminho para recuperar a maioria absoluta de 2005. Com maioria relativa e com as forças políticas adversárias com medo de o derrubarem, o senhor presidente relativo do Conselho vai dedicar-se a outra tarefa que já marca a sua agenda política há mais de ano e meio.
Vai, obviamente, prosseguir com grande tenacidade a guerrilha contra o Presidente da República e, se puder, intensificá-la já com as Presidenciais de 2011 no horizonte. O senhor presidente relativo do Conselho não vai descansar enquanto não conseguir uma maioria, um Governo e um Presidente. E como não costuma olhar a meios para atingir os seus fins, o sítio vai viver momentos cada vez mais asfixiantes. E quem lhe andou a fazer a vida negra nestes quatro anos e meio vai pagar com juros a ousadia.
O senhor presidente relativo do Conselho não esquece, não perdoa e gosta imenso de se vingar a preceito de quem ousa fazer-lhe frente. E assim o sítio lá vai cantando e rindo das suas desgraças."
António Ribeiro Ferreira
domingo, setembro 27, 2009
Vale tudo
Primeiro, a TAP. Claro que isto um dia fecha. Não é por causa desta greve oportunista dos pilotos, em cima das eleições. Mas é com a sua prestimosa ajuda. A reivindicação de aumentos salariais dos pilotos nesta altura tem tanto cabimento como enfiar um melão num quebra-nozes. A não ser que já estejam a constituir-se como comissão de credores antecipada, para que a TAP lhes fique a dever mais dinheiro quando falir.
Pela terceira vez escrevo: a TAP está em falência técnica. Não é uma abstracção, é uma necessidade concreta de injecção de capital que o accionista Estado está impedido de dar, por Bruxelas. Sem privados interessados em entrar no capital, pode restar como solução fazer como na Helvécia: fecharam a Swissair, abriram ao lado a Swiss, deixando credores e "direitos adquiridos" pelo caminho. E isto não é "bluff" de administrador, qualquer contabilista o vê.
Este fanatismo na TAP só pode existir porque as ameaças de falência não são levadas a sério. No último ano, a pretexto da crise, o Estado tornou-se uma unidade de salvados, sem critério algum que não fosse o número de trabalhadores de uma empresa aflita ou a sua mediatização. Este ciclo da bondade veda o aumento de desemprego mas entope o ciclo de renovação empresarial. E reproduz a aparente inexistência de risco: o Estado salva, o Estado protege, o Estado está, paga, fia, empresta.
É uma patranha. A mesma que se ouve cansativamente nesta campanha, um desfile de propostas despesistas com total e irresponsável ausência de preocupação com as contas públicas.
Em Portugal tivemos a tragédia de a crise financeira servir de placebo para a crise económica e de concluirmos que, afinal, é preciso mais Estado. Não é. É preciso mais regulação, mais controlo e sindicância, é preciso (sempre foi) investimento público de curta duração para compensar as arritmias de uma recessão, mas não é preciso mais Estado. Mais Estado é mais impostos. Tem-no sido sempre.
Na Alemanha, também em eleições, os liberais estão perto de regressar ao poder. Em Inglaterra, os partidos estão a discutir onde vão cortar despesa pública. Em Espanha, só dá aumento de impostos. Mas em Portugal, desnovela--se quem dá mais subsídios, apoios sociais, baixa de impostos, incentivos. O irrealismo é tão grande quanto o dos pilotos da TAP. Mas a deputados pede-se mais responsabilidade que aos sindicalistas.
O drama português é o empobrecimento, absoluto e relativo. É sermos campeões da falta de produtividade. É a desigualdade, a baixa riqueza, a tributação. O Compromisso Portugal tinha razão. Medina Carreira tem razão. Vítor Bento escreveu um livro que devia ser literatura obrigatória depois das escolas e antes das escolhas.
Os melhores ministros do Governo que agora cessa, Vieira da Silva e Teixeira dos Santos (e Correia de Campos, que saiu a meio do tempo), praticaram governação responsável. Mas são ilhas neste regabofe eleitoralista que, da Esquerda à Direita, vai eleger 230 suaves deputados cujos delírios despesistas serão pagos em violentas prestações por um País em vertigem. Ao contrário da TAP, contudo, não é possível fechá-lo e abrir outro ao lado."
Pedro Santos Guerreiro
O comandante-chefe da cozinha
Na ONU, por exemplo, o homem discursou em tom ecuménico sobre um planeta sem armas nucleares. Estranhamente, não se referia a Marte ou a Neptuno, mas à Terra, onde é vasta a comoção face às suas palavras e onde países como o Irão continuam jovialmente a preparar o acesso a armas nucleares. Aliás, depois da ONU, a notícia de uma segunda unidade iraniana de enriquecimento de urânio mereceu de Obama novo discurso, agora na cimeira do G20 e em tom ameaçador. Se nem assim o Irão recuar, Obama promete outros discursos, imensos discursos, tantos quantos forem necessários para vergar pelo sono o regime dos aiatolas ou, com maior probabilidade, para elevar o teleponto a líder do mundo livre.
Não é toa que Obama suscita inúmeras comparações com Kennedy. Apesar de um rol infindável de asneiras práticas, desde o Vietname até à baía dos Porcos, o católico do Massachusetts atingiu a glória graças à verborreia e a slogans publicitários, de que "Ich bin ein Berliner" será o paradigma. Uma lenda posterior espalhou que, em alemão, a frase significa "Eu sou uma bola-de-berlim". A lenda é incorrecta, a essência não: o palavroso Kennedy, de facto, era mais bolos. Obama parece ser só bolos, vocação que, se não o distingue da generalidade dos políticos ocidentais em funções, não devia ocupar a Casa Branca. Sim, ele pode arranjar sarilhos irreversíveis."
Alberto Gonçalves
sábado, setembro 26, 2009
A denúncia
O destaque pareceu-me exagerado. Primeiro, os factos narrados na notícia reportavam-se a um ano e tal atrás; depois, não são propriamente decisivos para o país. Penso, ainda, que o rosto de Fernando Lima não era tão conhecido que justificasse um destaque tão grande.
Mas não nos antecipemos.
Comecemos por contar a história.
Há cerca de um ano e meio Cavaco Silva foi à Madeira em visita oficial (uma viagem ‘de risco’, porque Alberto João Jardim é sempre imprevisível) e a Presidência da República estranhou o comportamento de um membro da comitiva, por sinal assessor do primeiro-ministro.
Falando abertamente e sem rodeios, os colaboradores de Cavaco achavam que o assessor de Sócrates era um ‘espião’ infiltrado na comitiva presidencial.
Além disso, suspeitavam que o Palácio de Belém estivesse a ser alvo de escutas – o que não era propriamente extravagante, tendo em conta que o próprio procurador-_-geral da República admitira ao SOL a possibilidade de «ter o telemóvel sob escuta».
Pouco depois daquela visita, um editor do Público terá sido abordado por Fernando Lima, principal assessor de Cavaco, que lhe falou disto tudo: das suspeitas de escutas, do ‘espião’ na viagem à Madeira, etc.
O dito editor contactou então o correspondente do Público na Madeira através de e-mail, dando-lhe nota pormenorizada da conversa com Lima. Depois de uma rápida investigação, esse correspondente concluiu não haver matéria para publicação. E o jornal não publicou qualquer notícia.
Até aqui, não há nada de extraordinário a apontar. Perante uma suspeita avançada por uma fonte considerada credível, o jornal pediu ao seu correspondente no terreno para investigar alguns factos. E, não encontrando este matéria susceptível de fundamentar uma notícia, informou o jornal – que deixou cair o assunto.
Sucede que, passado mais de um ano, noutro contexto diferente – uma eventual cumplicidade entre assessores de Belém e o PSD –, o Público trouxe à baila essas suspeitas de escutas.
O assunto provocou uma certa agitação, o provedor dos leitores do Público analisou-o, moveram-se influências – e, finalmente, aparece publicado no Diário de Notícias o tal e-mail do editor do Público dirigido ao correspondente na Madeira. Neste e-mail, referia-se detalhadamente o encontro com Fernando Lima e descrevia-_-se o teor da conversa.
E aqui começam os problemas.
Logo à cabeça, é preciso perguntar o seguinte: o Diário de Notícias tinha o direito de publicar um e-mail interno de outro jornal? E, mesmo que o tivesse, seria isso correcto? A resposta é negativa.
A agravar o caso está o facto de se tratar de um e-mail onde se revelava a identidade de uma fonte de informação. Ora, ao revelar essa fonte, o DN admitiu que as fontes dos jornais podem ser denunciadas. E, nessa medida, admitiu que outros lhe façam o mesmo. Eu não acredito, entretanto, que a direcção do DN defenda este princípio.
Por exemplo: aceitaria o DN que outros publicassem o nome da pessoa que lhe facultou o e-mail interno do Público?
Tenho a certeza que não. Assim sendo, a direcção do DN precipitou-se ao denunciar a fonte de outro jornal. E deveria pedir desculpas públicas, para evitar que se instale na imprensa uma guerra suja e sem regras.
Este problema da protecção das fontes é decisivo.
É uma questão central do jornalismo.
Sem ela, o jornalismo de investigação acaba. Porquê? Porque se instalará o medo. A partir do momento em que começarem a ser reveladas as fontes dos jornais, instalar-se-á o medo. Ninguém quererá prestar informações aos jornalistas. Toda a gente os evitará: o empregado com medo do patrão, o funcionário público com medo do Governo, o juiz com medo da hierarquia, etc.
As injustiças passarão a não ser noticiadas e denunciadas – porque as pessoas começarão a ter medo de as denunciar, receando que os seus nomes venham a público e sofram represálias.
Ao contrário do que por vezes se diz – que a protecção das fontes estimula o anonimato –, não é de facto assim. As pessoas que prestam informações aos jornalistas não são anónimas: são pessoas que os jornalistas sabem quem são, que dão o rosto. Simplesmente pedem para não ser identificadas para não serem objecto de perseguição.
Por isso, insisto: o fim da protecção das fontes levará a um clima de medo generalizado, onde as prepotências na actividade pública e privada, as injustiças, muitas fraudes não serão denunciadas porque os possíveis denunciantes terão medo de se expor.
Cabe dizer, neste ponto do relato, que todos os assessores de políticos – do Governo, da oposição, de Câmaras Municipais, etc. – procuram influenciar os jornalistas. Tentam ‘vender o seu peixe’. Intrigam, fazem contra-informação. Na gíria, chama-se a isto ‘intoxicar’.
Todos os assessores procuram ‘intoxicar’ os jornalistas, com maior ou menor habilidade.
Cabe depois à imprensa seleccionar as informações, peneirá-las, só publicando aquelas que têm efectivamente consistência.
A responsabilidade da publicação de um determinado facto é, pois, sempre do jornal – não é dos assessores. O jornal tem responsabilidades perante a sociedade. Os assessores não têm: o seu papel é ‘venderem o peixe’ de quem lhes paga.
Não há, portanto, nada de extraordinário no facto de um assessor tentar influenciar um jornalista.
Este assunto só se tornou um ‘escândalo’ pelo facto de nele estar envolvido Cavaco Silva, através de um seu homem de confiança: Fernando Lima.
Havendo a ideia generalizada de que todos os assessores de políticos tentam intoxicar os jornalistas, pensa-se, no entanto, que Cavaco está noutro plano, que se situa acima da intriga. Que não actua nos bastidores. Ora, quando aparece um seu colaborador directo implicado numa história de contra-informação, é natural que as pessoas se surpreendam e se sintam chocadas.
É um pouco o desfazer da imagem que tinham do Presidente da República. Foi, aliás, sentindo isto que Cavaco substituiu o seu colaborador de há tantos anos.
Claro que há ainda um aspecto a considerar: haverá ou não escutas a Belém? Terão ou não os assessores do Presidente os telemóveis sob escuta? No tempo em que vivemos já nada nos espanta.
É certo que o Público ‘embrulhou’ muito mal a história, pelo que ela soou a ridículo. Parecia uma fantasia, com escutas e espiões a brincar. Mas não é totalmente impossível que neste clima de intriga e suspeição que se instalou no país haja a tentação de escutar tudo e todos – inclusive os inquilinos do Palácio de Belém.
Pelo menos, é possível que os assessores do Presidente acreditem nisso"
JAS
Aviso à negação judicial
A independência real dos juízes, sendo uma garantia do cidadão, só existe se aqueles gozarem de todas as garantias e condições objectivas para o exercício pleno da profissão. Nenhum juiz nasce isento e imparcial. Ele só é independente na justiça que dita se não amordaçarem o seu pensamento, a sua liberdade de decidir, e se o fizer sem medo de retaliações. Esta é uma profissão de desgaste rápido e de risco.
O erro inconsciente, não premeditado ou intencional, faz também parte do exercício da judicatura. Não existe Justiça sem erro ou juízes infalíveis. Também a justiça divina erra. O que é preciso é que esse erro não seja grosseiro, palmar, escandaloso, que sai fora dos parâmetros das mais elementares regras de bom senso. Este, sim, deve ser evitado.
Decretar a prisão preventiva, com os indícios existentes no processo, naquele momento, num tipo de crime em que seja permitido, não configura o erro grosseiro, mesmo que, por decisão de um tribunal superior, venha a ser revogada essa decisão.
Aceito que um juiz classificado de ‘Muito Bom’ não possa ter a mácula do erro grosseiro. Mas de que erro grosseiro estamos a falar?
Compete, por excelência, ao Conselho Superior da Magistratura assegurar a independência do Poder Judicial e não permitir que esta possa ser beliscada por influências partidárias ou políticas. Suspender uma classificação até decisão definitiva de uma acção de responsabilidade civil contra o Estado e de, eventual, direito de regresso contra o juiz, não é a melhor forma de garantir a independência da judicatura. Até porque o hipotético direito de regresso contra o juiz não é obrigatório nem automático. E se o Estado vier a ser absolvido, é justo que a classificação fique suspensa por muitos anos?
O precedente aberto pelo CSM é grave para a segurança, confiança e prestígio do Poder Judicial. A decisão inédita do CSM, de suspender a classificação do juiz Rui Teixeira, parece-me errada. Mas será um erro grosseiro? E a decisão do tribunal que considerou existir erro grosseiro? Em que ficamos?
O CSM pode ter lançado sobre os juízes a “gripe A”, o medo de decidir sobre certos processos, o que contamina toda a Justiça."
Rui Rangel
O futuro da Alemanha
O desinteresse justifica-se por três motivos. Primeiro, a campanha foi aborrecida. Segundo, é praticamente certo que Angela Merkel vai ser o novo chanceler, quaisquer que sejam os resultados. Terceiro, ninguém espera mudanças políticas concretas.
O primeiro motivo evocado está correcto, o segundo também, embora possa induzir em erro, enquanto que o terceiro está errado. É provável que Merkel seja reeleita, no entanto, o seu poder e longevidade políticos dependerão muito da coligação que emergir depois das eleições. Uma das duas prováveis alianças é uma pequena coligação de centro-direita liderada pelo partido de Merkel, a União Democrata-Cristã (CDU), pelos seus aliados da Bavária e pelos Democratas Livres, o partido liberal alemão (FDP). A alternativa é reeditar a Grande Aliança com o Partido Social-Democrata (SPD).
Estas eleições podem vir a ser uma caixinha de surpresas. Por quatro razões. Primeiro, e por se tratar de um sistema parlamentar composto por cinco partidos, é de prever que o voto táctico entre os parceiros da coligação sofra algumas mudanças à última hora. Segundo, Merkel é politicamente brilhante, mas falta-lhe à-vontade para as campanhas eleitorais. Em 2005, assustou os eleitores com um plano de reformas fiscais radicais. Em 2009, optou por jogar pelo seguro e raramente desfere ataques aos seus opositores na corrida. Terceiro, a aritmética de um parlamento composto por cinco partidos nunca é favorável a uma coligação entre dois partidos, salvo uma Grande Coligação. Basta fazer as contas. As sondagens mostram que há dois partidos grandes que reúnem 25% e 35% do apoio do eleitorado, e três pequenos partidos com 15% cada. Quarto, o centro-direita tem perdido terreno político desde finais da década de 90 devido a uma mudança geracional. Até então, os eleitores mais velhos faziam parte da geração do pós-guerra; hoje, os reformados são a geração de 60, mais virada para a Esquerda. Além disso, também não consegue captar o voto do eleitorado jovem. As forças combinadas da Esquerda sofreram, por isso, uma profunda reestruturação em cada acto eleitoral desde 1998.
Importa lembrar que o SPD tem vindo a mudar e que passou a estar mais aberto a novas coligações, inclusive com o Partido de Esquerda, o Die Linke. Se destas eleições emergir uma Grande Coligação, não podemos pôr de lado a possibilidade de Merkel vir a ser derrotada nos próximos quatro anos por uma coligação SPD/Verdes/Esquerda.
Haverá diferenças nas políticas de uma e outra coligação? Um governo de centro-direita vai tolerar um défice mais elevado no curto prazo e reduzir a carga fiscal sobre o rendimento. Uma Grande Coligação vai, seguramente, seguir o caminho inverso. Ou seja, vai apontar à esquerda ao nível da políticas fiscais, sociais e industriais. E Merkel fará tudo para manter o SPD no mesmo barco, visto ser uma mulher de consensos e com um estilo presidencial.
Não se deixem enganar por uma campanha sensaborona. As diferenças políticas existem e estas eleições são importantes."
Wolfgang Munchau
sexta-feira, setembro 25, 2009
Não aconteceu nada nos últimos quatro anos e meio...
Sócrates adorou a violação
Nada de preocupações com o facto de um jornal ter, pela primeira vez, publicado correspondência privada de um outro jornal sobre uma investigação jornalística. Como se no caso Watergate os jornalistas do ‘The New York Times’ andassem atrás dos seus colegas do ‘Washington Post’ para saber quem era o ‘Garganta Funda’ e publicassem a história. A alegria dos socialistas era tanta que nada disso os preocupava. E o próprio José Sócrates, que normalmente não fala com ninguém quando vai tomar o perqueno-almoço nos hotéis em que passa a noite, fez questão de ir cumprimentar a jornalista do ‘Público’ que está a fazer a campanha do PS para lhe desejar, com um sorriso provocador, um excelente dia de trabalho. E os assessores do secretário-geral do PS, rapazes obedientes e bem mandados, fizeram questão de ir repetindo a provocação ao longo do dia. Tudo bons rapazes.
ENCOMENDAS I: JORNALISTAS CRIAM GRUPO LIGA PARA MIM
A publicação do e-mail privado do ‘Público’ provocou uma crise de ciúmes em alguns jornalistas do ‘DN’. Agastados por não terem assinado a peça, alguns elementos decidiram, de forma oficiosa, criar uma espécie de grupo ou associação a que deram o nome de Liga Para Mim (LPM). Uma forma muito séria de mostrarem que também estão dispostos a fazer encomendas a todos os cidadãos, empresas ou partidos. Claro está que tudo isto será sempre feito em nome do interesse nacional.
ENCOMENDAS II: 'EXPRESSO' PÔS E-MAIL NO LIXO
Os autores da encomenda do e-mail privado do ‘Público’ enviaram o dito para o ‘Expresso’. Mas como o director o mandou para o lixo, decidiram enviá-lo ao fim da tarde do dia 17, quinta--feira, para o ‘DN’. Um porto seguro de bons rapazes que trabalharam à grande e à francesa para a história sair no dia seguinte.
AMORES ESCONDIDOS: NAMORADA FULA COM NAMORADO
Na entrevista de sete páginas que deu ao jornal que publicou o e-mail privado do ‘Público’, José Sócrates revelou quea namorada, Fernanda Câncio, lhe dá alguns conselhos sobre a roupa que compra. Acontece que a jornalista do jornal que publicou o e-mail privado do ‘Público’ anda por aí a processar e a fazer queixinhas dos jornalistas que escrevem ou dizem que ela é namorada de José Sócrates. Fula, decidiu tomar umas medidazinhas de represália que o ‘Correio Indiscreto’ não revela. "
António Ribeiro Ferreira
Fumaça.
"Fernando Lima deixou de ser o responsável pelas relações de Belém com o exterior por se considerar que, depois da polémica à volta do seu nome, não poderia assegurar o lugar com eficácia (mais aqui)"Parece que a “Orquestra Vermelha” inventou um não facto para mascarar a queda do “chefe”…
Etiquetas: Orquestra Vermelha da Robinóquilândia.
Grandes vitórias.
"PS também vence ao PSD nas ruas (mais aqui)"Mais camioneta menos camioneta…
Etiquetas: Cantam bem mas não nos alegram
Doenças terminais.
Alberto Gonçalves
quinta-feira, setembro 24, 2009
A dependência dos jornais e das televisões, leia-se censura, esta sim a velha senhora.
O Estado velho
Vale a pena recordar: "esclarecer", em Portugal, é sinónimo de criar pandemónio em volta de um tema durante uma semana e esquecê-lo na semana seguinte. Nesta história, por acaso, a "semana seguinte" traz eleições, e é possível que a presuntiva espionagem ainda pese até lá. Se pesar, o eleitor deve ignorar as prometidas investigações da Procuradoria-Geral da República (que nem resolveu as "escutas" de que se disse alvo) e, a partir da fezada, tentar perceber sozinho se o Governo espia a Presidência ou se a Presidência inventou uma acusação de tamanha gravidade. Basta responder à pergunta: a julgar pelos respectivos antecedentes, qual das duas principais figuras do Estado é mais confiável? No fundo, é a velha técnica do carro usado. Ou, apropriadamente, do país usadíssimo, e à beira da caducidade."
Alberto Gonçalves
Pum Pum do Bloco nas ruas de Braga
Não quero caricaturar. É demasiado fácil. A verdade é que a coisa funciona, com grande economia de meios. À frente, a rapaziada do Pum, em formação de estrondo, abre alas. Na estreita rua comercial, as pessoas vão ficando literalmente encostadas à parede, à espera. Louçã vem atrás, com um maço de jornais de campanha, no meio de um enxame de jornalistas e militantes. O povo que anda por ali, a esta hora, é o que vemos a fazer de audiência nos programas de televisão das manhãs.
Senhoras reformadas reconhecem Louçã, excitam-se com as câmaras, incitam-se umas às outras, aproximam-se para o beijinho: “Ó D. Maria, não quer aparecer na televisão?”
Louçã tem uma técnica. Dirige-se às pessoas, pedindo licença para oferecer o jornal: não é o porta-a-porta, mas o cara-a-cara. Quando pára, forma-se logo à volta dele um ouriço de câmaras e microfones. No meio do círculo, Louçã faz as pessoas contarem-lhe histórias, que usa depois como pretexto para desbobinar a doutrina. Trata sempre de se pôr ao lado do momentâneo interlocutor contra “eles” – “eles”, os malandros que querem “destruir o emprego em Portugal”.
Ao pé de Louçã, toda a gente é educada e simpática; os comentários chocarreiros fazem-se ao longe: “cuidado com a gripe A!” Atrás, os vinte porta-bandeiras do Bloco, quase todos com um ar respeitável de professores de meia- idade, congratulam-se com o passeio por Braga: “isto já não é uma cidade bafienta”. Mas a certa altura, eis Louçã abordado por alguém montado numa bicicleta incongruente, que lhe diz qualquer coisa sobre a UDP e o PCR. Louçã vira-lhe as costas, incomodado. É o bafio do Bloco.
No fim da rua do Souto, próximo da avenida Central, faz-se uma espécie de conferência de imprensa. Louçã, no meio dos jornalistas, explica: “quem vai decidir estas eleições é quem vota no PS”.
Ele quer tirar votos ao PS – aqui, em Braga, para eleger o primeiro deputado pelo distrito. Em suma, a arruada é isto: um cenário para falar à imprensa. Quanto ao mais, o que é que aprendemos em Braga? Que o Bloco é Louçã, tal como o CDS é Portas – e ouvi esta comparação a um militante do Bloco. São dois políticos exímios nos contactos pessoais e na comunicação social. Andam em luta com os grandes partidos, explorando as frustrações da governação nos últimos anos.
Louçã, neste momento, é o mais solto e agressivo: está em guerra com o PS. Joga forte, joga tudo, joga para ganhar. Há à volta dele uma certa – digamos – intensidade. Bastará?
DETALHES DO DIA
NÃO ERA O MESQUITA
Bandeiras e bombos nas ruas de Braga. 'É o Mesquita?' Não, apesar de estarmos em Braga. Finalmente, as duas amigas avistam o homem da camisa branca: 'É o Louçã, o do partido comunista. Gosto muito de o ouvir'. A política é cada vez mais personagens da televisão.
PROVEDOR DA RUA
Por onde passa, Louçã é um aspirador de queixas e de frustrações. Contam-lhe tudo. Louçã ouve com ar atento, compartilha a indignação, oferece-se logo para ajudar: 'escreva-me isso, que eu vou ao ministério perguntar o que se passa'. Juro que lhe ouvi isto.
PÉROLAS LITERÁRIAS NO PROGRAMA
O programa do Bloco para Braga é a peça literária desta campanha. Podia ter sido escrito pelo conselheiro Acácio depois de um mês num campo de reeducação cubano. Exemplos: 'A pobreza também tem rosto de mulher' (p. 6). 'Nas equações do amor, o Estado deve ficar à parte' (p. 12). Neoliberalismo, só no sexo – mas se o deixam aí, até onde é que não poderá chegar."
Rui Ramos
Sócrates, Louçã e os PPR
Comecemos pelo PS. Diversas organizações internacionais elogiaram as mudanças introduzidas pelo actual Governo na fórmula de cálculo das pensões de reforma. Sublinharam a circunstância de os novos critérios, ao incluírem factores como a esperança de vida, terem fornecido melhores perspectivas de sobrevivência do sistema público e de adiamento da sua ruptura financeira. Nesta frente, Sócrates deixa obra feita e bem feita.
Acontece que as alterações têm um custo. As pensões de reforma futuras serão mais baixas e há quem preveja que, pelos meados do século, ter-se-ão reduzido para cerca de metade em comparação com os valores previstos antes das mudanças operadas pelo Governo. A factura é incontornável: a Segurança Social pagará menos, mas acredita-se que terá meios para pagar alguma coisa.
Foi por esta razão que o Governo decidiu não mexer nos incentivos fiscais aos PPR e até avançou com um produto concorrente, os "certificados de reforma", disponíveis para quem aceite aumentar os descontos efectuados sobre os seus rendimentos. O dinheiro assim obtido é aplicado nos mercados de capitais, em obrigações, acções e outros activos, num sistema de capitalização que visa garantir um complemento à pensão de reforma que será suportada pelo Estado.
É aqui que Sócrates tropeça quando critica quem, no seu entendimento, quer confiar as pensões à "especulação bolsista". Se, de facto, não estivesse apenas a tentar dizer aquilo que os eleitores mais à esquerda querem escutar, jamais teria criado os tais "certificados de reforma" que confiam na valorização dos activos cotados em bolsa para fazerem crescer o dinheiro dos contribuintes. Se isto é entregar as reformas à "especulação bolsista", então Sócrates está muito mais próximo do que quer fazer parecer de Manuela Ferreira Leite, quando a líder social-democrata abre a possibilidade de as contribuições efectuadas pelos titulares de rendimentos mais elevados serem limitadas para que o dinheiro assim libertado possa ser aplicado em produtos de investimento.
Quanto a Francisco Louçã, enquanto prega contra os planos poupança-reforma, descobre-se que, afinal, também tinha subscrito um. Pelo que declarou, percebe-se que terá apostado num PPR de má qualidade e que terá decidido proceder ao respectivo resgate. Acontece que a baixa rendibilidade é, de facto, um dos problemas mais graves da grande parte dos PPR que estão no mercado, mas a generalização é injusta para os produtos que cumprem a expectativa de proporcionar retornos reais para quem neles investe com uma perspectiva de longo prazo.
Num país que enfrenta um grave problema de excesso de endividamento, extinguir benefícios fiscais à poupança é um erro em que o Bloco de Esquerda só vê virtudes. Por causa de um constrangimento estrutural que vai limitar o crescimento da economia nos próximos anos e porque é prudente poupar para evitar uma forte quebra dos rendimentos quando chegar a hora da reforma, faria todo o sentido premiar as aplicações de longo prazo, independentemente de serem feitas em PPR. Haveria mais concorrência, o que obrigaria seguradoras e bancos a serem mais cuidadosos na gestão do dinheiro dos clientes.
A batalha de Louçã deveria ser outra, por um motivo adicional. Chama-se transparência. O "marketing" das instituições financeiras e dos próprios "certificados de reforma" geridos pelo Estado preocupa-se mais com o factor de atracção dos benefícios fiscais do que com a informação e prestação de contas aos clientes. É por esta razão, como Francisco Louçã já terá percebido por experiência própria, que centenas de milhares de aforradores estão a ser enganados. O Estado dá o incentivo mas demite-se de exigir boas práticas a quem comercializa os PPR. Acabar, simplesmente, com o benefício fiscal, não resolverá este problema."
João Cândido da Silva
quarta-feira, setembro 23, 2009
O inédito, o execrável e o pântano.
Escutas.
1/ "Ferreira Leite faz o programa com Catroga e assessores de Belém (mais aqui)"Esta é a história das escutas. Tirem as vossas conclusões que nós já tirámos as nossas.
3/ "Socialistas próximos de José Sócrates lançam forte ataque a Cavaco Silva (mais aqui)"
2/ "Essa fonte consultada pelo «Público» mais do que apontar certezas deixou dúvidas no ar: «Como é que dirigentes do PS sabem o que fazem ou não fazem assessores do Presidente? Será que estão a ser observados, vigiados? (mais aqui)".
4/" Sócrates: caso das escutas foi "invenção" do PSD (mais aqui)"
Etiquetas: Cantam bem mas não nos alegram neste reino do politicamente correcto
Da coerência.
José Junqueiro gozando com as contradições de Francisco Louçã
Futura coligação...
2/ "Coligação com BE não «repugna nada» Mário Soares (mais aqui)"
3/ "Sócrates nega “acordo secreto” com Louçã (mais aqui)"
Etiquetas: Cantam bem mas não nos alegram neste reino do politicamente correcto
Não são trolhas
Agora agrediu o estado da Justiça pela pouca idade dos magistrados e pedindo a proibição do sindicalismo: "Não são operários da construção civil", disse. Tão longe mora o antigo lutador pelas liberdades dos trabalhadores…
Quanto à condição imberbe dos magistrados, assiste-lhe alguma razão, desde que se tenha bem presente que a idade não é sinónimo de mais e melhor juízo – como, aliás, Marinho Pinto deveria saber por exaustiva experiência própria."
Carlos Abreu Amorim
Pregação de São Jerónimo aos seus fiéis.
A semana passada apostou forte no Porto e conseguiu um grande êxito com o comício de domingo no Palácio de Cristal. Esta semana a aposta é o Campo Pequeno, em Lisboa, na quinta-feira. Jerónimo está convencido de que as estruturas do PCP de Santarém, onde vai andar na véspera do comício, Setúbal e Lisboa vão ser mais do que suficientes para mais uma demonstração de força da CDU a um dia do fim da campanha eleitoral. E, talvez por isso, Jerónimo de Sousa saiu ontem cedo de casa, foi até Vialonga, mesmo ali ao lado, fazer uma pequena arruada, onde encontrou velhos amigos e camaradas. Nada de especial, a não ser a presença irritante de duas ciganas, que as câmaras de televisão não apanharam, que desataram a gritar "Sócrates, Sócrates" mesmo nas barbas dos comunistas. "Pois é, gritam por ele porque recebem o rendimento mínimo", desabafava uma comunista de Vialonga. Depois foram os deficientes em Lisboa, uma sessão com sindicalistas na Casa do Alentejo, onde Carvalho da Silva deu uma mãozinha, os Gatos na SIC e um comício em Santa Iria da Azóia, mesmo ao lado de Pirescoxe, a terra que o viu nascer e onde sempre viveu este querido e simpático comunista chamado Jerónimo de Sousa. Razão tinha um cidadão que há dias comparou o secretário-geral do PCP a um padre. Jerónimo não é muito dado a igrejas e religiões, mas sabe andar na rua, fala com toda a gente, ninguém o insulta e todos, mesmo os que odeiam os comunistas, reconhecem que este ortodoxo comunista não se compara ao durão Cunhal ou ao atrapalhado Carlos Carvalhas, antecessores de Jerónimo na liderança do PCP. Homem simples, operário metalúrgico, político há mais de trinta anos, Jerónimo de Sousa está seguro no seu lugar mesmo que a CDU não obtenha os seus objectivos no domingo. Um reforço de deputados e de votos que dependem de muita coisa. Mas anda por aí algo que pode ser uma bênção caída do céu para o PCP e os seus aliados. E essa bênção veio da boca de Mário Soares, um dos inimigos de estimação dos comunistas, o tal que foi preciso engolir nas presidenciais de 1986. É que o ex-Presidente da República apelou a uma aliança do PS com o Bloco. E se este tema estiver na agenda até domingo, é possível que muitos votos de protesto voem directamente para o sapatinho do PCP. Soares é mesmo fixe."
António Ribeiro Ferreira
Caso inédito.
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O preço da cidadania
Francamente, não se admite seduzir pessoas com tão pouco. É indecente da parte de quem suborna e da parte de quem é subornado. Vinte e cinco euros e um emprego imaginário pagam, à justa, a viagem de autocarro, a sanduíche de queijo e a laranjada, afinal o custo dos infelizes que, à esquerda e à direita, se vêem por exemplo arregimentados para encher comícios e arruadas.
O problema não é exclusivo do PSD ou de Lisboa: o baixo preço político dos eleitores é um problema nacional e de cidadania, e não é toa que todos os partidos se tenham calado a propósito do sr. Preto (excepto o dr. Louçã, que não há maneira de se calar). Mas se há por aí tantos movimentos e "plataformas reivindicativas" (desculpem o termo), já era tempo de se criar um movimento (ou uma plataforma) que reivindicasse o pagamento justo pela cedência do cidadão aos interesses partidários. Não se deve continuar a tolerar que os partidos saqueiem fortunas aos contribuintes e devolvam apenas uma mísera fracção sob a forma de brindes humilhantes.
O esforço de uns escassos políticos para reverter esta vergonha, incluindo em sufrágios externos aos partidos, viu-se alvo de galhofa geral. E no entanto os frigoríficos de Valentim Loureiro e os Magalhães de José Sócrates possuíam uma utilidade e conferiam aos destinatários uma dignidade que 25 euros obviamente não possuem nem conferem. Em vez de se denunciar a compra do voto, é urgente inflacioná-lo, forçando assim os políticos a subir a parada para ecrãs LCD (alta definição), computadores a sério e, mal se saia da crise, automóveis de gama média. O eleitor vê insuflada a sua auto-estima, ganha qualquer coisa que se veja e, ainda por cima, mantém-se livre de votar em que quem lhe der na cabeça, que não é necessariamente quem lhe deu a prenda."
Alberto Gonçalves
terça-feira, setembro 22, 2009
Exaltação do mártir Lopes
Nisso não me meto. Apenas noto que o sr. Lopes amuou, em larga medida, pelo facto de, cito, "o PCP ser o único partido do mundo que mantém o apoio à invasão da Checoslováquia, em 1969, pelas tropas do Pacto de Varsóvia". Por acaso, no mundo real a referida invasão aconteceu em Agosto do ano anterior, mas o equívoco involuntário compreende-se: 1969 foi o ano em que o sr. Lopes invadiu, ainda que amistosamente, o PCP, no qual permaneceria quatro décadas, todas posteriores ao final da Primavera de Praga. Provavelmente, o inconsciente do sr. Lopes gerou o lapso quando achou incómodo usar como motivo de saída uma situação já existente aquando da respectiva entrada, à semelhança do sujeito que devolveu um triciclo porque, depois de o pedalar até à exaustão, constatou que a geringonça só tinha três rodas.
Equívocos à parte, a paciência do sr. Lopes é uma coisa extraordinária. O homem passou quarenta anos à espera que o PCP se desculpasse pela questão checa. Imagine-se o que será ir todos os dias durante quarenta anos para o emprego, no Comité Central ou na Secção Internacional do partido, e aguardar em vão as desculpas do PCP pela invasão da Checoslováquia. Imagine-se o que será elogiar, em documentos escritos e intervenções públicas, as proezas da URSS e não conseguir as desculpas do PCP pela invasão da Checoslováquia. Imagine-se o que será aplaudir alguns dos maiores criminosos do último século e continuar sem ouvir as desculpas do PCP pela invasão da Checoslováquia. Imagine-se o que será defender com unhas e dentes a invasão da Checoslováquia e o desgraçado do partido em que se milita não pedir o raio das desculpas pela invasão da Checoslováquia.
Jan Palach, o estudante de Praga que se incendiou em protesto contra os tanques soviéticos, sofreu, queimado no hospital, três dias. O sr. Lopes sofreu uma vida."
Alberto Gonçalves
Encomenda rosa.
O Presidente da República desconfia seriamente que elementos ligados ao Governo do senhor presidente do Conselho andam a vigiar a Presidência da República há bastante tempo. Por isso mesmo solicitou na semana passada uma busca às instalações de Belém para detectar eventuais escutas. Este facto é grave e levaria em circunstâncias normais o Chefe de Estado a demitir de imediato o Governo e o respectivo presidente do Conselho. Como estamos a poucos dias de eleições, o assunto estará de imediato em cima da mesa caso o partido do senhor Presidente do Conselho vença as Legislativas.
Esta situação é clara para qualquer pessoa e é natural que o assunto seja matéria de interesse público e alvo de naturais investigações jornalísticas. As primeiras notícias sobre o assunto saíram no jornal ‘Público’ e não devem ter sido bem recebidas em S. Bento e no Largo do Rato. Na verdade, o partido do senhor presidente do Conselho anda há mais de um ano a fazer guerra a Cavaco Silva. O primeiro sinal foi o Estatuto dos Açores, em que o senhor presidente do Conselho não respeitou compromissos assumidos com o Presidente da República, uma situação totalmente intolerável tanto do ponto de vista institucional como pessoal. A quebra de confiança entre Belém e S. Bento é irreversível e estará em cima da mesa depois de 27 de Setembro se o eleitorado der a vitória ao partido do senhor presidente do Conselho.
Na sequência destes factos, a máquina socialista pôs-se em movimento e, com a cumplicidade sabe-se lá de quem, teve acesso à correspondência privada do jornal que iniciou a investigação. Esses e-mails foram enviados posteriormente para vários órgãos de Comunicação Social e houve um, por acaso centenário, que aceitou publicar uma parte dessa correspondência privada, tornando-se, a partir desse momento, cúmplice de um crime grave de violação de correspondência privada. Não vale a pena chamar à colação questões éticas ou deontológicas. O que está em causa neste assunto nojento é a acção de um conjunto de crápulas que devem obviamente ser levados a tribunal. Os crápulas que violaram a correspondência e os que a publicaram. Anda muita poeira a voar e a polémica tem vindo a revelar o carácter viscoso de muita gente. O caso é tão simples como isto. Uns crápulas empregados do senhor Oliveira aceitaram uma encomenda e devem ser julgados por terem cometido um crime de violação de correspondência. Ponto final."
António Ribeiro Ferreira
A vitória de Durão Barroso
Antes de mais, enfrentou durante os últimos cinco anos uma resistência de muitos sectores europeus simplesmente por ser português. Essa oposição acentuou-se à medida que um segundo mandato se tornava uma possibilidade real. Para muitos na Europa, um português igualar o feito de um alemão, Walter Hallstein, e de um francês, Jacques Delors, os únicos até hoje com dois mandatos à frente da Comissão Europeia (contudo, convém notar, não foram votados pelo Parlamento Europeu), seria simplesmente inaceitável. A Cimeira dos Açores e as acusações de "neo-liberalismo" foram, acima de tudo, pretextos para impedir que um antigo PM português se elevasse ao topo onde apenas deveriam estar os "Pais" da "Europa". O facto de Durão Barroso ter resistido a isto é extraordinário.
Os seus adversários prosseguiram dois objectivos. Impedir um segundo mandato ou, não o conseguindo, reconduzi-lo com uma pequena maioria. Para isso, usaram a mais cobarde das tácticas: não apresentaram outro candidato, construindo tipos-ideais de acordo com as preferências de cada um. Durão Barroso derrotou-os.
O adiamento da nomeação jurídica em Junho permitiu que os grupos políticos vencidos nas eleições europeias conseguissem adiar a votação para Setembro. A partir daqui, Durão Barroso foi um político só. Foram todos de férias, e ele trabalhou e preparou-se. Apresentou um documento de "Orientações Políticas", ganhando com isso mais apoios. Discutiu-o com todos os grupos políticos do Parlamento Europeu, onde mostrou uma fibra e uma dimensão de líder político, desconhecidas para muitos, ganhando assim o respeito de muitos, incluindo de alguns dos seus adversários políticos. Chegou ao Plenário, na véspera da votação, e com um discurso cheio de convicção, conquistou os votos necessários para uma maioria absoluta, cenário em que quase ninguém acreditava. O apoio do Conselho e do PPE, o trabalho da Comissão, foram importantes, mas chegariam apenas para uma maioria simples. A diferença para a maioria absoluta deve-se inteiramente a Durão Barroso.
Hoje, o Presidente da Comissão goza de uma posição política muito favorável. Adquiriu uma legitimidade democrática sem precedentes entre os seus antecessores. Além disso, os fundamentos de um programa para os próximos cinco anos foram aprovados pelo Conselho e pelo Parlamento, aumentando assim a sua força política. Haverá muitas dificuldades pela frente, mas seria impossível antecipar este cenário tão positivo até há duas semanas atrás. Quando um dia se perceber devidamente a dimensão do que Durão Barroso alcançou nas últimas semanas, os portugueses terão razões para se sentirem orgulhosos. "
João Marques de Almeida
Na comunicação social o que parece é.
35 anos depois da ditadura, digam lá o que disserem, não volta a haver o Jornal de Sexta da TVI e os seus responsáveis foram afastados à força.
No fim da legislatura, em plena campanha eleitoral, conseguiram acabar com um bloco noticioso que divulgou peças fundamentais do processo Freeport.
Sem o jornalismo da TVI não se tinha sabido do DVD de Charles Smith, nem do papel de "O Gordo" que é (também) primo de José Sócrates e que a Judiciária fotografou a sair de um balcão do BES com uma mala, depois de uma avultada verba ter sido disponibilizada pelos homens de Londres.
Sem a pressão pública criada pela TVI o DVD não teria sido incluído na investigação da Procuradoria-geral da República porque Cândida Almeida, que coordena o processo, "não quer saber" do seu conteúdo e o Procurador-geral "está farto do Freeport até aos olhos".
Com tais responsáveis pela Acção Penal, só resta à sociedade confiar na denúncia pública garantida pela liberdade de expressão que está agora comprometida com o silenciamento da fonte que mais se distinguiu na divulgação de pormenores importantes.
É preciso ter a consciência de que, provavelmente, sem a TVI, não haveria conclusões do caso. Não as houve durante os anos em que simulacros de investigação e delongas judiciais de tacticismo jurídico-formal garantiram prolongada impunidade aos suspeitos.
A carta fora do baralho manipulador foi a TVI, que semanalmente imprimiu um ritmo noticioso seguido por quase toda a comunicação social em Portugal. Argumenta-se agora que o estilo do noticiário era incómodo. O que tem que se ter em conta é que os temas que tratou são críticos para o país e não há maneira suave de os relatar.
O regime que José Sócrates capturou com uma poderosa máquina de relações públicas tentou tudo para silenciar a incómoda fonte de perturbação que semanalmente denunciou a estranha agenda de despachos do seu Ministério do Ambiente, as singularidades do seu curriculum académico e as peculiaridades dos seus invulgares negócios imobiliários.
Fragilizado pelas denúncias, Sócrates levou o tema ao Congresso do seu partido desferindo um despropositado ataque público aos órgãos de comunicação que o investigam, causando, pelos termos e tom usados, forte embaraço a muitos dos seus camaradas.
Os impropérios de Sócrates lançados frente a convidados estrangeiros no Congresso internacionalizaram a imagem do desrespeito que o Chefe do Governo português tem pela liberdade de expressão.
O caso, pela sua mão, passou de nacional a Ibérico. Em pleno período eleitoral, a Ibérica Prisa, ignorante do significado que para este país independente tem a liberdade de expressão, decidiu eliminar o foco de desconforto e transtorno estratégico do candidato socialista.
É indiferente se agiu por conta própria ou se foi sensível às muitas mensagens de vociferado desagrado que Sócrates foi enviando. Não interessa nada que de Espanha não venha nem boa brisa nem boa Prisa porque a criação do clima para este monumental acto censório é da exclusiva responsabilidade do próprio Sócrates.
É indiferente se a censura o favorece ou prejudica. O importante é ter em mente que, quem actua assim, não pode estar à frente de um país livre. Para Angola, Chile ou Líbia está bem. Para Portugal não serve. "
Mário Crespo
segunda-feira, setembro 21, 2009
A má moeda
Da “asfixia democrática”...
Roubos e violações assustam britânicos.
" Foreign Office do governo britânico – o equivalente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros – elevou esta semana o nível de alerta relativo a Portugal devido à criminalidade. Homicídios, roubos e abusos sexuais estão no topo das preocupações do Reino Unido, que recomenda aos mais de 2,2 milhões de nacionais que todos os anos visitam Portugal – são a maior fonte de receitas turísticas – especiais cuidados nas zonas de Lisboa e Algarve (mais aqui)"Como é bom ser conhecido lá fora...
Etiquetas: Nojo de país., Welcome to the European Texas.
Paulinho das Feiras versus imitação barata.
Etiquetas: Contra a "Orquestra Vermelha"...
Defensores da liberdade.
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Novas do Texas.
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Sempre as sondagens
Nas Europeias ninguém acertou no resultado final. Todas davam a vitória ao PS e o resultado final mostrou que, afinal, o PSD ganhou com uma razoável margem sobre o partido de José Sócrates. Agora, a uma semana das Legislativas, a história repete-se. O PS aparece sempre na frente, embora em muitos casos em empate técnico com os sociais-democratas e em duas ou três já com um confortável avanço sobre o partido de Manuela Ferreira Leite.
Mas, como vivemos num País em que a memória é cada vez mais curta, importa registar todos estes resultados para mais tarde recordar. E lembrar também que há quem não tenha qualquer pejo em publicar sondagens com uma margem de indecisos de 30 %. Isto é, em teoria, qualquer partido, até os mais pequenos, poderia ganhar as eleições. Qualquer pessoa minimamente inteligente percebe que há resultados que interessam mais a uns partidos do que a outros. E qualquer pessoa percebe que a habitual desculpa dos eleitores que enganam as empresas e mudam o voto no dia de reflexão é uma farsa que só os tolos engolem."
António Ribeiro Ferreira
Sócrates ou Cavaco.
Por outras palavras: quem pergunta por que motivo o PR não encaminhou o caso para o Ministério Público, já tem uma resposta. Cavaco também não confia no Ministério Público. O que implica saber em quem confia verdadeiramente Cavaco.
A resposta é evidente: nos portugueses. Ao não desmentir nada, Cavaco volta a confirmar tudo. E, confirmando, apela aos portugueses para que decidam pelo voto se acreditam na gravidade da situação. Dia 27, não é apenas Sócrates quem vai a votos. O silêncio de Cavaco também."
João Pereira Coutinho
Ser ou não ser
Falemos claro e não por sofismas.
A razão dessa não divulgação não se prende com o estudo de propostas para resolver os problemas detectados, como disse Alberto Costa. A razão da não divulgação da avaliação tem quatro motivos: a avaliação, que é feita pelo OPJ, é demolidora para a reforma penal feita por Rui Pereira, tão querida pelo Governo; estamos em época de eleições e, como a avaliação é negativa em pontos-chave para a política criminal seguida, dá jeito dar a conhecer o relatório, depois das eleições;
o Governo não quer dar a mão à palmatória, dando razão à comunidade jurídica, a alguma comunicação social e aos cidadãos que, em tempo, advertiram para o erro grave desta reforma, pouco pensada e nada estudada, precipitada nos propósitos e nos objectivos; por último, há falta de coragem, sabendo-se que esta reforma gerou insegurança, aumento da criminalidade, com a libertação de muitos detidos por efeito da alteração das regras da prisão preventiva, baralhou e confundiu o segredo de justiça e dificultou a investigação criminal nos crimes mais graves, por causa dos prazos.
Este Governo, por culpa própria, enfrentou as maiores subidas de sempre da criminalidade. A maioria dos crimes cometidos, principalmente os mais violentos, foi praticada por indivíduos libertados da prisão preventiva, em função das alterações legislativas.
Toda a gente percebeu o que isto ia dar.
Os reparos feitos pelo OPJ, no domínio da ‘vacatio legis’, da prisão preventiva, do segredo de justiça e dos prazos da investigação, constam da petição que a Associação de Juízes pela Cidadania subscreveu há mais de um ano, que recolheu quase duas mil assinaturas e fez chegar ao Parlamento.
Assumir o erro das políticas seguidas, com responsabilidade, é próprio dos homens de bem que servem o poder e não se servem deste. É ajudar a melhorar e a fortalecer os elos de confiança nos políticos. A verdade nunca se esconde.
Perdeu-se tempo com teimosias. Perdeu o País e as pessoas. Ganhou o crime, os criminosos e a insegurança. E, por fim, a suprema ironia: ganhou também o ministro da Justiça, que se aguentou no cargo até ao fim da legislatura.
E assim vai a política e a democracia."
Rui Rangel
Enquanto Roma Arde
Eu, diga-se de passagem, rezo na mesma direcção. Porque, como nem O'Neill achava, o PS merece? Não brinquem. Porque me dá jeito. Há anos que fiz do comentário político, digamos, a minha profissão. É uma profissão vulgar, na medida em que, à semelhança da investigação laboratorial ou do comércio de peúgas, precisa de condições propícias. É uma profissão estranha, na medida em que, à semelhança do cardiologista ou do agente funerário, as condições propícias ao comentador político não são consensualmente positivas. Acima de tudo, é fundamental a existência de um Governo ridículo que nos dê assunto.
Nos últimos quatro anos e meio, o PS deu--me, deu-nos, imensos assuntos e a bênção de um Governo patético, facto evidente na distância entre o regozijo da propaganda e os feitos alcançados. No meio de foguetório comemorativo, o PS espatifou o pouco que restava da economia, da educação e da justiça. O PS, pasme-se, até conseguiu espatifar a chamada "competitividade tecnológica", área a que se dedicou com inédito fervor e na qual, segundo recente estudo da Economist, descemos ao penúltimo lugar no Ocidente (um pedacinho acima da Grécia). Aliás, com a excepção dos populares telemóveis, em matéria de tecnologias de informação ocupamos em todos os critérios os fundilhos do mundo civilizado ou, na perspectiva optimista, os lugares cimeiros do Terceiro Mundo.
Em suma, sob o divertido folclore da "modernidade" que se enfiou na cabeça dos socialistas e cujos vestígios apenas aí se detectam, Portugal largou enfim a "cauda da Europa" e dedicou-se à pega de caras com África (ou com a Venezuela). Graças a um Governo PS e com a graça que só o PS no Governo garante. O PSD no poder teria idêntico potencial hilariante? A verdade é que não sei. E o colunista avisado prefere o certo ao duvidoso. O PS é certa e maravilhosamente mau. Coligado com o Bloco de Esquerda no Governo ou no Parlamento, como se prevê, será ainda muito pior. Muito melhor.
Um país a caminho da bancarrota e do caos é um cenário idílico ao meu ofício. Uma visão mórbida? Sem dúvida, mas, se as sondagens valerem mais do que têm valido, estarei acompanhado na morbidez por uns 30 e tal por cento do eleitorado. Isto, claro, enquanto houver país, eleitorado e o meu ofício, consoante o que a deliciosa demência posterior ao dia 27 destruir primeiro"
Alberto Gonçalves
domingo, setembro 20, 2009
Compreender o islão
Alberto Gonçalves
sábado, setembro 19, 2009
A mulher de César e as esquerdas...bacocas...
O resto é ruído
A coisa pode excitar a criadagem de ambos os lados. Não excita mais ninguém: cansados e até enojados, os portugueses não se comovem com este mundo de intriga onde, no fundo, ‘são todos iguais’. Com contas para pagar e um futuro incerto pela frente, o voto serve-lhes, tão somente, para responder à única questão relevante: ficar com este Sócrates mais quatro anos, ou enviá-lo já para casa. O resto é ruído."
João Pereira Coutinho
Um País de mentirosos?
As sondagens, aliás, davam-lhe larguíssima vantagem. No dia das eleições, Major era eleito (com folgança) e os jornais nativos imprimiam na primeira página: ‘Seremos um país de mentirosos?’ Pelos vistos, não são os únicos: como se viu nas europeias, a ‘direita’ normalmente tem pruridos em confessar as suas inclinações e responde mal, ou então não responde, aos ‘senhores’ das sondagens. Por medo? Por vergonha? Mistério. Mas esse mistério chega para não levar a sério nenhuma delas. Não por culpa exclusiva das ditas. Mas porque a matéria-prima não inspira confiança. Não é fácil viver quatro anos de mentiras sem nos tornarmos, também nós, um país de mentirosos. "
João Pereira Coutinho
sexta-feira, setembro 18, 2009
18 de Setembro de 53
No mesmo dia em que Nerva é proclamado imperador de Roma, nasce Trajano. Imperador romano nascido em Espanha, serviu como soldado, antes de tornar-se cônsul, em 91. O imperador Nerva adotou-o como seu sucessor e, com a morte daquele, em 98, os pretorianos apoiaram sua escolha.
Trajano foi o imperador sob o qual o Império Romano atingiu sua máxima extensão. Trajano conquistou a Dácia (actual Romênia), a Armênia e outras regiões. Além disso realizou reformas em educação e agricultura.
É considerado por muitos romanos da época como o maior dos imperadores (Optimus princeps). Porém a verdade é que a sua política de conquistas gerou alguns danos à economia do império, reparados depois por Adriano.
Trajano era, antes de tudo, um chefe militar. Durante a fase final de seu reinado, dedicou-se exclusivamente à guerra e deixou boa parte da administração civil em mãos de terceiros.
Mais.
quinta-feira, setembro 17, 2009
17 de setembro de 1944.
A 17 de Setembro de 1944 três divisões aerotransportadas eram largadas atrás das linhas inimigas. A Operação Market Garden iniciava-se.
Fazia exatamente cinco anos que a Alemanha havia iniciado a II Guerra Mundial ao invadir a Polônia em 1 de setembro de 1939. O exército Alemão, que obtivera, inegavelmente, brilhantes vitorias nos dois primeiros anos da Guerra, encontrava-se, agora, na defensiva e praticamente vencido, como, aliás, já reconheciam alguns dos seus melhores Generais. Cercada por todos os lados, mas lutando furiosamente, retirara-se da Rússia, da África do Norte e da maior parte dos países ocupados da Europa. País de grande capacidade industrial, habitado por um povo reconhecidamente disciplinado, criativo e trabalhador, a Alemanha, no entanto, dependia de matérias primas importadas de países neutros ou ocupados, e encontrava-se, àquela altura, economicamente exaurida. Além do mais, todo o seu potencial humano já havia sido mobilizado, na vã tentativa de suprir as enormes perdas humanas dos seus exércitos em luta, especialmente no leste Europeu, diante do rolo compressor Russo.
O bom senso e lógica recomendariam o imediato início de conversações, visando o fim das hostilidades, inclusive do ponto de vista humanitário, pois, somente assim, poder-se-ia evitar os enorme sofrimento das populações civis, especialmente as que habitavam os grandes centros urbanos, intensamente bombardeados pela aviação aliada. Em setembro de 44, as maiores cidades Alemães já se encontravam praticamente arrasadas. No entanto, os figurões que lideravam o partido nazista, tendo à frente o seu líder, Adolf Hitler, não admitiam a idéia, talvez porque, com a paz, tivessem de ser defrontados diante dos crimes e das atrocidades que haviam sido praticadas por seu exércitos ao longo dos cinco anos de uma guerra que ensangüentara grande parte dos países envolvidos em quase todos os continentes do Globo. A pressão então exercida pelos aliados e a aparente exaustão das forças oponentes, recomendavam um golpe final; o desenvolvimento de um plano que levasse ao rápido aniquilamento dos exércitos Alemães e que acelerasse o fim das hostilidades. Em julho de 1944, o General Dwight Eisenhower , Supremo Comandante das forças aliadas na Europa, solicitou aos seus estrategistas a elaboração de um plano que viabilizasse a execução de um ataque aerotransportado que levasse ao encurtamento da Guerra. 18 planos foram apresentados. Em 10 de setembro, o Marechal Bernard L. Montgomery apresentou um novo plano que, após analisado, foi imediatamente aceito pelo Supremo Comandante. O objetivo estratégico da operação Market-Garden, era a ocupação da região industrial do Ruhr.
O plano de Montgomery previa o lançamento na Holanda ainda ocupada, (Fase Market), de três divisões aerotransportadas, mais uma Brigada independente. Essas forças, constituiriam o que Montgomery chamou de "tapete sobre os cinco obstáculos aquáticos mais importantes " : o canal Guilhermina, Zuid-Wilems-Waart, Mosa, Waal e Reno. O eixo da operação seria a estrada Eindhoven a Arnhem. A missão fundamental dessas tropas aerotransportadas seria a tomada de determinadas pontes sobre o cursos de água acima citados, cuja posse deveria ser sustentada até a chegada das forças blindadas de terra (Fase Garden) constituídas pelo 30.° corpo do exército britânico, que faria a junção com a infantaria do ar , consolidando a profunda brecha aberta nas linhas inimigas. Posteriormente, o avanço seria prolongado até o Zuidersee. Montgomery planejou, como se afirmou acima, a utilização de três divisões aerotransportadas. A 101ª Divisão pára-quedista Americana a 82ª Divisão pára-quedista, também Americana, a 1ª Divisão pára-quedista Inglesa e a 1ª Brigada pára-quedista Polonesa independente, totalizando 16.500 pára-quedistas e 20.000 soldados aerotransportados. Foram utilizados no transporte dessa tropa, cerca de 1.545 aviões de transporte e 478 planadores. Para a proteção área da tropa atacante, o comando aliado destacou 1.131 caças Britânicos e Americanos. A Operação Market é considerada, sem contestação, como a operação aerotransportada de maior porte jamais realizada pelas forças aliadas no decorrer de toda a II guerra mundial. A 101ª Divisão teve como alvo a cidade de Eindhoven e as pontes que cruzavam os povoados de Zon. A 82ª Divisão teve como meta a cidade de Grave, com o objetivo de capturar as pontes sobre o rio Maas e a 1ª Divisão Inglesa que foi lançada mais ao norte, nas proximidades da cidade de Arnhem, com a finalidade de tomar as pontes sobre o rio Nader.
De início as operações de lançamento das tropas pára-quedistas transcorreram sem grandes problemas, aliás, as perdas materiais e humanas, nesta fase, estiveram abaixo do esperado. Comunicado emitido pelo comando da 101ª, informava que os lançamentos transcorreram "como num desfile aéreo". É válido lembrar que toda operação estava programada para se desenvolver sob forte apoio aéreo, o que de fato ocorreu, mas somente no início, em virtude de dramáticas mudanças climáticas que impediram, inclusive, o lançamento de artilharia, suprimentos e reforços, o que veio a concorrer decisivamente para o seu fracasso, como veremos a seguir. O planos de Montegomery estiveram muito próximos de ser atingidos. O II exército Britânico, partindo da cidade de Eindhoven em direção a Arnhem, conseguiu cruzar quatro cursos de água, cujas pontes estavam em poder dos Americanos: O Canal Guilhermina, o Dommel o Mosa e o Waal. Lamentavelmente, a 1ª Divisão Inglesa, isolada, sem artilharia, tanques e munições, não conseguiu sustentar a cabeça de ponte de Arnhem, sucumbindo sob os intensos ataques da 11ª Divisão Panzer SS, rendendo-se, a 27 de setembro, depois de encarniçados combates. Dos 9.000 pára-quedistas que desceram sobre a área, menos de 2.500 conseguiram regressar às linhas aliadas.
Em suas memórias, Montgomery declara-se defensor "impenitente" do seu plano e enumera as seguintes causas para o fracasso da operação.
1ª - Embora Eisenhower tenha manifestado sua aprovação e determinado os meios necessários à sua concretização, parece que não houve o integral cumprimento de suas ordens por parte de alguns de seus generais. Diz ele:" Eisenhower é uma pessoa extremamente confiante; é a verdadeira encarnação da sinceridade, acreditando que os outros cumprem o que ele manda. Mas, no caso, os propósitos dele não foram executados."
2ª - "As forças aerotransportadas foram lançadas longe demais do objetivo vital - a ponte Arnhem. Decorreram algumas horas antes que a atingissem. Penitencio-me por este erro."
3ª - "O Tempo. Ele se virou contra nós". Linhas acima já comentou-se sobre este fator.
4ª - "O 2º Corpo Panzer estava se recuperando na região, aonde chegara depois do castigo que recebera na Normandia. Sabíamos que estava lá, mas erramos, supondo que não pudesse atuar eficazmente. Seu poder de combate estava muito além de nossa expectativa".
Há um outro curioso fator não considerado por Montgomery. O Coronel Oreste Pinto - que apesar do nome é Holandês de Nascimento - foi chefe da contra-espionagem Inglesa durante a II Guerra Mundial e escreveu um livro no qual narra sua experiência na contra-espionagem. Nesse livro, entre outros assuntos, afirma, categoricamente, que um traidor Holandês chamado Christian Lindemans , foi, segundo ele, Pinto, o grande responsável pelo fracasso da Operação. Preso pela equipe de Oreste Pinto, réu confesso, Lindemans , que antes de sua traição prestara grandes serviços à resistência Holandesa, obteve, por essa razão, certa proteção política, e jamais recebeu acusação oficial por sua traição. Morreu na prisão de Scheveningen, em 1946, perto de Haia, antes de ser submetido a julgamento.
O desfecho da batalha foi frustrante para os Aliados e deu novo alento aos Alemães para continuar uma luta desigual. O exército Alemão estava exaurido, mas ainda era uma importante força combativa. Alguns meses depois lançaria uma última ofensiva, conhecida como a Batalha das Ardenas, tentando retomar a iniciativa que, de há muito, passara às forças aliadas. Espasmos desesperados e inúteis. Todas as forças alemães no noroeste da Alemanha, Holanda e Dinamarca, renderam-se ao mesmo Marechal Montgomery, a 4 de maio de l945, 8 meses depois da Operação Market-Garden.
Fonte